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‘Foi humilhante’, diz jovem presa com bebê recém-nascido

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‘Foi humilhante’, diz jovem presa com


bebê recém-nascido
4-5 minutos

Jessica Monteiro com o filho recém-nascido em sua casa em São


Paulo - Edilson Dantas / Agência O Globo

SÃO PAULO — Horas depois de ter deixado a cela da


Penitenciária Feminina de São Paulo com o bebê no colo, na noite
de sexta-feira, Jessica Monteiro lamentou a ação policial que a
levou presa um dia antes de dar à luz. Na manhã de ontem, a
jovem, de 24 anos, disse ter passado uma humilhação no 8º
Distrito Policial do Brás, para onde foi levada após o parto. Com o
filho Enrico no colo, Jessica contou ao GLOBO as condições em
que se deu sua detenção.

— Se eu fosse traficante, viveria no luxo. Na hora da prisão, até


jogaram as roupas do meu bebê no chão — disse ela, reiterando:

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‘Foi humilhante’, diz jovem presa com bebê recém-nascido

— Foi humilhante.

Jessica recebeu a reportagem num quarto de 10 metros


quadrados — ela vive com a família em uma ocupação que beira a
Avenida do Estado, na região central da capital paulista. Acusada
de portar 90 gramas de maconha no momento da prisão, a jovem
negou, ontem, que estava com a droga.

A prisão de Jessica motivou reações da Ordem dos Advogados do


Brasil (OAB) e de movimentos que atuam em favor de direitos
humanos. Na sexta-feira, o Tribunal de Justiça de São Paulo
determinou o recolhimento domiciliar como medida alternativa à
prisão, mas ainda cabe recurso.

A polícia de São Paulo não se manifestou sobre o caso.

'Nenhum ser humano merece ser tratado desa forma'

Atordoada com tudo o que aconteceu em uma semana — foi


presa, deu à luz um menino e viveu com ele por quase 24 horas
em uma cela insalubre —, Jessica Monteiro diz que a ação da
polícia foi traumática. No sábado, a jovem contou que Kauã
Samuel, de 3 anos, um de seus filhos, acordou no susto quando a
mãe foi levada pelos policiais, na manhã do dia 10. No dia
seguinte, já na cela do 8ª Distrito Policial do Brás, ela entrou em
trabalho de parto. Estava na 39ª semana da gravidez.

— Estava tão estressada que entrei em trabalho de parto. Estava


em uma cela suja, cheia de barata. Comecei a perder líquido. Meu
psicológico ficou muito abalado — disse Jessica.

A jovem deu à luz Enrico, hoje com sete dias de vida, no Hospital
Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, na Mooca, Zona Leste
de São Paulo. Na terça-feira, dois dias após o parto, Jessica voltou
à cela no 8ª Distrito Policial do Brás com o bebê nos braços. Na
carceragem, ela e o recém-nascido passaram o dia em um

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colchão de espuma e um cobertor para amenizar o frio.

— Queriam que eu entregasse o meu filho para a minha família,


mas expliquei que um recém-nascido não pode ficar sem a mãe.
O Enrico não tinha que ter passado por isso — afirmou a jovem.

Jessica foi encaminhada para a área maternal da Penitenciária


Feminina de São Paulo, onde permaneceu até a noite de sexta-
feira. Agora, já em casa, a jovem diz que sente medo de ter de
voltar à carceragem, mesmo após ter sua prisão convertida para
recolhimento domiciliar.

Ontem, Jessica negou que o homem que foi preso junto com ela
— Oziel Gomes da Silva, de 48 anos — seja seu marido. Ela
disse que era apenas um morador da comunidade onde vive.

Jefferson de Oliveira, de 22 anos e que trabalha com carreto na


região do Brás, apresentou-se como companheiro de Jessica. Ele
afirma estar revoltado com o tratamento que ela e o bebê
receberam na delegacia.

— Nenhum ser humano merece ser tratado dessa forma.


Estamos com medo de continuar morando aqui e sofrer
perseguição — diz ele.

O rapaz disse ontem que tem vontade de processar o Estado. No


entanto, afirma que a família está assustada com o
desdobramento do caso.

Jessica afirmou estar aliviada por estar fora das grades.

— Não tenho passagem pela polícia, mas algumas pessoas me


julgaram muito, achavam que eu merecia estar naquela situação.
Agora, só quero ficar com os meus filhos.

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