CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
NATAL-RN
2016
DANIEL CAPISTRANO SARINHO PAIVA
Natal-RN
2016
Catalogação da Publicação na Fonte
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Sistema de Bibliotecas Biblioteca Central Zila Mamede / Setor de
Informação e Referência
Artigo científico (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia,
Departamento de Engenharia Civil. Natal, RN, 2016.
Orientador: Prof. Dr. Reymard Sávio de Melo.
Coorientadora: Sandra Albino Ribeiro.
1. Engenharia Civil - TCC. 2. Building Information Modelling – BIM - TCC. 3. Compatibilização de projetos
- TCC. 4. BIM – Barreiras e oportunidades – TCC. I. Melo, Reymard Sávio de. II. Ribeiro, Sandra Albino. III.
Título.
___________________________________________________
Prof. Dr. Reymard Sávio de Melo – Orientador
___________________________________________________
Profa. MsC. Sandra Albino Ribeiro – Coorientador
___________________________________________________
Profa. MsC. Karla Cavalcanti – Examinador interno
___________________________________________________
Profa. Dra. Josyanne Giesta – Examinador externo
Natal-RN
2016
RESUMO
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Discente.
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Docente, Dr.
3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Docente, Msc.
ABSTRACT
The use of Building Information Modelling (BIM), becomes more and more relevant
in the architecture, engineering and construction (AEC) market. This new paradigm allows
the stakeholders to work in a more collaborative way, resulting in better overall results. One
of the main use cases of this technology is for design coordination, and has proven to be very
efficient when compared to traditional methods based on 2D documentation. Given this
context, this research identifies barriers and opportunities related to the use of BIM for design
coordination, through a case study on a construction company. The results aim to provide a
better understanding of the challenges and advantages of implementing this technology, in
addition to showing the necessity of planning, organization, investments and financial
analysis before deciding to implement BIM.
4
Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Student.
5
Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Professor, Dr.
6
Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Professor, Msc.
INTRODUÇÃO
O BIM já é uma realidade em mercados de construção desenvolvidos, e possui
inúmeros exemplos de sucesso. Através da implementação dessa nova tecnologia é possível
atingir melhores resultados através de um processo mais colaborativo. Dentre as principais
vantagens decorrentes da sua implantação, estão a redução de custos, prazos, erros em
documentação e reclamações, além da melhoria da qualidade do produto final.
Apesar de todas essas vantagens, a adoção dessa tecnologia no Brasil ainda pode ser
considerada incipiente (CBIC, 2016). Esse contexto muda a cada dia, à medida que esforços
normativos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e exigências de utilização
em licitações por parte de órgãos públicos, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica
Federal e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) aceleram a
adoção por parte de construtoras, escritórios de projetos e incorporadoras.
O processo tradicional de desenvolvimento de produtos imobiliários é extremamente
fragmentado, e pautado em documentação impressa, onde arquitetos, engenheiros e
construtores trabalham de forma segmentada e as relações contratuais não exigem ou
estimulam a colaboração. A falta de colaboração, além de erros e omissões decorrentes da
comunicação em 2D causam custos inesperados, atrasos, e atritos entre as partes envolvidas.
Uma etapa crítica nesse processo é a de compatibilização dos projetos, que visa identificar e
resolver diferentes inconsistências entre os projetos de diferentes disciplinas.
A utilização de softwares em plataforma BIM para compatibilização de projetos se
mostra como uma opção para mitigar os problemas da representação em 2D, mas a sua
implementação apresenta diversas barreiras. Diversas pesquisas apontam que para obter
sucesso na implantação desta plataforma, se faz necessário a colaboração dos envolvidos, a
modelagem de sistemas que à primeira vista não interferem nos demais (Ex: móveis) - mas
que podem gerar interferências devido à natureza da utilização dos espaços em que se
encontram - e a definição prévia do nível de detalhamento que será utilizado na modelagem
(OLOFSSON, 2007; LEITE, 2009; SILVA; COELHO; MELHADO, 2015).
Muitos estudos descrevem a experiência de utilizar o BIM na compatibilização de
projetos, mas poucos apontam os desafios que antecedem a sua implementação. Nesse
contexto, o trabalho visa elencar barreiras e oportunidades para a implementação de BIM para
compatibilização de projetos em uma empresa construtora através de um estudo de caso.
2
2. CONCEITO BIM
O BIM é um objeto de estudo que vem ganhando cada vez mais visibilidade pela
comunidade científica na área de gestão em engenharia e arquitetura (MACHADO;
RUSCHEL; SCHEER, 2016), e possui diversas definições na literatura, como mostrado no
Quadro 1.
Quadro 1: Definições de BIM
Fonte Definição
BIM é usado como verbo ou adjetivo para descrever ferramentas, processos e
tecnologias que são facilitadas pela documentação digital e legível pelo
EASTMAN, 2014
computador de uma edificação, seu desempenho, seu planejamento, sua
construção e, posteriormente, sua operação.
BIM é uma série de tecnologias, processos e políticas que possibilitam que os
SUCCAR, 2009 diversos envolvidos no processo projetem, construam e utilizem um
empreendimento de forma colaborativa.
BIM é uma representação digital das características físicas e funcionais de uma
National BIM Standard
construção. BIM é um conjunto de informações do empreendimento desde a
– United States
concepção inicial até a demolição, com colaboração integrada das diversas
(NBIMS), 2015
partes do projeto (construtor, arquitetos, engenheiros, proprietário, etc.).
BIM é o desenvolvimento e uso de um modelo de programa de computador
para simular a construção e operação de um empreendimento. BIM usa um
ERNSTROM, 2006 conceito inteligente e paramétrico de uma representação digital de uma
construção onde podemos gerar informação que possa ser utilizada para tomar
decisões e melhorar o processo de construção.
Fonte: Autor
Esse trabalho utiliza a definição de que o BIM é uma representação digital de um ativo
físico a ser construído, que engloba informações relevantes para as diversas etapas do
processo de desenvolvimento de produto, o que possibilita que diversas análises sejam feitas
ainda na fase de projetos, dentre elas a compatibilização de projetos e detecção automática de
interferências. A possibilidade de antecipar tais análises termina por impactar diretamente o
ciclo de vida do empreendimento, desde a fase de projeto, construção e operação. As
definições acima versam sobre o escopo mais abrangente do BIM, sendo que a
implementação do mesmo acontece em estágios, assim como sugere Succar (2009).
A mudança de paradigma resultante da adoção do BIM faz com que haja uma
mudança no fluxo de trabalho, onde enquanto no fluxo de trabalho tradicional grande parte do
esforço é gasto na fase de documentação, onde todos os documentos técnicos são gerados
(projetos, pranchas, quantitativos, orçamentos, etc), sendo eles baseados em desenhos em 2D,
no fluxo de trabalho BIM, os esforços são antecipados para a fase de detalhamento de projeto,
onde é feito o detalhamento do modelo digital, com informações e geometria precisas, e de
onde são gerados de forma automática os documentos técnicos. Vale lembrar que na fase onde
os maiores esforços são realizados no fluxo de trabalho BIM, ainda se têm um grande controle
de impactar custo e performance, e os custos de mudanças no projeto ainda são baixos quando
comparados aos do fluxo de trabalho convencional (CBIC, 2016).
3
6. COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS
Como resultado da fragmentação do processo tradicional (Pré-BIM) a comunicação
ocorre de forma centralizada, onde a construtora e/ou incorporadora contrata separadamente
os projetos arquitetônico e complementares, e os profissionais envolvidos trabalham com
pouca ou nenhuma colaboração. Como resultado, os projetos de diferentes disciplinas
geralmente possuem diversas interferências, e se faz de extrema importância que construtoras,
incorporadoras e escritórios de projetos unam esforços para compatibilizar os mesmos.
A compatibilização de projetos consiste no processo de localizar e solucionar
incompatibilidades entre projetos de diferentes disciplinas, respeitando as restrições de outros
subsistemas, e levando em consideração aspectos de construção, operação e manutenção
(KORMAN; TATUM, 2000). O maior benefício da compatibilização de projetos é a redução
das incertezas na fase de obras (RILEY; HORMAN, 2001), prevenindo custos não orçados e
atrasos de cronograma.
Da forma tradicional, os esforços de compatibilização se dão através da sobreposição
de projetos de diferentes disciplinas, seja de forma física (projetos impressos sobrepostos) ou
6
7. MATERIAL E MÉTODOS
Como método de pesquisa, o trabalho utiliza o estudo de caso, tendo como unidade de
análise uma empresa construtora da cidade de Natal/RN. Como fontes de evidência para
identificar as barreiras e oportunidades na implementação de BIM para compatibilização de
projetos, o trabalho faz uso de entrevistas semiestruturadas além da modelagem e detecção de
interferências de projetos de um empreendimento já finalizado utilizando ferramentas BIM.
Inicialmente, foi elaborado um roteiro de entrevista (Apêndice A) para a realização de
entrevistas semiestruturadas com membros da empresa que estão diretamente envolvidos no
processo de desenvolvimento de produto. A duração média das entrevistas foi de 30 minutos,
e as mesmas foram divididas em 3 blocos: Caracterização e organização da empresa, processo
de compatibilização de projetos e entendimento de BIM.
A seleção dos entrevistados foi feita junto à direção da empresa, para assegurar que os
entrevistados fossem profissionais que pudessem trazer informações relevantes para a
pesquisa, considerando que os mesmos possuem experiência em suas respectivas funções na
empresa. Como a empresa é dividida em incorporadora e construtora, foram selecionados 4
(quatro) entrevistados, sendo dois arquitetos da incorporadora (gerente de projetos e
coordenador de projetos e licenciamento) e os outros dois engenheiros civis da construtora
(diretor técnico e coordenador de contratos).
Ao mesmo tempo em que as entrevistas eram realizadas, foi solicitado à direção da
empresa as versões mais recentes de projetos de um empreendimento já finalizado para a
posterior modelagem e análise de interferências dos mesmos utilizando ferramentas BIM.
Para isso, foi selecionado um empreendimento residencial multifamiliar vertical, o que
7
representa a maior parte dos empreendimentos da empresa. Para a modelagem das diferentes
disciplinas, foi escolhido o software Autodesk® Revit®, já para a análise das interferências
foi utilizado o software Autodesk® Navisworks®.
Para a análise dos resultados, foram confrontadas as barreiras e oportunidades
descobertas através das entrevistas e modelagem com as já documentadas na literatura.
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO
8.4. MODELAGEM
O empreendimento escolhido para a modelagem possui área construída total de
1468,47m², sendo composto de quatro torres de 16 pavimentos de 333,24m² cada, divididos
em seis apartamentos, sendo quatro de 46,25m² e dois de 54,50m². O mesmo conta ainda com
estacionamento e área de lazer (piscina, salão de festas, salão de jogos, quadra poliesportiva,
playground). Para este trabalho foi realizada a modelagem de apenas uma das torres.
Dentre as diversas ferramentas BIM foram adotados os softwares Autodesk® Revit® e
Autodesk® Navisworks®. O primeiro é utilizado para elaborar a modelagem digital da
arquitetura, da estrutura e dos sistemas prediais (hidrossanitário, elétrico, etc) e o segundo
para detecção de interferências e incompatibilidades.
A adoção dos programas da Autodesk® foi dada diante do conhecimento adquirido na
Universidade do Illinois em Urbana-Champaign através do programa Ciência Sem fronteiras
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e na disciplina
de Tópicos Especiais em Arquitetura do curso de graduação de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde foi desenvolvido um projeto de
instalações hidrossanitárias utilizando a ferramenta. Vale lembrar que grande parte dos cursos
de Arquitetura e Engenharia no Brasil adotam os programas desta empresa, assim como
diversos escritório de projetos e construtoras que adotaram o BIM também utilizam os
softwares da Autodesk®.
Após a escolha dos softwares foi feita uma análise geral dos projetos em CAD que
foram disponibilizados pela incorporadora, para maior compreensão do edifício. Já nessa
etapa foram identificadas divergências entre os projetos de arquitetura, e de instalações
hidrossanitárias, onde o projeto de instalações trazia a especificação de um preenchimento na
alvenaria para acomodar tubulações e conexões, o que não era previsto no projeto
arquitetônico, e que diminui as dimensões do ambiente, podendo comprometer o seu uso
(Figura 1). Além disso, não existem detalhes que especifiquem a distribuição espacial de
todos os tubos e conexões presentes nesse preenchimento nos projetos sanitário e hidráulico.
11
Figura 1: Projeto arquitetônico (à esquerda), projeto sanitário (ao centro) e projeto hidráulico (à direita)
Fonte: Autor
Fonte: Autor
13
Fonte: Autor
empresa, de modo a torná-lo mais colaborativo e eficiente. Além disso, a uso de BIM para
compatibilização de projetos alavancaria uma melhora no nível de detalhamento dos mesmos,
além de fomentar a implementação por parte dos projetistas e fornecedores.
Na categoria de tecnologia, foram identificadas barreiras relacionadas à
implementação de novos softwares e serviços, aliadas ao hardware necessário para fazer uso
desses produtos. A utilização dessas novas tecnologias representa a modernização de
softwares e hardwares da empresa, para que se adequem a novos processos de trabalho.
Por último, foram identificadas barreiras do tipo financeiras. Elas envolvem os custos
de implementação, como consultorias, treinamentos, licenças de software e compras de novos
equipamentos. Além disso, foi levantado pelos entrevistados o momento atual da empresa,
que não possui lançamentos de novos empreendimentos e passou por um corte de parte de sua
equipe técnica. Esses fatores representam uma oportunidade de investir em inovação e
otimização de processos justamente num momento de volume reduzido de trabalho, tendo
sempre em mente que os investimentos se feitos da forma correta vão trazer retornos futuros,
além de fazer com que a empresa se torne mais competitiva no mercado.
9. CONCLUSÕES
O uso do BIM no processo de compatibilização de projetos traz inúmeras vantagens
quando comparado aos métodos tradicionais. Ainda assim, a sua implementação apresenta
barreiras e oportunidades, de natureza pessoal, organizacional, de processos e financeira.
A identificação de barreiras e oportunidades funciona como um diagnóstico inicial que
tem como objetivo verificar quão pronta a empresa se encontra atualmente para implementar
BIM no processo de compatibilização de projetos. Os resultados sugerem que o processo atual
de compatibilização de projetos da empresa não é satisfatório e que muitas interferências só
são identificadas e resolvidas na fase de obras. Nesse contexto, se faz necessário que empresa
analisada (Incorporadora e construtora) invista em treinamento e capacitação da equipe
técnica, reveja processos (elabore procedimento padrão de compatibilização de projetos e
promova uma maior colaboração), além de que a mesma invista em tecnologia e avalie os
possíveis retornos sobre investimento antes de decidir implementar BIM para
compatibilização de projetos.
O estudo de uma única unidade de análise aumenta a incerteza dos resultados obtidos,
sendo arriscado garantir a generalização dos mesmos para empresas de outros portes ou que
atuem em outros mercados ou segmentos da construção civil. Mais pesquisas se fazem
necessárias para avaliar a validação das barreiras e oportunidades de uso do BIM na
compatibilização de projetos identificadas neste estudo.
16
10. REFERÊNCIAS
ERNSTROM, Bill et al. The contractors' guide to BIM. Associated General Contractors of
America, Arlington, VA, 2006.
KORMAN, Thomas M.; TATUM, C. B. Computer Tool for Coordinating MEP Systems.
In: Proceedings of the Computing in Civil and Building Engineering (2000). ASCE
California, United States, 2000. p. 1172-1179.
LEITE, Fernanda et al. Identification of data items needed for automatic clash detection in MEP
design coordination. In: 2009 Construction Research Congress. 2009. p. 416-425.
LIU, Shijing et al. Critical Barriers to BIM Implementation in the AEC Industry. International
Journal of Marketing Studies, v. 7, n. 6, p. 162, 2015.
MACHADO, Fernanda A.; RUSCHEL, Regina C.; SCHEER, Sergio. Análise bibliométrica da
produção brasileira de artigos científicos na área de BIM. In: ENCONTRO NACIONAL DE
TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 16., 2016, São Paulo. Anais... Porto Alegre:
ANTAC, 2016.
OLOFSSON, T. et al. Benefits and lessons learned of implementing building virtual design and
construction (VDC) technologies for coordination of mechanical, electrical, and plumbing. 2007.
SILVA, T.F.; COELHO, K.M.; MELHADO, S.. Projetos industriais – barreiras para a
implementação da Modelagem da Informação da Construção. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE
TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO, 7., 2015,
Recife. Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2015.
SUCCAR, Bilal. Building information modelling framework: A research and delivery foundation
for industry stakeholders. Automation in construction, v. 18, n. 3, p. 357-375, 2009.
APÊNDICE A - Roteiro de entrevista
Cargo do entrevistado: