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Introdução

Viemos aprendendo um pouco sobre a língua de sinais brasileira e também


levantando questões relativas às políticas linguísticas e educacionais no Brasil,
pensando nos sujeitos sinalizantes e nas implicações das ações de inclusão propaladas
pela sociedade atual. Para que essas ações pudessem ter início, foram necessários
movimentos que promoveram debates polêmicos e ações afirmativas a favor do
reconhecimento do sujeito surdo como um ser diferente da maioria ouvinte da
população e dotado de capacidade linguística, de educabilidade, potencial
profissional e intelectual, etc.

Cultura surda?
A sociedade passou a ser apresentada, e continua paulatinamente a ser, à língua, aos
hábitos, às diferenças e semelhanças com os ouvintes, às necessidades (educativas)
especiais dos sujeitos surdos.

Aqueles sujeitos que até então eram vistos como deficientes auditivos limitados em
suas capacidades, passam a ser reconhecidos como sujeitos (surdos) complexos, com
identidade própria e com um conjunto de hábitos, transmitidos principalmente através
da sua língua, ao qual tem se convencionado chamar de “cultura surda”.

Embora bastante recorrente, o termo “cultura surda” ainda é alvo de muita polêmica.
Para além da dificuldade habitual de se definir o que é ou não é cultura, os sujeitos
surdos estão – quer queiram, quer não - inseridos em uma comunidade ouvinte e
convivem com esses ouvintes, trocando experiências diariamente.

VOCÊ SABIA?
Não há um país, estado, cidade ou mesmo bairro de surdos. O que se pode encontrar
com facilidade são associações e instituições que constituem uma espécie de reduto
das ditas “comunidades surdas”, embora essas comunidades não estejam restritas a
esses ambientes, suas atividades e formas de interação.
Cultura a partir da relação familiar
Os sujeitos surdos são, em sua grande maioria, filhos de pais ouvintes. Situação que provoca, por
maior a rejeição que tenha sofrido da família ou a falta de conhecimento sobre língua de sinais e
surdez, algum tipo de interação com o que é conhecido como “cultura ouvinte”.

Há também os casos em que pais surdos têm filhos ouvintes, o que pode provocar um
redimensionamento de condutas e valores não no sentido de abandonar ou renegar a “cultura
surda”, mas de estabelecer novas relações e interesses em relação à “cultura ouvinte”.

Ensinar LIBRAS ou ensinar a oralizar?

Muitos surdos são oralizados. Em função do método educativo utilizado durante a


sua formação (durante muitos anos optou-se pelo chamado Oralismo nas escolas
especializadas), alguns surdos simplesmente não compartilham os mesmos hábitos
dos surdos que dominam a língua de sinais.

Cultura surda ou cultura dos surdos?


Como se pode perceber só pela diversidade existente entre os surdos, uma definição
exata sobre o que é “cultura surda” é difícil e mesmo a sua existência ou não é causa
de polêmica. Há, inclusive, para alguns pesquisadores diferença entre “cultura surda”
e “cultura dos surdos”.

Cultura surda
A cultura surda surge de maneira mais ou menos involuntária, apoiada pelas escolas
especializadas da atualidade, mas que ultrapassam o espaço físico, abrangendo o
social e imaginário, uma vez que se solidificou a partir da noção de LIBRAS como
uma língua igual a outra qualquer.
Cultura dos surdos
A cultura dos surdos surge como tendo sido criada pelas antigas instituições dos
surdos que os isolavam e tentavam promover uma “higienização social”.

Libras e outras línguas de sinais


Ademais, precisamos nos preocupar com a afirmação “a língua de sinais é a língua da
comunidade surda brasileira”, pois – como já mencionado em outras aulas – no Brasil
existem surdos que têm como língua materna outra língua de sinais (Urubu-Kaapor)
que não é a LIBRAS.

Nomenclatura adotada neste curso


Daí, optarmos neste curso por utilizar expressões como “sujeito sinalizante”,
“sinalizante” (podendo abranger todos os que dominam a língua de sinais e sejam
seus usuários assíduos, embora que na maioria das vezes estejamos nos referindo aos
surdos que têm a língua de sinais brasileira como língua materna ou L1),
“comunidade de sinalizantes”, “cultura de sinalizantes”.

A cultura surda no cotidiano

Já pensou em como é a casa de uma pessoa surda?


O que ela precisa fazer para saber se alguém está tocando a campainha da casa?
E se o telefone estiver tocando?
Será que surdos possuem um telefone?
Será que dá para usar um despertador para não perder a hora para o trabalho?
Quais as diferenças mais marcantes entre a “cultura surda” e a “cultura
ouvinte”?
O que seria considerado “falta de educação” para um também o seria para
outro?
A partir de seus conhecimentos adquiridos até o momento, responda: que parte da
língua brasileira de sinais a jovem está ensinando?

GABARITO
A jovem está sinalizando os números, incialmente de 1 a 10; depois, parte do 10 para
construir o 11, o 12…

Surdez e a Língua Brasileira de Sinais


No último dia 24 de abril a Comunidade Surda comemorou 10 anos da lei 10.436,
que reconhece a LIBRAS como a língua oficial desta mesma comunidade.

Além desta lei, o Decreto Federal nº 5.626 de 2005 também beneficia os surdos, no
que tange à Educação Bilíngue onde, a Língua Brasileira de Sinais é a primeira língua
e a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, a segunda.

A LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais é uma língua de modalidade visual-espacial,


que possui regras próprias como: um canal de comunicação gestual que
impreterivelmente deve ser acompanhado pelas expressões faciais e corporais, além
de outros parâmetros.

Por ter a perda auditiva, os surdos compreendem e interagem com o mundo através
da visão e sua expressão se dá na modalidade gestual. Ao nascer surdo ou tornar-se
surdo no período pré-linguístico, este sujeito passa a utilizar o canal visual e gestual
como seus meios expressivos, suprindo assim a falta dos meios auditivo e oral para
sua comunicação.

Para a maior parte dos surdos, não existe o sentimento de falta da audição ou a
necessidade de que esta deficiência seja reparada de alguma forma. Não existe a
necessidade de começar ou voltar a ouvir.

Portanto, com base nesta peculiaridade, podemos afirmar que o sujeito surdo é
considerado diferente e não deficiente em relação aos ouvintes.

Desta forma, como em tantas outras culturas, os membros da Comunidade Surda têm
valores, crenças, comportamentos, bem como uma língua diferenciada daquela usada
pela sociedade majoritária.

Como parte desta cultura, podemos nos ater a alguns aspectos característicos como: a
perda auditiva que, porém, não é imprescindível; a participação assídua em escolas de
surdos, festas, associações e eventos típicos da comunidade surda, como os encontros
em shoppings; a postura política frente aos assuntos relacionados aos surdos e, por
fim, o uso e fluência da língua de sinais, que norteia e embasa tal cultura.

Nas interações entre sujeitos surdos ou mesmo entre surdos e ouvintes existem
algumas características interessantes. Primeiramente apresenta-se a pessoa pelo seu
sinal pessoal e depois seu nome é soletrado. O sinal pessoal é atribuído somente pelos
surdos, como se fosse um batismo. Não necessariamente o seu sinal pessoal está
relacionado com a primeira letra do seu nome.

Este sinal pode ter como referência: a aparência física da pessoa, o uso constante de
objetos como óculos, pulseiras, etc.; um comportamento constante como mexer nos
cabelos, assim como também algo que a pessoa goste de fazer. Para esta última
atribuição é necessário um contato mais prolongado com a pessoa a quem se vai
batizar.

Atualmente existem diversos materiais e cursos direcionados ao aprendizado da


LIBRAS. Cabe-nos entender que, para melhor atendermos esta parcela da sociedade,
precisamos estar devidamente preparados, apresentando fluência em sua língua, bem
como conhecimento e entendimento de sua cultura diferenciada.

Desta forma, como podemos notar, a Comunidade Surda é dotada de uma diversidade
e riqueza cultural que estão acessíveis àqueles que demonstrarem interesse e
empenho em conhecê-los em sua essência, com o coração e mente abertos para o
lindo mundo dos surdos!

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