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Laboratório de História do Teatro Brasileiro: do século XV ao XIX – LAT


Plano de ensino

Objetivos
Problemas para pesquisa:
Critérios para uma historiografia do teatro brasileiro. O conceito de drama e de teatro
épico no Brasil, em confronto com os modelos europeus. Primórdios. O teatro
catequético. As procissões e festas religiosas. O drama burguês brasileiro. Qorpo Santo
e a crise do drama local. O curso pretende apresentar uma visão acerca da formação da
dramaturgia brasileira, distinta dos parâmetros utilizados para se compreender o percurso
do teatro europeu. Partiremos da hipótese, a ser testada coletivamente, que tal processo
de formação, rarefeito e negativo, de acordo com as particularidades da história nacional,
resultou em formas teatrais que colocaram em crise os modelos europeus do drama e do
teatro épico. Visando essa investigação artística, os diversos modelos de encenação
estudados, presentes ao longo da formação do teatro brasileiro, nos séculos XVI ao XIX,
serão testados e recriados a partir de Antiaulas performativas, que serão ministradas pelos
diversos grupos de trabalho.

Conteúdo

1. 19/3 = Apresentação geral do curso. Critérios para uma historiografia do teatro brasileiro:
a formação negativa do teatro épico e do drama. O sistema colonial e o sistema escravista.
Formação de grupos de pesquisa para a criação das Antiaulas performativas.
2. 26/3 = Festas da colônia e as manifestações performativas jesuíticas: José de Anchieta e
as batalhas indígenas. As ideias fora de lugar: teatro épico medieval na periferia do
capitalismo. Pedagogia teatral jesuítica.
3. 2/4 = Festas da colônia e as manifestações performativas jesuíticas: Antonio Vieira e os
sermões escravistas e indígenas. Gregório de Matos e a palavra performativa. As ideias
fora de lugar: o “drama” barroco brasileiro fora do teatro. Pedagogia dos sermões e a
pastoral cristã.
4. 9/4 = A arcádia teatral brasileira: Manuel Botelho de Oliveira e Claudio Manoel da Costa.
As ideias fora de lugar: pastores e mitologia grega em tempos de escravismo e exploração
da mineração. A formação pedagógica do “bom escravo” e do “bom homem livre”.
5. 16/4 = O drama burguês brasileiro: José de Alencar e a Mãe escrava. O drama como
instrumento pedagógico e instrumento óptico de controle.
6. 23/4 = O drama burguês brasileiro na comédia desclassificada de Martins Pena: homens
livres, escravos, sistema judiciário colonial e imperialismo inglês. A comédia como
fratura do instrumento dramático pedagógico de controle.
7. 30/4 = Feriado
8. 7/5 = O drama feminista de Maria Angélica Ribeiro e de Josefina Álvares de Azevedo:
crítica ao patriarcado e ao sistema colonial, o drama como nova forma de pedagogia.
9. 14/5 = O drama moderno brasileiro antes da hora: Qorpo Santo e a crise do sistema
colonial. O drama negativo de Qorpo Santo como crise de todo o teatro brasileiro anterior.
A pedagogia da desrazão.
10. 21/5 = Antiaula performativa 1: Teatro medieval, performance e catequização indígena
11. 28/5 =Antiaula performativa 2: Teatro e Arcádia no Brasil
12. 4/6 = Antiaula performativa 3: O drama burguês no Brasil
13. 11/6 = Antiaula performativa 4: Comédia e drama burguês no Brasil
14. 18/6 = Semana dos estudantes. Apresentações.
15. 25/6 = Antiaula performativa 5: O drama feminista no Brasil
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16. 2/7 = Avaliação geral do curso e autoavaliação, a partir de leitura e discussão do ensaio
de Luciane Nunes da Silva: O conservatório dramático brasileiro: teatro, moralidade e
os ideais de desenvolvimento das letras e da nação no século XIX. Pergunta: Quais os
parâmetros e modelos da educação teatral do início da história teatral brasileira? Quais
desses parâmetros permanecem? Quais foram superados?

Metodologia
Reflexão e debate de textos, buscando relacionar o tecido histórico e o contexto brasileiro
às dramaturgias e encenações produzidas ao longo do período Colonial e do Império.
Estudo do teatro como forma artística de pedagogia – seja de controle, seja de resistência
– a partir dos conceitos de instrumento óptico, de Jonathan Crary, e de pastoral cristã, de
Michel Foucault. Elaboração de pequenos exercícios e experimentos práticos, durante as
aulas, para aprofundar as abordagens sobre o material teórico. Apresentação de antiaulas,
assim chamadas por buscarem dar forma performativa aos conteúdos acadêmicos
produzidos coletivamente, partindo sempre da criação de procedimentos e da instauração
de processos criativos, a serem inspirados pelas dramaturgias e encenações investigadas.

Bibliografia
Peças e materiais performativos:

Padre José de Anchieta – Na festa de São Lourenço


Padre Antonio Vieira – Sermões: Sermão do Espírito Santo. Sermão XIV do Rosário.
Gregório de Matos –Poemas: Queixa-se o poeta em que o mundo vai errado, e
querendo emendá-lo o tem por empresa dificultosa/ Epístola ao conde do Prado/
Gregório Negreiros/ Dote para o noivo sustentar os encargos da casa/ Pequei senhor,
mas não porque hei pecado /Já me põem à tormento
Manuel Botelho: Hay amigo para amigo
Claudio Manuel da Costa – O Parnaso obsequioso
José de Alencar – Mãe
Martins Pena – Os dois ou o inglês maquinista./ O Juiz de Paz na Roça.
Maria Angélica Ribeiro - Cancros Sociais./ Gabriela
Josefina Álvares de Azevedo – O voto feminino
Qorpo Santo - Ensiqlopèdia./ Hoje sou um; e amanhã outro.

Bibliografia geral:

ALAMBERT, Francisco. “O Brasil no espelho do Paraguai”. In: MOTA, Carlos


Guilherme. Viagem incompleta: a experiência brasileira. São Paulo: Senac, 1999

BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. São Paulo. Perspectiva, 2000.


CARVALHO, Sérgio de. Teatro e sociedade no Brasil colônia: a cena jesuítica do Auto
de São Lourenço. Sala Preta, Brasil, v. 15, n. 1, p. 6-53, july 2015. ISSN 2238-3867.
Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/97454/98281>.
Acesso em: 16 mar. 2018. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v15i1p6-53.

CASTRO, Eduardo Viveiros de. O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma


selvagem. In: A insconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac & Naify, 2003
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CRARY, Jonathan. Técnicas do observador. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012

FARIA, João Roberto. História do teatro brasileiro I. São Paulo: Perspectiva, 2013

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata [1969]. 3ª


ed. São Paulo: Kairós, 1983

FOUCAULT, Michel. Do governo dos vivos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014

HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher


no Brasil, 1850-1940. Florianópolis: Mulheres/Edunisc, 2003.

JANCSÓ, Istvan; KANTOR, Iris. FESTA: Cultura e Sociabilidade na América


Portuguesa. São Paulo: EDUSP, 2002

MINOIS, Georges. História do riso e do escárnio. São Paulo, Editora Unesp, 2003.

MOTA, Carlos Guilherme e LOPEZ, Adriana. História do Brasil. Uma interpretação.


São Paulo: Ed. 34, 2015

PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo:


Brasiliense/Publifolha, 2000

PRADO, Décio de Almeida. Teatro de Anchieta a Alencar. São Paulo: Perspectiva,


1993.

SCHOLZ, Roswitha. O valor é o homem – Teses sobre a socialização pelo valor e a


relação entre os sexos. (1992) In http://obeco.planetaclix.pt/rst1.htm

SILVA, Luciane Nunes da. O conservatório dramático brasileiro: teatro,


moralidade e os ideais de desenvolvimento das letras e da nação no século XIX. In:
alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais14/Sem08/C08026.doc

SOUTO-MAIOR, Valéria Andrade. O Florete e a Máscara. Florianópolis:


Ed. Mulheres, 2001.
SOUTO-MAIOR, Valéria Andrade (org). Maria Ribeiro: Teatro quase completo.
Florianópolis: Ed. Mulheres, 2001.

SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001
________.Ensaio sobre o trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004
________.Teoria do drama burguês. São Paulo: Cosac & Naify, 2004

ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Belo Horizonte: UFMG, 2006.


_______________. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Cosac & NaiFy, 2014.

Critérios de avaliação
A avaliação partirá de dois eixos conjugados: a observação do professor, sobre a presença,
a participação nas aulas, nas leituras, discussões e exercícios práticos, e a autoavaliação,
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estímulo à reflexão ética dos sujeitos em constante aprendizado no espaço público da


Universidade.

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