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Rosângela FLORCZAK2
Rede Marista
RESUMO
“Não gostamos de uma das novas professoras. Ela chegou na sala de aula e já
partiu direto ao conteúdo, nem sequer se interessou em nos conhecer, em dialogar com
os alunos”. A afirmação é de um estudante de 11 anos ao ser entrevistado sobre a reação
de sua turma diante dos novos professores no primeiro dia de aula. O comentário
poderia ser visto como um detalhe inexpressivo e corriqueiro no contexto do sistema
educacional. Observado pelo olhar do pesquisador das Ciências da Comunicação é bem
mais que um detalhe, é indício revelador de um problema complexo que merece ser
estudado.
Concebida e configurada na modernidade, baseada no modelo burocrático que se
estabelece a partir do poder da autoridade e sobre a rigorosa divisão de tarefas e
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Trabalho apresentado no GP Relações Públicas e Comunicação organizacional, X Encontro dos Grupos de
Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
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Mestre em Comunicação Social pela PUCRS. Coordenadora da Assessoria de Comunicação e Marketing da Rede
Marista no Rio Grande do Sul. E-mail: roflorczak@gmail.com
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Mesmo diante das exigências do novo cenário, poucas mudanças são constatadas
no universo educacional, especialmente, no espaço formal de escolas de educação
básica e instituições de ensino superior. Para Portuois e Desmett (1997), a escola
continua a ser um lugar de racionalização instrumental, um espaço em que o sujeito
dificilmente encontra seu lugar. Campos (2004) sustenta que, nas últimas décadas, a
educação e os sistemas educativos encontram-se às voltas com o desafio de buscar
soluções para adequar um conhecimento compartimentado em disciplinas à
multidimensionalidade dos problemas de um mundo globalizado.
Diversos movimentos se impõem entre os desafios enfrentados pela organização
educacional contemporânea. Especialmente nas dimensões políticas e culturais, o
confronto com as características da Sociedade da Informação/ comunicação/
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Não é foco do presente artigo, explorar os controversos posicionamentos científicos que denominam o
tempo vivido ora como Sociedade da Informação, ora Sociedade do Conhecimento e, até mesmo,
Sociedade da Comunicação.
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2 SINTOMAS DA INCOMUNICAÇÃO
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Gestão educacional corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema de ensino [...] e de coordenação das
escolas em específico, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas, para a implementação das políticas
educacionais e projetos pedagógicos das escolas, compromissado com os princípios da democracia e com métodos
que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo (soluções próprias no âmbito de suas
competências) de participação e compartilhamento (tomada conjunta de decisões e efetivação de resultados,
autocontrole (acompanhamento e avaliação com retorno das informações) e transparência (demonstração pública de
seus processos e resultados) (LÜCK, 2006,p.36).
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[...] sendo a porção do espaço apropriável para a vida, que é vivido, reconhecido e que cria/possui identidade. Tem
densidade técnica, comunicacional, informacional, normativa e, por que não, educacional. O Lugar é, em sua
essência, produção humana, visto que se produz e reproduz na relação entre o espaço e a sociedade
(CASTROGIOVANNI, 2006, P. 87).
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A comunicação vem sendo assumida como uma nova área técnica nas
organizações educacionais em pleno momento de desconforto e de mudança de modelos
e, talvez até, mudança de paradigmas. Oficialmente ocupa espaços privilegiados junto
ao poder de decisão, mas ainda não está plenamente compreendida, portanto, não
incluída com seu potencial de intervenção e transversalidade. A receptividade de um
projeto ou de uma estratégia de comunicação de caráter mais abrangente, baseado no
diálogo e não apenas na transmissão, ainda é vista com alguma (in) segurança e/ou (dês)
confiança em decorrência da longa trajetória da comunicação organizacional, atuando
com ênfase no aspecto operacional-instrumental.
De maneira geral, prevalece, ainda, nas organizações o viés utilitarista e
instrumental (SCROFERNEKER, 2006) da comunicação, característico da teoria
moderna ou empírica, o qual tem seus objetivos voltados para a medição e controle.
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Para a Teoria da Complexidade, de Edgar Morin, a idéia de estratégia é oposta à de programa. Um programa é uma
seqüência de ações predeterminadas, que deve funcionar nas circunstâncias que permitem o seu cumprimento. Se as
circunstâncias externas não forem favoráveis, o programa cessa ou fracassa. A estratégia elabora um ou vários
cenários. Desde o início, há uma preparação para o novo ou inesperado, para integrar, modificar ou enriquecer a ação.
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Dissertação de mestrado desenvolvida pela autora do presente artigo, sob o título Dimensões Complexas da
Comunicação na gestão das organizações educacionais. Encontra-se a íntegra do texto em:
http://tede.pucrs.br/tde_arquivos/7/TDE-2009-05-08T102557Z-1896/Publico/411997.pdf
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Dimensão Dimensão
Relacional Instrumental
Dimensão
Dimensão
mercadológica
pedagógica
/sustentabilidade
Quadro 1
Fonte: autora, 2010
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Sendo o processo de comunicar cada vez menos o de transmitir e cada vez mais
o de negociar e conviver (WOLTON, 2010), fica claro que é preciso superar o modelo
unidimensional da comunicação nas organizações educacionais e incluir a dimensão
relacional no sistema que integra, como parte, o todo da gestão da escola, da
universidade, do sistema de ensino.
O outro, que no processo comunicacional assume o papel de interlocutor, e nas
organizações educacionais é o aluno que interage com o professor, o professor que
interage com o gestor (coordenador pedagógico, diretor, entre outros), o professor que
interage com a família do aluno ou, ainda, a liderança comunitária que interage com o
gestor da escola, tem interesses distintos de quem emite a mensagem e assumiu o
mesmo poder de emitir que antes era reservado a quem ocupasse um lugar de poder na
estrutura hierárquica. Wolton (2010) afirma que é preciso aceitar a identidade e
organizar a convivência das diferenças num espaço mais amplo. “Administrar a
alteridade implica de resto direitos e deveres recíprocos ou, então, o modelo de
convivência desaba” (WOLTON, 2010, p. 65).
Fica então, mais claro, que para bem gerenciar a incomunicação presente, é
preciso incluir a dimensão relacional nos sistemas de comunicação das organizações
educacionais, compreendendo que é necessário ter como pressuposto a sociedade aberta,
na qual a troca de mensagens se dá entre interlocutores com o mesmo direito à palavra.
O lugar de autoridade da escola, da universidade, do sistema de ensino deve ser (re)
legitimado sobre pressupostos do tempo vivido: o respeito às identidades e a
organização da convivência entre as diferenças (ibiden).
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REFERÊNCIAS
MARCONDES FILHO, C. Até que ponto de fato nos comunicamos? São Paulo: Paulus,
2004.
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