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Educação Pública - Hayao Miyazaki, o Mestre Oriental PDF
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CINEMA E TEATRO
Isso se deu não somente por fatores econômicos – a indústria de mangá (quadrinhos
japoneses) e de animação foram as indústrias que tiveram seus desenvolvimentos
estimulados no pós-guerra – mas também pelas histórias e pelo visual característico, mas
diferenciado, do sistema norte-americano de produção, com suas piadinhas e gags. No
geral, apresentam heróis carismáticos, comprometidos com uma moral, com uma ética de
conduta, com senso de responsabilidade admiráveis – talvez isso explique parte do
sucesso. Sempre com olhos grandes, expressivos, estilo influenciado pelos desenhos de
mangá de Osamo Tezuka (criador de Astroboy), os personagens japoneses são sempre
rodeados por acontecimentos muitas vezes sobrenaturais, como maldições, espíritos,
fadas e bruxarias – influência de questões culturais e religiosas.
Como uma indústria que deu certo, a animação japonesa criou um estilo de apresentação
de movimento das cenas que economiza no tempo de produção dos desenhos, esbanjando
cortes de cenas, indicações de movimentos – raios, explosões, saltos, resultado da
influência da linguagem dos mangás – e dramaticidade, além do colorido e da habilidade
oriental em desenhar e pintar os cenários.
Hayao Miyazaki é fruto direto desse ambiente. Ele nasceu em 1941, no meio da Segunda
Guerra Mundial. Seu pai tinha uma fábrica de aviões, que eram usados pelos pilotos
camicazes. Formado em Economia, não exerceu a profissão. Em 1963 foi contratado pelos
estúdios Toei (produtores dos Cavaleiros do Zodíaco e de Dragon Ball Z) como animador
aprendiz. Ali se desenvolveu na profissão, trabalhando até 1971, quando mudou para o
escritório de animação A-Pro com mais dois amigos, Isao Takahata e Yoichi Otabe. Dois
anos depois, a trinca foi para o estúdio Zuiyo Pictures, onde Miyazaki teve a oportunidade
de viajar à Europa para se inspirar e conhecer os ambientes europeus que serviram de
modelo para o longa-metragem Heidi: a Garota dos Alpes (no Brasil foi exibida uma série
de TV com a personagem). Em 1978, dirigiu seu primeiro seriado de TV, O Garoto do
Futuro Conan; no ano seguinte, dirigiu seu primeiro longa-metragem, Lupin III: o Castelo
de Cagliostro, para a Tokyo Movie. Esse filme já apresenta algumas características que
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Mas o que mais se destaca nos seus filmes é a valorização do feminino, o respeito à
natureza, a presença de cenas com água e de voo (influência de seu pai) – vão aparecer
com força no seu filme de 1984, Nausicaä do Vale do Vento, produzido pela Topcraft e
baseado no mangá de sua autoria. No filme, após “sete dias de fogo”, o mundo se tornou
um lugar inóspito com locais completamente tóxicos. Nausicaä é uma princesa de uma
aldeia que se vê forçada pelas circunstâncias a entrar numa disputa pela sobrevivência de
seu povo e da floresta que lhes cerca – para os cinéfilos, é impossível não lembrar de
Duna (de David Lynch, 1984). O sucesso do filme foi tão grande que lhe permitiu abrir o
próprio negócio, o Studio Ghibli.
Daí se seguiram:
Laputa: o castelo no céu (1986) – a primeira produção oficial do Studio Ghibli. Nela
a menina Sheeta é perseguida por piratas e agentes por causa de um amuleto que
indica o caminho para uma ilha voadora – que lembra Avatar (de James Cameron.
2009).
Meu vizinho Totoro (1988) – a mais infantil obra de Miyazaki. Totoro é um ser da
floresta - o que os psicólogos chamariam de “amigo invisível”. Ele ajuda duas
pequenas irmãs que vão viver no campo com o pai durante a internação da mãe.
Miyazaki se baseou em sua própria experiência, no período em que sua mãe foi
internada por causa de uma tuberculose.
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Serviço de entregas da Kiki (1989) - baseado no livro infantil de Eiko Kadono. Conta
a história de uma simpática bruxinha de 13 anos que precisa conquistar seu próprio
lugar, mudando de cidade e se afastando da família. Um estímulo a lidar com a
adversidade, a fazer amigos, a valorização das tradições (quem disse que isso é
algo negativo?).
Porco rosso (1992) – o mais autoral dos filmes de Miyazaki. É uma declaração de
amor à aviação. A história se passa no Mar Adriático nos anos 1920. Marco é um
piloto italiano que, por um tipo de maldição, carrega a face de um porco. Apresenta
também uma jovem de 17 anos como engenheira de aviões, além de uma crítica aos
galãs americanos.
Porco rosso
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Princesa Mononoke
O castelo animado
Ponyo, uma amizade que veio do mar, 2009 – o mais lúdico dos filmes de Miyazaki,
talvez porque o personagem principal seja uma peixinha, Ponyo, e seu par, Sosuke,
um menino de cinco anos. Lembra a história da Pequena Sereia, mas com o enfoque
“Miyazaki”. Há amor entre os personagens – independente de suas naturezas –,
todo um conjunto de seres mágicos vindos do mar que surpreendem o público por
sua beleza e por seus movimentos. Apesar de totalmente absurdo em termos de
realidade material, é um desenho animado que conquista o público com as ricas
cenas de tempestade – todas feitas à mão – e pela a luta dos dois personagens para
se manterem unidos apesar da discordância do pai de Ponyo. Apresenta uma
situação de tsunami.
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Sempre preocupado com a qualidade da produção, Miyazaki não se deixou levar pela febre
da informatização dos meios de produção; ao contrário, é avesso a elas. Suas produções
são resultado de um trabalho manual, de animação tradicional (desenho sobre acetato),
praticamente sem o auxílio de artifícios da computação gráfica – há uma valorização do
que é “natural” inclusive no processo de produção de Miyazaki.
Seus filmes são obras japonesas feitas para japoneses – palavras do próprio. A presença
de figuras mágicas, da violência e da morte como coisas naturais são características
japonesas e permeiam outras obras produzidas no país. Mas Goethe já não disse que
quanto mais falamos da nossa aldeia mais falamos do mundo inteiro?
A beleza de suas cenas seduz o público e torna cada um de seus filmes um verdadeiro
celeiro de incontáveis possibilidades para trabalhar na formação do ser humano. Desde o
estímulo à tolerância, à responsabilidade e o amor à natureza até o desenvolvimento do
desprendimento e a lidar com a perda. A preocupação verdadeira e consciente de Miyazaki
com a formação da criança valoriza o seu trabalho e o diferencia dos demais cineastas de
animação.
Referências
BRUZZO, Cristina. Renda-de ao japonês. In: Coletânea Lições de Cinema. São Paulo: FDE,
1996.
SMIRKOFF, Marcos. Anime: a animação no Japão. In: Coletânea Lições de Cinema. São
Paulo: FDE, 1996.
Catálogo da mostra O universo de Miyazaki | Otomo | Kon. Caixa Cultural Rio de Janeiro,
junho-julho de 2011.
Publicado em 26/07/2011
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