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5 a 43
resumo: O presente estudo procura analisar as relações abstract: This article analyses the relationship between
entre o direito e a política nas democracias contemporâ- Law and Politics in contemporary democracies, with spe-
neas, com ênfase no caso brasileiro. O artigo se divide em cial emphasis in the Brazilian case. Part One focuses on
três partes. A primeira se dedica ao exame da ascensão the new and more proeminent role played by the Judiciary
institucional do Poder Judiciário e procura refletir sobre and attempts to reflect on phenomena like judicialization
fenômenos como a judicialização e o ativismo judicial. A of politics, judicial activism and the role of courts. Part Two
segunda parte retoma a concepção tradicional sobre a describes the traditional view of the relationship between
relação entre direito e política, que idealiza uma sepa- Law and Politics, which idealizes an absolute separation be-
ração absoluta entre essas esferas, como conseqüência tween those areas, due to the independence of the judicial
da independência do Judiciário, das garantias da magis- branch, the guarantees of judges and the specificity of the
tratura e da vinculação ao direito. Como esse completo legal discourse. This complete separation between Law and
isolamento entre ambas esferas não é possível de se re- Politics does not occur in the real world and Part Three of
alizar, a terceira parte analisa o modelo real das relações the article is dedicated to the actual model of relationship
entre direito e política. Constata-se, então, que a com- between them. The complexity of constitutional interpreta-
plexidade da atividade de interpretação constitucional tion in modern plural societies brings up extrajuridical el-
acaba trazendo à tona elementos extrajurídicos que mo- ements that influence judicial decisions, especially in the
tivam e influenciam as decisões judiciais, especialmente hard cases. Law must vigorously seek to be autonomous
nos casos difíceis. Assim, se, por um lado, o direito pode from Politics, but it will be always a relative autonomy. Ac-
e deve ter uma vigorosa pretensão de autonomia em re- knowledging this fact does not diminish the importance of
lação à política, por outro, essa autonomia será sempre Law, but permits legal actors to deal with political influence
relativa. O reconhecimento desse fato não diminui o di- in a more mature and conscient way.
reito, mas permite que se lide de maneira mais madura e
consciente com o fenômeno político. keywords: Law, Politics, Judicialization, Judicial activism,
Constitutional interpretation.
palavras-chave: Direito, Política, Judicialização, Ativismo,
Interpretação constitucional.
*>> Parte da pesquisa para este trabalho foi realizada na Universidade de Harvard – na Faculdade de Direito e na Kennedy School of Government.
Sou grato à instituição e, especialmente, ao Professor Filipe Campante, pela acolhida que me deram como pesquisador visitante, nos meses de julho
de 2009 e janeiro de 2010. E à Renata Campante e ao Paulo Barrozo, pela amizade, atenção e muitas dicas que tornaram a pesquisa e a vida mais
fáceis. Sou grato, também, a Ana Paula de Barcellos e a Thiago Magalhães Pires, pela leitura atenta e comentários importantes. E a Daniel Sarmento
por uma boa sugestão, que ficará para a próxima.
Revista Jurídica da Presidência | Brasília, Vol. 12 n°96 | Fev/Mai 2010 ISSN 1808-2807
sumário
1. Introdução...........................................................................................................................................................................................................6
2. A ascensão institucional do Judiciário.......................................................................................................................................................7
3. Direito e política: a concepção tradicional...........................................................................................................................................15
4. Direito e política: o modelo real..............................................................................................................................................................19
5. Conclusão - Entre a razão e a vontade...................................................................................................................................................35
6. Referências Bibliográficas........................................................................................................................................................................... 37
1> Introdução
6
Revista Jurídica da Presidência | Brasília, Vol. 12 n°96 | Fev/Mai 2010 ISSN 1808-2807
3>> A Parte I deste trabalho, especialmente os capítu- 2> A ascensão institucional do Judiciário3
los II e III, beneficia-se da pesquisa e de algumas pas-
sagens de texto anterior de minha autoria, “Judiciali-
zação, ativismo judicial e legitimidade democrática”,
publicado na Revista de direito do Estado 13:71, 2009.
2.1>> A jurisdição constitucional
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6>> V. Alec Stone Sweet, Governing with judges: cons- Judicialização significa que questões relevantes do ponto de vista
titutional polítics in Europe, 2000, p. 35-36 e 130. A
visão prevalecente nas democracias parlamentares político, social ou moral estão sendo decididas, em caráter final,
tradicionais de ser necessário evitar um “governo de pelo Poder Judiciário. Trata-se, como intuitivo, de uma transferên-
juízes”, reservando ao Judiciário apenas uma atuação
como legislador negativo, já não corresponde à prá-
cia de poder para as instituições judiciais, em detrimento das ins-
tica política atual. Tal compreensão da separação de tâncias políticas tradicionais, que são o Legislativo e o Executivo.
Poderes encontra-se em “crise profunda” na Europa Essa expansão da jurisdição e do discurso jurídico constitui uma
continental.
mudança drástica no modo de se pensar e de se praticar o direito
7>> Para uma análise das condições para o surgimen- no mundo romano-germânico6. Fruto da conjugação de circunstân-
to e consolidação da judicialização, v. C. Neal Tate e cias diversas7, o fenômeno é mundial, alcançando até mesmo paí-
Torbjörn Vallinder (eds.), The global expansion of judi-
cial power, 1995, p. 117.
ses que tradicionalmente seguiram o modelo inglês – a chamada
democracia ao estilo de Westminster –, com soberania parlamentar
8>> V. Ran Hirschl, The new constitutionalism and the e ausência de controle de constitucionalidade8. Exemplos numero-
judicialization of pure politics worldwide, Fordham
Law Review 75:721, 2006-2007, p. 721. A referência
sos e inequívocos de judicialização ilustram a fluidez da fronteira
envolve países como Canadá, Israel, Nova Zelândia e o entre política e justiça no mundo contemporâneo, documentando
próprio Reino Unido. que nem sempre é nítida a linha que divide a criação e a interpre-
tação do direito. Os precedentes podem ser encontrados em países
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9>> Decisão da Suprema Cor- 16>> Sobre o fenômeno na diversos e distantes entre si, como Canadá9, Estados
te sobre a constitucionalidade América Latina, v. Rachel Sieder,
de os Estados Unidos fazerem Line Schjolden e Alan Angell,
Unidos10, Israel11, Turquia12, Hungria13 e Coreia14, dentre
testes com mísseis em solo ca- The judicialization of politics in muitos outros. No início de 2010, uma decisão do Con-
nadense. Este exemplo e os se- Latin America, 2005. selho Constitucional francês e outra da Suprema Corte
guintes vêm descritos em maior
detalhe em Ran Hirschl, The 17>> De acordo com Rodrigo americana produziram controvérsia e a reação política
judicialization of polítics. In: Uprimny Yepes, Judicialization dos dois presidentes15. Na América Latina16, o caso da
Whittington, Kelemen e Caldeira of politics in Colombia, Interna-
(eds.), The Oxford handbook of
Colômbia é um dos mais significativos17.
tional Journal on Human Rights
law and politics, 2008, p. 124-5. 6:49, 2007, p. 50, algumas das
mais importantes hipóteses de Há causas de naturezas diversas para o fenômeno. A
judicialização da política na
10>> Decisão da Suprema Corte
Colômbia envolveram: a) luta primeira delas é o reconhecimento da importância de
que definiu a eleição de 2000,
em Bush v. Gore.
contra a corrupção e para mu- um Judiciário forte e independente, como elemento
dança das práticas políticas; b)
essencial para as democracias modernas. Como conse-
contenção do abuso das auto-
11>> Decisão da Suprema Corte ridades governamentais, espe- quência, operou-se uma vertiginosa ascensão institu-
sobre a compatibilidade, com a cialmente em relação à declara-
Constituição e com os atos in-
cional de juízes e tribunais, assim na Europa como em
ção do estado de emergência ou
ternacionais, da construção de estado de exceção; c) proteção países da América Latina, particularmente no Brasil. A
um muro na fronteira com o ter- das minoriais, assim como a au- segunda causa envolve certa desilusão com a política
ritório palestino. tonomia individual; d) proteção
majoritária, em razão da crise de representatividade e
das populações estigmatizadas
12>> Decisões da Suprema ou aqueles em situação de fra- de funcionalidade dos parlamentos em geral. Há uma
Corte destinadas a preserver o queza política; e e) interferência
Estado laico contra o avanço do
terceira: atores políticos, muitas vezes, preferem que o
com políticas econômicas, em
fundamentalismo islâmico. virtude da proteção judicial de Judiciário seja a instância decisória de certas questões
direitos sociais. polêmicas, em relação às quais exista desacordo moral
13>> Decisão da Corte Constitu- razoável na sociedade. Com isso, evitam o próprio des-
cional sobre a validade de plano
econômico de grande repercus-
18>> V. Rodrigo Uprimny Ye- gaste na deliberação de temas divisivos, como uniões
pes, Judicialization of politics in
são sobre a sociedade. Colombia, International Journal
homoafotetivas, interrupção de gestação ou demarca-
on Human Rights 6:49, mimeo- ção de terras indígenas18. No Brasil, o fenômeno assu-
14>> Decisão da Corte Consti- grafado, 2007, p. 57. V. tb. José miu proporção ainda maior, em razão da constitucio-
tucional restituindo o mandato Ribas Vieira, Margarida Maria
de presidente destituído por Lacombe Camargo e Alexandre nalização abrangente e analítica – constitucionalizar é,
impeachment. Garrido Silva, O Supremo Tri- em última análise, retirar um tema do debate político e
bunal Federal como arquiteto
institucional: a judicialização
trazê-lo para o universo das pretensões judicializáveis
15>> Na França, foi anulado da política e o ativismo judicial. – e do sistema de controle de constitucionalidade vi-
o imposto do carbono, que in- In: Anais do I Forum de Grupos de
cidiria sobre o consumo e a
gente entre nós, em que é amplo o acesso ao Supremo
Pesquisa em direito Constitucio-
emissão de gases poluentes, nal e Teoria dos direitos, 2009, Tribunal Federal por via de ações diretas.
com forte reação do gover- p. 44: “Em casos politicamente
no. V. Le Monde, 12 jan. 2010, custosos, os poderes Legislativo
http: //www.lemonde.fr/po- e Executivo podem, de um modo
Como consequência, quase todas as questões de rele-
litique/article/2010/01/12/ estratégico, por meio de uma vância política, social ou moral foram discutidas ou já
m-devedjian-je-souhaite- inércia deliberada, abrir um es-
que-le-conseil-constitutio-
estão postas em sede judicial, especialmente perante o
paço para a atuação ativista dos
nnel-soit-a-l-abri-des-soup- tribunais. Temas profundamente Supremo Tribunal Federal. A enunciação que se segue,
cons_1290457_823448.html. controvertidos, sem perspectiva meramente exemplificativa, serve como boa ilustração
Nos Estados Unidos, a decisão de consenso na sociedade, tais
em Citizens United v. Federal como a abertura dos arquivos
dos temas judicializados: (i) instituição de contribuição
Election Commission, invalidan- da ditadura militar, uniões ho- dos inativos na Reforma da Previdência (ADI 3105/DF);
do os limites à participação fi- moafetivas, aborto, entre outros,
nanceira das empresas em cam-
(ii) criação do Conselho Nacional de Justiça na Reforma
têm os seus custos políticos es-
panhas eleitorais, foi duramente trategicamente repassados para do Judiciário (ADI 3367); (iii) pesquisas com células-
criticada pelo Presidente Barak os tribunais, cujos integrantes tronco embrionárias (ADI 3510/DF); (iv) liberdade de
Obama. V. New York Times, 24 não precisam passar pelo cri-
jan. 2010, p. A-20. vo do voto popular após suas
expressão e racismo (HC 82424/RS – caso Ellwanger);
decisões”. (v) interrupção da gestação de fetos anencefálicos
(ADPF 54/DF); (vi) restrição ao uso de algemas (HC
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23>> Jim Newton, Justice for all: Earl Warren and the decreto presidencial23. A partir daí, por força de uma intensa reação
Nation he made, 2006, p. 405.
conservadora, a expressão ativismo judicial assumiu, nos Estados
24>> V. Randy E. Barnett, Constitututional clichês, Ca- Unidos, uma conotação negativa, depreciativa, equiparada ao exer-
pital University Law Review 36:493, 2007, p. 495: “Nor-
malmente, no entanto, ‘ativismo judicial’ é empregado
cício impróprio do poder judicial24. Todavia, depurada dessa crítica
para criticar uma prática judicial que deve ser evitada ideológica – até porque pode ser progressista ou conservadora25 – a
pelos juízes e que merece a oposição do público”. Ke- ideia de ativismo judicial está associada a uma participação mais
enan D. Kmiec, The origin and current meanings of ‘ju-
dicial activism’, California Law Review 92:1441, 2004, ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins
p. 1463 e s. afirma que não se trata de um conceito constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos
monolítico e aponta cinco sentidos em que o termo
tem sido empregado no debate americano, no geral
outros dois Poderes. Em muitas situações, sequer há confronto, mas
com uma conotação negativa: a) declaração de in- mera ocupação de espaços vazios.
constitucionalidade de atos de outros Poderes que
não sejam claramente inconstitucionais; b) ignorar
precedentes aplicáveis; c) legislação pelo Judiciário; No Brasil, há diversos precedentes de postura ativista do STF, mani-
d) distanciamento das metodologias de interpretação festada por diferentes linhas de decisão. Dentre elas se incluem: a)
normalmente aplicadas e aceitas; e e) julgamentos em
função dos resultados.
a aplicação direta da Constituição a situações não expressamente
contempladas em seu texto e independentemente de manifestação
25>> Como assinalado no texto, a expressão ativismo do legislador ordinário, como se passou em casos como o da im-
judicial foi amplamente utilizada para estigmatizar a
jurisprudência progressista da Corte Warren. É bem
posição de fidelidade partidária e o da vedação do nepotismo; b) a
de ver, no entanto, que o ativismo judicial precedeu declaração de inconstitucionalidade de atos normativos emanados
a criação do termo e, nas suas origens, era essencial- do legislador, com base em critérios menos rígidos que os de pa-
mente conservador. De fato, foi na atuação proativa
da Suprema Corte que os setores mais reacionários tente e ostensiva violação da Constituição, de que são exemplos as
encontraram amparo para a segregação racial (Dred decisões referentes à verticalização das coligações partidárias e à
Scott v. Sanford, 1857) e para a invalidação das leis so-
ciais em geral (Era Lochner, 1905-1937), culminando
cláusula de barreira; c) a imposição de condutas ou de abstenções
no confronto entre o Presidente Roosevelt e a Corte, ao Poder Público, tanto em caso de inércia do legislador – como
com a mudança da orientação jurisprudencial contrá- no precedente sobre greve no serviço público ou sobre criação de
ria ao intervencionismo estatal (West Coast v. Parrish,
1937). A situação se inverteu no período que foi de município – como no de políticas públicas insuficientes, de que têm
meados da década de 50 a meados da década de 70 sido exemplo as decisões sobre direito à saúde. Todas essas hipóte-
do século passado. Todavia, depois da guinada con-
servadora da Suprema Corte, notadamente no período
ses distanciam juízes e tribunais de sua função típica de aplicação
da presidência de William Rehnquist (1986-2005), do direito vigente e os aproximam de uma função que mais se as-
coube aos progressistas a crítica severa ao ativismo semelha à de criação do próprio direito.
judicial que passou a desempenhar. V. Frank B. Cross
e Stefanie A. Lindquistt, The scientific study of judicial
activism, Minnesota Law Review 91:1752, 2006-2007, A judicialização, como demonstrado acima, é um fato, uma circuns-
p. 1753 e 1757-8; Cass Sunstein, Tilting the scales
rightward, New York Times, 26 abr. 2001 (“um notável
tância do desenho institucional brasileiro. Já o ativismo é uma ati-
período de ativismo judicial direitista”) e Erwin Che- tude, a escolha de um modo específico e proativo de interpretar a
merinsky, Perspective on Justice: and federal law got Constituição, expandindo o seu sentido e alcance. Normalmente,
narrower, narrower, Los Angeles Times, 18 mai. 2000
(“ativismo judicial agressivo e conservador”). ele se instala – e este é o caso do Brasil – em situações de retração
do Poder Legislativo, de um certo descolamento entre a classe po-
lítica e a sociedade civil, impedindo que determinadas demandas
sociais sejam atendidas de maneira efetiva. O oposto do ativismo
é a auto-contenção judicial, conduta pela qual o Judiciário procura
reduzir sua interferência nas ações dos outros Poderes26. A prin-
26>> Por essa linha, juízes e tribunais (i) evitam apli- cipal diferença metodológica entre as duas posições está em que,
car diretamente a Constituição a situações que não
estejam no seu âmbito de incidência expressa, aguar-
em princípio, o ativismo judicial legitimamente exercido procura
dando o pronunciamento do legislador ordinário; (ii) extrair o máximo das potencialidades do texto constitucional, in-
utilizam critérios rígidos e conservadores para a de- clusive e especialmente construindo regras específicas de conduta
claração de inconstitucionalidade de leis e atos nor-
mativos; e (iii) abstêm-se de interferir na definição das a partir de enunciados vagos (princípios, conceitos jurídicos inde-
políticas públicas. terminados). Por sua vez, a autocontenção se caracteriza justamente
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por abrir mais espaço à atuação dos Poderes políticos, tendo por
nota fundamental a forte deferência em relação às ações e omis-
sões desses últimos.
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31>> A expressão é do Ministro desorganizando a atividade ad- quer matéria deva ser decidida em um tribunal. Para
Celso de Mello. V. STF, DJ, 12 ministrativa e comprometendo a
mai.2000, MS 23.452/RJ, Rel. alocação dos escassos recursos
evitar que o Judiciário se transforme em uma indese-
Min. Celso de Mello. públicos. Sobre o tema, v. Luís jável instância hegemônica31, a doutrina constitucio-
Roberto Barroso, Da falta de efe- nal tem explorado duas ideias destinadas a limitar a
32>> V. Cass Sunstein e Adrian tividade à constitucionalização
Vermeulle, Intepretation and excessiva: direito à saúde, for- ingerência judicial: a de capacidade institucional e a
institutions, Public Law and Le- necimento gratuito de medica- de efeitos sistêmicos32. Capacidade institucional envol-
gal Theory Working Paper No. 28, mentos e parâmetros para a atu-
2002: “Ao chamarmos atenção ação judicial. In: Temas de direito
ve a determinação de qual Poder está mais habilitado
para as capacidades institucio- constitucional, tomo IV, 2009. a produzir a melhor decisão em determinada matéria.
nais e para os efeitos sistêmicos, Temas envolvendo aspectos técnicos ou científicos de
estamos sugerindo a necessida- 36>> V. Jeremy Waldron, The
de de um tipo de virada institu- core case against judicial re- grande complexidade podem não ter no juiz de direito
cional no estudo das questões view, The Yale Law Journal o árbitro mais qualificado, por falta de informação ou
de interpretação jurídicas” (p. 2). 115:1346, p. 133: “A judicializa-
Sobre o tema, v. tb. Adrian Ver- ção tende a mudar o foco da dis-
de conhecimento específico33. Também o risco de efei-
meule, Foreword: system effects cussão pública, que passa de um tos sistêmicos imprevisíveis e indesejáveis podem re-
and the constitution, Harvard ambiente onde as razões podem comendar uma posição de cautela e de deferência por
Law Review 123:4, 2009. ser postas de maneira aberta e
abrangente para um outro alta- parte do Judiciário. O juiz, por vocação e treinamento,
33>> Por exemplo: em questões mente técnico e formal, tendo normalmente estará preparado para realizar a justiça
como demarcação de terras in- por objeto textos e ideias acerca
dígenas ou transposição de rios, de interpretação” (tradução livre
do caso concreto, a microjustiça34, sem condições, mui-
em que tenha havido estudos e ligeiramente editada). tas vezes, de avaliar o impacto de suas decisões sobre
técnicos e científicos adequa- um segmento econômico ou sobre a prestação de um
dos, a questão da capacidade 37>> Rodrigo Uprimny Yepes,
institucional deve ser sopesada Judicialization of politics in Co- serviço público35.
de maneira criteriosa. lombia, International Journal on
Human Rights 6:49, 2007, p. 63:
34>> Ana Paula de Barcellos, “O uso de argumentos jurídicos
Constitucionalização das políti- para resolver problemas so- 2.4.3>> Crítica quanto à limitação do debate
cas públicas em matéria de direi- ciais complexos pode dar a im-
tos fundamentais: o controle po- pressão de que a solução para
lítico-social e o controle jurídico muitos problemas políticos não O mundo do direito tem categorias, discurso e méto-
no espaço democrático, Revista exige engajamento democrá- dos próprios de argumentação. O domínio desse ins-
de direito do Estado 3:17, 2006, tico, mas em vez disso juízes e
p. 34. Também sobre o tema, v. agentes públicos providenciais”.
trumental exige conhecimento técnico e treinamento
Daniel Sarmento, Interpretação específico, não acessíveis à generalidade das pessoas.
constitucional, pré-compreensão 38>> Exemplo emblemático de A primeira consequência drástica da judicialização é a
e capacidades institucionais do debate apaixonado foi o que en-
intérprete. In: Cláudio Pereira volveu o processo de extradição
elitização do debate e a exclusão dos que não dominam
de Souza Neto, Daniel Sarmento do ex-militante da esquerda ita- a linguagem nem têm acesso aos locus de discussão
e Gustavo Binenbojm (coords.), liana Cesare Battisti. Na ocasião,
Vinte anos da Constituição Federal jurídica36. Institutos como audiências públicas, amicus
assinalou o Ministro Eros Grau:
de 1988, 2008, p. 317: “[U]ma “Parece que não há condições curiae e direito de propositura de ações diretas por en-
teoria hermenêutica construída a no tribunal de um ouvir o outro, tidades da sociedade civil atenuam mas não eliminam
partir de uma imagem romântica dada a paixão que tem presidi-
do juiz pode produzir resultados do o julgamento deste caso”. So-
esse problema. Surge, assim, o perigo de se produzir
desastrosos quando manejada bre o ponto, v. Felipe Recondo e uma apatia nas forças sociais, que passariam a ficar à
por magistrados de carne e osso Mariângela Galluci, Caso Battisti
que não correspondam àquela espera de juízes providenciais37. Na outra face da moe-
expõe crise no STF. In: Estado de
idealização...”. São Paulo, 22.11.2009. da, a transferência do debate público para o Judiciário
traz uma dose excessiva de politização dos tribunais,
35>> Exemplo emblemático
nessa matéria tem sido o setor
39>> Em 22 abr.2009, dife- dando lugar a paixões em um ambiente que deve ser
rentes visões sobre a relação
de saúde. Ao lado de interven-
Judiciário, mídia e sociedade
presidido pela razão38. No movimento seguinte, proces-
ções necessárias e meritórias,
levaram a uma ríspida discussão sos passam a tramitar nas manchetes de jornais – e não
tem havido uma profusão de
entre os Ministros Gilmar Men- na imprensa oficial – e juízes trocam a racionalidade
decisões extravagantes ou emo-
des e Joaquim Barbosa. V. http://
cionais em matéria de medica- plácida da argumentação jurídica por embates próprios
oglobo.globo.com/pais/noblat/
mentos e terapias, que põem
em risco a própria continuidade
posts/2009/04/22/na-integra- da discussão parlamentar, movida por visões políticas
bate-boca-entre-joaquim-bar-
das políticas públicas de saúde,
bosa-mendes-179585.asp.
contrapostas e concorrentes39.
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40>> V. Dieter Grimm, Jurisdição constitucional e de- 2.5>> Importância e limites da jurisdição constitucional nas
mocracia, Revista de Direito do Estado 4:3, 2006, p. 9:
“A jurisdição constitucional não é nem incompatível
democracias contemporâneas
nem indispensável à democracia. (...) [Há] suficien-
tes provas históricas de que um estado democrático A jurisdição constitucional pode não ser um componente indispen-
pode dispensar o controle de constitucionalidade. (...)
Ninguém duvidaria do caráter democrático de Estados sável do constitucionalismo democrático, mas tem servido bem
como o Reino Unido e a Holanda, que não adotam o à causa, de uma maneira geral40. Ela é um espaço de legitimação
controle de constitucionalidade”. Sobre o tema, inclu-
sive com uma reflexão acerca da posição de Dieter
discursiva ou argumentativa das decisões políticas, que coexiste
Grimm aplicada ao Brasil, v. Thiago Magalhães Pires, com a legitimação majoritária, servindo-lhe de “contraponto e com-
Crônicas do subdesenvolvimento: jurisdição consti- plemento”41. Isso se torna especialmente verdadeiro em países de
tucional e democracia no Brasil, Revista de direito do
Estado 12:181, 2009, p. 194 e s. redemocratização mais recente, como o Brasil, onde o amadureci-
mento institucional ainda se encontra em curso, enfrentando uma
41>> Eduardo Bastos de Mendonça, A constituciona-
lização da política: entre o inevitável e o excessivo, tradição de hegemonia do Executivo e uma persistente fragilida-
p. 10. Artigo inédito, gentilmente cedido pelo autor. de do sistema representativo42. As constituições contemporâneas,
Para uma defesa do ponto de vista de que as cortes
constitucionais deve servir como “instâncias de forta-
como já se assinalou, desempenham dois grandes papéis: (i) o de
lecimento da representação política”, v. Thamy Pogre- condensar os valores políticos nucleares da sociedade, os consen-
binschi, Entre judicialização e representação. O papel sos mínimos quanto a suas instituições e quanto aos direitos funda-
político do Supremo Tribunal Federal e o experimen-
talismo democrático brasileiro, mimeografado, 2009. mentais nela consagrados; e (ii) o de disciplinar o processo político
democrático, propiciando o governo da maioria, a participação da
42>> Um dos principais críticos da judicial review, isto
é, à possibilidade de cortes de justiça declararem a minoria e a alternância no poder43. Pois este é o grande papel de um
inconstitucionalidade de atos normativos, Jeremy Wal- tribunal constitucional, do Supremo Tribunal Federal, no caso bra-
dron, no entanto, reconhece que ela pode ser necessária
sileiro: proteger e promover os direitos fundamentais, bem como
para enfrentar patologias específicas, em um ambiente
em que certas características políticas e institucionais resguardar as regras do jogo democrático. Eventual atuação con-
das democracias liberais não estejam totalmente pre- tramajoritária do Judiciário em defesa dos elementos essenciais da
sentes. V. Jeremy Waldron, The core case against judicial
review, The Yale Law Journal 115:1346, p. 1359 e s. Constituição se dará a favor e não contra a democracia44.
43>> Luís Roberto Barroso, Curso de direito constitucio- Nas demais situações – isto é, quando não estejam em jogo os di-
nal contemporâneo, 2009, p. 89-90.
reitos fundamentais ou os procedimentos democráticos –, juízes e
44>> Para uma crítica da visão do Judiciário como tribunais devem acatar as escolhas legítimas feitas pelo legislador,
instância de proteção das minorias e de defesa das
regras democráticas, v. Luciano da Ros, Tribunais como
assim como ser deferentes com o exercício razoável de discricio-
árbitros ou como instrumentos de oposição: uma tipo- nariedade pelo administrador, abstendo-se de sobrepor-lhes sua
logia a partir dos estudos recentes sobre judicializa- própria valoração política45. Isso deve ser feito não só por razões
ção da política com aplicação ao caso brasileiro con-
temporâneo, Direito, Estado e Sociedade 31:86, 2007, p. ligadas à legitimidade democrática, como também em atenção às
100-1, onde averbou: “Pode-se afirmar que tribunais capacidades institucionais dos órgãos judiciários e sua impossibili-
são instituições que operam rigorosamente dentro
dos limites que a dinâmica das outras forças políticas
dade de prever e administrar os efeitos sistêmicos das decisões pro-
e institucionais lhes impõem, raramente decidindo feridas em casos individuais. Os membros do Judiciário não devem
fora do círculo de preferências dos atores políticos. A presumir demais de si próprios – como ninguém deve, aliás, nessa
idéia de que tribunais salvaguardam a democracia e
a Constituição contra tudo e contra todos, como mui- vida –, supondo-se experts em todas as matérias. Por fim, o fato de
tas vezes se veicula nos círculos acadêmicos, pode ser a última palavra acerca da interpretação da Constituição ser do Ju-
considerada ingênua”.
diciário não o transforma no único – nem no principal – foro de
45>> Na jurisprudência norte-americana, o caso Che- debate e de reconhecimento da vontade constitucional a cada tem-
vron é o grande precedente da teoria da deferência ad-
ministrativa em relação à interpretação razoável dada
po. A jurisdição constitucional não deve suprimir nem oprimir a voz
pela Administração. De fato, em Chevron USA Inc. vs. das ruas, o movimento social, os canais de expressão da sociedade.
National Resources Defense Council Inc. (467 U.S. 837 Nunca é demais lembrar que o poder emana do povo, não dos juízes.
(1984) ficou estabelecido que, havendo ambiguidade
ou delegação legislativa para a agência, o Judiciário
somente deve intervir se a Administração (no caso,
uma agência reguladora) tiver atuado contra legem ou
de maneira irrazoável.
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48>> Dieter Grimm, Constituição e política, 2006, p. 13. Já no plano da aplicação do direito, sua separação da política é tida
como possível e desejável. Tal pretensão se realiza, sobretudo, por
49>> O termo formalismo é empregado aqui para
identificar posições que exerceram grande influência
mecanismos destinados a evitar a ingerência do poder político so-
em todo o mundo, como a da Escola da Exegese, na bre a atuação judicial. Isso inclui limitações ao próprio legislador,
França, a Jurisprudência dos Conceitos, na Alemanha, e que não pode editar leis retroativas, destinadas a atingir situações
o Formalismo Jurídico, nos Estados Unidos, cuja marca
essencial era a da concepção mecanicista do direito, concretas48. Essa separação é potencializada por uma visão tradi-
com ênfase na lógica formal e grande desconfiança cional e formalista do fenômeno jurídico. Nela se cultivam crenças
em relação à interpretação judicial.
como a da neutralidade científica, da completude do direito e a
50>> Para Brian Z. Tamahana, Beyond the formalist-rea- da interpretação judicial como um processo puramente mecânico
list divide: the role of politics in judging, 2010, a exis- de concretização das normas jurídicas, em valorações estritamente
tência do formalismo jurídico, com as características
que lhe são atribuídas, não corresponde à realidade técnicas49. Tal perspectiva esteve sob fogo cerrado ao longo de boa
histórica. Segundo ele, ao menos nos Estados Unidos, parte do século passado, tendo sido criticada por tratar questões
essa foi uma invenção de alguns realistas jurídicos, que
políticas como se fossem linguísticas e por ocultar escolhas en-
se apresentaram para combater uma concepção que
jamais exisitiu, ao menos não com tais características: tre diferentes possibilidades interpretativas por trás do discurso da
autonomia e completude do direito, soluções únicas e única solução possível50. Mais recentemente, autores diversos têm
interpretação mecânica. A tese refoge ao conhecimen-
to convencional e certamente suscitará polêmica. procurado resgatar o formalismo jurídico, em uma versão requa-
lificada, cuja ênfase é a valorização das regras e a contenção da
51>> V. Frederick Schauer, Formalism: legal, constitu- discricionariedade judicial51.
tional, judicial. In: Keith E. Whittington, R. Daniel Kele-
men e Gregory A. Caldeira (eds.), The Oxford handbook
of law and politics, 2008, p. 428-36; e Noel Struchiner,
Posturas interpretativas e modelagem institucional:
3.2>> Constituição e poderes constituídos
a dignidade (contingente) do formalismo jurídico. In:
Daniel Sarmento (coord.), Filosofia e teoria constitucio-
nal contemporânea, 2009, p. 463-82. Sobre as ambi- Constituição é o primeiro e principal elemento na interface entre
guidades do termo formalismo, v. Martin Stone, verbete
“formalismo”. In: Jules Coleman e Scott Shapiro (Eds), política e direito. Cabe a ela transformar o poder constituinte ori-
The Oxford handbook of jurisprudence and philosophy of ginário – energia política em estado quase puro, emanada da so-
law, 2002, p. 166-205.
berania popular – em poder constituído, que são as instituições do
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67>> Cass Sunstein, Radicals in o Supremo Tribunal Federal juiz terá de recorrer a elementos externos ao direito
robes, 2005, identifica quatro diante de questões políticas e
abordagens no debate consti- científicas complexas, Revista
posto, em busca do justo, do bem, do legítimo. Ou seja,
tucional: perfeccionismo, ma- de Direito do Estado 12:107, p. sua atuação terá de se valer da filosofia moral e da fi-
joritarianismo, minimialismo e 139: “Frequentemente, os juízes losofia política. Mesmo admitida esta premissa – a de
fundamentalismo. O perfeccio- tendem a fazer um uso estraté-
nismo, adotado por muitos ju- gico dos modelos anteriormen- que o juiz, ao menos em certos casos, precisa recorrer
ristas progressistas, quer fazer te descritos tendo em vista fins a elementos extrajurídicos –, ainda assim se vai verifi-
da Constituição “o melhor que previamente escolhidos, ou seja,
ela possa ser”. O majoritarianis- optam pragmaticamente pelo
car que diferentes juízes adotam diferentes métodos
mo pretende diminuir o papel modelo mais adequado para a de interpretação. Há juízes que pretendem extrair da
da Suprema Corte e favorecer resolução do problema enfren- Constituição suas melhores potencialidades, realizan-
o processo político democrá- tado no caso concreto”. Sobre
tico, cujo centro de gravidade o consequencialismo – isto é, o do na maior extensão possível os princípios e direitos
estaria no Legislativo. O mini- processo decisório fundado no fundamentais. Há outros que entendem mais adequado
malismo é cético acerca de te- resultado –, v. Diego Werneck
orias interpretativas e acredita Arguelles, Deuses pragmáticos,
não ler na Constituição o que nela não está de modo
em decisões menos abrangen- mortais formalistas: a justifica- claro ou expresso, prestando maior deferência ao legis-
tes, focadas no caso concreto e ção consequencialista das de- lador ordinário67. Uma pesquisa empírica revelará, sem
não em proposições amplas. O cisões judiciais, dissertação de
fundamentalismo procura inter- mestrado apresentada ao Pro- surpresa, que os mesmos juízes nem sempre adotam
pretar a Constituição dando-lhe grama de Pós-Graduação em di- os mesmos métodos de interpretação68. Seu método ou
o sentido que tinha quando foi reito Público da Universidade do
ratificada. Para uma dura críti- Estado do Rio de Janeiro – UERJ,
filosofia judicial é mera racionalização da decisão que
ca ao minimalismo defendido mimeografado, 2006. tomou por outras razões69. E aí surge uma nova variá-
por Sunstein, v. Ronald Dworkin, vel: o resultado baseado não no princípio, mas no fim,
Looking for Cass Sunstein, The 71>> Sobre o pragmatismo fi-
New York Review of Books 56, 30 losófico, v. Richard Rorty, Con- no resultado70.
abr. 2009 (também disponível sequences of pragmatism, 1982.
em http://www.nybooks.com/ Sobre o pragmatismo jurídico,
articles/22636). no debate norte-americano,
Nesse ponto, impossível não registrar a tentação de se
vejam-se, dentre muitos: Ri- abrir espaço para o debate acerca de uma das princi-
68>> Sobre o ponto, v. Alexan- chard Posner, Law, pragmatism pais correntes filosóficas do direito contemporâneo: o
dre Garrido da Silva, Minima- and democracy, 2003; e Jules
lismo, democracia e expertise: Coleman, The practice of prin- pragmatismo jurídico, com seu elemento constitutivo
o Supremo Tribunal Federal ciple: in defence of a pragmatic essencial, que é o consequencialismo. Para essa con-
diante de questões políticas e approach to legal theory, 2001.
Em língua portuguesa, v. Diego
cepção, as consequências e resultados práticos das
científicas complexas, Revista de
direito do Estado 12:107, p. 139: Werneck Arguelhes e Fernando decisões judiciais, assim em relação ao caso concreto
“É importante destacar que não Leal, Pragmatismo como [meta] como ao sistema como um todo, devem ser o fator deci-
há um magistrado que em sua teoria normativa da decisão
prática jurisdicional seja sempre judicial: caracterização, estra- sivo na atuação dos juízes e tribunais71. O pragmatismo
minimalista ou perfeccionista. tégia e implicações. In: Daniel jurídico afasta-se do debate filosófico em geral, seja
Nos casos da fidelidade parti- Sarmento (coord.), Filosofia e
teoria constitucional contempo-
moral ou político – inclusive o que mobilizou jusnatu-
dária, da cláusula de barreira e
da inelegibilidade, por exemplo, rânea, 2009; Thamy Pogrebins- ralistas e positivistas em torno da resposta à pergunta
o Min. Eros Grau assumiu um chi, Pragmatismo: teoria social e “o que é o direito?” – e se alinha a um empreendimento
posicionamento nitidamente política, 2005; e Cláudio Pereira
minimalista e formalista, ao de Souza Neto, A interpretação teórico distinto, cuja indagação central é: “como os juí-
passo que no caso do amianto constitucional contemporâ- zes devem decidir?”72. Não é o caso, aqui, de se objetar
aproximou-se, conforme foi vis- nea entre o construtivismo e
o pragmatismo. In: Maia, Melo,
que uma coisa não exclui a outra. A realidade incon-
to, do modelo perfeccionista”.
Cittadino e Pogrebinschi (orgs.), tornável, na circunstância presente, é que o desvio que
69>> Para essa visão cética, v. Perspectivas atuais da filosofia do conduz ao debate sobre o pragmatismo jurídico não
Richard A. Posner, How judges direito, 2005.
think, 2008, p. 13, onde regis-
poderá ser feito no âmbito desse trabalho. E isso não
72>> Sobre esse ponto especí-
trou que as filosofias judiciais fico, v. Diego Werneck Arguelhes apenas por afastá-lo do seu eixo central, como também
“são ou racionalizações para de- e Fernando Leal, Pragmatismo pela complexidade da tarefa de qualificar o que seja
cisões tomadas por outros fun- como [meta] teoria normativa
damentos ou armas retóricas”. pragmatismo jurídico e de sistematizar as diferentes
da decisão judicial: caracteriza-
ção, estratégia e implicações. In: correntes que reivindicam o rótulo.
70>> V., ainda uma vez, Alexan- Daniel Sarmento (coord.), Filoso-
dre Garrido da Silva, Minima- fia e teoria constitucional contem-
lismo, democracia e expertise: porânea, 2009, p. 175 e 187.
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73>> As ideias que se seguem beneficiaram-se, inten- 4.3>> O juiz e suas circunstâncias: influências políticas em um
samente, das formulações contidas em Barry Fried-
man, The politics of judicial review, Texas Law Review
julgamento73
84:257, 2005.
No modelo idealizado, o direito é imune às influências da política,
por força de diferentes institutos e mecanismos. Basicamente, eles
consistiriam: na independência do Judiciário e na vinculação do juiz
ao sistema jurídico. A independência se manifesta, como assinalado,
em garantias institucionais – como a autonomia administrativa e
financeira – e garantias funcionais dos juízes, como a vitalicieda-
de, a inamovibilidade e a irredutibilidade de subsídios. Como regra
geral, a investidura e a ascensão na carreira da magistratura se dá
por critérios técnicos ou por valorações interna corporis. Nos casos
em que há participação política na nomeação de magistrados para
tribunais, ela se esgota após a posse, pois a permanência vitalícia
do magistrado no cargo já não dependerá de qualquer novo juízo
político. A autonomia e especificidade do universo jurídico, por sua
vez, consistem em um conjunto de doutrinas, categorias e princípios
próprios, manejados por juristas em geral – aí incluídos juízes, ad-
vogados, membros do Ministério Público e demais participantes do
processo jurídico e judicial – que não se confundem com os da polí-
tica. Trata-se de um discurso e de um código de relação diferencia-
dos. Julgar é distinto de legislar e de administrar. Juízes não criam o
direito nem definem as ações administrativas. Seu papel é aplicar a
Constituição e as leis, valendo-se de um conjunto de institutos con-
solidados de longa data, sendo que a jurisprudência desempenha,
crescentemente, um papel limitador dessa atuação, pela vinculação
aos precedentes. Direito e política, nessa visão, constituem mundos
apartados.
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lução que ele produzirá será, em última análise, aquela que melhor
atenda a suas preferências pessoais, sua ideologia ou outros fatores
externos, como os de natureza institucional. Ele sempre agirá assim,
tenha ou não consciência do que está fazendo.
O modelo real, como não é difícil de intuir, terá uma dose razoável
de cada uma das visões extremas descritas acima. O direito pode e
deve ter uma vigorosa pretensão de autonomia em relação à polí-
tica. Isso é essencial para a subsistência do conceito de Estado de
direito e para a confiança da sociedade nas instituições judiciais. A
realidade, contudo, revela que essa autonomia será sempre relativa.
Existem razões institucionais, funcionais e humanas para que seja
assim. Decisões judiciais, com frequência, refletirão fatores extraju-
rídicos. Dentre eles incluem-se os valores pessoais e ideológicos do
juiz, assim como outros elementos de natureza política e institucio-
nal. Por longo tempo, a teoria do direito procurou negar esse fato,
74>> V. Barry Friedman, The politics of judicial review, a despeito das muitas evidências. Pois bem: a energia despendida
Texas Law Review 84:257, 2005, p. 267 e p. 269, onde
averbou: “Se, como os juristas vêm crescentemente re-
na construção de um muro de separação entre o direito e a política
conhecendo, direito e política não podem ser mantidos deve voltar-se agora para outra empreitada74. Cuida-se de entender
separados, ainda precisamos de uma teoria que possa melhor os mecanismos dessa relação intensa e inevitável, com o
integrá-los, sem abrir mão dos compromissos com o
Estado de direito que esta sociedade tanto preza”. propósito relevante de preservar, no que é essencial, a especificida-
de e, sobretudo, a integridade do direito75. Pois é justamente este
75>> Sobre a ideia de direito como integridade, v. Ro-
nald Dworkin, O império do direito, 1999, p. 271-331. o objetivo do presente tópico: analisar alguns desses elementos
metajurídicos que influenciam ou podem influenciar as decisões ju-
76>> Sobre o tema, v. William W. Fisher III et. Al (eds.), diciais. Confira-se a sistematização a seguir.
American Legal realism, 1993, 164-5; Oliver Wendel
Holmes, Jr., The path of the law, Harvard Law Review
10:457, 1897; Karl Llewellyn, Some realism about
realism – responding to Dean Pound, Harvard Law 4.3.1>> Valores e ideologia do juiz
Review 44: 1222, 1931; e Jerome Frank, What courts
do in fact, Illinois Law Review 26:645, 1932. Para uma
análise da incorporação de ideias do realismo jurídico Como assinalado, o realismo jurídico, um dos mais importantes mo-
americano no Brasil, sua “assimilação antropofágica”,
v. Paulo Macedo Garcia Neto, A influência do realismo
vimentos teóricos do direito no século XX, contribuiu decisivamente
jurídico americano no direito constitucional brasileiro, para a superação do formalismo jurídico e da crença de que a ati-
mimeografado, dissertação de mestrado apresentada vidade judicial seria mecânica, acrítica e unívoca. Enfatizando que
na Universidade de São Paulo, sob orientação do Pro-
fessor José Reinaldo Lima Lopes. o direito tem ambiguidades e contradições, o realismo sustentava
que a lei não é o único – e, em muitos casos, sequer o mais im-
77>> V. Michel Miaille, Introdução crítica ao direito, portante – fator a influenciar uma decisão judicial. Em uma mul-
1989; Carlos Maria Cárcova, Teorías jurídicas alterna-
tivas: escritos sobre derecho y política, 1993; e Luiz
tiplicidade de hipóteses, é o juiz que faz a escolha do resultado, à
Fernando Coelho, Teoria crítica do direito, 1991. luz de suas intuições, personalidade, preferências e preconceitos76.
Em linha análoga, mas dando proeminência absoluta ao elemento
78>> V. Duncan Kennedy, Legal education and the político, a teoria crítica77, no mundo romano-germânico, e os critical
reproduction of hierarchy, Journal of Legal Education
32:591, 1982; Mark Tushnet, Critical legal studies: a
legal studies, nos Estados Unidos, sustentaram que decisões judi-
political history, Yale Law Journal 100:1515, 1991. ciais não passam de escolhas políticas, encobertas por um discurso
que procura exibir neutralidade78. Tanto o realismo quanto a teoria
79>> V. Jeremy Waldron, Public reason and ‘justification’ crítica refluíram drasticamente nas últimas décadas, mas deixaram
in the courtroom, Journal of Law, Philosophy and Cultu- uma marca indelével no pensamento jurídico contemporâneo79.
re1:107, 2007, p. 127: “A maioria dos juristas contem-
porâneos não aceita a visão crítica do realismo jurídico”.
Mais recentemente, um conjunto de estudos empíricos, oriundos,
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87>> Robert Post. Roe rage: democratic constitutio- gressistas, em temas como ações afirmativas, aborto e direitos dos
nalism and backlash, Harvard Civil Rigts-Civil Liberties
Law Review 42:373, 2007, p. 9: “É bem documentado
acusados em processos criminais87. Inúmeras pesquisas, no Brasil88
que o Departamento de Justiça, durante o Governo e nos Estados Unidos89, confirmam que as preferências políticas dos
Reagan, de maneira pré-ordenada e bem-sucedida juízes constituem uma das variáveis mais relevantes para as deci-
utilizou as nomeações de juízes para alterar as práti-
cas então predominantes em termos de interpretação sões judiciais, notadamente nos casos difíceis. É de se registrar que
constitucional”. o processo psicológico que conduz a uma decisão pode ser cons-
88>> Alexandre Garrido da Silva, Minimalismo, demo- ciente ou inconsciente90.
cracia e expertise: o Supremo Tribunal Federal diante
de questões políticas e científicas complexas, Revista
de Direito do Estado 12:107, 2008.
Note-se que no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, o carimbo
político é menos relevante ou, no mínimo, menos visível, na medi-
89>> Theodore W. Ruger, Pauline T. Kim, Andrew D. da em que a maior parte dos cargos no Judiciário são preenchidos
Martin e Kevin M. Quinn, The Supreme Court Forecas-
ting Project: legal and political science approaches to
mediante concurso público e promoções internas91. Mas não é este
predicting Supreme Courte decisionmaking, Columbia o caso das nomeações para o Supremo Tribunal Federal, em que
Law Review 104:1150, 2004. os parâmetros constitucionais são vagos – reputação ilibada e no-
90>> Ao produzir uma decisão, o juiz atua dentro de tável saber jurídico – e a escolha pessoal do Presidente é o fator
um universo cognitivo próprio, que inclui sua forma-
mais importante, sem embargo da aprovação pelo Senado Federal.
ção moral e intelectual, suas experiências passadas,
sua visão de mundo e suas crenças. Tais fatores podem Na literatura norte-americana, tem sido destacada a importância
levá-lo, inconscientemente, a desejar um resultado e do gênero e da raça na determinação de certos padrões decisó-
procurar realizá-lo. Tal fenômeno é diverso do que se
manifesta na vontade consciente e deliberada de pro- rios do juiz. No caso brasileiro, em tribunais superiores, em geral,
duzir determinado resultado, ainda que não seja o que e no STF, em particular, a origem profissional do Ministro imprime
se considera juridicamente melhor, com o propósito
características perceptíveis na sua atuação judicial: Ministros que
de agradar a quem quer que seja ou para a satisfação
de sentimento pessoal. Nessa segunda hipótese, como vêm da Magistratura, do Ministério Público, da advocacia privada,
intuitivo, a conduta não será legítima. Sobre o ponto, v. da advocacia pública ou da academia tendem a refletir, no exercício
Brian Z. Tamanaha, Beyond the formalist-realist divide:
the role of politics in judging, 2010, p. 187-8. da jurisdição, a influência de experiências pretéritas92. Note-se, to-
davia, em desfecho do tópico, que eventuais preferências políticas
91>> Nos EUA, os juízes federais são indicados pelo do juiz são contidas não apenas por sua subordinação aos sentidos
Presidente da República e aprovados pelo Senado.
No plano estadual, muitos são eleitos e outros são
mínimos das normas constitucionais e legais, como também por fa-
nomeados. tores extrajudiciais, dentre os quais se podem destacar: a interação
com outros atores políticos e institucionais, a perspectiva de cum-
92>> Um exemplo, colhido na composição atual do primento efetivo da decisão, as circunstâncias internas dos órgãos
STF: Ministros que têm sua origem funcional no Mi-
nistério Público – como os Ministros Joaquim Barbosa
colegiados e a opinião pública.
e Ellen Gracie – têm uma visão mais rígida em matéria
penal do que os que vêm da advocacia privada ou da
academia, como Carlos Ayres Britto e Eros Grau.
4.3.2>> Interação com outros atores políticos e institucionais
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93>> A reclamação é o remédio jurídico previsto na contexto político-institucional sobre o qual sua atuação repercute.
Constituição e regulamentado pela Lei nº 8.038/90,
pela Lei nº 11.417/06 e pelo Regimento Interno do
Diante disso, o papel e as motivações da Corte sofrem a influên-
Supremo Tribunal Federal, cujo objeto é a preservação cia de fatores como, por exemplo: a preservação e, por vezes, a
da competência da Corte, a garantia da autoridade de expansão de seu próprio poder; a interação com outros Poderes,
suas decisões e a observância do entendimento con-
solidado em súmula vinculante (CF/88, arts. 102, I, l, instituições ou entes estatais; e as consequências práticas de seus
e 103-A, § 3º). julgados, inclusive e notadamente, a perspectiva de seu efetivo
94>> Súmula n. 394: “Cometido o crime durante o cumprimento.
exercício funcional, prevalece a competência especial
por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou
a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele
exercício”. O cancelamento se deu em decisão profe- 4.3.2.1>> Preservação ou expansão do poder da Corte
rida em 1999. V. STF, DJ 9 nov. 2001, QO no Inq 687/
DF, Rel. Min. Sydney Sanches.
O primeiro impulso natural do poder é a auto-conservação. É intui-
95>> STF, DJ 19 dez. 2006, ADIn 2.797, Rel. Min. Se-
púlveda Pertence.
tivo, assim, que um tribunal, em suas relações com os outros atores
políticos, institucionais ou sociais, procure demarcar e preservar
96>> STF, DJ 1 set.2006, HC 82.959, Rel. Min. Mar- seu espaço de atuação e sua autoridade, quer pelo acolhimento de
co Aurélio. Decisão constante do sítio do STF: http://
www.stf.jus.br/portal/diarioJustica/verDiarioProcesso.
reclamações93, quer pela reafirmação de sua jurisprudência. Alguns
asp?numDj=169&dataPublicacaoDj=01/09/2006&n exemplos comprovam o argumento. Após haver cancelado a Súmu-
umProcesso=82959&siglaClasse=HC&codRecurso=0 la nº 394, excluindo do foro privilegiado os agentes públicos que
&tipoJulgamento=M&codCapitulo=5&numMateria=2
7&codMateria=1). deixassem o exercício da função94, o STF invalidou lei editada pelo
Congresso Nacional que restabelecia a orientação anterior. O acór-
97>> STF, Rcl nº 4.335, Rel. Min. Gilmar Mendes. Em dão considerou haver usurpação de sua função de intérprete final
setembro de 2009, o processo se encontrava com
vista para o Ministro Ricardo Lewandowski. Haviam
da Constituição95. Em outro caso, o STF considerou inconstitucional
votado favoravelmente ao caráter vinculante da de- dispositivo legal que impedia a progressão de regime em caso de
cisão do STF, mesmo que em controle incidental de crime hediondo96. Decisão do juiz de direito de Rio Branco, no Acre,
constitucionalidade, os Ministro Gilmar Mendes e Eros
Grau. Divergiram, no particular, os Ministros Sepúlve- deixou de aplicar a nova orientação, sob o argumento de que a
da Pertence e Joaquim Barbosa. declaração de inconstitucionalidade fora incidental e não produ-
98>> Med. Caut. no HC 95.009-4 – São Paulo, Rel. Min. zia efeitos vinculantes. A Corte reagiu, e não apenas desautorizou
Eros Grau. A decisão concessiva de ambos os habeas o pronunciamento específico do magistrado estadual, como deu
corpus foram do Presidente do Tribunal, Ministro Gil-
início a uma discussão de mais largo alcance sobre a atribuição de
mar Mendes, em razão do recesso de julho.
efeitos vinculantes e erga omnes à sua decisão de inconstituciona-
99>> V. Tom Ginsburg, Judicial review in new demo- lidade, mesmo que no controle incidental, retirando do Senado a
cracies: constitutional courts in Asian cases, 2003. Em
resenha sobre diferentes livros versando o tema da
atribuição de suspender a lei considerada inválida97. Um terceiro
judicialização, Shannon Roesler, em Permutations of e último exemplo: após haver concedido habeas corpus a um ban-
judicial Power: the new constitutionalism and the queiro, preso temporariamente ao final de uma polêmica operação
expansion of judicial authority, Law and Social Inquiry
32:557, assim descreveu a posição de Ginsburg: “Os policial, o STF considerou afronta à Corte a decretação, horas de-
juízes são atores estratégicos que buscam aumentar pois, de nova prisão, dessa vez de natureza preventiva, ordenada
seu poder em vez de interpretar e aplicar normas de
acordo com a intenção ou os interesses originais dos
pelo mesmo juiz, e concedeu um segundo habeas corpus98.
agentes eleitos que as elaboraram. (...) Uma das pre-
missas dessa abordagem é que os juízes vão buscar O segundo impulso natural do poder é a expansão99. No caso bra-
aumentar o poder de um tribunal, mesmo que divirjam
entre si quanto ao direito substantivo” (tradução livre, sileiro, esse movimento de ampliação do Poder Judiciário, particu-
texto ligeiramente editado). larmente do Supremo Tribunal Federal, tem sido contemporâneo
da retração do Legislativo, que passa por uma crise de funciona-
lidade e de representatividade. Nesse vácuo de poder, fruto da
dificuldade de o Congresso Nacional formar maiorias consistentes
e legislar, a corte suprema tem produzido decisões que podem ser
reputadas ativistas, tal como identificado o fenômeno em tópico
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100>> Nesse sentido, v. também Forum de Grupos de anterior100. Exemplos emblemáticos e sempre lembrados são os
Pesquisa em direito Constitucional e Teoria do direito,
Anais do I Forum de Grupos de Pesquisa em direito Cons-
dos julgamentos da fidelidade partidária – em que o STF criou,
titucional e Teoria do direito. Rio de Janeiro: Faculdade por interpretação do princípio democrático, uma nova hipótese
Nacional de direito, 2009, p. 54: “A hipótese assumida de perda de mandato parlamentar101 – e do nepotismo, em que
na investigação reconhece, por parte dos integrantes
do Supremo Tribunal Federal, sim um ‘ativismo’, mas de a Corte, com base na interpretação dos princípios constitucio-
caráter jurisdicional. Isto é, um procedimento, constru- nais da moralidade e da impessoalidade, estabeleceu a vedação
ído a partir das mais relevantes decisões, objetivando,
precipuamente, não a concretização de direitos, mas o
do nepotismo nos três Poderes102. Ações como as que tratam da
alargamento de sua competência institucional”. Pesqui- legitimidade da interrupção da gestação em caso de feto anen-
sa “A judicialização da política e o ativismo judicial no cefálico103 e da extensão do regime da união estável às uniões
Brasil”, conduzida por Alexandre Garrido da Silva et. al.
homoafetivas104 também envolvem uma atuação quase normati-
101>> STF DJ 17 out. 2008, MS nº 26602/DF, Rel. Min. va do Supremo Tribunal Federal. Tudo sem mencionar a mudança
Eros Grau; DJ 19 dez. 2008, MS nº 26603/DF, Rel. Min.
Celso de Mello; e DJ 3 out. 2008, MS nº 26604/DF, Rel.
jurisprudencial em tema de mandado de injunção105 e o progres-
Min. Cármen Lúcia. sivo questionamento que se vem fazendo, no âmbito da própria
Corte, acerca da jurisprudência tradicional de que o STF somente
102>> STF, DJ 18 dez.2009, ADC 12, Rel. Min. Carlos
Britto; e DJ 24 out.2009. RE 579.951/RN, Rel. Min. Ri- possa funcionar como legislador negativo106.
cardo Lewandowski.
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116>> Criada pela Cons- providência somente po- à presidência por via de cisamente por essa razão116. Na Alemanha,
tituição de 1948, a ins- deria ser tomada median- ação impetrada no STF, a
talação efetiva da Corte te lei, que inclui a mani- Corte adia o julgamento
a decisão no célebre caso do crucifixo foi
Constitucional somente festação das duas Casas até o fim do Estado de generalizadamente desrespeitada117. Nos
se deu oito anos depois, e a possibilidade de veto sítio, o que somente se Estados Unidos, a dessegregação imposta
em 1956. Pouco tempo pelo Presidente. Não obs- daria por ocasião da pos-
após, seu Presidente, En- tante isso, inúmeras leis se de Juscelino, quando o por Brown v. Board of Education, em decisão
rico de Nicola, renunciou foram aprovadas, preven- mandado de segurança de 1954, levou mais de uma década para
ao cargo, indignado com do o veto legislativo por já estaria prejudicado.
a recalcitrância do go- apenas uma das Casas Interessante registro
começar a ser efetivamente cumprida118.
verno democrata-cristão do Congresso. V. Georg histórico é o do voto A decisão no caso Chada foi ignorada pelo
em dar cumprimento Vanberg, The politics of vencido do Ministro Nel- Congresso119. No Brasil, há precedentes em
às decisões do tribu- constitutional review in son Hungria, que lavrou:
nal. V. Revista Time, 1º Germany. Cambridge Uni- “Contra uma insurreição que o STF fixou prazo para a atuação do le-
out. 1956, “Italy: effec- versity Press, Cambridge, pelas armas, coroada de gislador, sem que tivesse sido obedecido120.
tive resignation”. In: 2005, p. 5 e s. êxito, somente valerá
http://www.time.com/ uma contra-insurreição
Em tema de intervenção federal, a despeito
time/magazine/arti- 120>> V. STF, DJ 3 ago. com maior força. E esta, do manifesto descumprimento por Esta-
cle/0,9171,862380,00. 2007, Adin 2240, Rel. positivamente, não pode
Min. Eros Grau, No jul-
dos da Federação do dever constitucional
html, acesso em 23 ser feita pelo Supremo
jan. 2010. V. tb. Georg gamento do Mandado de Tribunal, posto que este de pagar precatórios, a Corte igualmente
Vanberg, The politics of Injunção nº 725, o STF não iria cometer a inge- optou por linha jurisprudencial que não
constitutional review in determinara que o Con- nuidade de, numa inócua
Germany. Cambridge Uni- gresso Nacional, no pra- declaração de princípios,
desmoralizasse suas decisões, diante das
versity Press, Cambridge, zo de 18 meses, editasse expedir mandado para dificuldades financeiras dos entes esta-
2005, p. 7. a lei complementar fe- cessar a insurreição. (...)
deral referida no § 4º do
tais121. Outro exemplo emblemático, nesse
O impedimento do im-
117>> A decisão decla- art. 18 da Constituição, o petrante para assumir domínio, foi a decisão proferida em 1955,
rou inconstitucional uma que não aconteceu.
lei da Bavária que previa
a Presidência da Repú- quando da tentativa do Vice-Presidente
blica, antes de ser de-
a exibição de crucifixos 121>> O STF adotou a
claração do Congresso,
Café Filho de retornar à presidência122.
nas salas de aula das es- orientação de que so-
mente autorizaria a inter- é imposição das forças
colas públicas de ensino
venção federal o descum- insurreicionais do Exér-
fundamental. V. BVerfGE
primento doloso do dever cito, contra a qual não há
93, I. Sob protestos e
remédio na farmacologia 4.3.2.4>> Circunstâncias internas dos
manifestações que mo- de pagar precatórios. A
bilizaram milhares de omissão na inclusão das jurídica. Não conheço do órgãos colegiados
verbas correspondentes pedido de segurança”. V.
pessoas, os crucifixos
em orçamento e a falta Luís Roberto Barroso, O
terminaram não sendo Inúmeros fatores extrajurídicos influen-
de recursos são, assim, direito constitucional e a
efetivamente retirados.
elementos suficientes efetividade de suas nor- ciam as decisões de um órgão colegiado123.
V. Georg Vanberg, The
para afastar a interven- mas, 2009, p. 29-30.
politics of constitutional No caso do Supremo Tribunal Federal, em
review in Germany, 2005, ção. Nesse sentido, v.,
p. 2-4. por todos, STF, DJ 25 abr. 123>> Sobre o tema, v. particular, a primeira característica distin-
José Carlos Barbosa Mo-
2008, IF 5050 AgR/SP,
reira, Notas sobre alguns
tiva relevante é que o tribunal delibera em
Relª. Minª. Ellen Gracie.
118>> V. Robert J. Cottrol, fatores extrajurídicos no sessão pública. Na maior parte dos países,
Raymond T. Diamond e julgamento colegiado”
Leland B. Ware, Brown v.
122>> Vice-presidente sem embargo da existência de uma audi-
no segundo governo de Caderno de Doutrina e Ju-
Board of Education: case, Getúlio Vargas, Café Fi- risprudência da Ematra XV, ência pública, de um hearing, com a inter-
culture, and the constitu- v. 1, n. 3, 2005, p. 79 e s. venção dos advogados, o processo de dis-
lho assumiu a presidên-
tion, 2003, p. 183. cia após o suicídio de cussão e decisão é interno, em conferência
Vargas, em 1954. Dela
119>> INS v. Chadda, 462 afastou-se, por motivo de 124>> A despeito de crí- reservada, na qual participam apenas os
U.S. 919, 1983. Nessa ticas e de um ou outro in-
decisão, a Suprema Corte
saúde, tendo sido subs-
conveniente que se pode
ministros ou juízes. A deliberação pública é
tituído por Carlos Luz.
considerou inconstitu- Após a eleição de Jusceli- apontar, a transmissão uma singularidade brasileira. A transmissão
cional o chamado legis- no, em 1955, o Marechal ao vivo deu visibilidade, ao vivo dos julgamentos, por uma televisão
lative veto, procedimento Henrique Lott liderou um transparência e legiti-
pelo qual uma das Casas midade democrática à oficial, constitui traço distintivo ainda mais
“contragolpe preventivo”
do Congresso poderia para assegurar a pos- jurisdição constitucional original, talvez sem outro precedente pelo
suspender decisões de exercida pelo Supre-
agências reguladoras que
se do presidente eleito,
mo Tribunal Federal no
mundo afora124. Em parte como consequ-
destituindo Carlos Luz.
estivessem atuando por Quando Café Filho, já Brasil. ência desse modelo de votação pública, o
delegação legislativa. recuperado, tenta voltar sistema brasileiro segue um padrão agre-
A Corte entendeu que a
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