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A INFLUÊNCIA DO CAVACO NO PROCESSO DE USINAGEM COM

FERRAMENTAS DE CORTE EM TORNO CNC

Vagner Gonçalves de Oliveira1

RESUMO

O presente artigo tem o objetivo de demonstrar a importância do tipo de cavaco


formado nos processos de usinagens com ferramentas de corte em torno CNC,
tratando-o como um meio de comunicação entre o operador e a ferramenta, onde a
forma do cavaco resultante torna-se um indicador visual, podendo a partir do cavaco,
melhorar e adequar a usinagem quanto aos aspectos de segurança, economia e
produtividade.

Palavras-chaves: usinagem, ferramenta, cavaco, produtividade, segurança.

ABSTRAT

The present article has the objective of demonstrating the importance of the shavings
type formed in the usinagens processes with cut tools in lathe CNC, treating him as a
middle of communication between the operator and the tool, where the form of the
resulting shavings becomes a visual indicator, being able to starting from the
shavings, to get better and to adapt the usinagem as for safety's aspects, economy
and productivity.

keywords: usinagem, tool, shavings, productivity, safety.

1
Acadêmico do curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Tecnologia FTEC de Caxias do Sul e
profissional na área de usinagem em Moldes e Matrizes. Endereço eletrônico: Vaggner_oliveira@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO

Há cerca de seis mil anos a.C., o homem já era capaz de produzir


ferramentas com gume de corte afiado a partir de lascas de pedra (figura 1), desde
então, constantes evoluções ocorreram como a descoberta dos metais por volta de
700 anos a.C, mas somente no inicio do século XX o americano F.W. Taylor
descobriu enfim o aço rápido, fato que marcou o desenvolvimento tecnológico da
usinagem. A partir da descoberta do aço rápido, inúmeras pesquisas foram
realizadas com o objetivo de melhorar os processos de usinagem e aumentar a
produtividade nas indústrias. Em1926, na Alemanha descobriu-se a liga com
carboneto de tungstênio de até 10% de ferro, cobalto ou níquel, registrado por Karl
Schroter, iniciando com isso a era do metal duro, que é utilizado até hoje nas
indústrias.

Figura 1
2 USINAGEM

A usinagem é um processo mecânico pelo qual se dá forma à peça ou


matéria-prima. Um subgrupo da norma DIN8580 sob o termo ‘’separar’’, compreende
o processo de fabricação com remoção de cavaco, que se caracteriza pela aplicação
de ferramentas geometricamente definidas.

Como operações de usinagem entendemos aquelas que, ao conferir à peça


a forma, ou as dimensões ou o acabamento, ou ainda uma combinação
qualquer destes três bens, produzem cavaco. Definimos cavaco como a
porção de material da peça, retirada pela ferramenta, caracterizando-se por
apresentar forma geométrica irregular (Diovani Lencina, 2005, p.2).

Em torno CNC, o cavaco está presente ao longo de todo processo na


fabricação da peça, a formação do cavaco, quando inadequado, pode afetar o
sistema produtivo em uma linha de produção. Quando não houver a preocupação
em aplicar o processo corretamente, do ponto de vista econômico e também quanto
a segurança do operador da máquina-ferramenta.

O cavaco é formado através do contato entre a peça e a ferramenta por


meio de um cisalhamento2 e este se dá na região que chamamos de plano de
cisalhamento (zona primária de cisalhamento). Nesta região há um ângulo entre o
plano de cisalhamento e a direção de corte que é denominado como ângulo de
cisalhamento (figura2). O ângulo de cisalhamento está inversamente proporcional à
deformação do cavaco e diretamente proporcional aos esforços de corte,
principalmente em materiais dúcteis3.

2
Mec. Deformação ou fratura sofrida por um corpo quando submetido à ação de forças cortantes que atuam em
direções paralelas e em sentidos opostos sobre pontos adjacentes do corpo
3
Que se pode distender ou comprimir sem provocar rompimento (metal dúctil); FLEXÍVEL.
Figura 2

2.1 Condições de usinagem

Em condições normais de usinagem com ferramentas de metal duro ou


aço rápido, a formação do cavaco segue as seguintes etapas:

1- Uma pequena porção do material é recalcada contra a superfície da


ferramenta, ocasionando a deformação plástica e elástica.
2- Essa deformação plástica aumenta e o material desliza sobre a
superfície da ferramenta.
3- Continuando a penetração da ferramenta, há uma ruptura total ou
parcial do cavaco no plano de cisalhamento.
4- O material rompido escorrega sobre a superfície de saída da
ferramenta, enquanto isso, uma nova porção de material está se formando e
cisalhando, repetindo as etapas anteriores (Figura 3)
Figura 3

2.2 Formas do cavaco

Quando observamos os cavacos resultantes de uma usinagem em


torno CNC, verificamos que os mesmos podem apresentar diversas formas, que
dependem do avanço de corte, da profundidade de corte, do material que está sendo
usinado e da ferramenta de corte. Quanto à forma de um cavaco podemos classificá-
los em: fitas, helicoidais, espirais e em lascas ou pedaços (figura 4).

Os cavacos em lascas ou pedaços possuem esse formato por


irregularidades no material, ângulo efetivo de corte pequeno, baixa velocidade de
corte e elevada profundidade de penetração no corte e é preferido quando houver
pouco espaço disponível.
Nos cavacos helicoidais, a remoção do material é elevada e o mesmo
deixa rapidamente o espaço entre a ferramenta e a peça porque ocorrem e altas
velocidades de corte, tornando-se o mais apropriado tipo de cavaco.

Os espirais, na maioria dos casos, ocorrem quando a ferramenta


possui um quebra cavaco e esses podem ser aplicados em diversas operações com
ferramentas de insertos cambiáveis que tornam o processo mais eficiente no domínio
do cavaco.

A formação do cavaco em fita é a mais problemática de todas, pois o


mesmo possui uma aresta de corte muito afiada que pode comprometer a
integridade física do operador e em alguns casos o cavaco pode enrolar-se na peça,
na ferramenta ou na placa do torno, dificultando o processo produtivo causando
inúmeras paradas de produção, ou seja, a usinagem se torna mais rápida que a
retirada do cavaco enrolado e em alguns casos, este cavaco pode provocar a quebra
da ferramenta e é também o tipo que ocupa muito espaço de armazenamento,
tornando-o difícil de ser transportado e descartado

Classificação dos cavacos

Figura 4
2.3 A quebra do cavaco

Um fator importante em todo processo de usinagem é a seleção da


ferramenta que será utilizada na usinagem, podendo ser uma ferramenta comum,
sem quebra-cavaco ou uma ferramenta especial, com quebra-cavaco e insertos
postiços, que facilitam a vida do operador e beneficiam todo o conjunto produtivo,
tornando prática e rápida a substituição da ferramenta no caso de quebra ou
desgaste da aresta de corte. A curvatura do cavaco pode ser controlada para forçar
a sua quebra, evitando a formação de cavacos longos em forma de fita.

A melhor maneira de promover a curvatura vertical é a colocação de um


obstáculo no caminho do fluxo do cavaco, o qual é chamado de quebra-
cavaco. O aumento da deformação do material, sendo usinado via
diminuição dos ângulos de saída e/ou inclinação da ferramenta, e do atrito
cavaco-ferramenta também promovem a curvatura vertical (Anselmo
Eduardo Diniz, 2008, p.46).

A utilização do obstáculo que promove a quebra do cavaco é muito


utilizada em torno CNC4, para promover um aumento na vida útil da ferramenta e
evitar a formação do cavaco em fita como foi citado acima. Concordo plenamente
com a citação do Professor e Doutor Anselmo, por ser um método utilizado em
muitas empresas em que tive oportunidade de ser um colaborador no setor de
usinagem, no entanto, é importante ressaltar que essa prática é ótima quando a
máquina possui carenagens para bloquear a passagem do cavaco durante a
usinagem.
Quando trabalhamos com elevadas velocidades de corte, devemos ter
também a preocupação quanto ao tipo de quebra–cavaco, para que o mesmo tenha
uma direção contrária ao operador em máquinas que não possuem carenagens, pois
os mesmos se desprendem com elevadas velocidades e temperaturas que podem
ferir o profissional atuante no momento da usinagem.

4
Mec. Torno CNC- máquina computadorizada com magazine de ferramentas no qual se podem acoplar
algumas ferramentas diferentes, o que permite mudar rapidamente o tipo de trabalho e executá-los em série sem
necessidade de retirar e montar ferramentas.
O fator mais importante na determinação da capacidade de quebra de um
cavaco é o material da peça. Se frágil e heterogêneo o cavaco tende a ser
mais controlável, podendo inclusive sair descontínuo e, portanto, na forma
de lascas ou pedaços, como no caso dos ferros fundidos cinzentos. Se dútil
e homogêneo o problema se apresenta mais seriamente quanto maior
essas características. Nestas situações os cavacos tendem a sair contínuos
e muitas vezes na forma de fita ou helicoidal longo. O único remédio é
quebra-cavaco neles!!! ( Álisson Rocha Machado, 2007, p.12).

É por esses motivos que os fabricantes de ferramentas projetam e


desenvolvem muitas pesquisas antes de fabricarem insertos com quebra-cavacos,
de modo que tais ferramentas passam por diversos ensaios tecnológicos antes da
distribuição efetiva no mercado consumidor, pois há um raciocínio lógico baseado
em fatores teóricos e práticos na elaboração e desenvolvimento de um quebra-
cavaco moldado ou postiço.

2.4 A influência dos parâmetros de usinagem

A velocidade de corte, a profundidade de corte e a geometria da


ferramenta, influenciam diretamente na capacidade de quebra do cavaco.
Em baixa velocidade de corte, os cavacos tendem a quebrar com mais
facilidade, mas o que ocorre normalmente é o oposto, para que haja maior
produtividade, trabalhamos com grande velocidade corte, pois o objetivo é produzir
rapidamente as peças de um lote, para obter lucro no fim da produção, por isso
aumentamos também a profundidade de corte, em conseqüência, aumentam as
taxas de remoção de material, e novamente buscamos a utilização de insertos com
quebra-cavaco eficiente.

A mudança das condições de usinagem, com o fim específico de se obter


uma forma adequada do cavaco, deve ser o tanto quanto possível evitada,
pois estas são fixadas levando-se em consideração requisitos técnicos e
econômicos do processo (Anselmo Eduardo Diniz, 2008, p.48).
A geometria dos insertos intercambiáveis com quebra-cavaco moldado
na superfície de saída possuem aplicações específicas, na qual utilizamos insertos
para processos de desbaste que não são totalmente eficientes em processos de
acabamento, por possuírem formas distintas em sua geometria como podemos
observar no gráfico abaixo.

Figura 5

AP= profundidade de corte em milímetros


F= avanço em milímetros por rotação

No entanto, existe a teoria da velocidade econômica, desenvolvida por


Taylor que sugere a identificação do intervalo de máxima eficiência para a adoção de
uma velocidade de corte, ou seja, é possível adequar o fluxo de produção entre a
máxima economia ou a máxima produtividade de usinagem em função do que for
mais conveniente em dado momento. A teoria de Taylor é válida quando se observa
a quantidade de peças existentes em um lote a ser fabricado, ou seja, quando o lote
de peças é extremamente numeroso, o custo em ferramental será elevado, portanto
deve-se operar entre a velocidade mínima e a máxima, porque velocidades elevadas
implicam em maiores desgastes na ferramenta, contudo quanto mais próximo do
zero for o lote de peças, torna-se relativamente menos importante as resistências
mecânicas da ferramenta e nesses casos podemos usar a máxima velocidade de
corte.
Ao se trabalhar com lotes de poucas peças, e não se pensando em tirar
máximo proveito de uma ferramenta em serviços futuros, uma alternativa é
adotar a máxima velocidade permitida pela potência da maquina,
obviamente levando-se em conta o acabamento desejado na peça e os
limites da pastilha em termos de resistência mecânica, considerando
também uma formação aceitável dos cavacos. (Francisco Marcondes,
2009,p.36)

2.5 Energia térmica

A energia mecânica decorrente da formação do cavaco transforma-se


em calor, ou seja, energia térmica e a fonte dessa energia concentram-se na
deformação do material no plano de cisalhamento através do atrito entre a peça e a
ferramenta. O calor dissipado através do cavaco, da peça e da ferramenta, ocasiona
o dilatamento térmico da peça e o desgaste da ferramenta, fatores que podem
comprometer a precisão em peças com tolerâncias apertadas. Quanto à energia
térmica produzida, pode-se diminuí-la com a aplicação de fluidos refrigerantes ou
fluidos de corte, no entanto vamos conviver com essa energia e nunca eliminá-la por
completo.

Por outro lado, para aumentar a produtividade da ferramenta deve-se


aumentar a velocidade, o avanço e a profundidade de corte. Todos estes
três fatores aumentam a temperatura. Portanto, o tecnólogo deve investigar
todos os meios para diminuir a temperatura, alem de empregar materiais de
corte resistentes a altas temperaturas e ao desgaste. O meio mais barato
para a diminuição da temperatura é o emprego de refrigerante e lubrificante
de corte (Dino Ferraresi,1970, p.143).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em todos os processos de usinagem com ferramentas de corte,


seremos contemplados com a presença dos cavacos em função da remoção de
material. A partir desse fato, podemos, de maneira visual e palpável, identificar a
conformidade do processo, pois o cavaco pode ser considerado um meio de
comunicação entre a máquina-ferramenta e o operador ou técnico responsável pelo
processo de usinagem, ou seja, em um lote de produção com número elevado de
peças ou não, pode-se determinar logo no inicio da fabricação se as condições de
usinagem estão adequadas a partir do cavaco resultante e também com base na
verificação de um simples cavaco, pode-se também no meio da cadeia produtiva
identificar a hora de fazer a troca da aresta cortante de uma ferramenta quando a
mesma for cambiável.
Nas usinagens feitas em torno CNC, o cavaco é sem dúvida um aliado
da produtividade, qualidade, segurança e desempenho. Porque possui uma relação
direta entre a peça e a ferramenta, de modo que a escolha adequada da ferramenta,
a velocidade de corte, a profundidade de corte e a escolha do fluido de corte, aliados
ao cavaco, podem reduzir drasticamente o tempo de usinagem, o custo de produção
e aumentar consideravelmente a lucratividade.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ferraresi, Dino. Fundamentos da Usinagem dos Metais. São Paulo: Editora Edgar
Blucher Ltda, 1970, 12ª reimpressão- 2006.

Stemmer, Caspar Erich. Ferramentas de Corte Ι. Florianópolis: Editora da UFSC,


2007, 7ª edição.

Diniz, Anselmo Eduardo. Marcondes, Francisco Carlos. Coppini, Nivaldo Lemos.


Tecnologia da Usinagem dos Materiais. São Paulo: Artliber Editora, 2008, 6ª
edição.

Machado, Álisson Rocha. O Mundo da Usinagem: Gestão: Domar Cavacos! Tarefa


Difícil. páginas 6 à 16. São Paulo: publicação mensal da Divisão Coromant da
Sandvik do Brasil S.A. Edição 10/2007.

Marcondes, Francisco. O Mundo da Usinagem: Tendências e Oportunidades:


Velocidade de Corte Adequada. páginas 34 à 36. São Paulo: publicação mensal da
Divisão Coromant da Sandvik do Brasil S.A. Edição 04/2009.

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