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ESTABILIZAÇÃO MONETÁRIA'

DIOGO DE FIGUEIREDO MOREIRA NETO

1 - Introdução. 2 - A moeda e suas funções. 3 - A moeda defectiva.


4 - O nominalismo. 5 - A inflação. 6 - O valorismo. 7- A correção
monetária. 8 - Antecedentes e evolução. 9 - Doutrina das dívidas de
valor. 10 - Indexadores. 11 - A jurisprudência. 12 - A reforma mo-
netária em curso. 13 - Perspectivas e conclusões.

1. Introdução

O último plano monetário do Governo brasileiro, ao que tudo indica, pretende


devolver a estabilidade à moeda nacional e, assim, sua confiabilidade, o que é
absolutamente imprescindível para uma economia sadia e capaz de expandir-se.
As intenções, como nos anteriores, são bo?,;; a execução sofrerá os percalços
políticos, já se podendo prever a falta do apoio institucional que deveria provir de
umá exitosa revisão constitucional que modernizasse o Estado brasileiro e, em
conseqüência, redimensionasse o seu papel na economia.
Carentes de escolas e de hospitais, continuamos a manter a alto custo as estatais,
com seu agressivo corporativismo. Carentes de segurança pública, continuamos a
manter uma complicada estrutura orgânica que envolve nada menos que seis insti-
tuições (art. 144, 1,11, m, IVe V'e seu § 82 ) de pouca efetividade em seu conjunto.
Carentes de investimentos, continuamos a acreditar que os capitais de risco
afluirão a nosso País com toda a xenofobia e o estapafúrdio intervencionismo estatal
que nos deixou a "Constituição Cidadã".
Essa denominação s6 pode ser uma brincadeira, pois o que ela mais fez foi
aguçar a miséria, as desigualdades sociais ao negar, na prática, os elevados princípios
que apregoa. Uma coisa, de fato, são os princípios constitucionais - alcandorados
e altissonantes; outra, os preceitos organizativos do Estado e de suas relações com

• Conferência, em 25 de abril de 1994, no I Fórum de Direito Econômico, promovido pelo Instituto dos
Advogados de São Paulo e o Primeiro Tribunal de Ações Civil do Estado de São Paulo.

R. Dir. Adm., Rio de Janeiro, 196:7-19, abr./jun. 1994


a sociedade - que se revelaram inadequados, ineficientes, demagógicos e anacrô-
nicos.
Neste pequeno trabalho dá-se úm pano de fundo histórico-doutrinário sobre os
tópicos que se agitam nQ tema central do "Plano Real", pois se destina à implantação
de uma nova moeda, voltando à denominação histórica, que data da criação do real
português, em 1427, por Dom João I.
Oxalá a escolha de uma unidade monetária pioneira nos reinos europeus
pré-renascentistas e sua impressionante longevidade sejam de bom augúrio para
o Brasil.

2. A Moeda e suas Funções

A moeda, segundo a História, é uma invenção dos Lídios, cerca de 600 a.c.,
tendo surgido como um instrumento para facilitar e agilizar o comércio, em substi-
tuição ao primitivo sistema de trocas:
Sob esse aspecto, a' moeda passou a cumprir, desde então, a. dupla função de
meio de troca e de riqueza intermediária, características fundamentais que até hoje
mantém.
A Ciência Econômica atual define a moeda em termos de uma ou mais do que
tem como suas três funções principais: I' - meio de troca, 2' - depósito de poder
aquisitivo e 3' - padrão de valor. I
A Ciência do Direito também dá especial ênfase a essa terceira função, como,
por exemplo, no consagrado jusmonetarista Tulio Ascarelli, que nela encontra duas
funções essenciais: a de instrumento de troca e a de mensurador de valor. 2
A tríplice função econômica é tradicionalmente adotada nos textos didáticos,
como informa Ross M. Robertson 3 , podendo considerar-se, assim, como moeda "tudo
aquilo que é habitualmente usado e geralmente aceito como meio de troca ou padrão
de valor".4
Enquanto meio de troca, a moeda é meio de pagamento, dotada de poder
liberatório de quaisquer dívidas, tanto no sistema de.curso legal (cours légal ou
Zahlungsmittel), que admite sua convertibilidade vinculada a qualquer outro bem,
como ouro, prata etc., como no sistema de curso forçado (coursforcé ou Zwangkurs),
que determina sua inconvertibilidade e, em conseqüência, torna sua aceitação obri-
gatória, como único meio liberatório possível sob uma ordem jurídica.
A adoção, quase universal, do sistema de curso forçado, como se vê, tornou a
moeda e os sistemas monetários nacionais matéria de direito público, suportada na

I The Monetary System of the United States, Federal Reserve Bulletin, fev. 1953, p. 98.
2 Verbete "maneta", in Dizionario Pratico dei Diritto Privado, v. m, § m, p. 1.2\3.
3 Verbete "money", in A Dictionary of Social Sciences, Free Press of Glencoe, N. York e Tavistock
Publications, Londres, 1964.
4 R.P. KENT, Money and Banking, Rinehart, N. York, 3' ed., 1956, p. 4, apud A Dictionary of Social
Sciences, ibidem.

8
ficção jurídica de seu valor liberatório, independentemente de qualquer valor intrín-
seco, elevada a expressão indeclinável da soberania naciona1. 5
Enquanto depósito de poder aquisitivo, a moeda cumpre uma função de merca-
doria, entesourável, instrumento de poupança imprescindível ao desempenho de uma
economia capitalista, que necessita de substancial acumulação de riquezas para
realizar investimentos em grande escala,
Finalmente, enquanto padrão de valor, a moeda é o instrumento de mensuração
universal para todas as mercadorias e serviços. É no desempenho desta funcão que
ela apresenta sua mais delicada problemática contemporânea, pois embora ela possa
se apresentar com um valor nominal atribuído juridicamente pelo Estado que a emite,
ela também pode sofrer uma flutuação valorativa de fato que a tome inapta para
servir de medida de valor. Quando isso ocorre, dissocia-se a moeda, enquanto
dinheiro de curso forçado do valor que deve representar, provocando o surgimento
de sucedâneos valorativos da moeda.

3. A Moeda Defectiva

Quando uma determinada moeda não é idônea para desempenhar uma ou duas
das três funções essenciais - meio de troca, depósito de poder aquisitivo ou padrão
de valor - ela é defectiva.
A moeda de um país será sempre defectiva em qualquer outro em que perca seu
poder liberatório forçado como meio de troca. A moeda de um país de economia
débil ou instável também é defectiva, na medida em que não cumpre a função de
entesouramento. A moeda inflacionária a taxas significativas também é defectiva,
pois se toma inservível tanto como padrão de valor tanto como depósito de poder
aquisitivo.
Como tem curso forçado, a moeda defectiva nacional conserva sua função de
meio de troca, mas o público usuário procurará valer-se de um outro referencial,
monetário ou não, para servir de padrão de valor, bem como de um sucedâneo
amealhável, monetário ou não, para guardar suas poupanças.

4. O nominalismo

o nominalismo pode ser conceituado como um princípio áureo da teoria mone-


tária, segundo o qual a atribuição legal de um determinado valor à moeda é inalte-
rável, não importando se venha a ocorrer, posteriormente, qualquer modificação,
quer do seu valor intrínseco (metal) quer do seu valor de troca (poder aquisitivo).
O princípio nominalista pode ser considerado como aquele que tem caracteri-
zado imemorialmente a própria moeda, como observa Letácio Jansen repassando sua

5 LETÁCIO JANSEN, o mais distinto autor do Direito Monetário no País, assim o afirma: "um dos
atrihutos de soherania nacional é a emissão da moeda" (A Face do Dinheiro, Ed. Renovar, Rio de Janeiro,
1991, p. 147).

9
trajetória, desde a menção aristotélica. na Ética (/ Nicômallo: recordando MOLI-
NAEUS e POTHIER; lembrando o importante marco da criação do real português
em 1427 e sua consagração. mais tarde. nos reinos ibéricos; assinalando sua essen-
cialidade na construção das economias liberais dos Estados Unidos, da França e da
Inglaterra: invocando a autoridade de autores como NUSSBAUM, MANN e, até
certo ponto, ASCARELLI, e. além de tudo, destacando sua imprescindibilidade para
superar as grandes crises monetárias históricas, como na reforma monetária alemã,
de 1948, e na reforma monetária francesa gaullista. de 1958. 1i
É intuitivo que só a observância rigorosa do nominalismo pode assegurar à
moeda a qualidade desejada para o atendimento simultâneo de sua tríplice função
juseconômica. Sob a abordagem estritamente jurídica. porém, deve-se destacar que
só o nominalismo corresponde ao conceito de soberania monetária: se o Estado
desrespeita sua moeda, desrespeita também sua própria ordem jurídica.

5. A Inflação

Alguns autores. atentos à visibilidade desse fenômeno patológico da moeda e


da economia, identificam a inflação com o (/l/Illellto do nível de preços7, tal como é
percebido pela população que ressente seus efeitos. Conceitos mais detalhados e
tecnicamente mais exatos existem em profusão. quase todos contendo o próprio
diagnóstico causacional formulado por seus respectivos autores. Stephen L. McDo-
nald, diante dessa diversidade, procurou formular um conceito neutro, exprimindo-a
como "um estado de coisas no qual a procura monetária da produção aumenta em
relação à produção".'
Em termos estritamente monetários ela se caracteriza pela expansão da moeda
em proporção superior ao da oferta de bens e de serviços, embora ocorram inúmeras
situações em que, não obstante exista esse quadro. a inflação não se apresente.
Há numerosas razões para o surgimento e agravamento da inflação, mas uma
delas parece ser de geral aceitação: a emissão exagerada de moeda pelo Estado para
cobrir gastos públicos incontidos. A conseqüência dessa prática, como ficou univer-
salmente reconhecido. é a imposição de um "imposto" perverso. que onera quem
menos tem, fato observado desde o século passado pelo eminente jurista alemão F.
Von Savigny, muito antes de ter sido divulgado por Lord Keynes. 9
Além da expansão dos gastos públicos, certos fatores, como o psicológico, que
é a prospectiva de crescente inflação, e o confisco cambial, que é a apropriação
oficial de divisas que ingressam no país, com a correspectiva emissão de papel-moeda

6 Portugal, adiantando-se à Europa feudal, criou o real como moeda nacional declarando "pertencer ao
rei somente fazer moeda, mudá-la e pôr-lhe a valia" (grifos nossos) (apud LETÁClO JANSEN, op. cit.,
pp. 121 a 123 e 165 a 168).
7 Assim, AJ. BROWN, em The Great Inflation. 1939-1951 (Oxford U. Press, \955, p. 2), e A.G. HART,
em Mone)', Debt und Economic Activity (Prentice Hall, \954, p. 256).
8 STEPHEN L. McDONALD, Dicionário de Ciêncius Sociais, FGV, Rio de Janeiro, \986, p. 595.
9 Interessante circunstância observada por LETÁCIO JANSEN, in op. cit .. p. 6\

10
nacional para pagá-las, podem ser apontados, especialmente no caso brasileiro, entre
as variantes historicamente estudadas.

6. O Valorismo

Ao nominalismo se opõe o valorismo, mas com a diferença substancial de que


aqui já não temos um princípio, mas um desvio, uma exceção, ou, como prefere
Nussbaum, "uma noção indefinida". 10
O valorismo surgiu como resultado de uma crescente preocupação em manter
estável o valor de uma prestação quando a moeda de referência se desvaloriza. F.
Von Savigny, em sua obra monumental, foi um dos primeiros a enfrentar esse
problema, iniciando-se com ele o "antinominalismo" que, dissociando as funções
de meio de troca e de padrão de valor, apresentou aos espíritos racionalistas do século
XIX uma solução aparentemente perfeita. A moeda continuaria como meio de troca
obrigatório, mas seria necessário recorrer-se a um outro referencial para manter-se
o valor originalmente avençado para a prestação - uma "dívida de valor" (Werts-
chulá).
Amoldo Wald, discorrendo sobre a moeda, aponta essa "dissociação entre suas
finalidades" e, em conseqüência, o abandono do "nominalismo ferrenho" como um
progresso, porque" a moeda sofria variações, não mais podendo ser a ponte sólida
entre o passado, o presente e o futuro". 11
A possibilidade, introduzida pelo valorismo, de manipulação pelo Estado do
valor da moeda por ele emitida, dissociou os interesses do Estado e da sociedade.
Como não poderia deixar de ter ocorrido, em tempos de hipertrofia estatal, a teoria
era extremamente sedutora para justificar o enriquecimento do Estado em detrimento
de toda a sociedade ou de parte dela, sem que fosse necessário lançar-se mão da
tributação, um expediente sempre politicamente desgastante.
O Estado hipertrofiado do começo do século, como se sabe, estava muito mais
empenhado em afirmar sua soberania pelas armas que pela moeda. Internamente, o
valorismo podia permitir uma manipulação política da moeda, mantendo eqüidade
em algumas relações que o Estado entendesse de preservá-lá, enquanto, em outras,
permitia um confisco disfarçado, instaurando a discriminação, a injustiça e a inse-
gurança em suas relações com a sociedade civil.
Entre nós, Silvio Rodrigues percebeu claramente a intervenção disfarçada do
Estado ocorrida no período getuliano, que correspondeu ao despertar de nossa versão
do Estado hipertrofiado, "que passou a ver na moeda em meio de direção e de
controle da economia". 12
Hoje, no Brasil, o valorismo pode ser considerado duplamente agressivo à ordem
constitucional. Uma vez adotado, o Estado abdica da soberania monetária, violando

10 Derecho Monetário, p. 198, apud Letácio Jansen, op. cit., p. 122.


11 A Correção Monetária no Direito Privado, M.S. Rodrigues, Rio de Janeiro, 1966, p. 4.
12 Direito Civil, apud Letácio Jansen, op. cit., p. 100.

11
o art. 1 I, da Constituição, e ainda se constitui numa intervenção expropriatória não
Q,

prevista, agredindo o princípio da propriedade privada (art. 170, IlI).

7. A Correção Monetária

A reação ao liberalismo trouxe o Estado interventivo. Não se discute aqui o


mérito dessa transição, mas a sua repercussão sobre a teoria da moeda: a reação ao
nominalismo trouxe o valorismo, como forma de justificar a proteção de alguns
créditos sob pretexto de eqüidade e de impor um tributo disfarçado sobre todos os
demais, que ficassem desprotegidos.
A revalorização de créditos selecionados passa a ser feita pelo uso da correção
monetária, pela qual a moeda, deixando de ser padrão de valor, necessitaria ser
"atualizada" por algum critério político-econômico para lograr exercer sua função
de meio liberatório. Em outros termos: permitia ao Estado, que emite a moeda para
servir de meio liberatório, reservar-se o poder de intervir, depois da emissão, no
próprio negócio econômico subjacente, para impor suas políticas.
Amoldo Wald, discorrendo pioneiramente sobre a correção monetária, apresen-
ta três técnicas hábeis para executá-la: a teoria da imprevisão, a teoria das dívidas
de valor e a cláusula de escala móvel I3 •
A teoria da imprevisão, a técnica mais antiga, "pressupõe a ocorrência de
modificações substanciais, imprevisíveis e inevitáveis, que levam uma das partes a
arcar com um negócio excessivamente oneroso, enquanto que o outro contratante se
beneficia com um verdadeiro enriquecimento sem causa"14.
A teoria das dívidas de valor atende à diferença entre o meio e o valor do
pagamento: a dívida não é de quantia certa mas de valor certo. Não há débito de
quantum, mas de quid. Exemplos nítidos surgem nas chamadas obrigações legais,
como a de alimentos ou as decorrentes de ato ilícito, como a de ressarcimento de
danos.
A teoria àe escala móvel, por fim, transporta a correção para o contrato, nele
prevendo-se um índice de valor que fará variar a quantidade de moeda necessária
para satisfazer a obrigação pactuada.

8. Antecedentes e Evolução

As experiências européias com a correção monetária foram as primeiras formas


de introdução do valorismo para a atualização de obrigações expressas em moeda.
Letácio Jansen as menciona, como a Aufwertung alemã, da década de vinte, os debiti
di valore italianos e as clauses d' echelle mobile francesas, como exceções do nomi-
nalismo, de inspiração negociaI e judiciária l5 .

13 op. cit., p. 4.
14 Op. cit., p. 4.
15 Letácio Jansen, A Curreçãu Monetária em Juízo. Forense, Rio de Janeiro, 1986. p. 3.

12
Distintamente, anota o estudioso jusmonetarista, a expenencia brasileira da
correção monetária não foi um episódio isolado e, por isso, veio a se constituir numa
variedade de valorismo que se distingue das demais "por sua amplitude e estabili-
dade" e, com a permissão do ilustre autor, por sua permanência, pois há trinta anos
se mantém como doutrina monetária oficial do País, por oito governos, autoritários
ou eleitos, e sob quatro Constituições (1946, 1967, 1969 e 1988).
Com efeito, embora suas origens no Brasil possam ser traçadas desde a década
de cinqüenta, como forma de solucionar a questão indenizatória dos concessionários
de serviços de utilidade pública l6 , foi em 1964 que, "de incipiente doutrina de
oposição, a correção monetária transformou-se de chofre em doutrina oficial, da
qual se torna o principal protagonista nos meios forenses o agora Professor Amoldo
Wald" 11.18.
Assim, até 1964, a aplicação da correção monetária foi restritiva, admissível
apenas em lei expressa ou como prudente aplicação da teoria da imprevisão e da
teoria das dívidas de valor, mas, adotada de início como uma tática transicional para
controle da inflação ou, pelo menos, para absorver alguns de seus efeitos detrimentais
sobre a economia, ela acabou se tornando permanente e até instrumental para a
política econômica dos governos.
Desde então, uma série de leis instituiu um amplo sistema de correção monetária
para vários tipos de dívidas: a Lei n° 4.357/64, para dívidas tributárias; a Lei nO
4.380/64, para os contratos imobiliários, e a Lei nO 4.944/64, institucionalizando-a,
em termos gerais, para os contratos.
Estava iniciado um período de três décadas de emprego caótico de índices, de
indexadores, de pseudomoedas, de escalas móveis e de "tablitas" que acabariam
decretando a falência da moeda nacional em suas sucessivas "ressurreições" e a
desmoralização das regras áureas da imutabilidade do ato jurídico perfeito e da coisa
julgada, divorciando a vida monetária brasileira dos princípios do Estado de Direito.
A correção monetária, que tinha vindo para reabilitar a moeda atacada pela inflação,
acabou por realimentar esta e desmoralizar aquela.

9. Doutrina das Dívidas de Valor

Além de interesse estatal em manter um instrumento tortuoso que lh~ permitia


auferir ganhos não-tributários sem qualquer necessidade de lei ou de mecanismo
arrecadador, a correção monetária oficial contou ainda com a sedução moral exercida
pela teoria das dívidas de valor, de autoria de Tulio Ascarelli, exposta em 1928 e
plenamente desenvolvida nos anos cinqüenta l9 • Era uma forma de "justificar" sua

16 Letácio Jansen, A Face Legal do Dinheiro, op. dt., p. 103.


17 Letácio Jansen, A Face Legal do Dinheiro, op. cit., p. 104.
IM Amoldo Wald, aponta "como o primeiro diploma que consagra indisfarçavelmente entre nós a correção
monetária, ainda com base na teoria da imprevisão, o ar!. 31, do Decreto-Lei nO 24.150, de 1934 (Lei de
Luvas)" (in op. cit, p. 6).
19 lA Moneta - Considerazzioni di Diritto Privaro, CEDAM, Pádua, 1928, e Studi Giuridici sul/a
Maneta, Giuffre, Milão, 1952. Recorde-se que Ascarelli, tendo vindo para o Brasil em 1940, fugindo do
fascismo, influenciou fortemente o pensamento jurídico nacional com seus estudos e ensaios.

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manutenção a despeito dos efeitos perversos sobre a economia e a sociedade como
um todo.
Ascarelli, distinguindo, como se expôs, as duas funções monetárias principais,
reconhecia nela um valor não monetário - o poder aquisitivo, e procurava conciliar
o nominalismo, no qual acreditava, com a existência de dívidas não monetárias,
representativas de uma determinada quantidade de poder aquisitivo: dívidas de valor,
enfim, e não de moeda.
Com esse expediente, pretendia o renomado autor salvaguardar o nominalismo,
que teoricamente professava, e, ao mesmo tempo, solucionar o problema da justiça
comutativa nas obrigações de pagar quantia certa diante da corrosão do valor real
da moeda de pagamento.
Em que pese seu esforço, as distinções não resistem à crítica autorizada, como
a de Letácio Jansen 20 , mas, ainda que se possa e até se deva ressaltar o seu conteúdo
positivo, deve-se registrar, em homenagem ao mestre peninsular, que ela não respal-
da, em absoluto, a caótica e abusiva manipulação dos instrumentos de correção
monetária que caracterizaram as últimas três décadas da vida monetária brasileira.

10. Indexadores

A técnica dos índices e dos indexadores monetários foi que tomou possível a
ascensão do valorismo no Brasil e a manutenção por trinta anos da correção monetária
como seu instrumento.
Os índices, utilizados ampla, sistemática e compulsoriamente, passaram a ser
um cripto padrão monetário, alternativo e espúrio, manipulado administrativamente
para a execução de políticas econômicas governamentais; um exercício muito apro-
priado para o modelo de Estado hipertrofiado e interventivo que o Brasil vem
mantendo há três décadas, independentemente de qualquer regime ou doutrina po-
lítica ostensivamente adotada.
O índice, usado para corrigir o valor da moeda nesse perverso sistema valorista,
onde pouco ou quase nada vale o direito, é sempre discriminatório, pois beneficia
alguns créditos e avilta outros. Seria possível escrever-se a história da política
econômica dos últimos oito governos deduzida da sucessão, da incidência e da
extensão dos índices utilizados em cada período.
O primeiro índice surgiu para corrigir as Obrigações Reajustáveis do Tesouro
Nacional - ORTN (Lei n° 4.357/64). A seguir, para corrigir as prestações dos
::ontratos do Sistema Nacional da Habitação, criou-se a Unidade Padrão de Capital
- UPC (Lei n° 4.380/64). Desde então, até 1975, acumularam-se índices de todo
tipo e para variados efeitos, distinguindo e privilegiando créditos, até que a crise de
liquidez internacional, os choques do petróleo e a persistência do modelo estatizante
economicamente esgotado reverteram o quadro de prosperidade até então existente,
iniciando-se a grande recessão nacional, que começa com o Governo Geisel e se

20 Para maior desenvolvimento, remete-se o leitor à Crítica da Doutrina das Dívidas de Valor de Ascarelli,
ill A Face Legal do Dillheiro. op. cit., pp. 116 a 120.

14
agrava com a incapacidade dos constituintes de 1988 de mudar o modelo falido. Sob
o impacto da recessão começa a fase de troca de indexadores, quase sempre com-
primindo os salários e privilegiando a poupança e os investimentos, de modo que
esse longo período ficou marcado pelo agravamento das desigualdades sociais, uma
velha deformação que surgira com o primeiro surto industrial do País, nas décadas
de trinta e quarenta, mas que atingiu seu paroxismo pela desatenção dos governos
militares ao planejamento familiar e, após 1967, ao Estatuto da Terra e à necessidade
de abrir a economia21 • Surgiram, dessa forma, entre outros, o Maior Valor de Refe-
rência - MVR (Lei n 6.205/75), a ORTN rediviva (Lei n 6.423/77) e o Índice
Q Q

Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, sem falar na pletora de indexadores


estaduais e municipais, para privilegiar os créditos fiscais, criadores de semimoedas
locais, todas elas manipuladas por tecnarquias dos gabinetes de Governadores e
Prefeitos
A partir de 1986 o modelo da correção monetária parece dar sinais de cansaço.
Pensa-se em alterá-lo. Põe-se em moda as reformas monetárias como instrumentos
para recuperar a credibilidade da moeda nacional. O real e o mil-réis vigoraram
durante 442 anos, do Brasil Colônia ao final do período Vargas, passando pelo
Vice-reinado, pelo Reino, pelo Império, por toda a República Velha e pelo Estado
Novo; se o real retomar este ano de 1994, como se planeja, teremos tido 6 reformas
monetárias em apenas 42 anos, ou seja: um padrão monetário nacional a cada 7
anos!
Em 1942, transformou-se mil mil-réis em cruzeiro; em 1967, mil cruzeiros
passaram a ser o cruzeiro novo, que voltou a denominar-se cruzeiro a partir de 1970;
em 1986, mil cruzeiros (novos) tornaram-se um cruzado; em 1989, mil cruzados
passaram a ser um cruzeiro novo, que voltou a ser cruzeiro a partir de 1990; em
1993, mil cruzeiros transformaram-se em cruzeiro real e, como se espera, em julho
advirá o real, possivelmente valendo mil e tantas vezes mais que o cruzeiro real,
dependendo da variação da recém-criada Unidade Real de Valor - URV, o último
dos índices criados nessa longa sucessão, com a característica de ser um indexador
sui generis, ele próprio, um "padrão monetário" (Medida Provisória n 434/94)22. Q

Essa sucessão demonstra cabalmente que nesses últimos cinqüenta anos o Brasil
teve abundante manipulação monetária mas, nunca mais, gestão monetária e, ainda,
que, até hoje, as reformas monetárias foram paliativos e não lograram recuperar a
credibilidade e a seriedade da moeda nacional.
A tal ponto a cultura inflacionária permeou o direito brasileiro que, não sem
certa tristeza, perpassa do texto, Letácio Jansen constata que a Constituição de 1988
em vez de combatê-la a estimulou, mantendo a correção monetária em mais de um
dispositivo de seu texto. Assim é que, na parte permanente ela está presente no art.

21 Diagnósticos insuspeitos de Roberto Campos como erros do período revolucionário. no artigo Pingos
nos ii ...• in "O GLOBO". 3 de abril de 1994. p. 7.
22 Milton Flaks. em exposição feita em 14 de março de 1994. na Procuradoria Geral do Estado do Rio
de Janeiro. alinhou os dados acima e calculou em um quintilhão por cento a inflação desses 42 anos. se
medida apenas pela desvalorização da moeda. O cálculo não considerou a próxima transformação. que
elevará. pelo menos, em mil vezes mais esta cifra astronômica.

15
201, § 3°, que manda "corrigir monetariamente" os salários de contribuição; no art.
202, que assegura a aposentadoria nos termos da lei, calculando-se o benefício sobre
a média dos trinta e seis últimos salários de contribuição, "corrigidos monetaria-
mente" mês a mês e, no mesmo artigo, a menção à preservação de "valores reais".
Na parte transitória o número é ainda maior: arts. 33,46,47 e 57, caput, o que levou
o ilustre jusmonetarista a referir-se a uma verdadeira "ideologia do valor real", que
perverte o correto conceito de valor nominal e, saindo do Executivo, passou à Lei,
à Constituição e, finalmente, aos mores do povo lJ •
Finalmente, mesmo depois de introduzido o último dos índices. o mais complexo
deles, a URV, pela Medida Provisória n2 434/94, novamente como sentido de unifi-
cação que parece ter sido a intenção do legislador, precursor de futura moeda, o real,
a cultura dos indexadores ou "ideologia do valor real" mostra sua persistência na
manutenção de inúmeros índices: a TR, para transações financeiras, do mercado de
capitais e de seguros; a UFIR, para as obrigações fiscais federais; os índices setoriais,
para reajuste ou revisão de contratos com periodicidade mínima de um ano e, ainda,
toda a bateria de indexadores fiscais estaduais e municipais existentes.
Como se pode observar, ainda que tenha havido propósito de devolver o País
ao nominalismo, a Reforma Monetária em curso continua a tratar, como todas as
precedentes, com embaraçosa desigualdade os diferentes tipos de créditos, tendo
sido mantidos, por exemplo, os privilégios do setor fiscal (UFIR e unidades locais),
mas como resultado de pressões, acabaram sendo discriminados os servidores pú-
blicos estaduais e municipais que não ficaram expressamente cobertos pela URV,
.condenados a perder o "poder aquisitivo" ou o "valor real" de seus respectivos
vencimentos, soldos, proventos e pensões. Nenhum indexador, enfim, é bom, salvo
se for universal, confundindo-se, assim, com a nova moeda. Se a transição era para
que o País se acostumasse ao "novo" indicador, não era necessária, pois já de décadas
que os yonhecemos bem e seus efeitos perversos. O que se quer do Governo é apenas
uma moeda estável; o resto, uma economia próspera, a sociedade o faz.

11. Jurisprudência

A Jurisprudência brasileira, por tradição nominalista, acabou se deixando in-


fluenciar pela política dos indexadores. Pode-se apreciar essa modificação referen-
tentemente a cada tipo de obrigação: alimentos, desapropriação, prestações previ-
denciárias, dívidas trabalhistas, aluguéis, condenações judiciais etc. O avanço da
legislação da correção monetária determinou a perda de espaço e a flexibilidade
casuística dos tribunais, tornando-se, cada vez mais, aplicadores mecânicos dos
índices oficiais de todo tipo, embora manipulados administrativamente mês a mês
e, em certos casos, dia-a-dia.
A jurisprudência foi o derradeiro baluarte do nominalismo a ser vencido, afas-
tando o que haveria de ser a última barreira para o controle político da moeda nacional

23 A Face Legal do Dinheiro. op. cit., pp. 198 e 199.

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e a derrocada dos princípios que deveriam suportá-la. O Estado gastador logrou
gastar também, juntamente com a sua moeda, a sua própria lei.
Como resultado inercial já não é mais de se estranhar que a correção monetária
tenha sido adotada jurisprudencialmente com fundamento na eqüidade, como resul-
tado de formulações distorcidas dos planos monetários denominados "Cruzado
Novo", em 1989 e "Collor", em 199024 •
O Supremo Tribunal Federal não tem conhecido de recurso extraordinário a
respeito dessa correção monetária por eqüidade entendendo que se trata de matéria
interpretativa de lei infraconstitucional.
Existe, todavia, pronunciamento da Suprema Corte quanto ao delicado o mo-
mentoso tema jurídico da alteração do padrão monetário, reconhecendo a execução
imediata das leis que a instituem, não se podendo opor a um novo regime legal da
moeda "limitações de direito adquirido ou do ato jurídico perfeito"25
Essa jurisprudência confirmou assim, o entendimento que o autor dessas notas
ex pendeu nas conclusões de um trabalho especialmente dedicado ao exame da
Reforma Monetária de 1990 e à retenção dos ativos líquidos por ela decretada:
"A raiz do equívoco está na insistência no setorial: não se está diante de matéria
tributária, nem de matéria civil, nem tampouco de intervenção no domínio econô-
mico.
A real natureza jurídica dos fenômenos examinados é monetária e, assim, seu
fundamento é constitucional e os princípios que lhes são aplicáveis não são encon-
trados nos Títulos VI e VII da Constituição, mas no Título III (art. 22, m, VI e VII).
Para que se possa afirmar a existência ou não de violação constitucional de uma
reforma monetária e do regime de conversão adotado, é preciso partir de conceitos
monetários constitucionais.
São, portanto, erros de percepção e de enquadramento sistemático que conduzem
às hipóteses de inconstitucionalidade."

12. A Reforma Monetária em Curso

A Reforma Monetária em curso, concebida e desenvolvida no Governo Itamar


Franco pela equipe do Ministro Fernando Henrique Cardoso, consubstanciada na
Medida Provisória nº 434/94, reeditada como Medida Provisória nO 457/94, leva a
crer que se direciona para a reentronização do nominalismo, na medida em que hUSlJ
o fim da inflação e a adoção de uma moeda forte pra o País, que, por isso mesmo,
dispensaria quaisquer índices.
Optou-se por um caminho gradual, com a escolha de um índice de grande
abrangência que seria usado como transição para se chegar a uma moeda estável e
o fim do regime inflacionário crônico.
O índice criado para esse efeito, a Unidade Real de Valor - URV, não teve,

24 O Provimento nO 6/93, da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro determinou


a inclusão nos cálculos da inflação expurgada por esses dois planos, no total de 238,76%.
25 RE nO 114.982, reI. Ministro Moreira Alves, DJ de 1° de março de 1991.

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porém, suficiente abrangência para evitar os erros cometidos nos Planos anteriores:
as obrigações continuam a receber tratamento diferenciado segundo sua natureza:
há obrigações em URV e há obrigações em cruzeiros reais e há, ainda, deflatores
para a conversão (art. 21, para salários, vencimentos e soldos; art. 22, para proventos
e pensões e art. 36. em geral, precedendo a emissão do real; aliás, o caso deste art.
36 é bem revelador da patologia econômica que resulta do manejo tecnocrático dos
índices, violando o princípio constitucional do direito adquirido).
A característica do novo Plano é a adoção provisória de um dúplice padrão
monetário no País: um padrão de valor - a URV, e uma moeda de pagamento - o
cruzeiro real, dissociando as duas principais funções da moeda: o padrão de curso
forçado e o padrão do valor. Essa situação deverá subsistir até a substituição do
cruzeiro real pelo real, quando, então, deixará de existir a URV e, espera-se, todos
os demais índices oficiais de valor. O que seria mais um indexador é, portanto, um
padrão monetário de valor, dissociado da moeda corrente, cumprindo-lhe as funções
de mensurador universal de valores econômicos. No interregno, até a adoção do real,
subsistem, entretanto, como já apontado, não obstante a URV, índices obrigatórios
e facultativos (setoriais) para a correção monetária de certos créditos (art. 11).
Para evitar a chamada "dolarização" da economia, que já se esboçava antes do
Plano em curso, tomou-se explícita a vedação de contratar-se reajuste vinculado à
variação cambial (art. 62 ). Isso deixou a impressão de que antes não existiria tal
vedação, pois ainda hoje há divergências na interpretação do Decreto-Lei n2 857/69,
que proscreve o pagamento em ouro ou moeda estrangeira, salvo nos casos que
excepciona, de financiamentos estrangeiros, de importação e exportação.

13. Perspectivas e Conclusões

O nominalismo é o princípio dominante nos países de sólida economia de


mercado. Sem ele, a própria prática da economia aberta se toma problemática e até
irrealizável.
O valorismo opera com simulacros de moeda, remendada por índices e por
reformas monetárias para poder sobreviver. A moeda está permanentemente em
estado de coma. Como ela é uma exceção patológica do nominalismo, vive-se, no
País que desgraçadamente a adota, à margem da normalidade e da estabilidade
monetária.
Hoje parece haver um consenso que este estado de coisas não pode prosseguir
e o forte exemplo dos países de sólida economia de mercado tem demonstrado à
saciedade que só a moeda estável e a proscrição da correção monetária podem
suportar uma economia forte e próspera e, mais que isso, um Estado e instituições
jurídicas confiáveis.
O Estado inflacionário, além de instável e ineficiente é, sobretudo, um Estado
imoral, pois permite-se a especulação em detrimento da produção.
O fim da correção é, por isso, a volta à legalidade, em seu sentido pleno, tal
como no-Ia apresenta Letácio Jansen:
"Essa maneira de ver a moeda é coerente com uma tradição que vem, desde

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Aristóteles, para quem a palavra nômisma, que significava dinheiro em grego, tinha
sua origem em nomos, que quer dizer Lei. Fiel a essa tradição, Molineu, no século
XVI, atribui a origem da palavra nominalismo a nômisma. Nominal, por tanto,
significa que é proveniente da Lei. Como norma e valor, na lição de Kelsen, são
conceitos correspectivos, norma legal corresponde a valor nominal. A moeda, como
um valor nominal, é uma norma legal." E prossegue o autor adiante:
"Foi o nominalismo que, aliado ao padrão-ouro nas relações financeiras inter-
nacionais, propiciou ao século XIX uma estabilidade, até então nunca vista, da ordem
econômica interna, protegendo o mercado das alterações monetárias tão freqüente-
mente condenadas pela burguesia nos séculos anteriores. Enquanto preconizava um
rígido nominalismo no plano das relações jurídico-econômicas internas, a burguesia
esperava-se em preservar o ouro, no plano externo, como padrão internacional. Para
compatibilizar esses dois princípios os governos mantinham parcialmente em circu-
lação (ou guardavam em depósito como lastro) os metais preciosos. "26
A correção monetária foi uma terapia de urgência que se transformou na própria
doença terminal. Ao nos livrarmos dela teremos acesso à comunidade econômica
mundial, que a desconhece e a vê até como curiosidade.
Apesar de seus equívocos e dos problemas técnicos que apresenta, deve-se
esperar que a Reforma Monetária em curso tenha todo o apoio da sociedade e do
Congresso Nacional que, de sua parte, deveria direcionar também a revisão consti-
tucional para a adoção plena de um rigoroso nominali~mo monetário, inclusive com
a instituição de um Banco Central independente, capaz de zelar pela moeda nacional
com a mesma autonomia e isenção com que o Supremo Tribunal Federal tem a seu
cargo zelar pela Constituição nacional.
Quem produz é a sociedade. O dinheiro é a expressão de seu produto econômico.
O Estado apenas administra. Administração Pública é mister de quem não é dono
mas tem a seu cargo gerir interesses alheios, definidos por lei como interesses
públicos. A moeda pertence à sociedade, enquando reflexo da sua economia; cabe
ao Estado administrá-la e não dela se assenhorear para finalidades estranhas à ordem
jurídica.

26 A Face Legal do Dinheiro. op. cit., pp. 134 e 140.

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