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7.2.

EM RELAÇÃO À ÁREA DE INFLUÊNCIA DIRETA (AID)

7.2.1. Meio Físico

7.2.1.1 Caracterização Geológico-Geotécnica

Conforme já descrito na abordagem da Área de Influência Indireta, a maior parte da Baixada de


Jacarepaguá é formada por depósitos holocênicos, relacionados aos eventos de transgressão e
regressão do nível do mar nos últimos 10.000 anos. Abaixo desses depósitos, conforme observado
na figura abaixo, podem ser encontrados sedimentos relacionados a outros ambientes deposicionais
mais antigos.

Seção Esquemática Transversal da Baixada de Jacarepaguá

Fonte: Souza Cruz & Barrocas (1976)

Na AID das intervenções em pauta pretendidas pelo empreendedor está incluída a maior parte dos
depósitos holocênicos da Baixada de Jacarepaguá, predominando sedimentos arenosos ao sul, e

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lamosos ao norte, nas planícies paludiais associadas às lagunas (vide Mapa Geológico da AID mais
adiante).

A maior parte dos depósitos holocênicos já se encontra obliterada pela ocupação antrópica, que se
acelerou a partir da década de 70 do século passado, principalmente as áreas de restinga ao longo da
Avenida Sernambetiba (restinga externa) e da Avenida das Américas (restinga interna), cujas
condições geotécnicas eram mais favoráveis à construção civil.

Com a ocupação da maior parte dessas áreas e a criação de algumas unidades de conservação, a
expansão urbana avançou sobre as Planícies Paludiais, onde as condições geotécnicas e de
drenagem são bastante desfavoráveis, devido às espessas camadas de argila mole e à topografia
rebaixada. O Mapa Geológico mostra os distintos depósitos sedimentares holocênicos e áreas de
embasamento cristalino aflorantes na Área de Influência Direta em foco conforme descritos abaixo:

• Embasamento Cristalino e sua Cobertura Sedimentar

As áreas de embasamento cristalino concentram-se no setor ocidental da AID, constituindo a


vertente do Maciço da Pedra Branca voltado para a Baixada, e uma pequena área a leste,
representada pelos vales dos rios Muzema, Itanhangá, da Cachoeira e da Barra.

No setor leste da AID, aflora o Gnaisse Archer, composto essencialmente por quartzo, microclina,
biotita e hornblenda, com estrutura migmatítica estromática que varia para faixas porfiroblásticas
próximo aos contatos com o Gnaisse Facoidal, aflorante imediatamente a sul, no costão do Joá e em
todo o vale que drena para a Praia do Pepino. O Gnaisse Archer é caracterizado pela alternância
transicional de textura e composição definida por bandeamento irregular de 1 a 2 cm de espessura,
dados por minerais claros e escuros passando a foliação anastomosado pelo predomínio de K-
feldspato, plagioclásio e quartzo. Este pode ser confundido com o Gnaisse Facoidal, o qual possui
uma quantidade superior de pórfiros de feldspato.

Na porção do Maciço da Pedra Branca incluída neste universo de análise, predominam amplamente
rochas graníticas com estruturas internas homogêneas, granulometria fina a média e coloração
cinza, cortadas extensivamente por veios e diques aplíticos e corpos pegmatíticos de formato
irregular. Também ocorrem pequenos corpos de rochas dioríticas intrusivas nas rochas graníticas,
localizadas no Pico do Sacarrão, (714m), na Pedra Negra – Serra do Caçambé (334 m), na Pedra

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Rosilha – Serra do Sacarrão (449 m), sendo que o mais extenso ocorre na crista do maciço,
incluindo a própria Pedra Branca (1.025 m), ponto culminante do Município do Rio de Janeiro.

As encostas dos vales são cobertas por depósitos de tálus e solos coluviais, caracterizados por sua
heterogeneidade granulométrica e, no caso dos depósitos de tálus, pela heterogeneidade litológica
dos blocos rochosos. Ambos estes depósitos estão relacionados ao permanente processo de
intemperismo a que as rochas do embasamento estão submetidas, notadamente o intemperismo
químico, característico dos climas tropicais. Ambos estes depósitos sedimentares são formados
através da ação da gravidade sobre o manto de intemperismo, com a diferença que os depósitos de
tálus são gerados por fluxos de detritos, desencadeados por chuvas intensas e concentradas que
produzem poderosas enxurradas, tal como a ocorrida em 1996 no vale do Rio Quitite, em
Jacarepaguá, que mobilizou blocos rochosos de várias dezenas de toneladas e uma imensa
quantidade de sedimentos finos, que foi lançado no sistema hídrico local e, finalmente, nas lagunas
costeiras.

Os colúvios são representados por uma massa de sedimentos finos, homogênea, podendo conter
grande quantidade de fragmentos angulosos de quartzo e feldspato. Aparecem geralmente capeando
solos residuais, às vezes separados destes por um pavimento de seixos de quarzto (linha-de-pedras).
São depósitos gravitacionais formados pela mobilização contínua e gradual do material
inconsolidado (seixos, grânulos, areia, silte e argila) encosta abaixo, pela ação das chuvas. Segundo
Cabral (1979), esses depósitos por suas constituições bastante heterogêneas, apresentam
permeabilidade variável, vertical e horizontalmente, e deformações acentuadas de suas massas nos
períodos de grandes precipitações pluviométricas, sendo estes considerados como áreas de potencial
ocorrência de escorregamentos de encosta, principalmente se houver desflorestamento.

A Pedra de Itaúna e outros pequenos morros isolados na planície paludial (morros do Cantagalo e
do Amorim, próximos a confluência dos canais do Portelo e do Cortado) é formada pelo
denominado granito Favela, que constitui uma rocha meso a leucocrática, sem xistosidade, que por
sua homogeneidade textural forma morros arredondados quando exposta ao intemperismo. Sua
mineralogia apresenta além de K-feldspato, quartzo, plagioclásio, biotita e, subordinamente,
allanita, zircão, magnetita e apatita. Esta constituição mineralógica favorece a formação de
materiais arenosos com presença de blocos originados a partir da ocorrência de fraturas. A
espessura do manto de alteração tende a ser menor graças a maior resistência desta unidade (Pires et
al., 1989). Estas pequenas colinas, elevadas entre 50 e 130 m acima da planície, representam altos

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do embasamento que, durante os períodos de transgressão marinha, constituíam ilhotas isoladas na
grande enseada de Jacarepaguá.

A profundidade do embasamento cristalino na Baixada de Jacarepaguá é variável, sendo maior ao


longo de antigas linhas de drenagem que fluíam nos períodos de regressão marinha, erodindo o
embasamento. Sondagens realizadas na área do cruzamento entre o canal do Cortado e a estrada
Benvindo de Novais, cerca de 2km a oeste do limite ocidental da AID, alcançaram profundidades
superiores a 40m de uma intercalação de sedimentos argilosos e arenosos.

Cabral (1979) conclui que o embasamento na Baixada de Jacarepaguá não deve ultrapassar
profundidades muito superiores a 40m, tendo em vista a constância do aparecimento de solo
residual nas sondagens mais profundas até então executadas na região. Este, entretanto, adverte que
sedimentos flúvio-marinhos endurecidos podem, perfeitamente, ser confundidos com solos
residuais de granitos ou de gnaisses nas prospecções mecânicas, o que poderia significar
profundidades máximas do embasamento com valores bem acima de 40m.

• Areias de Fundo de Enseada

Estes depósitos ocorrem amplamente entre as lagoas de Jacarepaguá e da Tijuca, ao norte da


Avenida das Américas, na área do Autódromo Nelson Piquet e entre os canais do Cortado e do
Portelo (vide Figura a seguir), próximo a confluência. Constituem normalmente corpos
sedimentares de grande extensão lateral formados por areias finas a médias, cinzentas ou marrons,
bem a mal selecionadas, medianamente compactas, ricas em carapaças calcárias, principalmente
gastrópodes e lamelibrânquios de origem marinha conforme revela figura na seqüência desta
caracterização.

As sondagens à percussão mais profundas nesta unidade foram realizadas na área do autódromo
(Cabral, 1979), sendo registrada uma camada de areias finas a médias cinzas a marrons, com
fragmentos de conchas e teores variados de matérias orgânica, cuja espessura varia de 3 a 16m, com
média de 10m nesse local. Estas areias jazem sobre siltes arenosos ou areia siltosas cinzas, cuja
espessura varia de 2 a 14m, com média de 6m. Esta sucessão de areias, areias siltosas e siltes
arenosos estão apresenta neste local profundidade máxima de 20m e está disposta sobre espesso
manto de solo residual (rocha alterada).

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Morro do Amorim, entre os canais do Cortado e do Portelo. Planície onde ocorrem as Areias de
Fundo de Enseada.

Normalmente, nos primeiros 2m estas areias são fofas, apresentando compacidade média em
profundidade. As areias siltosas e siltes arenosos apresentam compacidade fofa a média Segundo
Cabral (1979), sua origem deve-se ao retrabalhamento pelo mar da parte superficial dos depósitos
fluviais subjacentes, o que provocou uma separação seletiva das frações pelíticas (argila e silte),
transportadas em suspensão para o mar e o acúmulo sobre o fundo da antiga enseada dessas areias.

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Canal de Drenagem da Granja Calábria, onde é observado material arenoso com abundantes
fragmentos de cochas, típico dos depósitos de areias de fundo de enseada.

• Restingas, Cúspides de Lagunas e Depósitos Praias

Na parte sul da planície de Jacarepaguá se extendem, paralelamente ao litoral, barreiras arenosas,


denominadas de Restinga Interna e Restinga Externa. Estas também foram descritas na
Caracterização Geomorfológica da AII, correspondendo às restingas de Jacarepaguá-Itapeba
(interna) e de Marapendi (externa).

A Restinga Interna, constituída por areias quartzosas marinhas (vide foto a seguir) de granulometria
fina a média, ocorre entre os depósitos de cúspides lagunares interno e externo, aproximadamente
ao longo da Avenida das Américas. Sondagens realizadas na extremidade leste da Restinga Externa,
próximas a Avenida das Américas (Cabral, 1979), atravessaram cerca de 15m de areias finas com
compacidade crescente com a profundidade. A cota altimétrica máxima da Restinga Interna é de 11-
12m acima do nível médio do mar.

A Restinga Externa, situada entre a praia e a planície paludial da lagoa de Marapendi, é constituída
por areias marinhas mais finas, ricas em valvas e com maior quantidade de matriz

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argilosa introduzida. Sondagens realizadas próximas a Avenida Ayrton Senna, ao sul da Lagoa de
Marapendi (Cabral, 1979), atravessaram mais de 25m de areia cinza fina com conchas, fofas até os
5m; medianamente compactas até os 12m e compactas a muito compactas abaixo. A cota
altimétrica máxima da Restinga Externa é de 6m acima do nível médio do mar.

Aspecto da Crista da Restinga Interna, em terreno adjacente à Avenida das Américas (UTM
0665198/7455391).

Ambas as restingas têm cota mínima correspondente à curva de nível de 3m, abaixo da qual são
encobertas por Cúspides de Laguna (vide Figura abaixo), sendo que a face frontal da restinga
externa está coberta pelas areias da Praia Atual (Figura na seqüência).

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Aspecto de Antiga Cúspide da Laguna de Jacarepaguá em 1966.

Fonte: USAF, jun/1966 - Foto aérea 75853

Estas possuem o lençol freático muito próximo da superfície em função do elevado nível
hidrostático provocado pelo mar. Os aqüíferos são abundantes, porém, existe uma forte presença de
água salobra devido principalmente à intrusão da cunha salina.

Todos os depósitos arenosos são constituídos por areias quartzosas finas a grossas, bem a mal
selecionadas, apresentando compacidade crescente com a profundidade. Segundo Cabral (1979),
embora tenham tido processos de formação independentes e em épocas distintas, de um modo geral
não apresentam problemas para fundações, sendo por isto os mais amplamente ocupados nas
últimas 4 décadas. Eventuais problemas de fundação estão relacionados principalmente a recalques
que podem ocorrer em locais onde ocorrem lentes argilosas intercaladas por pacotes arenosos,
sendo este tipo de ocorrência freqüente nas proximidades das lagunas.

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Vista para Oeste da Praia da Barra e da Restinga Externa (Restinga de Marapendi), cuja
crista está sobre a Avenida Lúcio Costa (UTM 0666219/7454320).

• Depósitos Paludiais (Turfas e Lamas Orgânicas Moles)

As Turfas e os Solos Argilosos Moles recobrem grande extensão da planície, em áreas de antigas
lagunas colmatadas, bem como sobre a Restinga Externa e as Cúspides de Laguna, sendo
constituídas, basicamente, por restos sedimentos lamosos (siltes + argilas) ricos em restos vegetais
decompostos ou semi-decompostos. As turfeiras têm espessuras que variam de poucos centímetros
a cerca de 0,5m e, quando sobre depósitos arenosos, são responsáveis pela impermeabilização
destes, formando brejos.

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Planície Paludial ao norte da Pedra de Itaúna, entre as avenidas das Américas e Salvador
Allende (vista para sul, UTM 0661692/7456261).

Os Solos Argilosos Moles apresentam grande quantidade de matéria orgânica, restos animais e
vegetais, que lhe conferem a coloração escura característica. Ocupam as faixas à margem das
lagunas atuais, onde cresce a vegetação de manguezal ou brejosa. Constituem sedimentos
depositados em vazas orgânicas nas partes mais profundas das lagunas e paleo-lagunas da Baixada,
bem como sedimentos retidos pelos manguezais nas margens destas. Em profundidade, estes
depósitos podem alcançar espessuras de até 20 m, sendo normalmente recobertos por turfeiras com
espessuras superiores a 3m em alguns setores desta unidade. Na região da lagoa de Camorim,
incluindo a Gleba F (Figura abaixo), a Vila do Pan e a área da comunidade de Rio das Pedras, são
registradas as maiores espessuras destes solos.

Constituem solos moles a muito moles, sobre os quais é problemática a implantação de estruturas
tais como edificações, pistas de rodagem, etc. Segundo Cabral (1979), fundações diretas de obras
civis sobre estes depósitos são inexeqüíveis, sempre obrigando ao uso de estacas ou tubulões. Este
autor também ressaltou a agressividade destes solos às estacas metálicas e ao concreto das
estruturas das obras de arte e construções.

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Panorama da região onde ocorrem os solos orgânicos moles mais espessos da Baixada de
Jacarepaguá (Gleba F, ao sul da lagoa de Camorim). Ao fundo o maciço da Tijuca.

• Depósitos Aluviais

Nas partes próximas ao sopé dos maciços costeiros, no denominado Clinoplano Periférico, os
depósitos aluviais constituem camadas de sedimentos grossos superpostas, decorrentes de
sucessivos fluxos gravitacionais produzidos por chuvas intensas sobre o manto de intemperismo das
encostas. Estes gradam lateralmente para depósitos mais finos, formados por camadas lenticulares e
tabulares de cascalho, areia e lamas fluviais. Durante os períodos de transgressão marinha, o baixo
curso dessas drenagens foi afogado pelo mar, tendo sido formados manguezais, que deixaram em
profundidade camadas de argilas orgânicas moles como testemunho. Nos períodos de regressão
marinha, os depósitos fluviais ou estuarinos foram erodidos e parcialmente retrabalhados pelos rios
que descem dos maciços.

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INSERIR MAPA AID_GEOLOGIA

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7.2.1.2 Caracterização Geomoforlógica

O relevo da maior parte da AID das intervenções em pauta pelo empreendedor foi condicionado
pela evolução geológica da Baixada ao longo do Holoceno, conforme abordado no diagnóstico da
AII e no item anterior Mais recentemente, notadamente a partir dos anos 70 do século passado, o
relevo da região tem sido bastante modificado pela ocupação antrópica, através de terraplenagens e
aterros.

Turcq et al. (1999), a partir de análises de fotografias aéreas e de trabalhos de campo, introduziu o
termo unidades morfosedimentares para caracterizar as planícies costeiras do Estado do Rio de
Janeiro. Na AID do empreendimento, foram reconhecidas cinco unidades morfosedimentares, quais
sejam: Depósitos Continentais Indiferenciados; Barreira Arenosa Pleistocênica, Barreira Arenosa
Holocênica, Depósitos Lagunares Holocênicos e Manguezais Modernos que serão descritas na
seqüência.

As unidades morfosedimentares da AID podem ser observadas no Mapa Geológico anteriormente


apresentado, sendo os Depósitos Continentais Indiferenciados representados pelos depósitos
aluviais do sopé dos maciços costeiros; a Barreira Arenosa Pleistocênica representada pela
Restinga Interna e as cúspides de laguna interna e externa; a Barreira Arenosa Holocênica pela
Restinga Externa e a praia atual; os Depósitos Lagunares Holocênicos pelas areias de fundo de
enseada, turfas/solos argilosos moles e cordões de lagunas; e os Manguezais Modernos pelos
sedimentos argilosos orgânicos.

• Depósitos Continentais Indiferenciados

Esses depósitos, relacionados à unidade geomorfológica Clinoplano Periférico, ocorrem nas


planícies dos rios Muzema, Cachoeira e Itanhangá, e da Barra, no setor leste da AID, sendo bem
mais extensos no sopé do maciço da Pedra Branca, englobando as planícies dos rios vargem Grande
e Morto, que deságuam no canal de Sernambetiba; dos rios Vagem Pequena, cancela e Calembá,
que deságuam no canal do Portelo, bem como as pequenas planícies das diversas drenagens que
descem a Serra Geral de Guaratiba, limite oeste da AID.

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Constituem depósitos aluviais e coluviais de diferentes idades e que possuem uma declividade
suave em direção á Baixada, situados na zona de transição entre os Maciços Costeiros e a Planície
Paludial, ocupando cotas entre 15 e 5m acima do nível do mar.

• Barreira Arenosa Pleistocênica (ou Restinga Interna)

A Planície Paludial interior é limitada a sul por uma longa barreira arenosa de origem marinha,
cujas altitudes alcançam cotas entre 8 e 12m acima do nível médio do mar. No passado recente,
antes da extensiva ocupação urbana dessa faixa, era possível distinguir em fotografias aéreas
alinhamentos paralelos, provavelmente relacionados a antigos cordões de praia. A declividade da
Restiga Interna é maior na face voltada para a Lagoa da Tijuca, do que na face voltada para a Lagoa
e o Canal de Marapendi.

Situada entre as Restinga Interna e a Planície Paludial, atualmente obliterada pela ocupação
antrópica, ocorre a superfície plana das cúspides de laguna interna (vide Mapa Geológico da AID),
formada por areias finas a médias bem selecionadas. Constituem áreas planas a levemente
inclinadas em direção ao sistema lagunar, com depressões onde houve o acúmulo de turfas, com
cotas altimétricas máximas entre 2 e 3m acima do nível médio do mar.

Vista aérea parcial da Restinga Interna antes da ocupação imobiliária da região. A oeste a
Pedra de Itaúna e, a sul, a Lagoa de Marapendi.

Pedra de Itaúna

Fonte: USAF, jun/1966 - Foto aérea 75853

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• Barreira Arenosa Holocênica (ou Restinga Externa)

Esta unidade de relevo está situada entre a Lagoa e o Canal de Marapendi e a praia (vide Figura
abaixo), e possui alturas entre 4 e 7m, sendo que a Avenida Lúcio Costa passa ao longo de sua
crista. A declividade da Restinga Externa, assim como de outras restingas de mesma idade
(Ipanema, por exemplo), é maior na face voltada para o oceano (chega a alcançar 10% de
inclinação) e menor na face voltada para a laguna.

Outras feições morfológicas podem ser observadas nesta região, como a ocorrência de beach rock
(arenito de praia) em frente à praia (Muhe, 1984). Esse arenito submerso, recentemente dinamitado
para dar passagem ao emissário submarino da Barra, indica uma antiga posição do nível do mar
mais baixa que a atual.

Aspecto da Restinga Externa (Marapendi) antes da ocupação antrópica; trecho a S e SE da


Pedra de Itaúna.

Lagoa de Marapendi

Fonte: USAF, jun/1966 - Foto aérea 75853

• Depósitos Lagunares Holocênicos (ou Planície Paludial)

Essa unidade ocupa praticamente todo o setor norte da região de baixada da AID, constituindo as
áreas aplainadas marginais às lagunas de Jacarepaguá, Camorim e Tijuca, bem como a planície
cortada pelos canais do Portelo, do Cortado, e entre o canal de Sernambetiba e a Serra Geral de
Grumari. As cotas altimétricas situam-se normalmente entre 1 e 3m acima do nível médio do mar.

A sudoeste e oeste da Lagoa de Jacarepaguá (Figura abaixo), formam planícies inundáveis cobertas
por camada de turfa geralmente de espessura inferior a 1m, com cotas entre 1 e 2m de altura,

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apresentando drenagem deficiente e condições inadequadas para aterros e fundações sem
estaqueamento.

Entre as lagoas de Jacarepaguá e da Tijuca, na área do autódromo Nelson Piquet e na Península da


Gleba E, a Planície Paludial é formada pelas areias de fundo de enseada, descritas no sub-item
anterior. Constitui superfície plana, com cotas topográficas entre 1 e 2m ao sul das lagoas, e
normalmente entre 2 e 3m na área situada entre as duas maiores lagunas, cortada pela Avenida
Ayrton Senna.

Aspecto da Lagoa de Jacarepaguá há 37 anos atrás, observando-se a Planície Paludial


circundante.

Lagoa de Jacarepaguá

Fonte: USAF, jun/1966 - Foto aérea 75853

• Manguezais

Os manguezais estão situados predominantemente nas margens da Lagoa de Marapendi e na


extremidade leste da Lagoa de Jacarepaguá, ocorrendo ainda franjas remanescentes nas margens da
Lagoa da Tijuca, sendo estes mais expressivos no Saquinho, situado ao sul da Gleba F. Constituem
áreas planas, com cotas abaixo de 1m, situadas na área de influências das marés. Sua superfície é
formada por solos lamosos orgânicos moles, ricos em matéria orgânica. Com o acelerado
assoreamento das lagunas nas últimas décadas, a vegetação de manguezal tem avançado sobre

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algumas dessas novas áreas emersas, bem como vem recuando em áreas onde a sedimentação
passou a impedir a chegada de águas salobra. Nestas áreas, o manguezal vem sendo substituído
gradativamente por espécies como a samambaia-do-brejo (Acrosticum sp.).

• Maciços Costeiros

O limite oeste da AID é formado pela Serra Geral de Grumari, que apresenta cota máxima de 355 m
acima do nível do mar no morro de Guaratiba, extremidade sudoeste da área, elevando-se para norte
até alcançar cota de quase 700 m no morro dos Caboclos, limite com a Serra do Rio da Prata.
Devido à declividade acentuada desta serra, o manto de intemperismo é pouco espesso, sendo
observado nas parte mais íngremes afloramentos rochosos. A cobertura vegetal remanescente é
formada por mata secundária em estágio sucessional avançado, sendo característico dessa vertente o
plantio de banana. Constitui área de instabilidade geotécnica acentuada, como pode ser observado
ao longo da estrada da Grota Funda, que freqüentemente é palco de deslizamentos e quedas de
blocos.

O limite norte da AID é formado pelas serras do Rio da Prata e da Pedra Branca, sendo esta última a
região mais elevada de todo o município do Rio de Janeiro. Os altos cursos dos diversos vales que
dissecam o maciço da Pedra Branca apresentam declividades bastante acentuadas, sendo os
processos erosivos controlados pela densa cobertura vegetal remanescente. A AID é limitada a leste
pelo Parque Nacional da Tijuca, que da mesma forma que o maciço da Pedra Branca, possui
cobertura vegetal densa que minimiza os processos erosivos decorrentes da incidência de chuvas
torrenciais sobre as encostas de declividade acentuada.

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INSERIR MAPA AID_GEOMORFOLOGIA

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7.2.1.3 Solos

A cobertura pedológica deste universo em análise está diretamente associada aos depósitos
sedimentares holocênicos que cobrem tanto a Baixada, como a pequena área montanhosa do vale do
Rio da Barra conforme será visualizado no Mapa de Solos mais adiante. As principais formações
identificadas encontram-se descritas a seguir.

• Afloramentos Rochosos

Constituem superfícies convexas de rocha nua em encostas de declividade muito acentuada, onde
não há a possibilidade de acúmulo de sedimentos que venham a formar um solo. A vegetação de
bromélias são características dessas áreas.

• Argissolos Vermelho-Amarelos

Ocorrem na área nas encostas das serras que limitam a AID, normalmente abaixo da cota de 500m,
estando associados aos depósitos coluvionares descritos no item Geologia da AID. Constitui uma
classe de solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B textural (horizonte subsuperficial, de
natureza mineral, que se caracteriza por apresentar estrutura em blocos ou prismática relativamente
desenvolvida) de coloração que varia de vermelha a amarela. São solos em geral profundos e bem
drenados, com seqüência de horizontes A-Bt-C ou A-E-Bt-C. Estão associados aos Argissolos
Vermelhos eutróficos e Neossolos Litólicos indiscriminados, podendo também ser associados a
afloramentos de rocha (no relevo forte ondulado), em geral em substrato de rochas gnáissicas.
Apresentam caráter distrófico (expressa saturação por bases inferior a 50%) e perfis em geral
espessos. Quando eutróficos tendem a ser mais rasos. São bem drenados, de textura média/argilosa
ou média/muito argilosa, derivados dos ortognaisses tipo Archer e facoidal, bem como de rochas
graníticas.

• Chernossolos

Solos desta classe, mais especificamente os Chernossolos Argilúvicos Órticos ocorrem em áreas de
relevo bastante abrupto do Maciço da Pedra Branca, nas serras do Rio da Prata, da Pedra Branca, na
área do Camorim e do pau-da-Fome. Constituem solos argilosos e pouco profundos, com espessura
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entre o horizonte A e o B entre 1 e 1,5m, com horizonte A chernozêmico e horizonte B iluvial de
acumulação de argila. São solos bem estruturados, do tipo granular (estrutura forte) no horizonte A
e do tipo blocos angulares e sub-angulares. Possui altos valores de base trocável ao longo do perfil.
Tem origem na decomposição de rochas graníticas e gnaisses, com intrusões de rochas básicas e
intermediárias. O horizonte A possui cores que variam do bruno escura a bruno acizentada muito
escura (EMBRAPA, 1980). São solos que, pelas altas declividades, apresentam uma forte
susceptibilidade à erosão.

• Espodossolos

Essa classe compreende solos minerais de textura arenosa ao longo de todo o perfil, com horizonte
B espódico (horizonte mineral, subsuperficial, que apresenta acumulação iluvial de matéria
orgânica e compostos de alumínio, acompanhados ou não por ferro) precedido por horizonte E
álbico, ou raramente A. São, portanto, solos com nítida diferenciação de horizontes, com seqüência
do tipo A-E-Bh-C (ocorre também horizonte Bhs ou Bs). Estes solos estão relacionados aos
sedimentos arenosos de origem marinha ou lagunar que constituem as restingas Interna e Externa,
bem como as cúspides arenosas associadas e, na Baixada de Jacarepaguá, eram recobertos por
vegetação de restinga do tipo campestre ou arbóreo-arbustiva (EMBRAPA, 1980).

O Espodossolo Cárbico Hidromórfico pode constituir solos com acúmulo, principalmente, de


carbono orgânico e alumínio no horizonte B espódico, com presença de horizonte Bh dentro de
0,20m da superfície do solo. Apresentam condição de drenagem que varia de excessiva a má,
relacionada com a posição relativa que ocupam na paisagem. O Espodossolo Ferrocárbico
Hidromórfico constitui solo com acúmulo, principalmente, de carbono orgânico e ferro no horizonte
B espódico, com presença de horizonte Bs e/ou Bhs dentro de 0,20m da superfície do solo,
apresentando condição de drenagem que varia de excessiva a má, relacionada com a posição
relativa que ocupam na paisagem (EMBRAPA, 1999). Estão associados às porções mais baixas da
Restinga Interna, em contato com a Planície Paludial. Foram, na sua maior parte, removidos ou
obliterados pelos aterros e terraplenagens decorrentes do crescimento urbano da Barra da Tijuca.

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• Gleissolos

Na Baixada de Jacarepaguá, ocorrem os vários tipos de Gleissolos, predominando os Gleissolos


Melânicos de argila de atividade alta, álicos, em altitudes que variam de 10 a 20 m, sob campos de
várzeas. Por ocuparem terrenos em relevo plano, os Gleissolos praticamente não são susceptíveis à
erosão (RADAMBRASIL, 1983).

• Latossolos Vermelho-Amarelos

Os Latossolos, cujas características estão descritas no diagnóstico da AII, ocorrem de modo geral na
região nas áreas de relevo forte ondulado e montanhoso, nos setores elevados dos maciços da Pedra
Branca e da Tijuca. Sendo muito porosos, propiciam maior resistência à erosão (RADAMBRASIL,
1983).

• Neossolos Flúvicos

Estes ocorrem no sopé dos maciços costeiros, associados às várzeas de algumas das principais
drenagens, bem como na periferia da planície paludial. O relevo dessas áreas é normalmente plano
ou suavemente inclinado em direção à planície, e podem variar em relação à textura, coloração,
consistência e estrutura de acordo com a natureza dos sedimentos depositados (RADAMBRASIL,
1983).

• Neossolos Quartzarênicos

Essa classe compreende solos profundos, anteriormente denominadas Areias Quartzosas Marinhas,
com seqüência de horizontes do tipo A-C, de textura arenosa em toda a extensão dos perfis,
constituídos essencialmente por quartzo (vide Foto 3 anterior). Minerais primários menos
resistentes ao intemperismo são encontrados em quantidades insignificantes. Ocorrem nas restingas
Interna e Externa, bem como na Planície Paludial, associados às areias de fundo de enseada, em
associação com Espodossolos, outrora sob vegetação de restinga arbóreo-arbustiva, onde
atualmente predominam campos antrópicos (EMBRAPA, 1999). São excessiva a imperfeitamente
drenados, de baixa fertilidade natural, com horizonte A moderado (horizonte mineral, superficial,
com conteúdos de carbono superiores a 5,8g/kg) ou A fraco (horizonte mineral, superficial, com

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conteúdos de carbono inferiores a 5,8g/kg), que pode mesmo estar ausente em áreas desprovidas de
vegetação, localizadas mais próximas ao mar ou sujeitas à forte ação dos ventos.

• Organossolos e Solos de Manguezal

Correspondem a solos hidromórficos, formados em ambientes palustres, que apresentam camadas


de constituição orgânica pelo menos nos primeiros 0,40m superficiais. São solos muito mal
drenados, sob vegetação de brejo ou de manguezal, com lençol freático aflorante ou sub-aflorante,
desde que não drenados artificialmente. Em geral são bastante ácidos, sendo comum, nas áreas mais
próximas ao litoral, caráter tiomórfico (EMBRAPA, 1999). Os Organossolos estão associados aos
setores mais deprimidos da Planície Paludial, relacionados às áreas brejosas, onde ocorre
normalmente camada de turfa, que alcança espessura de até 1 m.

• Planossolos Hidromórficos

Os Planossolos Hidromórficos constituem solos com horizonte B textural, ou seja, uma mudança
textural abrupta entre os horizontes A (menos argila) e B (mais argila) e características de
hidromorfismo, como cores cinzentas e mosqueado nos horizontes subsuperficiais. Constitui classe
de solo bastante restrita na AID, sendo registrado no sopé do morro do Bruno, entre este e o canal
do Portelo. Estes apresentam baixíssima susceptibilidade à erosão, em virtude de suas
características texturais e do relevo praticamente plano.

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INSERIR MAPA AID SOLOS

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