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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 1ª VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE PETROLINA - PE.

Processo nº XXXXXXXXXXXXXXXXX

XXXXXXXXXXXXXXXXXXX, já qualificada nos autos em epígrafe, por seu


advogado e bastante procurador que esta subscreve, procuração em anexo, vem mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 282, § 5 e 316,
ambos do Código de Processo Penal, requerer

REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

DOS FATOS

A acusada foi presa em flagrante delito, pela suposta prática do crime previsto
no artigo 155, § 4, IV do Código Penal.

Aduz o Termo da Prisão em Flagrante que a detenta foi responsável por distrair
as vítimas para que um homem, não identificado, furtasse os celulares daquelas.

A presa não fora encontrada com a suposta res furtiva, dois celulares modelo
iPhone 5 e 5S.

A mesma encontra-se grávida de 4 (quatro) meses, possui bons antecedentes


criminais, e encontra-se presa a mais de 15 (quinze) dias sem que o MP tenha oferecido a
denúncia.

DO DIREITO

Cumpre ao juízo quando informado da Prisão em Flagrante, dentre outras


coisas, converte-la em Prisão Preventiva, apenas quando presente os requisitos ensejadores
desta, que estão previstos no artigo 312 do CP, e quando as demais medidas cautelares se
mostrarem inadequadas ou insuficientes.
O mencionado dispositivo processual prevê como requisito da prisão preventiva
o fumus commissi delicti, que representa a “prova da existência do crime e indícios suficientes de
autoria”. Prevendo ainda, que a Prisão Preventiva deve ter como fundamento um perigo
decorrente do estado de liberdade do preso, o periculum libertatis, previsto no CPP como
sendo um risco para ordem pública, ordem econômica, conveniência para a instrução
criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal.

Ademais, para que a Prisão em Flagrante seja convertida em Prisão Preventiva,


ou mesmo para que esta seja decretada, se faz necessário à análise das várias medidas cautelar
diversas da prisão, que aplicadas de forma isolada ou cumulativa, se mostrem adequadas e
suficientes para a tutela da situação de perigo.

No caso em comento, a conversão da Prisão em Flagrante para a Preventiva foi


decretada, com base nos depoimentos colhidos na delegacia e pelo fato da presa, no
momento em que foi detida, estar supostamente em posse de um celular LG, sendo tais fatos
considerados como requisitos para a conversão, como, respectivamente, indícios suficientes
de autoria, e prova da materialidade. Fundamentando esta conversão na garantia da ordem
pública.

Contudo, data vênia, tais argumentos não podem prosperar, uma vez que não há
requisitos para a Prisão Preventiva da Sra. XXXXXX.

No que diz respeito ao fumus commissi delicti, os indícios de autoria usados para a
homologação da Preventiva, foram os depoimentos dos policiais que conduziram à detenta,
e que não presenciaram o modus operandi do suposto crime, e os depoimentos das supostas
vítimas. Por sua vez, a prova de materialidade alegada foi o fato de a presa estar,
supostamente, em posse de um celular LG no momento em que foi detida, frisa-se que de
acordo com as vítimas o modelo dos celulares que lhes foram roubados são um iPhone 5 e
um 5S.

Nesta esteira, o periculum libertatis, foi sustentado como óbice à garantia da ordem
pública, vez que fora deduzido que a presa, apesar de ter sido detida sozinha e ela
supostamente só estar com um celular, fazia parte de uma quadrilha especializada em furtos
de celular, que seria uma medida que evitaria o cometimento de novos crimes e que era uma
medida esperada pela sociedade, dando credibilidade às instituições judiciais.

Ora, é desrazoável decretar uma prisão, que deve ser a última das medidas
cautelares a ser adotada, com base em tais argumentos, sobretudo porque a
utilização do depoimento de policiais que não presenciaram o suposto furto e das
vítimas que em seus depoimentos afirmaram que a Sra. XXXXXX havia participado
do furto dos seus celulares porque ao tentarem ajuda-la de um mal estar, pelo qual
ela estava passando, pois está grávida, perceberam que a bolsa carregada por uma
das vítimas estava aberta, e que um homem com quem XXXXX foi vista, estava com
um celular, apenas um e não os dois, igual ao da vítima – acredito que o celular
supostamente furtado da vítima não lhe é exclusivo - é no mínimo desproporcional,
já que tais depoimentos não possuem coerência nenhuma e muito menos
contundência para imputar a XXXXXX a autoria dos supostos crimes, pois, elas não
precisaram se viram o momento exato em que esse suposto homem ou XXXXX
furtaram seus celulares, tão pouco podem precisar se a bolsa fora aberta naquela
momento ou outrora. Logo não há uma probabilidade razoável, indícios, de que a presa é
autora de tal delito.

Neste diapasão, cabe aqui relatar que também não há nenhuma prova da
materialidade do suposto delito, uma vez que a presa não fora detida com nenhum
objeto de furto, tão pouco com os celulares das supostas vítimas, pois como já foi
informado, os celulares furtados das vítimas são um iPhone 5 e um 5S, e o único
celular que supostamente foi encontrada na posse da presa foi um da marca LG, que
não estava em posse da Sra. XXXXXX, e mesmo que estivesse não há nada que indique que
ele é objeto de furto. Sendo assim Excelência, não há provas da materialidade do crime,
uma vez que as res furtivas não foram apreendidas com a presa. Situação que
corrobora ainda mais coma ideia de que não há probabilidade razoável que
caracterize a fumaça da existência de um crime que possa ser imputado a detenta.

Nesta esteira, vale ressaltar que o uso do fundamento de garantia da ordem


pública para ensejar uma medida cautelar, no caso à prisão, em nada tem haver com os fins
genuinamente cautelares e processuais que legitiman esses provimentos, uma vez que as
medidas cautelares servem para garantir o bom andamento do processo.

Portanto, o uso da garantia da ordem pública como fundamento para


decretar a Preventiva, no caso em apreço, como um meio de coibir novos delitos por parte
da presa e por ser uma medida esperada pela sociedade, que acredita nas instituições
públicas, não possui caráter cautelar, vez que não passa de uma antecipação da pena
e uma medida de segurança, sendo ela, portanto, inconstitucional, uma vez que o
indivíduo está sendo apenado sem ter passado pelo Devido Processo Legal e pelo
crivo do Contraditório e da Ampla Defesa, também com o desprezo da presunção de
inocência, ainda mais no caso em comento que o lastro probatório é tão frágil.

Ademais, com relação à manutenção da prisão da Sra. XXXXXX sob o


argumento da garantia da ordem púbica, de que ela pode voltar a delinquir, vai de
encontro ao que prevê a Constituição Federal, pois, a única presunção permitida por
ela é a de inocência. Sobretudo quando a pessoa nunca antes delinquiu na vida,
como é o caso da Sra. XXXXXX, que goza de bons antecedentes criminais, certidões
de antecedentes criminais em anexo.

Nesta esteira, não há motivo para manter a detenta presa sob o


argumento de que ela faz parte de uma quadrilha especializada em furtos de celular,
já que não há nos autos nenhuma prova que a vincule a um grupo de pessoas
organizadas com o escopo de furtar celulares em festas.

Faz se mister ressaltar que, qualquer que seja o fundamento utilizado por
um juízo para decretar uma prisão, é imprescindível a existência de um lastro
probantório que confirme o periculum libertatis, o que não ocorre no caso em
comento, já que não há nenhuma prova concreta que a vincule aos furtos sofridos
pelas vítimas. Neste sentido são os ensinamentos do ilustre autor Aury Lopes Jr.:
“O perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado deve
ser real, com um suporte fático e probatório suficiente para
legitimar tão gravosa medida.”1

Outrossim, no caso em análise, a Sra. XXXXXXX está presa desde o dia 25 de


Outubro, a mais de 15 (quinze) dias. Superando em muito o prazo que o Ministério Público
tem para propor a denúncia contra ela, bem como superando o prazo para o Delegado que
preside o IP conclui-lo. Levando-se em consideração que o MP teve acesso aos autos de
prisão imediatamente a reclusão daquela, já fazem mais de 10 (dez) dias que o MP deveria ter
proposto a denúncia, e fazem mais de 5 (cinco) dias que a polícia deveria concluir o
Inquérito Policial, sendo assim, a violação desses prazos, inexoravelmente, deve conduzir à
imputada a liberdade.

Cumpre aqui ressaltar que a Sra. XXXXXX encontra-se grávida, inclusive por
esse motivo as supostas vítimas foram lhe prestar socorro, e vem passando mal na cadeia
com uma frequência preocupante, além de possuir mais três filho, um com 7 (sete) meses de
vida, e que ainda depende do leite maternos, por isso é razoável que a presa responda o
processo em liberdade.

Ressalta-se também que a gravidade do suposto crime e o seu modus operandi, por
não serem gravosos, por si só, já denotam a necessidade da acusada em responder ao
processo em liberdade.

Portanto, levando-se em consideração que a prisão deve ser uma


excepcionalidade, como prevê o artigo 282 §6 do CPP; que o que deve prevalecer no
Ordenamento Jurídico Brasileiro é a presunção de inocência; que não há lastro
probante suficiente para imputar a acusada qualquer crime; quem não há fumus
commissi delicti nem tão pouco periculum libertatis que autorizem a decretação da
Prisão Preventiva; que ela possui excelentes antecedentes criminais; que a gravidade
do crime pelo qual ela esta sendo acusada, bem como a sua execução, não é grave; e
pelo seu estado de saúde ser delicado em face da sua gestação, é que se faz jus a
liberdade da Sra. XXXXXXX, já que, como prevê o artigo 316 do CPP, não há
motivos para que a prisão subsista.

Podendo ainda, Vossa Excelência, impor qualquer outra medida cautelar


prevista no artigo 319 ou até mesmo a prisão domiciliar em face da condição de
gestante da presa.

DOS PEDIDOS

1
Lopes Jr., Aury. Direito Processual Penal. 11ª Ed. Editora Saraiva. São Paulo 2014. Páginas 842/843.
Ante o exposto, postula-se a Vossa Excelência, a Revogação da Prisão
Preventiva, já que não há commissi delicti e nem periculum libertatis, a presa tem bons
antecedentes criminais e está grávida, a fim de que possa permanecer em liberdade durante o
processo, mesmo com a imposição de alguma medida cautelar, com a consequente expedição
do Alvará de Soltura.

Nestes termos pede-se deferimento

Juazeiro, 12 de novembro de 2014

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XXXXXXXXXXXXXX
OAB/PE XXXXX

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