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Uma breve discussão conceitual

Os conceitos mais utilizados em abordagens sobre geografia do turismo são de


uso comum, ou seja, fazem parte do vocabulário não somente de estudiosos de
turismo, mas de pessoas em geral e ainda são motivo de debates e polêmicas.
O Turismo é, em essência, uma prática social. Uma prática social, agregada ao
mercado, que tem no espaço seu principal objeto de consumo e, em decorrência
dessa característica intrínseca, requer a adaptação dos territórios a suas
demandas materiais e imateriais. Este livro aborda o fenômeno do turismo,
considerando, fundamentalmente, sua inquestionável dimensão espacial,
mediante um discurso teórico-conceitual.
1.1 Turismo
O turismo, que, antes de mais nada, é uma prática social, vem mudando de
sentindo ao longo da história e cada nova definição consiste em nova tentativa
de se conceituar algo que tem, reconhecidamente, uma dinâmica inquestionável.
É importante lembrar que, toda definição de conceito é sempre carregada de
ideologia e exprime, portanto, alguma forma particular de se ver o mundo, por
parte daqueles que criam essas definições.

Entre as inúmeras definições de turismo, há que se destacar aquela adotada


pela Organização Mundial de Turismo (OMT). Segundo a OMT, o turismo é uma
modalidade de deslocamento espacial, que envolve a utilização de algum meio
de transporte e ao menos um pernoite no destino; esse deslocamento pode ser
motivado pelas mais diversas razões, como lazer, negócios, congressos, saúde
e outros motivos, desde que não correspondam a formas de remuneração direta.

Todo tipo de viagem é considerado, hoje, turismo, independentemente da


motivação do deslocamento. O que a OMT sugere com sua definição de turismo
é que viagem e turismo são hoje sinônimos. Não de pode negligenciar o fato,
entretanto, de que abarcar todo tipo de viagem como turística, a definição oficial
de turismo conduz, entre outras coisas, à exacerbação das estatísticas.

Por ser uma pratica social, o turismo é fortemente determinado pela cultura.

1.2 Turismo de massa


A expressão "turismo de massa" tende a sugerir tratar-ser de uma modalidade
do turismo que mobiliza grande contingente de viajantes.

É preciso saber que turismo de massa não significa "turismo de massas", pelo
simples fato de que as massas não fazem turismo.

Se considerarmos que parte da população mundial vive abaixo da linha de


pobreza e que outra parte, igualmente significativa, vive muito próximo dessa
linha, não é difícil concluir que quando falamos de turismo estamos nos referindo,
em verdade, a uma pequena parcela da população mundial.
Turismo de massa é uma forma de organização do turismo que envolve o
agenciamento da atividade bem como a interligação entre agenciamento,
transporte e hospedagem, de modo a proporcionar o barateamento dos custos
da viagem e permitir, conseqüentemente, que um grande número de pessoas
viaje.

1.3 Turismo alternativo


Turismo alternativo é uma expressão criada para categorizar modalidades de
turismo que, do ponto de vista de seu objeto de consumo e da sua forma de
consumo do espaço, se contrapõem ao chamado turismo de massa. Tem nos
espaços naturais seu principal objeto de consumo que, ao contrário do turismo
de massa, requerem uma gama restrita de infra-estruturas e serviços, embora,
muitas vezes, não dispensem a sofisticação de ambos.

As modalidades de turismo ditas alternativas também requerem infra-estrutura


de acesso, hospedagem e restauração, tal como no turismo de massa, mas há
a diferença de que as primeiras requerem menor densidade tanto de infra-
estruturas quanto de serviços, se comparadas à segunda.

1.4 Lugar Turístico


"Lugar turístico" é uma expressão utilizada tanto para se referir a lugares que já
foram apropriados pela prática social do turismo como também a lugares
considerados potencialmente turísticos.

O lugar turístico já apropriado pelo turismo corresponde àquela porção do


espaço geográfico cuja produção está sendo determinada por uma participação
mais significativa do turismo, relativamente a outras atividades.

Os meios de hospedagem e as infra-estruturas de lazer são objetos


característicos de lugares turísticos. Milhares de localidades no mundo contam
com alguma infra-estrutura de hospedagem e de lazer, e isso, entretanto, não as
define como localidades turísticas. Todo lugar em que houver a presença do
turista, ainda que solitário ou aventureiro pode ser considerado um lugar
apropriado para a pratica do turismo.

Não se pode comparar uma localidade eventualmente visitada por turistas com
uma localidade em que o turismo de massa já é fato consumado. As diferenças
entre essas localidades estão não somente no tamanho dos fluxos, mas também
na densidade das infra-estruturas instaladas para atender à demanda turística,
entre outros aspectos passíveis de serem comparados.

Nenhum lugar turístico tem sentido por si mesmo, ou seja, fora do contexto
cultural que promove sua valorização, em dado momento histórico. Isso significa
reconhecer, por exemplo, que as praias tropicais, colocadas hoje entre os mais
importantes recursos turísticos, assim o são porque as sociedades construíram
culturalmente sua valorização. Sem essa dimensão cultural, tais praias seriam –
para o turismo – um recurso (ou um lugar) tal como qualquer outro recurso
natural.
1.5 Atrativo turístico
O que é considerado atrativo turístico hoje pelo turismo não era no passado e
talvez não seja no futuro. Como a cultura varia no tempo e também no espaço,
o que é atrativo turístico para alguns grupos de pessoas pode não ser para
outros.

Uma das principais motivações das viagens turísticas é a busca do exótico,


daquilo que, de alguma forma, se diferencia do cotidiano do turista.

Neste momento histórico, temos a valorização de determinados recursos


naturais e culturais. Como vivemos hoje em um mundo globalizado (ainda que
não sob todos os aspectos) e de gostos tendencialmente massificados, alguns
recursos naturais e outros culturais, mais valorizados pela prática social do
turismo do que o outro, são tidos, de forma até estereotipada, como atrativos
turísticos.
1.6 Paisagem turística
Paisagens são a porção visível do espaço geográfico e, por isso, desempenham
importante papel na constituição dos lugares turísticos e no direcionamento dos
fluxos turísticos.

As paisagens turísticas nada mais são, também, que invenções, que criações
culturais. As paisagens consideradas mais atrativas pelo turismo na atualidade
são criações culturais que têm muito a ver com o que se habituou chamar de
cultura de massa e, portanto, com o papel da mídia na homogeneização de
gostos e na disseminação de padrões de consumo homogeneizados.

Nesta perspectiva, a autora mostra ao longo de sua obra os impactos que ocorrem nos
lugares onde o turismo chegou, conforme os exemplos expostos em suas obras
“Introdução à geografia do turismo” e “Geografias do Turismo: de lugares a pseudo-
lugares. Um deles é a Riviera de São Lourenço, localizado no município de Bertioga -SP,
que trata de um empreendimento de segundas residências, que, segundo Cruz (2007),
parece uma cidade independente. No interior desse loteamento, há shopping centers,
restaurantes e mesmo uma escola para atender aos filhos dos poucos moradores, já que as
pessoas que circulam por lá são veranistas. Assim, essa capacidade que o turismo tem de
criar e recriar os lugares de acordo com sua conveniência torna esses empreendimentos
alheios ao lugar onde estão instalados, configurando-se como formas espaciais de
segregação territorial entre turistas e residentes. O complexo hoteleiro de Costa do Sauípe
na Bahia, por exemplo, também é citado pela autora. Esse empreendimento é constituído
por cinco hotéis resorts de bandeira internacional. “Encravado no litoral do Município de
Mata de São João, esse empreendimento destoa completamente de seu entorno pobre e
simula intramuros uma Bahia que não existe: sem pobreza, sem violência, esteticamente
impecável” revela Cruz (2007). Ressaltamos que as consequências acima mencionadas
são decorrentes do turismo mal ou não planejado, criando graves problemas sociais e
sérios impactos ambientais. Conforme ressalta Cruz (2003), a atividade turística enquanto
atividade econômica precisa ser planejada de forma sustentável para se reproduzir.
Planejar um destino turístico significa também tornar a comunidade participativa no
processo, minimizando os riscos sociais.

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