Você está na página 1de 8

SEDIMENTAÇÃO

M.C.O.S. dos SANTOS¹, N.E.C.L. de SOUZA¹, S.S. SILVA¹ e R.P. VIEIRA¹

¹ Universidade Federal do Maranhão, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia,


Coordenação de Engenharia Química
Engenharia Química

RESUMO – A sedimentação surge como proposta para processos de baixo


custo de separação de misturas de líquidos-sólidos ou líquido-líquidos de
densidades diferentes. Seu funcionamento é baseado na ação da gravidade
sobre os elementos em repouso envolvidos no processo, no qual o de maior
densidade descenderá, ocupando o fundo do recipiente. Neste experimento,
foram analisadas duas amostras de suspensão de carbonato de cálcio de
concentração 30g/L com a finalidade de determinar as curvas de
sedimentação propostas na literatura, além do dimensionamento de um
possível sedimentador industrial. Foi utilizado o método de Kynch e obteve-
se para a primeira amostra para uma vazão hipotética de 30m³/h a área do
sedimentador igual a 125,94 m² e altura 1,535 m. Para a segunda amostra,
obteve-se uma área de 116,45 m² e altura igual a 1,563 m.

Palavras-chave: Sedimentação. Método de Kynch. Curva característica de


sedimentação. Ponto crítico de compressão.

1. INTRODUÇÃO

A operação de sedimentação ou decantação é um processo de separação sólido-


líquido baseada na ação da gravidade imposta em uma determinada suspensão com
fases de concentrações distintas, com o objetivo de obter um fluido limpo e um lodo
com a máxima quantidade de sólidos. Geralmente ocorrem em tanques cilíndricos
denominados de sedimentadores. Segundo Cremasco (2014), os sedimentadores seguem
a seguinte classificação: espessadores, cujo produto de interesse é a fase particulada e
produzem espessados com alta concentração de partículas, e os clarificadores cujo
produto de interesse é o líquido e o espessado possui baixas concentrações de partículas.

Além de sua aplicação tecnológica, o mecanismo de sedimentação pode ser


analisado e compreendido de forma simples e prática por meio do teste de proveta, que
consiste no acompanhamento ao longo do tempo do deslocamento axial da interface
superior da suspensão.

Segundo Foust et al. (1982), assim que o processo de sedimentação se inicia,


todas as partículas sendimentam e assume-se, por hipótese, que elas se aproximam de
suas respectivas velocidades terminais. Dessa forma, zonas de concentrações distintas
podem ser observadas, conforme mostra a Figura 1 abaixo:

1
Figura 1 - Sedimentação em proveta

Observa-se inicialmente uma única fase, representada pela zona B, caracterizada


por conter uma concentração uniforme ao longo da altura da proveta, bem como sua
distribuição. Com o passar do tempo surgem novas zonas, como mostra o caso (b), onde
a zona A representa o líquido clarificado isento de partículas sólidas, a zona D contendo
os sólidos mais pesados, que sedimentam imediatamente após o início do processo,
conhecido como região de compactação, e uma zona de transição ou zona C,
caracterizada por conter partículas de tamanho e concentração não uniforme que
sendimentam lentamente, originando uma região de sedimentação livre.

À medida que a sedimentação prossegue, as zonas B e C diminuem e as zonas A


e D aumentam até um ponto em que uma única interface prevalecerá entre o líquido
limpo e os sedimentos, denominado como ponto de sedimentação crítico. A partir deste
ponto, o processo continua com uma compressão lenta dos sólidos, expulsando o
restante de líquido compreendido entre as partículas para a zona clarificada.

O processo mencionado acima no qual as zonas variam em função do tempo,


consiste em um processo descontínuo ou em batelada. No entanto, existe também
sedimentação operando de forma contínua, onde as mesmas zonas estarão presentes,
porém em estado permanente, caracterizado por uma taxa de alimentação igual à
remoção do líquido clarificado e do lodo, sendo assim, as alturas das zonas
permanecerão constantes. A Figura 2 mostra um decantador operando de forma
contínua.

Figura 2 - Zonas de sedimentação em um sedimentador contínuo.

2
De acordo com Gomide (1980), um ensaio de decantação feito através do teste
de proveta fornece os dados necessários para traçar a curva de decantação, dessa forma,
pode-se dimensionar o equipamento. O projeto de um sedimentador baseia-se no
cálculo da área de decantação (S), obtida pelo quociente da vazão volumétrica da
suspensão alimentada (QA) pela velocidade de decantação (u), obtida
experimentalmente, de acordo com a Equação 1:
QA
S= (1)
u

A velocidade de sedimentação pode ser encontrada por meio da curva de


decantação que representa o gráfico da altura dos sólidos depositados versus tempo,
onde Zo é a altura inicial da suspensão e Zf é a altura final após um tempo θf, como
mostra a Equação 2:
Zo − Zf
u= (2)
θf

Para o dimensionamento de sedimentadores são utilizados alguns métodos que


auxiliam nos cálculos para a área do sedimentador, de acordo com as considerações
abordadas por cada um, sendo eles:

a) Coe e Clevenger
1 1
QA C A ( − )
C CE
S= (3)
u

b) Kynch

Esse método permite, por meio da curva de decantação, calcular diversos pares
de concentrações e velocidades, para então calcular a área do sedimentador, como segue
abaixo:
Zi −Z
u= (4)
θ

Zo Co
C= (5)
Zi

1 1
QA C A ( − )
C CE
S= (6)
u

Para o cálculo da área, pode-se utilizar a Equação 3.

c) Talmadge e Fitch
QA C A θ E
S= (7)
Z o Co

d) Roberts
1 1
QA C A ( − )
CC CE
S= u
(8)

3
Sendo:

S = área do decantador (m2)


QA = vazão volumétrica da suspensão alimentada no decantador (m3/h)
CA = concentração de sólidos na suspensão alimentada (massa de sólidos/m3 de
suspensão)
CE = concentração de espessado (massa de sólidos/m3 de suspensão)
CC = concentração do clarificado (massa de sólidos/m3 de suspensão)
C = concentração da suspensão na zona limite (massa de sólidos/m3 de suspensão)
u = velocidade de decantação na zona limite (m/h)
θ = tempo de sedimentação (h)
Para o cálculo da profundidade do sedimentador, considera-se o volume na
região de compressão, compreendido entre o clarificado e o lodo, dado pela Equação 9
abaixo:
QA C A ρs − ρ
V= (θE − θC ) ρ (9)
ρs susp − ρ

Considerando que:
ρs = massa específica do sólido (kg/m3)
ρ = massa específica do fluido (kg/m3)
ρsusp = massa específica da suspensão (kg/m3)
θE − θC = tempo de residência do sólido na região de compressão (h)

Assim, pode-se calcular a altura na região de compressão, dada por:


V
H= (10)
S

E para a altura total do sedimentador, temos:

HT = 1,5 + H (11)

2. CAMPANHA EXPERIMENTAL
2.1. Materiais utilizados
Os materiais utilizados no experimento foram: duas provetas de diferentes
dimensões, balão volumétrico contendo uma suspensão de carbonato de cálcio a 30 g/l,
bastões de vidro, tiras de papel, cronômetro e régua.

2.2. Procedimentos experimentais


Inicialmente, a suspensão de carbonato de cálcio contida no balão volumétrico
foi agitada até que apresentasse um aspecto uniforme. Em seguida, 450 ml da suspensão

4
foram transferidas para a primeira proveta. A suspensão foi novamente agitada e, então,
450 ml foram transferidos para a segunda proveta, enquanto o volume previamente
transferido para a primeira proveta era agitado com o auxílio de um bastão de vidro, a
fim de impedir que os processos de sedimentação se iniciassem em momentos
diferentes.
Após a transferência do segundo volume de suspensão, a agitação na primeira
proveta foi interrompida, e a sedimentação se iniciou em ambas as provetas. Com o
auxílio de um cronômetro, foram registradas as alturas da interface entre o líquido
clarificado e a zona de concentração uniforme em determinados instantes, em tiras de
papel coladas externamente a cada uma das provetas. Durante os 4 primeiros minutos, o
intervalo de tempo entre dois registros sucessivos da altura da interface foi de 20
segundos; durante os 6 minutos seguintes, o intervalo foi ampliado para 40 s;
posteriormente, o registro passou a ser realizado a cada minuto por 34 minutos; em
seguida, de 2 em 2 minutos por mais 8 minutos; e, então, de 4 em 4 minutos por mais 8
minutos. Dessa forma, o procedimento de registro periódico da altura da interface foi
realizado por 1 hora após o início da sedimentação. Finalmente, foi registrada também a
altura da interface no dia seguinte. Dessa forma, foram registrados, no total, 63 valores
da altura da interface em diferentes instantes; esses valores foram medidos com uma
régua, para que fossem construídas as curvas características de sedimentação.

3. Resultados e Discussão
Para cada uma das provetas, foi construída a curva característica de
sedimentação, que relaciona a altura da interface ao respectivo intervalo de tempo
decorrido desde o início da sedimentação. A Figura 3 ilustra a curva referente à proveta
1, enquanto a Figura 4 representa a curva referente à proveta 2

Proveta 1 - Variação da altura da interface no decorrer do


tempo
25
Altura da interface (cm)

20

15

10

0
0 1200 2400 3600 4800 6000 7200 8400 9600 10800 12000 13200 14400
Tempo (s)

Figura 3 - Curva característica de sedimentação da proveta 1

5
Proveta 2 - Variação da altura da interface no decorrer do tempo
25

20
Altura da interface (cm)

15

10

0
0 1200 2400 3600 4800 6000 7200 8400 9600 10800 12000 13200 14400
Tempo (s)

Figura 4 - Curva característica de sedimentação da proveta 2

Em seguida, a partir dos dados apresentados nos gráficos anteriores, o método de


Kynch foi utilizado para determinar a velocidade média de sedimentação e as dimensões
do sedimentador industrial.
Com o auxílio do software OriginPro 2015, foram determinadas as inclinações
das retas tangentes a cada curva de sedimentação, em cada um dos pontos
experimentais. A partir das inclinações dessas retas, foi possível determinar o valor de
𝑍𝑖 para cada um desses pontos, por meio da seguinte expressão:𝑍𝑖 = 𝑍 − 𝑓 ′ 𝜃, sendo 𝑍
o valor da altura da interface naquele ponto, 𝜃 o tempo decorrido e 𝑓 ′ o valor da
inclinação da reta tangente. Após o cálculo do valor de 𝑍𝑖 , os valores da velocidade
média de sedimentação 𝑢 e da concentração 𝐶 foram obtidos por meio das Equações 4 e
5 respectivamente, para cada valor da altura da interface em cada uma das provetas.
A partir dos valores de 𝑢 e 𝐶, a Equação 6 foi utilizada para o cálculo da área do
sedimentador industrial. A área se refere a determinados valores da vazão da
alimentação e da sua concentração de sólidos; portanto, foi necessário escolher valores
para essas duas grandezas. Foi utilizado o valor de 50 m³/s para a vazão e de 30 g/l para
a concentração da corrente de alimentação. A partir da identificação do maior valor
calculado para a área de sedimentação necessária em cada uma das curvas de
sedimentação, foi possível verificar qual era o ponto crítico para cada uma delas. Dessa
forma, a área do sedimentador industrial e a velocidade média de sedimentação foram
tomadas a partir do ponto crítico de cada um dos ensaios de sedimentação.
Para o ensaio 1, os valores obtidos de 𝜃𝑐 , 𝑢𝑐 e 𝐶𝑐 (tempo decorrido, velocidade
média de sedimentação e concentração, respectivamente, para o ponto crítico) e da área
transversal necessária para o sedimentador industrial foram:
𝜃𝑐 = 2520 s
𝑢𝑐 ≈ 0,0025 cm/s
𝐶𝑐 ≈ 54,67 g/l
A ≈ 125,94 m²

6
Para o ensaio 2, os valores calculados foram:
𝜃𝑐 = 1860 s
𝑢𝑐 ≈ 0,00292 cm/s
𝐶𝑐 ≈ 50,62 g/l
A ≈ 116,45 m²
Em seguida, foram calculadas as alturas dos sedimentadores industriais, a partir
da Equação 11. O valor utilizado para a área, em cada caso, foi o valor obtido na etapa
anterior para o ponto crítico de cada uma das curvas. Os valores utilizados para as
densidades do líquido (água) e do sólido (carbonato de cálcio) foram:
Carbonato de cálcio: 𝜌 = 2,71 𝑔/𝑐𝑚³
Água: 𝜌′ = 1,0 g/cm³
As densidades médias das suspensões foram calculadas, em cada caso, a partir
da média ponderada das densidades do sólido e do líquido de acordo com as suas
respectivas frações volumétricas no lodo espessado. Dessa forma, foram obtidos os
seguintes resultados:
𝜌𝑚1 ≈ 1,058783 𝑔/𝑐𝑚³
𝜌𝑚2 ≈ 1,054408 𝑔/𝑐𝑚³
Os valores de 𝜃𝑐 , em cada curva, correspondem ao tempo decorrido até o ponto
crítico. O valor de 𝜃𝑒 para cada um dos ensaios, por sua vez, corresponde ao valor do
tempo decorrido até que a interseção entre a reta tangente que passa pelo ponto crítico e
a reta horizontal que passa pelo valor da altura do espessado obtido no final do
experimento. Os valores obtidos para 𝜃𝑒 foram:
𝜃𝑒1 ≈ 3500 𝑠
𝜃𝑒2 ≈ 3367 𝑠
A partir da Equação 11 e dos valores obtidos nas etapas anteriores, a altura de
cada sedimentador industrial foi calculada. Novamente, foram utilizados os valores de
50 m³/s e de 30 g/l para a vazão e a concentração de sólidos da corrente de alimentação,
respectivamente. Para o primeiro ensaio, o valor obtido foi de aproximadamente 1,535
m; no segundo ensaio, o valor obtido foi de aproximadamente 1,563 m.
𝐻1 ≈ 1,535 𝑚
𝐻2 ≈ 1,563 𝑚
Os desvios entre os valores obtidos para a velocidade média de sedimentação e
as dimensões do sedimentador projetado a partir de cada ensaio cada ensaio se devem às
diferenças que as provetas utilizadas apresentam quanto ao formato e,
consequentemente, às suas respectivas áreas transversais. Na proveta 2, o mesmo
volume de suspensão atingiu uma altura menor, em comparação com a proveta 1. Dessa
forma, não se trata de um procedimento realizado em duplicata; os resultados obtidos
em cada um dos ensaios devem ser avaliados separadamente. O desvio médio entre as
alturas das interfaces em cada proveta, ao longo do experimento, foi de
aproximadamente 0,458 cm.

7
4. Conclusão
A partir dos procedimentos experimentais realizados e dos resultados obtidos a
partir da análise dos dados coletados, verifica-se que o método de Kynch pode ser
utilizado para determinar as dimensões necessárias de um sedimentador a partir de um
único ensaio de proveta, de acordo com os valores da vazão e da concentração de
sólidos na corrente de alimentação. Verificou-se que houve desvios significativos entre
os valores obtidos em cada ensaio devido à diferença entre os formatos das provetas
utilizadas; portanto, não se trata de um procedimento realizado em duplicata.
Outros métodos, como o de Talmadge-Fitch, permitiram a obtenção de
resultados mais exatos; entretanto, a partir dos dados experimentais coletados, não foi
possível identificar com clareza o ponto crítico por meio de uma curva de Roberts, o
que inviabilizou a utilização desse método.
A realização do procedimento em duplicata, com a utilização de provetas de
mesmas dimensões, permitiria a construção de uma curva de sedimentação de melhor
qualidade e a identificação de eventuais outliers entre os dados registrados. Além disso,
a coleta de maior número de dados experimentais (por mais tempo após o início da
sedimentação) também constitui uma possibilidade de aprimoramento dos
procedimentos experimentais, pois houve variação significativa da altura da interface
por mais de 1 hora. Dessa forma, seria possível construir a curva característica de
sedimentação de forma mais exata.

5. Referências
CREMASCO, M. A. Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos.
2ª edição. São Paulo: Blucher, 2014.
FOUST, A. S.; ANDERSEN, L. B.; CLUMP, C. W.; MAUS, L.; WENZEL, L. A.
Princípios das operações unitárias. 2ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 1982.
GOMIDE, R. Operações unitárias, v. 3: separações mecânicas. São Paulo: Edição do
autor, 1980.

Você também pode gostar