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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/GAP PROCESSO Nº 30.280/15


ACÓRDÃO

N/M “TREVO NORDESTE”. Encalhe de navio mercante graneleiro, sem registro


de danos pessoais, materiais e de poluição ambiental. Aparecimento de forte
nevoeiro obrigando o navio a realizar fundeios sucessivos que resultou na saída do
navio do canal da Feitoria. Arquivamento.

Vistos os presentes autos.


Trata-se de analisar o acidente da navegação, envolvendo o N/M “TREVO
NORDESTE”, propriedade da Navegação Aliança Ltda, que estava navegando de Porto Alegre
com destino a Rio Grande, próximo do Canal da Feitoria, Lagoa dos Patos, RS, quando, no dia
27/04/2015, por volta das 10h30min, ocorreu o encalhe após uma manobra de fundeio em
virtude de nevoeiro, sem registro de danos pessoais, materiais e de poluição ambiental.
Dos depoimentos colhidos e documentos acostados extrai-se que o N/M “TREVO
NORDESTE”, com 101,38 metros de comprimento e 2.084 AB, sob o comando do Comandante
PLF Jorge Ramão Vareira Medeiros, saiu de Porto Alegre no dia 26/04/2015, às 09h12min com
destino ao Porto de Rio Grande. No início dia 27/04, quando a embarcação navegava no canal da
Feitoria, na Lagoa dos Patos o Comandante da embarcação decidiu fundear, por motivo de baixa
visibilidade. Passado o nevoeiro, o navio suspendeu o ferro e às 07hs reiniciou a viagem,
entrando no canal da Feitoria.
Todavia, a visibilidade voltou a ficar restrita e o navio precisou fundear novamente
próximo do local que se encontrava. Quando houve uma melhora na visibilidade o navio
suspendeu e prosseguiu com sua viagem, mas, repentinamente baixou um novo nevoeiro, porém,
não deu tempo do navio chegar até uma posição segura de fundeio e decidiu fundear próximo do
local onde a embarcação se encontrava.
Às 10h30min, houve melhora nas condições climáticas, e ao suspender o ferro do
navio para seguir viagem, o Comandante percebeu que a embarcação estava encalhada, foram
feitas inúmeras tentativas de desencalhe, mas sem êxito, e ali o navio permaneceu por
aproximadamente 30 horas.
No dia 28/04, às 13h09min, com o auxílio do navio “RIO GRANDE DO SUL”, o
“TREVO NORDESTE” conseguiu desencalhar e seguiu viagem até o Porto de Rio Grande, onde
às 18h33min atracou no Terminal Tergrasa sem anormalidades.
As condições meteorológicas apresentadas no momento do encalhe era de vento
sudoeste/sudeste com intensidade de 5 a 11 nós. Houve observação de nevoeiro durante toda a
manhã do dia 27/04, com visibilidade variando entre restrita (entre 0 e 1 km), moderada (entre 4

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e 10 km) e boa (acima de 10 km), segundo Boletim de Informação Ambientais, emitido pelo
Centro de Hidrografia da Marinha
Durante o inquérito foram ouvidas 03 testemunhas, que em seus depoimentos
relatam os fatos como narrados acima, acrescentando que a causa principal do encalhe foi
motivada pela existência de um forte nevoeiro e a correnteza de enchente.
O Laudo de Exame Pericial concluiu que a causa determinante do encalhe do N/M
“TREVO NORDESTE”, foi devido ao forte nevoeiro que baixou repentinamente no local onde o
navio navegava, dificultando a visibilidade e obrigando o Comandante a fazer um fundeio de
emergência com navio, e apesar dos equipamentos de navegação do navio estarem funcionando
normalmente, a navegação nestas condições de baixa visibilidade no canal da Feitoria se torna
bastante restrita e perigosa, pelo fato do mesmo ser muito estreito.
Documentação de praxe anexada.
No Relatório, o Encarregado do Inquérito após resumir o depoimento de 3
testemunhas, descrever a sequência dos acontecimentos e analisar os dados do Laudo Pericial e
os depoimentos concluiu que não há possível responsável a apontar pelo acidente em tela, haja
vista, que o encalhe do Navio “TREVO NORDESTE” ocorreu devido ao local onde se
encontrava navegando ter ficado sob a influência de forte nevoeiro, restringindo repentinamente
a visibilidade, obrigando o Comandante da embarcação a fazer um fundeio de emergência,
próximo do local onde navegava, vindo a sair do canal e a encalhar a cerca de 40 metros fora do
limite do canal da Feitoria. Concluindo, portanto, que este acidente da navegação deve ser
caracterizado, como “FORTUNA DO MAR”.
A D. Procuradoria opinou pelo Arquivamento do presente IAFN, eis que à luz do
que restaram produzidos na fase investigativa do acidente da navegação em comento, os
elementos juntados nos autos não se caracterizaram como justa causa apta a motivar nenhuma
acusação. Registrou a necessidade de fundeio de emergência realizado pelo Comandante do
“TREVO NORDESTE” em decorrência das condições climáticas.
Publicada nota de arquivamento, os prazos foram preclusos sem que interessados se
manifestassem.
Decide-se.
De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e extensão do
acidente da navegação em análise, tipificado no art. 14, alínea a, da Lei nº 2.180/54, ficaram
caracterizadas como encalhe de navio mercante graneleiro, sem registro de danos pessoais,
materiais e de poluição ambiental.
A causa determinante foi o aparecimento de forte nevoeiro obrigando o navio a
realizar fundeios sucessivos que resultou na saída do navio do canal da Feitoria.
Analisando-se os autos, verifica-se que o N/M “TREVO NORDESTE” navegava de

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Porto Alegre em direção a Rio Grande. Durante a navegação o Comandante realizou diversos
fundeios, todos motivados pelo forte nevoeiro que assolou a região durante o percurso. No
último fundeio em face das condições climáticas adversas, e dificultando cada vez mais a
visibilidade, obrigou o Comandante a fazer um fundeio de emergência, e apesar dos
equipamentos de navegação do navio estar funcionando normalmente, a navegação nestas
condições de baixa visibilidade no canal da Feitoria se torna bastante restrita e perigosa, pelo
fato dele ser muito estreito, e por esta razão o navio encalhou em um ponto fora do canal da
Feitoria, revestindo de fortuidade o acidente da navegação.
Pelo exposto, deve-se julgar procedente o pedido de arquivamento formulado pela
PEM.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza
e extensão do acidente da navegação: encalhe de navio mercante graneleiro, sem registro de
danos pessoais, materiais e de poluição ambiental; b) quanto à causa determinante: aparecimento
de forte nevoeiro, obrigando o navio a realizar fundeios sucessivos que resultou na saída do
navio do canal da Feitoria; e c) decisão: julgar o acidente da navegação, previsto no art. 14,
alínea a, da Lei nº 2.180/54, como de natureza fortuita, mandando arquivar os autos do Inquérito,
conforme promoção da PEM.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 19 de setembro de 2017.

GERALDO DE ALMEIDA PADILHA


Juiz-Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 12 de dezembro de 2017.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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2018.03.14 11:03:23 -03'00'

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