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RESUMO
Este trabalho objetiva apresentar um estudo das transições estrutura – aterro em vias ferroviárias da Estrada de
Ferro Carajás. O estudo foi desenvolvido considerando os conceitos de sistema em camadas para a interpretação
da interação entre a infra e superestrutura. Assim, foram realizadas simulações computacionais com
combinações de espessuras de camada no decorrer da zona de transição, a fim de identificar uma geometria para
o aterro que favoreça uma transição mais suave entre a ponte ferroviária e o aterro de encontro. Por fim, são
apresentadas as práticas de construtibilidade. Para a simulação computacional utilizou-se o software Ferrovia 3.0
que permite o cálculo dos níveis de tensões na estrutura, o qual analisou o comportamento mecânico da mistura
de solo-cimento como aplicação prática na solução. Concluiu-se que a geometria do pavimento aqui estudada
contribui para uma transição suave entre a plataforma da ponte e o aterro de encontro, favorecendo uma ligação
entre o projeto de geotecnia e de superestrutura.
ABSTRACT
This work presents a study of the structure transitions - landfill railways of Carajás Railroad. The study was
developed considering the system of concepts in layers for the interpretation of the interaction between
infrastructure and superstructure. Thus, computer simulations with layer thicknesses of combinations during the
transition zone were carried out in order to identify a geometry to the landfill to promote a smoother transition
between the railway bridge and the embankment against. Finally, the constructability practices are presented. For
the computer simulation used the Ferrovia 3.0 software that allows the calculation of stress levels in the
structure, which analyzed the mechanical behavior of the soil-cement mixture as a solution in practical
application. It was concluded that the geometry of the studied here pavement contributes to a smooth transition
between the platform of the bridge and the embankment against favoring a link between the geotechnical design
and superstructure.
1. INTRODUÇÃO
Nas zonas de transição aterro – ponte existem diversos fatores responsáveis pela alteração da
qualidade da via, sobretudo na sua geometria. Nestas zonas críticas o comportamento da via
férrea está submetido a complexas tensões e de várias naturezas, que em muitas vezes atuam
simultaneamente. Tensões de natureza térmica, de aceleração e frenagem do comboio,
deformação da ponte, deformação do aterro, entre outras que dependendo da situação, podem
tornar-se expressivas quando conjugadas entre si podendo levar a problemas de segurança
nomeadamente o descarrilamento do comboio.
Evidentemente que estas tensões ao afetar a geometria da via férrea, nas zonas de transição, os
assentamentos experimentados tenderão a ser progressivos e com o tempo aumentar o seu
desenvolvimento devido aos efeitos dinâmicos e solicitações cíclicas induzidas pelos
comboios, bem como os efeitos da temperatura.
Erri (1999) concluiu que existem diversos fatores responsáveis pelo início da alteração da
geometria em zonas de transição, sendo os principais fatores diferença de rigidez entre o
aterro e a ponte; tipo de via sobre a ponte; rigidez à flexão da ponte; número de comboios
2. REVISÃO DA LITERATURA
Read e Li (2006) foram os principais autores de um estudo norte-americano sobre transições
de infraestruturas ferroviárias. De acordo com esse estudo, as razões que estão na base dos
problemas destas zonas podem ser atribuídas à mudança abrupta na rigidez vertical da via,
que faz com que nos rodados, se registe uma mudança abrupta ao nível de assentamentos
verticais. Esta mudança causa acelerações verticais no material circulante e aumenta as cargas
verticais aplicadas.
Figura 01: Comparação entre os assentamentos médios acumulados entre intervalos de manutenção de via em
quatro pontes e zonas de transição. Adaptado pelo autor (Read; Li, 2006).
Figura 02: Assentamentos nas zonas de transição (o assentamento sobre as pontes não se encontra
contabilizado). Adaptado pelo autor (Read; Li, 2006)
Assim, nota-se que ao longo do desenvolvimento das vias férreas, é frequente ocorrerem
variações de rigidez vertical da via, isto é, em determinados locais surgem gradientes de
rigidez vertical elevados.
Estas variações de rigidez são responsáveis pela concentração de esforços dinâmicos que
surgem nestes pontos de transição, contribuindo assim para a progressiva redução do período
demandado para as manutenções do pavimento, tendo em vista os consequentes aumentos das
deformações diferenciais com o desnivelamento da via. Desta forma, constata-se que os
efeitos dinâmicos serão tanto mais importantes, quanto maior a velocidade de circulação e
tanto maior a diferença de rigidez vertical na via (Alves Ribeiro, 2008).
Para atenuar as bruscas alterações de rigidez vertical faz-se necessário dotar as transições com
a existência de zonas onde se produza a variação de rigidez gradual da via. Deste modo, será
possível evitar as descontinuidades bruscas de rigidez evitando assim a concentração dos
esforços dinâmicos aplicados à via.
Os fatores que influenciam o comportamento da geometria da via nas zonas de transição são
essencialmente de natureza externa e geotécnica. Os fatores de natureza externa são
particularmente as cargas por eixo, a velocidade e vibração bem como a temperatura,
enquanto os fatores geotécnicos compreendem a qualidade da fundação, condições de
compactação e características mecânicas das diversas camadas.
Figura 05: Esquema de uma zona de transição aterro - ponte (adaptado de ERRI, 1999)
Finalmente, este trabalho tem como objetivo de propor a utilização de mistura em solo-
cimento nas camadas de subleito como solução para os diversos problemas encontrados nas
regiões de transição entre pontes e aterro de encontro. Para isto, foi utilizado o software
Ferrovia 3.0 a fim de auxiliar nas simulações e modelagem dos cenários em estudo.
3. METODOLOGIA
O trabalho é justificado quanto ao fim e aos meios no qual possui métodos qualitativos
baseadas nas normas de soluções geométricas de cunhas de produção e quantitativas com
ensaios da geometria do aterro da linha férrea das características módulo resiliente do solo-
cimento, desempenho de rigidez e Deslocamento Vertical Máximo (DMV).
Para a definição da geometria do aterro de encontro das pontes da Estrada de Ferro Carajás
(EFC) realizou-se diversas simulações computacionais com diferentes combinações de
espessuras de solo-cimento no decorrer da zona de transição, a fim de identificar valores
compatíveis e esperados de elasticiade vertical, isto é, rigidez com acréscimo constante –
sentido plataforma, conforme preconiza os estudos expostos nos capítulos anteriores, de modo
a equalizar as variáveis tensão – deformação, espaçamento entre dormentes, rigidez e
O desempenho de Rigidez da Via (Kv) pôde ser definido como a razão entre a carga aplicada
ao trilho (Q = 203,94 KN/roda) e o deslocamento vertical por ela produzido (ymáx) (Teixeira,
2003).
4. RESULTADOS
Figura 07: Solução para Transição entre o Aterro e o Encontro da Ponte Ferroviária.
Figura 08: Resultado de ensaio de MR em função da tensão confinante e tensão desvio para 6% de cimento –
Corpo de Prova 90 e 43 respectivamente.
Nota-se que ambos corpos de prova apresentam valores de módulo que possuem melhor
enquadramento nas tensões confinantes, isto é, com a função R mais próxima da unidade,
comportamento este condizente com os estudos de Medina (2005) para solos tropicais
compatíveis com os da ferrovia em estudo.
Por meio das diversas combinações de camadas de lastro, sublastro e subleito, e considerando
os dados das camadas conforme apresentado na tabela 3, verificou-se que a geometria
intercalando camadas distintas de solo-cimento, com variação de 60cm entre cada camada
favoreceu para um incremento gradual de rigidez.
Finalmente, projetos de pavimento ferroviário que promovam seções diferentes de rigidez são
alternativas de solução para mitigar esses assentamentos diferenciais. Nesse sentido, o
presente artigo apresentou uma geometria com extensão de 20m conforme os padrões
internacionais, e com incremento de camadas com variação de 60cm entre elas, capaz de
promover uma transição entre a plataforma da ponte e o aterro de encontro sem rigidez
abruptas. Assim, foi possível simular um projeto com 6 seções, variando entre 134 e 231
KN/mm, com um modelo matemático apresentando R quadrado de 0,99, representando desse
modo, um bom enquadramento da função.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As zonas de transição em pontes ferroviárias são pontos de atenção em virtude das constantes
intervenções das equipes de manutenção uma vez que tais transições favorecem
assentamentos diferenciais. Sendo, portanto, de vital importância a realização de estudos que
possibilitem a mitigação, ou mesmo eliminação, deste fator indesejado.
Logo, a solução proposta neste estudo tem a finalidade de não apenas diminuir o tempo de
paralisação da via férrea para manutenção, mas também reduzir custo com substituição de
materiais, garantir a segurança do veículo e do condutor por reduzir a possibilidade de
descarrilamento, e permitir maior credibilidade junto ao cliente por minimizar as
possibilidades de atrasos nas entregas dos produtos.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo apoio
financeiro por meio da concessão de bolsas, à Vale pela disponibilização dos resultados e aos diversos colegas
que contribuíram com sugestões para melhoria da presente pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alves Ribeiro, A. C. (2012). Transições Aterro-Estrutura em Linhas Ferroviárias de Alta
Velocidade: Análise Experimental e Numérica (Tese de doutoramento).
Universidade do Porto, Porto, Portugal.
Coelho, L. M. (2008). Blocos Técnicos em Infra-Estruturas Ferroviárias - Comportamento e
Práticas Nacionais e Internacionais (Dissertação de mestrado). Instituto Superior
Técnico da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
Fernandes, J. (2011). Modelação do comportamento mecânico de vias-férreas (Dissertação de