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Mato Grosso

Historia

Mato Grosso
Material catalogado pelo Historiador José Wilson Tavares, tendo como origem os escritos de diversos
historiadores. Tendo resguardado as fontes dos textos, agradecemos aos web sites:
http://www.mteseusmunicipios.com.br e http://www.coisasdematogrosso.com.br . Assim, tenho a
intenção de contribuindo com a divulgação da Rica Historia de nosso Estado e na formação de nosso
futuro cidadão Brasileiro.
Historia de Mato Grosso 2

Sumário

A Evolução da Ocupação e Povoamento 04


Período Espanhol 07
A Conquista e o Povoamento – o Pioneiro 14
Processo Histórico da Ocupação 18
Sistema de Sesmaria 26
O Povoamento 29
Primórdios cuiabanos 31
Vila Bela da santíssima Trindade a Antiga Capital 33
A Capitania 35
Povoamento Setecentista 37
... e seus Desdobramentos 39
O Primeiro Império 41
O Segundo Império 43
A Primeira República 46
A Segunda República 49
Guerra no Rio da Prata 52
Artesanato Matogrossense 55
Folclore e manifestações Populares 60
Definindo Termos 67
Referencia Bibliográfica 69
Historia de Mato Grosso 3
Historia de Mato Grosso 4

A Evolução da Ocupação e Povoamento


Considerações sobre a estrutura Municipalista1

Inicialmente Mato Grosso viveu um longo período etno-histórico, onde


tribos indígenas dominavam todo o território. A organização social variava de tribo
para tribo, conforme padrões para familiares. Sabemos apenas uma pequena parte
da história tribal, a atual, pois a grande etno-história se perdeu no tempo.
Três estruturas políticas compõem a tribo: a religiosa, a cultural e a
governamental. Por vezes uma pessoa abarca mais de uma estrutura.
Projetamos sobre os povos indígenas a nossa estrutura de nação.
Forçamos mesmo os povos indígenas a criarem poderes inexistentes numa tribo.
Não existe um governo geral central em tribo indígena, se bem exista a tribo em
termos culturais. O governo se restringe à aldeia.
Na aldeia encontramos os poderes plenos: o Judiciário, o Legislativo, o
Executivo, como o Religioso.
Por nossas exigências inatas, os povos indígenas estruturam, para mais
adequadamente se relacionarem conosco, os poderes de grandes capitães e chefes,
com decisões regionais, tribais. Muitas vezes nascem governos paralelos: um, o
tribal, para o comum da vida indígena, outro, o postiço, para satisfazer os não índios.
Pelo que conhecemos a perspectiva municipal não foi apresentada ainda
nos estudos dos povos indígenas. Parece navegarmos em mares novos.
A descrição ou enumeração das aldeias indígenas varia em curto prazo,
nos dias de hoje, devido às influências dos não índios e ao próprio movimento
aculturativo interno dentro de um povo indígena. Por esse motivo, o que
apresentamos aqui são informações de um determinado tempo apenas. Nem existe
trabalho em grande estilo sobre o histórico das aldeias: O que se escreveu são
informações pontuais de aldeias em determinado tempo.
Nas estruturas maiores, dos grandes universos dos reinos, impérios e
repúblicas, vamos encontrar variantes de noção e definição de município. Vivemos
período espanhol, Português e brasileiro.

1
Fonte: www.matogrossoeseusmunicipios.com.br - FERREIRA, João Carlos Vicente
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A partir da colonização portuguesa, o direito de criar municípios pertencia


ao poder central, até que no Segundo Império este poder passou a ser regional.
Primeiro a Província, e depois o Estado, já nas Repúblicas.
O município gozava de autonomia até a criação da Província de Mato
Grosso, no Império. O município passou a deter menos poder daí para frente, até a
Constituição de 1988, quando o poder municipal ganhou terreno.
Quem detém o poder de criar município, também tem o poder de dispor de
alterações, como de sede, de território, de extinção de restauração.
O instrumento legal utilizado para a criação e alterações de municípios
variou no correr dos tempos: alvará, lei, decreto-lei, decreto.
Na República, além da simples criação de município, ocorreu
encampação. Na encampação, o Estado criará município por extinção de outro.
Assim ocorrerá alteração de denominação e de sede municipal. O território
permanecerá o mesmo, sem mudanças.
No estudo das criações de municípios, se pode encadear a sucessão de
municípios e agrupar alguns municípios em termos de geração, pois o município
novo procede de outro.
Se bem que o ato de criação provenha de poder maior que o municipal.
Alguma relação de geração ocorre de um município para outro, pois o município
novo provém de um território preexistente, do qual foi destacado. Atualmente, por via
de regra, um município novo provém de um distrito já existente. Nas leis atuais, se
nota a geração pela posição dos nomes dos municípios, que dão origem ao
município novo, no caso de agrupamento de seções de territórios de mais de um
município, para a criação de um novo: o primeiro nome é do município, que gerou.
No documento oficial de criação de um município, não se usa o termo de
geração, mas de desmembramento. Mas de certa forma, existe uma causalidade de
transmissão de vida municipal. O município gerador arca com as despesas e
providências de manutenção do município gerado, enquanto este não tenha
funcionando os detentores do poder municipal, nem da Câmara e nem da Prefeitura.
No município gerador ocorrem movimentos emancipadores e se realiza o plebiscito,
para se saber a vontade do povo, a respeito da emancipação política e
administrativa.
Como vista geral, é preciso ressaltar a influência do clima nos trabalhos
de implantação de colonizações. Sabido é que o Calcanhar de Aquiles de Mato
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Grosso sempre foi o povoamento. Do povoamento depende não só a produção


maior ou menor, como o destino político, pois quem detém maior número de votos
decide para que lado o movimento da sociedade caminha.
Por largo período histórico, Mato Grosso sempre lutou para ultrapassar a
quota de um habitante por quilômetro quadrado.
Mato Grosso, a partir de 1948, adotou, por período de governos seguidos,
a política agressiva de colonização, como forma de adensar o povoamento,
conciliando, ao mesmo tempo um aumento de divisas.
Além dos óbices sociais inerentes aos programas colonizadores em si, o
clima se mostrou adverso.
O extremo norte do Estado recebe chuvas quase o ano inteiro, dificultando
sobremaneira a movimentação por estradas não pavimentadas. No resto do Estado,
com maior ou menor período de meses de chuva, ocorrem precipitações torrenciais,
concentradas nos meses de fim e começo de ano. As estradas não pavimentadas
ficam intransitáveis. O desconhecimento desta situação implicou em sacrifícios
adicionais ao processo de assentamento colonizador, muitas vezes com o
estrangulamento dos esforços.
Neste ensaio, as influências históricas que formaram os municípios serão
expostas de modo global. Serão indicados os municípios afetados pelas influências
da época, em conjunto. Nesse quadro geral, serão contemplados os municípios dos
atuais Estados de Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul. O chamado Mato
Grosso Uno.
Os períodos históricos compreendidos são: o espanhol, período de
Capitania, período do Primeiro Império, período do Segundo Império, período da
Primeira República e período da Segunda República.
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Período Espanhol

Para que se possa compreender melhor a ocupação, por elementos de


etnia européia em terras mato-grossenses, a partir do início do século XVIII, é
preciso que façamos um retrospecto suscinto acerca deste processo. Foi a partir
desta época que começaram a surgir as primeiras povoações, que iriam compor o
futuro Estado de Mato Grosso.
A partir do descobrimento das "Minas de Cuyabá", por bandeirantes
paulistas, que a bem da verdade procuravam povos indígenas para escravização,
desenvolveu-se o período colonizador de nova fronteira sob a dominação
portuguesa. O descobrimento do ouro despertou maiores interesses por esta imensa
região, que de fato e de direito não pertencia ao trono lusitano e sim ao espanhol,
por força do Tratado de Tordesilhas, assinado em 07 de junho de 1494. A linha
divisória dos dois reinos na América do Sul cortava a Ilha de Marajó, os rios
Tocantins e Araguaia, a extremidade ocidental do Distrito Federal, o Triângulo
Mineiro, os arredores da cidade paulista de Bauru, a região entre Curitiba e
Paranaguá, no Paraná e pouco mais ao sul a catarinense cidade de Laguna. Mato
Grosso, a oeste dessa linha, era território espanhol.
Ao tempo da assinatura desse Tratado, que dividia o mundo em duas
partes, uma portuguesa e outra espanhola, estas terras, ditas mato-grossenses eram
ocupadas por incontáveis nações indígenas, contabilizando-se milhares de vidas
humanas, vivendo em um mundo à parte, revestido de magníficas florestas, rios e
vales, onde abundava, fácil, o alimento.
Como bem se expressou o artista plástico Maurílio Barcellos, em seu
opúsculo Revisitando a América, edição 1992, - “... A América não era um imenso
vazio continental, onde viviam alguns bandos de índios selvagens, primitivos,
canibais e sem cultura, como quiseram fazer acreditar conquistadores europeus e
colonizadores. Era um mundo diferente de tudo que se conhecia. Possuía sua
própria ordem de coisas, sua natureza e sua humanidade que no decorrer dos
milênios, desenvolvera um universo social, cultural e econômico, distinto sob todos
os aspectos, dos rumos trilhados pelos homens do Velho Mundo. Havia uma
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civilização indígena por todo o continente, com toda sua diversidade, e em diferentes
estágios de desenvolvimento. Havia uma multiplicidade de formas de organização
cultural, social, econômica e política... A América constituía-se num incrível mosaico
de povos, línguas e culturas, plenamente habitado... Inumeráveis povos distribuíam-
se por todas as regiões do continente, adaptados desde milênios às diferentes
condições de cada região, e cuja maioria foi literalmente exterminada no decorrer
destes quinhentos anos pelos conquistadores e colonizadores".
O Tratado de Tordesilhas, ao estabelecer uma linha imaginária no globo
entre as porções castelhanas e lusitanas, mudou radicalmente o cenário do mundo
"descoberto e por descobrir". Sua assinatura, entre os reinos de Castela (Espanha) e
Portugal, deveu-se ao latente Estado de Guerra que viviam estas potencias ibéricas,
notadamente na segunda metade do século XV, motivado, especialmente pelo
domínio das rotas de comércio marítimo. O primeiro Tratado entre as duas potências
foi assinado em 1480, na cidade de Toledo, sob intermediação do Papa. O acordo,
que dividiu o mundo entre duas potências pela primeira vez, foi feito em sentido dos
paralelos: ao norte das Ilhas Canárias, incluídas, ficava a área de Castela, ao sul,
incluindo Açores e Madeira, ficava o domínio de Portugal. Desta forma criou-se ao
norte um hemisfério espanhol, e ao sul um hemisfério português. Regozijaram-se os
portugueses, que garantiram o monopólio da exploração da África e da rota das
Índias.
Iniciaram-se então inúmeros projetos de expansão de fronteiras. Portugal
descobriu através de Bartolomeu Dias o Oceano Índico, em 1488, através do Cabo
da Boa Esperança, enquanto que os reis católicos, Fernando e Isabel, armam a
expedição de Cristóvão Colombo. Em março de 1493, quando retomava de sua
viagem à recém descoberta América (que ainda não tinha esta denominação),
Colombo desembarca em Lisboa e dá a notícia do descobrimento do Novo Mundo,
que consideravam ser a Índia. O rei de Portugal, João lI, por julgar que o Tratado de
Toledo fora rompido, pois segundo a informação recebida as novas terras estavam
ao sul das Ilhas Canárias, prepara suas tropas e ameaça invadir a Espanha. Entrou
em cena o Papa espanhol Alexandre VI (1492-1505), propondo um acordo. Desta
feita o mundo seria dividido em dois hemisférios, o próprio Papa tratou de publicar a
bula Inter Coetera, a 03 de maio de 1493, prontamente recusada por Portugal, que
exige rediscussão do assunto. O novo acordo, assinado sem a participação do Papa,
na cidade de Tordesilhas, a 07 de junho de 1494, é o definitivo. Portugal impõe 370
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léguas a oeste de Cabo Verde (1.184 milhas), assegurando o monopólio lusitano


sobre as duas margens do Atlântico, incorporando um Brasil que só seria descoberto
seis anos após.
O mare clausum - mar fechado foi a base política e jurídica dos lucros
lusitanos. Por ocasião do Tratado de Tordesilhas, EI - Rey João lI, cercou-se de
sábios, que conheciam profundamente o tema em discussão, parecendo inclusive
que possuiam informações preciosas acerca do continente sul-americano. O
experiente navegador português Duarte Pacheco Pereira, o geógrafo dos
descobrimentos, foi o autor da célebre frase: “a experiência é a madre das cousas,
por ela soubemos radicalmente a verdade" difundida pelo contemporâneo Leonardo
Da Vinci, porém simplificada para " ... a experiência é a mestra de todas as coisas".
Pois bem, Duarte Pacheco na obra pioneira Esmeraldo situ orbis, publicada somente
em 1505, escreveu assim “... temos sabido e isto como no terceiro ano de Vosso
reinado do ano de Nosso Senhor de 1498, Vossa Alteza nos mandou descobrir a
parte ocidental passando além da grandeza do mar oceano, onde achada uma
grande terra firme e com muitas e grandes ilhas adjacentes...". Percebe-se, pois a
perspicácia lusitana na questão das Tordesilhas, o que antes era apenas um tiro no
escuro, com a linha divisória imaginária do ao meio do Atlântico, assegurou a outra
margem do grande oceano, do continente “a ser descoberto". O topônimo Brasil,
segundo Alexander Von Humboldt, aplicado a uma madeira de propriedades
tintoriais, com diversas variedades lingüísticas, teria trajetória iniciada a mais de dez
séculos, antes do descobrimento do continente sul-americano, indo da Sumatra ao
Novo Mundo.
A exemplo do que ocorria na península ibérica, a expansão dos núcleos
coloniais estabelecidos em Belém, Olinda, Salvador e Rio de Janeiro (do lado
português), e em Lima, La Paz, Assunción e Buenos Aires (do lado espanhol),
reproduzia a situação européia. Os espanhóis começaram a tomada de posse da
terra, procedendo de norte para o sul, pelos Andes. Descobriram a riqueza do reino
dos incas. A partir de 1513, a notícia da riqueza fabulosa incáica já era conhecida no
Panamá. Os espanhóis, ao penetrarem pelo estuário do Prata tinham em mente
roteirizar a penetração em direção ao Peru. O primeiro europeu a penetrar na região
de Mato Grosso foi Aleixo Garcia, náufrago da expedição de João Dias de Solis.
Garcia atingiu seu objetivo, e ao retomar com as riquezas obtidas, foi morto
traiçoeiramente.
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O espanhol D. Alvar Nuñes Cabeza de Vaca, governador do estuário do


Prata, com Assunção, incumbiu Domingos Martinez de Irala de explorar o Rio
Paraguai. Irala chegou até a região das lagoas, que hoje divide os Estados de Mato
Grosso do Sul e Mato Grosso. A 6 de janeiro de 1543, denominou um ponto das
lagoas de "Puerto de Los Reyes", retomando à Assunção. O próprio Cabeza de Vaca
comandou uma expedição à região, fazendo de Puerto de Los Reyes sua base, mas
seu objetivo, de encontrar o grande rei branco e uma serra de prata não foi
alcançado. Outras expedições se fizeram ás cabeceiras do Paraguay.
Nuflo Chaves, a mando de Irala chegou até a barra do Rio Jauru,
denominando-o de Puerto de Parabanzanes. Dali rumou para oeste, e mais tarde,
em 1560, fundou Santa Cruz de La Sierra. Ao pretender colonizar mais terras,
inclusive as que hoje pertencem aos municípios de Vila Bela da Santíssima Trindade
e Cáceres, foi morto pelo cacique Parrilha. Devido a questões comerciais, as
expedições de reconhecimento cessaram, Assunção paralisou.
A região do Rio Paraguai permaneceu à margem dos interesses dos
governos coloniais, com exceção da fundação de Jerez, na região de Miranda e das
Missões Jesuítas, desenvolvidas na margem esquerda do Paraguai, formando a
Província de Itatines. Foi um ato heróico, a do governador Juan de Garay, ao enviar
Ruy Dias de Melgarejo a fundar a cidade de Jerez/Xerex, na altura de 19° 15' 20",
com 60 homens, em terras sul-rnatogrossense. Corria o ano de 1580, o sonho
espanhol era fundar uma Província, a de Nueva Viscaya. Fundaram também uma
missão em Camapuã, com jesuítas penetrando pelo Rio Paraná. Sob a ação dos
paulistas desapareceu Jerez e as Missões dos Jesuítas.
Foi o único município espanhol em terras, hoje Mato Grosso do Sul.
O Tratado de Tordesilhas estabelecia uma fronteira retilínea e de certa
forma esta "Fronteira seca" facilitou a invasão de terras alheias. Por longos sessenta
anos, de 1580 à 1640, os reinos de Portugal e Espanha uniram-se sob a égide de
um mesmo monarca, foi a União Ibérica. Era o período da colonização intensiva.
Buscou-se então uma alternativa prática para o homem europeu, convencidos de
que estas terras lhes pertenciam por direito divino, e na falta de intensa mão-de-
obra, lançaram-se às matas, submetendo o gentio da terra, senhor absoluto do lugar,
à escravidão- “... matando, incendiando, queimando, torrando índios e lançando-os
aos cães; assim oprimiram, atormentaram, vexaram nas minas até consumir e
extirpar todos esses pobres inocentes (...) pois as barbaridades, as crueldades, as
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matanças, as ruínas, as destruições de vilas, em tantos reinos e tão grandes, foram


tais e tão horríveis, que todas as cousas que até agora se referiram, daria para
escrever um grande livro, cheio de tantas chacinas, de tantas devastações, de tantos
ultrajes e de tantas injustiças brutais que poderiam espantar o século presente e o
século futuro" - (Frei Bartolomé de Las Casas).
O resultado prático da União Ibérica foi o desaparecimento de fronteiras
entre Portugal e Espanha, na América. Foi a partir desta data que efetivamente o
território, hoje Matogrossense começou a ser explorado, da mesma forma ocorreu
com os sertões de Minas
Gerais e Goiás. A missão de reconhecimento e preação de povos
indígenas couberam aos paulistas, que, mormente saíam de São Paulo, via Rio
Tietê, indo sertão adentro. Com isto as fronteiras lusitanas iam se alargando. Belém,
no Pará, fundada em 1616, serviu de base para navegações amazonenses até as
escarpas andinas, quando se incorporou o Oiapoque.
Com o fim da União Ibérica e a constante expansão lusitana aos sertões,
em território não colonizado, porém castelhano, obrigou os dois países a uma
revisão no Tratado de 1494, para rever seus limites. A primeira tentativa foi em 1750,
por ocasião do Tratado de Madrid. Nesta oportunidade brilhou a estrela do Primeiro
Ministro Alexandre de Gusmão, cuja exposição de motivos, após comissões mistas
percorrerem os rios da Prata e Amazonas, permitiu que a Espanha aceitasse a
incorporação das novas fronteiras em Mato Grosso e Goiás, juntamente ao Guaporé
e Madeira, assim como a Lagoa dos Patos. Nesta época a fama do ouro cuiabano
extrapolou fronteiras, muita gente afluiu à região, e o "uti-possidetis", permitiu que o
território mato-grossense tivesse dimensionamento continental. O primeiro paulista
de que se tem notícia em terra mato-grossense foi André Fernandes. Partiu de São
Paulo em 1613 e encerrou a jornada em 1615. Após atingir o Rio Tocantins, subiu o
Rio Araguaia desceu a barra até as cabeceiras.
Foi somente a partir da assinatura do Tratado de Madrid que o território
mato-grossense passou a ser oficialmente da Coroa Portuguesa. Por isso, não se
pode enfocar o povoamento e colonização desta porção territorial brasileira, sem
mencionar estes fatos, que antecedem à fundação do primeiro núcleo urbano de
Mato Grosso, a cidade de Cuiabá. Na verdade, o interesse ibérico sintetizava-se
apenas, no proveito econômico, uma vez que se tratava de um continente muito rico,
principalmente em recursos naturais. A notícia da riqueza farta não tardou a atingir
Historia de Mato Grosso 12

toda a Europa e a despertar nos diversos países europeus a cobiça pelo


desconhecido "EI dorado".
Países como a França, Inglaterra e Holanda, que não "engoliram" o
Tratado de Tordesilhas, por terem ficado à margem do rico mercado marítimo,
voltaram-se para a América, no intuito de partilhar com Espanha e Portugal, a
dominação do continente. É evidente que, apesar de todo o esquema protetor das
Coroas, foi inevitável a imigração européia para o continente e a sua conseqüente
possessão por vários países. Todavia, foi sob esta ótica e decorrente de pressões
políticas do resto da Europa que se iniciou o processo de ocupação e colonização do
território brasileiro.
Esta ocupação, cujo início remonta ao século XVI, foi encetada
primeiramente, com o sistema das Capitanias Hereditárias, que sintetizou a
imperiosa necessidade de Portugal em assegurar a sua soberania em toda a porção
costeira da colônia, a fim de evitar a penetração de estrangeiros. Este sistema,
embora tenha sido fadado ao infortúnio sob o ponto de vista econômico,
politicamente garantiu a Portugal o domínio efetivo da porção litorânea e,
consequentemente provocou o povoamento disperso em todo o litoral.
Ainda no século XVI, tiveram lugar os movimentos entradistas e
bandeirantistas, cujos objetivos fundamentais eram promover a expansão e
integração do território, exploração da terra, povoamento, investigação e
aproveitamento das potencialidades econômicas da então colônia. É inegável que
todos esses procedimentos visaram um fim último, explicitado pela necessidade da
soberania e pelos monopólios comerciais lucrativos voltados para o interesse da
Coroa. Por outro lado, a ação desses movimentos que estiveram atuando até a
primeira metade do século XVIII, foi decisiva sob o ponto de vista político-
administrativo, uma vez que deles dependeu a atual configuração geográfica do
País.
Igualmente importante foi a sua atuação sob o ponto de vista demográfico,
pois decorreu das "entradas" e "bandeiras" a interiorização do povoamento, cuja
conseqüência foi a formação dos primeiros núcleos populacionais e das primeiras
fazendas agropastoris no interior da colônia. Há que se dizer também que a esses
movimentos está vinculada a exploração de minas auríferas, descobertas a partir dos
últimos anos do século XVII e responsável pela fixação de contingentes
Historia de Mato Grosso 13

populacionais estáveis em grande porção do território brasileiro, incluindo-se aí o


atual Estado de Mato Grosso.
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A conquista e o Povoamento - o Pioneiro

A porção territorial ocupada atualmente pelo Estado de Mato Grosso,


historicamente tem origem num espaço físico bem mais vasto que o atual. Abrangia,
no começo, o que hoje são os territórios dos Estados de Rondônia e Mato Grosso do
Sul. O antigo Mato Grosso media aproximadamente 1.477.041 km². O Decreto Lei
Federal nº 5.812, de 13 de setembro de 1943, criou o Território Federal do Guaporé
(mais tarde Estado de Rondônia), desmembrado de Mato Grosso, que passou a
medir 1.234.658 km² A Lei Complementar Federal n° 31, de 11 de outubro de 1977,
criou o Estado de Mato Grosso do Sul, também desmembrado de Mato Grosso, que
passou então a ter área de 901.420,7 km².
As origens históricas do povoamento de Mato Grosso estão ligadas às
descobertas de ricos veios auríferos, já no começo do século XVIII. Em 1718, o
bandeirante Antonio Pires de Campos, que um ano antes esteve às margens do Rio
Coxipó, em local denominado São Gonçalo Velho, onde combateu e aprisionaram
centenas de índios Coxiponés, Bororos, encontrou-se com gente da bandeira de
Paschoal Moreira Cabral Leme, informando-lhes sobre a possibilidade de prearem à
vontade. Antonio de Campos era profundo conhecedor da região, pois estivera com
seu pai, Manoel de Campos Bicudo, neste mesmo lugar há dezenas de anos,
provavelmente em 1675, à procura das lendárias Minas dos Martírios, cuja rota
implicava em passar pelo Rio Coxipó, alcançar
O Morro de São Gerônimo e ganhar o rumo do Rio das Mortes, daí o
Araguaia. Desta forma Antonio Pires de Campos foi o “descobridor” de Cuiabá.
Ao ser informado da fartura da (possível) prea (de indígenas ou
nativos)(grifo nosso), Paschoal Moreira Cabral Leme internou-se Coxipó acima. O
seu intento, no entanto, não foi realizado, pois no confronto com o gentio da terra,
na confluência dos rios Mutuca e Coxipó, os temíveis Coxiponés, que dominavam
esta região, teve sua expedição totalmente rechaçada pelas bordunas e flexas
certeiras daquele povo guerreiro.
No retrocesso de sua viagem estabeleceram-se em São Gonçalo Velho, à
margem esquerda do Rio Cuiabá, nas proximidades da barra do Rio Coxipó, em
antiga região de pouso de bandeirantes preadores, sendo o mais famoso Antonio
Pires de Campos.
Historia de Mato Grosso 15

Temendo não vencer os Coxiponés, Cabral solicitou ajuda de outro


bandeirante, Fernando Dias Falcão, que estava na região do Rio Paraguai, e que
enviou 130 homens para ajudar o amigo em dificuldades.
Neste ínterim, enquanto a expedição de Moreira Cabral Leme se
restabelecia dos danos causados pela incursão Coxiponé, dedicaram-se ao cultivo
de plantações de subsistência, apenas visando o suprimento imediato da bandeira.
Foi nesta época que alguns dos seus companheiros, embrenhando-se Coxipó acima,
encontraram em suas barrancas as primeiras amostras de ouro. Entusiasmados pela
possibilidade de riqueza fácil, renegaram o objetivo o principal da bandeira, sob os
protestos imediatos de Cabral Leme, que, entretanto, aderiu aos demais. Foi desta
forma que estando a procura de índios para escravizar, Paschoal Moreira Cabral
Leme encontrou ouro, em quantidade inimaginada.
Desta forma os paulistas bateram as estremas das regiões cuiabanas,
onde o ouro se desvendava aos seus olhos. A descoberta do ouro levou os
componentes da bandeira de e deslocarem para uma área onde tivessem maior
facilidade de ação. Surgiu Forquilha, a povoação pioneira de todo Mato Grosso, na
confluência do Rio Coxipó com o Ribeirão Mutuca, exatamente onde tempos atrás
houve terrível embate entre paulistas e Coxiponés.
Forquilha tornou-se o embrião do povoamento da futura Capitania de Mato
Grosso, que seria criada 29 anos após estes fatos. Saiu então o bandeirante
Antonio Antunes Maciel, como mensageiro oficial a Capitania de São Paulo e demais
regiões, anunciando o grande manancial em ouro lá encontrado.
Espalhou-se então a notícia da descoberta das Minas do Cuyabá, não
tardando o afluxo de novas bandeiras. Vale lembrar que o lugar era rota antiga para
quem ia até as famosas Minas dos Martírios, que ficava no Araguaia. No entanto,
estas famosas minas não passavam de lenda, criada pela imaginação fértil de
ousados sertanistas. Enquanto isso, o povoado de Forquilha recebia mais gente,
provocando a ocupação desordenada do lugar, uma vez que a população se
espalhou pelas cabeceiras do Rio Coxipó, do Ribeirão Mutuca e Rio do Peixe. Vale
dizer que o adensamento de Forquilha foi inevitável, o que preocupou a comunidade
quanto a manutenção da ordem e estabilidade do núcleo. Este fato levou Paschoal
Moreira Cabral, juntamente com alguns bandeirantes, a lavrar uma ata e fundar o
Arraial de Cuiabá, em 08 de abril de 1719, devendo a partir de então, seguir
administrativamente os preceitos e determinações legais da Coroa. Na verdade, a
Historia de Mato Grosso 16

Ata de Criação de Cuiabá deixa nítida a preocupação de Paschoal Moreira Cabral


em notificar à Coroa Portuguesa os seus direito de posse sobre as novas lavras.
Com isso, ficava afiançado também o seu direito de exploração e total
domínio sobre as mesmas, tanto que, no mesmo dia foi aclamado pelo povo que
constituía o Arraial, Guarda-Mor Regente de todos os ribeirões de ouro.
Em referência ao descobrimento do ouro cuiabano, inúmeros cronistas e
historiadores citam os feitos de Paschoal Moreira Cabral Leme. O brilhante
historiador Rubens de Mendonça, em seu livro Nos Bastidores da História Mato-
Grossense, página 15, diz o seguinte “... todos nós sabemos que o fundador de
Cuiabá foi o bandeirante paulista Paschoal Moreira Cabral Leme, mas o que muita
gente ignora é que ele era bisneto pelo lado matemo de PEDRO ÁLVARES
CABRAL, Senhor de Belmonte e descobridor do Brasil”. Mais adiante, citando texto
de Pedro Taques e Silva Leme diz “...era filho do paulista Pascoal Moreira Cabral,
falecido em 1689, em Sorocaba, e de Mariana Leme, filha de Bráz Esteves Leme,
falecida também em Sorocaba, no ano de 1678. Paschoal Moreira Cabral Leme,
fundador de Cuiabá, tinha cinco filhos legítimos e três ilegítimos: De seus irmãos
Tomé e Bráz, moradores de Sorocaba, nada se conhece; apenas sabemos que eram
genros do ilustre bandeirante André de Zunaga, o companheiro das primeiras armas
de Paschoal. De suas irmãs Sebastiana e Maria sabemos que desposaram dois
personagens de relêvo, um filho do Capitão- Mor da Capitania de Itanhaern, Miguel
Garcia Lumbria e o ilustre bandeirante Bráz Mendes Paes".
O benemérito Paschoal Moreira Cabral Leme faleceu a 10 de novembro
de 1724, na Cuiabá que fez nascer. Ainda no livro de Rubens de Mendonça, na
página 17, vemos a seguinte referência “... somente BARBOSA DE SÁ lhe fez
justiça: "homem de poucas letras e pouco polido, mas de entendimento agudo,
sincero, sem maldade alguma e de extrema caridade; todos servia e remediava com
o que tinha e podia; era amigo de Deus, experto nas milícias dos sertões e
exercícios de mineiras; finalmente valoroso e constante nos trabalhos".
Dois anos após a fundação do Arraial de Cuiabá, os bandeirantes
pioneiros já haviam esgotado os veios auríferos existentes naquele quadrilátero.
Em 1722, ocorreu a descoberta de um dos veios auríferos mais
importantes da área no local denominado Tanque do Arnesto, por Miguel Sutil, que
aportara em Cuiabá com o intuito de dedicar-se à agricultura. Miguel Sutil nasceu em
Sorocaba, em 1675, tomando-se o descobridor do maior veio aurífero daquele Brasil
Historia de Mato Grosso 17

contemporâneo; as "Lavras do Sutil", como passou a ser chamado o lugar e assim


ficaram conhecidas as minas, no local onde hoje
.se encontra edificada a Igreja Nossa Senhora do Rosário e de São
Benedito, às margens do Ribeirão Prainha.
Com a propagação de que constituíam os veios mais fartos da área, a
migração oriunda de todas as partes da colônia tomou-se mais intensa, fato que fez
de Cuiabá, no período de 1722 a 1726, uma das mais populosas cidades do Brasil,
na época.
Neste tempo o ribeirão da Prainha era navegável, mas em pouco tempo
seu leito foi desviado por mineradores em busca do ouro fácil, tomando-se desta
forma, o histórico riacho em apenas um fio d'água a ziguezaguear, nos dias de hoje,
até desaguar, poluído, no Rio Cuiabá.
Historia de Mato Grosso 18

Processo Histórico da Ocupação

O processo de ocupação desta região ocorreu na primeira metade do


século XVIII, com o avanço realizado para além da fronteira oeste, a partir de um
paralelo traçado pelo Tratado de Tordesilhas entre Portugal e Espanha, sendo que
as terras que ficassem ao lado oeste pertenceriam ao Governo espanhol e a leste ao
Governo português. O Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Espanha
em 07 de Junho de 1494, oficializou a divisão do mundo por linhas imaginárias entre
os Estados dos tempos modernos.

Os responsáveis por este avanço além fronteira foram os bandeirantes


paulistas, com o objetivo de aquisição de mão-de-obra barata, uma vez que o tráfico
negreiro já sofria restrições, o que tornava a atividade muito onerosa, constituindo a
prisão de indígenas como uma alternativa vantajosa, por não ocasionar custos
elevados. Os bandeirantes faziam estas longas expedições, com este único e
exclusivo interesse, afinal, o comércio de escravos indígenas era lucro garantido
para seus capturadores.

No século XVII, São Vicente (onde hoje está o estado de São Paulo) era uma
capitania pobre, quando comparada às da Bahia e de Pernambuco. Não
havia nela nenhum produto de destaque para exportação. A economia era
baseada em agricultura de subsistência: milho, trigo, mandioca. Vendia
alguma coisa para o Rio de Janeiro, e só. A cidade de São Paulo não
passava de um amontoado de casebres de gente pobre. Mas tinha a
vantagem de ser uma das poucas vilas Brasileiras que não se localizam no
litoral. Partindo dela fica mais fácil entrar nas florestas. Pois foi exatamente
por isso que a maioria dos bandeirantes saiu de São Paulo. Tornar-se
bandeirante era uma chance para o paulista melhorar de vida....Os
comandantes usavam roupas novas e botas de couro, para se protegerem de
picada de cobra. Os homens livres e pobres tinham roupas velhas e pés
descalços. Todos eles armados. Também fazia parte da bandeira um grupo
de índios já submetidos pelos colonos. ...Eles se embrenhavam na floresta
tropical fechada e rios agitados, indo a lugares muito distantes de qualquer
cidade colonial. Mas o objetivo deles não era nada heróico: eles eram
caçadores de índios. ...Os bandeirantes atacavam impiedosamente as aldeias
Historia de Mato Grosso 19

indígenas. Matavam todo mundo que atrapalhasse inclusive as crianças.


2
Depois acorrentavam os índios e os levavam como escravos.

... a cana-de-açúcar não obteve êxito, sendo que seus colonos resolveram se
dedicar a outras atividades, como foi o caso da Capitania de São Paulo que,
ao lado da agricultura de subsistência, optou por traficar, não escravos
africanos, mas sim índios, necessários às capitanias que não desenvolveram
com sucesso o plantio da cana-de-açúcar e o fabrico da açúcar. Dessa
forma, os paulistas criaram o movimento das bandeiras. ...Nesse movimento,
os bandeirantes acabaram descobrindo ouro, em primeiro lugar, em terras
que hoje pertencem ao estado de Minas gerais e, mais tarde, nas de Mato
Grosso e de Goiás. Com esse movimento, os bandeirantes paulistas
estavam, sem querer, aumentando o território colonial, pois essas novas
terras descobertas, segundo o tratado de Tordesilhas, fixado em 1494, antes
mesmo da descoberta do Brasil, não pertenceriam a Portugal, mas sim à
Espanha. O Rei Lusitano, vendo que os bandeirantes estavam alargando as
fronteiras de sua Colônia, povoando esses territórios e descobrindo metais
preciosos (ouro e diamante), resolveu apoiá-los e incentivá-los nesse
movimento.3

A bandeira de Antônio Pires de Campos atingiu a região do rio Coxipó-


Mirim e ali ocorreu uma guerra, e aprisionaram os índios Coxiponés, que reagiram,
travando um intenso combate com os paulistas. Logo atrás dessa bandeira, seguiu-
se outra, capitaneada por Pascoal Moreira Cabral que, desde 1716, já palmilhava
terras mato-grossenses sabendo ele da existência de índios, resolveu seguir para o
mesmo local, onde havia um acampamento chamado São Gonçalo. Exaurida pelas
lutas travadas, a bandeira de Moreira Cabral resolveu arranchar-se às margens do
rio Coxipó-Mirim e, segundo nos conta o mais antigo cronista, Joseph Barboza de
Sá, descobriram casualmente ouro, quando lavavam os pratos na margem daquele
rio. Para garantir tranqüilidade no local, Pascoal Moreira Cabral resolveu pedir
reforços às bandeiras que se encontravam na região. Chegou então ao Arraial de
São Gonçalo a bandeira de Fernão Dias Falcão, composta de 130 homens de
guerra, que passaram a auxiliar nos trabalhos auríferos.
O fato de terem os bandeirantes paulistas, encontrado ouro mudou o rumo
de sua marcha, pois ao invés de continuarem caçando os índios, terminaram por
fixar-se na região, construindo casas e levantando capelinha. Esse primeiro

2
Schmidt, Mario Furley – Nova História Critica – São Paulo – ed. Nova Geração – 1999. p 264.
3
Siqueira, Elizabeth Madureira – Revivendo Mato Grosso – Cuiabá – SEDUC-1997. p. 10-11.
Historia de Mato Grosso 20

povoamento denominou-se São Gonçalo Velho.


Em 1719, em São Gonçalo Velho, a 08 de abril, Moreira Cabral lavra a Ata
de Fundação do Arraial do Senhor Bom Jesus. Dois anos depois o arraial foi mudado
para o rio Coxipó, uma vez que a população mineira começou a perceber que o ouro
estava escasseando, e resolveu mudar para outro local denominado Forquilha,
também no rio Coxipó-Mirim. Ali levantaram novo acampamento, ergueram outra
capela e deram continuidade aos trabalhos de mineração.

Aos oito dias do mês de abril da era de mil setecentos e dezenove anos,
neste Arraial do Cuiabá, fez junto o Capitão-Mor Pascoal Moreira Cabral
com os seus companheiros e ele requereu a eles este termo de certidão
para notícia do descobrimento novo que achamos no ribeirão do Coxipó,
invocação de Nossa Senhora da Penha de França, depois que foi o nosso
enviado, o Capitão Antônio Antunes com as amostras que levou do ouro ao
Senhor General. Com a petição do dito capitão-mor, fez a primeira entrada
aonde assistiu um dia e achou pinta de vintém e de dois e de quatro vinténs
a meia pataca, e a mesma pinta fez na segunda entrada em que assistiu,
sete dias, ele e todos os seus companheiros às suas custas com grandes
perdas e riscos em serviço de Sua Real Majestade. E como de feito tem
perdido oito homens brancos, foros e negros e para que a todo tempo vá
isto a notícia de sua Real Majestade e seus governos para não perderem
seus direitos e, por assim, por ser verdade nós assinamos todos neste
termo o qual eu passei bem e fielmente a fé de meu ofício como escrivão
deste Arraial. Pascoal Moreira Cabral, Simão Rodrigues Moreira, Manoel
dos Santos Coimbra, Manoel Garcia Velho, Baltazar Ribeiro Navarro,
Manoel Pedroso Lousano, João de Anhaia Lemos, Francisco de Sequeira,
Asenço Fernandes, Diogo Domingues, Manoel Ferreira, Antônio Ribeiro,
Alberto Velho Moreira, João Moreira, Manoel Ferreira de Mendonça,
Antônio Garcia Velho, Pedro de Godois, José Fernandes, Antônio Moreira,
lnácio Pedroso, Manoel Rodrigues Moreira, José Paes da Silva. (BARBOZA
de SÁ, 1975, p. 18).
Nesse dia, os bandeirantes fixados no Arraial de São Gonçalo, elegeram
um chefe chamado Guarda-Mor e o escolhido por eleição, foi Pascoal Moreira
Cabral.

Em 1722, o bandeirante Miguel Sutil chegou à zona mineira com o objetivo


de verificar o estado de uma roça que havia plantado às margens de outro rio, o
Cuiabá. Como ele e seus companheiros estavam famintos, mandou Sutil que dois
índios saíssem à cata de mel. Os índios se demoraram muito e, quando chegaram,
Historia de Mato Grosso 21

ao invés de mel, trouxeram ouro em pequenos folhetos “caeté”. Como já era quase
noite, Miguel Sutil deixou para o dia seguinte, verificar pessoalmente onde se
localizava a nova mina. Situava-se às margens de um córrego, braço do rio Cuiabá -
Córrego da Prainha.
As notícias do novo descobrimento aurífero foram enviadas para a
Capitania de São Paulo, da qual essas terras faziam parte. Com isso, um grande
fluxo migratório chegou à região, visando o enriquecimento e o estabelecimento de
roças que pudessem fornecer alimentos à população.

A "boa nova" se espalhou rapidamente entre os pequenos arraiais de São


Gonçalo e da Forquilha, ocasião em que, impressionados pelo volume aurífero que
diziam conter essa mina, seus habitantes abandonaram os dois núcleos iniciadores
do povoamento da região, dando inicio a outro núcleo urbano, que são as origens da
atual cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. A notícia foi levada para
São Paulo e de lá se espalhou por outras capitanias, chegando até Portugal, o que
provocou, em pouco tempo, um aumento da população, que passou a disputar
palmo-a-palmo os terrenos auríferos.
Em 1º de janeiro de 1727, o Arraial do Senhor Jesus do Cuyabá, recebeu
o foro e foi elevado à categoria de vila, para a se chamar Vila Real do Senhor Bom
Jesus por ato do Capitão General de São Paulo, Dom Rodrigo César de Menezes.
Em 17 de setembro de 1818, por Carta Régia de D. João VI, a vila do Cuiabá é
elevada à categoria de cidade.
A presença do governante paulista nas Minas do Cuiabá ensejou uma
verdadeira extorsão sobre os mineiros, numa obcessão institucional pela
arrecadação dos quintos de ouro. Esses fatos somados à gradual diminuição da
produção das lavras auríferas fizeram com que os bandeirantes pioneiros fossem
buscar o seu ouro cada vez mais longe das autoridades cuiabanas.
Com esse movimento, novas minas foram descobertas, como as Lavras
dos Cocais, em 1724, às margens do ribeirão do mesmo nome (atual Nossa Senhora
do Livramento), distante 50 km de Cuiabá. Os descobridores do novo vieram
auríferos, foram os sorocabanos Antonio Aires e Damião Rodrigues. Em pouco
tempo, o pequeno arraial foi integrado por outros mineiros que, igualmente, fugiram
das imposições fiscalistas, impostas na Vila Real do Senhor Bom Jesus, com a
presença do governador Paulista.
Historia de Mato Grosso 22

Em 1734, estando já quase despovoada, a Vila Real do Senhor Bom Jesus


do Cuiabá, os irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, atrás de índios Parecis,
descobriram veio aurífero, os quais resolveram denominar Minas do Mato Grosso,
situadas nas margens do Rio Galera, no Vale do Guaporé.
Os Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade, escritos em 1754, pelo
escrivão da Câmara dessa vila, Francisco Caetano Borges, citando o nome Mato
Grosso, assim nos explicam:
Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão Artur
Paes, naturais de Sorocaba, e sendo o gentio Pareci naquele tempo o mais
procurado, [...] cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento,
arranchando-se em um ribeirão que deságua no rio da Galera, o qual corre
do Nascente a buscar o Rio Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra
chamada hoje a Chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso. Da
parte Oriental, fazendo experiência de ouro, tiraram nele três quartos de
uma oitava na era de 1734.
Dessa forma, ainda em 1754, vinte anos após descobertas as Minas do
Mato Grosso, pela primeira vez o histórico dessas minas foi relatado num documento
oficial, onde foi alocado o termo Mato Grosso, e identificado o local onde as mesmas
se achavam. .
Todavia, o histórico da Câmara de Vila Bela não menciona porque os
irmãos Paes de Barros batizaram aquelas minas com o nome de Mato Grosso.
Quem nos dá tal resposta é José Gonçalves da Fonseca, em seu trabalho
escrito por volta de 1780, Notícia da Situação de Mato Grosso e Cuiabá, publicado
na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1866, que assim nos
explica a denominação Mato Grosso.
[...] se determinaram atravessar a cordilheira das Gerais de oriente para
poente; e como estas montanhas são escalvadas, logo que baixaram a
planície da parte oposta aos campos dos Parecis (que só tem algumas
ilhas de arbustos agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo
muito elevado e corpulento que entrando a penetrá-lo o foram
apelidando Mato Grosso: e este é o nome que ainda conserva todo
aquele distrito.
Caminharam sempre ao poente, e depois de vencerem sete léguas de
espessura, toparam com o agregado das serras [...].
Pelo que desse registro se depreende, o nome Mato Grosso é originário de
uma extensão de sete léguas de mato alto, espesso, quase impenetrável, localizado
Historia de Mato Grosso 23

nas margens do Rio Galera, percorrido pela primeira vez em 1734, pelos irmãos
Paes de Barros. Acostumados a andar pelos cerrados do chapadão dos Parecis,
onde haviam apenas algumas ilhas de arbustos agrestes, os irmãos aventureiros,
impressionados com a altura e porte das árvores, o emaranhado da vegetação
secundária que dificultava a penetração, com a exuberância da floresta, a
denominaram Mato Grosso. Perto desse mato fundaram as Minas de São Francisco
Xavier e toda a região adjacente, pontilhada de arraiais de mineradores, ficou
conhecida na história como as Minas do Mato Grosso.
Posteriormente, ao se criar a Capitania por Carta Régia, em 09 de maio de
1748, (em 2011- 263 anos da criação da Capitania de Mato Grosso e do Cuiabá) o
governo português assim se manifestou:
Dom João, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, [...] Faço
saber a v6s, Gomes Freire de Andrade, Governador e Capitão General do
Rio de Janeiro, que por resoluto se criem de novo dois governos, um nas
Minas de Goiás outro nas de Cuiabá [...].
Dessa forma, ao se criar a Capitania, como meio de consolidação e
institucionalização da posse portuguesa na fronteira com o reino da Espanha, Lisboa
resolveu denominá-las tão somente de Cuiabá. Mas no fim do texto da referida Carta
Régia, assim se exprime o Rei de Portugal:
[...] por onde parte o mesmo governo de São Paulo com os de
Pernambuco e Maranhão e os confins do Governo de Mato Grosso e
Cuiabá [...].

Apesar de não denominar a Capitania expressamente com o nome de


Mato Grosso, somente referindo-se às Minas do Cuiabá, no fim do texto da Carta
Historia de Mato Grosso 24

Régia, é denominado plenamente o novo governo como sendo de ambas as minas,


do Mato Grosso e do Cuiabá. Isso ressalva, na realidade, a intenção portuguesa de
dar à Capitania o mesmo nome posto anos antes pelos irmãos Paes de Barros.
Entende-se perfeitamente essa intenção.

Todavia, a consolidação do nome Mato Grosso veio rápido. A Rainha D.


Mariana Vitória, ao nomear Dom Antonio Rolim de Moura Tavares como Primeiro
Capitão General, em Carta Patente de 25 de setembro de 1748, assim se expressa:

[...]; Hei por bem de o nomear como pela presente o nomeio no cargo de
Governador e Capitão General da Capitania do Mato Grosso por tempo de
três anos [u.].
A mesma Rainha, no ano seguinte, a 19 de janeiro, entrega a Dom Antônio
Rolim de Moura Tavares as suas famosas Instruções, que lhe determinariam as
orientações para a administração da Capitania, em especial os tratos com a fronteira
do reino espanhol. Assim nos dá o documento:
[...] fui servido criar uma Capitania Geral com o nome de Mato Grosso
[...]
1° - [...] atendendo que no Mato Grosso se querer muita vigilância por
causa da vizinhança que tem, houve por bem determinar que a cabeça do
governo se pusesse no mesmo distrito do Mato Grosso [...];
2° - Por ter entendido que no Mato Grosso é a chave e o propugnáculo do
sertão do Brasil [...].
E a partir daí, da Carta Patente e das Instruções da Rainha, o governo
colonial mais longínquo, mais ao oriente em terras portuguesas na América, passou
a se chamar de Capitania de Mato Grosso, tanto nos documentos oficiais como no
trato diário por sua própria população. Logo se assimilou o nome institucional Mato
Grosso em desfavor do nome Cuiabá. A vigilância e proteção da fronteira oeste eram
mais importantes que as combalidas minas cuiabanas. A prioridade era Mato Grosso
e não Cuiabá.
A exemplo do restante das colônias brasileiras, a região fora objeto, num
primeiro momento da busca por metais preciosos, servindo de passagem de
garimpeiros fugindo das altas taxas de que eram cobradas em nome Rei de Portugal,
através de seus representantes nas minas do Cuiabá e o grande aparato de
fiscalização ali conduzido ao fio da baioneta se preciso fosse.
Historia de Mato Grosso 25

Ao longo dos anos, foram estabelecendo roças para cultivo de alimentos


para abastecer as regiões com veio aurífero, o qual era outro mecanismo de
ocupação e o povoamento para garantir a posse, o que ocasiona a distribuição
gratuita de terras aos nobres portugueses e aventureiros, a através da concessão de
Sesmaria, não sendo diferente nesta nossa região, onde hoje nós a denominamos
de Várzea Grande, com as concessões das Sesmarias do Bonsucesso e São
Gonçalo etc.

No Brasil, o direito de conceder sesmarias cabia aos delegados do rei, mas com o
estabelecimento das capitanias hereditárias, passou aos donatários e
governadores.

Sesmaria é um pedaço de terra devoluta -- ou cuja cultura foi abandonada -- que é


tomada a um presumido proprietário para ser entregue a um agricultor ou
sesmeiro. A posse da terra está, assim, vinculada a seu aproveitamento. Os
portugueses trouxeram essa tradição para o Brasil, onde, no entanto, a imensidão
do território acabou por estabelecer um sistema de latifúndios improdutivos.
Sesmaria.

Em 1349 o rei D. Afonso IV promulgou a lei que restaurava o regime anterior à


peste, mas enfrentou grande oposição. Pressões da corte por fim fizeram
Fernando I assinar, por volta de 1375, a célebre lei das sesmarias, compromisso
de difícil cumprimento entre a nobreza e a burguesia. A propriedade agrícola
passou a ser condicionada a seu uso. Uma vez utilizada, tornava-se concessão
administrativa, com a cláusula implícita de transferência e reversão. O exercício da
propriedade da terra seguia o estabelecido nas Ordenações Manuelinas e
Filipinas.
Historia de Mato Grosso 26

Sistema de Sesmaria

A adaptação das sesmarias às terras incultas do Brasil desfigurou o


conceito, a começar pela imediata equiparação da sesmaria às glebas virgens. A
prudente recomendação da lei original de que não dessem "maiores terras a uma
pessoa que as que razoadamente parecer que no dito tempo poderá aproveitar"
tornou-se letra morta diante da imensidão territorial e do caráter singular da colônia.
O sesmeiro, originalmente o funcionário que concedia a terra, passou a ser
beneficiário da doação, sujeito apenas ao encargo do dízimo.

A terra era propriedade do rei de Portugal, que a concedia em nome da


Ordem de Cristo. Martim Afonso de Sousa, em 1530, foi o primeiro a ter essa
competência, num sistema que já tinha então maior amplitude, ajustado às
condições americanas. Um ato de 1548 legalizou o caráter latifundiário das
concessões, contrário ao estatuto português. Estabelecidas as capitanias
hereditárias, o poder de distribuir sesmarias passou aos donatários e governadores.

Em 1822, graças às concessões liberais e desordenadas, os latifúndios


já haviam ocupado todas as regiões economicamente importantes, nas imediações
das cidades e em pontos próximos dos escoadouros da produção. Os proprietários
de grandes áreas não permitiam o estabelecimento de lavradores nas áreas incultas
senão mediante vínculos de dependência. Quando o governo baixou a Resolução nº
017, promulgada pelo Príncipe Regente D. Pedro, a qual suspendeu a concessão
de terras de sesmaria até que nova lei regulasse o assunto, não havia mais terras a
distribuir. Estavam quase todas repartidas, exceto as habitadas pelos índios e as
inaproveitáveis. Em suas origens, o regime jurídico das sesmarias liga-se aos das
terras comunais da época medieval, chamado de communalia. (grifo nosso).

O vocábulo sesmaria derivou-se do termo sesma, e significava 1/6 do


valor estipulado para o terreno. Sesmo ou sesma também procedia do verbo sesmar
(avaliar, estimar, calcular) ou ainda, poderia significar um território que era repartido
em seis lotes, nos quais, durante seis dias da semana, exceto no domingo,
trabalhariam seis sesmeiros. A média aproximadamente de uma Sesmaria era de
6.500m². Esta medida vigorou em Portugal e fora transplantada para as terras
Historia de Mato Grosso 27

portuguesas ultramar, chegando ao Brasil o Sistema de Sesmaria foi uma prática


comum em todas as possessões portuguesas, como podemos constatar no
processo de ordenamento jurídico na promoção da ocupação de terras no novo
mundo, dado pelos portugueses logo que decidiam ocupá-las e povoá-las.

O Modelo foi radicado e posto em prática pela política de ocupação


portuguesa para suas colônias do além mar, formando Colônias de Povoamento e
Exploração; modelo este levado à exaustão por longos séculos de expropriação de
propriedade de terceiros sem tomar conhecimento, quem era ou quem poderia
reclamar sua posse, montando um aparato de dominação e extermínio dos
opositores, neste caso os primitivos habitantes dessa região, os povos silvícolas
(erradamente chamados pelos “europeus civilizados e cultos” de índios), que
compunham diversas nações e etnias.

A Várzea Grande, antes do Ato do governo Provincial de José Vieira


Couto Magalhães, era uma região explorada como qualquer outra nesta busca por
veio aurífero, ocupada por aventureiro, alguns correndo do fisco real instalado na
Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Consta informações não oficial, um
processo de ocupação por Ato Real, em que é concedido uma Sesmaria ao Índios
Guanás, habitantes da região e por serem mansos e estarem este em atos
comerciais com os bandeirantes paulistas e moradores da Vila do Cuiabá.
Inclusive é este a origem do topônimo da localidade: Várzea Grande dos Índios
Guanás4, doada aos Guanás em 1832, por Ato do Governo imperial. Quanto ao
caminho obrigatório para o oeste e sul da província, a Várzea Grande era desde o
inicio do processo de ocupação dos primeiros aventureiros, que por esta região se
atreveram avançar, em terras pertencentes ao Reino de Espanha por força do
Tratado de Tordesilhas de 1494, mas sim caminho de tropeiros e boiadeiros.

Esta doação de terras em sesmaria a silvícolas mansos ou agressivos


são bastante questionáveis, tendo em vista a atividade que interessavam aos
portugueses e paulistas no inicio da marcha para o oeste, como fora denominada
a aventura dos bandeirantes nesta região, aprisionar indígenas para o trabalho
forçado em São Paulo, por representar mão de obra mais barata e bem como
investigar a existência de metais preciosos, o que acabou ocorrendo e mudou
todo o interesse por estas terras. Porém o trabalho forçado não seria agora para as
4
http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A1rzea_Grande_(Mato_Grosso)
Historia de Mato Grosso 28

lavouras de café paulista, e sim as minas de ouro que precisavam de todo o


esforço para delas jorrar toda riqueza possível.

Os silvícolas e negros eram considerado uma forte mão de obra e “não


ser humano, sim mercadoria”, como escravos podiam ser comercializados em
mercados e, portanto, propriedade de donatários de terras aqui ou em qualquer
região onde estivesse e fosse necessário mão de obra de baixo custo, onde
neste período da historia, a mão de obra negra já estava muito dispendiosa para
os latifundiários.
Historia de Mato Grosso 29

O Povoamento

As origens históricas do Moacyr Freitas - Quadros Histórico

povoamento de Mato Grosso estão ligadas


às descobertas de ricos veios auríferos, já no
começo do século 18. Em 1718, o
bandeirante Antônio Pires de Campos, que
um ano antes esteve às margens do Rio
Coxipó, em local denominado São Gonçalo
Velho, onde combateu e aprisionou centenas
de índios Coxiponés (Bororo), encontrou-se Fundação de Cuiabá em 8 de abril de 1719
com gente da Bandeira de Paschoal Moreira Cabral Leme, informando-lhes sobre a
possibilidade de escravizarem índios à vontade.

Ao ser informado da fartura da (possível) prea, Paschoal Moreira Cabral


Leme seguiu Coxipó acima: o seu intento, no entanto, não foi realizado, pois no
confronto com o gentio da terra, na confluência dos rios Mutuca e Coxipó, os
temíveis Coxiponé, que dominavam esta região, teve sua expedição totalmente
rechaçada pelas bordunas e flexas certeiras daquele povo guerreiro.

Enquanto a expedição de Moreira Cabral se restabelecia dos danos


causados pela incursão Coxiponé, dedicaram-se ao cultivo de plantações de
subsistência, apenas visando o suprimento imediato da bandeira. Foi nesta época
que alguns dos seus companheiros, embrenhando-se Coxipó acima, encontraram
em suas barrancas as primeiras amostras de ouro. Entusiasmados pela possibilidade
de riqueza fácil, renegaram o objetivo principal da bandeira, sob os protestos
imediatos de Cabral Leme, que, entretanto, aderiu aos demais. Foi desta forma que
estando a procura de índios para escravizar Paschoal Moreira Cabral Leme
encontrou ouro em quantidade inimaginada.

Desta forma os paulistas bateram as estremas das regiões cuiabanas,


onde o ouro se desvendava aos seus olhos. A descoberta do ouro levou os
componentes da bandeira de Cabral a se deslocarem para uma área onde tivessem
Historia de Mato Grosso 30

maior facilidade de ação. Surgiu Forquilha, a povoação pioneira de todo Mato


Grosso, na confluência do Rio Coxipó com o Ribeirão Mutuca, exatamente onde
tempos havia ocorrido terrível embate entre paulistas e índios da nação Coxiponé.

Espalhou-se então a notícia da descoberta das Minas do Cuyabá. Vale


dizer que o adensamento de Forquilha foi inevitável, o que preocupou a comunidade
quanto à manutenção da ordem e estabilidade do núcleo. Este fato levou Paschoal
Moreira Cabral, juntamente com alguns bandeirantes, a lavrar uma ata e fundar o
Arraial de Cuiabá, em 08 de abril de 1719, devendo a partir de então, seguir
administrativamente os preceitos e determinações legais da Coroa. Na verdade, a
Ata de Criação de Cuiabá deixa nítida a preocupação de Paschoal Moreira Cabral
em notificar à Coroa Portuguesa os seus direitos de posse sobre as novas lavras.

Em 1722, ocorreu a descoberta de um dos veios auríferos mais


importantes da área, no local denominado Tanque do Arnesto, por Miguel Sutil, que
aportara em Cuiabá com o intuito de dedicar-se à agricultura. Com a propagação de
que constituíam os veios mais fartos da área, a migração oriunda de todas as partes
da colônia tornou-se mais intensa, fato que fez de Cuiabá, no período de 1722 a
1726, uma das mais populosas cidades do Brasil, na época.
Historia de Mato Grosso 31

Primórdios Cuiabanos

Em 1722, por Provisão Régia, o Moacyr Freitas - Quadros Histórico

Arraial de Cuiabá foi elevado à categoria de


distrito da Capitania de São Paulo. A Coroa
mandou que o governador da Capitania de
São Paulo, Dom Rodrigo Cesar de Menezes
instalasse a Villa, o município, estrutura
suprema local de governo. Dom Rodrigo
partiu de São Paulo a 06 de junho de 1726 e
chegou a Cuiabá a 15 de novembro do Chegada de Rodrigo Cesar de Menezes para a instalação
da Villa
mesmo ano. A 1º de janeiro instalou a Villa.

Há de se dizer, entretanto, que na administração do governador Rodrigo


Cesar de Menezes, que trouxe ao Arraial mais de três mil pessoas, houveram
transformações radicais no sistema econômico-administrativo da Villa. A medida
mais drástica foi a elevação do imposto cobrado sobre o ouro, gerando aumento no
custo de vida, devido ao crescimento populacional, agravando a situação precária do
garimpo já decadente. Estes fatos, aliados à grande violência que mesclou a sua
administração, bem como a escassez das minas de Cuiabá, tornaram-se
fundamentais para a grande evasão populacional para outras áreas.

A 29 de março de 1729, D. João V, criou o cargo de Ouvidor em Cuiabá.


Apesar do Brasil já se desenvolver a 200 anos, Cuiabá ainda participou da estrutura
antiga dos municípios, em que o poder máximo era exercido pelo legislativo,
cabendo ao executivo um simples papel de Procurador. O chefe nato do legislativo
era a autoridade suprema do Judiciário. Por isso o poder municipal era também
denominado de Ouvidoria de Cuiabá. Ainda não se usava designar limite ou área ao
município; apenas recebia atenção formal a sede municipal, com perímetro urbano.
O resto do território se perdia num indefinido denominado Districto. Por isso se
costumava dizer “Cuyabá e seu Districto”. Naquele tempo os garimpeiros corriam
atrás das manchas, lugares que rendiam muito ouro. Assim, em 1737, por ocasião
Historia de Mato Grosso 32

das notícias de muito ouro para as bandas do Guaporé, enorme contingente optou
pela migração. Se a situação da Vila de Cuiabá já estava difícil, tornou-se pior com a
criação da Capitania, em 09 de maio de 1748. Em 1751, a vila contava com seis
ruas, sendo a principal a Rua das Trepadeiras (hoje Pedro Celestino). Muitos de
seus habitantes migraram para a capital da Capitania, atraídos pelos privilégios
oferecidos aos que ali fossem morar. Este fator permitiu que Cuiabá ficasse quase
estagnada por período de setenta anos.
Historia de Mato Grosso 33

Vila Bela da Santíssima Trindade - Antiga Capital

Por ordem de Portugal, a sede


da Capitania foi fixada no Vale do Rio Moacyr Freitas - Quadros Histórico

Guaporé, por motivos políticos e


econômicos de fronteira. D. Antônio Rolim
de Moura Tavares, Capitão General, foi
nomeado pela Carta Régia de 25 de janeiro
de 1749. Tomou posse a 17 de janeiro de
1751. Rolim de Moura era fidalgo português
e primo do Rei, mais tarde foi titulado
Conde de Azambuja. A 19 de março de
1752, D. Rolim de Moura Tavares, fundou
Villa Bela da Santíssima Trindade, às Fundação de Vila Bela

margens do Rio Guaporé, que se tornou capital da Capitania de Mato Grosso.

Vários povoados haviam se formado na porção oestina, desde 1726 até a


criação da Capitania, a exemplo de Santana, São Francisco Xavier e Nossa Senhora
do Pilar.Esses povoados, além de constituírem os primeiros vestígios da ocupação
da porção ocidental da Capitania, tornaram-se o embrião para o surgimento de Vila
Bela, edificada na localidade denominada Pouso Alegre. O crescimento de Vila Bela
foi gradativo e teve como maior fator de sua composição étnica, os negros oriundos
da África para trabalho escravo, além dos migrantes de diversas áreas da Colônia.

O período áureo de Vila Bela ocorreu durante o espaço de tempo em que


esteve como sede política e administrativa da Capitania, até 1820. A partir daí,
começou a haver descentralização política, e Vila Bela divide com Cuiabá a
administração Provincial. No tempo do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves,
no início do século XIX, Cuiabá atraía para si a sede da Capitania. Vila Bela recebia
o título de cidade sob a denominação de Matto Grosso. A medida tardou a se
concretizar, dando até ocasião de se propor a mudança da capital para Alto
Paraguay Diamantino (atualmente município de Diamantino). A Lei nº. 09, de 28 de
Historia de Mato Grosso 34

agosto de 1835, encerrou definitivamente a questão da capital, sediando-a em


Cuiabá. Tratou-se de processo irreversível a perda da capital em Vila Bela, quando
esta “vila” declinava após o governo de Luíz de Albuquerque.

A cidade de Matto Grosso, a nova denominação, passou às ruínas, e era


considerada como qualquer outro município fronteiriço. Hoje em dia a cidade passou
a ser vista de outra maneira, principalmente pelo redescobrimento de sua riqueza
étnico-cultural. A Lei Federal nº. 5.449, de 04 de julho de 1968 tornou Mato Grosso
município de Segurança Nacional. Em 29 de novembro de 1978, a Lei nº. 4.014,
alterava a denominação de Mato Grosso para Vila Bela da Santíssima Trindade,
voltando ao nome original.
Historia de Mato Grosso 35

A Capitania

No período de Capitania, Moacyr Freitas - Quadros Histórico

Portugal se empenhou na defesa do


território conquistado. A preocupação com
a fronteira, a extensa linha que ia do
Paraguai ao Acre, continha um aspecto
estratégico: ocupar o máximo de território
possível na margem esquerda do Rio
Guaporé e na direita do Rio Paraguai. O rio
e as estradas eram questões de
Canoas de guerra no Rio Guaporé
importância fundamental, pois apenas se
podia contar com animais e barcos.

À Capitania de Mato Grosso faltava povo e recursos financeiros para


manter a política de conquista. Favorecimentos especiais foram prometidos para os
que morassem em Vila Bela, visando o aumento da povoação. Como o Rio Paraguai
era vedado à navegação até o Oceano Atlântico, os governadores da Capitania
agilizaram o domínio dos caminhos para o leste e a navegação para o norte, pelos
rios Madeira, Arinos e Tapajós.

Ocorreram avanços de ambas as partes, Portugal e Espanha, para


território de domínio oposto. Antes da criação da Capitania de Mato Grosso, os
missionários jesuítas espanhóis ocuparam a margem direita do Rio Guaporé, como
medida preventiva de defesa. Para desalojar os missionários, Rolim de Moura não
duvidou em empregar recursos bélicos.

No governo do Capitão General João Carlos Augusto D’Oeynhausen,


Dom João VI instituiu o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a 16 de
dezembro de 1815. A proximidade do governo supremo situado no Rio de Janeiro
favoreceu a solução mais rápida das questões de governo. A independência de
comércio trouxe novos alentos à vida mato-grossense.
Historia de Mato Grosso 36

Moacyr Freitas - Quadros Histórico Com a aproximação do fim da


Capitania, Cuiabá assumiu aos poucos a
liderança política. Vila Bela da Santíssima
Trindade funcionou eficazmente como
centro político da defesa da fronteira. Não
podia ostentar o brilho comercial de
Cuiabá e Diamantino. O último
governador da Capitania, Francisco de
Paula Magessi Tavares de Carvalho já
Deposição de Magessi governou todo o tempo em Cuiabá.

Em Mato Grosso, precisamente nos anos de maturação da


Independência, acirraram-se as lutas pelo poder supremo da Capitania. A nobreza, o
clero e o povo depuseram o último governador Magessi. Em seu lugar se elegeu
uma Junta Governativa. Enquanto uma Junta se elegia em Cuiabá, outra se elegeu
em Mato Grosso, topônimo que passou a ser conhecida Vila Bela da Santíssima
Trindade, a partir de 17 de setembro de 1818. Sob o regime de Juntas Governativas
entrou Mato Grosso no período do Brasil Independente, tornando-se Província.
Historia de Mato Grosso 37

Povoamento Setecentista

Nessa trajetória de ocupação e Moacyr Freitas - Quadros Histórico

povoamento da Capitania de Mato Grosso,


iniciada no governo de Rolim de Moura, outros
povoados surgiram, a exemplo de Santana da
Chapada, que, inicialmente se constituiu em
uma grande reserva indígena, devido à
determinação do governo em congregar naquela
porção da Capitania, tribos indígenas diversas,
Missão Jesuítica de Chapada
com o objetivo de minimizar os constantes
choques com as comunidades. Esse Parque Indígena, cuja formação remonta a
1751, teve a sua administração entregue a um padre jesuíta, que através de um
trabalho de aculturação, conseguiu colocá-los em contato com a população
garimpeira das proximidades.

O período de 1772 a 1789 foi decisivo para a Capitania de Mato Grosso e


conseqüentemente para o País, haja vista ter acontecido nessa época o alargamento
da fronteira ocidental do Estado, estendendo-se desde o Vale do Rio Guaporé até as
margens do Rio Paraguai. Para efetivação da política de expansão e povoamento e,
principalmente para assegurar a posse da porção ocidental da Capitania, por
inúmeras vezes molestadas pelos espanhóis, foram criados nesse período, alguns
fortes e povoados.

Em 1755, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, determinou a


fundação do Forte de Coimbra, sito à margem direita do Rio Paraguai. Um ano após
foi a vez do Forte Príncipe da Beira, instalado à margem direita do Rio Guaporé, hoje
Estado de Rondônia.

Em 1778, através de sua política expansionista, Luís de Albuquerque


fundou o povoado de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque, atualmente
município de Corumbá. Três anos após foi a vez da fundação de Vila Maria do
Historia de Mato Grosso 38

Paraguai, hoje Cáceres. Ainda em 1781 foi fundada a povoação de São Pedro Del
Rey, atualmente o município de Poconé. Além do que fundou os registros do Jauru
(região oeste) e Ínsua (região leste) no Rio Araguaia. Em 1783, Melo e Cáceres
determinou a fundação do povoado de Casalvasco e ainda ocupou a margem
esquerda do Rio Guaporé, de domínio espanhol, fundando o povoado de Viseu.
Historia de Mato Grosso 39

...e seus Desdobramentos

Antes da abordagem do
Moacyr Freitas - Quadros Histórico
povoamento no século XIX,
referenciamos a ocupação de povoados
que se revestiram de grande importância
no quadro geral da expansão
desenvolvimentista. Neste particular não
podem ser esquecidas as áreas hoje
constituídas pelos municípios de Barra
do Garças, Rosário Oeste, Nossa
Senhora do Livramento e Santo Antônio
de Leverger. Início do povoamento no século XVIII

Os primeiros sinais de povoamento na região onde hoje se localiza o


município de Barra do Garças, e consequentemente da margem esquerda do Rio
Araguaia, foi o Arraial dos Araés, mais tarde denominado Santo Antônio do
Amarante, por volta de 1752.

Na área do atual município de Nossa Senhora do Livramento, a mineração


aurífera se constituiu na célula mater de sua ocupação. Adversamente à ocupação
de grande porção da Capitania de Mato Grosso, a das áreas onde atualmente se
localizam os municípios de Santo Antônio de Leverger e Barão de Melgaço não se
fez embasada na mineração, mas sim na fertilidade das terras, denotada pela
exuberância das matas que margeavam toda a vasta orla ribeirinha, no baixo
Cuiabá. O início do povoamento remonta aos primeiros anos do século XVIII, e seus
primeiros habitantes constituiram-se não só de pessoas desgarradas das bandeiras
que aportavam em Cuiabá, mas também daquelas que buscavam fugir da penúria
que por longo tempo reinou no povoado.
Historia de Mato Grosso 40

Album Gráphico Em 1825, a população da região de


Diamantino era de cerca de 6.077
pessoas, das quais 3.550 escravos.
Cuiabá era o principal centro comercial
de borracha, e além da Casa Almeida,
trabalhavam neste ramo as empresas,
Casa Orlando, fundada em 1873,
Alexandre Addor, fundada em 1865 e
com sede na Rua Conde D’Eu (hoje
Transporte da borracha no início do século XX
Avenida 15 de novembro), ainda as
empresas Firmo & Ponce, Figueiredo Oliveira, Lucas Borges & Cia., Fernando Leite
e Filhos, João Celestino Cardoso, Eduardo A. de Campos, Francisco Lucas de
Barros, Arthur de Campos Borges, Dr. João Carlos Pereira Leite e outros. Foi a
época do esplendor da borracha, com Diamantino sendo o grande centro produtor e
Cuiabá convergindo a comercialização.
Historia de Mato Grosso 41

O Primeiro Império

Em 25 de março de 1824, Moacyr Freitas - Quadros Histórico

entrou em vigor a Constituição do


Império do Brasil. As Capitanias
passaram à denominação de
Províncias, sendo os presidentes
nomeados pelo Imperador. Mas o
Governo Provisório Constitucional
regeu Mato Grosso até 1825. A 10
de setembro de 1825, José Saturnino
da Costa Pereira assumiu o governo,
Hasteamento da Bandeira do Império
em Cuiabá, como primeiro
governador da Província de Mato Grosso, após a gestão do Governo Provisório
Constitucional. No governo de Costa Pereira passou por Mato Grosso a célebre
expedição russa, chefiada pelo Barão de Langsdorff, quando se registrou fatos e
imagens da época.

Também Costa Pereira, por arranjos de negociação, paralisou o avanço


de 600 soldados chiquiteanos contra a região do Rio Guaporé, em fins de 1825.
Costa Pereira criou o Arsenal da Marinha no porto de Cuiabá e o Jardim Botânico da
cidade, entregando-o à direção do paulista Antônio Luís Patrício da Silva Manso. No
governo do presidente Antônio Corrêa da Costa, ocorreu a criação do município de
Poconé, por Decreto Regencial de 25 de outubro de 1831, o quarto de Mato Grosso
e o primeiro no período Provincial - “Villa do Poconé”.
Historia de Mato Grosso 42

Moacyr Freitas - Quadros Histórico A 28 de maio de 1834, o também


tenente coronel João Poupino Caldas,
assume a presidência da Província. Em seu
governo eclodiu a Rusga, revolta nativista
que transformou a pacata comunidade
cuiabana em feras à cata de portugueses, a
quem chamavam bicudos. Em Cuiabá a
“Sociedade dos Zelosos da Independência”
organizou a baderna, visando a invasão das
Revolta da Rusga casas e comércios de portugueses.

Antônio Pedro de Alencastro assume o governo da Província a 29 de


setembro de 1834 e promove processo contra os criminosos da sedição mato-
grossense. Poupino, em troca da confiança do Presidente da Província, programa o
enfraquecimento dos amotinados pela dissolução da Guarda Municipal e
reorganização da Guarda Nacional. A Assembléia Provincial, pela Lei nº. 19
transfere a Capital da Província de Mato Grosso da cidade de Matto Grosso (Vila
Bela) para a de Cuiabá.

A 14 de agosto de 1839 circulou pela primeira vez um jornal em Cuiabá -


Themis Mato-Grossense. A primeira tipografia foi adquirida por subscrição pública
organizada pelo Presidente da Província José Antônio Pimenta Bueno, que era
ferrenho defensor dos direitos provinciais. A educação contou com seu irrestrito
apoio, sob sua direção, foi promulgado o Regulamento da Instrução Primária, através
da Lei nº. 08, de 05 de março de 1837. Esse regulamento, disciplinador da matéria,
estabelecia a criação de escolas em todas as povoações da Província e o
preenchimento dos cargos de professor mediante concurso. Multava os pais que não
mandassem seus filhos ás escolas, o que fez com que o ensino fosse obrigatório.
Pimenta Bueno passou seu cargo ao cônego José da Silva Guimarães, seu vice.
Historia de Mato Grosso 43

O Segundo Império

O primeiro presidente da Província de Mato Grosso, nomeado por Dom


Pedro II, foi o cuiabano cônego José da Silva Magalhães, que assumiu a 28 de
outubro de 1840. Em 1844, chega a Cuiabá o médico Dr. Sabino da Rocha Vieira
para cumprir pena no Forte Príncipe da Beira. Fora o chefe da famosa Sabinada,
pretendendo implantar uma República no Brasil. Neste mesmo ano de 1844, o
francês Francis Castelnau visitou Mato Grosso em viagem de estudos. Tornou-se
célebre pelos legados naturalistas.

O cel. João José da Costa Pimentel foi nomeado para a presidência da


Província a 11 de junho de 1849. Augusto Leverger, nomeado a 07 de outubro de
1850, assumiu o governo Provincial a 11 de fevereiro de 1851. Exerceu a
presidência cinco vezes. Além de providências notáveis no tempo da Guerra do
Paraguai, notabilizou-se pela pena de historiador de Mato Grosso.

Importante Tratado abriu as portas do comércio de Mato Grosso para o


progresso: o de 06 de abril de 1856. Graças à habilidade diplomática do Conselheiro
Paranhos, Brasil e Paraguai celebraram o Tratado da Amizade, Navegação e
Comércio.

O primeiro vapor a sulcar as águas da Província de Mato Grosso foi o


Water Witch, da marinha dos Estados Unidos, sob o comando do Comodoro Thomaz
Jefferson Page, em 1853, incumbido pelo seu governo da exploração da navegação
dos afluentes do Prata. Em 1859, ao tomar posse o presidente Antônio Pedro de
Alencastro (o 2º Alencastro), chegou a Mato Grosso o Ajudante de Ordens, o capitão
Manoel Deodoro da Fonseca, o futuro proclamador da República.
Historia de Mato Grosso 44

Moacyr Freitas - Quadros Histórico No ano de 1862, o célebre pintor


Bartolomé Bossi, italiano, visitou a Província
de Mato Grosso, deixando um livro de
memórias. Imortalizou em tela
acontecimentos da época. Sobressai na
História de Mato Grosso o episódio da
Guerra do Paraguai. Solano Lopes
aprisionou a 12 de novembro de 1864 o
navio brasileiro Marquês de Olinda, que havia
Vapor Water-Witch
acabado de deixar o porto de Assunção,
conduzindo o presidente eleito da Província de Mato Grosso, Frederico Carneiro de
Campos. Começara ali a Guerra do Paraguai, de funestas lembranças para Mato
Grosso. Os mato-grossenses foram quase dizimados pela varíola. Um efeito cascata
se produziu atingindo povoações distantes. Metade dos moradores de Cuiabá
pereceu. No entanto, o povo de Mato Grosso sente-se orgulhoso dos feitos da
Guerra do Paraguai onde lutaram em minoria de gente e de material bélico, mas
tomando por aliado o conhecimento da natureza e sempre produzindo elementos
surpresa. Ruas e praças imortalizaram nomes e datas dos feitos dessa guerra.

A notícia do fim da Guerra do Paraguai chegou a Cuiabá no dia 23 de


março de 1870, com informações oficiais. O vapor Corumbá chegou embandeirado
ao porto de Cuiabá, às cinco da tarde, dando salvas de tiros de canhão. Movimento
notável ocorrido nesse período do Segundo Império foi o da abolição da escravatura.
O símbolo do movimento aconteceu a 23 de março de 1872: O presidente da
Província, Dr. Francisco José Cardoso Júnior, libertou 62 escravos, ao comemorar o
aniversário da Constituição do Império. Em dezembro do mesmo ano, foi fundada a
“Sociedade Emancipadora Mato-Grossense”, sendo presidente o Barão de Aguapeí.

A 12 de agosto de 1888, nasceu o Partido Republicano. Nomeiam-se


líderes; José da Silva Rondon, José
Barnabé de Mesquita,
Historia de Mato Grosso 45

Vital de Araújo, Henrique Moacyr Freitas - Quadros Histórico

José Vieira Filho, Guilherme Ferreira


Garcêz, Frutuoso Paes de Campos,
Manoel Figueiredo Ferreira Mendes. A
notícia da Proclamação da República
tomou os cuiabanos de surpresa a 09
de dezembro de 1889, trazida pelo
comandante do Paquetinho Coxipó,
pois vinte e um dias antes, a 18 de
novembro felicitaram Dom Pedro II por Trincheiras de Barão de Melgaço, por ocasião da Guerra do
Paraguai.
ter saído ileso do atentado de 15 de
junho. A 02 de setembro a Assembléia Provincial aprovara unânime a moção
congratulatória pelo aniversário do Imperador. Ao findar o Império, a Província de
Mato Grosso abrigava 80.000 habitantes.
Historia de Mato Grosso 46

A Primeira República

Em 09 de dezembro de 1889, Antônio Moacyr Freitas - Quadros Histórico

Maria Coelho assumiu as rédeas do governo


republicano em Mato Grosso. A 15 de agosto de
1891 se promulgava a Primeira Constituição do
Estado de Mato Grosso. O termo Província deu
lugar a Estado. O chefe do executivo mantinha a
denominação de presidente. Eleito pela
Assembléia Legislativa, o jurista Dr. Manoel
Notícia da Proclamação da República
José Murtinho assumiu o cargo de primeiro
presidente do Estado de Mato Grosso, a 16 de agosto de 1891.

Em 1894, os salesianos chegaram a Mato Grosso, a pedido do bispo Dom


Carlos Luís D’Amour ao fundador Dom Bosco. Os salesianos deixaram histórico
rastro cultural em Mato Grosso, notabilizaram-se pelas Missões entre povos
indígenas. O conturbado período político de 1889 a 1906 assinalou progressos
econômicos. Usinas açucareiras da beira do Rio Cuiabá desenvolveram-se,
tornando-se potências econômicas no Estado.

Album Gráphico Notabilizaram-se as Usinas da


Conceição, Aricá, Itaicy - além de outras.
Também a produção de borracha tomou
notável impulso. Outra fonte de riqueza em
crescimento foram os ervais da região
fronteiriça com o Paraguai. Em 1905
tiveram início as obras da estrada de ferro,
que cortou o sul do Estado.

Usina de Itaicy Os chefes do Partido


Republicano, além de se reunirem em pontos de difícil acesso, como nos seringais,
também obtiveram asilo político no Paraguai, ali editaram o jornal “A Reação”, que
entrava clandestinamente em Mato Grosso. Em 1906, Generoso Ponce retorna a
Historia de Mato Grosso 47

Mato Grosso e em Corumbá se encontra com Manoel José Murtinho, então


adversário político. Fazem as pazes e nasce o movimento denominado “Coligação”.

O Partido Republicano ordena as forças para a retomada do poder


presidencial de Cuiabá, pressionando do sul e do norte. Ponce sobe de Corumbá e o
cel. Pedro Celestino desce de Alto Paraguai Diamantino. Ponce agia às pressas,
porque o presidente Antônio Paes de Barros pedira socorro à União. Do Rio de
Janeiro o gal. Dantas Barreto partiu em auxílio ao presidente do Estado de Mato
Grosso. As duas tenazes, do norte e do sul, à medida que progrediam o avanço,
recebiam adesões de patriotas. Cerca de 4.000 homens cercaram Cuiabá.

O presidente Antônio Paes de Barros, vendo-se impotente, furou o cerco,


tomando disfarce, mas foi descoberto nas imediações da fábrica de pólvora do
Coxipó, onde foi assassinado, a 06 de julho de 1906. A 15 de agosto de 1907, o cel.
Generoso Paes Leme de Souza Ponce assumiu o governo do Estado de Mato
Grosso. Seus substitutos legais

eram o cel. Pedro Celestino Corrêa da


Costa, dr. Joaquim Augusto da Costa
Marques e o cel. João Batista de Almeida
Filho. O cel. Pedro Celestino foi
substituído pelo Dr. Joaquim Augusto da
Costa Marques, que tomou posse a 15 de
agosto de 1911, tendo como vice o cel.
Joaquim Caraciolo Peixoto de Azevedo,
dr. José Carmo da Silva Pereira e o Dr. Generoso Ponce

Eduardo Olímpio Machado. O presidente Costa Marques conseguiu a proeza de


governar ininterruptamente, fato inédito naqueles tempos de política turbulenta. A
Costa Marques sucedeu em 15 de agosto de 1915, o gal. Caetano Manoel de Faria e
Albuquerque.

Eram difíceis os tempos de I Grande Guerra Mundial, sendo que a 22 de


janeiro de 1918, tomou posse D. Francisco de Aquino Corrêa, Bispo de Prusíade,
eleito para o quadriênio 1918-1922, governando por todo seu mandato.
Posteriormente foi eleito, por voto direto o cel. Pedro Celestino Corrêa da Costa, que
Historia de Mato Grosso 48

assumiu o governo em 22 de janeiro de 1922, cujo mandato se expiraria em 1926.


No entanto, não chegou a completá-lo, deixando o comando do governo, por motivos
de saúde, a 1º de novembro de 1924. Nesta ocasião o 1º vice-presidente, Dr.
Estevão Alves Corrêa, assumiu a presidência, governando até o fim do mandato.

Neste período cruzou o chão mato-grossense a épica “Coluna Prestes”,


que passou por diversas localidades do Estado, deixando um rastro de admiração e
tristeza.

O 10º presidente constitucional do Estado de Mato Grosso foi o Dr. Mário


Corrêa da Costa, que governou de 1926 até 1930. O Dr. Aníbal Benício de Toledo,
11º presidente constitucional, assumiu o governo estadual a 22 de janeiro, para o
quadriênio 1930-1934. Esteve à frente da governadoria apenas por 9 meses e 8
dias, em função dos resultados práticos da Revolução de 30. Na sequência assumiu
o governo o major Sebastião Rabelo Leite - Comandante da Guarnição Militar de
Cuiabá.
Historia de Mato Grosso 49

A Segunda República

Os anos de 1930-1945 foram


marcados por forte influência européia. A
política centralizadora de Getúlio Vargas se fez
sentir em Mato Grosso: interventores federais
foram nomeados por entre exercícios de curto
governo. A 16 de julho de 1934, o Congresso
Nacional promulgou uma nova Constituição
Federal, que foi seguida pela estadual mato- Getúlio Vargas

grossense, a 07 de setembro de 1935. O título de presidente foi substituído pelo de


governador. Os constituintes estaduais elegeram o Dr. Mário Corrêa da Costa para
governador, que tomou posse como o 12º governo constitucional. Foi este um
governo marcado por agitações políticas. A normalidade voltou com a eleição do bel.
Júlio Strubing Müller pela Assembléia Legislativa para governador, que assumiu o
cargo em 04 de outubro de 1937.

Ocorrendo o golpe do “Estado Novo” de Getúlio Dornelles Vargas a 10 de


novembro de 1937, o Estado de Mato Grosso passou ao regime de interventoria
novamente. Nesse período registraram-se progressos econômicos e notável
participação de Mato Grosso na Segunda Guerra Mundial. Em 15 de outubro de
1939, instalou-se em Cuiabá a Rádio Voz do Oeste, sob a direção de seu criador,
Jercy Jacob: professor, poeta, músico, compositor e técnico em radieletricidade.
Marcou época o programa “Domingo Festivo na Cidade Verde”, apresentado por
Rabello Leite e Alves de Oliveira, ao vivo, no anfiteatro do Liceu Cuiabano. Mais
tarde, Alves de Oliveira e Adelino Praeiro deram seqüência ao programa no Cine
Teatro Cuiabá.

Por efeito da Constituição Federal de 1946, um novo período de


normalidade se instituiu. A Assembléia Constituinte de Mato Grosso elegeu o
primeiro governador do período, Dr. Arnaldo Estevão de Figueiredo. A 03 de outubro
de 1950 houve eleições para governador, concorrendo Filinto Müller, pelo Partido
Social Democrata e Fernando Corrêa da Costa pela União Democrática Nacional.
Historia de Mato Grosso 50

Venceu Fernando Corrêa, que tomou posse a 31 de janeiro de 1951, governando até
31 de janeiro de 1956. Fernando Corrêa da Costa instalou a Faculdade de Direito de
Mato Grosso, núcleo inicial da futura Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.

Reprodução O engenheiro civil João Ponce de


Arruda recebeu das mãos de Fernando Corrêa o
governo de Mato Grosso, administrando o
Estado por cinco anos, de 31 de janeiro de 1956
até 31 de janeiro de 1961. A 19 de janeiro de
1958, faleceu no Rio de Janeiro Cândido
Mariano da Silva Rondon ou simplesmente o
Marechal Rondon, como ficou mundialmente
Filinto Müller
conhecido.

Em 31 de janeiro de 1961, pela segunda vez, o médico Fernando Corrêa


da Costa tomou posse como governador. Em seu segundo mandato ocorreu a
Revolução de 31 de março de 1964, o que serviu para “esticar” o período de
governo, permanecendo à frente do executivo até 15 de março de 1966. Governou
nesta segunda vez por cinco anos, um mês e 15 dias.

Em 1964 Mato Grosso tornou-se um dos focos do movimento


revolucionário. Declarada a Revolução em Minas Gerais, a tropa do 16º Batalhão de
Caçadores de Cuiabá avançou para Brasília, sendo a primeira unidade militar a
ocupar a capital da República.

O governo militar instituiu o voto indireto para governador. O nome era


proposto pela Presidência da República, homologado pela Assembléia Legislativa.
Apenas em 1982, voltariam às eleições diretas. No primeiro governo revolucionário,
o Dr. Roberto de Oliveira Campos, mato-grossense de largo passado de serviços
públicos, foi escolhido para Ministro de Planejamento. No governo do general
Castelo Branco, o mato-grossense general Dilermando Gomes Monteiro exerceu a
função de Subchefe da Casa Militar, passando a Chefe da Casa Militar no governo
do gal. Ernesto Geisel, posteriormente o Comandante do II Exército e a Ministro do
Superior Tribunal Militar.
Historia de Mato Grosso 51

Filinto Müller se projetou como senador, nacionalmente. Líder do governo


no Senado Federal, Presidente do Senado e Presidente da ARENA. Faleceu em
desastre aéreo nas proximidades de Paris, em 1972, na chamada “Tragédia de Orly”,
quando exercia a função de Presidente do Congresso Nacional.

A par do progresso material, o Estado desenvolveu-se culturalmente. No


governo de Pedro Pedrossian, que governou por cinco anos, surgiram as
universidades de Cuiabá e Campo Grande. Verificou-se a inauguração da primeira
emissora de televisão, a TV Centro América, em 1969. Logo a seguir Mato Grosso
se ligaria ao resto do Brasil por microondas, pela EMBRATEL, e logo pelo sistema de
Discagem Direta a Distância - DDI. Mato Grosso tornou-se ponto de apoio ao
governo federal para o projeto de integração da Amazônia, desfraldado o slogan
“integrar para não entregar”.

Uma das conseqüências do desenvolvimento foi o desmembramento do


território, formando o Estado de Mato Grosso do Sul, a 11 de outubro de 1977,
através da Lei Complementar nº. 31. O novo Estado foi instalado a 1º de janeiro de
1979. No período pós Estado Novo, dois mato-grossenses subiram à Presidência da
República: Eurico Gaspar Dutra e Jânio da Silva Quadros.

A crise econômica brasileira se tornou aguda nesse período com a


desvalorização acelerada da moeda nacional. Sem os suportes de projetos federais
especiais para a fronteira agrícola, os migrantes em parte se retiraram de Mato
Grosso. No entanto, um projeto de maior monta é o conjunto de infra-estrutura de
transporte. O projeto de estrada de ferro ligando São Paulo a Cuiabá entra em fase
de efetivação, a fim de resolver parte dos problemas de transporte de grãos. O
projeto de uma zona de Processamento de Exportação entra em fase de
implantação. Visa-se exportar os produtos mato-grossenses por via fluvial.

O povo migrado para Mato Grosso tem, com a crise brasileira, a ocasião
de uma pausa no desenfreado trabalho de progresso, ocupando-se com o
aprofundamento da cultura mato-grossense. Mato Grosso ingressa definitivamente
na idade da cultura, completando o desenvolvimento material, comercial e industrial.
Historia de Mato Grosso 52

Guerra no Rio da Prata

O conflito que aqui a historia o chamou de Guerra do Paraguai foi o maior


conflito armado ocorrido na bacia do Prata, na America do Sul, travado entre o
Paraguai e a Tríplice aliança formada pelo Brasil, Argentina e Uruguai.
Em 1862, Francisco Solano Lopes, governante paraguaio, chamado de EL
Supremo, o qual sucedeu seu pai na condução do destino da nascente nação que
desde 1811, nascera do desmembramento do Vice-reino do Prata, quando adquiriu
sua autonomia política, sob o comando de um ditador.
Solano Lopez ambicioso e com formação européia, onde obteve
conhecimento e direcionou o seu pensamento político inspirado nos déspotas
europeus do século XVIII e no Imperador da França Napoleão III. Com tendência
expansionista era defensor do projeto de um “Paraguai Maior”, com acesso direto ao
Oceano Atlântico.
A fuga de Aguirre em conseqüência da invasão do território do Uruguai,
pelo exercito brasileiro, na defesa dos interesses nacionais na região sul brasileira,
que sofria as conseqüências de constantes incursões organizadas pelo Líder
Uruguai do Partido Blanco, em uma região que havia grande criadores de gado.
Diante dos ocorridos o governo brasileiro resolveu intrometer na política interna do
Uruguai, para proteger o território gaúcho, da intromissão de Aguirre. As incursões
brasileiras em território Uruguai, e a expulsão do líder do Partido Blanco e sua
retirara do poder uruguaio, em que promove e apóia o Partido Colorado, entregando
o comando da Nação Uruguaia sob o governo de Venâncio Flores que declara
apoio ao Brasil sem reserva, pelo apoio recebido.
A intervenção brasileira na política interna uruguaia provocou a imediata
reação de EL Supremo, governante paraguaio, onde explode no Rio de Janeiro a
noticia de que o Paraguai, sem prévio aviso nem declaração de guerra, capturou o
Navio a Vapor Brasileiro Marquês de Olinda, que saíra de Assunção com destino a
Cuiabá, o qual tinha a bordo o presidente da província de Mato Grosso Frederico
Carneiro de Campos.
Historia de Mato Grosso 53

Solano Lopez armou um esquema de combate esperando obter o apoio


dos membros do Partido Blanco no Uruguai e dos Coudilhos ( nobres e grandes
fazendeiros influente) da Província de entre rio na Argentina na pessoa do general
Urquiza. Reuniu a princípio, 64 mil combatentes, elevando-os posteriormente a
quase 100 mil. Fortalezas de uma pequena esquadra fluvial completavam o poderio
bélico do paraguaio.
Ao final de 1864, o presidente paraguaio determinou a invasão da
Província de Mato Grosso, chegando a Dourados (Município do atual Mato Grosso
do Sul). Pediu autorização da Argentina para cruzar seu território e invadir o Rio
Grande do Sul. O governante argentino Mitre, recusou o pedido, e Lopez determinou
a invasão do território argentino.
Em 1865, Solano Lopez ordenou a divisão das forças, que passaram a
atacar simultaneamente, o norte e o sul. Nesse mesmo ano, brasileiros, argentinos
partidários de Mitre e Uruguaios colorados de Flores assinaram o Tratado da
Tríplice Aliança, contra o governante paraguaio.
O Exército invasor paraguaio fora cercado e rendeu-se em Uruguaiana, no
Rio Grande do Sul, em 1865. Uma coluna militar Imperial brasileira infiltrou-se por
trás das linhas inimigas no Mato Grosso, numa região pantanosa.
O conflito chegou ao seu ponto Maximo em 1866. Forças inimigas
defrontaram-se em Tuiuti, movimentando aproximadamente 65 mil soldados. Foi a
maior batalha da guerra, na qual morreram mais de 10 mil homens.
Na historia de Mato Grosso, sobressai o episódio da Guerra do Paraguai,
onde Mato Grosso contribuiu para a Pátria de modo notável, fazendo frente aos
avanços das forças de Francisco Solano Lopez sobre o território matogrossense,
qual for a escolhido por Solano Lopez para sua primeira frente de guerra, o qual
julgava que a Província não representasse maior empecilho aos avanços do bem
treinado e equipado exercito paraguaio, daquele tempo ao tomar posse de um
grande vazio, embora não representasse ganhos bélicos notáveis. Sem duvida
assegurava uma larga frente territorial, uma vitória estrondosa para inicio de guerra,
tornando-se um fato nada desprezível de tática, pela s suas estratégicas pessoais
de guerra, um triunfo para começo de batalha sobre o território provincial de Mato
Grosso.
O sucesso das investida das tropas d e Solano Lopes, e a reação das
tropas aliadas, tendo que atender a defesa do próprio território, frente ao sucessos
Historia de Mato Grosso 54

empreendido pelas forças aliadas Rio Paraguai acima. Os matogrossenses, por sua
vez com meios improvisados podiam fazer frente aos paraguaios descendo o Rio
Paraguai.
O novo presidente da Província de Mato Grosso Dr. José Vieira Couto de
Magalhães, empossado a 02 de Fevereiro de 1867, organizou três corpos de
Expedicionários voluntários da Pátria – para retomar Corumbá. O conselho de
Oficiais julgou a tarefa impossível, mas o capitão Antonio Maria Coelho se levantou e
tomou posição, levando a crer que poderia retomar Corumbá com “igarités”, canoas,
e que estava pronto para dirigir as forças matogrossense. Couto de Magalhães
investiu Maria Coelho no comando das tropas, comissionando-o à Tenente Coronel.
O Plano era atingir Corumbá em movimento de pinça pelo sul e pelo norte
e se surpresa não dando tempo por nenhum dos lados aos invasores paraguaios.
As estratégias sob o comando do Ten. Cel. Antonio Maria Coelho,
esperariam o corpo que desceria os Paraguaios embarcados em 20 canoas de
grande porte, partindo de Cuiabá, mas temendo que os paraguaios descobrissem o
estratagema do envolvimento pelo sul, Antonio Maria decidiu desfechar o ataque de
surpresa a Corumbá, utilizando para somente um corpo de expedicionários. A
guarnição paraguaia de cerca de 200 homens fora tomada de surpresa sem chance
de defesa, porém reagiu em violenta luta corpo-a-corpo, resultando em apenas 27
prisioneiros paraguaios. O Tenente Coronel Maria Coelho perdeu 09 homens e 27
ficaram feridos.
Historia de Mato Grosso 55

Artesanato de Matogrossense 5

O artesanato mato-grossense reflete, em suas obras, o modo de vida do


artesão, respeitando sua singularidade e mantendo viva a cultura do nosso povo. Em
cada obra, vemos representado o dia-a-dia e os costumes da sociedade em que vive
o artesão, o que faz com que cada obra seja única e de expressões próprias.
O trabalho começou com a necessidade de suprir a falta de determinados
objetos de difícil aquisição. A criatividade dos artesãos fez desta necessidade, o
surgimento do artesanato. Verdadeiras obras de arte enriquecem nossa cultura e
transformam o cotidiano num encanto de belezas. São objetos de barro, madeira,
fibra vegetal, linhas de algodão e sementes.

Cerâmica

Dentro do artesanato mato-grossense a cerâmica é a que mais se destaca


pelas suas formas e perfeições. Feita de barro cozido em forno próprio, ela é muito
utilizada para a fabricação de utensílios domésticos (pratos, copos, tigelas, bandejas,
entre outros) e objetos de ornamentação (vasos, cinzeiros e objetos de decoração).
Todos esses objetos são fabricados a partir do barro encontrado na região ribeirinha
de São Gonçalo, onde encontramos muitos ceramistas que fazem desta arte sua
fonte de renda. Mais do que modelar o barro, eles traçam marcas que se refletem
num trabalho único e admirável, com formas e desenhos que expressam a
tradicional cultura regional.

Tecelagem

Na divulgação da arte, cultura e tradição mato-grossense, a tecelagem


detém grande representatividade, principalmente pela beleza das cores refletidas
nas redes tingidas e bordadas, uma a uma, pelas mãos de nossas artesãs, que
fazem de cada detalhe uma verdadeira obra de arte. Nelas, a mistura de cores forma

5
Fonte: http://www.coisasdematogrosso.com.br/site/matogrosso/index.asp?cod=18
Historia de Mato Grosso 56

linda imagens, que vão desde araras e onças até belas flores nativas. Nesta arte de
tecer as redes, merecem destaque as artesãs da região Limpo Grande, em Várzea
Grande, que transformam as linhas de algodão numa fantástica mistura de cores,
que expressam os mais belos símbolos de nossa cultura.
Ainda no que tange à tecelagem, encontramos as artesãs de Cuiabá e
Rondonópolis que fazem do algodão, lindas echarpes, mantas e almofadas tingidas
com sementes naturais ou ainda bordadas. O tingimento da lã é natural, e as cores
são obtidas da própria natureza, extraídas de plantas como a Anileira (azul e tons), a
Sandra D´água (vermelho e tons), o Jenipapo (preto e cinzas), Casca de Cebola
(marrom claro, Giesta (amarelo), musgos e confreis (verde e tons), entre outros.
Cada planta tem uma característica própria e, por isso, as cores obtidas, mesmo que
sejam da mesma planta, nunca são as mesmas. É justamente isso que caracteriza
esse trabalho, marcado pela autenticidade, originalidade e beleza, produzido
artesanalmente, mesclando a lã, os elementos da natureza e a criatividade das
artesãs.

Fibras

No trabalho de trançados, os artesãos utilizam-se de matéria-prima vinda


da natureza; são fibras vegetais vindas da taquara, buriti, urubamba e fibra de coco
patauá. Neste artesanato destacam-se os produtores artesanais de Alta Floresta,
que transformam a fibra do coco em cestos, luminárias, objetos de enfeite e os mais
variados estilos de móveis. Também os artesãos de Poconé e Várzea Grande, que
através das fibras expõem sua criatividade, produzindo lindas peças de decoração. A
confecção destes objetos é feita com fibras ainda verdes, para que, ao secarem, já
tomem a forma desejada pelo artesão. Depois, é só dar o acabamento com cores
naturais, que dão mais expressividade ao trabalho.

Boneca de Pano

O artesanato de bonecas de pano vem ganhando espaço com as artesãs


de Dom Aquino. O projeto reúne 20 mulheres que, através da arte, contam e
resgatam a história e a cultura mato-grossense. A primeira coleção conta com
Historia de Mato Grosso 57

personagens conhecidos pela nossa história, como o pantaneiro, o pescador, a


algodoeira, a piladeira e com algumas tradições, como a Dança do Chorado, o Siriri,
o Cururu, a Dança do Congo e o Pássaro Mutum. Uma nova coleção vem sendo
produzida com os animais do nosso Pantanal, a fim de exaltar e valorizar a riqueza
da nossa região. Além da beleza e da perfeição com que as bonecas são
produzidas, este artesanato tem a intenção de despertar a curiosidade sobre os
costumes, tradições, histórias e natureza da nossa região, nas crianças e em todos
aqueles que apreciam o artesanato.

Indígena

Nossa cultura sofreu forte influência dos indígenas, através de seus


costumes e tradições que, ainda hoje, se fazem presente em nosso cotidiano. O
artesanato é tido de madeira forte e expressiva, representando o modo de vida de
cada tribo. Do artesanato eles retiram os utensílios que os auxiliam no dia-a-dia.
Mas, além disso, eles preservam a arte de confeccionar cocar, colares, brincos e
pulseiras, utilizando-se das matérias-primas oriundas da natureza, como sementes,
penas, pigmentos, entre outros. Este artesanato é muito valorizado e,
expressivamente encontrado na região de Cáceres e Tangará da Serra.

Madeira

Propiciado pela riqueza natural da nossa região, o artesanato em madeira


é uma arte que começou com o aproveitamento desta matéria-prima, a fim de suprir
as necessidades das primeiras comunidades. Um trabalho que iniciou com o fabrico
de canoas, mas que atingiu proporções diversas, passando a serem confeccionadas
tigelas, gamelas, utensílios para utilização domiciliar e lindos objetos de decoração,
como esculturas que, através de suas formas, representam os símbolos da região.
Esses objetos são fabricados a partir de madeiras como a “ximbuva” e o “cambará”
por serem macias e mais fáceis de escavar. Neste artesanato, merecem destaque os
artesãos de Alta Floresta e Cuiabá.
Historia de Mato Grosso 58

Bambu

A natureza nos presenteia, a cada dia, com as matérias-primas


responsáveis pela fabricação de grandes obras de arte, como é o caso do artesanato
do bambu. Com ele, os artesãos criam lindas peças de decoração e uma enorme
linha de móveis, como sala de jantar, mesas de apoio e muito mais. Além de ser um
material ecologicamente correto, o bambu é mais leve e resistente, permitindo aliar
as atividades artesanais com a exigência do mercado atual, mantendo a qualidade, a
durabilidade e o baixo custo. Os móveis de bambu são produzidos, principalmente,
através de cooperativas pela bambuzerias de Santo Antônio do Rio Abaixo, de São
Sebastião, de Santo Antônio do Leverger e de Chapada dos Guimarães.

Velas Artesanais

A vela é utilizada, há milhões de anos, por nós, seres humanos, para


iluminar ambientes. No entanto, elas ganharam novos atributos nas mãos dos
artesãos, que utilizam elementos especiais, como flores e sementes secas colhidas
no campo, canela, cravo, anis, abacaxi e laranja desidratados, dentre outros, para
produzirem velas de aromas e formas especiais. Embelezando e exalando o perfume
das essências, as velas despertam sensações diversas em cada pessoa, como
tranqüilidade, energia, paz, força, afeto, entre outras. Cada uma traz consigo os
elementos da natureza, envoltos de muita originalidade e criatividade, com que os
artesãos buscam o equilíbrio e a harmonia em cada vela que produzem.

Sementes

Utilizando as sementes de Açaí, Jupati, Sororoca, Saboneteira, Jarina e


Tento - Vermelho de castanhas, coco, casca de jatobá e tucum, entre outros, a
confecção de jóias artesanais, em Mato Grosso, está cada vez mais em evidência. A
partir dessas matérias-primas, são produzidas pulseiras, colares, brindos e cintos
dos mais variados tamanhos, cores e design. Este trabalho, que começou em
pequenas cooperativas, hoje já alcança admiradores e compradores de todo o
mundo. Nesta arte de utilizar pequenas, mas valiosas, peças da natureza, para
Historia de Mato Grosso 59

exaltar, principalmente, a beleza feminina, destacam-se os artesãos de Tangará da


Serra, Sinop e Alta Floresta.
Historia de Mato Grosso 60

Folclore e Manifestações Populares6

Viola–de-Cocho

Instrumento
tipicamente mato-
grossense, é utilizado nas
tradicionais festas, onde
há dança de Cururu e
Siriri, tanto na capital como
nas regiões ribeirinhas e
pantaneiras.
Confeccionada,
artesanalmente, a partir de
um tronco de madeira
inteiriça, ainda verde, é
esculpida no formato de uma viola que é escavada no corpo até que suas paredes
fiquem bem finas, obtendo-se assim o cocho propriamente dito.
As primeiras violas-de-cocho tinham suas cordas feitas de tripa de
macaco, ouriço ou da película de folha de tucum, o que tornava o som diferente; hoje
em dia, elas já são feitas de cordas de nylon por motivos ambientais.
A cola usada era da bolsa respiratória pulmonar de peixes, como Pintado,
Jaú e Piranha. Sua ressonância, que varia entre maiôs ou menor, de acordo coma
música a ser tocada, depende da espessura das paredes do tampo. As violas
geralmente medem 70 cm de comprimento. São usadas tanto no cururu quanto no
siriri e até em qualquer outro tipo de música.

6
FERREIRA, João Carlos Vicente - Mato Grosso e seus Municípios- Cuiabá – Mato Grosso:
Secretaria de Estado de Educação, 1997.
Historia de Mato Grosso 61

Siriri

O siriri é uma das danças mais populares do folclore mato-grossense.


Praticada na cidade e na zona rural, tem presença indispensável em festas,
batizados, casamentos e festejos religiosos. É uma dança que lembra celebrações
indígenas. Dando por homens, mulheres e até crianças, numa coreografia bastante
variada e sem uma interpretação definida, acontece em sala de casas, varandas ou
mesmo terreiros. A música é simples, falando de coisas da vida, desde o
nascimento, família e a presença de amigos. Os tocadores são também os
cantadores e quem dança também faz o coro.
As vozes são estridentes, entoam tristeza e nostalgia nas melodias tristes,
e alegria e descontração nas canções de festejo. Torna-se irresistível para quem vê;
logo quer entrar na dança, que transmite respeito à vida e o culto à amizade.
Ainda é desconhecida a origem do nome; há duas versões: uma de ser
originado de uma palavra portuguesa e outra do nome de um cupim de asas que tem
o mesmo nome e o vôo parecido com os passos da dança.

Cururu

O Cururu é um canto primordial do folclore mato-grossense. A cantoria do


cururu se classifica em sacra e profana.
A sacra, também chamada de função ou porfia, tem função religiosa e foi
criada por fiéis. Geralmente acontece após as orações aos santos de devoção
popular, na casa de amigos ou comunidade da igreja, e tem o objetivo de louvar ou
homenagear aquele determinado santo.
A profana é aquela acompanhada pelos desafios e versos dos trovadores,
por trovas de amor, declarações e desabafos ou desafio a alguém que roubou uma
mulher amada e uma variada coreografia totalmente masculina.
Os cururueiros fazem roda caminhando no sentido horário, iniciam a
dança com passo simples de pé esquerdo, pé direito, e vice-versa. “Fazem frô”,
floreiam à vontade, que é o movimento de ajoelhar-se até dar rodopios completos, ou
seja, embelezar a dança. Os instrumentos da cantoria são viola-de-cocho e um
ganzá ou cracachá. A festança, onde estão presente cururu e siriri dura toda noite,
Historia de Mato Grosso 62

até os primeiros raios de sol. Os foliões se divertem, expressando essa pura riqueza
cultural.

Rasqueado

A definição de rasqueado, segundo o dicionário, é: “arrastar as unhas ou


um só polegar sobre as cordas sem as pontear.” Em Mato Grosso, o Rasqueado
Cuiabano traz em sua história o final da Guerra do Paraguai quando prisioneiros e
refugiados não retornaram ao seu país, integrando-se com as populações
ribeirinhas, especialmente da margem direita do rio Cuiabá, onde hoje está a cidade
de Várzea Grande. Esta integração influenciou costumes, linguajar e principalmente
danças folclóricas, como por exemplo, a polca paraguaia e o siriri mato-grossense.
Da fusão das duas nasceu o pré-rasqueado, que se limitou aos acordes
do siriri e cururu, devido ao seu desenvolvimento na viola-de-cocho, recebendo
outros nomes como liso, crespo, rebuça-e-tchuça, para mais tarde participar de
festas juninas, carnaval ou qualquer manifestação dos ribeirinhos. Com a
proclamação da república os senhores de classe, precisando se aproximar do povo
ribeirinho tornou o rasqueado num ritmo popular e de gosto geral, levando-o para
praças e mais tarde para os salões de festa. Ainda foi discriminado nos saraus e
rodas de poesia dos intelectuais, até que a juventude dos anos 20 e 30 trouxeram
para esses ambientes.

Dança do Congo

Dedicada a São Benedito, a Dança do Congo ou Congada é de origem


autenticamente africana. Em Mato Grosso, é uma manifestação que ocorre
tradicionalmente em duas cidades: Vila Bela da Santíssima Trindade e Nossa
Senhora do Livramento.
Em Vila Bela, primeira capital de Mato Grosso, a Dança do Congo
representa a resistência dos negros que continuaram na região, após a transferência
da capital para Cuiabá, em 1835. Faz parte da festa de São Benedito, que ocorre
sempre no mês de julho, em uma segunda-feira, quando comemoram o dia do santo
negro.
Historia de Mato Grosso 63

A Dança do Congo é a dramatização de uma luta simbólica travada entre


dois reinados africanos. O Embaixador de um outro reino pede ao Rei do Congo a
mão de sua filha em casamento; o Rei rejeita o pedido e, então, o Embaixador
declara guerra ao Rei do Congo. O motivo da negativa teria sido que o Rei do Congo
desconfiava que o Embaixador queria fazer uma traição ao reinado: após o
casamento, ele tomaria o poder, possivelmente, matando o Rei, o Secretário e o
Príncipe, ficando com a coroa.
Em outra versão, o Embaixador é o mensageiro do Rei de Bamba, que
manda pedir a mão da Princesa em casamento.
Os personagens do reinado do Congo são o Rei, o Príncipe e o Secretário
de guerra; do reino adversário aparecem o Embaixador e soldados. A nobreza usa
mantos, coroas e bastões coloridos e ornamentados com flores, como instrumentos;
o Príncipe e o Secretário de Guerra vestem também saiote com armação de arame e
peitoral em forma de coração como escudo. Os soldados usam espadas, capacetes
com pena de ema, flores e fitas, e o cantil que contém bebida chamada “Kanjinjim”,
feita à base de cachaça, gengibre, canela, cravo e mel que serve para estimular os
dançantes.
As flores na indumentária servem para reverenciar São Benedito; como os
personagens não podem ficar próximos ao oratório do santo, durante a dança, onde
colocariam suas flores para promessa, eles arrumam um lugar no capacete, e as
fitas representam o próprio oratório.
A movimentação da Dança do Congo é a caracterização da marcha dos
soldados; o pulso vertical dos corpos, os movimentos dos braços com as espadas e
o ritmo dos pés, dançando ou caminhando, remetem à marcha. A dança ocorre pela
cidade toda, onde os participantes cantam e marcham ao som do ganzá, bumbo e
cavaquinho que são tocados pelos músicos-soldados.
Os dançantes têm por função também proteger os festeiros, que são o
Rei, a Rainha, o Juiz e a Juíza, que carregam objetos sagrados, e ainda as
promesseiras que acompanham o cortejo levando flores em homenagem a São
Benedito.
Historia de Mato Grosso 64

Divino Espírito Santo

A festa do Divino é uma festividade folclórico-religiosa. Tem início no


domingo da Ascensão com o “levantamento do mastro” e termina na festa de
Pentecostes, com a caracterização de uma Sala do Trono, onde o Imperador, a
Imperatriz, e o Capitão do Mastro são os personagens centrais da festa. A festa do
Divino remonta os tempos memoriais da colonização brasileira nesta fronteira a
oeste do século XVIII; trata-se de um paralelo entre o folclórico e o litúrgico, com um
fundamento histórico trazido de Portugal durante o período colonial.
Sendo uma festa originariamente portuguesa, ganhou nuances caboclas
com a agregação de usos e costumes tipicamente regionais. Às cinco horas da
manhã, há repique de sinos e espocar de fogos, ocasião em que as bandeiras do
Divino percorrem as ruas centrais da cidade. Após a alvorada, é servido aos
participantes iguarias típicas, cuja confecção nos foi legada pelos indígenas. Há
cânticos e danças misturadas ao incessante bater dos pilões. Três personagens são
encontrados na festa: a Imperatriz, o Imperador e o Capitão do Mastro.
A história da Imperatriz Isabel é contada com muita devoção pelos fiéis
católicos. Era uma época conturbada no Brasil Português, quando a vida econômica
agravava-se devido às lutas internas, políticas e bastidores, perturbando a
administração e pondo em risco a segurança do trono. Foi então que a soberana
teve a atitude insólita, abdicando a coroa em favor do Divino Espírito Santo.
Profundamente religiosa e possuidora de uma fé inabalável, a soberana resolveu
que, enquanto não fossem solucionados os graves problemas, reinaria sobre
Portugal a terceira pessoa da Santíssima Trindade.
A Imperatriz recolheu-se a um convento e aguardou os acontecimentos.
Atendendo aos apelos do povo, a Imperatriz resolveu retornar ao trono, realizando
novo cortejo à Catedral, revestindo-se de sua realeza. A partir de então, a Imperatriz
repetia todos os anos, no dia de Pentecostes, a cerimônia de consagração do reino
do Divino Espírito Santo, em ação de graças pela felicidade e prosperidade.
Com músicas apropriadas, tanto as de rua como as sacras, na sua
maioria criação dos músicos locais, a igreja ricamente ornamentada, com seus
paramentos de cores berrantes, portais, altares, púlpitos, realiza a festa, que é
comemorada com grande alegria e respeito religioso. O pão bento, a ser distribuído
Historia de Mato Grosso 65

ao povo, é confeccionado pela fina flor mato-grossense, em casa escolhida para


esse fim.

Cavalhada

A Cavalhada é uma das mais ricas manifestações da cultura popular da


cidade de Poconé, que rende homenagem a São Benedito. Uma festa organizada
por famílias tradicionais da região carrega o Pantanal para uma longínqua Idade
Média. Trata-se de uma disputa entre mouros e cristãos. Nesta luta são utilizados
dezenas de cavalos e cavaleiros que têm por objetivo salvar uma princesa presa em
uma torre permanentemente vigiada.
Além do preparo dos cavaleiros, seus animais também revelam grande
precisão de movimentos. A maior parte deles são cavalos pantaneiros, que
souberam se adaptar às características do Pantanal.
Em dia de Cavalhada, a cidade de Poconé amanhece azul e vermelha, as
cores que representam os cristãos e os mouros, um exemplo puro de cultura e
paixão por suas raízes.

Dança dos Mascarados

Típica do município de Poconé é uma mistura de contradança européia,


danças indígenas e ritmos negros. A maior peculiaridade desta dança é o fato de
participarem apenas homens, aos pares, metade dos quais vestidos de mulher, com
máscaras e roupas coloridas onde predominam o vermelho e o amarelo. Para
participar é necessário ser bom dançarino. Os componentes escolhem o modo de se
apresentar, seja no papel de homem ou de mulher, e sentem orgulho do que fazem.
A dança tem expressão muito forte e chega a comover aos que estão assistindo.
A Dança dos Mascarados não encontra semelhanças com nenhuma outra
manifestação no Brasil e sua origem ainda é um mistério, porém a origem pode estar
ligada aos índios que habitavam a região.
Historia de Mato Grosso 66

Festa de São Benedito

Geralmente realizada entre a última semana de junho e a primeira de


julho, movimenta milhares de fiéis, em procissão com bandeiras e mastros tão
criativos quanto singelos. Ao final da procissão é levantado o mastro em homenagem
ao santo de devoção. Reza a lenda que o mastro, ao sabor do vento, sempre aponta
para a direção da morada de quem vai conduzir as rédeas dos festeiros posteriores.
Dias antes do festejo há um ritual no qual os festeiros percorrem as ruas
da cidade levando a bandeira do santo de casa em casa e recebendo donativos.
Durante os dias de festa há fartura de comida e diversas iguarias, com distribuição
de alimentos, produzidos com muito capricho e carinho.

Dança do Chorado

Dança afro, da região de Vila Bela da Santíssima Trindade, surgiu no


período colonial, quando escravos fugitivos e transgressores eram aprisionados e
castigados pelos Senhores e seus entes solicitavam o perdão dançando o Chorado.
Com o passar do tempo a dança foi introduzida nos últimos dias da Festa de São
Benedito, pelas mulheres que trabalhavam na cozinha. Com coreografia bem
diferente da demais danças típicas, são equilibradas garrafas na cabeça das
dançarinas que cantam e dançam um tema próprio. Procuram manter a garrafa na
cabeça, para mostrar que estão sóbrias, isto é, que apesar da festança ninguém está
embriagado. Este passou a ser o significado atual da Dança do Chorado.

“Um País sem memória não é apenas um país sem passado. É um país sem futuro”.
Rui Barbosa
Historia de Mato Grosso 67

Definindo Termos

População nativa australiana. Têm a pele negra, como os negros


africanos, embora se diferenciem destes por diversos outros
traços físicos. Termo também utilizado para classificar as
Aborígenes:
populaçõe nativas qeu habitavam o Brasil colonial, embora os
nativos das americas tenham cultura e tipo de pele bem diferente
dos nativos australianos.
Medida usada pelos antigos para definir o tamanho de sua
propriedade – corresponde na atualidade, entre um e dois metros
Braça: cada braça. Dependendo do tamanho dos braços do cidadão que
ia medir: extremidade de uma mão a outra, de um cidadão com
os braços abertos.
Era o nome que denominava as regiões autônomas do reino. Ex:
Capitania:
Matogrosso já se chamou Capitania do Mato Grosso.
Era um documento Oficial com a assinatura ou chancela do Rei, o
qual era uma Carta Real, isto é Carta Régia. Na atualidade
equipara a uma publicação em Diário Oficial dos atos do
Carta Régia:
Governante tanto nacional quanto estadual ou municipal. Torna-
se uma determinação que devem ser cumprida por todos os
cidadãos daquele território sob o governo local.
Concebido como dança de roda e em pares. O Cururu e o Siriri
são duas manifestações culturais das regiões pantaneiras de
Mato Grosso do Sul e Mato-Grosso, sendo este último detentor da
maior quantidade de ativistas desta manifestação tradicional de
Cururu e
Siriri: cântico e dança. Hereditário, o Cururu e Siriri, ainda de
predominância familiar, é um misto de elementos africanos,
europeus (Espanha e Portugal) e indígenas que ecoam a
religiosidade e a brincadeira.

Igarités: Pequena embarcação movida a vento e a remo.

Lavras: Minas de ouro.

NDIHR: Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional.


Historia de Mato Grosso 68

Palustre: Que vive ou cresce nos pântanos ou brejos.


Movimento de Pinça, estratégia militar em que os grupamentos e
tropas militares ataca o inimigo por pontos pré-definidos em que
Pinça:
não dá chance de defesa alguma, quando o ataque é funilado
pelo avanço dos militares, obrigado a rendição do inimigo.
Sulcos produzidos nos terrenos, devido ao trabalho erosivo das
águas de escoamento. Pequenas incisões feitas na superfície do
Ravina:
solo quando a água de escoamento superficial passa a se
encontrar e produzir pequenos regos.
Qualquer quadrúpede que serve para alimento do homem. Os
Reses:
bovinos (todas as espécies de gado).
Fazendo referência ao atual Município de Santo Antonio de
Rio Abaixo:
Leverger.
Uma área de terra, que o Rei concedia a um nobre ou alguém
Sesmaria:
importante para o reino, dentro de seus domínios.
UFMT: Universidade Federal de Mato Grosso
O trecho de um rio, lago, mar com profundidade suficientemente
Vau:
rasa para passar a pé, a cavalo ou com um veículo.
A viola de cocho, encontrada no pantanal do Mato Grosso,
recebe este nome porque é confeccionada em um tronco de
madeira inteiriço, esculpido no formato de uma viola e escavado
Viola de
Cocho: na parte que corresponde à caixa de ressonância. Nesse "cocho"
é afixado um tampo e as partes que caracterizam o instrumento,
como o cavalete, o espelho (escala), o rastilho e as cravelhas.
Historia de Mato Grosso 69

Referencias Bibliografia

Siqueira, Elizabeth Madureira – Revivendo Mato Grosso – Cuiabá – SEDUC-1997.

Schmidt, Mario Furley – Nova História Critica – São Paulo – ed. Nova Geração –
1999. p 106.

Ferreira, João Carlos Vicente, Mato Grosso e seus Municípios - Secretaria de


Estado de Educação – Cuiabá – 1997.
Campos, Fundação Júlio. Revista Mato Grosso de História; Projeto Memória Viva –
Várzea Grande – 1991.
BARBEIRO, Heródoto e SCHNEEBERGER, Carlos Alberto. História de Olho no
Mundo do Trabalho – Volume Único, São Paulo: Scipione, 2004.
MOURA, Glória. A força dos tambores: a festa nos quilombos contemporâneos. In:
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