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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
O trabalho sempre teve papel essencial na vida dos seres humanos. Desde o
período primitivo o homem já necessitava trabalhar para sobreviver. Com o decorrer do
tempo os objetivos do trabalho e o seu processo foram sendo alterados, no entanto sua
finalidade de sobrevivência sempre foi mantida.
A globalização mundial e as políticas neoliberais têm reestruturado a organização
atual do trabalho, sendo responsáveis pelo desencadeamento de um processo de imposição
constante aos trabalhadores de deficientes condições de trabalho, geradoras de doenças e
danos à saúde física e mental dos mesmos. Além disso, há uma crescente instabilidade nas
relações de trabalho, a flexibilização de garantias jurídicas é evidente.
Neste contexto, o trabalhador, como sujeito de direito, está envolvido por duas
realidades, ora possui plena capacidade laborativa, ora fica impossibilitado de trabalhar por
motivo de doenças e acidentes relacionados às suas relações de trabalho (PICARELLI,
2001).
O contexto político neoliberal produz efeitos prejudiciais à saúde e ao ambiente de
trabalho do professor. As condições materiais de labor são inadequadas, a influência das
mudanças sociais e a falta de resultados do trabalho produzido pelo docente têm causado
um estranhamento no mesmo, como afirma Freitas (2005, p. 139): “é como se o professor
se defrontasse com algo alheio a si, que por sua vez foi produto de seu próprio esforço.”,
nestas situações o professor não se identifica com o próprio trabalho realizado.
Segundo Kokay (2002), o professor situa-se em dois extremos: primeiro na divindade
que é ser educador e, em um segundo momento, no descaso com que é visto pela
sociedade e com a desvalorização da educação.
Por um longo período a doença do trabalho e as péssimas condições laborativas da
categoria docente foram invisíveis. A partir da percepção que estes dois aspectos são
reflexos de uma organização de trabalho que não valoriza o professor como ser humano, os
mesmos passaram a impulsionar a luta pela preservação da saúde deste trabalhador.
Neste cenário tomado pelo poder capitalista, o professor se vê obrigado a
estabelecer um posicionamento político que implica reconhecer as verdadeiras condições de
vida, trabalho, saúde e a necessidade de lutar pelos seus interesses (CARVALHO, 1995).
Embora já se saiba que há algum tempo os efeitos nocivos que podem ser
ocasionados por determinadas atividades laborais, o aprofundamento de estudos referentes
a esta temática na educação é recente (WERNICK, 2000). O presente estudo tem como
finalidade analisar um setor profissional que tem ganhado visibilidade científica: o trabalho
dos professores do ensino superior.
2 REVISÃO DE LITERATURA
e princípios que regem a relação jurídica que se estabelece no local de trabalho entre as
partes, com vista a maior proteção da saúde do agente da atividade laboral” (PICARELLI,
2001).
Três outras disciplinas jurídicas consubstanciam o Direito Sanitário do Trabalho:
Direito Ambiental, Direito do Trabalho e Direito da Seguridade Social.
Martins (2003) chama a atenção para a necessidade de efetivação da segurança e
da medicina ocupacional como segmentos do direito tutelar do trabalho, com a finalidade de
oferecer garantias protetivas à saúde do funcionário em seu meio ambiente laboral, e sua
devida recuperação quando não se encontrar em condições plenas de saúde.
A Carta Magna brasileira preconiza que a saúde é um direito de todos e dever do
Estado, devendo ser garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a
redução do risco de doenças e de outros agravos. Traz ainda em seu artigo 200, inciso VIII,
que compete ao Sistema Único de Saúde (SUS) “colaborar na proteção do meio ambiente,
nele compreendido o do trabalho”.
Partindo-se desta conjuntura sobre a legislação trabalhista, que permanece com uma
atuação tímida na tutela da vida e da saúde dos trabalhadores, é que se adentrará no
campo específico das bases legais da profissão docente.
O exercício do professorado é regido pela Lei de Diretrizes e Bases, Lei n.º
9.394/1996, e pela Consolidação das Leis do Trabalho, Decreto-Lei n.º 5.452/1943, caso o
vínculo empregatício seja de ordem privada, e, em se tratando de servidores públicos, o
vínculo trabalhista é regido por Regime Jurídico específico (por meio de estatuto) nas
instâncias federal, estadual e municipal (PARANHOS,2002).
Na Bahia, a Lei n.º 6.677/1994 dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos Civis
do Estado da Bahia, das Autarquias e das Fundações Públicas Estaduais. Especificamente,
a Lei 8.352/2002 estabelece o Estatuto do Magistério Público das Universidades do Estado
da Bahia, o qual regulamenta o trabalho docente na Universidade Estadual de Feira de
Santana.
Ambos os textos legislativos estaduais não fazem maiores referências a mecanismos
de elevação da melhoria das condições do ambiente de trabalho e da proteção e promoção
da saúde do docente universitário.
Segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau do
Estado da Bahia/UEFS (SINTEST/BA), a Lei n.º 8.889/2003 trouxe alterações à estruturação
dos cargos e vencimentos no âmbito do Poder Executivo do Estado da Bahia. A mencionada
lei reduziu direitos dos professores/servidores públicos, como por exemplo, a gratificação e
a progressão na carreira.
No tocante ao docente servidor público, a literatura jurídica ainda tem se mostrado
incipiente na análise da regulamentação e na defesa dos direitos relativos ao bem-estar
laboral, à garantia de um local de trabalho sadio e à prevenção de futuros danos
decorrentes do exercício desgastante da docência superior.
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS
No decorrer deste estudo foi possível constatar que havia precarização das
condições materiais e ambientais em que se processava o labor educativo. As salas de aula
são consideradas pouco adequadas para o desenvolvimento pleno do trabalho, faltavam
iluminação e ventilação adequadas, aliado a isto, observou-se ainda a escassez de
manutenção dos equipamentos didático-pedagógicos e das instalações.
As salas de aula, ainda, foram consideradas barulhentas e intranqüilas, sendo este
fator um dos possíveis ensejadores de estresse no trabalho do professor.
O ambiente laboral do educador era circundado por riscos biológicos, físicos e
químicos. O primeiro foi considerado de baixa frequência pelos professores entrevistados; o
segundo apresentou um risco médio, enquanto o terceiro foi considerado o risco mais
evidente, sendo a exposição constante ao pó de giz o principal risco químico.
No que diz respeito à saúde dos professores, os principais problemas detectados
referiam-se a dores na garganta, dores no braço, alergia respiratória, rouquidão e rinite.
Foram citadas ainda, as queixas relacionadas ao cansaço mental e ao nervosismo.
Foi possível perceber que mais da metade dos professores entrevistados
consideraram o ritmo de trabalho acelerado, gerando elevada carga física e psíquica. O
exercício da docência em posições inadequadas, também, foram citadas como causa de
dores nas costas, cabeça e braços.
O presente estudo revelou que além das condições de trabalho na docência superior
serem pouco adequadas, é escassa a legislação específica sobre a proteção da saúde e a
regularização do ambiente de trabalho deste setor da educação.
O Estatuto do Servidor Público Civil do Estado da Bahia traz em seu bojo apenas a
indicação da existência de riscos biológicos, físicos e químicos que podem afetar a saúde do
servidor, e apresenta, em seu artigo 8º os requisitos básicos para ingresso no serviço
público, dentre eles a boa saúde física e mental.
Também foi observado que embora exista uma legislação específica para o serviço
público na Bahia, este não alcança todos os problemas que envolvem a profissão docente.
Foi possível perceber ainda, que apesar de 68,3% dos professores da UEFS serem
sindicalizados, 42,6% destes consideravam que não havia influência significativa do
sindicato nas políticas adotadas pela Universidade.
A despeito disso, o sindicato da categoria apresentou uma nova tendência de
reivindicações, a luta sindical que sempre teve um cunho essencialmente financeiro,
redirecionou-se ao melhoramento das condições do ambiente de trabalho enfatizando-se
aspectos relacionados à assistência à saúde docente: exigiam o retorno de um atendimento
psiquiátrico para os professores, a distribuição de medicamentos para funcionários
hipertensos, a liberação dos processos de insalubridade e periculosidade, bem como a
ampliação e melhor qualidade do atendimento do PLANSERV – Plano de Saúde do Servidor
Público.
Constatou-se também o desconhecimento por parte dos docentes/servidores
públicos das garantias jurídicas existentes, ao que se soma, como sobredito, a própria
inexistência de legislação mais específica de amparo ao bem-estar físico e mental do
professor.
A principal queixa, no entanto, girava em torno da baixa remuneração percebida. Tal
fator é tido como símbolo de desrespeito e desvalorização do trabalho docente.
5 DISCUSSÃO
pelo regime Jurídico Único dos servidores públicos do Estado da Bahia, que se limita a
trazer regulamentações concernentes à carreira, às atividades, ao regime de trabalho, à
remuneração, aos benefícios pecuniários concedidos ao professor, mas não preconiza
determinações preventivas sobre o ambiente e saúde dos trabalhadores.
O descaso governamental e até mesmo a ausência de reconhecimento da atividade
docente pela sociedade, juntamente com a inadequação da qualidade dos locais de trabalho
contribuem para o desgaste profissional, pesquisas iniciais já têm constatado tal associação
entre condições de trabalho e a saúde dos professores.
A política de ensino público atual é cingida por aspectos negativos, dentre eles estão
a falta de recursos materiais, a omissão estatal, o afastamento entre ensino, pesquisa e
extensão, a distribuição inadequada dos recursos entre setores/atividades. Além destes
fatores, podem ser ressaltados os baixos salários e o sofrimento físico e mental imposto ao
professor no desenvolvimento de seu trabalho em decorrência dessas condições precárias.
O movimento sindical dos professores da UEFS tem alterado sua pauta de
reivindicações, incluindo exigências que objetivam a devida promoção e proteção da saúde
docente. Aliada à necessária busca por melhores ganhos salariais (que também funciona
como regulador da qualidade de vida do professor), desponta, de modo relevante, a luta por
condições dignas de trabalho na docência superior.
Embora o quadro observado revele uma situação predominantemente negativa,
alguns avanços têm sido sentidos, como o crescimento da consciência ambientalista e de
resguardo da dignidade humana, aliados a preocupação de se prevenir a ocorrência de
doenças ocupacionais e de afronta aos direitos individuais no exercício da docência
superior.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DALLARI, S.G. O Direito à Saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 22, n.1, fev. de
1988, p. 57-63. Disponível em: http://www.scielo.com.br. Acesso em 20 de maio de 2005.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed., São Paulo: Atlas, 1999.
MARTINS, S.P. Direito do Trabalho. 13ª ed., São Paulo: Editora Atlas, 2001.
MARX, K. O Capital: a crítica da economia política. 11ª ed. São Paulo: Difel, 1987.