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COMPARTIMENTALIZAÇÃO ORGÂNICA

INTRODUÇÃO E GENERALIDADES

• Um dos conceitos básicos fisiológicos é o de compartimentalização


orgânica (juntamente com os conceitos de relação estrutura/função e
de homeostasia). Certamente que boa parte do sucesso evolutivo da
vida, em geral, deve-se ao fenômeno de compartimentalização
orgânica, sem o qual os organismos vivos não poderiam ter atingido o
grau de complexidade visto hoje

Compartimentos Orgânicos: conceitos

• Numa visão bem geral, compartimentos são espaços ou volumes, com


características em geral bem definidas e limites habitualmente
reconhecíveis

• Entre as características importantes dos compartimentos podem ser


destacadas as sua dimensões, como o volume, a sua composição (o que
tem no compartimento) e as concentrações dos seus componentes
(quanto tem de cada substância)

• Um dos conceitos básicos fisiológicos é o de compartimentalização


orgânica (juntamente com os conceitos de relação estrutura/função e
de homeostasia). Certamente que boa parte do sucesso evolutivo da
vida, em geral, deve-se ao fenômeno de compartimentalização
orgânica, sem o qual os organismos vivos não poderiam ter atingido o
grau de complexidade visto hoje

Compartimentos Orgânicos: conceitos

• Numa visão bem geral, compartimentos são espaços ou volumes, com


características em geral bem definidas e limites habitualmente
reconhecíveis

• Entre as características importantes dos compartimentos podem ser


destacadas as sua dimensões, como o volume, a sua composição (o que
tem no compartimento) e as concentrações dos seus componentes
(quanto tem de cada substância)

• Naquele tempo, a vida na terra era relativamente muito simples, sendo


constituída apenas por seres unicelulares, representados sobretudo por
bactérias e algas cianofíceas (algas azuis), até hoje existentes

• Esses seres, por terem suas células constituintes desprovidas de núcleo


organizado, são genericamente classificados como procariontes (do
grego pro = antes e karyon = núcleo, ou seja, organismos “anteriores ao
núcleo”)

• As células procarióticas não possuem organelas membranosas em seu


citoplasma, no qual se encontram apenas ribossomos (responsáveis pela
síntese protéica) isolados ou unidos por uma molécula de RNA
(poliribossomos) e o material genético de forma circular, disperso na
matriz protoplasmática e eventualmente aderido na membrana celular,
numa região conhecida como mesossomo

• Mais externamente à membrana plasmática encontra-se uma estrutura


extremamente importante para a fisiologia da célula, a parede celular,
vital sobretudo para as bactérias

• Essa disposição microscópica geral das células procarióticas, sobretudo


das bactérias, faz com que se caracterize, em essência, apenas um
único compartimento em sua estrutura orgânica, o que nos leva a
considerar as formas de vida procariontes como seres
unicompartimentalizados

• Embora relativamente simples (quando comparadas a células mais


evoluídas), as células procarióticas apresentam grande complexidade
bioquímica, contendo milhares de proteínas em seu citoplasma, muitas
das quais com atividade enzimática

• Os diversos processos bioquímicos que ocorrem numa célula dessa


natureza dispõem, portanto, de um único ambiente, com as mesmas
características físico-químicas e biológicas sendo compartilhadas por
todos os processos metabólicos

• Como conseqüência da unicompartimentalização nas células


procarióticas, todos os processos enzimáticos têm que ocorrer,
praticamente, em um mesmo ambiente físico-químico, sob mesmo pH,
salinidade e temperatura

• É bem conhecido que as enzimas, fundamentais aos processos


metabólicos em geral, em função de sua natureza protéica, necessitam
de ambientes ideais para que alcancem atividade máxima, o que se
reflete no próprio metabolismo

• Nas células procarióticas pode-se imaginar que a atividade de algumas


das enzimas presentes no citoplasma poderia ser ainda maior se
houvesse um microambiente mais adequado para cada uma dessas
proteínas, cujas estruturas e organização espacial dependem
diretamente das condições físico-químicas do meio em que se
encontram
• Isto pode ser melhor compreendido quando nos referimos às funções
digestórias de algumas enzimas presentes no sistema digestório, como a
pepsina secretada (como pepsinogênio, sua forma inativa) pela mucosa
do estômago e as proteases pancreáticas, atuantes no duodeno

• A pepsina é derivada da ativação do pepsinogênio em função da acidez


na luz do estômago (pH abaixo de 2), enquanto as enzimas proteolíticas
pancreáticas atuam no duodeno em ambiente básico, com pH acima de
oito

• Apesar da proximidade entre estômago e duodeno, separados apenas


pelo esfíncter pilórico, a pepsina que chega ao duodeno misturada ao
bolo alimentar perde totalmente sua atividade proteolítica, por se
encontrar agora em um ambiente inadequado quimicamente. As
enzimas pancreáticas também perdem sua atividade, se forem
deslocadas para a luz do estômago

• Passados cerca de 2 bilhões de anos do surgimento da vida na terra um


novo tipo de células surgiu, a partir de invaginações da membrana
celular nas células procarióticas, com formação das chamadas
organelas membranosas

• Cada uma dessas organelas, por sua vez, pode ser caracterizada por
inúmeros espaços relativamente bem definidos, que podem apresentar
diferentes propriedades físico-químicas

• Nessas células observa-se um núcleo bem definido, o que lhes dá a


classificação de eucarióticas (do grego eu = verdadeiro e karyon =
núcleo). Nesse núcleo encontra-se o material genético dessas células

• Os diversos processos metabólicos, por um mecanismo inerente à


evolução, migraram para os ambientes mais adequados e propícios, e
que atendiam suas necessidades físico-químicas, fato que teve como
conseqüência um grande aumento na eficiência metabólica nos seres
eucariontes em relação aos procariontes

Compartimentos de distribuição hídrica

• Além dos compartimentos microscópicos discutidos anteriormente,


inerentes ao microambiente intracelular, existem outros
compartimentos, chamados de macroscópicos, exclusivos dos seres
multicelulares

• Apenas há cerca de 550 milhões de anos, na chamada explosão


cambriana, a vida se diversificou a tal ponto que surgiram cada vez
mais formas de vida constituídas não mais por uma única célula, mas
por um grande número delas
• Com o surgimento desses organismos também apareceram muitos
outros compartimentos nos mesmos, em um nível superior ao
microscópico

• Nesses compartimentos encontra-se distribuída a água presente


naqueles organismos e, por esse motivo, os compartimentos
macroscópicos são, em geral, conhecidos como compartimentos
orgânicos de distribuição hídrica

Compartimentos de distribuição hídrica – relações quantitativas

• Em todas as formas de vida conhecidas, a principal molécula é a água,


razão pela qual essa substância se confunde com a própria possibilidade
da vida. Isso, naturalmente, não é diferente na espécie humana

• Fatores como espécie, tipo de tecido, habitat e taxa metabólica média


da forma de vida podem influenciar bastante a quantidade total de
água presente no organismo, conhecida como água corporal total (ACT)

• No homem, cerca de 60% da massa corporal são representados por


água, o que significa que, em um indivíduo adulto saudável pesando
100Kg, de compleição física normal e biotipo mediolíneo, existem nada
menos que 60Kg de água, ou ainda 60 litros dessa substância

• Diversos são os fatores gerais que podem alterar significativamente o


percentual de água encontrado na espécie humana, mesmo na ausência
de patologia. Esse fatores são

1. A idade
2. O sexo
3. O teor corporal de lipídios

• Quanto maior a idade do indivíduo, menor o percentual de água em seu


organismo. Com o acréscimo dos anos, cai a taxa metabólica média, e
menos água é necessária para os processos metabólicos em geral.
Assim, enquanto bebês podem ter até 75% de água nos seus corpos,
idosos podem apresentar percentuais de ACT abaixo de 50%, o que
facilita, nesses, os quadros de desidratação

• Os indivíduos do sexo masculino têm relativamente mais água em seus


corpos que as mulheres. Isso se deve ao fato de a água não interagir
com tecido adiposo, mais abundante nas mulheres quando comparadas
a homens de mesma compleição física e biotipo, desde que as mulheres
apresentam mais tecido adiposo subcutâneo (caracter sexual
secundário)

• Indivíduos de mesmos sexo e idade podem apresentar percentuais de


água corporal diferentes, desde que tenham quantidades diferentes de
tecido adiposo, que não contém, praticamente, água. Assim, pessoas
obesas apresentam, em termos relativos, menos água que pessoa mais
magras

• Toda essa água presente nos organismos humanos vai se distribuir,


portanto, pelos compartimentos orgânicos macroscópicos

• Os compartimentos de distribuição hídrica do corpo humano são

1. O compartimento Intracelular (CIC)


2. O compartimento extracelular (CEC)

• No compartimento intracelular encontra-se toda a água relacionada ao


microambiente celular, num volume que corresponde a cerca de 40
litros em um indivíduo com massa corporal de 100 quilogramas

• Os restantes 20 litros se encontram fora das células, no compartimento


extracelular que, portanto, apresenta um volume que é
aproximadamente a metade do intracelular

• Entre o CIC e o CEC ocorrem processos de troca de substâncias


extremamente importantes para a manutenção das condições
necessárias à vida

• O compartimento extracelular pode ser dividido em vários


subcompartimentos, que também trocam substâncias e informações uns
com os outros

1. Compartimento intersticial
2. Compartimento vascular
3. Compartimento transcelular

• O compartimento intersticial comporta ¾ de toda a água presente no


CEC, o que representa cerca de 14 a15 litros em um homem com 100
quilogramas

• O compartimento vascular é representado sobretudo pelo plasma


sangüíneo (parte líquida do sangue, sem os elementos figurados, cuja
água faz parte do CIC), totalizando cerca de 3 a 4 litros

• O compartimento transcelular, por sua vez, é representado por vários


líquidos presentes no organismo, que nem se encontram entre as
células teciduais nem fazem parte do sangue, totalizando de 1 a 3 litros
numa pessoa com 100 quilogramas

• Como exemplos, podemos lembrar do LCR, do líquido pleural, do


líquido peritoneal, do líquido pericárdico, do líquido sinovial, do humor
aquoso do olho, das secreções digestórias, da lágrima etc
• Caracteristicamente o compartimento transcelular é o que mais
dificilmente, em condições naturais, efetua trocas de substâncias com
os outros compartimentos orgânicos, com exceção dos processos
absortivos que envolvem os elementos presentes nas secreções
digestórias ao longo do tubo digestório, sobretudo no estômago,
duodeno, jejuno e íleo

Limites compartimentais

• Os diversos compartimentos e subcompartimentos de distribuição


hídrica não são estanques e isolados uns dos outros, permitindo trocas
de substâncias através de seus limites, o que é de fundamental
importância fisiológica. Esses limites são

1. Entre o CIC e o CEC, a membrana plasmática (MP)

2. Entre o CIC e o compartimento intersticial, a MP

3. Entre o compartimento intersticial e o compartimento vascular, o


endotélio capilar

4. Entre o compartimento transcelular e o compartimento intersticial,


um epitélio complexo

• Como vantagem adicional ao aumento da eficiência metabólica, a


compartimentalização macroscópica também permite que alterações
agudas em um compartimento possam ser compensadas, no mínimo
parcial e temporariamente, por outro compartimento

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