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Mente Curiosa - Ano 2, Nº 27 - 2018

PARA
APRENDER
MELHOR
Desde a gestação,

Curi sa
o desenvolvimento
da criança é
influenciado
pela música

TRATAMENTO
COMPLEMENTAR
Controle os transtornos
emocionais com a ajuda
da musicoterapia

OUCA MÚSICA!
Entenda como os sons podem melhorar a
concentração, a criatividade e a disposição
Põe uma
música, aí!
A música está presente em nossas
MÚSICA PARA A MENTE
Entenda como os sons estimulam
diferentes áreas do cérebro
vidas desde quando nascemos: na
canção para ninar cantada pelos
adultos, nos brinquedos educativos,
TRATE COM MÚSICA
Pessoas com transtornos
nos programas televisivos infantis. emocionais podem contar com
No colégio, canções de roda divertem a ajuda da musicoterapia
e ensinam, e ajudam até na hora de
decorar aquela fórmula de química. ESTÍMULO DESDE CEDO
Músicas agitadas dão o ânimo Desde a gestação, a música pode
influenciar no desenvolvimento
necessário para a hora do exercício
da criança
físico, músicas calmas são muito
bem-vindas quando precisamos APERTE O PLAY!
relaxar depois do trabalho. Dizem Conheça todos os benefícios de
que tem até música que ajuda nas ouvir boas canções no dia a dia
capacidades intelectuais, acredita?
Bom, os efeitos positivos dos
sons sobre as emoções já são bem
conhecidas empiricamente. Que tal
entender, então, o que acontece no
cérebro quando ouvimos uma
música agradável, e tudo o que
ela é capaz de fazer para o bem-
estar? Aproveite e monte uma
playlist para ouvir enquanto
lê as próximas páginas.
Boa leitura!

Marisa Sei, editora


marisa.sei@astral.com.br
Música
para a mente

Poucas

A
atividades música emociona, arrepia, traz lembranças alegres e tristes,
faz-nos refletir... Enfim, as notas musicais são capazes de pro-
conseguem vocar reações imediatas em qualquer ser humano. Muitos des-
mexer com ses estímulos são causados pela maneira como nosso cérebro
diferentes áreas apreende os sons, não somente pelo aspecto emocional, mas
do cérebro ao também como a musicalidade atinge o sistema nervoso. E esta afirmação
não é um exagero: a música é um dos poucos estímulos que atingem diver-
mesmo tempo sas áreas do cérebro humano – e até mesmo do organismo. “Dificilmente
como as notas existe uma função corporal que não seja afetada pelo som. A música de-
musicais mora um centésimo de segundo para ir do ouvido ao coração”, ressalta a
musicoterapeuta Maria Isabel da Penha Sinegaglia. Por conta disso, cien-
combinadas – e tistas se debruçam em pesquisas para entender o efeito da musicalidade,
isso pode ser principalmente no desenvolvimento das habilidades cognitivas. Entenda
ótimo para você como as notas mexem com a sua mente!
Fonte de estímulos lógicos confirmam que os homens pré-históri-
A música é uma prática humana presente cos conviviam com sons universais, experiência
em todas as culturas. Sua criação e seu signi- que nos proporcionou a capacidade de expres-
ficado variam de acordo com o contexto so- sar os sentimentos antes mesmo de termos as
cial em que está inserida, mas é considerada palavras”, complementa.
uma linguagem mundial, já que o conjunto Assim, para entender o poder da música,
harmônico de notas musicais pode ser reco- é necessário compreender que os estímulos
nhecido por qualquer pessoa onde ela seja externos recebidos pelo ser humano a todo o
executada, desde um samba no Brasil ou um momento são decodificados em determina-
mantra na Índia. dos locais do cérebro. “Existem regiões para
Por conta de sua capacidade de provocar decodificação da fala, da leitura e da escrita,
diversas reações fisiológicas que fazem a li- assim como existem áreas específicas envol-
gação direta entre o cérebro emocional e o vidas no reconhecimento de melodias, no re-
cérebro executivo, a música tem sido utiliza- conhecimento harmônico, no reconhecimento
da para fins terapêuticos desde os tempos rítmico, e outros pontos que fazem parte da
antigos. Isso porque, como explica a psicó- estrutura da própria música”, explica o neuro-
loga Márcia Ribeiro Mathias, as notas musi- logista Mauro Muszkat.
cais são inerentes à essência humana e têm No entanto, ao contrário de certos estímu-
acesso direto às emoções. “Estudos antropo- los mais “simples”, uma música possui melodia,
ritmo, harmonia, entre outros elementos, que
são apreendidos ao mesmo tempo pelo cére-
bro, fazendo com que diferentes áreas sejam
ativadas ao mesmo tempo. “Todo som provo-
ca estímulos no cérebro e no corpo. Entoando
vogais ou ouvindo uma música orquestrada,
você terá mais ou menos pontos acionados”,
salienta Maria Isabel.

Para a mente toda


Se a música é capaz de provocar estímu-
los em diversas áreas do sistema nervoso ao
mesmo tempo, o que ela pode proporcionar
para nossa mente? Mauro Muszkat explica que
as diferentes estruturas da musicalidade são
compreendidas por regiões distintas da men-
te, gerando reações variadas. “Existem áreas
mais especializadas na sequenciação do som
(em uma melódica), no entendimento rítmi-
co e também relacionadas à compreensão da
narrativa musical como um todo”, completa.
Um exemplo disso são os músicos instru- Mas a música não beneficia somente quem
mentistas. Para eles, a música é estruturada a executa. Toda canção possui elementos
como uma linguagem a partir de sua expe- que precisam ser apreendidos para que “fa-
riência prévia. Dessa maneira, eles são trei- çam sentido” em nossa mente – mesmo que
nados para perceber e produzir melodias seja uma composição simples ou considera-
específicas, harmonias consonantes e outros da ruim aos ouvidos. Por isso, explica Marcia
elementos de maneira racional e organiza- Mathias, ouvir música “estimula a região do
da. “Quanto mais experiência, mais domínio cérebro ligada ao raciocínio e a concentração,
você tem das áreas que estão se ocupando além de promover a criatividade”.
com isso. Em linha geral, além das áreas au- E não pense que somente músicas mais
ditivas, estão ligadas às regiões de consciên- “complexas”, como uma peça clássica, tra-
cia das áreas sensoriais do cérebro. Músicos zem benefícios ao cérebro. Mauro Muszkat
ouvem uma música e são capazes de pensar ressalta que composições baseadas no ritmo
espacialmente”, ressalta Mauro. tendem a organizar o movimento, já que in-
Isso implica na alteração do modo que es- duzem à dança e à coordenação. Já as músi-
tas regiões se comunicam. “Assim, o aprendi- cas organizadas com mais melodia levam a
zado de instrumentos musicais tem a função um estado mais reflexivo e de ambientação.
de promover a plasticidade neural e auxiliar “O canto gregoriano é um exemplo, porque
no tratamento das dificuldades de aprendi- ele é monocórdio, o que leva ao relaxamen-
zagem”, salienta Marcia. Tanto que estudos to”, cita o neurologista.
recentes divulgados pela revista médica Me-
dscape Medical New mostram que o apren-
dizado musical na infância pode mudar a
estrutura do córtex cerebral, o que traz be-
nefícios cognitivos para a memória e aten-
ção seletiva.
A capacidade de tocar instrumentos musi-
cais também leva ao desenvolvimento cere-
bral, principalmente da região associada às
habilidades motoras. Isso porque, para que
uma simples nota seja tocada em um piano,
por exemplo, ela deve ser decodificada pela
mente e enviar este sinal para as mãos. “Um
instrumentista aumenta a conectividade mo-
tora e a rapidez com que processa as ques-
tões de associação sensorial e motora. Ele
ouve uma coisa e dá uma resposta motora.
Por isso, hoje se estuda muito a questão de
que aprender música pode facilitar o proces-
samento de outras habilidades”, complemen-
ta o neurologista.
O importante é ouvir aberta, de vê-la como uma linguagem mais
Quando o assunto é música, sempre se ampla”, afirma. Para que a música realmen-
cai na questão de qualidade e de gosto. Para te traga o máximo de benefícios, é essen-
Mauro Muszkat, é necessário repensar esta cial que a pessoa tenha acesso a ela e crie o
atitude. “Tudo isso é uma questão de grada- maior repertório possível, a fim de que ela
ção. Precisamos sair dessa questão de que se torne uma experiência para a vida. “A
ouvir é um prazer ou um desprazer. Isso é experiência musical como um todo envolve
uma questão cultural de hábito, de se colo- uma linguagem, que envolve um vocabulá-
car diante da música com uma postura mais rio”, aconselha o neurologista.

“A música é um campo em que não


precisamos somente de cientistas,
mas também de músicos para
fazer esse diálogo, porque é uma
linguagem muito rica”
Mauro Muszkat, neurologista e neuropediatra
O CAMINHO DA MÚSICA um caminho complexo, que perpassa
Do momento em que é executada no aparelho diversas regiões. A partir disso, é possível
de som ou no instrumento musical até provocar entender porque ela mexe tanto com
as mais variadas reações, a música percorre nosso cérebro.

1 Do lado de fora
A música executada provoca vibrações sono-
ras resultantes do deslocamento das moléculas
2 Primeiros estímulos
“Daí, o destino é a cóclea, onde localizam-
-se as células receptoras de som transformando
de ar. Esse deslocamento causa movimentos dis- em sinais elétricos, que seguem para o córtex
tintos das células ciliares localizadas no ouvido auditivo através do nervo auditivo”, esclarece
interno, onde as ondas se propagam em um am- a psicóloga Márcia Ribeiro Mathias. Nessa área,
biente líquido. A intensidade dos sons está dire- localizada no lobo temporal, acontece o primei-
tamente relacionada ao número de fibras que ro estágio, a senso-percepção musical, em que
entram em ação, ou seja, quanto mais forte a o cérebro decodifica certas características do
música, mais fibras são “agitadas”. som, como timbre, altura, ritmo e contorno.

3 Da razão
para a emoção
O lobo temporal estabelece uma conexão com
o restante do cérebro em circuitos de ida e
volta. Uma dessas regiões é o hipocampo, res-
ponsável pela memória – por reconhecer os
elementos rítmicos e temáticos. Já o cerebelo
e a amígdala, além de proporcionarem a regu-
lação motora dos sons, também têm a função
4 Ritmo e cadência
Se as áreas temporais recebem e pro-
cessam os sons, certas regiões específicas
de atribuir valor emocional ao que escutamos do lobo frontal atuam na decodificação da
– alegria ou tristeza, por exemplo. Existe ainda estrutura das músicas e do tempo. O córtex
uma pequena área (núcleo acumbens) de massa motor, por exemplo, é responsável pelos mo-
cinzenta relacionado ao prazer e à recompensa vimentos e a sincronia entre corpo e mente,
que gera bem-estar quando ouvimos uma mú- como bater o pé ao ritmo de uma música, to-
sica de que gostamos. car um instrumento ou dançar.
Música por todos os lados
Os hemisférios do cérebro também conteúdo emocional e pelos timbres, a parte
processam as notas musicais de maneiras esquerda atua na identificação do ritmo, da
distintas. Enquanto o lado direito é métrica, da tonalidade, além das áreas de
responsável pelo contorno melódico, pelo linguagem e de sintaxe musical.

TEXTO E ENTREVISTAS Thiago Koguchi/Colaborador | CONSULTORIAS


Maria Isabel da Penha Sinegaglia, musicoterapeuta do Instituto
MATOBA, em Osasco (SP); Marcia Mathias, psicóloga, sexóloga,
psicopedagoga, hipnoterapeuta clínica, coach, presidente da Ahierj
(Associação de Hipnose do Estado do Rio de Janeiro) e vice-presidente da
ASBH (Sociedade Brasileira de Hipnose); Mauro Muszkat, neurologista,
neuropediatra, professor titular da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp)Elaine
CONSULTORIA e coordenador responsável do Núcleo de Atendimento
Souza, Fabiane
Neuropsicológico
Oliveira, Interdisciplinar
Flávia Brito (NANI) de
e Paula S. Madeira do Departamento de
Psicobiologia
Mello, da Unifesp | ILUSTRAÇÕES Shutterstock Images
psicólogas
Entenda o que é a
musicoterapia e em quais
situações e transtornos
ela pode ser aplicada

Trate com
música
A
o analisar a grande variedade de benefícios e
influências sobre a vida do ser humano, utili-
zar a música em tratamentos se mostra como
uma ótima alternativa. Desde meados dos
anos 40, a musicoterapia vem sendo estuda-
da a fim de se entender melhor os efeitos terapêuticos das
músicas para com o ser humano. O gatilho para esses estu-
dos se deu pela observação de que, na época, os soldados
feridos na Segunda Guerra Mundial que eram expostos a
apresentações musicais em seus leitos apresentavam recu-
peração muito mais satisfatória em relação aos que não ti-
veram acesso às composições. A partir disso, conferências,
grupos de estudos, associações e cursos de profissionaliza-
ção da técnica foram desenvolvidos em diversas partes do
mundo, fazendo com que a musicoterapia se tornasse uma
área especifica, com teorias e práticas particulares.
Notas que evoluem
Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia, a prática
“é a utilização profissional da música e seus elementos para
a intervenção em ambientes médicos, educacionais e coti-
diano com indivíduos, grupos, famílias ou comunidades que
procuram otimizar a sua qualidade de vida e melhorar suas
condições físicas, sociais, comunicativas, emocionais, intelec-
tuais, espirituais, e de saúde e bem-estar”.
A musicoterapia, enquanto ciência, estuda a relação entre som - ser
humano - som, apresentando inúmeras possibilidades de entendimento sobre
fenômenos que envolvem a música e, principalmente, sobre suas formas de ser
aplicada nas áreas clínico-terapêutica, educacional e social.
Trata-se, então, do uso da música num processo sistematizado e controla-
do por um profissional adequado, visando facilitar e promover a
comunicação, o relacionamento, a aprendizagem e a organiza-
ção de processos psíquicos de uma ou mais pessoas, recuperan-
do funções e desenvolvendo melhor seus potenciais.
“O profissional auxilia a pessoa a ampliar a sua qualidade de vida,
a sanar dificuldades, a desenvolver-se emocional, física ou socialmen-
te através da música, do ouvir, do cantar, do fazer. Isso tudo sem ter
que, necessariamente, saber tocar algum instrumento”, completa
o musicoterapeuta David Maldonado.

Cérebro transformado
Em termos neurológicos, sabe-se que a música (e, conse-
quentemente, seu uso como tratamento) tem a habilidade de
gerar neuroplasticidade cerebral. “Essa capacidade refere-se à
capacidade de algumas conexões cerebrais se reorganizarem,
ampliando as suas possibilidades, e criando novas conexões. Isto
gerará outras habilidades psicológicas”, explica o especialista.

Tratamento
A música pode ser aplicada em diversas áreas da saúde, pois ela
desenvolve na pessoa a alegria e a motivação. Nos
hospitais, pode ser aplicada desde a ala de pe-
diatria, traumas e até mesmo na oncologia.
Neste último caso, pesquisas vêm tentan-
do compreender o efeito do tratamento.
Cientistas do Programa de Oncobiologia
da Universidade Federal do Rio de Janei-
ro (UFRJ) expuseram uma cultura de cé-
lulas MCF-7, ligadas ao câncer de mama,
à meia hora da obra musical Quinta Sinfonia, pressão, estresse e Transtorno do Déficit de
de Ludwig van Beethoven. O resultado encon- Atenção e Hiperatividade (TDAH) podem se
trado foi que uma em cada cinco delas morreu, beneficiar. “No caso do TDAH, se a pessoa
enquanto outras tiveram uma considerável di- tem grande dificuldade em prestar atenção,
minuição em seu tamanho. A experiência abre aprender a tocar um instrumento fará com
uma nova frente contra a doença, por meio que a pessoa envolva toda a sua atenção na-
do uso de timbres e frequências. quele determinado instante, ampliando suas
“Àquelas pessoas que se encontram em potencialidades”.
uma situação de vazio, de solidão, causada Já nos casos de Transtorno do Espectro
pela doença ou por um momento, a música Autista, a música pode fornecer maior ex-
dá sentido a elas, transportando-as para ou- pressividade aos pacientes. “Por meio da mu-
tra realidade, onde não existe a doença”, co- sicoterapia, a pessoa autista pode se acalmar,
menta David. se organizar melhor e ampliar a atenção. Isso
Nas clínicas, pacientes com transtornos como ajudará no processo de aprendizagem de no-
Alzheimer, Parkinson, Síndrome de Down, de- vas capacidades”, finaliza David Maldonado.

Playlist com
10 músicas
para aliviar a
ansiedade (criada
por especialistas!)
ww .altoa stra l.com.br/
https://w ir-a-ansiedade/
-d im inu
playlist-musicas
TEXTO Jéssica Pirazza/Colaboradora | ENTREVISTAS Vitor Manfio/
Colaborador | CONSULTORIA David Maldonado, musicoterapeuta da
Musiclin - Clínica de Musicoterapia | FOTOS Shuttertock Images
Estímulo
desde cedo
Entenda como as melodias podem
influenciar no desenvolvimento e
aprendizado durante a infância

A
infância é o período em
que se aprende gran-
de parte das coisas que
são levadas para a vida.
Cientistas relatam que a
estimulação que bebês e crianças pe-
quenas recebem determina quais cir-
cuitos cerebrais serão ligados entre si.
Quando uma conexão é usada repe-
tidamente nos primeiros anos, ela se
torna permanente e isto influencia no
desenvolvimento intelectual e afetivo
da criança. As experiências musicais na
fase infantil possuem grande impor-
tância para o desenvolvimento de ha-
bilidades em diversas áreas. “Por meio
da música, as crianças aprendem a co-
nhecer a si próprias, aos outros e à vida
e são mais capazes de desenvolver e
sustentar a sua imaginação e criativi-
dade”, explica a cantora e professora
de musicalização Fabiana Godoy.

Na gestação
O desenvolvimento cognitivo, social
e emocional de uma pessoa começa a
partir do útero e se dá por meio das
sinapses, conexões que os neurônios
fazem entre si. Embora várias partes
do cérebro se desenvolvam em velo-
cidades diferentes, estudos mostram
que o período de produção máxima
das sinapses começa ainda no útero e
segue até os três anos de idade.
Por volta do quinto mês de gesta-
ção os bebês já possuem o aparelho
auditivo desenvolvido e, ao estimular
seus órgãos, a atividade cerebral é au-
mentada. É por isso que, nesta fase, se-
gundo Fabiana, os pais e mães podem
– e devem – oferecer ao bebê conta-
to com músicas, proporcionando um
ambiente musical de qualidade na ro-
tina das crianças. “O cérebro do bebê
se desenvolve melhor com os estímu-
los de seu meio ambiente”, destaca a
profissional.
“Os circuitos formados
no cérebro influenciam o
desenvolvimento infantil,
portanto, uma criança que tem
o contato com a música em seu
ritmo diário terá musicalidade
e todos os seus benefícios
durante o amadurecimento”
Efeitos no cérebro
A música faz com que o cérebro libe-
re endorfinas e serotoninas, proporcio-
nando prazer e sensação de bem-estar.
Ela fala diretamente com a região res-
ponsável pelas emoções e pode ser usa-
da no combate de diversos problemas
de saúde como ansiedade e dores crô-
nicas. Reconhecendo o poder da mú-
sica, surgiu a musicoterapia, prática
que utiliza músicas, sons e movimen-
tos com fins terapêuticos.
Além disso, sabe-se, também, que a
música facilita a conectividade de áre-
as cerebrais envolvidas com processos
motores e de linguagem – seja tocan-
do um instrumento ou simplesmente
ao apreciar ativamente uma canção.
“Crianças que têm contato frequente
com a música potencializam o desen-
volvimento auditivo, motor, cognitivo,
social, da atenção, autoestima, da me-
mória e dos raciocínios lógico e abstra-
to”, explica Fabiana.

Benefícios do som
Os estudos relacionados com a in-
fluência da música no desenvolvimen-
to infantil mostram diversos efeitos.
Uma pesquisa realizada pela Univer-
sidade Long Island, nos Estados Uni-
dos, avaliou, em duas escolas, grupos
de crianças que estudavam piano. O
acompanhamento durou três anos e,
durante esse tempo, foram feitas com-
parações com alunos que nunca pra-
ticaram estudo musical. O resultado
sugeriu que as crianças que aprendiam
música possuíam um vocabulário mais
amplo e melhor do que as demais.
A proximidade da música e a absorção de informações, isto é, o aprendizado, tam-
bém é evidente. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, ana-
lisaram alunos que receberam aulas de música e perceberam que, ao realizar testes de
proporções e frações, apresentavam resultados de 15% a 41% superiores em relação às
outras crianças.
Além dos inúmeros pontos a favor no desenvolvimento cerebral, a combinação de
ritmo, melodia e harmonia também ajuda a fortalecer a relação afetiva entre as pesso-
as. “Os bebês precisam de ambientes interessantes para explorar, com pessoas que res-
pondam às suas necessidades emocionais e intelectuais. É necessário cantar para eles,
conversar, embalar e ler. As canções e as músicas desenvolvem a capacidade cerebral
dos bebês, fazem parte das unidades básicas do aprendizado futuro”, analisa Fabiana.

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musicoterapia-bebe-antes-depois-parto/

música para
Use a
acalmar o bebê
antes e depois do parto!

TEXTO Jéssica Pirazza/Colaboradora | ENTREVISTA


Augusto Biason/Colaborador | CONSULTORIAS Fabiana
Godoy, cantora e professora de musicalização para bebês
no Projeto Ninho Musical (www.ninhomusical.com.br) |
FOTOS Shutterstock Images
Aperte o play
e beneficie-se!
Confira algumas das
diversas vantagens
promovidas pela música

N
as rádios, na televisão, na rua,
no cantarolar de qualquer pes-
soa... A música está presen-
te em praticamente todos os
momentos da nossa vida. Com
poder de marcar momentos, arrepiar, fazer
chorar, rir, encorajar, animar, encantar ou
até mesmo confortar, ela fala alto ao co-
ração, à subjetividade. “Somos estimula-
dos, a todo instante, pela música. Ela nos
faz dançar, cantar, recordar, nos transforma
em crianças novamente. Quando nos depa-
ramos com instrumentos musicais ao qual
não sabemos tocar, ela dá lugar ao nosso
espírito curioso, à jovialidade, abre canais
de comunicação e nos torna abertos às ex-
periências terapêuticas”, acrescenta o mu-
sicoterapeuta David Maldonado.
Com tantos efeitos no ser humano, sua
influência foi e continua sendo muito es-
tudada, sempre buscando comprovações
científicas. Ligue um som ambiente e confi-
ra, nas páginas a seguir, alguns dos (vários)
benefícios em ouvir suas músicas preferi-
das e em aprender a tocar um instrumen-
to musical.
Promove o bom humor
Não há dúvidas que ouvir uma música animada influencia no humor da rotina. Como fala
diretamente com o sistema límbico do cérebro (área responsável pelas emoções), a música
ajuda a relaxar e promover uma sensação de bem-estar, pois faz com que o cérebro libere
endorfinas e serotoninas, substâncias químicas conhecidas como “hormônios da felicidade”.

Causa boas alterações fisiológicas


Um estudo divulgado pela American Music Therapy Association (AMTA), nos Estados
Unidos, provou que a música causa mudanças no organismo humano. Dependendo do rit-
mo, ela pode acalmar a respiração ou torná-la mais ofegante, baixar ou aumentar a pressão
sanguínea, e até mesmo controlar os batimentos cardíacos. Dessa forma, transtornos como
depressão, estresse, ansiedade e insônia podem ser combatidos com a ajuda das melodias.
Potencializa conexões sociais mos, notas e timbres) tem a capacidade de
Presente em todas as culturas ao redor do desenvolver e estimular mais formações si-
mundo, a música é considerada linguagem nápticas em diversas áreas do córtex cere-
universal – qualquer pessoa pode compor bral”, explica o professor de psicologia Carlos
algo usando criatividade. “Todos reagimos Garcia.
aos sons. Eles mexem conosco, atingem as Uma pesquisa realizada na Universidade
áreas mais íntimas da nossa vida, tocam as Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou di-
emoções e atingem a razão, nos fazendo sen- ferenças estruturais no cérebro de músicos
tir diferentes”, aponta David. Por consequên- de alta performance. No estudo, 38 músicos
cia, nos leva a expressar melhor sentimentos
e emoções, melhorando a comunicação com
os próximos.
Um estudo de neurociência realizado na
Grã-Bretanha revelou que dançar e cantar
em conjunto com outras pessoas colabora no
altruísmo e coletividade. Isso porque quan-
do você se move em sincronia com alguém,
começa a criar sensações de percepção de si
mesmo que fazem pensar que o outro é pa-
recido com você e que compartilha de opini-
ões parecidas. Com isso, cria-se uma conexão
emocional, facilitando o convívio em socie-
dade.

Intensifica a atenção
A música, ao ser ouvida de forma
absoluta, não automática, ajuda a
desenvolver a atenção, capacida-
de importante no dia a dia.
“O estímulo contínuo à
música e a audição
atenta dela (per-
cebendo rit-
e 38 não-músicos foram submetidos a testes so é estimulante para os neurônios”, apon-
neuropsicológicos de atenção visual, memória ta David.
visual e de tempo de reação simples. Como Publicado na revista científica americana
resultado, o primeiro grupo apresentou me- Cerebral Cortex, o estudo do pesquisador Pe-
lhor desempenho nos exames, indicando di- ter Janata, da Universidade da Califórnia, mo-
ferenças significativas entre as capacidades nitorou a atividade cerebral de voluntários
de atenção, memória e concentração. enquanto ouviam música e concluiu que a re-
gião do cérebro associada aos sons – o córtex
Colabora com a memória pré-frontal – também está associada às me-
A música estimula a memória e, por conse- mórias mais intensas das pessoas. O resulta-
quência, a inteligência. “Ao nos lembrarmos do dessa pesquisa colabora na explicação da
de determinada melodia, ela é reproduzida capacidade das melodias em despertar for-
em nossa mente, quase sempre como se es- tes reações em pessoas com Alzheimer, pois
tivesse sendo realmente executada. Quem a região ativada durante o experimento é
nunca ficou com uma música na cabeça por uma das últimas áreas do cérebro a se atro-
várias horas ou até mesmo dias? Este proces- fiar à medida que a doença progride.

Felicidade em forma de canção


Um neurocientista da Universidade de Groningen
(Holanda) assumiu a difícil tarefa de descobrir qual
a música que suscita melhores sensações no cérebro
de quem a escuta. O estudo, encomendando pela
empresa britânica que produz produtos eletrônicos,
a Alba, consultou mais de 2 mil pessoas.
Os participantes selecionaram cerca de 126 músicas
dos últimos cinquenta anos que consideravam mais
alegres. O pesquisador pôde perceber que, apesar
da diversidade de respostas, em todas as canções
existiam pelo menos três padrões: acordes maiores,
ritmo acelerado (com mais de 150 batidas por
minuto) e letras alegres. Segundo a ciência, esses
três pontos determinam a “alegria de uma canção”.
Como resultado final, a música descoberta e revelada
como a “mais feliz do mundo” foi o famoso hit de
1978, Don’t Stop Me Now, da banda britânica Queen.
Além dela, outras composições também entraram
na lista, como Dancing Queen, do grupo sueco
ABBA, Good Vibrations, dos americanos Beach
Boys, e Uptown Girl, do músico norte-americano
Billy Joel. Agora você já sabe – quando estiver em
um momento triste, coloque uma dessas músicas e
aumente o volume!
Ameniza dores físicas indicou que ouvir música no ambiente de tra-
Realizada pela Cleveland Clinic Founda- balho melhora a produtividade do funcioná-
tion, nos Estados Unidos, e divulgada pelo rio. O estudo, que contou com profissionais
Journal of Advanced Nursing, uma pesquisa do setor de tecnologia, apontou que, em ge-
comprovou que ouvir música pode ter efei- ral, aqueles que costumavam ouvir canções
tos positivos em tratamentos de dores crô- finalizavam seus afazeres com mais rapidez e
nicas. Os cientistas responsáveis testaram a apresentavam melhores ideias, além de ter o
utilização de música em 60 voluntários que, humor melhorado, o que colaborou com me-
há mais de seis anos, vinham sofrendo com lhores tomadas de decisões.
problemas como osteoartrite, hérnia de dis-
co e artrite reumática. A constatação do es-
tudo foi uma redução dos níveis de dor em
21% entre os participantes. Além disso, a
pesquisa indicou que o índice dos pa-
cientes acometidos por depressão
em consequência da dor crônica
diminuiu cerca de 25%.

Instiga a produti-
vidade e criatividade
Ao contrário do que mui-
tos podem imaginar, a músi-
ca, aliada ao trabalho, pode
colaborar com a produtivida-
de e a criatividade. O grande
empresário e personalidade do
mundo tecnológico Steve Jobs, co-
fundador da empresa Apple, inclu-
sive, era adepto dessa união.
Esse fato foi confirmado com a
publicação da pesquisa realizada
na Universidade de Miami, nos Es-
tados Unidos, que
Ajuda a curar dores emocionais
Quem nunca ouviu uma música triste em algum mo-
mento sofrido da vida em que se encontrava chatea-
do, que atire a primeira pedra. Segundo a ciência, essa
atitude pode realmente fazer com que a pessoa se sin-
ta melhor. Isso porque as melodias tristes não induzem
dor emocional, mas apresentam, na verdade, um am-
plo espectro de sentimentos para quem as ouve. Foi o
que mostrou um estudo realizado por pesquisadores
da Freie Universität, em Berlim, e que contou com a
participação de 772 pessoas do mundo todo.
Quando solicitados a descreverem suas sensa-
ções e emoções ao ouvir uma música triste, a
maioria dos participantes (76%) citou a nos-
talgia como primeiro sentimento. Em segun-
do e terceiro lugares foram a tranquilidade
e ternura, com cerca de 57% e 51%, respec-
tivamente. A tristeza foi citada após isso,
com menos de 45%, seguida da ado-
ração, com 38%. Com esses resulta-
dos, os pesquisadores puderam
perceber que esse tipo de músi-
ca oferece recompensas cog-
nitivas diferentes da tristeza,
instigando a imaginação, a
empatia com o músico – fa-
zendo com que você se sin-
ta menos sozinho – e, por
fim, a regulação e “ventilação”
das emoções, ajudando a encarar a realidade
e seguir em frente.

TEXTO Jéssica Pirazza/Colaboradora | ENTREVISTAS Jéssica Pirazza e Vitor Manfio/


Colaboradores | CONSULTORIAS David Maldonado, musicoterapeuta da Musiclin - Clínica
de Musicoterapia; Carlos Gustavo Garcia, professor do curso de Psicologia da Anhanguera
de Niterói (RJ) | ILUSTRAÇÕES Shutterstock Images

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