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SEMINÁRIOS DE FILOSOFIA DA CULTURA – ARACAJU

I. MÓDULO: A FILOSOFIA POLÍTICA DE JUDITH BUTLER


Prof. Dr. Romero Venâncio (DFL-UFS)
ESQUEMA DE EXPOSIÇÃO:
- Uma breve nota sobre a obra de Butler: de Hegel ao Queer
*uma metáfora explicativa quem vem do cinema: do grupo guerrilheiro “Watherman
Underground” a “Milk”
- Um lugar para obra de J.Butler numa certa filosofia Política contemporânea
- As vidas precárias importam – a crítica da violência
*DATA: 31/1 (Quarta) as 19h. no Centro Cultural de Aracaju...
BIBLIOGRAFIA
BUTLER, Judith. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica
editora, 2015.
BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é possível de luto? Rio de Janeiro:
Civilização brasileira, 2015.
BUTLER, Judith. Caminhos divergentes: judaicidade e crítica do sionismo. São Paulo:
Boitempo, 2017.
BOUCHER, Geoff. Marxismo. Petrópolis: Vozes, 2015.
CHANTER, Tina. Gênero: conceitos-chave em Filosofia. Porto Alegre: Editora Artmed,
2011.
DUDLEY, Will. Idealismo alemão. Petrópolis: Vozes, 2015.
SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2013.
SAFATLE, Vladimir. Dos problemas de gênero a uma teoria da desposssessão necessária:
ética política e reconhecimento em Judith Butler. In: Posfácio de: “Relatar a si: crítica da
violência ética”. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2015.
VAZ, Henrique Claudio de Lima. A formação do pensamento de Hegel. São Paulo: Loyola,
2014.
VILHENA, Vasco Magalhães. Marx e Hegel (Marx e o “caso” Hegel). Lisboa: Livros
Horizonte, 1985. Coleção Dialéctica.
WILLIAMS, James. Pós-Estruturalismo. Petrópolis: Vozes, 2007.
VÍDEOS:
*Conferência Magna com Judith Butler – Youtube

A crítica pertinente na matéria parece ser à controversa noção de “lugar de fala”, que conduz ao
ativismo identitário com base na lógica da classe e do atributo (não à toa, Aristóteles é citado), que
substancializa categorias fixas. Quem pode falar/representar a quem? Se por um lado, é estratégia
política legítima, por outro, conduz a efeitos estéticos deletérios.

Maria Medeiros Discordo RADICALMENTE desse texto. É sério que ela invoca o conceito de mimesis
de Aristóteles para justificar a representação de personagens trans pela cisgeneridade? É sério que teatro é
apenas sobre apelo ao esmero estético abstrato? Romero, a cultura esgotou esteriótipos desumanizantes
sobre pessoas trans. Inúmeras mulheres trans morreram em pobreza absoluta por falta de trabalho, a atriz
Thelma Lip que atuaria em Carandiru e foi substituída em cima da hora por Rodrigo Santoro, entre tantas.
A autora é fútil e se soma a uma parte da classe de intelectuais que estão sempre buscando teorizar sobre
a vida das pessoas trans, relegando a essas a alteridade absoluta. Para haver diálogo é preciso haver
honestidade. O movimento de travestis e mulheres trans é sólido e tem força política o suficiente para
bater o pé e reinvindicar contra os esteriótipos, contra a usurpação, exclusão e violência simbólica que
essa gente tacanha tenta nos impor.
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Romero Venâncio Maria Medeiros, entendo o que falas... Seria muito bom que nessa linha do que
publicou aqui, você escrevesse um texto criticando esse texto postado...Inclusive, como resposta a esse no
mesmo lugar. Acho justo assim.

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Maria Medeiros Muito me surpreende você convidar a reflexão por essas vias.

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Romero Venâncio Importante Maria Medeiros lermos mesmo o que discordamos... Nunca leio apenas o
que concordo. Não disse que concordo com o texto. Ele foi publicado numa revista que respeito e que
merece crédito, mesmo que discordemos. Entende? tem essa resposta aqui no youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=nVfZ4B-DdLoGerenciar
Luis Lobianco

10 de janeiro ·

Esclarecimentos sobre o espetáculo GISBERTA e os protestos em Belo Horizonte. Essa é a minha primeira e
única manifestação pública sobre o assunto até aqui.

Em 05 de janeiro de 2018 GISBERTA reestreou em Belo Horizonte. A peça já tem quase um ano de estrada e
arrebata casas lotadas por onde passa. É lindo ver o público LGBT presente mas, também e principalmente, o
além da nossa bolha de entendimento transformando a consciência pelo teatro. Além de estar em algumas
listas de melhores do ano e indicado a alguns prêmios, o espetáculo ganhou um importante reconhecimento da
Organização da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo - a maior do mundo - o Prêmio de Cidadania em
Respeito à Diversidade 2017 na categoria Artes Cênicas.

Em contraponto, em BH o projeto foi questionado quanto à sua legitimidade, por movimentos de artistas
transexuais e travestis. As reações foram as mais diversas - algumas pacíficas, outras questionáveis.
Importante dizer que movimentos e pessoas trans estiveram nas nossas plateias e debates ao longo desse ano
de apresentações, uma contrapartida do projeto, e o retorno é sempre positivo e de alto reconhecimento do
nosso trabalho.

Na semana da reestreia fui contactado por uma representante do grupo Transvest de BH com o intuito de
dialogar representatividade e empregabilidade. Por que uma peça que fala sobre a marginalidade que a
sociedade impõe às pessoas trans não tem nenhum T em sua equipe? Acho a provocação muito pertinente e um
ponto de partida para discutirmos a profissionalização dessas pessoas mas, também, ter consciência do modo
arcaico de se fazer esse tipo de teatro no Brasil.

GISBERTA foi um projeto idealizado por mim quando tomei conhecimento de sua história. Chocou-me saber
que quando sua morte completou 10 anos NENHUM artista trans ou cis desenvolvia uma pesquisa teatral
profissional sobre o crime no Brasil. O conteúdo artístico mais significativo sobre o fato era a música “Balada
de Gisberta” do português Pedro Abrunhosa, depois gravada por Maria Bethânia. Decidi ali que eu deveria
fazer alguma coisa e não esperar iniciativas que poderiam nunca vir. E o teatro, que é a minha casa, dá conta
de todas as histórias. É o berço da democracia.

Cabe dizer que Pedro Abrunhosa é também um homem cisgênero e sua composição - obra artística tal qual
uma peça de teatro - mesmo cantada em primeira pessoa, se tornou um hino no combate à transfobia e trouxe
luz à história de Gisberta.

A realidade do teatro carioca em 2017 era a seguinte: Crivella na prefeitura num embate declarado contra as
artes e nossa classe desesperada com seus projetos na mão à caça dos editais. Chamei meu marido e 3 amigos
para levar a ideia a diante (Lúcio Zandonadi, Claudia Marques, Renato Carrera e Rafael Souza-Ribeiro). Meu
marido chamou dois amigos músicos. Meu diretor, Renato, chamou o marido programador visual que chamou
a amiga fotógrafa. E assim fomos montando a equipe de parceiros que podíamos, sem um tostão, quem topava
trabalhar de graça. Essa é a realidade do teatro no Brasil quando se opta por não fazer um teatro mais
comercial. Respeito e faço todos os gêneros teatrais mas, quem entende minimamente do assunto, sabe que não
é falando de tragédias LGBTs que se tem facilidades e se pode abrir testes pra contratar pessoas.

Naquele momento, chegamos em GIOWANA CAMBRONE (mulher trans, atriz, advogada com atuação nas
matérias de direito civil e público, Professora Universitária, ativista de Direitos Humanos) que prestou
consultoria sobre o tema durante a pesquisa do espetáculo e sem o seu conhecimento seria impossível qualquer
abordagem.

Precisamos cobrar a formação técnica de pessoas trans das grandes instituições e nos apresentarmos para esse
trabalho. Cobrar de bancos, seguradoras, estatais, grupos de comunicação a criação de núcleos de formação.
O teatro na sua crise não dá conta disso sozinho! Vale lembrar que com todas as precariedades já existentes, a
classe teatral carioca levou um calote do prefeito pastor no fatídico 2017.

Eu e minha equipe de amigos e familiares seguimos trabalhando por 9 meses sem ganhar nada e sem previsão
de estreia. Por fim, salvos pelo gongo, fomos acolhidos pelo edital do Banco do Brasil e pudemos realizar a
peça com estreia prevista em 3 capitais. Um dinheiro que nos deu a maravilhosa chance de fazer uma peça de
alta qualidade mas, em sua contrapartida, a preços populares. Ninguém lucra. Seguimos com a nossa
convicção na importância dessa história.

Vieram outros questionamentos por parte do grupo: eu CIS interpretando “transfake”, gays falando de trans,
Gisberta ser interpretada. Ainda aqui, mesmo eu não concordando com muitos dos seus pontos de vista, cabe o
diálogo. E o teatro não seria a arte do “fake”? O plano harmônico das verdades e mentiras? Em 24 anos de
carreira já fiz velho fake, mulher fake, criança fake, até escandinavo fake eu já fui! O que não cabe mesmo é a
comparação com o “blackface” por respeito a outros movimentos e à simbologia desta prática. Para todas as
outras questões vamos precisar de muito tempo pra entender. O teatro é milenar e esse questionamento só
chegou na classe teatral recentemente. Não é uma matemática. Não tem uma resposta só. Vamos ter que fazer
muitas peças e conversar muito pra entender. Estou disponível.

Como ator assumidamente gay e realizando trabalhos com LGBTs me senti apto a contar essa história. Por
uma questão de escolhas dramatúrgicas, a pesquisa caminhou para que eu não interpretasse a Gisberta como
personagem da peça. Para tratar de sua ausência criamos um mosaico de personagens fictícios e reais que
observam o seu lugar de fala e nunca o assumem. Além disso, a peça fala ainda das diferenças entre orientação
sexual e identidade de gênero. Misturo minhas histórias e histórias da minha equipe ao que foi contado pela
família de Gisberta quando nossa pesquisa chegou até ela. Sim, as irmãs de Gisberta nos apoiam 100%, assim
como a apoiavam irrestritamente em vida. Sim, a família de Gisberta ofereceu a maior parte do material que
temos, nos recebeu com memórias, confiança, documentos e estava na estreia. Temos contato diário na
trajetória do espetáculo e nas palavras delas “Agora é tempo de alegria na nossa vida. O teatro faz justiça”.

Vale dizer, que anterior a esses pedidos, é da contrapartida do projeto o debate em todas as capitais que
passamos. Fazemos uma noite de conversa sobre arte e gênero aberta ao público com representantes dos
movimentos trans. O encontro de BH já estava sendo anunciado.

Houve um diálogo com a mediação do Transvest até às vésperas da estreia. Chegamos a falar sobre
apresentação conjunta de uma cena deste coletivo e também num encontro com um representante dos
movimentos, mas não chegamos a um acordo porque era fundamental que a peça fosse assistida antes de ser
debatida.

Estou exausto. Questionando se levo adiante futuros projetos com essa temática. Questionando se vale a pena
trabalhar tanto usando os meus privilégios a favor de um causa, mirando em um dia ter condições de criar
empregos para LGBTs, se na construção desse caminho há tanta difamação.

Falando em privilégios, não vem ao caso dizer o quanto eu briguei pelo meu espaço, nunca tive vocação pra ser
vítima e confio minhas muitas tragédias a poucos amigos. O fato é que conquistei o respeito da minha classe e
tenho prudentemente uma assessoria de imprensa para as demandas do que movimento. O privilégio seria
acionar isso tudo desde o início para expor o meu lado, mas me mantive quieto, observando e tentando
entender. Mesmo sendo apontado, vilanizado, tachado de omisso. Observando muita gente falando contra mim
sem cogitar que poderia haver outro lado da história.

Somos todos artistas. Por que não lutar por mais espaço pra todos? Vamos gastar mesmo tanta energia contra
aliados? LGBTs contra LGBTs mesmo quando há tantos inimigos lá fora torcendo pra que a gente se destrua
e poupe o trabalho deles?

Recebi apoio espontâneo de muita gente lúcida nos últimos dias. Artistas trans, classe teatral, profissionais
trans da ONU, juíza cis ligada às causas de direitos humanos, o público de Gisberta, o público de BH, travestis
em situação de prostituição.... muitas palavras que me abrandaram o coração e deram conta dos meus dias.
Mas, por respeito, selecionei a fala da minha amada Jane Di Castro, a Divina Diva, para ilustrar a potência de
um fazer teatral:

“O melhor monólogo do momento que conta a história de uma trans com seus dramas e glamour. Em algumas
cenas passava um filme na minha cabeça. Enfrentei a ditadura e estou aqui, eles não me venceram, perdi as
contas da quantidade de peças que fiz nessa época que foi a mais difícil, sempre trabalhei. Era proibido ser
travesti na rua. Hoje sou até síndica do meu prédio, há 10 anos. Rogéria fez uma bisavó numa novela.
Recentemente tivemos uma atriz trans numa novela interpretando uma mulher CIS. Já pensou se as atrizes se
reunissem e fizessem um protesto contra elas? No final de GISBERTA fui homenageada e me emocionei. Texto
e direção perfeitos. Imperdível!”Jane é atriz, cantora, empresária, Divina Diva e trans. Deveria ser óbvio saber
quem é a Jane, mas por motivos de “o mundo estar ao contrário” é melhor manter a legenda. Vou publicar
outro texto só com as falas de mais gente amiga trans e cis que mandou seu apoio

Ainda acredito no diálogo, nas forças LGBTs unidas contra o conservadorismo crescente - prestes a eleger um
presidente em 2018 - e nunca vou questionar o poder da arte. Para quem quiser conversar de forma honesta e
equilibrada, estou aqui.

Convoco vocês, pessoas sensatas e que mobilizam tanta gente, um posicionamento, uma defesa da arte, do
teatro, da liberdade. Chamo a classe artística para uma tomada de ação. O que está acontecendo com
GISBERTA pode acontecer com outros artistas em seus projetos. Pode ser um parágrafo, uma publicação,
uma linha, qualquer coisa ajuda. Não sei até onde posso levar esse trabalho nessas circunstâncias. Estou
convicto que se a peça GISBERTA parar toda nossa classe perde. Peço ajuda!
Uma curiosidade: nas últimas apresentações um grupo de religiosos, cientes da temática da peça, convidava o
público que saía do teatro para os cultos em seus templos. É óbvio que a abordagem não era em vão.

Muito obrigado,
COMPARTILHEM,
Luis Lobianco

Confesso que ainda estou um pouco atordoado com a declaração do comandante do Exército de que quer "se
cercar de garantias para evitar que os militares tenham de se submeter a uma nova Comissão da Verdade".
A declaração é muito grave e é grave em muitos níveis.
- Ela é grave pelo contexto em que ela foi dita. O que o General está dizendo é que faltou um arcabouço
jurídico sólido que não deixe dúvidas sobre a segurança jurídica da operação. Isso reforça um ponto que tenho
feito desde sexta: o decreto é a ponta de um iceberg de improvisos. Mal escrito e provocando muitas
inseguranças ele ainda trará muita confusão jurídica para a ação do governo federal no RIo.
- Ela é grave porque a segurança jurídica que o General parece querer, pelas suas declarações, não é apenas a
que permite que se conheça os limites da atuação das Forças para realizar um planejamento de uma
intervenção eficiente O General quer a segurança da impunidade. O grande malabarismo jurídico do decreto é
esse, inclusive. Afirmar a natureza militar do cargo de interventor para driblar os mecanismos de controle
civis. Controle sobre violações de direitos humanos e controle sobre desvios na aplicação dos recursos.
(importante aqui ressaltar que seria perfeitamente possível ter um militar na função de interventor, mas
submetido aos controles civis) A fala toda do General, para além da menção chocante à Comissão da Verdade,
vai nessa linha.
-Ela é grave, principalmente, porque ela legitima os abusos da ditadura. Uma ditadura que torturou, matou,
censurou. E isso em um momento onde visões revisionistas ganham peso na sociedade. E, pior, ela aponta para
a ideia de que esse é um momento de exceção, como ele acredita que foram de exceção os anos da ditadura, e
que nesses momentos, militares devem ter carta branca para violarem direitos sem que tenham que prestar
contas a civis. Nem no presente e nem em uma comissão da verdade no futuro.
A única saída para enfrentar a visão do comando do Exército, expressa nas declarações do General, é criar
uma Comissão da Verdade desde já. Um controle permanente sobre a intervenção que possa expor as
eventuais violações da Constituição e do Estado de Direito. O Globo noticia hoje que o CESEC vai criar um
observatório da intervenção. Iniciativas como esta são fundamentais em um momeno como este.
Aceitar o pacto de impunidade que o governo quer propor com o decreto é abrir uma porta perigosa. Que a
nossa história tenha nos ensinado alguma coisa nos ultimos 50 anos.

Uma das coisas assustadoras da política é que ela é autoperformativa. Uma avaliação
imprecisa ou infundada, se mobiliza adesões e assentimentos em número suficiente, tem o
poder de se materializar como profecia autorrealizada. Isso é particularmente preocupante
nesse momento em que grupos políticos usam estrategicamente as mídias sociais para nos fazer
agir por impulso, irrefletidamente, tomados por medo ou por indignação. Há uma espécie de
aliança tácita entre as plataformas que querem nos viciar e os grupos políticos que querem nos
manter permaneantemente assustados e indignados. Aos dois atores interessa uma avalanche
de notícias aterrorizantes em fluxo constante. Não se busca geralmente falsear a realidade, no
sentido das notícias falsas -- trata-se muito mais frequentemente de sobredimensionar o que
acontece e de tratar a informação como a lenha que alimenta permantentemente o motor da
paixão política a serviço dos grupos de poder. – Pablo Ortellado.

Por uma série de razões estruturais e conjunturais, o punitivismo é o coração do


conservadorismo brasileiro e é, de longe, o tema conservador mais importante para a
população, sendo bem distribuído entre as classes e até mesmo no espectro político. Por esse
motivo, a intervenção federal na segurança pública do Rio -- que está sendo lida como uma
intervenção militar que vai "por ordem na casa" -- tem tudo para trazer bons frutos a um
presidente com popularidade baixa. O pensamento conservador extrai sua coerência de uma
visão de mundo punitivista que acredita que a sociedade só funciona bem se houver punição
dura a quem desviar da norma social, de maneira que o endurecimento penal e o combate ao
crime são o seu cerne. Além disso, para boa parte da população, a única resposta imediata
para a crise na segurança pública é uma violência ainda maior que possa impor a paz pelo
medo. Assim, se durante a intervenção não houver uma grande crise e se a ação conseguir
sucessos pontuais e momentâneos -- como aqueles que vimos na implantação das UPPs ou
durante os grandes eventos -- pode ser que ela consiga gerar efeitos eleitorais relevantes em
outubro. No final do mandato e próximo à corrida eleitoral, a intervenção desloca a identidade
política de Temer das impopulares reformas para um tema urgente, tratado com uma
abordagem popular. – Pablo Ortellado.

A Intervenção, de caráter militar, no Rio de Janeiro é uma medida populista e claramente improvisada de um governo
desesperado por apoio popular. Ela entrega o controle da segurança do Estado às Forças Armadas após uma série de
ações fracassadas (tanto neste quanto em governos anteriores) no Rio. Fracassos distintos. Ações espetaculosas e com
resultado pífio - como vimos recentemente na rocinha- e ocupações longas, com custos elevadíssimo, em algumas
comunidades que são hoje mais inseguras do que eram antes da ação do exército. (A ocupação da Maré, por exemplo,
custou 600 milhões de reais e transformou a Maré em um lugar muito mais perigoso para seus moradores do que
antes).
Mas o fracasso parece ter subido à cabeça e os militares agoram comandarão a segurança.
Seria fácil apenas criticar a decisão eleitoreira de fazer a intervenção. Mas a crise é grave e merece ponderações.
1) A crise de segurança do Rio é, também, uma crise de comando. O Rio não tem comando político desde o começo
do governo Pezão. Isso foi sentido em várias áreas do governo estadual, mas principalmente na segurança pública.
Hoje não há politíca de segurança no Estado. Cada batalhão tem o seu "governador". Isso só reforça uma lógica de
corrupção e violência que impera nas favelas.
2) A crise de segurança no Brasil é tão ou mais grave do que no Rio. O Brasil é o país com o maior número absoluto
de homicídios do mundo. Mas os mais de 60.000 homicídios no Brasil não estão concentrados no Rio. Há cerca de
pelo menos 10 estados com índices de homicídios mais altos do que o Rio de Janeiro. O governo Temer apresentou
um plano (também improvisado) de segurança pública há mais de um ano. Mas com troca constantes no ministério da
Justiça, o plano não saiu do papel. Ou seja, ao invés de se reforçar o compromisso com a construção de uma política
de segurança sólida, o governo, no desepero político eleitoral, opta pelo ação militar.
3) Um dos maiores problemas da segurança do Rio hoje é a falta de controle sobre as polícias. Essa afirmação não se
confunde com a ideia, equivocada, de que todo policial é corrupto. Mas recomendo a leitura do excelente relatório da
Human Rights Watch sobre a polícia do Rio: "O Bom Policial Tem Medo". O relatório mostra como a lógica de
guerra das polícias é alimentada por uma rede de extorsão e corrupção. E o bom policial que tenta se opor a isso é a
ameaçado. A impunidade reinante nas polícias, que permite que se mate sem qq consequência é a base dessa lógica.
4) Recentemente foi aprovada uma mudança na legislação que faz com que militares em serviço sejam julgados por
tribunais militares mesmo quanto cometam crimes contra civis. A avaliação dos conhecedores da justiça militar é a de
que isso encoraja a impunidade.
5) O México é o país que, sem haver uma guerra civil propriamente dita, foi o principal país da região a utilizar as
Froças Armadas em larga escala na segurança pública. O resultado foi o fortalecimento das organizações criminosas,
o aumento dos homicídios e a expansão da corrupção entre os militares. Para quem apoia a intervenção fica a
pergunta: quais os elementos que podem fazer evitarmos o fracasso mexicano.
Considerando esses pontos, eu até posso acreditar que exista gente séria defendendo que a intervenção poderia
restabelecer algum comando na segurança do Rio e iniciar um processo de reforma que enfrentasse a impunidade e a
corrupção nas polícias do Estado.
Mas é um voto de confiança em quem não merece confiança. As Forças Armadas nunca mostraram (nem tem
vocação para isso) capacidade em se engajar em uma políica de segurança que vá além da mera ocupação militar. As
denuncias de desrespeito aos moradores durante as ocupações de favela sugerem que, mais uma vez, essas
comunidades devem sofrer os efeitos do improvisso eleitoreiro dos governantes. Não há compromisso com o combate
à impunidade por parte das FFAAs. Ao contrário, como se viu no empenho para aprovar a mudança da legislaçao que
eu citei acima.
Em resumo, essa parece ser uma intervenção mal planejada, mal intencionada e que tem tudo para gerar alguma
sensação de segurança, em um primeiro momento nas áreas ricas da capital, mas que não apenas não resolve a
verdadeira crise de segurança que afeta os moradores das regiões mais pobres do Rio, como pode ainda agravar essa
crise, gerando ainda mais violência (como no México ou na Maré).
Uma vez que provavelmente a intervenção será aprovada pelo Congresso, nos resta cobrar - mesmo que sem muita
esperança - que não haja aumento da impunidade e do derramamento de sangue nas favelas, que se apresente um
plano estratégico de recuperação das instituições policiais e uma visão de segurança que seja sustentável.

Não existe síntese melhor dos efeitos do neoliberalismo que o futebol. Até 1995 os jogadores, os direitos
federativos deles, pertenciam aos clubes, havia leis rígidas de transferência e limites de estrangeiros. Após a
Lei Bosman em 95 e a consolidação da UE, com abertura total, isso acabou: jogador como mercadoria tem
fluxo livre. A partir disso o jogo mudou para sempre.

E qual seu maior retrato? A discrepância, a desigualdade. Todos os principais craques do mundo atuam em
meia dúzia de times que ano após ano partilham entre eles os principais campeonatos -- para o resto, os
farelos. Na Espanha só Real Madrid e Barcelona com o Atlético correndo por fora (em 14 temporadas, 13
títulos ficaram entre a dupla e só 1 com o Atlético); na Itália vem de um hexa a Juventus; na Alemanha, o
Bayern vai para o hexa pela primeira vez; em Portugal só Benfica e Porto ganharam nesta década; e sobra a
Inglaterra, a única liga mais nivelada.

Mas se há problemas, e há, são evidentes, ainda falamos do centro do capitalismo futebolístico. A coisa é
desastrosa porém quando se olha para a periferia da bola: na América do Sul, que até 20 anos tinha times tão
bons quanto europeus, atua a quarta divisão do futebol. Times médios já não conseguem mais competir com os
grandes porque a discrepância também está entre nós. E os pequenos, sobretudo os do interior, estão
morrendo.

Vocês não percebem a desgraça? O esporte mais democrático de todos, o mais fantástico, a melhor criação da
humanidade está se esfacelando, está se afastando dos rincões e se concentrando só em grandes centros. Eis o
produto mais bem acabado do neoliberalismo.

E é bom inclusive pra entender como as pessoas podem aceitar um estado tão absurdo de coisas, como
torcedores de times que antes brigavam por canecos hoje se conformam com tão pouco. É o esporte sendo
vendido como espetáculo, a glamourização, o fetiche e a propaganda. Não são poucos os amigos de esquerda,
por exemplo, que babam toda semana com o Barcelona impiedosamente vencendo seus adversários
fragilizados por 6 a 0 na Espanha. Ora, isso é tudo menos esporte.

Não é diferente na sociedade como um todo. Fomos sendo convencidos na sociedade da espetacularização,
inclusive do que é ruim, de que as mazelas estão aí pra serem aceitas. E vamos aceitando passivamente...

O Show de Temer! No Brasil, as coisas saíram do campo das metáforas para o sentido literal. Escárnio surrealista
tropical com Michel Temer pagando "simbolicamente", com uma nota de 50 reais, o que já pagou literalmente (com
as verbas publicitárias) para Sílvio Santos, um milionário de 87 anos, fazer o "garoto propaganda" da Reforma da
Previdência, no seu programa dominical de maior audiência.

Ou seja, o SBT já veiculou uma série de peças publicitárias pagas, sem metáforas, a peso de ouro pelo governo para
defender a reforma assegurando que ela "atinge só os ricos", e se não for feita "quebra o Brasil, como em Portugal e
na Grécia". Os governos no Brasil pagam com nosso dinheiro para as corporações fazerem sua publicidade, numa
série de distorções sem fim!

Temer falou pouco ("fez escada" para Sílvio, como se diz) e terceirizou seu "pronunciamento" em cadeia nacional
para o próprio Silvio Santos acalmar/alarmar o povo com uma mensagem duplamente mentirosa de um paraíso sem
crise ameaçado se não houver reformas : "temos inflação baixa, juros baixos, agora só falta reformar a previdência".
E o toque alarmista/terrorista: "se a Reforma não for feita vocês vão chegar daqui 2 ou 3 anos no banco e não vai ter
dinheiro para pagar ninguém". Fake news e terrorismo midiático entre sorrisos e piadas de dois homens
embalsamados no poder! Cena para taxidermistas!

Mas afinal, para empurrar goela abaixo a mais impopular das reformas, o apresentador do SBT tem mais
credibilidade e popularidade que o presidente mais achincalhado e desacreditado do Brasil. Delatado em prosa e
verso como corruptor ativo, mas impune!

E antes de começar o "show de Temer", Sílvio Santos apontou sua pistola que solta notas de 10 reais e 50 reais para
um auditório de mulheres que se engalfinhavam para pegá-las. O "Revolver da Fortuna", chama o quadro! É isso ai,
Temer está puxando um outro gatilho. Brasil, il, il #reformadaprevidencia

P.S. Mas essa é só uma dimensão da realidade, a mais histriônica e visível, outras forças e mundos concorrem com
esse mundo clichê! e com os homens de plástico!

Escrever, especialmente trabalhos de grande monta como dissertações e teses, exige foco, disciplina e um certo
desligamento do mundo. Meu conselho número 1 a todas e todos que estão nesse processo é: saia das redes sociais.
Aqui você encontrará problemas políticos que vão te preocupar e te trazer incertezas sobre o futuro, debates estéreis
(tretas) nos quais você vai querer opinar e que vão sugar suas energias, um monte de gente aproveitando as férias em
lugares maneiros aonde você queria estar, eventos que você gostaria de frequentar etc. Tudo isso rouba seu tempo e
sua capacidade de trabalho. Acredite: nós escrevemos mesmo quando não estamos escrevendo. Ainda nos momentos
em que permanecemos distantes da tela do computador, nossa cabeça está funcionando no modo escrita, elaborando
ideias e formatos que se tornarão textos. É muito importante a gente se concentrar nisso. Se divertir, se distrair é
necessário, mas procure aquelas atividades que te refazem e reenergizam, não as que desgastam e dispersam.
O conselho número 2 é: aproveite a escrita. É difícil. Por vezes, solitário. No entanto, é um processo desafiador,
instigante, cujos resultados podem ser muito prazerosos (ainda que dificilmente o processo em si o seja). Faça bons
cafés, beba um drink de cara pro computador se isso te ajudar, ouça música ou prefira o silêncio. É a sua arte. Se
dedique a ela. Encontre sentido. É sua escolha. É você se inscrevendo no mundo. É o seu pensar autônomo. Não
deixe que nada te roube essa experiência tão forte e especial.
Conselho número 3: procure ajuda se precisar. Se a relação com orientador não estiver fluindo bem ( ou mesmo que
esteja, mas que não seja o suficiente pra você), procure amigos, pessoas de confiança afetiva e/ou intelectual,
parentes. Peça que leiam. Ou leia em voz alta para elas. Discuta seu trabalho com elas. Mergulhe nisso. Fique
obsessiva. Quanto mais a gente mergulha e vive nosso tema, mais insights de escrita surgem.
Por fim, nas horas de descanso, recomendo que leia textos que inspiram a escrever. A Hora da Estrela, de Clarice
Lispector, tem uma linda introdução falando sobre escrita. Existe muita coisa disponível, inclusive um blog bem
bacana intitulado Como eu escrevo. Isso ajuda no compartilhamento dessa experiência incrível que é escrever. Bom
trabalho!

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