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N OS SA Bússo l a

Ricardo Neves

Mais serviços,
menos impostos
C
ariocas proprietários de imóveis adoção do Estado do Bem-
Estar Social jogou o custo do
iniciaram há alguns dias uma espécie de setor público para um novo
revolta contra a Prefeitura. Resolveram patamar – ele chegou a 46% do
Ricardo Neves PIB em 1981. Aí os cidadãos
é consultor de
sustar, ou pelo menos adiar, o pagamento do IPTU. elegeram Margaret Thatcher,
empresas e escreve Eles julgam um acinte os aumentos dos valores do que deu início a um processo
quinzenalmente imposto para 2008, dados os sinais de negligência da de enxugamento, corte de sub-
em Época. É autor sídios, privatização e moderni-
do livro Novo Mundo
Prefeitura. É uma reprodução local do que ocorreu zação do Estado, empurrando
Digital, volume I com a tentativa de renovação da CPMF, no fim do o custo da máquina de volta
da trilogia ano passado. A taxa foi rejeitada no Senado, com para abaixo dos 40%. Hoje,
Renascença Digital. o setor público nos Estados
www.ricardoneves.
base na resistência demonstrada pela opinião pública Unidos custa 29% do PIB. Na
com.br nacional. Também têm aumentado de tom as Itália, 41%. No Canadá, 40%.
rneves@edglobo.
reclamações de empresários contra a alta carga Imposto, no final das contas,
com.br é uma questão de percepção
tributária do país em relação aos serviços que o conjunto da sociedade tem da relação entre o
que os cidadãos recebem. Será que chegamos custo e o benefício (na forma dos serviços). A pro-
ao limite de impostos e tributos? dutividade e a qualidade do que o governo entrega é
Durante o século XX, o custo do funcionamento o que faz a diferença. O Brasil toma hoje da socieda-
do governo subiu tremendamente em todos os paí- de cerca de 36% da riqueza gerada, bem abaixo do
ses, não apenas no Brasil. O Reino Unido é um caso que toma a Suécia (51%), mas lá os serviços de edu-
exemplar. No começo dos anos 1900, os cidadãos cação, saúde e segurança são muito mais eficientes.
britânicos pagavam algo em torno de 10% de toda O que há de novo, à medida que nos tornamos
a riqueza que produziam (o Produto Interno Bruto uma Sociedade Digital Global, é que as pessoas
ou PIB) para sustentar a máquina do Estado. Era um começam a se perguntar por que os governos não
índice similar ao dos Estados Unidos e ao do Brasil. são como as empresas. Por que não aprendem a
Com o início da Primeira Guerra Mundial, o cus- fazer mais com menos? Sobretudo a partir dos anos
to de manutenção do Estado aumentou – a guerra é 80, quando a competição global se tornou mais
uma forma estúpida de torrar a riqueza da socie- acirrada, ser mais produtivo passou a ser para as
dade. Em 1914, no primeiro ano da guerra, a conta empresas uma questão de vida ou morte. Daí nas-
pulou de 12,1% do PIB para 24,6%. Quatro anos ceram métodos de gestão como a reengenharia, a
depois, no fim do conflito, o Estado levava quase produção enxuta e a aposta convicta nas inovações
metade da riqueza produzida pelas pessoas: 46,3%. tecnológicas. Exemplos ilustrativos no Brasil: nos
A guerra acabou, mas o custo estatal últimos 20 anos, o setor bancário pas-
nunca mais voltou aos patamares anti- sou a atender quatro vezes mais clientes
gos. Estabilizou-se em torno de 25%. Por que os com quatro vezes menos funcionários,
A Segunda Guerra Mundial pro- governos não por meio de caixas eletrônicos e internet
vocou o mesmo efeito. O custo do banking. No setor automobilístico,
Estado pulou para 32,9% do PIB em são como a robotização levou as empresas a pro-
1939, 51,9% em 1940 e se manteve as empresas? duzir duas e meia vezes mais carros
no patamar de 60% até a rendição da Por que não com metade dos funcionários. Se todos
Alemanha, em 1945. Mais uma vez o nós temos de fazer mais com menos,
custo caiu com o término da guerra,
aprendem por que não os governos? Por que
mas passou a ter um novo patamar em a fazer mais
www.epoca.com.br
O debate continua eles não conseguem inovar, ser mais
no blog de Ricardo Neves torno de 35%. Ao fim dos anos 60, a com menos? produtivos e oferecer mais qualidade?u
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