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O dono teve notícia do que o administrador tinha feito e louvou-o pela sua
sagacidade. E Jesus, talvez com um pouco de tristeza, acrescentou: Os filhos
deste mundo são mais hábeis nas suas coisas do que os filhos da luz. O
Senhor não louva a imoralidade desse intendente que, no pouco tempo que lhe
restava, preparou uns amigos que depois o recebessem e ajudassem. “Por que
o Senhor narrou esta parábola? – pergunta Santo Agostinho –. Não porque
aquele servo fosse um exemplo a ser imitado, mas porque foi previdente em
relação ao futuro, a fim de que se envergonhe o cristão que não tenha essa
determinação”3; louvou-lhe o empenho, a decisão, a astúcia, a capacidade de
sobrepor-se e resolver uma situação difícil, sem se deixar levar pelo desânimo.
Para ser bom administrador dos talentos que recebeu, dos bens de que deve
prestar contas, o cristão deve saber ainda, como manifestação e contraprova
do seu amor a Deus, dirigir as suas acções para a promoção do bem comum,
encontrando para isso as soluções adequadas, com engenho, com
“profissionalismo”, levando adiante ou colaborando em empreendimentos ou
obras boas a serviço dos outros, tendo a convicção de que valem mais a pena
que o negócio mais atraente. São os leigos “quem deve intervir nas grandes
questões que afectam a presença directa da Igreja no mundo tais como a
educação, a defesa da vida e do meio ambiente, o pleno exercício da liberdade
religiosa, a presença da mensagem cristã nos meios de comunicação social.
Nestas questões, devem ser os próprios leigos cristãos, enquanto cidadãos e
através dos canais a que têm legítimo acesso no desenvolvimento da vida
pública, quem faça ouvir a sua voz e prevalecer os seus justos direitos” 6. Assim
serviremos a Deus no meio do mundo.
“Já o disse o Mestre: oxalá nós, os filhos da luz, ponhamos, em fazer o bem,
pelo menos o mesmo empenho e a obstinação com que se dedicam às suas
acções os filhos das trevas!
III. AINDA QUE SEJA a graça que transforma os corações, o Senhor quer
que utilizemos meios humanos na nossa acção apostólica, todos os que
estiverem ao nosso alcance. São Tomás de Aquino ensina10 que seria tentar a
Deus não fazer aquilo que podemos e esperar tudo d’Ele. Este princípio
também se aplica à actividade apostólica, em que o Senhor espera dos seus
discípulos uma cooperação sábia, efectiva e abnegada. Não somos
instrumentos inertes. Os filhos da luz devem ser tão hábeis como os filhos
deste mundo, e acrescentar aos meios sobrenaturais os talentos humanos, os
dons de simpatia e comunicabilidade, a arte da persuasão, a fim de
conquistarem uma alma para Cristo.
Sabemos muito bem que a missão apostólica a que o Senhor nos chama
ultrapassa a capacidade dos meios humanos ao nosso dispor, e por isso nunca
deixaremos de lado os sobrenaturais, como se fossem secundários. Não
poremos a nossa confiança na sagacidade pessoal, no poder de persuasão da
nossa palavra, nos bens que são o suporte material de um empreendimento
apostólico, mas na graça divina, que fará milagres com esses meios. Esta
confiança no poder divino levar-nos-á, entre outras coisas, a não esperar ter à
mão todos os meios humanos necessários (talvez nunca cheguemos a tê-los)
para começar a agir, e menos ainda a desistir de continuar certos trabalhos ou
de começar outros novos: “Começa-se como se pode”12. E pediremos a Jesus
o que nos falta e actuaremos com a liberdade e audácia que nos dá a absoluta
confiança em Deus.
“Achei graça à tua veemência. Perante a falta de meios materiais de trabalho
e sem a ajuda de outros, comentavas: «Eu só tenho dois braços, mas às vezes
sinto a impaciência de ser um monstro de cinquenta, para semear e apanhar a
colheita».
(1) Am 8, 4-7; (2) Lc 16, 1-13; (3) Santo Agostinho, Sermão 359, 9-11; (4) São Josemaría
Escrivá, Caminho, n. 317; (5) ibid., n. 778; (6) Card. A. Suquía, Discurso à Conferência
Episcopal Espanhola, 19.02.90; (7) ibid.; (8) cfr. João Paulo II, Exortação
Apostólica Christifideles laici, 30.12.88, 34; (9) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 848; (10) São
Tomás de Aquino, Suma teológica, II-II, q. 53, a. 1 ad 1; (11) Lc 22, 35-37; (12) cfr. São
Josemaría Escrivá, Caminho, n. 488; (13) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 616.