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Sinthoma e perversão
No Seminário XXIII, Lacan (1975-1976/2005) introduz o conceito de sinthoma, que
recupera a antiga grafia de sintoma em francês (sinthome). Diferentemente do sintoma
(symptôme), uma formação do inconsciente, o sinthoma constitui uma suplência da carência
paterna e permite o enlaçamento borromeano dos registros.
Em diversos momentos desse seminário, Lacan alude a um elo entre sinthoma e
perversão (perversion), por meio do jogo de palavras père-version. Por exemplo:
A perversão não é definida porque o simbólico, o imaginário e o real estão rompidos, mas sim porque
eles ja são distintos, de modo que é preciso supor um quarto, que, nessa ocasião, é o sinthoma. Digo
que é preciso supor tetrádico o que faz o laço borromeano – perversão [perversion] quer dizer apenas
versão [version] em direção [vers] ao pai [père] –, que, em suma, o pai é um sintoma, ou um sinthoma,
como quiserem. Admitir o laço enigmático do imaginário, do simbólico e do real implica ou supõe a
ex-sistência do sintoma (ibid., p. 19).
Ou, mais adiante: “A pai-versão [père-version] é a sanção do fato de que Freud faz tudo se
apoiar na função do pai. E o nó bo é isso” (ibid., p. 150).
Uma dimensão teórica fundamental embutida na ideia de père-version, que constitui o
tema deste trabalho, é a relativização do Nome-do-Pai, em seus aspectos de abstração,
universalidade, normatividade e efetividade.
tipo. Pouco importa que ele tenha sintomas, se a eles acrescentar o da perversão paterna, isto é, que sua
causa seja uma mulher que ele tenha conseguido para lhe dar filhos, e que a esses, querendo ou não,
dispense cuidados paternos.
Père-version envolve pois uma alusão ao pai real, em sua relação com uma mulher e
com os filhos que ele tem com ela. O aspecto perverso, no caso, está relacionado ao
componente de gozo nele presente, como alguém que goza de uma mulher e cujo gozo serve
de modelo para o dos filhos. A associação do gozo com a perversão, por seu turno, remete à
concepção freudiana de uma natureza perversa da sexualidade, que evade os desígnios
reprodutivos e qualquer padrão natural que autorize a falar em normalidade. “Em nenhuma
pessoa sadia falta algum acréscimo que possa ser chamado de perverso ao alvo sexual
normal” (FREUD, 1905/1968, p. 60). Essa concepção é citada, aliás, no Seminário XXIII:
“Toda sexualidade humana é perversa, se acompanhamos bem o que diz Freud. Ele nunca
conseguiu conceber tal sexualidade sem ser perversa” (LACAN, 1975-1976/2005, p. 153). É
no mesmo diapasão que Miller (1989/1996) aproxima a pulsão da perversão, deduzindo daí a
ideia de uma perversão generalizada.
Levar em conta o pai real, com seu componente de gozo, contrasta com o modelo que
vigorava anteriormente no ensino de Lacan. Na metáfora paterna por ele teorizada na segunda
metade dos anos 1950, enfatiza-se um aspecto mais abstrato, asséptico, impessoal do pai: “O
verdadeiro pai, o pai simbólico, é o pai morto” (LACAN, 1956/1966, p. 469). Ou seja, o que
importa então não é tanto o pai de carne e osso, o “pai natural” (LACAN, 1955-1956/1981, p.
111), mas o pai como ser de linguagem, sustentado enquanto tal pela fala da mãe, e que por
isso se autonomiza, subsistindo ainda que aquele esteja ausente, pois “essa ausência é mais
que compatível com a presença do significante” (LACAN, 1958/1966, p. 557). O pai consiste
pois em uma posição, uma função – a “função paterna”.
O aspecto abstrato do pai simbólico está relacionado à forma de atribuição da
paternidade, que consiste numa operação mental, pois não há um vínculo evidente entre a
criança e aquele que é designado como seu genitor, em contraste com a ligação imediata entre
a criança e a mãe que a dá à luz. Num caso, a relação ocorre em torno de uma ausência, de
algo não visível, sendo estabelecida com base em uma inferência; no outro, ela ocorre em
torno da contiguidade material com a criança, sendo estabelecida a partir da simples
percepção. Mater semper certa est; pater is est quem nuptiæ demonstrant. Como observa
Lacan (1968-1969/2006, p. 152), “a essência e a função do pai como Nome, como pivô do
discurso, derivam precisamente do fato de que, afinal, jamais se pode saber quem é o pai.
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Podem ir procurar, é uma questão de fé”. E ele acrescenta, fazendo referência aos avanços
científicos em tal seara: “É absolutamente certo, aliás, que essa introdução da pesquisa
biológica da paternidade de modo algum pode deixar de ter incidência sobre a função do
Nome-do-Pai” (ibid., p. 152).
Na leitura lacaniana de Freud, o pai real corresponde, em termos filogenéticos, ao pai
da horda primeva, que goza de todas as mulheres, no mito de Totem e tabu (FREUD, 1912-
1913/1961). Ele remete a algo de real que se perdeu na bruma da história, mas que, ainda
assim, está na origem da cultura humana: “Se, afinal, essa hipótese parecer bastante
improvável, isso não representará uma objeção contra a possibilidade de que ela se aproxime
com maior ou menor precisão da realidade tão difícil de reconstruir” (p. 4). Quando o pai da
horda é assassinado pelos próprios filhos, observa-se então que, como totem, “o morto se
tornou agora mais forte do que fora vivo” (p. 173). Em Freud, com efeito, é a morte como
homem que abre caminho para a emergência do pai simbólico: “A necessidade de sua
reflexão o levou a ligar a aparição do significante do Pai, enquanto autor da Lei, à morte, até
mesmo ao assassinato do Pai” (LACAN, 1958/1966, p. 556).
Mesmo que o pai simbólico se tenha tornado prevalente na cultura, sua vinculação
perversa ao pai real pode ser identificada na leitura psicanalítica de grandes edifícios
simbólicos. Em Freud, o Nome-do-Pai aparece de modo equivalente como realidade psíquica
e como realidade religiosa (LACAN, 1974-1975/s.d., 11 de fevereiro de 1975). Lacan
(1965/1966) lamenta “ter precisado renunciar a relacionar ao estudo da Bíblia a função do
Nome-do-Pai” (p. 873-874), mencionando o “Seminário que tínhamos anunciado para 1963-
64 sobre o Nome-do-Pai” (p. 874n.1), num aparente lapso, visto que esse seminário tinha
como objeto, na verdade, os Nomes-do-Pais, no plural, algo que antecipa sua formulação
sobre a père-version1. Não obstante, fica claro que, inclusive nas configurações mais
sublimadas do pai simbólico, se conservam os traços perversos de sua origem.
No mito freudiano, a lei instituída subsequentemente ao assassinato do pai é
acompanhada pelo sentimento amoroso:
É pelo menos o que Freud avança em Totem e tabu com a referência à primeira horda. É na medida em
que os filhos são privados de mulher que eles amam o pai. Eis alguma coisa totalmente singular e
1
Lacan (1967/2001, p. 587) incorre novamente nessa imprecisão na primeira versão da “Proposição de 9 de
outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”, ao referir-se a “um seminário sobre o Nome-do-Pai, sobre o
qual mantenho que não foi por acaso que não pude fazer”.
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me assim, nada tem a ver com a questão. Aquilo de que ela se ocupa é de outros objetos a,
que são os filhos” (LACAN, 1974-1975/s.d., 21 de janeiro de 1975). No caráter perverso da
sexualidade humana, que não se atém à complementaridade anatômica entre os sexos, já está
presente, aliás, a ideia lacaniana da não-relação sexual. “Dizer ‘não há relação sexual’ parte
da ideia de uma physis, a saber, de alguma coisa que faria do sexo um princípio de harmonia.
Relação, isso quer dizer até hoje, para nós, proporção” (LACAN, 1974-1975/s.d., 8 de abril
de 1975). Dizer “não há relação sexual” envolve também, em alguma medida, a
desconstrução da metáfora paterna, visto que essa “escreve, de uma certa maneira, a relação
sexual sob a forma da prevalência viril sobre a posição feminina materna” (MILLER, 2013, p.
9).
Além disso, a universalidade do pai simbólico é diretamente questionada quando
levamos em conta outro sentido de père-version, interpretando-a como versão do pai:
“Perversão [perversion] quer dizer apenas versão [version] em direção [vers] ao pai [père]”
(LACAN, 1975-1976/2005, p. 19). Com efeito, quando se fala em père-version, a ênfase se
desloca da função paterna para a versão paterna. A primeira tem algo de constitutivo e
universal, a segunda, de eventual e singular. Por isso mesmo, não há uma só, mas múltiplas
père-versions possíveis, eventualmente contraditórias entre si, as quais são tomadas uma a
uma. “O Pai precisamente não existe na prática da análise, só existem pais, no singular”
(MILLER, 2011/s.d., 25 de maio). Em outros termos, pai é o que funciona como pai para cada
um. A perda da universalidade da função é contrabalançada pela multiplicação das versões
singulares.
Essa é, na verdade, uma maneira alternativa de recolocar a pluralidade dos Nomes-do-
Pai, título do seminário que seria o décimo primeiro, mas só teve uma sessão (LACAN,
1963/2005). Como se sabe, esse seminário é interrompido por ocasião da “excomunhão” de
Lacan (1964/1973, p. 7) pela International Psychoanalytical Association, e seu título
representa a gota d’água numa longa lista de atitudes desafiadoras da ortodoxia que despertam
a contrariedade da IPA. O desconforto de Lacan com o incidente manifesta-se inclusive nas
referências equivocadas, citadas anteriormente, ao tema deste seminário como sendo o Nome-
do-Pai, no singular. Somente no contexto da borromeidade do nó a pluralidade dos Nomes-
do-Pai é retomada com plena força: “Quando eu digo Nome-do-Pai, isso quer dizer que pode
haver dele, como no nó borromeano, um número indefinido” (LACAN, 1974-1975/s.d., 15 de
abril de 1975). A ideia de veRSIon do pai já inclui em seu background a articulação dos
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registros.
A pluralização dos Nomes-do-Pai é preparada, por sua vez, pelo enunciado
apresentado no Seminário VI como “o grande segredo da psicanálise”: “Não há o Outro do
Outro” (LACAN, 1958-1959/2013, p. 353). Se o Nome-do-Pai aparecia até então em Lacan
como sustentáculo da ordem simbólica, a ideia de que ela em última instância não está
fundamentada num Outro do Outro a torna inconsistente. As consequências plenas disso são
extraídas no último Lacan: o Nome-do-Pai dá lugar a uma multiplicidade de semblantes,
nenhum dos quais podendo ser tomado em termos absolutos. “Mas o Pai tem tantos e tantos
que não tem Um que lhe seja conveniente, senão o Nome de Nome de Nome. Não há um
Nome que seja seu Nome-Próprio, senão o Nome como ex-sistência. Ou seja, o semblante por
excelência” (LACAN, 1974/2001, p. 563).
duas concepções que, desde que as façamos intervir numa dialética qualquer para explicar um
comportamento patológico, parecem dirigidas exatamente em sentido contrário. O supereu é
constrangente e o ideal do eu exaltante” (LACAN, 1953-1954/1975, p. 118). Ou seja, o pai
desdobra-se em duas vertentes, o pai que diz não e o pai que diz sim ao sujeito confrontado
com o gozo (conquanto a interdição associada à ação do supereu constitua também uma fonte
de gozo). A relação entre pai simbólico e pai real ecoa essa duplicidade: um remete ao
bloqueio ao gozo, outro a sua afirmação.
Quando se considera tal duplicidade, faz-se mister supor uma divisão semelhante no
próprio sujeito confrontado com ela, que teria uma certa homologia com a Verleugnung. Cabe
lembrar que Freud (1940 [1938]/1941), no final de sua vida, sugere que uma divisão do eu, na
linha da Verleugnung, está presente em todo o mundo:
O ponto de vista que postula uma divisão do eu em todas as psicoses não poderia chamar tanta atenção
caso não se mostrasse aplicável a outros estados mais semelhantes às neuroses e, finalmente, às
próprias neuroses. Convenci-me primeiro disso nos casos de fetichismo (p. 133, destaque do autor).
Se na perversão a castração materna é negada, mas a mesmo tempo aceita, na père-version a
relação com o pai simbólico é minada pela relação com o pai real. Na proporção em que, em
cada sujeito, a conciliação entre atitudes divergentes em relação ao pai é algo contingente, a
normatividade, já problematizada de forma embrionária e sutil em Freud, agora se vê
francamente em discussão.
Posto diferentemente, a associação do pai simbólico com a père-version, sua
contaminação pelo gozo do pai real, sugere em princípio algo fora dos cânones, perturbador,
transgressivo – patológico, em suma. No entanto, a normatização simbólica a partir de um pai
morto, evacuado de gozo, reduzido a puro significante, seria algo impossível, pois ninguém
seria capaz de cumprir tal papel. “Na verdade, a imagem do Pai ideal é uma fantasia do
neurótico” (LACAN, 1958/1966, p. 824). Contrapondo-se à concepção tradicional do pai
como encarnação da norma, Lacan (1974-1975/s.d.) assevera que “a normalidade não é a
virtude paterna por excelência” (21 de janeiro de 1975). Se ao caracterizar a sexualidade
humana a perversão representa o que está fora da norma, ao ser alçada à posição em tese
normalizadora do pai a perversão a descaracteriza como tal. O pai agora é sintoma, ou
sinthoma (LACAN, 1975-1976/2005, p. 19). Quando o pai simbólico é associado ao gozo do
qual o pai real é portador, algo muda na relação do sujeito com o pai. Se este aparece como
alguém que goza concretamente, e não como uma função evacuada de gozo, tal fato não é
indiferente a quem se relaciona com ele. E não apenas a subtração do gozo ao sujeito pelo pai
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é deficiente, mas o próprio gozo do pai é afinal transmitido ao sujeito: “Esse nódulo de gozo
faz lei para o sujeito, lei de sua conduta, lei de seu estilo de vida: é, em suma, seu traço
perverso” (LAURENT, 1997, p. 130). O gozo do sintoma e, em seu aspecto irredutível, o
gozo do sinthoma, em sua singularidade, e na singularidade do desejo a ele subjacente, sabota
de certa forma a normatização simbólica. Em princípio, pode até ser favorecida uma postura
perversa tout court, porquanto se evidencia um gozo no Outro e o perverso é justamente
alguém que se coloca como instrumento do gozo do Outro.
A ideia de versão paterna, em lugar de função paterna, aponta, ademais, para a
ausência de um padrão. Podemos considerar que a versão do pai no sentido de genitivo
objetivo ou passivo (ou seja, cada versão que pode assumir o pai) se desdobra na versão do
pai no sentido de genitivo subjetivo ou ativo (ou seja, cada versão fornecida pelo pai).
Trocando em miúdos, cada avatar do pai oferece um modelo distinto a ser seguido. Da
multiplicidade de modelos decorre a ausência de normatividade. Tendo apresentado, no
Seminário XXI (LACAN, 1973-1974/s.d.), os Nomes-do-Pai como “os não tolos erram” (Les
non-dupes errent, título desse seminário, faz um trocadilho com les Noms-du-Père, expressão
homófona em francês), Lacan (1974-1975/s.d.) comenta no seminário seguinte:
“Evidentemente eles não podem senão errar, pois, quantos mais deles existirem, mais eles se
confundirão” (15 de abril de 1975). Talvez seja possível traçar uma homologia estrutural com
a customização da lei que ocorre na perversão: o perverso está ligado à autoridade paterna,
mas de uma forma particular, via um contrato.
E, se o mont Nébo é onde Moisés teria recebido as tábuas da Lei2, mon nœud bo é a
via pela qual em Lacan a normatividade da Lei é repensada:
A essa intuição eu tento dar um outro corpo em meu nó bo, que é tão adequado para evocar o monte
Nebo, onde, como se diz, a Lei foi dada – essa Lei que não tem absolutamente nada a ver com as leis do
mundo real, as quais são, aliás, uma questão que permanece inteiramente em aberto. A Lei da qual se
trata aqui é simplesmente a lei do amor, isto é, a pai-versão [père-version] (LACAN, 1975-1976/2005,
p. 150).
Para recorrer uma vez mais à homofonia, essa é a heresia de Lacan, a hérésie sugerida na
pronúncia de RSI e que o identifica com Joyce – “como eu, um herético” (LACAN, 1975-
1976/2005, p. 15).
2
Na verdade, segundo o relato bíblico, o monte Nebo é o lugar de onde Moisés contempla a Terra Prometida
antes de sua morte (ver Deuteronômio 32:49 e 34:1), enquanto as tábuas da lei lhe são entregues no monte Sinai
(ver Êxodo 31:18, Levítico 26:46 e 27:34, Neemias 9:13).
11
(LYOTARD, 1974), ou regime de gozo, muda ao longo da história, a père-version, que leva
em conta o gozo, dá conta disso.
Em termos de laços sociais, é o discurso do capitalismo, proposto por Lacan
(1972/1978) em Milão, que parece levar a père-version às últimas consequências.
Nele a abstração é comprometida, pois, com o rearranjo das setas, desaparecem as
disjunções de impossibilidade, na linha superior, e de impotência, na linha inferior, que estão
presentes nos demais discursos, e isso indica que não há limitações ao gozo. Além disso, o
gozo parece determinar o sujeito (seta a → $, que remete, aliás, à fórmula da perversão). Esse
discurso, portanto, expressa melhor que qualquer outro “a ascensão ao zênite social do objeto
chamado por mim de pequeno a” (LACAN, 1970/2001, p. 414) ou, posto de outro modo, o
“imperativo do gozo” (LACAN, 1972-1973/1975, p. 10). O próprio pai aparece como
imbuído de gozo. “O mais-de-gozar provém da père-version, da versão a-pèr-itiva do gozar”
(LACAN, 1974-1975/n.d., 8 de abril de 1975).
No discurso do capitalismo, variante do discurso do senhor, que é o discurso do
inconsciente, é como se este passasse a seguir outra lógica, na qual a universalidade é
comprometida: a lei é customizada (o sujeito parece comandar o significante-mestre, indica a
seta $ → S1) e cada sujeito tem de haver-se por conta própria com o gozo (a → $).
Também a normatividade encontra-se comprometida nesse discurso. O que se retrata
nele não é tanto a situação do neurótico, que deseja por conta da lei (isto é, deseja o que é
proibido, porque é proibido pela lei) e não é capaz de entregar-se ao gozo, mas justamente o
oposto. A seta a → $, a completando $, indica que este, como o perverso, nega a falta, não é
movido por ela. Ademais, $ na posição dominante, e parecendo comandar S1, remete ao
perverso que, de sua posição, conjura a função paterna e a lei, tenta fazer com que elas se
realizem; como o sujeito neoliberal do discurso do capitalismo, o perverso parece estar
sempre em controle.
No discurso do capitalismo, enfim, a efetividade é comprometida, visto que o colapso
das disjunções problematiza o modelo de operação do simbólico.
De qualquer forma, cabe não perder de vista que a ideia de père-version, formulada no
último Lacan e evidenciada no laço social contemporâneo, apresenta-se também, sob outros
aspectos, conforme foi mostrado anteriormente, em traços disseminados na cultura judaico-
cristã ocidental, como se operasse aqui o que Freud denomina Nachträglichkeit e Lacan,
après-coup, ou seja, um efeito de retroação.
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