A independência de combustíveis fósseis é um grande desafio a ser superado,
pois o petróleo é uma fonte de energia não renovável além de ser uma das principais fontes de gases de efeito estufa, pois o seu uso libera enorme quantidade de CO2, sendo prejudicial ao meio ambiente. Estes fatores fazem com que haja uma maior procura por combustíveis renováveis que diminuem os impactos ambientais (DE SOUZA PAULINO et al., 2017).
O biocombustível surge como alternativa para enfrentar os desafios da
diminuição dos recursos fósseis e dos níveis crescentes de gases de efeito estufa atmosféricos, melhorando a segurança energética dos países produtores de petróleo e gás (AZADI et al., 2017). Assim, dentre os biocombustíveis atuais, existe o bioetanol, o qual tornou-se muito importante para a economia mundial, pois surgiu como uma fonte de energia renovável e ecológica.A matéria-prima utilizada para produção de bioetanol no Brasil é a cana-de-açúcar, a qual não prejudica significativamente o meio ambiente e possui baixo custo, já que o Brasil é o maior produtor e distribuidor dessa matéria-prima no mundo (DE SOUZA PAULINO et al., 2017).
O bioetanol, também conhecido como álcool etílico, oferece várias vantagens
em relação à gasolina, como o número de octanagem superior, limites de inflamabilidade mais amplos, maiores velocidades da chama e maiores ciclos de vaporização. Em contraste com o combustível de petróleo, o bioetanol é menos tóxico, facilmente biodegradável e produz poluentes de menor teor de ar (MOHD AZHAR et al., 2017).
O etanol é uma substância química com fórmula molecular C2H6O, produzido
por fermentação de açúcares. Existe duas formas de utilização como combustível automotivo: etanol hidratado e etanol etílico anidro. O etanol hidratado é utilizado em carros flexfuel, os quais são movidos a gasolina ou etanol, e o etanol anidro é utilizado como componente de mistura na formação da gasolina, correspondendo a 27% da mistura (ANP, 2017). A adição de etanol à gasolina é uma das formas mais eficientes para se reduzir a dependência dos derivados de petróleo e a emissão de CO2 nos automóveis. A substituição de gasolina por etanol reduz a emissão de CO2 em até 90% (ÚNICA, 2015). A oferta brasileira de etanol teve aumento no período de 1994 a 1998, quando um período de crise deu-se início devido aos altos níveis de estoque e à redução no mercado doméstico. Durante esse período, o preço do açúcar no mercado internacional aumentou e, consequentemente, a oferta de etanol no mercado interno despencou. Com a queda na demanda, a quota dos veículos movidos a etanol diminuiu de 75,5% em 1985 para 0,06% em 1997, com elevados custos financeiros e fiscais. Esse cenário foi revertido desde 2001, quando motores a etanol começaram a ser produzidos novamente. Essa tendência deu origem ao surgimento de uma nova indústria de etanol desde 2003, quando entraram em cena os motores flex (GUEVARA, SILVA, et al., 2016).
O Brasil é líder mundial na produção de etanol e apresenta algumas vantagens
competitivas em relação ao principal concorrente, os Estados Unidos. Dentre as principais vantagens, pode-se ressaltar a alta produtividade da matéria-prima usada no Brasil, a cana-de-açúcar, comparada com o milho usado nos Estados Unidos e a grande quantidade de terra disponível para produção da matéria-prima (SOUSA, SCUR e SOUZA, 2012). Em contrapartida, o Japão não possui áreas suficientes para o plantio de matéria-prima para a produção de bicombustíveis, e por isso poderá ficar dependente de importação em grande escala uma vez que intenciona misturar pelo menos 10% de etanol à gasolina.
A indústria de etanol brasileira reuniu no biênio 2012/2013, 602 milhões de
toneladas de cana de açúcar por 8,5 milhões de hectares. A produção registrou 38,8 milhões de toneladas de açúcar e 23,9 bilhões de litros de etanol. Isso representa uma quota de 41,8% na produção total mundial de etanol, estimado em 49 bilhões de litros. Espera-se que o Brasil dobre a área de cultivo de cana de açúcar nos próximos vinte anos, atingindo uma produção de 40 bilhões de litros de etanol (GUEVARA, SILVA, et al., 2016).
A exportação brasileira de etanol perde a vantagem na competição em razão das
altas taxas de importação dos Estados Unidos (US$ 0,54 por galão = 3,8 litros). Apesar disso, o Brasil exporta 70% da demanda mundial do etanol que corresponde a apenas 19% de sua produção, como em 2006. Cinquenta e oito por cento do total exportado é destinado aos Estados Unidos. Na questão do biocombustível, os dois países têm interesses políticos e econômicos em comum (KOHLHEPP, 2010). No estado de São Paulo, em 2006/2007, foram cultivados 3,8 milhões de hectares de cana de açúcar, representando 61% da área total nacional desse produto. No mesmo ano, ele produziu 61,5% de etanol (10,9 bilhões de litros), 65,8% de açúcar e 61% de cana de açúcar da produção total nacional. Em 2007/2008, a perspectiva era uma produção nacional de 20,5 bilhões de litros, e São Paulo participaria com 12,7 bilhões de litros, cerca de 62% do total. Em 2015, sua participação diminuiu para 54,9%, devido à disponibilidade e ao custo mais baixo da terra em outra região (GUEVARA, SILVA, et al., 2016).
A oferta mundial de etanol de cana de açúcar está em crescimento, e por isso
outras nações estão despertando para esse combustível que é renovável e de menor custo. As perspectivas futuras do mercado do etanol são bastante promissoras. O aumento das vendas de motores flexfuel, a maior intervenção do Estado nas políticas de aquisição, a adoção por questões ambientais, assim como o percentual de mistura do álcool com a gasolina são tendências nacionais e mundiais que podem alavancar as vendas de etanol.
No Brasil existem diversas aplicações para o etanol, principalmente, devido a
possibilidade de produzi-lo na forma anidra ou hidratada.
O principal mercado consumidor para a estrutura anidra são os postos de
gasolina, os quais devem garantir o percentual de 20% de volume na gasolina. O Etanol anidro também pode ser comprado como matéria prima pelas indústrias de tintas, solventes e aerossóis.
Já o etanol hidratado (cerca de 5%) é utilizado na produção de bebidas,
alimentos, cosméticos, aromatizantes, produtos de limpeza, remédios, vacinas e como combustível de veículos.
Referências Bibliográficas
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Acessado em:
02/04/2018.
AZADI, P. et al. The evolution of the biofuel science. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 76, n. November, p. 1479–1484, 2017.
DE SOUZA PAULINO, J. et al. Improvement of Brazilian bioethanol production –
challenges and perspectives on the identification and genetic modification of new strains of Saccharomyces cerevisiae yeasts isolated during ethanol process. Fungal Biology, n. 2018, 2017.
GUEVARA, A. J. D. H. et al. Avaliação de Sustentabilidade da Produção de Etanol no
Brasil: Um Modelo em Dinâmica de Sistemas. Brazilian Business Review, São Paulo, p. 436-447, Dezembro 2016.
KOHLHEPP, G. Análise da situação da produção de etanol e biodiesel no Brasil.
Estudos Avançados, São Paulo, v. 24, 2010.
MOHD AZHAR, S. H. et al. Yeasts in sustainable bioethanol production: A review.
Biochemistry and Biophysics Reports, v. 10, p. 52–61, 2017.
UNICA – União da Indústria de Cana-de-açúcar. Disponível em: www.unica.com.br.
Acessado em 10/01/2018.
SOUSA, P. N.; SCUR, G.; SOUZA, R. D. C. Panorama da cadeia produtiva do etanol
no Brasil: gargalos e proposições para seu desenvolvimento. Gestão da Produção, Operações e Sistemas, São Paulo, p. 146-159, Agosto 2012.
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