Em dezembro de 1979, no interior do estado do Pará, um vaqueiro de uma fazenda,
encontrou a primeira pepita de ouro. Como a cidade era pequena, a notícia logo se espalhou. O impacto dessa descoberta provocou uma verdadeira revolução na região e ocorreu uma nova corrida pelo ouro que gerou no Brasil o que foi considerado de maior garimpo a céu aberto do mundo. Entre fevereiro e março de 1980, mais de 60 mil homens chegaram ao local, conhecido como Serra Pelada, região localizada no estado do Pará, atual município de Curionópolis e deu-se início a corrida pelo ouro, sem qualquer organização e preocupação com os riscos a saúde e ambiente, movidos apenas pela busca da riqueza. Os morros foram transformados em barrancos através da escavação para a retirada da pepita e como estas eram raras, quem conseguisse maior quantidade ganhava mais. Os lucros e os custos do ouro ficavam para os sócios, donos de fazenda. O garimpeiro ganhava muito pouco pela exploração, mesmo trabalhando dia e noite para obter poucas gramas de ouro. Cerca de 10 toneladas foram extraídas em 1981 e as péssimas condições de trabalho no garimpo causaram uma perda de qualidade de vida dos trabalhadores da região e de suas famílias. A extração do ouro na Serra Pelada durou aproximadamente 4 anos. Ao final de 1981, os depósitos de ouro na superfície se esgotaram e então, uma companhia de mineração tentou reaver a posse das terras e continuar a exploração. O apogeu do garimpo ocorreu em 1983, quando aproximadamente 14 toneladas de ouro foram extraídas. Nos dois anos seguintes, a produção teve um decréscimo e ficou em torno de 3 toneladas⁄ano. Nos anos seguintes, a produção continuou caindo: em 1988, aproximadamente 745 kg de ouro foram extraídos e em 1990, menos de 250 kg. Hoje, acredita-se que ainda existam pequenas jazidas de ouro em algumas regiões, mas a exploração já é controlada pela companhia de mineração Vale. Atualmente, a região da Serra Pelada se transformou em uma favela com cerca de 1000 habitantes e surgiu uma imensa cratera com 200 m de profundidade no local do garimpo.
Garimpo
O garimpo é uma forma de exploração de minérios valiosos através de meios mecânicos
ou manuais, que pode ser realizada a céu aberto ou em minas escavadas nas rochas. Entretanto, o garimpo é considerado uma forma predatória ao meio ambiente. Durante o garimpo na Serra Pelada, o ouro era extraído da pepita utilizando o mercúrio na sua forma líquida, que tem a propriedade de capturar os grãos de ouro formando uma amálgama, uma espécie de liga. Existe um aparelho artesanal construído para separar o ouro da lama extraída no garimpo. Apelidado de “cobra fuma”, nele existem placas com mercúrio sobre as quais corre água com barro e que servem para reter o ouro presente na lama. O fluxo de água faz com que o ouro entre em contato com o mercúrio sendo imediatamente aprisionado. O processo é, em geral, muito rudimentar e causa grandes perdas de mercúrio que é transportado pelas águas para os rejeitos onde se infiltra. A parte do amálgama que não foi perdida na garimpagem é, após alguns dias, processada pelo garimpeiro com o intuito de recuperar o ouro e parte do mercúrio metálico, através de uma separação gravimétrica. Este processo torna-se como a maior fonte de contaminação dos garimpeiros, pois o amálgama separado é queimado, geralmente a céu aberto, liberando grandes quantidades de mercúrio para a atmosfera. Durante o processo, quantidades variáveis de mercúrio são perdidas na forma metálica para rios e solos, e rejeitos contaminados são deixados a céu aberto na maioria dos sítios de garimpo. Alguns garimpeiros também faziam o uso do maçarico para vaporizar o mercúrio deixando somente o ouro na sua forma sólida. Neste processo, os vapores de mercúrio, pela inexistência de equipamentos de proteção, máscaras e capelas, eram inalados diretamente pelos garimpeiros. Este contato direto com o mercúrio desencadeou uma série de problemas de saúde na população da Serra Pelada, levando a morte de muitos garimpeiros ou deixando marcas para a vida toda.