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COMEÇANDO DO ZERO 2016

Direito Tributário – Aula 01


Josiane Minardi

1. CONCEITO DE TRIBUTO Ninguém poderá entregar ao fisco, como forma de


pagamento, algo que não seja dinheiro, salvo o caso
Não há um conceito de tributo expresso na Constitui- do art.156, XI do CTN, que trata sobre a dação de
ção Federal, apenas um conceito implícito. O con- bem imóvel, quando houver expressa previsão em
ceito expresso está no artigo 3º do Código Tributário lei. Observa-se que mesmo nesse caso, por se tratar
Nacional – CTN: de uma exceção, há necessariamente a previsão em
lei para autorizar o pagamento do tributo com a en-
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária com- trega de bem imóvel.
pulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, c) Que não constitua sanção de ato ilícito: Nin-
instituída em lei e cobrada mediante atividade ad- guém paga o tributo por ter desrespeitado uma lei,
ministrativa plenamente vinculada. (grifo nosso). tributo não é castigo. Ao contrário paga-se o tributo
por incorrer em uma situação prevista em lei como
a) Tributo é toda prestação pecuniária compulsó- hipótese de incidência tributária, ou seja, o legislador
ria: Quer dizer o comportamento obrigatório de uma elegeu uma situação que uma vez praticada pelo su-
prestação em dinheiro, independem da vontade do jeito, no mundo concreto, estará sujeita à incidência
sujeito passivo, que deve efetivá-la, ainda que contra da norma tributária e por essa razão irá nascer a obri-
seu interesse. gação de pagar um tributo.
O Código Tributário Nacional ao se referir a palavra
“toda” prestação, estabelece que qualquer presta- Por exemplo: A Lei prevê que a hipótese de incidên-
ção que se enquadre em todos os requisitos do art. cia tributária do Imposto sobre Renda ou proventos
3º do CTN será tributo, independentemente da deno- de qualquer natureza - IR é “auferir renda”, o sujeito
minação, conforme determina o art. 4º do CTN: terá que pagar IR quando auferir renda, porque pra-
ticou o fato previsto em lei.
Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é de-
terminada pelo fato gerador da respectiva obrigação, Assim sendo, pode-se afirmar que uma lei descreve
sendo irrelevantes para qualificá-la: hipoteticamente um estado de fato e dispõe que a re-
alização concreta, no mundo fenomênico, do que foi
I - a denominação e demais características for- descrito, determina o nascimento de uma obrigação
mais adotadas pela lei; de pagar um tributo.1
II - a destinação legal do produto da sua arrecadação.
(grifos nossos). As hipóteses de incidência da norma tributária são
sempre constituídas por fatos lícitos, que uma vez
É importante frisar nesse momento, que ainda que o ocorridos no mundo jurídico nasce a obrigação de pa-
art. 4º do CTN no inciso II menciona que seria irrele- gar o tributo.
vante a destinação legal do produto para ser tributo, Contudo, verifica-se que embora a hipótese de inci-
temos que a partir da Constituição Federal de 1988, dência tributária não possa ser algo ilícito, os frutos
para as contribuições e empréstimo compulsório é re- de uma atividade ilícita podem ser objeto de tributa-
levante sim a destinação, pois nessas exações a de- ção.
nominação e a destinação são destacadas pelo pró-
prio legislador constituinte, não tendo relevância para Como vimos, o legislador não pode eleger uma situ-
a identificação do fato gerador do tributo, como ação ilícita, mas ao eleger uma situação lícita como
ocorre com os impostos, taxas e contribuições de hipótese de incidência, essa hipótese lícita pode ter
melhoria. sido originada de uma atividade ilícita, o que não irá
importar para fins de tributação.
b) Em moeda ou cujo valor nela se possa expri-
mir: O legislador infraconstitucional incorreu em re- Veja no caso do Imposto sobre rendas ou proventos
dundância ao repetir o caráter pecuniário da presta- de qualquer natureza – IR, a hipótese de incidência,
ção, não havia a necessidade de insistir com a locu- também chamada pelo legislador de “fato gerador” é
ção “em moeda” “ou cujo valor nela possa se expri- “auferir renda”, assim o sujeito que auferir renda terá
mir”, pois ao tratar de obrigação pecuniária, é porque a obrigação de pagar IR, e não importa para fins de
será paga em dinheiro.

1 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tri-


butária. 6ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 53.

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tributação como essa renda foi auferida, o que im- Pelo princípio da “Pecunia non olet” extrai-se o con-
porta é que o sujeito incorreu na previsão da norma teúdo axiológico do valor de justiça, direcionando a
tributária, qual seja, auferir renda. exigibilidade da exação sobre quem possui capaci-
Assim, se o sujeito auferiu renda de atividades ilíci- dade contributiva, ainda que o rendimento provenha
tas, para o direito tributário apenas importa que o su- de atividade ilícita.
jeito praticou o fato previsto na norma tributária, qual d) Instituída em lei – o tributo só pode ser instituído
seja, auferiu renda e por essa razão terá que pagar o por meio de lei, de acordo com o art. 150, I da Cons-
IR. tituição Federal e art. 97 do CTN, e por meio de ins-
trumento normativo com força de lei, ou seja, por
O artigo 118, I do Código Tributário Nacional – CTN meio de Medida Provisória, conforme prevê o art.
prevê que a definição do fato gerador será interpre- 62 da CF.
tada abstraindo-se da validade dos atos praticados e) cobrada mediante atividade administrativa ple-
pelo sujeito. namente vinculada – O tributo será cobrado pelo
Poder Público que não terá margens para escolhas
Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpre- discricionárias. O fiscal não poderá cobrar o tributo
tada abstraindo-se: de acordo com a conveniência e oportunidade, irá
exigir a obrigação tributária do contribuinte exata-
I - da validade jurídica dos atos efetivamente pratica- mente como está disposto na legislação.
dos pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros,
bem como da natureza do seu objeto ou dos seus 1.2 – ESPÉCIES DE TRIBUTOS
efeitos;
II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. Muito se discute quantas espécies tributárias subsis-
tem no nosso ordenamento jurídico, devido a possi-
No caso do sujeito que aufere renda pela venda de bilidade de diversas formas para classificá-los.
entorpecentes, a ilicitude é irrelevante para fins tribu- Alfredo Augusto Becker e Pontes de Miranda, por
tários, o que importa é que foi praticado o fato gera- exemplo defendem a teoria bipartida das espécies tri-
dor, “auferir renda” e por essa razão o sujeito deverá butárias que seria apenas impostos e taxas.
pagar IR. Há uma classificação que distingue com relação a
O STF tem o entendimento majoritário de que prati- vinculação e não vinculação do tributo.
cado o fato gerador previsto em lei, deve ser pago o
imposto, independentemente da atividade ser lícita Vinculado seria o tributo relacionado a uma atividade
ou ilícita, conforme podemos observar da ementa do estatal pessoal para o contribuinte, como exemplo
HC 77.530/RS da relatoria do Ministro Sepúlveda das taxas e contribuição de melhoria. Quando o su-
Pertence: jeito ao pagar o tributo ele já sabe exatamente qual
será a contraprestação estatal, no caso da contribui-
Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades ção de melhoria, será pago quando ocorrer uma obra
comerciais organizadas, com lucros vultosos subtra- pública cuja consequência seja volorização imobiliá-
ídos à contabilização regular das empresas e subtra- ria para o contribuinte. Já no caso das taxas serão
ídos à declaração de rendimentos: caracterização, pagas pela utilização efetiva ou potencial de um ser-
em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a viço público específico e divisível ou pelo exercício
competência da Justiça Federal e atrair pela cone- regular do Poder de Polícia.
xão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da ori-
gem ilícita, mesmo quando criminal, da renda subtra- A não-vinculação não está relacionada a uma ativi-
ída à tributação. dade estatal específica, mas simplesmente a arreca-
A exoneração tributária dos resultados econômicos dação de dinheiro aos cofres públicos para suprir as
de fato criminoso - antes de ser corolário do princípio necessidades públicas.
da moralidade – constituiu violação do princípio da Quando o contribuinte paga o tributo ele paga sem
isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética. saber qual será a contraprestação estatal, ocorrerá
uma contraprestação estatal, mas não se sabe qual
Os Tribunais Superiores aplicam o Princípio “Pecu- será, exemplo: Impostos.
nia non olet”, segundo o qual o tributo não tem
cheiro, não importa de onde vem, nesse caso, a Para que ocorra a obrigação de pagar os impostos,
renda auferida, o que importa é que ocorreu o fato basta que ocorra o fato gerador, no caso do IPVA,
gerador do IR, “auferir renda”, e por essa razão, apli- haverá o dever de pagá-lo para o sujeito proprietário
cando-se o art. 118, I do CTN deve-se haver a tribu- de veículo automotor
tação.

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Geraldo Ataliba estabeleceu a diferença entre taxa e 1) Impostos


contribuição de melhoria, quando se trata ainda de 2) Taxas
tributos vinculados. Para o Autor a taxa seria vincu- 3) Contribuição de Melhoria
lada direta e imediata, teve a atuação do Estado
nasce a obrigação tributárias. No caso das contribui- O art. 148 da CF faz menção ao Empréstimo Com-
ções de melhoria teria uma vinculação indireta, pulsório e o art. 149 da CF refere-se às Contribui-
mediata, pois não basta a simples construção de ções.
uma obra pública para se ter a imediata cobrança do O art. 149 divide as contribuições em três modalida-
tributo, deve ter ainda a valorização imobiliária, por des, que serão estudadas em outro capítulo:
isso nesse caso a vinculação seria mediata e indireta
para as contribuições de melhoria. a) Contribuição Social
b) Contribuição de Intervenção no Domínio Eco-
Contribuição de INSS, seria segundo a classificação nômico (CIDE)
de Roque Antonio Carrazza uma taxa. c) Contribuição de interesse de categoria profis-
A contribuição paga pelo Empregador estaria mais sional ou econômica
próxima de imposto, segundo a classificação de Ro-
que Antonio Carrazza. E o art. 149-A da CF traz a Contribuição para cus-
A classificação pode ser intrínseca, estrutural quando teio do serviço de iluminação pública – COSIP.
se faz a verificação de dados interiores ao objeto.
A classificação pode ser extrínseca, funcional Ainda que o Código Tributário Nacional adote a teoria
quando se faz a verificação de dados exteriores ao tripartida, por classificar as espécies tributárias em
objeto. apenas três, (impostos, taxas, contribuição de melho-
ria), a maioria dos doutrinadores, dentre eles, Aliomar
A maior tendência de classificação é a intrínseca, Balleiro, e o Supremo Tribunal Federal adotam a te-
pois tem a menor chance de ambiguidade. Exemplo oria pentapartida, que seriam 5 espécies tributárias:
de classificação a Água é substância líquida para ma-
tar a sede, nesse caso como é uma classificação ex- a) Impostos
trínseca pode haver ambiguidade, pois posso pensar b) taxas
em outra substância para matar a sede que não seja c) contribuição de melhoria
a água, agora quando falamos a Água é uma subs- d) contribuição
tância líquida composta por H20 aqui por ser uma e) empréstimo compulsório
classificação intríseca não há como existir ambigui-
dade. Nesse sentido, transcreve-se trecho do voto do Mi-
nistro do STF Moreira Alves, em 29-06-1992, no RE
Por essa razão a classificação que toma por tributo nº 146.733-9/SP:
não vinculados e vinculados, trata-se de uma classi-
ficação intrínseca e por isso não há chances de am- (…) De fato, a par das três modalidades de tributos
biguidade. Agora os doutrinadores que classificam (os impostos, as taxas e as contribuições de melho-
em cinco espécies, misturam as classificações, pois ria), a que se refere o art. 145, para declarar que são
os impostos, taxas e contribuições de melhoria (tribu- competentes para instituí-los a União, os Estados, o
tos vinculados direta ou indiretamente e tributos não Distrito Federal e os Município, os arts. 148 e 149
vinculados) estariam classificados pelo método in- aludem a duas outras modalidades tributárias, para
trínseco, enquanto quando falam das contribuições e cuja instituição só a União é competente: o emprés-
empréstimos compulsórios já estariam na classifica- timo compulsório e as contribuições sociais, inclusive
ção extrínseca e isso é inadmissível, misturar dois as de intervenção no domínio econômico e de inte-
métodos de classificações. (observação de Eurico de resse das categorias profissionais ou econômicas.
Santi). (grifos nossos)

O art. 5º do CTN prevê três espécies tributárias: Visto o conceito de tributo e as espécies tributárias
passamos para análise de como os tributos irão in-
1) Impostos gressar em nosso ordenamento jurídico.
2) Taxas
3) Contribuição de Melhoria 1.3 COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

A Constituição Federal no art. 145 prevê três es- Competência Tributária é a outorga de poder conce-
pécies tributárias: dido pela Constituição Federal aos Entes Federativos

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para que eles possam criar, instituir e majorar tribu- § 2º - A competência da União para legislar sobre
tos. normas gerais não exclui a competência suplemen-
Somente os entes federativos apresentam compe- tar dos Estados.
tência tributária, pois os tributos só podem ser insti- § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais,
tuídos por meio de lei, e apenas os entes federativos os Estados exercerão a competência legislativa
apresentam Poder Legislativo. plena, para atender a suas peculiaridades.
Não podemos confundir competência tributária com § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas
competência para legislar em direito tributário. gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que
A competência para legislar sobre direito tributário é lhe for contrário.
a outorga de poder concedido pela Constituição Fe-
deral para editar leis que versem sobre tributos e re- O art. 30 da CF estabelece a competência dos Muni-
lações jurídicas a eles pertinentes. É uma competên- cípios para legislarem sobre assuntos de interesse
cia concedida aos entes federativos para traçarem local e suplementar legislação federal, estadual no
regras sobre o exercício do poder de tributar. que lhe couber.

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;


II - suplementar a legislação federal e a estadual
no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua com-
petência, bem como aplicar suas rendas, sem pre-
juízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar
Todos os Entes Federativos apresentam competên- balancetes nos prazos fixados em lei;
cia para legislar sobre direito tributário.
A competência Tributária como vimos é o poder
O art. 24 da Constituição Federal prevê competência concedido pela Constituição Federal aos Entes Fe-
concorrente entre a União, os Estados e Distrito Fe- derativos para que eles possam instituir, criar e ma-
deral para legislar sobre direito tributário. jorar tributos. A competência Tributária Apresenta 5
características importantes:
Compete à União a edição de normas gerais e aos
Estados e Distrito Federal poderá suplementar a le- a) Indelegabilidade:
gislação federal.
A Constituição não só prevê a competência tribu-
Mas se não existir norma federal, Estados e Distrito tária como também reparte, partilha esse poder entre
Federal apresentam competência plena para legislar as pessoas políticas que compõe a Federação, por-
sobre direito tributário. que essas precisam ter autonomia financeira, não
basta terem apenas autonomia administrativa, auto-
Se sobrevier a norma geral pela União, haverá sus- nomia política.
pensão da lei estadual no que lhe for contrária. A lei
federal não irá revogar a lei estadual porque não há A base do federalismo é a autonomia dos Entes, por
entre elas uma hierarquia. essa razão há a repartição do Poder de Tributar entre
os Entes Federativos. Quando a Constituição outorga
Diante da ausência de norma geral da União sobre o poder para os Entes Federativos, ela estabelece
IPVA, cada Estado exerceu a competência legislativa exatamente quais serão os tributos de competência
plena, com base no art. 24, § 3º da CF. de cada Ente e a competência tributária é indelegá-
vel, quer dizer, intransferível.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Dis-
trito Federal legislar concorrentemente sobre: O Ente Federativo não poderá transferir a sua com-
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econô- petência tributária para nenhum outro Ente. Assim,
mico e urbanístico se a Constituição outorgou poder para a União insti-
(...) tuir o Imposto sobre Produtos Industrializados(IPI)
§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a com- apenas ela poderá instituir esse imposto, mais nin-
petência da União limitar-se-á a estabelecer nor- guém!
mas gerais. Vejamos quais são os tributos de competência tribu-
tária de cada Ente Federativo:

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ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços,


atos ou decisões administrativas em matéria tributá-
ria, conferida por uma pessoa jurídica de direito
público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da
Constituição.

§ 1º A atribuição compreende as garantias e os privi-


légios processuais que competem à pessoa jurídica
de direito público que a conferir.
§ 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer
tempo, por ato unilateral da pessoa jurídica de direito
público que a tenha conferido.
§ 3º Não constitui delegação de competência o co-
metimento, a pessoas de direito privado, do encargo
ou da função de arrecadar tributos

Exemplo é o caso do Imposto Territorial Rural (ITR)


cuja competência tributária, ou seja, a competência
para criá-lo, institui-lo ou majorá-lo é da União, con-
forme estabelece o art. 153, VI da CF, que poderá,
no entanto, delegar a função de arrecadar e fiscali-
zar, ou seja, a capacidade ativa tributária aos Muni-
cípios, nos termos do art. 153, § 4º, III da CF.
Pela literalidade do art. 7º do CTN a capacidade ativa
tributária só pode ser delegada para uma pessoa ju-
rídica de direito público.

Para fixar, temos:

b) Facultatividade: Os Entes Federativos não estão


obrigados a instituir os tributos, cuja competência tri-
Obs: O Distrito Federal apresenta competência tribu- butária lhe foi atribuída pela Constituição Federal.
tária para instituir o IPTU, ITBI e ISS por força do dis- O art. 145 da CF determina que a União, Estados,
posto no art. 147 da CF que estabelece que os im- Distrito Federal e Municípios “poderão”, e não “deve-
postos dos Municípios serão do Distrito Federal. (Art. rão” instituir tributos. A partir dessa regra a doutrina
147. Competem à União, em Território Federal, os diz que a competência tributária no Brasil é facul-
impostos estaduais e, se o Território não for dividido tativa.
em Municípios, cumulativamente, os impostos muni- Exemplo: o Imposto sobre Grandes Fortunas – IGF,
cipais; ao Distrito Federal cabem os impostos mu- que compete à União a sua instituição, até hoje não
nicipais). foi criado e não há problema algum, porque a com-
petência tributária é facultativa!
Como vimos a competência tributária que consiste na Muitos indagam sobre a Lei de responsabilidade Fis-
criação, instituição e majoração de tributo é inde- cal, LC nº 101/2000 que estabelece em seu art. 11
legável. Contudo as funções administrativas de arre- que somente exerce uma boa gestão fiscal o Ente
cadar, fiscalizar tributos e executar leis que com- Federativo que instituir e cobrar todos os tributos.
preendem a capacidade ativa tributária essa sim
pode ser delegável. Art. 11. Constituem requisitos essenciais da res-
ponsabilidade na gestão fiscal a instituição, pre-
CTN - Art. 7º - A competência tributária é indele- visão e efetiva arrecadação de todos os tributos da
gável, salvo atribuição das funções de arrecadar competência constitucional do ente da Federação.

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Parágrafo único. É vedada a realização de transfe- O fato é que o Código Tributário Nacional é de 1966
rências voluntárias para o ente que não observe o e a nossa Constituição é de 1988, assim esse artigo
disposto no caput, no que se refere aos impostos. do CTN só foi recepcionado pelo nosso ordenamento
jurídico, ao considerar que será contribuinte do IPTU
Quanto a arrecadação não restam dúvidas dessa o possuidor ou aquele que detenha o domínio útil se
obrigatoriedade, mas a obrigatoriedade quanto à Ins- houver o animus domini.
tituição fere a Constituição Federal que não obriga Logo, o mero detentor da posse, como o locatário
aos Entes Federativos instituírem os tributos. não é contribuinte do IPTU, porque a lei não pode al-
Observa-se, ainda, que o parágrafo único do art. terar a competência tributária e a CF determina que
11 da LC nº 101/2000 prevê uma sanção para o Ente apenas o proprietário é contribuinte desse imposto.
Federativo que não instituir todos os impostos de sua A competência tributária não pode ser alterada por
competência. O dispositivo legal proíbe a realização meio de lei, mas Emenda Constitucional poderá al-
de transferências voluntárias àquele que não insti- terá-la.
tuir todos os impostos. Como exemplo temos a EC nº 19/02 que inseriu na
Constituição o art. 149-A e criou a Contribuição para
LC nº 101/200 - Art. 11 (...) custeio do serviço de iluminação pública (COSIP).
Parágrafo único. É vedada a realização de transfe-
rências voluntárias para o ente que não observe e) Irrenunciabilidade: A competência tributária é ir-
o disposto no caput, no que se refere aos impostos. renunciável, o Ente Federativo não pode jamais re-
nunciar sua competência tributária em favor de outro
O STF em Medida Cautelar ADI nº 2238 entendeu Ente, ele pode apenas deixar de exercê-la.
que o parágrafo único do art. 11 da LC nº 101/2000 Assim, o fato da União não ter criado ainda o IGF não
não viola a Constituição Federal porque a Lei trata de confere o direito dos Estados, por exemplo, instituí-
transferências voluntárias. rem esse imposto, porque a competência é Irrenun-
As transferências obrigatórias de impostos que estão ciável.
nos artigos 153, § 5º, 157, 158 e 159 da Constituição
Federal essas sim só poderão deixar de serem re- Para memorizar, a competência tributária é:
passadas no caso do art. 160 da CF, quando o Ente
Federativo não estiver aplicando o percentual exigido 1) Indelegável
na área da saúde, e também, no caso de débitos de 2) facultativa
um Ente, e suas Autarquias com outro Ente que irá 3) Incaducável
fazer o repasse. 4) Inalterável
O parágrafo único do art. 11 da LC nº 101/2000 proi- 5) Irrenunciável
biu apenas o repasse das transferências voluntárias
e não das obrigatórias, por isso não seria inconstitu- REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS
cional.
A Constituição Federal prevê algumas hipóteses de
c) Incaducabilidade: O direito do Ente Federativo transferência obrigatória da arrecadação dos impos-
instituir o tributo pode ser exercido a qualquer tempo. tos, conforme os artigos 153, § 5º, 157, 158 e 159.
O fato da União não ter instituído o IGF, em 1988, No art. 153,§ 5º da CF – A União é obrigada a repas-
quando da promulgação da Constituição Federal, sar 30% da arrecadação do IOF incidente sobre o
não lhe retira o direito de institui-lo agora, passados ouro ativo financeiro para o Estado, conforme a ori-
mais de 20 anos. gem e 70% para o Município, conforme a origem.

d) Inalterabilidade: a competência tributária não § 5º - O ouro, quando definido em lei como ativo fi-
pode ser alterada por lei infraconstitucional. Assim, nanceiro ou instrumento cambial, sujeita-se exclusi-
quando a Constituição, no art. 156, I prevê que o vamente à incidência do imposto de que trata o inciso
IPTU irá incidir sobre a propriedade de imóvel ur- V do "caput" deste artigo, devido na operação de ori-
bano, não pode uma lei modificar tal competência ao gem; a alíquota mínima será de um por cento, asse-
ponto de determinar que o IPTU tenha como hipótese gurada a transferência do montante da arrecadação
de incidência, fato gerador a mera posse de imóvel nos seguintes termos:
urbano.
Observe que o art. 32 do CTN prevê como fato gera- I - trinta por cento para o Estado, o Distrito Fede-
dor do IPTU a propriedade, a posse e o domínio útil ral ou o Território, conforme a origem;
de imóvel urbano. II - setenta por cento para o Município de origem.

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De acordo com o art. 157 da CF competem aos Es- b) 29% do produto da arrecadação da contribuição
tados e Distrito Federal: de intervenção no domínio econômico prevista no art.
177, § 4º aos Estados e o Distrito Federal, distribuí-
a) 100% da arrecadação do IR incidente na fonte, so- dos na forma da lei, observada a destinação a que se
bre rendimentos pagos, a qualquer título, pelos Esta- refere o inciso II, c, do referido parágrafo.
dos, suas autarquias e pelas fundações que instituí-
rem e mantiverem; EXERCÍCIOS

b) 20% do produto da arrecadação do imposto resi- 1) (CORECON/MG – Advogado – Gestão de Con-


dual. cursos/2015). De acordo com a teoria pentapar-
tida adotada pelo Supremo Tribunal Federal, que
Nos termos do art. 158 da CF competem aos Muni- assinala a presença de cinco espécies tributárias
cípios: no ordenamento jurídico nacional, assinale a al-
ternativa que NÃO é considerada uma espécie tri-
a) 100% da arrecadação do IR incidente na fonte, so- butária.
bre rendimentos pagos, a qualquer título, pelos Mu-
nicípios, suas autarquias e pelas fundações que ins- A) Taxas.
tituírem e mantiverem; B) Impostos.
b) 50% do ITR, como via de regra, e 100% do ITR C) Empréstimos compulsórios.
quando o Município detiver a capacidade ativa tribu- D) Pedágios
tária, ou seja, a função de arrecadar, fiscalizar esse
imposto. 2) (OAB – Exame de Ordem Unificado – XII –
c) 50% do IPVA Primeira Fase – FGV/2013). Em procedimento de
d) 25% do ICMS fiscalização, a Secretaria da Receita Federal do
Brasil identificou lucro não declarado por três
O art. 159 da CF, prevê que a União entregará 49% sociedades empresárias, que o obtiveram em
da arrecadação do Imposto sobre Renda e proventos conluio, fruto do tráfico de entorpecentes.
de qualquer natureza (IR) e sobre produtos industri-
alizados (IPI) da seguinte forma: A) O imposto sobre a renda é devido face ao
princípio da interpretação objetiva do fato gerador,
a) 21,5% ao Fundo de Participação dos Estados e do também conhecido como o princípio do pecunia non
Distrito Federal; olet.
b) 22,5% ao Fundo de Participação dos Municípios; B) Não caberá tributação e, sim, confisco da
c) 3% para aplicação em programas de financia- respectiva renda.
mento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nor- C) Não caberá tributo, uma vez que tributo não é
deste e Centro-Oeste, através de suas instituições fi- sanção de ato ilícito.
nanceiras de caráter regional, de acordo com os pla- D) Caberá aplicação de multa fiscal pela não
nos regionais de desenvolvimento, ficando assegu- declaração de lucro, ficando afastada a incidência
rada ao semi-árido do Nordeste a metade dos recur- do tributo, sem prejuízo da punição na esfera penal.
sos destinados à Região, na forma que a lei estabe-
lecer; 3. (Prefeitura/SP – Auditor-Fiscal Tributário
d) 1% ao Fundo de Participação dos Municípios, que Municipal I. Área de Especialização em Gestão
será entregue no primeiro decêndio do mês de de- Tributária – FCC/2012). Município Deixa pra Lá,
zembro de cada ano não conseguindo, hipoteticamente, exercer sua
e) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos competência constitucional tributária para
Municípios, que será entregue no primeiro decêndio instituir o ITBI no seu território, celebrou acordo
do mês de julho de cada ano; (Incluída pela Emenda com o Estado federado em que se localiza, para
Constitucional nº 84, de 2014) que esse Estado passasse a exercer, em seu
lugar, a competência constitucional para
Os incisos II e III do art. 159 da CF determinam que: instituir o referido imposto em seu território
municipal e, ainda, para que exercesse as
a) 10% da arrecadação do Imposto sobre produtos funções de fiscalizar e arrecadar esse tributo,
industrializados será repassado aos Estados e ao recebendo, em contrapartida, um pagamento
Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das res- fixo anual, a título de “retribuição
pectivas exportações de produtos industrializados. compensatória”. Relativamente a essa situação,
o Município Deixa pra Lá:

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A) Não pode delegar sua competência tributária, A) Somente se delega através de lei específica do
nem suas funções de arrecadar e de fiscalizar ente federado que é competente para a instituição
tributos de sua competência tributária a qualquer do tributo.
outra pessoa jurídica de direito público, mas pode B) Pode ser renunciado pelo ente federado, bem
delegar as funções de arrecadação às instituições assim delegado por lei a outro ente, desde que por
bancárias públicas e privadas. meio de lei complementar.
B) Pode delegar sua competência tributária e suas C) É atribuído constitucionalmente para os entes
funções de arrecadar e de fiscalizar tributos a outra federados, suas autarquias e fundações.
pessoa jurídica de direito público. D) É atribuído constitucionalmente para os entes
C) Não pode delegar sua competência tributária a federados, que podem delegá-la às suas autarquias
qualquer outra pessoa jurídica de direito público, e fundações, para os fatos geradores relacionados
embora possa delegar as funções de arrecadar e de com suas funções.
fiscalizar tributos de sua competência tributária. E) Se manifesta através da criação de leis
D) Não pode delegar sua competência tributária, instituidoras e modificadoras de tributos, bem assim
nem suas funções de fiscalizar tributos a qualquer de leis que disciplinam as causas de exclusão,
outra pessoa jurídica de direito público, embora suspensão e extinção do crédito tributário.
possa delegar suas funções de arrecadar tributos de
sua competência tributária. 7. (Cubatão/SP – Procurador – VUNESP/2012).
Uma das características da competência tributária é
4) (Prefeitura de Iguatu/CE – Fiscal de Tributos – a:
Pró-Município/2013). De acordo com o Código
Tributário Nacional “toda prestação pecuniária A) Indelegabilidade.
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se B) Prescritibilidade.
possa exprimir, que não constitua sanção de ato C) Delegabilidade.
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante D) Renunciabilidade.
atividade administrativa plenamente vinculada” é E) Caducidade.
denominada de:
8) (Unicamp/SP – Procurador de Universidade
A) Imposto. Assistente – VUNESP/2012). Para custeio do
B) Taxa. serviço de iluminação pública, na forma das
C) Tributo. respectivas leis e respeitados os ditames
D) Contribuição Social. constitucionais, poderão instituir contribuição
E) Tarifa. apenas os:

5) (TJ/SP–Titular de Serviços de Notas e de A) Estados e a União.


Registros – VUNESP/2014). Dentro da B) Estados e o Distrito Federal.
competência da União, estão os impostos: C) Municípios e o Distrito Federal.
D) Estados.
A) Imposto sobre a propriedade territorial rural, E) Municípios.
imposto sobre transmissão de bens imóveis e
direitos a eles relativos, imposto sobre a 9) (TC/SP – Auditor do Tribunal de Contas –
propriedade territorial urbana. FCC/2013). “Uma coisa é poder de legislar,
B) Imposto sobre produtos industrializados, imposto desenhando o perfil jurídico de um gravame ou
sobre a propriedade territorial rural. regulando os expedientes necessários à sua
C) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer funcionalidade; outra é reunir credenciais para
natureza, imposto sobre a propriedade territorial integrar a relação jurídica, no tópico do sujeito
rural e imposto sobre propriedade de veículos ativo”. (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de
automotores. direito tributário. 23 ed. São Paulo: Saraiva,
D) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer 2011. p. 271). O trecho transcrito faz alusão,
natureza, imposto sobre a propriedade territorial respectivamente, à:
rural, imposto sobre transmissão de bens imóveis e
direitos a eles relativos. A) Capacidade tributária passiva e competência
tributária.
6) (Câmara Municipal de São Paulo/SP – B) Capacidade tributária passiva e capacidade
Procurador Legislativo – FCC/2014). O exercício tributária ativa.
da competência constitucional tributária: C) Competência tributária e obrigação tributária.

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D) Capacidade tributária ativa e obrigação


tributária.
E) Competência tributária e capacidade tributária
ativa.

10) (Prefeitura Municipal de São Sebastião da


Amoreira/PR – Advogado – FUNTEF/2013). É de
competência privativa dos Municípios e do
Distrito Federal, de acordo com a Constituição
Federal de 1988, instituir os seguintes impostos:

A) IPTU (imposto sobre a propriedade territorial


urbana), ISS (imposto sobre serviços), ITBI (imposto
sobre a transmissão de bens imóveis).
B) ICMS (imposto sobre circulação de
mercadorias); IPVA (imposto sobre a propriedade
de veículos automotores), ITBI (imposto sobre a
transmissão de bens imóveis).
C) II (imposto sobre importação), IE (imposto sobre
exportação), IR (imposto de renda).
D) IPTU (imposto sobre a propriedade territorial
urbana), ISS (imposto sobre serviços), ICMS
(imposto sobre circulação de mercadorias).
E) ICMS (imposto sobre circulação de
mercadorias); IPVA (imposto sobre a propriedade
de veículos automotores), IPTU (imposto sobre a
propriedade territorial urbana).

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GABARITO

1) D
2) A
3) C
4) C
5) B
6) E
7) A
8) C
9) E
10) a

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