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COMEÇANDO DO ZERO 2016
Direito Tributário – Aula 01
Josiane Minardi
tributação como essa renda foi auferida, o que im- Pelo princípio da “Pecunia non olet” extrai-se o con-
porta é que o sujeito incorreu na previsão da norma teúdo axiológico do valor de justiça, direcionando a
tributária, qual seja, auferir renda. exigibilidade da exação sobre quem possui capaci-
Assim, se o sujeito auferiu renda de atividades ilíci- dade contributiva, ainda que o rendimento provenha
tas, para o direito tributário apenas importa que o su- de atividade ilícita.
jeito praticou o fato previsto na norma tributária, qual d) Instituída em lei – o tributo só pode ser instituído
seja, auferiu renda e por essa razão terá que pagar o por meio de lei, de acordo com o art. 150, I da Cons-
IR. tituição Federal e art. 97 do CTN, e por meio de ins-
trumento normativo com força de lei, ou seja, por
O artigo 118, I do Código Tributário Nacional – CTN meio de Medida Provisória, conforme prevê o art.
prevê que a definição do fato gerador será interpre- 62 da CF.
tada abstraindo-se da validade dos atos praticados e) cobrada mediante atividade administrativa ple-
pelo sujeito. namente vinculada – O tributo será cobrado pelo
Poder Público que não terá margens para escolhas
Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpre- discricionárias. O fiscal não poderá cobrar o tributo
tada abstraindo-se: de acordo com a conveniência e oportunidade, irá
exigir a obrigação tributária do contribuinte exata-
I - da validade jurídica dos atos efetivamente pratica- mente como está disposto na legislação.
dos pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros,
bem como da natureza do seu objeto ou dos seus 1.2 – ESPÉCIES DE TRIBUTOS
efeitos;
II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. Muito se discute quantas espécies tributárias subsis-
tem no nosso ordenamento jurídico, devido a possi-
No caso do sujeito que aufere renda pela venda de bilidade de diversas formas para classificá-los.
entorpecentes, a ilicitude é irrelevante para fins tribu- Alfredo Augusto Becker e Pontes de Miranda, por
tários, o que importa é que foi praticado o fato gera- exemplo defendem a teoria bipartida das espécies tri-
dor, “auferir renda” e por essa razão o sujeito deverá butárias que seria apenas impostos e taxas.
pagar IR. Há uma classificação que distingue com relação a
O STF tem o entendimento majoritário de que prati- vinculação e não vinculação do tributo.
cado o fato gerador previsto em lei, deve ser pago o
imposto, independentemente da atividade ser lícita Vinculado seria o tributo relacionado a uma atividade
ou ilícita, conforme podemos observar da ementa do estatal pessoal para o contribuinte, como exemplo
HC 77.530/RS da relatoria do Ministro Sepúlveda das taxas e contribuição de melhoria. Quando o su-
Pertence: jeito ao pagar o tributo ele já sabe exatamente qual
será a contraprestação estatal, no caso da contribui-
Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades ção de melhoria, será pago quando ocorrer uma obra
comerciais organizadas, com lucros vultosos subtra- pública cuja consequência seja volorização imobiliá-
ídos à contabilização regular das empresas e subtra- ria para o contribuinte. Já no caso das taxas serão
ídos à declaração de rendimentos: caracterização, pagas pela utilização efetiva ou potencial de um ser-
em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a viço público específico e divisível ou pelo exercício
competência da Justiça Federal e atrair pela cone- regular do Poder de Polícia.
xão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da ori-
gem ilícita, mesmo quando criminal, da renda subtra- A não-vinculação não está relacionada a uma ativi-
ída à tributação. dade estatal específica, mas simplesmente a arreca-
A exoneração tributária dos resultados econômicos dação de dinheiro aos cofres públicos para suprir as
de fato criminoso - antes de ser corolário do princípio necessidades públicas.
da moralidade – constituiu violação do princípio da Quando o contribuinte paga o tributo ele paga sem
isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética. saber qual será a contraprestação estatal, ocorrerá
uma contraprestação estatal, mas não se sabe qual
Os Tribunais Superiores aplicam o Princípio “Pecu- será, exemplo: Impostos.
nia non olet”, segundo o qual o tributo não tem
cheiro, não importa de onde vem, nesse caso, a Para que ocorra a obrigação de pagar os impostos,
renda auferida, o que importa é que ocorreu o fato basta que ocorra o fato gerador, no caso do IPVA,
gerador do IR, “auferir renda”, e por essa razão, apli- haverá o dever de pagá-lo para o sujeito proprietário
cando-se o art. 118, I do CTN deve-se haver a tribu- de veículo automotor
tação.
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O art. 5º do CTN prevê três espécies tributárias: Visto o conceito de tributo e as espécies tributárias
passamos para análise de como os tributos irão in-
1) Impostos gressar em nosso ordenamento jurídico.
2) Taxas
3) Contribuição de Melhoria 1.3 COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
A Constituição Federal no art. 145 prevê três es- Competência Tributária é a outorga de poder conce-
pécies tributárias: dido pela Constituição Federal aos Entes Federativos
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para que eles possam criar, instituir e majorar tribu- § 2º - A competência da União para legislar sobre
tos. normas gerais não exclui a competência suplemen-
Somente os entes federativos apresentam compe- tar dos Estados.
tência tributária, pois os tributos só podem ser insti- § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais,
tuídos por meio de lei, e apenas os entes federativos os Estados exercerão a competência legislativa
apresentam Poder Legislativo. plena, para atender a suas peculiaridades.
Não podemos confundir competência tributária com § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas
competência para legislar em direito tributário. gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que
A competência para legislar sobre direito tributário é lhe for contrário.
a outorga de poder concedido pela Constituição Fe-
deral para editar leis que versem sobre tributos e re- O art. 30 da CF estabelece a competência dos Muni-
lações jurídicas a eles pertinentes. É uma competên- cípios para legislarem sobre assuntos de interesse
cia concedida aos entes federativos para traçarem local e suplementar legislação federal, estadual no
regras sobre o exercício do poder de tributar. que lhe couber.
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Parágrafo único. É vedada a realização de transfe- O fato é que o Código Tributário Nacional é de 1966
rências voluntárias para o ente que não observe o e a nossa Constituição é de 1988, assim esse artigo
disposto no caput, no que se refere aos impostos. do CTN só foi recepcionado pelo nosso ordenamento
jurídico, ao considerar que será contribuinte do IPTU
Quanto a arrecadação não restam dúvidas dessa o possuidor ou aquele que detenha o domínio útil se
obrigatoriedade, mas a obrigatoriedade quanto à Ins- houver o animus domini.
tituição fere a Constituição Federal que não obriga Logo, o mero detentor da posse, como o locatário
aos Entes Federativos instituírem os tributos. não é contribuinte do IPTU, porque a lei não pode al-
Observa-se, ainda, que o parágrafo único do art. terar a competência tributária e a CF determina que
11 da LC nº 101/2000 prevê uma sanção para o Ente apenas o proprietário é contribuinte desse imposto.
Federativo que não instituir todos os impostos de sua A competência tributária não pode ser alterada por
competência. O dispositivo legal proíbe a realização meio de lei, mas Emenda Constitucional poderá al-
de transferências voluntárias àquele que não insti- terá-la.
tuir todos os impostos. Como exemplo temos a EC nº 19/02 que inseriu na
Constituição o art. 149-A e criou a Contribuição para
LC nº 101/200 - Art. 11 (...) custeio do serviço de iluminação pública (COSIP).
Parágrafo único. É vedada a realização de transfe-
rências voluntárias para o ente que não observe e) Irrenunciabilidade: A competência tributária é ir-
o disposto no caput, no que se refere aos impostos. renunciável, o Ente Federativo não pode jamais re-
nunciar sua competência tributária em favor de outro
O STF em Medida Cautelar ADI nº 2238 entendeu Ente, ele pode apenas deixar de exercê-la.
que o parágrafo único do art. 11 da LC nº 101/2000 Assim, o fato da União não ter criado ainda o IGF não
não viola a Constituição Federal porque a Lei trata de confere o direito dos Estados, por exemplo, instituí-
transferências voluntárias. rem esse imposto, porque a competência é Irrenun-
As transferências obrigatórias de impostos que estão ciável.
nos artigos 153, § 5º, 157, 158 e 159 da Constituição
Federal essas sim só poderão deixar de serem re- Para memorizar, a competência tributária é:
passadas no caso do art. 160 da CF, quando o Ente
Federativo não estiver aplicando o percentual exigido 1) Indelegável
na área da saúde, e também, no caso de débitos de 2) facultativa
um Ente, e suas Autarquias com outro Ente que irá 3) Incaducável
fazer o repasse. 4) Inalterável
O parágrafo único do art. 11 da LC nº 101/2000 proi- 5) Irrenunciável
biu apenas o repasse das transferências voluntárias
e não das obrigatórias, por isso não seria inconstitu- REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS
cional.
A Constituição Federal prevê algumas hipóteses de
c) Incaducabilidade: O direito do Ente Federativo transferência obrigatória da arrecadação dos impos-
instituir o tributo pode ser exercido a qualquer tempo. tos, conforme os artigos 153, § 5º, 157, 158 e 159.
O fato da União não ter instituído o IGF, em 1988, No art. 153,§ 5º da CF – A União é obrigada a repas-
quando da promulgação da Constituição Federal, sar 30% da arrecadação do IOF incidente sobre o
não lhe retira o direito de institui-lo agora, passados ouro ativo financeiro para o Estado, conforme a ori-
mais de 20 anos. gem e 70% para o Município, conforme a origem.
d) Inalterabilidade: a competência tributária não § 5º - O ouro, quando definido em lei como ativo fi-
pode ser alterada por lei infraconstitucional. Assim, nanceiro ou instrumento cambial, sujeita-se exclusi-
quando a Constituição, no art. 156, I prevê que o vamente à incidência do imposto de que trata o inciso
IPTU irá incidir sobre a propriedade de imóvel ur- V do "caput" deste artigo, devido na operação de ori-
bano, não pode uma lei modificar tal competência ao gem; a alíquota mínima será de um por cento, asse-
ponto de determinar que o IPTU tenha como hipótese gurada a transferência do montante da arrecadação
de incidência, fato gerador a mera posse de imóvel nos seguintes termos:
urbano.
Observe que o art. 32 do CTN prevê como fato gera- I - trinta por cento para o Estado, o Distrito Fede-
dor do IPTU a propriedade, a posse e o domínio útil ral ou o Território, conforme a origem;
de imóvel urbano. II - setenta por cento para o Município de origem.
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De acordo com o art. 157 da CF competem aos Es- b) 29% do produto da arrecadação da contribuição
tados e Distrito Federal: de intervenção no domínio econômico prevista no art.
177, § 4º aos Estados e o Distrito Federal, distribuí-
a) 100% da arrecadação do IR incidente na fonte, so- dos na forma da lei, observada a destinação a que se
bre rendimentos pagos, a qualquer título, pelos Esta- refere o inciso II, c, do referido parágrafo.
dos, suas autarquias e pelas fundações que instituí-
rem e mantiverem; EXERCÍCIOS
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A) Não pode delegar sua competência tributária, A) Somente se delega através de lei específica do
nem suas funções de arrecadar e de fiscalizar ente federado que é competente para a instituição
tributos de sua competência tributária a qualquer do tributo.
outra pessoa jurídica de direito público, mas pode B) Pode ser renunciado pelo ente federado, bem
delegar as funções de arrecadação às instituições assim delegado por lei a outro ente, desde que por
bancárias públicas e privadas. meio de lei complementar.
B) Pode delegar sua competência tributária e suas C) É atribuído constitucionalmente para os entes
funções de arrecadar e de fiscalizar tributos a outra federados, suas autarquias e fundações.
pessoa jurídica de direito público. D) É atribuído constitucionalmente para os entes
C) Não pode delegar sua competência tributária a federados, que podem delegá-la às suas autarquias
qualquer outra pessoa jurídica de direito público, e fundações, para os fatos geradores relacionados
embora possa delegar as funções de arrecadar e de com suas funções.
fiscalizar tributos de sua competência tributária. E) Se manifesta através da criação de leis
D) Não pode delegar sua competência tributária, instituidoras e modificadoras de tributos, bem assim
nem suas funções de fiscalizar tributos a qualquer de leis que disciplinam as causas de exclusão,
outra pessoa jurídica de direito público, embora suspensão e extinção do crédito tributário.
possa delegar suas funções de arrecadar tributos de
sua competência tributária. 7. (Cubatão/SP – Procurador – VUNESP/2012).
Uma das características da competência tributária é
4) (Prefeitura de Iguatu/CE – Fiscal de Tributos – a:
Pró-Município/2013). De acordo com o Código
Tributário Nacional “toda prestação pecuniária A) Indelegabilidade.
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se B) Prescritibilidade.
possa exprimir, que não constitua sanção de ato C) Delegabilidade.
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante D) Renunciabilidade.
atividade administrativa plenamente vinculada” é E) Caducidade.
denominada de:
8) (Unicamp/SP – Procurador de Universidade
A) Imposto. Assistente – VUNESP/2012). Para custeio do
B) Taxa. serviço de iluminação pública, na forma das
C) Tributo. respectivas leis e respeitados os ditames
D) Contribuição Social. constitucionais, poderão instituir contribuição
E) Tarifa. apenas os:
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GABARITO
1) D
2) A
3) C
4) C
5) B
6) E
7) A
8) C
9) E
10) a
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