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RECURSO CÍVEL Nº 500927114.2015.404.7100/RS
RELATOR : JOSÉ CAETANO ZANELLA
RECORRENTE : MARIA INEZ RIBAS MONCKS
ADVOGADO : ALEXANDRE SCHUMACHER TRICHES
RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL INSS
MPF : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
VOTO
Tratase de recurso interposto pela parte autora perante esta Turma Recursal contra
sentença que julgou improcedente pedido contido na inicial, onde a postulava a concessão do
benefício previsto no art. 20 da Lei 8.742/93, desde a data do requerimento administrativo, em
16/04/2014 (NB 87/700.940.3318).
Recorre a parte autora requerendo, em apertada síntese:
1. Seja declarada a nulidade da sentença do evento 34 , tendo em vista o latente cerceamento de
defesa;
2. Seja o processo baixado e convertido em diligência para que o Sr. Perito responda aos quesitos do
evento 28;
3.Seja deferida a produção de prova testemunhal em audiência de instrução, conforme evento 28.
Conforme entendimento sedimentado nesta Turma Recursal, a parte que se sentir
prejudicada deve demonstrar a existência de prejuízo concreto decorrente da ausência de laudo
complementar e realização de prova testemunhal, antes da prolação da sentença. Não ocorrendo e
havendo algo de relevante a manifestar, há oportunidade em sede de recurso inominado, como o fez.
Porém, nada de efetivo foi apresentado pela parte recorrente neste sentido, não havendo a
demonstração de prejuízo concreto, não há nulidade a ser declarada.
Ressalto que meras inconformidades com a conclusão do profissional não respaldam
pedidos de nulidades ou designações/complementações de perícias.
Acrescento, ainda, especificamente quanto ao pedido de realização de audiência de
instrução e julgamento (prova oral), que o magistrado não está obrigado a produzir prova oral em
feitos voltados à concessão de benefício por incapacidade e assistencial, sendo necessárias apenas
as provas eminentemente técnicas (laudo médico pericial) e, em caso de amparo social, a realização
de laudo socioeconômico, cabendo ao julgador definir sobre a suficiência das provas existentes
nos autos, a fim de sustentar o seu juízo de convicção acerca da verdade real dos fatos.
Importante ressaltar, também, que as afirmações efetuadas pela recorrente quanto à
existência de limitações leves em decorrência das patologias que apresenta não é matéria
controvertida, haja vista que expressamente reconhecidas tanto na perícia administrativa quanto na
judicial, não sendo, entretanto, causa incapacitante sob o ponto de vista estritamente médico.
A análise da deficiência para fins de concessão do benefício é efetuada pelo
magistrado e resulta da verificação das eventuais limitações apresentadas pela estrutura e funções do
corpo em cotejo com as barreiras e dificuldades constatadas, indicadores estes que podem mostrarse
bastante variáveis e necessariamente devem ser aferidos no caso concreto.
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Ou seja, examinamse as atividades passíveis de desempenho bem como as
possibilidades de participação social de um indivíduo que apresente alterações das funções ou
estrutura do corpo e, assim, ainda que não se trate de incapacidade sob o ponto de vista clínico, a
análise conjunta poderá permitir o enquadramento e satisfação do requisito legal para a concessão do
benefício.
Assim, estando claramente reveladas na perícia médica as patologias e limitações da
recorrente, cabe ao magistrado proceder à análise das demais circunstâncias para fins de satisfação
deste requisito legal.
Portanto, desnecessária a produção de provas requerida pela recorrente, não há que se
falar em prejuízo e cerceamento de defesa.
Destarte, especificamente quanto aos argumentos do recurso, a fim de evitar
tautologia, adotandoa como razões de decidir, transcrevo percuciente e elucidativo trecho da
sentença
No caso, a fim de averiguar a presença de incapacidade/deficiência, foi designada perícia médica
com especialista em cardiologista.
O expert nomeado consignou que, muito embora a autora seja portadora de 'Hipertensão arterial
(I10)' e 'Cardiopatia isquêmica (I25)', tais moléstias não implicam incapacidade para suas atividades
habituais.
Desta forma, não preenchido o pressuposto legal referente à existência de incapacidade/deficiência,
descabe o reconhecimento do direito ao benefício assistencial requerido.
III.
A demandante postula designação de audiência para produção de prova testemunhal e arrola
quesitos complementares (28 PET1).
Indefiro o pleito, uma vez que a especialidade médica em que realizada a perícia judicial
cardiologia é compatível com as patologias que acometem a autora, não sendo necessária a
realização de prova testemunhal, menos técnica e eficaz para avaliação da situação clínica da
autora.
Reclamos relacionados às conclusões periciais, quando desprovidos de demonstração específica de
que tenha havido incorreção na conclusão do perito judicial, não são suficientes para dar ensejo à
realização de audiência de instrução.
Ademais, é certo que 'nas ações em que se objetiva a concessão de aposentadoria por invalidez ou o
auxílio doença, o julgador, via de regra, firma sua convicção por meio da prova pericial' (TRF 4ª
Região, AC nº 2002.04.01.0436660/RS, 6ª Turma, Rel. Des. Federal Victor Luiz dos Santos Laus,
DJU2 de 29/09/2004).
Na mesma esteira, em que pese o perito judicial não tenha respondido aos quesitos da requerente,
entendo desnecessária a complementação pericial, uma vez que estes nada acrescentam em relação
aos que já foram respondidos no laudo (21LAU_1).
Assim, entendo que a prova produzida cumpriu sua finalidade, uma vez que o laudo pericial judicial
é claro e conclusivo, devendo prevalecer tal conclusão médica.
Destaco que a existência de doença, por si só, não implica a existência de
incapacidade, sendo este o entendimento uniformizado pela TNU, a incapacidade não se presume
pelo só fato da pessoa ser portadora de determinada doença. É preciso que haja prova da existência
de incapacidade. (PEDILEF nº 2006.83.00.5129827/PE, Rel. Juiz Fed. Derivaldo de F. B. Filho, DJ
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22.10.2008; PEDILEF nº 2006.38.00.7489030/MG, Rel. Juíza Fed. Jacqueline Michels Bilhalva,
DJ 22.05.2009).
Portanto, não há reparos a fazer na sentença.
Entretanto, verifico que em 21/01/2016 (evento1 PROC2), durante a tramitação da
presente demanda, a recorrente completou a idade mínima exigida para a concessão do benefício.
Neste cenário, consoante orientação do art. 493 do CPC (art. 462 do CPC/1973), o
julgador deverá levar em consideração os fatos supervenientes que tenha ciência e possam
influenciar na decisão. Preceitua o dispositivo:
Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do
direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomálo em consideração, de ofício ou a
requerimento da parte, no momento de proferir a decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.
Embora superada a discussão quanto ao primeiro requisito necessário para a concessão
do benefício (deficiência ou idade), verifico que nos autos não foi examinado o segundo requisito,
de natureza econômica, compreensivelmente, em razão de que a implementação do requisito etário
somente veio a ocorrer quando o feito se encontrava em fase recursal.
Desta forma, a fim de evitar prejuízos à recorrente e dar efetividade ao dispositivo
legal, deverá ser anulada a sentença e reaberta a instrução processual para análise do requisito
econômico (§ 3º do art. 20 da Lei 8.742/93).
Ante o exposto, voto por ANULAR a sentença.
José Caetano Zanella
Juiz Federal Relator
Documento eletrônico assinado por José Caetano Zanella, Juiz Federal Relator, na forma do artigo 1º,
inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.jfrs.jus.br/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
12392299v10 e, se solicitado, do código CRC 83652E39.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): José Caetano Zanella
Data e Hora: 22/06/2016 17:52
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