Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Lectinas e Saponinas
Toxicologia de Alimentos
Docente: Guilherme Vannucchi Portari
Uberaba
2017
1. LECTINAS
Lectinas são proteínas que se ligam seletivamente aos carboidratos e,
principalmente, as porções de hidratos de carbono das glicoproteínas que
decoram a superfície da maioria das células animais. Sua ingestão, presentes
em alguns vegetais cozidos indevidamente, pode causar irritações
gastrointestinais. Outros sintomas agudos após a ingestão são náuseas, vômitos
e diarréia. Em estudos com ingestão a longo prazo em modelos de roedores
notou-se aumento de células, hiperplasia intestinal e perda de peso.
O mecanismo de toxicidade é desconhecido mas sabe-se que as lectinas
inibem a exocitose. As células epiteliais intestinais estão constantemente
expostas a tensões mecânicas e outras e rupturas da membrana plasmática.
Reparação destas rupturas da superfície celular permite que a célula ferida
sobreviva: a falha resulta na morte celular necrótica. O reparo da membrana
plasmática é mediado, em parte, por um evento exocitótico. Inibindo o reparo da
membrana plasmática as torna tóxicas para células feridas, logo isso representa
uma nova forma de toxicidade.
O reparo das rupturas da membrana plasmática e exocitose do muco foi
avaliado após o tratamento de células cultivadas modelos e segmentos
excisados do trato gastrointestinal com lectinas. As rupturas da membrana
plasmática foram produzidas por irradiação focal de células individuais, usando
um laser à base de microscópio, ou por abrasão mecânica de células múltiplas,
usando uma agulha de seringa. O reparo foi depois avaliado pela monitoração
da penetração citosólica de corantes incapazes de atravessar a membrana
plasmática intacta. Percebeu-se que as lectinas ligadas à superfície celular
inibem potentemente o reparo da membrana plasmática e a exocitose do muco
que normalmente acompanha a resposta de reparo.
Áreas de necrose celular epitelial e até zonas de desnudação completa
de células epiteliais são observadas em biópsias do estômago e intestino de
mamíferos e insetos alimentados com lectinas de plantas. As microvílias das
células epiteliais particularmente são afetadas pela exposição à lectina, o que
desencadeia a interrupção e a perda dessas projeções de superfície ricas em
membrana. Quando as células são tratadas com lectinas in vitro, mesmo em
doses muito altas, a necrose não é observadas porém são observadas
mitogênese, formação de vacúolos e inibição da exocitose.
Um tratamento avaliando a célula após a criação da ruptura da
membrana plasmática com um laser. Monitorou-se a coloração intracelular com
um corante fluorescente, em função do tempo após a lesão. A presença de Ca2+
fez-se necessária para o reparo, e nenhuma absorção adicional foi medida 10-
20s após a lesão laser, apenas um pequeno ponto é observado. A omissão de
Ca2+, fez com que ocorra a absorção do corante e toda membrana interna seja
manchada. O ressarcimento falhou, como esperado, na ausência de Ca2 +
extracelular.
Outro estudo de curto prazo de células com estas lectinas nas
condições utilizadas para ferimento a laser, mas em a ausência de indução de
rupturas da membrana plasmática não afetou negativamente a saúde das
células, tanto durante o tratamento quanto após o tratamento. Assim, aquelas
lectinas observadas para se ligar fortemente à célula BS-C-1 podem inibir o
reparo. As lectinas foram, portanto, tóxicas quando uma célula exposta a elas
experimentou a ruptura da membrana plasmática.
O mecanismo de inibição da lectina ao reparo da membrana ainda não
está claro. A exocitose, que é necessária para o reparo da membrana,
provavelmente é alvo desta classe de toxina. Estudos anteriores mostraram que
as lectinas podem inibir a exocitose. A ligação das glicoproteínas da superfície
celular pelas lectinas interfere nos eventos exocitóticos associados ao reparo da
membrana (secreção de muco) e que as lectinas bloqueiam o reparo.
Propôs-se então uma segunda categoria de doença que pode ser
explicada como uma falha no mecanismo de reparo da membrana plasmática.
Lectinas são tóxicas quando presentes no trato gastrointestinal com base em
dois efeitos inter-relacionados. Primeiro, a falha de ressecamento ocorre dentro
da população geral de células do trato GI normalmente expostas a níveis de
ruptura da membrana de estresse mecânico, levando à sua necrose. O segundo
efeito induzido por lectina é a insuficiência exocitótica dentro da subpopulação
das células do trato GI que normalmente secretam muco, levando a uma
diminuição na secreção de muco lubrificante protetora e um consequente
aumento na incidência de eventos de interrupção da membrana induzida
mecanicamente. Como as lectinas, com base nos danos que causam ao
revestimento do trato GI, e seu efeito hipertrófico, foram implicadas,
respectivamente, na doença celíaca e câncer, o conhecimento desse
mecanismo pode ter implicações além de uma melhor compreensão da
intoxicação alimentar.
Sabe-se que as lectinas são proteínas não pertencentes ao sistema
imunológico, porém capazes de reconhecer sítios específicos em moléculas e
ligar-se reversivelmente a carboidratos, sem alterar a estrutura covalente das
ligações glicosídicas dos sítios. São encontradas em uma ampla variedade de
espécies de plantas e animais, entretanto, estas substâncias estão presentes em
maior quantidade em grãos de leguminosas e gramíneas.
O fato de terem larga distribuição em plantas sugere alguma importância
fisiológica para estas substâncias. Suas funções podem ser variadas e parecem
ter relação com os estádios de maturação e germinação das sementes, assim
como parecem ter relação com os mecanismos de defesa da planta contra o
ataque de fungos.
Os efeitos tóxicos das lectinas de leguminosas podem geralmente ser
eliminados por tratamento térmico apropriado. A alta sensibilidade térmica das
lectinas em solução pode explicar a facilidade de inativação de lectinas em grãos
de feijões, quando previamente embebidos em água. Obtiveram inativação total
de lectina em uma solução purificada contendo 475 µg de proteína/ml, submetida
a temperatura de 90°C durante 5 minutos.
Analise do teor de lectina de soja in natura e processada: Os níveis de
lectina mais altos foram encontrados em soja crua (3 600 µg/g) e os mais baixos
(3,75 a 12,92 µg/g) em produtos de proteína de soja texturizada. Como era
esperado, os níveis de atividade de lectina de soja dependeram do
processamento térmico.
As leguminosas são fontes importantes de energia e proteína para a dieta
em algumas regiões do mundo, portanto a toxicidade de compostos como os
inibidores de proteases e lectinas são de considerável interesse, principalmente
onde as leguminosas fazem parte do hábito alimentar, uma vez que o valor
nutritivo destes alimentos pode ser limitado pela presença de fatores
antinutricionais.
2. SAPONINAS
As saponinas são um vasto grupo de glicosídeos. Suas propriedades de
superfície-ativa são o que distingue esses compostos de outros glicosídeos. Eles
se dissolvem em água para formar soluções coloidais que espuma ao agitar. As
plantas contendo saponina são procuradas para uso em detergentes
domésticos.
As saponinas também foram buscadas na indústria farmacêutica porque
alguns constituem o ponto de partida para a semi-síntese de drogas esteroidais.
Muitos têm propriedades farmacológicas e são utilizados na fitoterapia e na
indústria cosmética. A raiz de ginseng é um dos medicamentos orientais
tradicionais mais importantes e agora é usada em todo o mundo. As saponinas
são consideradas como constituintes principais ativos do ginseng.
A maioria das saponinas tem propriedades hemolíticas e são tóxicas para
a maioria dos animais de sangue frio. Podem ser classificadas em dois grupos
com base na natureza do esqueleto aglicônico. O primeiro grupo consiste nas
saponinas esteróides, que estão quase exclusivamente presentes nas
angiospermas monocotiledônicas. O segundo grupo consiste nas saponinas
triterpenoides, que são as mais comuns e ocorrem principalmente nas
angiospermas dicotiledôneas.