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Psicologia I

Unidade Acadêmica de Educação


a Distância e Tecnologia - UFRPE

Volume 4
Psicologia I

Anna Paula de Avelar Brito Lima

Volume 4

Recife, 2010
Universidade Federal Rural de Pernambuco

Reitor: Prof. Valmar Corrêa de Andrade


Vice-Reitor: Prof. Reginaldo Barros
Pró-Reitor de Administração: Prof. Francisco Fernando Ramos Carvalho
Pró-Reitor de Extensão: Prof. Paulo Donizeti Siepierski
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Fernando José Freire
Pró-Reitor de Planejamento: Prof. Rinaldo Luiz Caraciolo Ferreira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Profª. Maria José de Sena
Coordenação Geral de Ensino a Distância: Profª Marizete Silva Santos

Produção Gráfica e Editorial


Capa e Editoração: Allyson Vila Nova, Rafael Lira e Italo Amorim
Revisão Ortográfica: Marcelo Melo
Ilustrações: Diego Almeida, Roberto Costa, Juliana Maria, Pablo Martins e Moisés de Souza
Coordenação de Produção: Marizete Silva Santos
Sumário

Apresentação.........................................................................................4

Conhecendo o Volume 4.......................................................................5

Capítulo 1 – Introdução ao estudo da Personalidade Humana.........7

A Investigação da Personalidade......................................................12

Capítulo 2 – Abordagem Psicanalítica do Desenvolvimento da


Personalidade...........................................................................................17

Algumas noções fundamentais da Psicanálise.................................18

Capítulo 3 – A Construção da Identidade do Indivíduo....................27

A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial de Erik Erikson e as


Oito Idades do Homem..............................................................................33

Capítulo 4 – Desenvolvimento Humano............................................43

Fases do desenvolvimento humano..................................................46

A Adolescência..................................................................................50

A Puberdade......................................................................................51

O Adolescente e a escolha profissional.............................................55

Considerações Finais..........................................................................64

Conheça a Autora................................................................................65
Apresentação

Caro(a) Cursista,

Começamos, agora, a trabalhar o quarto e último volume da disciplina Psicologia


I. No primeiro volume, você estudou o que é Psicologia e como ela se institui como
Ciência. Estudou, também, que a Psicologia é considerada Ciência e profissão. Nos
volumes 2 e 3, você estudou os processos psicológicos fundamentais: Percepção,
Motivação, Emoção, Memória e Inteligência.

O que vamos estudar agora também são alguns dos temas que mais despertam
interesse na Psicologia: a constituição da Identidade, da Personalidade e o
Desenvolvimento humano. Na verdade, poderíamos construir uma disciplina inteira
sobre essas temáticas que, em larga medida, se interrelacionam, mas aqui faremos
um breve passeio sobre o que a Psicologia discute acerca desses temas, e quais as
principais abordagens teóricas a eles relacionadas.

Esperamos que com a conclusão desse volume, você tenha conseguido compreender
os principais conceitos e pressupostos dessa Ciência tão instigante e tão importante
para o profissional que vai lidar com os caminhos da Educação.

Desejamos, ainda, encontrarmo-nos em breve, na próxima disciplina de Psicologia.

Bom estudo!

Anna Paula Brito

Professora Conteudista
Conhecendo o Volume 4

Neste volume, você irá encontrar o Módulo 4 da disciplina Psicologia I. Para facilitar
seus estudos, veja a organização deste quarto módulo.

Módulo 4 – Desenvolvimento e Personalidade

Objetivo do Módulo: Refletir sobre o que é Personalidade no âmbito da psicologia e


como a personalidade se desenvolve ao longo da infância e adolescência do indivíduo.

Conteúdos:

» A personalidade humana: concepções e desenvolvimento.

» A construção da Identidade do indivíduo.

» O desenvolvimento: infância e adolescência e suas implicações na constituição


da vida adulta.

Carga horária: 15 horas


Psicologia I

Capítulo 1

Introdução ao estudo da Personalidade Humana

O que vamos estudar neste capítulo?

No capítulo 1 desse volume, estudaremos o que é Personalidade


e como ela se desenvolve. Discutiremos a origem do termo
‘personalidade’ e as concepções, tanto científicas quanto do senso
comum, referentes a esse conceito. Refletiremos, também, de forma
sucinta, as relações entre hereditariedade e meio ambiente na
constituição da personalidade.

A discussão que travaremos acerca da Personalidade terá


continuidade nos capítulos seguintes, quando faremos uma breve
reflexão sobre a Psicanálise, como uma das teorias que procura
explicar o desenvolvimento da personalidade humana. Em seguida,
discutiremos a questão da formação da identidade do indivíduo,
focalizando a Teoria de Erik Erikson e, no último capítulo, debateremos
o desenvolvimento humano, desde a infância à vida adulta.

Temos certeza de que esse volume trará questões bastante


interessantes e que lhe possibilitará construir novos conhecimentos
acerca do ser humano e da sua constituição psicológica.

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Psicologia I

Capítulo 1 – Introdução ao
estudo da Personalidade
Humana

Vamos conversar sobre o assunto?

O que é Personalidade?

“Pedro não tem personalidade mesmo! Vai sempre pela cabeça


dos outros!”

“Ana é uma moça de personalidade muito forte!”

“Maria tem dupla personalidade: em casa é uma pessoa e no


trabalho é outra!”

Você já ouviu frases desse tipo? Apostamos que sim!

O termo “Personalidade” é um daqueles do qual o senso comum


se apropriou. Na verdade, ele não surge da Psicologia. Essa Ciência
toma emprestado esse termo, que vem de uma origem bem antiga...

Antes de prosseguir com a leitura, responda: você conhece essas


máscaras? Sabe quando elas começaram a ser feitas, para que eram
utilizadas e como elas se chamam?

Que tal saber um pouco dessa história?

A palavra personalidade vem de persona. Persona, por sua vez,


quer dizer pessoa. As personas eram as máscaras utilizadas no
teatro grego, como essas que você viu nas imagens acima.

No teatro grego da antiguidade, os atores não apareciam com

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Psicologia I

seus rostos. Eles utilizavam uma máscara – a persona – que trazia


uma expressão marcada: de dor, de tragédia, de alegria, etc. O teatro,
naquela época, trabalhava basicamente com dois tipos de peças:
as tragédias e as comédias. Por isso, sempre que vemos fotos ou
desenhos das personas, eles vêm quase sempre em dupla: uma com
os lábios com a concavidade para cima - expressando alegria – e a
outra com a concavidade para baixo, expressando tristeza, dor, medo;
tudo o que lembre tragédias e dramas humanos.

Assim, a palavra personagem (que é uma palavra feminina: a


personagem) designa o papel representado pelo ator também tem
origem nas máscaras gregas. Interessante, não é?

Falamos aqui da parte etimológica da palavra Personalidade. Mas


além da palavra, o que ela vem a ser? Antes de prosseguirmos, que
tal tentar propor uma definição? A partir dos seus conhecimentos
cotidianos e do que já refletiu nessa disciplina: como você definiria
personalidade?

Difícil tentar defini-la, não é? Mas não é difícil apenas para você.
A própria Psicologia não tem uma definição única do que seja a
personalidade humana.

Uma definição que encontramos em um livro que sempre foi tido


como referência em Psicologia, propõe que Personalidade pode ser
entendida como:

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Psicologia I

“(...) padrões relativamente constantes e duradouros de perceber, pensar,


sentir e comportar-se, os quais parecem dar as pessoas identidades
separadas. (...) inclui pensamentos, motivos, emoções, interesses,
atitudes, capacidades e fenômenos semelhantes” (Davidoff, p. 507 – ver
referência completa desse autor/livro no Programa da disciplina).

Talvez essa não seja a definição mais apropriada da personalidade,


tamanha a sua complexidade como tema psicológico, mas é ao menos
uma aproximação. O que podemos sugerir, de forma complementar,
é que a Personalidade é algo que se ‘constitui’ no indivíduo. Ou seja,
as correntes atuais em Psicologia acreditam que a personalidade não
está ‘pronta’ no nascimento. A constituição da personalidade está
intimamente relacionada à formação da Identidade (que será nossa
temática no capítulo 2 desse volume).

Outro aspecto relevante é a ideia de que nós nos constituímos a


partir do outro. Assim, a relação eu-outro é uma relação fundamental
na nossa constituição como indivíduo, na formação da nossa
personalidade, na construção da nossa identidade pessoal, desde
a mais tenra infância, nas relações primárias, como a Psicologia
costuma dizer, particularmente com o casal parental: mãe e pai.

Dessa forma, podemos tentar responder àquelas questões


colocadas no início, da seguinte maneira: todas as pessoas, de
uma forma ou de outra, constituem-se como indivíduos. Assim, não
teríamos como falar de alguém ‘sem personalidade’.

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Psicologia I

Por outro lado, a personalidade não se mede em termos de


intensidade: forte ou fraca, muita ou pouca. Igualmente, em tese, não
se poderia falar em dupla personalidade ou em várias personalidades,
uma vez que nos referimos a ‘indivíduos’ que, como o nome já diz,
são únicos, individuais.

A Personalidade de alguma forma se ‘constitui’ e se ‘revela’ nas


relações que estabelecemos, pois somos seres essencialmente
sociais. Isso faz com que sejamos ‘dialéticos’*: somos uno (no sentido
de que somos únicos), mas também nos constituímos a partir do
outro. O outro também está em mim.

Essa discussão nos conduz a outra reflexão que devemos


aqui pontuar: estamos falando em Personalidade a partir de uma
constituição mais ‘normativa’, de uma estruturação ‘normal’ da
personalidade, pois existem os distúrbios e desordens que podem ser
identificados na sua estruturação.

Isso nos remeteria à discussão sobre o normal e o patológico, mas


esse não é nosso interesse nesse volume, tampouco na disciplina.

Nesse contexto, a questão acerca da existência de ‘múltiplas


personalidades’, que colocamos anteriormente, do ponto de vista
da análise clínica, poderia ser considerado como indicativo de uma
desordem psíquica, de um comprometimento na sua estruturação,
como alguns filmes e livros tratam.

Assim, pensar em Personalidade é pensar que temos um modo


todo próprio de conceber o mundo, de perceber, de sentir, de pensar,
de desejar, de agir sobre o mundo, de reagir em resposta à ação do
mundo sobre nós. Somos uno, mas somos muitos. Temos um eu que
se constitui a partir do outro. É dessa maneira que nos constituímos
como humanos.

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Psicologia I

Atividades e Orientações de Estudo

Hereditariedade versus Meio na constituição da


Personalidade

Outro aspecto que a Psicologia se interessou, ao longo dessas


décadas de estudo, foi em que medida a personalidade está
relacionada à hereditariedade ou ao meio social em que o indivíduo
está inserido desde o seu nascimento. O que é definido biologicamente
e o que é construído ao longo das vivências do ser humano? Existe a
possibilidade de delimitar essas dimensões?

Algumas perspectivas mais organicistas (ligadas ao que é orgânico,


à transmissão genética) procuraram defender que a personalidade se
define em função das características hereditárias. Mas essa discussão
sempre gerou controvérsias, além de nos conduzir a outras noções e
conceitos. Aprofundemos um pouco essa ideia...

Podemos pensar na ideia de ‘temperamento’, como sendo aquilo


que revelamos nas nossas relações, e que o bebê, desde recém-
nascido, já começa a demonstrar. Existem bebês que choram mais,
outros são mais quietos. Uns são mais risonhos, outro ‘estranham’
ao ficarem diante de desconhecidos. Essas diferentes características
muitas vezes são percebidas até entre irmãos e marcam as ‘diferenças
individuais’, que estão relacionadas também à personalidade.

Mas é interessante pensar que no caso de irmãos, um nasceu


primeiro, em um determinado momento financeiro da família, em um
determinado momento da relação do casal parental (pai e mãe); outro
já é o segundo filho, ou o caçula, ou é filho único.

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Psicologia I

Enfim, a constelação familiar e a forma como essas relações


são marcadas (inclusive desde a vida intrauterina) influenciam o
desenvolvimento do bebê e os traços de temperamento que ele
revelará nas suas relações.

A Psicologia nunca chegou a um consenso nessa questão da


relação hereditariedade x meio. Os estudos com gêmeos tentaram
esclarecer alguns aspectos, mas sempre culminaram para o
surgimento de mais questionamentos.

Se pensarmos na sala de aula, que será o local de atuação do


licenciando, portanto, seu local de atuação, encontraremos alunos
com faixa etária semelhante, de ambos os sexos, mas com histórias
de vida tão distintas e, por isso mesmo, tão diferentes entre si.

A Investigação da Personalidade

Ao longo de várias décadas estudando essa temática, os estudiosos


da Psicologia elaboraram instrumentos que tinham o propósito de
investigar a personalidade. Há algumas décadas (cerca de uns 30/40
anos) houve uma verdadeira febre de ‘testes de personalidade’. Os
testes projetivos talvez sejam os mais utilizados até hoje. Eles
partem do princípio de que o individuo, ao realizá-lo, ‘projeta’ (daí o
nome ‘projetivo’) suas angústias, seus desejos, suas percepções,
enfim, elementos que são reveladores da sua constituição psíquica.
Esses testes de personalidade foram usados em tratamentos clínicos,
em seleção de pessoal, em diagnósticos de problemas de ordem
psíquica.

Ao longo das últimas décadas outros instrumentos também


começaram a ser utilizados: a entrevista passou a ter um papel
fundamental para os psicólogos. Boa parte deles passou a acreditar
que uma entrevista bem conduzida, onde se fizesse uma anamnese*,

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Psicologia I

um levantamento da história de vida* do cliente/paciente, poderia ser


mais elucidativa do que vários testes.

Nas empresas, em seleção de pessoal, passou-se também a optar


por dinâmicas de grupo, como forma de saber se aquele candidato
se encaixava no ‘perfil profissiográfico’* do cargo ao qual ele estava
concorrendo.

Por fim, o estudo da Personalidade é um dos interesses


fundamentais na Psicologia e muitas teorias foram postuladas a
esse respeito. Essa temática é mais uma das que aponta para o que
falamos no início desse curso: não se pode pensar em psicologia, no
singular, mas sim, em psicologias.

Que tal apresentarmos um breve glossário de alguns termos que


utilizamos aqui e que possam ser desconhecidos para você (*)?

Dialética: utilizamos essa palavra como algo referente a uma relação de


‘mão dupla’ – por exemplo, a relação eu-outro.

História de Vida: história pessoal, desde o nascimento até os dias atuais,


que faz com que indivíduo se constitua psiquicamente por um determinado
‘caminho’.

Entrevista de Anamnese: possibilita trazer dados para investigar a ‘história


de vida’, diz respeito aos acontecimentos e desenvolvimento da gestação, do
parto, dos primeiros meses de vida, do desenvolvimento psicomotor, enfim,
uma investigação da história pessoal, tanto de acontecimentos objetivos,
quanto de questões mais subjetivas.

Perfil Profissiográfico: Perfil do cargo, a partir do qual o candidato será


analisado pelos profissionais de recrutamento, seleção e treinamento de
pessoal.

Você pode entrar em sites da Internet e pesquisar os endereços


relacionados à temática personalidade. Alguns vão trazer exemplos de
testes de personalidade, ou tentar relacionar a temática personalidade
com misticismo, com espiritualidade. Mas tenha cuidado com os sites
que abordam a temática de forma equivocada e não-científica. Procure
mais os artigos de cunho científico ou o sites de Universidades.

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Psicologia I

Cinema em Ação

São vários os filmes que enfocam a questão da Personalidade.


Alguns filmes que trazem uma abordagem interessante:

Dica de Filme

As duas faces de um crime


Direção: Gregory Hoblit - Ano: 1998

Um vaidoso ex-promotor de justiça decide defender


gratuitamente um jovem acusado de ser o assassino de um
arcebispo. Porém, durante as investigações, ele descobre o
lado obscuro do religioso e um segredo do jovem que defende.
Com Richard Gere, Edward Norton e Frances McDormand.
Recebeu uma indicação ao Oscar.

Dica de Filme

Sybil
Direção: Daniel Petrie - Ano: 1976

Nova York. Sybil Dorsett (Sally Field) é uma jovem mulher


que desenvolveu várias personalidades, como mecanismo
de defesa para os abusos que sofreu nas mãos da sua mãe,
Hattie (Martine Bartlett). Assim Sybil criou personalidades bem
distintas: a agressiva Peggy Lou, a potencialmente suicida
Mary, o bebê Sybil Ann e muitas outras, totalizando mais de
dez. Uma psicanalista, Cornelia Wilbur (Joanne Woodward),
diagnostica a condição de Sybil e tenta ajudá-la, apesar de
saber que está lidando com um caso único.

Maiores detalhes: www.adorocinema.com

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Psicologia I

Vamos Revisar?

Resumo

Neste capítulo, começamos a estudar a Personalidade humana. Essa discussão


vai se estender por mais dois capítulos, culminando na reflexão acerca da
‘construção da identidade’.

Refletimos sobre o conceito de ‘Personalidade’: a origem do nome, que vem


das máscaras gregas de teatro e de como a Psicologia se apropria dessa
nomenclatura para desenvolver uma importante teoria acerca de sua formação.

Discutimos, também, as relações entre hereditariedade e meio na formação da


personalidade, o papel das relações primárias (com a figura materna e paterna)
nesse constituição, e os esforços da Psicologia para desenvolver testes e outras
formas de intervenção que permitam compreender esse desenvolvimento.

O capítulo que se segue enfocará a abordagem psicanalítica, como uma das que
melhor e mais profundamente discute a formação da Personalidade, a partir de
seu propositor: Sigmund Freud. Embora o nosso objetivo não seja aprofundar o
conhecimento da Teoria Psicanalítica, acreditamos que seja importante conhecer
as suas bases, para poder compreender os caminhos que a Psicologia percorreu
para desvendar o que é a personalidade.

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Psicologia I

Capítulo 2

Abordagem Psicanalítica do Desenvolvimento da


Personalidade

O que vamos estudar neste capítulo?

Nesse capítulo, faremos uma discussão mais específica acerca


da personalidade humana. Enquanto que no capítulo anterior falamos
da personalidade em suas bases gerais, esse pretende trazer um
enfoque teórico mais específico sobre o tema.

Haveria muitas teorias que poderíamos enfocar, que buscam


explicar o desenvolvimento da personalidade, mas optamos pelo
arcabouço teórico que consideramos mais completo – embora,
também, mais complexo – sobre o seu desenvolvimento.

Assim, elegemos uma das teorias que acreditamos que melhor


explica o desenvolvimento da personalidade humana: a Psicanálise.
Faremos uma discussão que aborde os principais conceitos dessa
corrente psicológica, que é uma das mais conhecidas pelo senso
comum, embora com algumas noções fortemente distorcidas e
inadequadas.

Queremos destacar que já falamos brevemente sobre a Psicanálise,


quando estudamos as Escolas da Psicologia, no primeiro volume
dessa obra. Nesse capítulo, vamos retomar alguns dos aspectos
tratados, mas aprofundaremos outras questões ainda não abordadas.

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Psicologia I

Capítulo 2 – Abordagem
Psicanalítica do
Desenvolvimento da
Personalidade

Vamos conversar sobre o assunto?

Sigmund Freud...

Quem foi esse homem de expressões tão marcantes, com jeito


sóbrio e aristocrático?

O que propôs esse homem no final do Século XIX e início do


Século XX, que provocou a Ciência Psicológica, que perturbou os
mais conservadores e revolucionou a Psiquiatria?

Pesquise em sites da internet a vida e obra de Sigmund Freud,


considerando os seguintes aspectos:

- Onde ele nasceu?

- Como foi sua trajetória pessoal e profissional?

- Quando nasceu a psicanálise?

- Como a comunidade científica reagiu à Teoria e Método propostos por Freud?

- Que palavras ou expressões da Psicanálise o senso comum se apropriou e são


utilizadas corriqueiramente?

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Psicologia I

Importante: Faça a pesquisa antes de prosseguir com seus estudos nesse


Módulo. O nosso objetivo é que você a utilize como referência para conhecer
esse teórico e como material complementar de estudo.

Atividade de Estudo

O que é a Psicanálise?

Como você deve ter observado em suas pesquisas, a Psicanálise


pode ser compreendida como uma Teoria e um Método.

Como Teoria, Freud propõe de que maneira se constitui o psiquismo


humano, introduzindo algo que ainda não havia sido adequadamente
tratado na Psicologia: a ideia de que existe algo além da consciência;
algo do domínio da subjetividade, que não é objetivo, visível, palpável,
em relação ao humano.

Lembrem-se que inicialmente pensava-se a Psicologia como a


Ciência que estudava o comportamento observável. Freud confronta
essa ideia, ao postular que não é o ‘observável’ que realmente
interessa à Psicologia na compreensão do humano, mas sim o
‘invisível’, aquilo que está no ‘inconsciente’.

Como Método, Freud propõe que a Psicanálise estabelece uma


forma acesso ao material inconsciente - a partir das “associações
livres” – possibilitando que aquilo que foi ‘recalcado’ (os traumas,
lembranças, vivências), ou seja, que foi puxado pra o ‘buraco negro’
do nosso psiquismo, possa vir à tona e possa ser trabalhado,
re-significado pelo indivíduo, na construção de uma forma de
funcionamento psíquico mais saudável.

Algumas noções fundamentais da Psicanálise

Apresentaremos agora, de maneira bastante resumida, algumas


das noções e conceitos fundamentais em Freud, que lhe auxiliarão a
compreender as bases da sua teoria.

Não queremos aqui falar desses conceitos de forma aprofundada,

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Psicologia I

pois não é esse o nosso objetivo, mas apenas trazer algumas


discussões que podem ser importantes quando pensarmos a sala de
aula.

Conforme já referimos no Volume 1, Freud propôs duas teorias


complementares sobre a estruturação do que ele chamou de
“aparelho psíquico”. A primeira, que aparece no livro A Interpretação
dos Sonhos (1900), postula a existência de três níveis de consciência:
o consciente, o pré-consciente e o inconsciente.

Como os nomes sugerem, na consciência está todo aquele material


psíquico ao qual temos acesso: as percepções, as informações do
mundo exterior, os pensamentos que estamos tendo nesse exato
momento.

O pré-consciente, por sua vez, diz respeito àquele material que


pode ser acessado e vir à consciência, caso seja evocado, mas que
no momento está em um nível mais profundo. Imagine se todas as
nossas lembranças, pensamentos e ideias estivessem na consciência
ao mesmo tempo. A nossa capacidade de aprendizagem e de
concentração estaria completamente comprometida.

Por fim, no inconsciente está aquele material que foi suprimido


da consciência, que está ‘guardado’ a sete chaves. Esse conteúdo
que é puxado para o inconsciente, na visão de Freud, estaria ligado à
censura, às repressões, à sexualidade, à agressividade, aos desejos
mais primitivos. Assim, todo esse conteúdo é ‘recalcado’, banido da
consciência, e só vêm à tona em sonhos, atos falhos, lapsos.

Podemos representar esses níveis de consciência como se fossem


um Iceberg: aquele bloco de gelo imenso, em grande parte submerso.
Veja a foto a seguir, tentando fazer um paralelo entre o iceberg e o
que Freud propôs:

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Psicologia I

CONSCIENTE
PRÉ-CONSCIENTE

INCONSCIENTE

A parte que emerge (que aparece do lado de fora) seria o material


disponível no consciente. A parte ora emersa, ora submersa (em
função do nível do mar) seria o material que está no pré-consciente:
ele poderá vir à tona quando evocado. Por fim, essa enorme parte
submersa seria o inconsciente: é lá que habita a maior parte do
nosso psiquismo, segundo essa teoria.

O que Freud propõe, então, na Segunda Teoria do Aparelho


Psíquico?

Entre 1920 e 1923, Freud aprofunda ainda mais a sua teoria,


propondo três outros conceitos que passaram a ter uma importância
fundamental na Psicanálise: id, ego, superego – que ele chamou de
Instâncias Psíquicas.

Resumidamente, o id seria o reservatório da energia psíquica, a


energia que é vital, que faz o humano ‘pulsar’. É lá que se localizam
as ‘pulsões’, e essa instância é regida pelo ‘princípio do prazer’.

O ego (eu, em latim), por sua vez, é regido pelo ‘princípio da


realidade’ e é a instância psíquica que tem por objetivo manter
o equilíbrio entre as pulsões do Id e as exigências do mundo real.
Podemos dizer que no caso de algumas ‘psicoses’ (que implicaria em
uma desordem na estruturação psicológica) há uma ‘quebra com a
realidade’, pois o ego é uma instância fragilizada, que não consegue
dar conta adequadamente da sua função. É por isso que a ‘loucura’
muitas vezes nos impressiona e assusta, porque nessa quebra com
a realidade a pessoa pode desenvolver comportamentos que são
absolutamente incompreensíveis ao mundo humano dito normal.

Por fim, o superego surgiria da internalização da lei, da censura,


da moral. É ele que institui o NÃO, a proibição da realização dos
desejos impulsivos oriundos do ID. Podemos dizer que o SUPEREGO
é o ‘herdeiro do complexo de édipo’. Mas o que é o ‘Complexo de
Édipo’?
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Psicologia I

Conheça Mais

Você conhece a história da mitologia grega que fala de Édipo,


Jocasta e Laio – o Mito de Édipo Rei?

Esse mito inspirou a noção de ‘Complexo de Édipo’, usado por


Freud. Mas o que diz a Mitologia?

Os personagens da mitologia grega exerceram sempre forte atração sobre a


cultura do Ocidente. Entre eles, a figura de Édipo merece destaque especial pelo
constante fascínio e pelas inúmeras interpretações de que foi objeto.

A primeira menção escrita à tragédia de Édipo aparece num trecho da Odisseia,


de Homero, mas a lenda, de origem provavelmente muito remota, inspirou outros
autores antigos, cujos trabalhos se perderam. Sófocles, no século V a.C., narrou
a história do personagem em três de suas obras mais notáveis: Édipo rei, Édipo
em Colona e Antígona.

Édipo, cujo nome significa “o de pés inchados”, era filho dos reis de Tebas, Laio e
Jocasta (a quem Homero chamou Epicasta). O oráculo do deus Apolo em Delfos
profetizou que, quando chegasse à idade adulta, ele mataria o pai e se casaria
com a mãe. Laio, horrorizado, ordenou que o filho fosse abandonado no bosque,
com os tornozelos amarrados por uma corda. Um pastor encontrou a criança
ainda com vida e levou-a a Corinto, onde foi adotada pelo rei Políbio.

Já adolescente, Édipo ouviu também a profecia do oráculo e, acreditando-se


filho de Políbio, fugiu de Corinto para escapar ao destino. No caminho, encontrou
um ancião acompanhado de vários servos. Desentendeu-se com o viajante e
matou-o, sem saber que era seu verdadeiro pai, Laio. Ao chegar a Tebas, Édipo
encontrou a cidade desolada. Uma esfinge às portas da cidade propunha aos
homens um enigma e devorava os que não conseguiam decifrá-lo. A rainha viúva,
Jocasta, prometera casar-se com quem libertasse a cidade desse monstro. Édipo
decifrou o enigma e casou-se com sua mãe, consumando a profecia.

Desse matrimônio nasceram quatro filhos: Etéocles, Polinice, Antígona e Ismene.


Passado o tempo, uma peste assolou Tebas e o oráculo afirmou que só vingando-
se a morte de Laio a peste cessaria. As investigações que se seguiram e as
revelações do adivinho Tirésias demonstraram a Édipo e Jocasta a tragédia de
que eram protagonistas. A rainha matou-se e Édipo vazou os próprios olhos e
abandonou Tebas, deixando seu cunhado Creonte como regente. Acolhido em
Colona, perto de Atenas, graças à hospitalidade do rei Teseu, Édipo morreu
misteriosamente num bosque sagrado e converteu-se em herói protetor da Ática.
A maldição de Édipo transmitiu-se a seus filhos, que tiveram igualmente destino
trágico.

Texto copiado integralmente do endereço:


http://www.emdiv.com.br/pt/mundo/povosetradicoes/1220-o-mito-de-edipo-grecia.html

E como Freud se inspira no Mito de Édipo para formular suas


proposições teóricas?

Essa é uma das noções mais divulgadas no senso comum, sobre


a Psicanálise. De modo sucinto, o Complexo de Édipo acontece
quando a criança, por volta de três a quatro anos, tem a mãe (no caso
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Psicologia I

do menino) - ou aquela que cumpre esse papel – e o pai (no caso da


menina) – ou aquele que cumpre essa função paterna - como seu
objeto de amor e de desejo.

Nesse sentido, no caso do filho homem, ao desejar


inconscientemente a mãe (ou substituta), a criança (também de
maneira inconsciente) rivaliza com o pai (ou substituto). É importante
reafirmar que esse desejo é da ordem do inconsciente e é fundamental
para a estruturação da sexualidade madura na vida adulta. Mas tal
Complexo precisa ser superado e esse desejo precisa ‘sucumbir’,
nessa trajetória de constituição de uma personalidade psiquicamente
saudável.

A superação do Complexo de Édipo é marcada pela introjeção


da Lei. É como se – sempre no nível inconsciente – a criança
compreendesse que o desejo por aquela mulher precisa ser interditado,
que ele não pode desejá-la, nem rivalizar com o outro.

Acontece, então, a repressão desse desejo e a identificação


com a pessoa do casal parental que tem o seu sexo. Ou seja: o
menino se identificaria com o pai, e a menina com a mãe. É como
se – inconscientemente se inscrevesse algo da seguinte ordem: “se
eu não posso desejar essa mulher (no caso do menino), porque ela
é desse homem, eu preciso ser igual a esse homem para ter uma
mulher igual a essa”! É a repressão desse desejo e internalização da
Lei que contribui para a formação superego.

Assim, o Superego representa a lei, a proibição, a consolidação


de uma estrutura que identifica aqueles desejos que devem ser
censurados. Um exemplo dessa censura na vida cotidiana pode ser a
seguinte: você tem uma raiva profunda de alguém que lhe fez algo que
lhe magoou ou prejudicou. Imediatamente você pode nutrir desejos
de destruição, de morte, de desaparecimento daquela pessoa. Mas
o seu superego, em seguida, atua, e faz com que você reprima esse
desejo.

Segundo a Psicanálise, algumas desordens na constituição do


psiquismo – da personalidade – podem estar relacionadas a um
Superego ‘frouxo’, fragilmente estruturado. Muitas vezes crimes
hediondos, com requintes de crueldade, onde o criminoso infringe
todas as leis humanas sem demonstrar qualquer sentimento de culpa,
poderia nos remeter a uma análise da estruturação do Superego
desse assassino, por exemplo. Muitos filmes, livros e pesquisas
procuram investigar a personalidade de criminosos que cometeram

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Psicologia I

delitos graves, como os assassinos em série (os tão famosos ‘serial


killers’ dos filmes americanos), analisando a estruturação patológica
da sua personalidade.

A imagem a seguir, também baseada na metáfora do iceberg,


procura mostrar como as instâncias id, ego e superego se localizam,
em termos de Consciente, Pré-consciente e Inconsciente.

Se levarmos em conta as duas teorias do aparelho psíquico (a


primeira sobre os níveis de consciência e a segunda sobre as instâncias
psíquicas), propostas por Freud, como se dá, então, a psicodinâmica
humana, ou seja, como o psiquismo humano ‘se move’?

A partir da compreensão da estrutura da psique humana, segundo


Freud, é preciso compreender como é sua dinâmica de funcionamento.
O ego, como era de se esperar, é ‘o equilíbrio da balança’. É ele que
vive tentando equilibrar os desejos primitivos do id, e a censura do
Superego. Por isso Freud postulou que ele era regido pelo ‘princípio
da realidade’. Mas todo esse funcionamento existe em função
do deslocamento da energia psíquica, a energia vital, que põe o
psiquismo em movimento, que é de origem inconsciente e origina-se
a partir do Id: a pulsão.

Pulsão, como o nome já sugere, é aquilo que ‘pulsa’ e, uma vez


que pulsa, gera vida, energia, movimento. Freud diz que a pulsão
tem uma origem – a fonte, que é corpórea, parcialmente instintiva
– e um destino – o objeto do desejo, que pode ser uma ‘coisa’, uma
‘pessoa’. A satisfação desse desejo faz parte do funcionamento
psíquico. Psiquicamente, o ser caminha em busca da realização de
seus desejos mais primários. E o ego, como já mencionamos, tenta
coordenar a satisfação desse desejo, as exigências da realidade e a
censura do Superego.
23
Psicologia I

É essa energia vital que faz com que tenhamos força para acordar
e lutar todo dia... ir em busca do novo emprego, enfrentar desafios,
disputar uma vaga de concurso, fazer sexo com a pessoa a quem se
deseja, estudar incessantemente para concluir um curso, etc.

Não é difícil entender porque a Teoria de Freud revolucionou


a Psicologia do início do Século XX, abalou as convicções teóricas
mais conservadoras, revolucionou tudo o que se pensava em termos
do funcionamento psíquico, particularmente das desordens de
personalidade.

Embora esse assunto mobilize o nosso interesse, é importante


que você esteja atento para o fato de que a Psicanálise não pode
ser compreendida em explicações sucintas. A formação psicanalítica,
por exemplo, leva anos e compreende um estudo muito aprofundado
de toda a obra freudiana. Interpretações simplificadas e inadequadas
da Psicanálise são feitas por aqueles que por lerem algum material,
acreditam que compreendem a teoria em sua essência.

É fundamental que se assuma uma postura cuidadosa em relação


a essa teoria. O que desejamos aqui foi trazer para você as bases para
a compreensão do quanto é profunda e sofisticada essa proposição
teórica, e o quanto a personalidade humana é muito mais complexa
do que podemos supor.

Cinema em Ação

São vários os filmes que enfocam a questão da Personalidade.


Alguns filmes que trazem uma abordagem interessante:

Dica de Filme

Freud, além da alma

O filme traça a trajetória de construção da Psicanálise, pelo


jovem médico vienense Sigmund Freud. Mostra os conflitos
vividos por esse jovem estudioso, os amigos que colaboraram
com suas investigações e preocupações teóricas; os demais
profissionais que rechaçaram a sua teoria. Merece destaque
a cena em que Freud vai apresentar suas conclusões em um
Seminário, na frente de uma plateia de profissionais atônita e
indignada com a ousadia teórica desse médico.

24
Psicologia I

Um filme obrigatório para estudantes de Psicologia e para todos


aqueles que se interessam em saber mais sobre a Psicanálise e suas
origens.

Procure no Google referências relativas a Freud, além da alma,


que você encontrará mais de 50.000 referências na web (apenas em
português!). No Youtube você encontrará vários trechos do filme e
inúmeros outros vídeos relacionados a Freud. Destaque para o trecho
do documentário do canal GNT sobre Freud falando da Psicanálise
(1min 33seg): http://www.youtube.com/watch?v=wRUUBH2oKxQ&NR=1

Vamos Revisar?

Dando continuidade à instigante discussão sobre Personalidade


humana, vamos refletir, no próximo capítulo, sobre a construção da
Identidade. Mas antes de avançarmos nessa discussão, façamos uma
breve revisão do que foi tratado nesse capítulo.

Resumo

O capítulo 2 desse volume foi dedicado à Psicanálise. O nosso objetivo não foi o
de fazer um tratado psicológico aprofundado dessa visão. Ao contrário, buscamos
trazer da forma mais simples possível, os principais conceitos cunhados por
Freud em seu arcabouço teórico.

A Psicanálise nasceu no início do século XX, a partir dos estudos de um jovem


médico vienese que se imortalizou com sua teoria: Sigmund Freud. Freud
postulou que o psiquismo não é algo pronto ao nascer, mas que ele se constitui,
a partir de um estreito limite entre corpo e mente. Freud postulou que existem
três níveis de consciência: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente; e
que nesses níveis estão presentes os conteúdos das vivências do indivíduo, em
sua história de vida. Como nem todos esses conteúdos podem ser acessíveis à
consciência, eles transitam entre os dois outros níveis (além do primeiro nível, a
consciência).

Postulou também, em sua segunda Teoria do aparelho psíquico, a existência


de três instâncias: Id, Ego e Superego; que se conflitam e buscam, a partir do
Ego, uma relativa estabilidade, para que a vida psíquica possa ser mais plena.
O Id é a parte mais primária, mais ‘visceral’ do aparelho psíquico, regido pelo
‘princípio do prazer’. O Ego, por sua vez, é regido pelo ‘princípio da realidade’
e é o equilíbrio entre as forças antagônicas da psique humana. O Superego
representa a introjeção da Lei, dos valores morais, da censura.

Por fim, a teoria de Freud teve um impacto fundamental nas concepções acerca do
ser humano, no início do século passado. Por isso mesmo, ele foi tão contestado,
criticado, admirado, amado por uns e odiado por outros. Uma teoria que causa
um transtorno de tal nível numa Ciência e opiniões tão controversas merece, pelo
menos, ser cuidadosamente considerada, porque algo de muito importante ela
deve trazer, para incomodar tanto toda uma comunidade científica.

25
Psicologia I

Capítulo 3

A Construção da Identidade do Indivíduo

O que vamos estudar neste capítulo?

O capítulo que começaremos a estudar complementa a discussão


travada acerca da personalidade humana e do seu desenvolvimento.
Ampliaremos essa discussão psicológica, para uma reflexão mais
psicossocial, trazendo elementos teóricos para a análise de como
se forma a Identidade do indivíduo, ao longo de sua existência, no
contexto social.

O autor que referendaremos nesse capítulo será o psicanalista


Erik Erikson e sua discussão acerca das oito fases que caracterizam
o que ele chamou de Estágios do Desenvolvimento Psicossocial.

Acreditamos que esse enfoque é fundamental para o profissional de


educação e que as discussões propostas no capítulo proporcionarão
momentos de reflexão cruciais para sua formação.

26
Psicologia I

Capítulo 3 – A Construção da
Identidade do Indivíduo

Vamos conversar sobre o assunto?

Quem somos nós? O que nos caracteriza como ser humano?


Quais são os traços que nos marcam e fazem com que as pessoas
elaborem uma ideia sobre nós?

É assim que vamos começar esse capítulo! Comece pensando


sobre você e liste algumas das características que lhe definem, que
lhe difere de outras pessoas, que lhe faz um ser único e particular, no
meio de tantas pessoas.

Quem é você? Procure responder a essa questão!

Quando você conhece alguém ou está se apresentando em alguma


situação - primeiro dia de aula numa turma nova, seleção para um
emprego, uma pessoa interessante que você acaba de conhecer -
você procura ‘se definir’:

“Eu sou assim... Eu gosto das coisas de ‘tal’ jeito... Eu penso da


seguinte maneira... Eu gosto desse tipo de música, de filme, de livro.
Esse tipo de comportamento das pessoas não me agrada, etc.”

27
Psicologia I

Todas essas características permitem a você se definir, se


apresentar ao mundo e se perceber como alguém único e particular.
Para a Psicologia, o que definiria essa noção é o conceito de
identidade.

O que me torna diferente de outras pessoas da minha idade, do


meu grupo de trabalho, da minha família?

O que, em minha vida, contribuiu para eu ser quem sou hoje?

Quais os conflitos internos que mais me consomem?

Atividades e Orientações de Estudo

Mas o que é identidade para a psicologia? Pensemos um pouco


sobre isso...

A partir do que refletirmos nos capítulos anteriores, podemos


concluir que a Personalidade se constitui no humano a partir das
relações que ele estabelece - a partir das formas de interação com
o outro, e de como esse humano internaliza tais interações. E essa
constituição da Personalidade está estreitamente relacionada à
formação da Identidade. Quando lhe perguntam quem é você? Uma
primeira resposta possível é você dizer o seu nome: Eu me chamo
João/Ana/Pedro/Maria...

A criança, desde bem pequena, começa a se identificar a partir


do seu nome. No início, antes mesmo de utilizar o pronome EU, ela
refere-se a si própria pelo nome: “Pedro quer água!” Esse é um dos

28
Psicologia I

primeiros caminhos perceptíveis, de construção da Identidade. Ela é


capaz de se reconhecer no espelho, e ao ver sua imagem refletida, de
pronunciar o seu próprio nome frente a essa imagem.

No livro de Ana Bock, uma das principais referências que utilizamos


na construção desses volumes, na página 203 (ver referência completa
nos anexos), a autora descreve Identidade, segundo o psicanalista
André Green. Para ele:

O conceito de Identidade agrupa várias ideias, como a noção de permanência,


de manutenção de pontos de referência que não mudam com o passar do tempo,
como o nome de uma pessoa, suas relações de parentesco, sua nacionalidade.
(...) o termo identidade aplica-se à delimitação que permite a distinção de uma
unidade.(...) a identidade permite uma relação com os outros, propiciando o
reconhecimento de si.

Mas, ao mesmo tempo, quando dizemos que nós nos constituímos


a partir do outro, podemos pensar que temos uma identidade única,
mas também uma identidade coletiva. Ser brasileiro, nordestino,
nortista, sulista, também marca a nossa identidade. Muitas vezes até
falamos de uma identidade mais coletiva: o povo brasileiro é caloroso!
O nordestino é um povo sofrido e batalhador! E não pára por aí...
Costumamos dizer que o adolescente é contestador. Que os idosos
são saudosistas, que crianças criadas pelos avós são mimadas.

Isso nos remete a algo que também está ligado à Identidade Social:
os ‘estigmas’. Os estigmas se referem às ‘marcas’ que a sociedade
atribui a uma determinada pessoa ou um grupo de pessoas. Essas
marcas muitas vezes conduzem aos preconceitos que, como o nome
já diz, é um conceito anterior ao próprio conhecimento.

Quem nunca percebeu que a sociedade estigmatiza o menino e


o adolescente de rua como sendo perigoso e tendo propensão ao
crime? Ou então a ideia de que todo ‘hippie’ é sujo ou que o ‘punk’ usa
drogas. Quantos outros estigmas carregam a marca do preconceito e
da exclusão social?

29
Psicologia I

Mas a identidade não é algo que se define de uma vez por todas.
Ao longo da vida, o indivíduo enfrenta crises de identidade, e duas
das mais faladas são as famosas ‘crise da adolescência’ e ‘crise da
meia idade’. Falaremos um pouco mais sobre essas ‘crises’ e os
conflitos que permeiam as idades, quando nos referirmos à Teoria de
Erik Erikson.

A identidade também passa pela forma como nos percebemos.


O adolescente, por exemplo, passa a perceber que seu corpo muda,
sua voz muda, seus interesses mudam. Agora, a menina não mais
tem o desejo de brincar de boneca, e passa, por exemplo, a perceber
os meninos de uma forma como nunca havia percebido até então.

Na ‘meia idade’ e na velhice isso também, em parte, acontece: o


corpo muda. A pele já não tem mais o mesmo viço, a disponibilidade
física já não é mais a mesma, o que era valorizado antes, passa agora
não ter mais tanto valor.

Nesses momentos de rupturas e crises, os indivíduos repetem para


si a pergunta: quem sou eu? O que mudou em mim? Os momentos
de crise tanto podem ser momentos consolidadores e estruturadores
para o indivíduo, como também podem ser momentos completamente
desestruturantes.

30
Psicologia I

Boa parte das famílias fica atenta aos seus jovens que entram
na adolescência. Costumam ver com que companhias eles andam,
que tipo de lugares costumam frequentar, e a escola tem um papel
fundamental no apoio ao adolescente, para que ele não ‘se perca’
em meio a tantas mudanças e ao profundo abalo que sofre a sua
identidade de criança.

Se você pensar que será professor e que lidará, sobretudo,


com adolescentes, você poderá imaginar com quantas diferentes
identidades você terá de lidar, com quantas formas de vestir, de falar,
de se revelar como aluno(a) você irá se deparar, ao longo de um
tempo de convívio com os jovens estudantes.

Outro aspecto que merece destaque é o fato de que, em função da


questão da ‘identidade pessoal’, buscamos coisas e pessoas com as
quais nos identifiquemos. É isso que faz com que os jovens vivam em
grupos, ‘bandos’, como se quisessem também se perceber no outro.
A questão da identificação e da empatia perpassa exatamente por
essa necessidade de se sentir aceito em um grupo com o qual nos
identificamos.

Por fim, considerando toda a questão da Personalidade, da


Identidade, das crises de identidade, podemos nos remeter à arte.
As artes, de maneira geral, e a literatura, particularmente, revelaram
de forma muito fascinante as questões que dizem respeito ao EU, à
Identidade, à procura da resposta à pergunta: ‘Quem sou eu, o que
quero do futuro? O que espero construir na trajetória da minha vida?’

Que tal você se deleitar um pouco com a beleza de um desses


textos, aqui representado por Carlos Drummond de Andrade?
Drummond foi um dos maiores poetas brasileiros. Trazemos aqui,
para você, um de seus poemas mais conhecidos, e que foi musicado
de forma encantadora pelo cantor e compositor Paulo Diniz.

Acreditamos que esse texto revela as crises de identidade que


vivemos ao longo de nossa existência. Quem é José? Como se
constituiu a sua identidade? O que faz com que ele hoje viva essa
‘crise’? Quantas vezes nós próprios somos o José de Drummond?

31
Psicologia I

Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987)


JOSÉ (Carlos Drummond de Andrade)

E agora, José? Com a chave na mão


a festa acabou, quer abrir a porta,
a luz apagou, não existe porta;
o povo sumiu, quer morrer no mar,
a noite esfriou, mas o mar secou,
e agora, José? quer ir para Minas,
e agora, você? Minas não há mais.
você que é sem nome,
que zomba dos outros, José, e agora?
você que faz versos,
que ama, protesta? Se você gritasse,
e agora, José? se você gemesse,
se você tocasse
Está sem mulher, a valsa vienense,
está sem carinho, se você dormisse,
está sem discurso, se você cansasse,
já não pode beber, se você morresse...
já não pode fumar, Mas você não morre,
cuspir já pode, você é duro, José!
a noite esfriou,
o dia não veio, Sozinho no escuro
o bonde não veio, qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
O riso não veio sem parede nua
não veio a utopia para se encostar,
e tudo acabou sem cavalo preto
e tudo fugiu que fuja a galope,
E tudo mofou, você marcha, José
E agora, José? José, para onde?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

(Poema musicado pelo cantor e compositor Paulo Diniz)

32
Psicologia I

A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial de


Erik Erikson e as Oito Idades do Homem

Quando falamos na construção da Identidade do ser humano,


um dos nomes que a Psicologia referenda é o do psicanalista Erik
Erikson. Erikson trabalhou com a filha de Freud, Anna Freud, mas não
focalizou seus estudos no Id e no Inconsciente, como a Psicanálise,
de maneira geral, e sim, no Ego e nos conflitos egóicos ao longo do
desenvolvimento humano.

Nesse foco dado ao Ego, Erikson propõe que o desenvolvimento


da identidade é pontuado por conflitos, por demandas antagônicas e
polarizadas, que promovem crises de identidade. Essas crises, por
sua vez, buscam um desfecho do conflito instituído. Segundo esse
estudioso, o desfecho pode ser positivo ou negativo, dependendo do
polo para o qual o indivíduo se encaminhe nessa construção.

Quando o desfecho é positivo, o Ego torna-se mais forte e estável.


No caso do desfecho negativo, ele se torna mais fragilizado. Uma vez
que esses conflitos se constituem a partir de vivências sociais e de
como elas implicam no individual, a teoria de Erikson é considerada
como uma Teoria do Desenvolvimento Psicossocial.

Esse desenvolvimento, por sua vez, ocorre em estágios que


implicam a vivência, resolução e superação do conflito, possibilitando
o desenvolvimento e o caminhar em direção a um novo estágio.

São oito os estágios propostos por Erikson e o dualismo entre os


polos opostos dão nome a esses estágios:

1. Confiança básica x Desconfiança básica;

2. Autonomia x Vergonha e dúvida;

3. Iniciativa x Culpa;

4. Diligência/Construtividade x Inferioridade;

5. Identidade x Confusão de identidade;

6. Intimidade x Isolamento;

7. Generatividade x Estagnação;

8. Integridade x Desesperança.

Falemos brevemente de cada uma dessas fases...

33
Psicologia I

1. Confiança básica x Desconfiança básica

Essa fase ocorre em torno do primeiro ano de vida, que é quando


a criança (o bebê) está em um momento pleno de imperícia. Ou seja,
ele não pode cuidar de si e precisa de alguém que o alimente, cuide
de sua higiene, dê-lhe conforto, prepare-o para esse mundo fora do
ventre materno e ainda tão desconhecido. A solução positiva desse
antagonismo se dá quando a criança se sente protegida, amada,
cuidada. O contrário ocorre justamente em situações de abandono,
que não se trata apenas do abandono físico, mas de psiquicamente
ela se sentir abandonada por quem lhe deveria cuidar. A confiança e
segurança mais tarde se traduzirão no adulto que consegue construir
relações nas quais se sente seguro, confortável, afetivamente
estável.

2. Autonomia x Vergonha e dúvida

Entre o segundo e o terceiro ano de vida a criança vivencia esse


conflito na construção de sua identidade. É nesse momento que ela
passa a explorar mais o mundo, a partir da sua fala, do caminhar, do
brincar. O que é fundamental na superação desse conflito é que a
família dê condições à criança de explorar autonomamente o mundo
e a si própria, tomando consciência de seu corpo e de que ela ocupa
um lugar no mundo. A resolução negativa desse conflito gera uma
insegurança nos atos da criança (e, mais tarde, em sua vida adulta),
dependendo sempre do adulto para realizar as coisas por e para ela.

34
Psicologia I

3. Iniciativa x Culpa

Essa fase se institui entre o quarto e o quinto ano. É nessa fase


que a criança amplia suas relações sociais, vai à escola, interage mais
diretamente com outros adultos e crianças de sua faixa etária, que
não fazem parte do meio familiar. É quando ela começa também a
exercitar os papeis que deve cumprir na sociedade, inclusive os papeis
sexuais. Ela passa a se perceber menino ou menina, com roupas
e brincadeiras próprias de cada sexo. Essa descoberta, inclusive
da sua própria natureza sexual, pode vir carregada de culpa ou ser
vivida de forma natural e saudável. A forma como os grupos sociais
dos quais a criança faz parte encaram a vivência dessa fase tem uma
implicação na resolução dos conflitos a ela inerentes. A criança que
vive bem essa fase tem a possibilidade de se tornar um adulto com
maior capacidade de iniciativa, com menos sentimentos de culpa em
relação às suas vivências e experiências.

4. Diligência/Construtividade x Inferioridade

Entre os seis e os onze anos de idade, Erikson identifica uma


fase onde as crianças descobrem seu potencial intelectual, sua
capacidade de aprender, conhecer coisas, alfabetizar-se. Essa é
uma fase especialmente importante, pois a curiosidade de conhecer
e interpretar o mundo está mais aguçada e acontece de forma mais
intencional, a criança ‘deseja’ de fato conhecer e explorar o que o
mundo lhe oferece. A escola tem um papel fundamental no incentivo
a essas descobertas, à curiosidade, à busca de respostas aos seus
questionamentos sobre o mundo. Essa fase antecede a adolescência e
uma resolução positiva desse conflito possibilita à criança (e ao futuro
adolescente e adulto) o desenvolvimento de uma postura construtiva
perante o mundo. Ao contrário, uma vivência negativa desse conflito,
gera sentimentos de inferioridade, de impotência frente aos desafios
com os quais ela se deparará.

35
Psicologia I

5. Identidade x Confusão de identidade

Essa crise central da Identidade se desenvolve na adolescência.


Erikson propõe que o quinto estágio se estabelece entre os 12 e 18
anos, que é justamente a vivência da adolescência e entrada na vida
de adulto jovem. Talvez você ainda se lembre do quanto essa crise é
perceptível. É aqui que o adolescente perde os contornos do corpo
infantil e passa agora a entrar numa transição que não é simples para
ele: ele não é mais juma criança, mas ainda não é um adulto. Quem
sou eu? O que quero ser quando crescer? Cadê os meus pais super-
heróis da infância? A forma como o adolescente chega a essa fase é,
em larga medida, resultado das resoluções dos conflitos vividos nas
fases anteriores. Por outro lado, a resolução dos conflitos inerentes
a essa fase também determinarão o adulto que começa a se formar.
A crise vivida na adolescência é, talvez, uma das mais identificadas
pela sociedade e pelo senso comum. A construção dessa identidade
passa também por procurar estar inserido em grupos com os quais
o adolescente se identifica: todos passam a usar uma linguagem
parecida, vestir-se de forma semelhante, imitar os seus ídolos da TV. É
fundamental que a família e a escola estejam atentos às necessidades
do adolescente que, embora aparentemente rebelde, necessita e
‘pede’ que lhes sejam impostos limites e apontadas direções para o
seu desenvolvimento.

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Psicologia I

6. Intimidade x Isolamento

Na vida adulta existem dois elementos que fortemente caracterizam


essa fase e que geram conflitos: a vida profissional e a vida afetiva.
No que tange à vida afetiva, o indivíduo oscila entre a intimidade, a
entrega afetiva; e o isolamento, a solidão. É, em geral, o momento
onde o indivíduo busca relações mais duradouras, com construções
mais profundas em relação ao outro, com a possibilidade da vivência
da maternidade/paternidade. Esse momento, aliado e influenciado,
em certa medida, pela estabilidade profissional e financeira, faz com
que conflitos possam emergir e pode fazer com que o indivíduo viva,
por períodos mais curtos ou mais longos, a opção pelo isolamento.
O adulto maduro e com o ego mais fortalecido consegue estabelecer
relações afetivas positivas e duradouras, e consegue se relacionar de
forma igualmente positiva em suas relações sociais e profissionais.
Por outro lado, o desfecho negativo desses conflitos faz o indivíduo
caminhar rumo a uma imaturidade afetiva nas relações vivenciadas.
Como diz a psicanálise, o indivíduo saudável é aquele que consegue
‘amar, trabalhar e se relacionar’.

7. Generatividade x Estagnação

Esse estágio, vivido na meia idade, é caracterizado por conflitos


relacionados à sua ‘produtividade’ em todos os sentidos: se teve
filhos ou se ainda os deseja ter; se seus projetos profissionais foram
consolidados ou se desejava recomeçar de outra forma. Nesse
momento, o indivíduo questiona o que produziu até agora e avalia se
suas conquistas e produções são sólidas, estão consolidadas. Caso
o seu sentimento em relação ao que já fez não seja positivo, ele pode
se sentir ‘parado no tempo e no espaço’, estagnado, sem a energia
vital para começar de novo, buscar novos caminhos que o conduzam
a uma plenitude afetiva, profissional, pessoal. Essa fase tem a ver
com a tão falada crise dos 40 ou 50 anos, quando olhamos para trás

37
Psicologia I

e nos perguntamos: o que eu fiz de minha vida? As escolhas que fiz


foram as mais acertadas? As coisas da quais abri mão, de fato eu
precisava ter abandonado? Quantos projetos de minha vida não foram
realizados e ficaram para trás? O que ainda posso e desejo mudar
em minha vida? A pessoa que viveu de forma satisfatória os estágios
anteriores provavelmente chegará a esse momento sentindo-se mais
realizado, satisfeito com as escolhas que fez, ciente da opção de ter
desistido de certos planos, mas ainda com força e vigor para continuar
sua caminhada.

8. Integridade x Desesperança

Essa é, para Erikson, a fase final do ciclo psicossocial humano.


A forma como o indivíduo chega à terceira idade ou à velhice, e a
maneira como ele vive essa fase é o resultado de um Ego íntegro,
forte, ou de um Ego fragilizado, como se a pessoa fosse se sentindo
‘despedaçando’ ao longo de sua vida. Hoje em dia, em pleno Século
XXI, os idosos têm outras aspirações. Boa parte deles não se aposenta
e apenas espera a morte chegar. Hoje, eles se permitem continuar
produtivos, amar, ter vida sexual, como voltaremos a falar no próximo
capítulo. Isso implica dizer que a própria sociedade, os avanços
da medicina, e tantas outras questões, possivelmente permitem ao
indivíduo chegar nessa fase mais inteiro, percebendo-se como um
ser pleno, e não, como um ser despedaçado pela vida, decadente e
desesperançoso.

38
Psicologia I

A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial de Erikson consegue


analisar, de maneira muito cuidadosa, as diversas fases na construção
da identidade humana. Ela revela que essa identidade não é algo que
se constitui de uma vez por todas e que também não se forma em um
único momento da vida. Ela é um processo permanente de construção-
desconstrução-reconstrução, como se estivéssemos sempre em um
processo de ‘vir-a-ser’.

Que tal agora, depois dessa abordagem, você fazer o seguinte exercício: procure
identificar oito pessoas com as quais convive (uma delas pode ser você próprio),
que se situem em cada uma das oito fases sugeridas por Erikson. Após encontrar
essas pessoas, procure ver se você consegue identificar os conflitos aos quais
Erikson se remeteu. Esse é um exercício interessante, porque pode fazer com
que você passe a perceber de forma diferente alguém a quem você olhava com
uma postura crítica, por não ter clareza dos processos conflitivos vividos nessa
fase. Vale a pena discutir com o(a) professor(a) e os(as) colegas a que conclusões
você chegou.

39
Psicologia I

Dica de Filme

Conduzindo Miss Daisy


Ano: 1989 – Direção: Bruce Beresford

O excelente filme Conduzindo Miss Daisy é uma ótima


oportunidade de você refletir um pouco sobre a questão da
identidade e a chegada à terceira idade.

Após um acidente de carro, uma velha excêntrica é obrigada


pelo filho a conviver com um motorista negro contratado por
ele. É o início de uma amizade que dura 20 anos. Dirigido
por Bruce Beresford (A Última Chance) e com Jessica Tandy,
Morgan Freeman e Dan Aykroyd no elenco. Vencedor de 4
Oscars.

Dica de Filme

Um homem de família
Ano: 2000 – Direção: Brett Ratner

Entediado com sua vida de solteiro, em um belo dia um


investidor frustrado acorda e se vê casado com sua namorada
de colégio e pai de duas crianças.

Um filme que vale a pena conferir, para os que querem refletir


sobre as escolhas da vida adulta. Recomendamos!

40
Psicologia I

Vamos Revisar?

Resumo

No capítulo 3 desse volume, tratamos da noção de Identidade. Discutimos que


a Identidade é algo que se constrói ao longo da vida, e que implica em vivências
de ordem afetiva e social. Trouxemos como aporte teórico para essa reflexão,
a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial do psicanalista Erk Erikson, que se
centra na questão da constituição do Ego, partindo do que Freud fala sobre essa
noção.

Erikson propõe que a construção do Ego – que marca o desenvolvimento de


nossa Identidade – é pontuada por sentimentos ambivalentes, por conflitos e
forças antagônicas que travam ‘lutas’ dentro de nós. A forma como vivemos e nos
relacionamos faz com que a resolução desses conflitos penda para um ou outro
polo: quando a resolução é positiva, o Ego se fortalece e a Identidade se constitui
de forma positiva e saudável. Ao contrário, quando a resolução dos conflitos é
negativa, passamos para a próxima fase com essa marca e o Ego se fragiliza,
comprometendo o andamento desse processo de desenvolvimento.

Erikson situa oito fases ou idades em que os conflitos são mais acentuados e
sua resolução mais ou menos estruturante. Essas fases vão desde o primeiro
ano de vida, passando pela infância, adolescência, juventude, maturidade e
envelhecimento.

A proposta teórica desse estudioso muito contribui para a Psicologia e para os


demais campos que buscam pesquisar o desenvolvimento humano e sua vida
em sociedade.

O próximo, e último capítulo, tratará do desenvolvimento humano, de uma maneira


global. Na verdade, ele é o desfecho dessa discussão iniciada no primeiro
capítulo, quando começamos a tratar a temática da personalidade humana e de
seu desenvolvimento ao longo da vida.

41
Psicologia I

Capítulo 4

Desenvolvimento Humano

O que vamos estudar neste capítulo?

Esse é o último capítulo desse volume e da nossa disciplina.


Nele, nós estudaremos o desenvolvimento humano, particularmente
a adolescência, que é a fase em que estarão a maioria dos alunos
com os quais você trabalhará. Enfocaremos, também, a escolha
profissional e o que envolve esse momento de decisão na vida do
jovem.

Partiremos da reflexão acerca do que se processa na vida


intrauterina, entendendo que esse é um momento intenso de
desenvolvimento, embora não possamos ainda reconhece-lo como
uma fase de desenvolvimento psicológico. Enfocaremos o nascimento
e primeiro ano de vida, ressaltando a importância dos primeiros
vínculos para um desenvolvimento saudável, em todos os âmbitos do
ser humano.

Falaremos também sobre as diversas fases da infância e nos


dedicaremos, por último, à adolescência, focalizando, inclusive, a
questão da escolha profissional e das questões psicossociais que a
envolvem.

Tomaremos como referência o médico e psicólogo francês Henry


Wallon, que propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, a
análise do desenvolvimento do indivíduo nos campos intelectual,
afetivo e motor, para a constituição do EU.

42
Psicologia I

Capítulo 4 – Desenvolvimento
Humano

Levantamento de Conhecimentos Prévios

1. O que é desenvolvimento? O que caracteriza o desenvolvimento


humano?

2. Qual a relação entre hereditariedade e meio ambiente no desenvolvimento do


ser da espécie humana? Essa relação é a mesma em todos os mamíferos?

3. Quando começa o desenvolvimento e quando ele para/acaba?

4. A passagem da infância para a adolescência implica em desenvolvimento, não


é? Acreditamos que você também entende a passagem da adolescência para
a vida adulta como desenvolvimento. Mas a passagem da vida adulta para a
velhice – a ‘senilidade’ – também pode ser entendida como desenvolvimento?
Por quê?

Pense um pouco sobre isso e anote o que você refletiu, em


uma folha de papel ou em um arquivo no editor de textos.

Atividade de Estudo

O que é Desenvolvimento?

Percebeu que não é fácil falar sobre o desenvolvimento humano?


Ele é algo que nos parece tão óbvio, mas que, ao mesmo tempo, é tão
difícil de explicar! Vamos tentar refletir com você sobre as questões
que colocamos anteriormente, e você confronta os nossos argumentos
com as hipóteses que você levantou.

43
Psicologia I

Talvez pudéssemos começar dizendo que desenvolver-se é passar


de um estágio a outro; sendo que cada estágio é marcado por uma
forma específica de estruturação, organização, funcionamento, ‘forma
de ser’ do humano, tanto no aspecto físico, quanto no intelectual,
moral, afetivo, social.

Pensando desse jeito, podemos supor que o desenvolvimento se


inicia com o começo da vida, quando, a partir do zigoto ou célula ovo,
começa o processo de reprodução celular, com a multiplicação dessa
célula em dezenas, centenas, milhares, milhões, bilhões de outras,
dando origem à complexa estruturação humana.

O momento exato em que se pode afirmar que começou a existir


Vida é algo para o qual não se tem consenso. Para muitos (como é o
caso do enfoque religioso), a vida começa no instante da concepção;
para outros (boa parte dos cientistas), a vida começa com a produção
das células nervosas, que embora seja ainda no início da gravidez,
não estaria relacionada aos seus primeiros instantes.

O ser da espécie humana é o mais suscetível ao ambiente físico


e social em sua constituição. Enquanto que as características dos
outros animais - mesmo os mamíferos mais desenvolvidos, como os
primatas – são definidas biologicamente, no humano há uma relação
de interação entre hereditariedade e meio ambiente.

Numa perspectiva mais histórica (que é a que defendemos)


podemos dizer que muito mais do que geneticamente constituído,
a constituição humana é histórica. A história/cultura transforma o
indivíduo, inclusive modificando suas estruturas biológicas, como já
discutimos em outro Módulo.

Assim, se nos remetermos à concepção de desenvolvimento do


médico e psicólogo francês Henry Wallon (1879-1962), podemos dizer
que o ser humano é - nas suas palavras - organicamente cultural.

44
Psicologia I

O desenvolvimento só cessará com a morte, caracterizada pela


falência do funcionamento corpóreo, pela ausência de necessidades:
não é necessário mais respirar, alimentar-se, pulsar. Essa ‘pulsação’
do humano é que o faz estar vivo. E quando falamos em pulsação, não
nos referimos apenas à pulsação orgânica, mas à pulsação psíquica,
que também implica num dispêndio de energia vital, como já falamos
em discussões anteriores.

Nessa mesma linha de raciocínio, e ainda seguindo a concepção


de Henry Wallon, o envelhecimento também é desenvolvimento,
porque implica em outra forma de funcionamento dos órgãos, de outra
constituição do humano. Esse estudioso propõe que o desenvolvimento
pode ser entendido de maneira ‘evolutiva’ e ‘involutiva’.

Do ponto de vista evolutivo, diria respeito ao desenvolvimento e


aprimoramento de funções que antes não existiam ou existiam de
maneira precária, como por exemplo, passar do engatinhar ao andar.

Quanto ao desenvolvimento em seu caráter involutivo, esse


implicaria na perda, na involução de determinadas funções, como a
diminuição da capacidade visual e auditiva a partir da meia idade.
Assim, nessa concepção, o idoso também é um indivíduo em
desenvolvimento.

Podemos refletir que a concepção meramente evolutiva do


desenvolvimento também nos remete à pouca valorização que
as sociedades ocidentais historicamente deram aos idosos. Nas
sociedades orientais, por exemplo, ser ‘velho’ sempre foi sinônimo
de sabedoria, de experiência, e há uma busca pela longevidade. No
Ocidente, envelhecer é um processo que mexe profundamente com
as pessoas do ponto de vista psicológico. Muitos afirmam preferir a
morte à velhice!

De algumas décadas para cá as sociedades vêm se modificando


e o processo de envelhecimento começa a ser vivido de uma forma
mais saudável. Com a evolução da genética – particularmente da
Engenharia Genética e da Embriologia – foi possível mapear o DNA
humano. Com as pesquisas com células-tronco, no futuro talvez seja
possível regenerar órgãos comprometidos por doenças, e descobrir os
mistérios do funcionamento cerebral e das doenças degenerativas que
o atingem, como, por exemplo, o Mal de Alzheimer. O desenvolvimento
da Ciência garante ao humano a possibilidade do envelhecimento de
forma saudável e socialmente produtiva.

45
Psicologia I

O idoso hoje pratica esportes, tem vida social, tem vida sexual
ativa, viaja, trabalha, produz, vive de forma tão independente quanto
possível.

Fases do desenvolvimento humano

O Desenvolvimento Intrauterino

Em nenhum outro momento da vida humana o desenvolvimento se


dá de forma tão rápida e com tamanha complexidade, como na vida
intrauterina. Os órgãos são formados, os sistemas e aparelhos são
constituídos, e o feto vai, pouco a pouco, consolidando as funções
fundamentais que lhe possibilitarão sobreviver fora do útero, embora
ainda precise de quem cuide dele.

O Bebê no Primeiro Ano de Vida

No primeiro ano de vida o desenvolvimento é surpreendente: de


um ser que apenas responde com reflexos aos estímulos do ambiente,
passamos a ter alguém que – havendo um desenvolvimento dentro
dos padrões esperados – sorri, balbucia, passa de um completo
estágio de imperícia física para um estado de domínio do próprio
corpo. O bebê aprende a sentar, a rolar, a engatinhar, a andar, tudo
isso praticamente no espaço de um ano.

46
Psicologia I

Henry Wallon propôs que a constituição psicológica da pessoa


completa implica no desenvolvimento conjugado dos aspectos físico
(ou motor), intelectual (ou cognitivo) e emocional (ou afetivo). Para
este teórico, é a partir das múltiplas interações entre esses campos –
motor, cognitivo, afetivo – que se constitui e desenvolve o humano.

No primeiro ano de vida as principais conquistas no


desenvolvimento do bebê são:

» Do ponto de vista motor: a substituição de atos reflexos por


movimentos voluntários e controlados de forma cada vez mais
competente. O bebê, que apenas respondia de forma reflexa,
pode agora, por exemplo, esticar-se para pegar um brinquedo
de seu interesse ou caminhar na direção do brinquedo para
pegá-lo.

» Do ponto de vista intelectual: em relação à linguagem, por


exemplo, o bebê aprende a reconhecer os objetos pelo nome.
E embora ele possa ainda não articular perfeitamente a fala,
já reconhece o nome de pessoas e objetos que o rodeiam,
podendo balbuciar esses nomes ou até, em função das
diferenças individuais, chegar ao final do primeiro ano dizendo
pequenas frases e com um vocabulário de algumas dezenas
de palavras.

» Do ponto de vista das relações afetivas/sociais: o bebê


cativa as pessoas ao seu redor com as conquistas que
realiza. É capaz, pouco a pouco, de sorrir para quem chega,
de demonstrar afeto, de imitar gestos simples (como ‘fazer
besouro’), de chorar quando alguém que ele quer bem se afasta.
As características particulares desse bebê já começam a ser
percebidas: se é risonho, arisco, preguiçoso, ativo, ‘chorão’.

E ao longo da infância, como se processa o


desenvolvimento?

Ao longo dos demais anos da infância, o desenvolvimento continua


de maneira cada vez mais surpreendente. No final do segundo ano
de vida o ambiente físico já é completamente dominado pelo bebê/
criança. Ele/ela é capaz de procurar objetos que não estão no seu
campo visual, implicando dizer que conseguem memorizar, recordar,
simbolizar os objetos ausentes e os eventos passados.

Em torno de três a quatro anos, em condições esperadas de

47
Psicologia I

desenvolvimento, a criança já possui um vocabulário rico, sendo


capaz de travar diálogos com outras crianças e com os adultos.
Sua destreza motora é surpreendente, correndo com desenvoltura,
andando de bicicleta e conseguindo pegar em objetos que implicam
em gestos mais delicados, como o mouse de um computador.

Aos seis/sete anos, em condições de desenvolvimento adequadas,


a criança já está lendo e já consegue fazer operações matemáticas, o
que lhe permite estar e interagir no mundo de uma maneira muito mais
sofisticada. Nessa mesma fase, já consegue entender, por exemplo,
as regras de um jogo, como o futebol; e algumas até compreendem
os complexos jogos de tabuleiro, como o xadrez.

Do ponto de vista afetivo e social, a criança amplia o número de


pessoas com as quais se relaciona e já consegue ter seus ‘melhores
amigos’. Identifica-se com algumas pessoas, procurando até imitá-las
em seus comportamentos.

A escola passa a entrar na vida da criança de uma forma mais


intensa e seu processo de aprendizagem de conteúdos curriculares
se intensifica.

48
Psicologia I

Mas o desenvolvimento, embora em alguns momentos siga um


padrão que nos pareça ‘linear’, também apresenta momentos de
saltos bruscos, em que se passa de uma etapa de desenvolvimento
para outra. Nesse processo, constitui-se um novo corpo, uma nova
forma de relacionar-se afetiva e socialmente, uma nova maneira
de perceber intelectualmente o mundo. Um dos momentos em que
essas transformações acontecem de forma mais perceptível é na
adolescência.

E o que é entrar na adolescência? O que acontece com o corpo


e a ‘cabeça’ daquela pessoa que até pouco tempo atrás era apenas
uma criança?

Falaremos um pouco sobre isso em seguida, mas queremos,


antes, sugerir alguns filmes que podem ser interessantes para você
explorar a vida intrauterina, a infância, enfim, o desenvolvimento de
maneira global.

Dica de Filme

Minha Vida
Ano: 1993 – Direção: Bruce Joel Rubin

Sinopse: Bob Jones (Michael Keaton), proprietário de uma


empresa de relações públicas, tem um casamento sólido e
feliz. Gail Jones (Nicole Kidman), sua mulher, espera um filho,
mas ele é portador de um câncer inoperável e tem os dias
contados Com isso, decide então gravar um vídeo para o filho,
se apresentando e passando para ele toda sua experiência,
desejando muito estar vivo no dia de seu nascimento.

Dica de Filme

Olha quem está falando


Direção: Amy Heckerling – Ano: 1989

Sinopse: Mollie é uma mãe solteira à procura de um namorado


sério e confiável, que possa servir como um bom pai para
bebê. Ela tem dois pretendentes: Albert, o pai biológico, mas já
casado, e James, um motorista de Táxi. Enquanto ela decide
seu futuro, seu filho também possui opiniões bem fortes sobre
o seu futuro papai...

Uma comédia muito leve, pra quem gosta de filmes para distrair.

www.adorocinema.com

49
Psicologia I

A Adolescência

A adolescência é uma das fases do desenvolvimento humano


que mais foi pesquisada, em função das grandes transformações
implicadas nesse período: transformações físicas, psicológicas, de
personalidade e sociais. As transformações vividas pelo adolescente
são tão intensas que podem ser percebidas dia após dia.

Podemos dizer que a adolescência é um momento de transição (da


infância para a vida adulta), mas também é uma fase em si mesma,
com características que lhes são próprias e a definem como tal.

A extensão dessa fase, em termos de faixa etária, não é bem


delimitada. A depender da Sociedade à qual nos referimos, esse
período pode ser rápido e passageiro, ou distendido e bastante
duradouro. Isso porque a adolescência é uma fase fortemente ligada
ao contexto cultural.

Em determinadas tribos indígenas, por exemplo, já aos 12 ou 13


anos a menina está pronta para gerar uma nova vida e, por isso, casar-
se com um jovem de sua tribo. Isso, forçosamente, a faz entrar numa
forma de vida adulta. Para isso, ela passa por rituais de passagem
que têm o objetivo de conduzi-la a esse novo momento de sua vida.

Na nossa sociedade, por outro lado, jovens de mais de 20 anos


ainda estão na casa dos pais, muitos deles ainda recebendo ‘mesada’

50
Psicologia I

e sem assumir qualquer compromisso da ‘vida adulta’, como sustentar


uma casa, pagar contas, trabalhar.

A responsabilidade dada ao jovem também é um aspecto que


contribui para a permanência na adolescência ou passagem para a
vida de adulto-jovem. A delinquência nessa faixa etária, o abuso do
álcool, o excesso de velocidade são, infelizmente, uma realidade em
nosso contexto social.

Mas o que marca a entrada na adolescência? De que maneira o


nosso ‘relógio biológico’ nos avisa que estamos entrando nessa nova
fase?

O que faz disparar esse relógio biológico é uma mudança hormonal,


que desencadeia toda uma série de modificações físicas e fisiológicas,
chamada de Puberdade. Mas, então, como acontece a entrada na
puberdade? O que caracteriza a puberdade e a adolescência como
coisas complementares, porém, distintas? Pensemos sobre isso...

A Puberdade

Enquanto entendemos que a adolescência é um fenômeno social,


a puberdade é um fenômeno fisiológico/orgânico. Ela implica no
amadurecimento sexual do ser da espécie humana, tornando-o apto à
reprodução e à entrada na vida adulta.

São várias as características que marcam a entrada na puberdade.


Algumas delas são comuns aos meninos e às meninas, enquanto
que outras são particulares a cada um dos dois sexos. O que é
comum a ambos e que marca as mudanças de ordem fisiológicas
é o amadurecimento dos órgãos e estruturas responsáveis pela
reprodução, embora essas estruturas sejam diferentes para ambos
os sexos: nas meninas os ovários, trompas, útero, mamas; e nos
meninos os testículos, a próstata, o pênis.

No caso das meninas, o que ‘sinaliza’ fundamentalmente essa


passagem é a primeira menstruação – a menarca – que implica que os
óvulos começaram a amadurecer mês a mês. No caso dos meninos,
a primeira ejaculação sinaliza que ele já é potencialmente capaz de
reproduzir a sua espécie.

Olhemos como esse desenvolvimento se dá, particularmente, em


cada um dos sexos.

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Psicologia I

No Sexo Masculino

No menino, que agora começa a se transformar num jovem, o


corpo passa a se desenvolver de forma bastante particular: crescem
primeiro as extremidades (pés, mãos, nariz, etc.) para depois crescer
o restante do corpo. Com essa mudança brusca no tamanho e
proporção do corpo, o adolescente passa aquela impressão de
desajeitado, desengonçado, e isso culmina, muitas vezes, por mexer
com sua autoestima. Além do mais, a pele de criança se modifica e
aparecem as espinhas – decorrentes dos hormônios e do aumento da
oleosidade da pele – e os pelos no rosto e no corpo.

No Sexo Feminino

A menina, por sua vez, não parece tão ‘desengonçada’, pois o


seu desenvolvimento físico segue um caminho mais tênue e, para
alguns, mais ‘gracioso’. As formas do corpo se arredondam, os seios
despontam, a voz torna-se ligeiramente mais grave, mas continua
entoada (o que não acontece com os meninos, que desafinam
bastante). O quadril se torna mais largo, em função do alargamento
dos ossos que esperam abrigar futuramente um feto.

Aparecem também as espinhas, em função das mudanças


hormonais e os pelos também surgem, só que de forma mais
concentrada do que nos meninos, cujos pelos crescem de forma mais
espalhada pelo corpo.

52
Psicologia I

Todas essas mudanças fisiológicas têm impacto na vida


psicológica e social. Em função das descargas dos hormônios
sexuais – testosterona, progesterona, estrogênio – algo novo começa
a despertar: o ‘desejo’ afetivo e sexual pelo outro.

É nesse momento, de puberdade e adolescência, que o ‘Clube do


Bolinha’ e o ‘Clube da Luluzinha’, tão presente em estágios anteriores,
começa a desaparecer, e os meninos e meninas passam a se misturar
mais, a gostar mais da companhia do sexo oposto, a vivenciar jogos
de sedução.

Os jovens ‘exibem’, mesmo que discretamente, alguns atributos


que possam se converter em objetos de sedução: músculos, cabelos
longos e bem cuidados, roupas que marquem as formas bem
definidas, etc.

Ao mesmo tempo, muitas vezes se mostram tímidos, vivendo


sentimentos ambivalentes em relação ao corpo, a si próprios e a como
os outros lhe perceberão.

A adolescência também é uma fase caracterizada pela necessidade


de fazer parte de um grupo e de nele ser aceito. Muitos jovens se
rebelam contra a autoridade paterna/materna, mas ainda não têm
condições de viver sua vida com autonomia, sobretudo psicológica.

53
Psicologia I

É nessa fase que as famílias mais se preocupam com as


companhias dos jovens, porque em função da necessidade de fazer
parte de uma ‘tribo’, muitas vezes os adolescentes se envolvem, por
exemplo, em atos de transgressão das leis estabelecidas naquela
cultura – donde surge a delinquência juvenil; ou com drogas, ou
vivenciam - de forma ainda imatura - a sua sexualidade.

Esse é um aspecto também marcante na adolescência. As relações


afetivas começam a despontar. O jovem ‘descobre’ a paixão, o desejo
sexual, a intimidade física com o outro, e começa a fase do namoro,
ou mesmo, como os jovens dizem hoje: do ‘ficar’.

Algumas preocupações são vitais nesse momento: a questão da


gravidez na adolescência, cujos dados apontam que, mesmo com
maior acesso à informação, os jovens iniciam a vida sexual cada vez
mais cedo, e a prevenção de gravidez ou de infecções sexualmente
transmissíveis.

A escola aparece como uma instituição fundamental na orientação


dos adolescentes e jovens. A orientação sexual, por exemplo, deve
estar a cargo não apenas da família, mas também da escola, que tem
condições de trabalhar de forma mais científica as questões relativas às
mudanças do corpo, às descargas dos hormônios sexuais, que fazem
com que os adolescentes experimentem desejos e necessidades até
então desconhecidos.

Outro aspecto igualmente relevante, e que também toca a escola


de forma muito particular, é que em meio a essa ebulição hormonal, à
descoberta sexual de si próprio e do outro, à rebeldia típica de alguns
adolescentes, a ‘escolha profissional’ cai como uma bomba na vida
desse jovem que acredita que terá de escolher uma profissão para
sempre!

54
Psicologia I

Que tal nos determos um pouco nessa questão que o adolescente


se faz: “O que eu quero ser, agora que cresci”?

O Adolescente e a escolha profissional

tica
rmá
Info

Turism
o

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Engen

Direito

Medicina

O que você quer ser quando crescer?

Quem nunca ouviu essa frase? Só que o adolescente já cresceu, e


em meio às tantas turbulências afetivas e físicas dessa fase, ele tem
de se deparar com uma escolha que, para ele, precisa ser definitiva:
a profissão!

Ele sabe que pode ‘ensaiar’ no amor, ter vários namorados ou


namoradas, mas que em relação à escolha profissional é preciso uma
decisão mais madura. Mas como tomar uma decisão madura quando
ainda não se tem tanta maturidade?

O que definirá essa escolha? A afinidade com uma determinada


disciplina escolar? Mas nem todas as profissões – a maioria delas, na
verdade – não estão tão diretamente relacionadas às disciplinas, da
forma como a escola ensina! Essa escolha será definida em função
dos pais? Meu pai quer que eu seja médico ou advogado! Minha mãe
quer que eu seja nutricionista ou professora! Qual a profissão que ‘dá
dinheiro’? Qual a que está ‘na moda’? Qual a que pode me ajudar a
passar em um concurso? E por aí vai...

55
Psicologia I

Que tal você começar pensando na sua escolha profissional? O


que a definiu (ou está definindo)? O que pesou mais: o desejo, a
afinidade com uma profissão, ou questões de ordem mais racional:
que profissão eu tenho mais chances de conseguir um emprego?
Para onde o mercado de trabalho está apontando agora?

Na verdade, é uma conjuntura de aspectos que define a escolha


profissional de um jovem. A família e a escola precisam estar muito
sintonizadas nesse momento, de maneira a poder mostrar as
possibilidades e caminhos e podem ser trilhados.

Quais as questões que influenciam de forma mais direta a profissão


que se quer escolher e como essas questões precisam ser tratadas?

» Em primeiro lugar, o jovem precisa se sentir acolhido em suas


dúvidas. Ele precisa sentir que a família e os profissionais
da escola o apoiam. Um aspecto essencial é tirar o peso da
escolha definitiva. Esse jovem deve escolher aquilo que mais
se aproxima do seu desejo, após uma análise criteriosa de
todo o contexto no qual se encontra, mas precisa também ter
a certeza de que se mais tarde perceber que não fez a melhor
escolha, ele pode voltar e recomeçar.

» Um segundo aspecto fundamental é saber do que esse jovem

56
Psicologia I

gosta. Quais as suas afinidades, o que, ao longo de sua vida,


mais o interessou, em termos profissionais. Há pessoa que,
curiosamente, desde a infância já dizem que querem seguir uma
determinada profissão, e chegam à adolescência perseverando
nessa ideia.

» É preciso considerar, também, a natureza dessa afinidade


revelada. Muitas vezes um jovem diz que quer ser professor de
História porque teve um professor na 6ª série que ele gostava
muito. Identificar-se com os profissionais não quer dizer que há
uma identificação com a profissão. Isso precisa ser refletido.

» Outro elemento que não pode deixar de ser considerado é o


fato de que muitos jovens terminam escolhendo profissões já
previamente escolhidas para eles por seus pais. Eu queria ser
veterinário, mas meu pai quer que eu seja engenheiro! Muitos
pais, por outro lado, procuram satisfazer seus próprios desejos
não realizados através dos filhos, sem sequer pensar se, de
fato, o filho tem um desejo por tal profissão. Assim, a escolha
profissional precisa estar ligada ao ‘desejo’.

» Há questões de ordem práticas que precisam ser postas para


o adolescente: quais as demandas sociais do mundo atual?
Como está o mercado de trabalho para uma determinada
profissão? Um exemplo disso é a informática, que há décadas
era considerada a profissão do futuro. O ‘futuro’ realmente
chegou e o mercado de trabalho também se viu invadido por
profissionais dessa área. O mesmo acontece com as profissões
ligadas à ecologia e ao meio ambiente. No contexto atual,
com a crise ambiental em que se vive, os debates acerca da
preservação da natureza, cursos como Geologia, Biologia,
que não estavam entre os mais concorridos, começam a ser

57
Psicologia I

procurados com maior frequência pelos jovens.

» O desejo de prestar um concurso e ter a tão sonhada


estabilidade profissional aumentou a procura de cursos como
Direito, Ciências Contábeis, Administração de Empresas. Mas
se nem todos vão poder ter sua vaga garantida, o que se faz
com um mercado saturado de profissionais, muitas vezes sem
condições de absorver todos?

Haveria outra lista imensa de questões que precisam ser refletidas


nesse momento, com os jovens, mas já citamos um bom número
de preocupações que a escola e os pais devem ter, na orientação
profissional de seus filhos e alunos.

A escola pode contribuir de forma fundamental, com atividades


que coloquem os jovens mais próximos das profissões: visitas a locais
de trabalho, convite para que profissionais debatam com os alunos
na escola, pesquisas sobre o que fazem as diversas profissões,
entrevistas feitas pelos alunos com profissionais de áreas que eles se
interessam, dentre tantas outras possibilidades.

Atividades como essas culminam por deixar os alunos mais


motivados e fazê-los perceber que, em breve, eles poderão estar
nesses locais de trabalho, exercendo essas funções.

Nas décadas de 70 e 80, houve uma invasão de ‘testes vocacionais’,


como se magicamente a partir de um teste se pudesse definir uma

58
Psicologia I

profissão. Hoje, até o nome ‘vocacional’ chega a ser questionado por


alguns profissionais, porque pressupõe que profissão é algo apenas
de vocação. Hoje em dia, os testes não são utilizados isoladamente.
Na maioria das vezes, vêm acompanhados por sessões de entrevistas
com o adolescente, sempre conduzidas por profissionais capacitados
para tal, como é o caso dos psicólogos. O próprio serviço de orientação
pedagógica da escola muitas vezes assume essa função, promovendo
dinâmicas de grupo onde os jovens coloquem seus desejos e anseios
em relação a essa fase da vida.

Por fim, haveria muito ainda o que falar sobre essa ‘escolha’. Mas,
ao mesmo tempo, em nosso país, com toda a situação de carência em
que vivemos, não podemos nos esquecer dos inúmeros jovens que
não têm possibilidade de escolher uma profissão. Para eles, concluir o
Ensino Médio – quando isso acontece - já é uma grande vitória e, em
boa parte dos casos, o último degrau de sua formação escolar. Não
podemos nos furtar de pensar sobre essa realidade. É preciso refletir
que o nosso país necessita desenvolver caminhos profissionais que
não necessariamente passem pela Universidade.

Em vários países desenvolvidos, os cursos técnicos são bastante


valorizados e possibilitam ao profissional o exercício de uma profissão

59
Psicologia I

digna, com salário justo. Embora nosso país tenha tanta pobreza,
pensamos, na maioria das vezes, de uma forma elitista acerca das
profissões, confundindo profissionalismo com status profissional.

Cabe a nós, como educadores, estarmos atentos a questões dessa


natureza, para não continuarmos a reproduzir uma sociedade em que
os que têm oportunidades conseguem se realizar profissionalmente,
e aqueles que não têm tanta oportunidade, vão viver sempre com o
‘fantasma do desemprego’, ou vivendo de subempregos. Isso porque,
não tendo ido à Universidade, não tiveram a chance de serem
profissionais socialmente reconhecidos, com o status que o mundo
competitivo em que vivemos exige.

O nosso papel é também o de desmistificar essas questões,


buscando contribuir para a construção de uma juventude mais madura,
mais reflexiva, para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa
e humana.

60
Psicologia I

Dica de Filme

O curioso caso de Benjamin Button


Direção: David Fincher - Ano: 2008

Esse excelente filme faz-nos refletir sobre os conflitos humanos


ao longo de uma vida. Só que em Benjamin Button esses
conflitos seguem a ordem inversa, pois ao invés de nascer jovem
e morrer velho, curiosamente deu-se o contrário com Benjamin.
Uma forma de pensar sobre o processo de desenvolvimento
humano, olhado de trás para frente. Recomendamos!

Dica de Filme

Escritores da Liberdade
Direção: David Fincher - Ano: 2008

O filme baseado em fatos reais conta a história da professora


Erin Gruwell que assume uma sala de aula no meio de uma
guerra de gangues na cidade de Los Angeles, motivada pelas
tensões raciais. A faixa etária dos adolescentes é de 14 e 15
anos, a professora chega cheia de planos para a nova turma,
mas seus planos são frustrados, ela chega a ficar sozinha na
sala de aula. Mas Erin não desiste e chega em sala de aula com
uma proposta de trabalho que se identifique com os alunos.
Nesse trabalho cada uma pode contar suas angústias, seus
medos, suas mágoas e que os afligem, com isso Erin acaba
ganhando a confiança dos alunos e supera a maior dificuldade.

Fontes: http://cinemaearte.cineblog.com.br e www.adorocinema.com

Vamos Revisar?

Nesse último volume, estudamos as questões relacionadas à


personalidade, identidade e desenvolvimento humano. Com certeza
é um dos volumes cujos conteúdos envolvem o leitor de maneira
mais profunda. É comum nos identificarmos com muitas das questões
aqui propostas, tanto relacionadas à nossa própria trajetória de
desenvolvimento, quanto aos aspectos ligados à nossa personalidade
e identidade.

No primeiro capítulo, enfocamos a ‘personalidade humana’,


tomando como teoria de referência a psicanálise. Discutimos, a

61
Psicologia I

partir desse referencial teórico, como a personalidade se estrutura,


em função da relação com o ‘outro’, particularmente, as relações
primárias na infância.

O capítulo seguinte tratou da questão da ‘identidade’, como uma


discussão complementar à que foi proposta no capítulo inicial. Vimos
como a questão da identidade está relacionada também a aspectos
socioculturais, sendo possível falar não apenas em uma identidade
individual, mas em identidades coletivas, culturais. Trouxemos, a
partir do referencial de Erikson, elementos para analisar os conflitos
que se instituem nesse processo de formação da identidade, desde
o nascimento até à velhice. Da forma como esses conflitos são
vivenciados e resolvidos, o Ego pode se constituir de maneira mais
sólida ou mais frágil.

No capítulo referente ao desenvolvimento humano, estudamos


esse processo desde a vida intrauterina até a adolescência.
Discutimos como esse desenvolvimento se processa nos campos
físico, intelectual e socioafetivo. Refletimos, também, sobre o papel da
família e da escola para um desenvolvimento saudável do indivíduo e
emocionalmente estável.

Ainda no que tange à adolescência, refletimos sobre a escolha


profissional, como um dos momentos de conflitos mais intensos
nessa fase da vida. Novamente apontamos para o papel da família e
da escola, no sentido de trazer as informações e propor as reflexões
que são fundamentais para a escolha de uma profissão por um jovem.

Haveria ainda muitas outras coisas a serem faladas sobre


personalidade, identidade e desenvolvimento, mas trouxemos, ao
longo desse capítulo, os aspectos que consideramos fundamentais
para um curso de formação de professores.

62
Psicologia I

Referências

BECKER,D. O que é adolescência. São Paulo, Brasiliense,


1987.

BEE, H. L. & MITCHELLS, K. A pessoa em desenvolvimento.


São Paulo, Harper Row do Brasil,1984.

BOCK, A.M. A Escolha Profissional em Questão. São Paulo:


Ed. Casa do Psicólogo, 1995.

BOCK, A.M. e FURTADO, O. & TEIXEIRA, M.L. Psicologias:


uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo, SP:
Saraiva, 1993.

COLL,C.; Palacios,J. & Marchesi, A. Desenvolvimento


Psicológico e Educação - Psicologia da Educação. Porto
Alegre, Artes Médicas, v. 1 e 2, 1996.

DAVIDOFF, L.L. Introdução à Psicologia. São Paulo, SP:


McGraw-Hill do Brasil Ltda., 1983.

ENDERLE,C. Psicologia da adolescência. Porto Alegre, Artes


Médicas, 1988.

ERIKSON, E. Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro:


Zahar Editores, 1976

KUPFER, M.C. Freud e a Educação: O Mestre do Impossível.


São Paulo: Ed. Scipione, 1989.

ROSA, M. Psicologia da Adolescência. Vozes, Vols. 1,2 e 3,


1988.

63
Psicologia I

Considerações Finais

Olá, cursista!

Chegamos ao final desse volume e da disciplina Psicologia


I. Procuramos trazer temas que consideramos relevantes e que
acreditamos que despertaria o seu interesse para esse estudo.

Buscamos também, durante todo o curso, dialogar com você,


fazendo-o refletir sobre as questões propostas, contribuindo para a
construção do seu conhecimento acerca da Psicologia aplicada à
Educação.

Acreditamos que os conteúdos trabalhados podem contribuir de


maneira fundamental para a sua formação em licenciatura. O nosso
objetivo era fazer você olhar para a sala de aula com as lentes da
Psicologia.

Espero que tenhamos atingido os nossos objetivos. Cabe agora


você recapitular o que aprendeu, reler os aspectos que mais lhe
interessaram, ou os que você sentiu mais dificuldades, ‘revisitar’
sempre essa obra, todas as vezes em que acreditar que a sua releitura
pode lhe ajudar no exercício de sua profissão.

Desejamos uma boa caminhada ao longo do curso e esperamos


nos encontrar, em breve, na próxima disciplina de Psicologia.

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Psicologia I

Conheça a Autora

Anna Paula de Avelar Brito Lima é psicóloga, formada pela


UFPE em 1990. Trabalhou como psicóloga escolar, mas dedica-se
ao ensino superior desde 1992, atuando em cursos de psicologia,
ciências contábeis e, atualmente, em cursos de licenciatura da
UFRPE, de onde é professora efetiva desde 1997. Cursou Mestrado
em Psicologia e Doutorado em Educação na UFPE, desenvolvendo
pesquisas na área de aprendizagem de conceitos matemáticos e
análise da relação didática em salas de aula de matemática.

É também professora do Mestrado no Ensino de Ciências


e Matemática, orientando alunos que desenvolvam pesquisas
relacionadas à sala de aula de matemática.

Para saber mais, acesse o currículo da professora em:

http://lattes.cnpq.br/0430616110506423

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