Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
br
Os Crimes Ambientais E A
Fiscalização Ambiental
1. INTRODUÇÃO
Esse dispositivo tem largo alcance na proteção ambiental, sobretudo por afirmar que
a responsabilidade ambiental se dá sob tríplice efeito: penal, administrativo e civil.
Em muito boa hora, a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, veio corrigir essas
deficiências, criando um sistema penal ambiental no qual os valores protegidos têm
razoável correspondência e equivalência. Hoje, há um sistema penal de proteção ao meio
ambiente condizente com os princípios internacionais consagrados, como dito acima, na
Constituição em vigor.
É oportuno que se diga que a Lei n. 9.605/98 não trata somente da tutela penal do
meio ambiente. O projeto aprovado disciplinava inteiramente o princípio da
responsabilidade ambiental, sob seus três aspectos. Vetos presidenciais apagaram quase
por completo normas que cuidavam de responsabilidade civil, em especial o art. 5.º.[7]
Restou pequeno conjunto de normas dedicadas à repressão administrativa e forte
preponderância de normas penais ambientais, tendo, por essa última razão, a lei sido
difundida, e hoje conhecida, como Lei de Crimes Ambientais.
Em verdade, a crítica não procede, pois a previsão de sanções penais para a ofensa a
valores ambientais por si só já se constitui em fato bastante sério, capaz de impor receio
nos infratores e intimidar condutas degradadoras.
Nos crimes em espécie, dita parte especial, a Lei de Crimes Ambientais segue
orientação doutrinária unânime na divisão do conceito jurídico de meio ambiente,
cuidando inicialmente dos crimes contra o meio ambiente natural, tratando dos crimes
contra o meio biológico (contra a fauna – arts. 29 a 37 – e contra a flora – arts. 38 a 53); a
seguir, ainda cuidando do meio ambiente natural, traz normas de proteção ao meio físico,
prevendo crimes de poluição e outros correlatos (arts. 54 a 61); os meios cultural e
artificial não foram esquecidos, sendo os crimes que ofendem esses valores ambientais
previstos nos arts. 62 a 65. Por fim, a Lei cuida de normas que tratam de ofensas à
administração ambiental, prevendo, inclusive, crimes próprios de funcionários públicos
nos arts. 66 e 67.
A complexa natureza das normas ambientais em geral, seu caráter difuso e a grande
mutabilidade dos valores a serem protegidos, envolvendo aspectos técnicos e ecológicos,
tornam impossível que a norma ambiental penal encerrasse todos os conceitos
necessários ao reconhecimento do injusto no próprio tipo penal. Isso porque a relação
homem-meio é inevitável, cotidiana e permanente, desde simples atos fisiológicos
corriqueiros até a produção industrial de bens de consumo destinados a satisfazer todas as
necessidades da sociedade moderna.
Nesse sentido, a doutrina aceita como normal e inevitável, não, porém, sem
advertências, a recorrência a normas administrativas ou conceitos extra-penais para a
definição da conduta reprovável e sancionada. Assim é que as normas penais ambientais
com freqüência recorrem a atos administrativos (por exemplo, a portarias que definem
espécies ameaçadas de extinção) ou a conceitos também oriundos do Direito
Administrativo, como licenciamento, permissões ou autorização ambiental. No primeiro
caso, as normas que se utilizam da recorrência a atos administrativos são classificadas
como normas penais em branco; no segundo, ao buscar complementariedade em
conceitos extra-penais, são denominadas normas de tipicidade aberta.
Vê-se, com isso, que em matéria de proteção penal ambiental há estreita relação entre
o Direito Penal e o Direito Administrativo. No que respeita à fiscalização dos crimes
ambientais, parece-nos oportuno tecer algumas notas relativas à complementariedade de
conceitos administrativos destinados a garantir a efetividade dos crimes ambientais.
Em todos esses casos, é razoável concluir que a maior ou menor eficácia do aparelho
estatal na repressão às condutas que violem a norma penal está diretamente ligada à
capacidade do Poder Público realizar os instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente, notadamente os de caráter controlador e repressivo.[13]
3. O MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público, além da ação penal pública de sua exclusiva titularidade, tem
como instrumentos o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.[17] Cabe ao
Ministério Público, diante da falta de estrutura administrativa e policial, valer-se de tais
instrumentos institucionais para melhor aplicação da lei penal, estando sempre alerta
quanto aos reflexos penais de condutas e atividades investigadas no âmbito civil.
Recomenda-se, mesmo, que as atribuições para investigação dos fatos negativos ao meio
ambiente sejam concentradas em um só órgão do Ministério Público, tanto no aspecto
civil e penal quanto no acompanhamento administrativo.
Verifica-se, assim, que a lei penal conferiu proteção relevante a ilícitos que ofendem
o meio ambiente em seus diversos aspectos: natural, artificial e cultural. Há uma estrutura
pública institucional no Brasil que, dotada de recursos materiais e administrativos,
implicaria, sem dúvida, em maior consecução dos valores protegidos na norma. Esse é,
contudo, um capítulo ainda a ser escrito na gestão ambiental pública no Brasil.
[1] Daniel Roberto Fink, Procurador de Justiça em São Paulo, membro do Conselho
Superior do Ministério Público, foi Coordenador do Centro de Apoio Operacional de
Urbanismo e Meio Ambiente MP/SP de fevereiro de 2003 a setembro de 2005; Promotor
de Justiça do Meio Ambiente da Capital de 1992 a 2002; Mestre em Saúde Ambiental
pela Universidade de São Paulo – FSP; Coordenador do Fórum Permanente de
Coordenadores de Centros de Apoio Operacional de Meio Ambiente; 2.º Vice-Presidente
da Associação Brasileira de Ministério Público de Meio Ambiente (ABRAMPA);
Professor de Direito Ambiental e do Consumidor na Faculdade de Direito do Centro
Universitário UniFMU; Professor nos cursos de pós-graduação lato sensu do Centro
Universitário UniFMU; Professor na Escola Superior do Ministério Público do Estado de
São Paulo; Professor na Escola Superior de Advocacia – OAB/SP; Professor na Escola da
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.
[2] Convenção sobre o Meio Ambiente, realizada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas, na cidade de Estocolmo, Suécia, de 5 a 16 de junho de 1972, e Convenção sobre
Diversidade Biológica, assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro, de 5 a 14 de junho
de 1992. (Dec. Leg. n. 2, de 3 de fevereiro de 1994)
[3] O princípio da responsabilidade ambiental é objeto de inúmeros dispositivos da Lei
n. 6.938/81, mas vem previsto, de modo expresso, no § 1.º do art. 14.
[4] § 3.º.
[5] Lei n. 5.197/67.
[6] Lei n. 4.771/65.
[7] Dispunha sobre a responsabilidade civil objetiva; vetado, remanesce a citada norma
do § 1.º do art. 14 da Lei n. 6.938/81.
[8] Art. 7.º, inc. I.
[9] FINK, Daniel Roberto; ALONSO JR., Hamilton; DAWALIBI, Marcelo. Aspectos
jurídicos do licenciamento ambiental. 3. ed. São Paulo: Forense Universitária, 2003.
[10] Lei n. 8.987/95, art. 2.º, inc. IV.
[11] Lei n. 8.987/95, art. 2.º, inc. II.
[12] Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer,
transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica,
perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as
exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos: Pena – reclusão, de 1 a 4
anos, e multa.
[13] Lei n. 6.938/81, art. 9.º – São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
inc. IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
inc. IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
[14] CF, art. 129, inc. I.
[15] Art. 26.
[16] No Estado de São Paulo, a estrutura existente limita-se a um Grupo de Investigação
vinculado ao Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DECAP).
[17] CF, art. 129, inc. III.