Você está na página 1de 183

O TRIUNFO DO CRUCIFICADO:

UM LEVANTAMENTO DA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO (1951)

Por Erich Sauer

Traduzido do Alemão para o Inglês por GH Lang


Disponível em: (1) Internet Archive: https://archive.org/details/triumphofcrucifi0000eric_g6c8;
(2) BibleSupport.com: http://www.biblesupport.com/e-sword-downloads/file/9145-sauer-erich-
the-triumph-of-the-crucified/ (na área de download, instale o e-Sword).

Traduzido do Inglês para o Português por “Machine Translated by Google” (2023),


inclusive os textos bíblicos, de modo que podem não corresponder a versões em
português.
Organizado por Jaime Luiz Klein (48) 98818-8718 – jaimeluiz.klein@gmail.com
(Agradecemos, antecipadamente, a reportação de eventuais erros, principalmente
nas referências bíblicas.)
1
SUMÁRIO

PREFÁCIO...................................................................................................................... 5
PREFÁCIO DO TRADUTOR ............................................................................................. 6
NOTA DO AUTOR ........................................................................................................... 7
PREFÁCIO DO AUTOR ................................................................................................... 8
PARTE I: A ALVORADA DO ALTO ................................................................................... 9
Capítulo 1. A Aparição do Redentor do Mundo ....................................................... 9
[1] As Mensagens Divinas da Mudança de Época ..................................................................................................................... 9
[2] A Encarnação como Fato Histórico ...................................................................................................................................... 10
[3] Encarnação e Ressurreição ................................................................................................................................................... 12
Capítulo 2. O Nome Jesus Cristo: O Tríplice Ofício ............................................... 14
[1] O Nome Jesus ........................................................................................................................................................................ 14
[2] O Nome Cristo ........................................................................................................................................................................ 15
Capítulo 3. A Mensagem do Reino dos Céus ......................................................... 17
[1] O Arauto .................................................................................................................................................................................. 17
[2] O Rei ........................................................................................................................................................................................ 17
[3] O Reino.................................................................................................................................................................................... 19
[4] O Caminho para o Reino ....................................................................................................................................................... 21
[5] A Mensagem do Reino .......................................................................................................................................................... 22
[6] Os Ouvintes ............................................................................................................................................................................ 25
[7] A Glória do Reino ................................................................................................................................................................... 26
Capítulo 4. A Batalha Decisiva no Gólgota............................................................ 28
[1] O significado da cruz para Deus. ......................................................................................................................................... 28
[2] O significado da cruz para Cristo ......................................................................................................................................... 29
[3] O significado da cruz para nós ............................................................................................................................................. 30
Capítulo 5. O Triunfo da Ressurreição .................................................................. 35
[1] A plena realização da vitória do Redentor sobre a morte ................................................................................................ 35
[2] O Pressuposto para o Surgimento da Fé nos Redimidos ................................................................................................. 35
[3] O fundamento de uma nova vida para os crentes ............................................................................................................ 37
[4] A Base da Transfiguração do Mundo .................................................................................................................................. 39
Capítulo 6. A Ascensão do Vencedor ..................................................................... 41
[1] O Ofício Profético ................................................................................................................................................................... 41
[2] O Ofício do Sumo Sacerdote ................................................................................................................................................ 42
[3] O Gabinete Real ..................................................................................................................................................................... 44
Capítulo 7. A Inauguração do Reino de Deus (O Derramamento do Espírito
Santo) .............................................................................................................. 47
PARTE II: A IGREJA DOS PRIMOGÊNITOS ................................................................. 52
SEÇÃO I —O CHAMADO DA IGREJA ............................................................................ 52
Capítulo 1. O Novo Povo de Deus ......................................................................... 52
[1] O objetivo do chamado ......................................................................................................................................................... 52
[2] O Início da Chamada ............................................................................................................................................................. 55
[3] O Mistério do Chamado ......................................................................................................................................................... 57
[4] Entrada para o Chamado ...................................................................................................................................................... 59
Capítulo 2. O Apóstolo das Nações ....................................................................... 61
[1] Sua Comissão como Pregador do Evangelho. .................................................................................................................... 61
[2] Sua Comissão como Mestre da Igreja ................................................................................................................................ 63
SEÇÃO II —A POSIÇÃO DA IGREJA ............................................................................. 70
Capítulo 1. A Dispensação da Graça de Deus ....................................................... 70
[1] A posição dos redimidos como escravos ............................................................................................................................ 70
[2] A posição dos redimidos como filhos .................................................................................................................................. 70
Capítulo 2. As Riquezas Incompreensíveis de Cristo ............................................ 73
[1] Ensino e Aprendizagem ......................................................................................................................................................... 73
[2] Liderando e Seguindo............................................................................................................................................................ 73
[3] Governar e obedecer ............................................................................................................................................................. 74
[4] Amoroso e responsivo ........................................................................................................................................................... 75
[5] Avivar e Ser Avivado (Unidade de Vida) ............................................................................................................................. 76
[4] Fundação e construção ......................................................................................................................................................... 79
2
[7] Abençoado e feito uma bênção ........................................................................................................................................... 79
Capítulo 3. A Nova Aliança de Deus ...................................................................... 81
[1] A Antiga e a Nova Aliança .................................................................................................................................................... 81
[2] As Alianças com Abraão e com David ................................................................................................................................. 82
[3] Aliança e Testamento ............................................................................................................................................................ 82
[4] Povo e Mundo da Aliança...................................................................................................................................................... 83
Capítulo 4. A Salvação Presente e Pessoal ........................................................... 84
[1] Uma salvação plena, gratuita e presente. .......................................................................................................................... 84
[2] Contador de trabalho ............................................................................................................................................................ 85
SEÇÃO III —A ESPERANÇA DA IGREJA....................................................................... 90
Capítulo 1. O Arrebatamento e a Primeira Ressurreição ...................................... 90
[1] O Momento do Arrebatamento ............................................................................................................................................ 90
[2] A Natureza do Arrebatamento ............................................................................................................................................. 93
[3] O Corpo Espiritual Vindouro ................................................................................................................................................. 94
[4] A Glória Sétupla do Corpo da Ressurreição........................................................................................................................ 97
Capítulo 2. O Tribunal de Cristo ..........................................................................100
PARTE III: O VINDOURO REINO DE DEUS ...............................................................105
SEÇÃO I — O SISTEMA MUNDIAL ANTICRISTÃO .....................................................105
Capítulo 1. A Pessoa do Anticristo ......................................................................105
[1] A Vinda do Anticristo ........................................................................................................................................................... 105
[2] Os Nomes do Anticristo ....................................................................................................................................................... 106
[3] A Personalidade do Anticristo............................................................................................................................................. 106
[4] Os precursores do Anticristo .............................................................................................................................................. 107
Capítulo 2. O Sistema do Anticristo ....................................................................110
[1] O Anti-Deus .......................................................................................................................................................................... 110
[2] O Anti-Filho (Anticristo) ...................................................................................................................................................... 111
[3] O Anti-Espírito ...................................................................................................................................................................... 112
[1] Unidade Política Mundial ..................................................................................................................................................... 112
[2] Unidade Comercial Mundial ................................................................................................................................................ 115
[3] Unidade Religiosa Mundial .................................................................................................................................................. 115
Capítulo 3. Sinais do Tempo................................................................................118
Capítulo 4. O Julgamento Sobre o Anticristo ......................................................126
[1] A Grande Tribulação ............................................................................................................................................................ 126
[2] A Aparição do Senhor .......................................................................................................................................................... 127
[3] A Destruição da Trindade Satânica ................................................................................................................................... 128
[4] O Julgamento das Nações no Vale de Josafá .................................................................................................................. 128
[5] O Estabelecimento do Reino da Glória.............................................................................................................................. 129
SEÇÃO II —O REINO VISÍVEL DE CRISTO ................................................................131
Capítulo 1. Sua realidade histórica .....................................................................131
[1] A única confirmação adequada da veracidade e fidelidade da aliança de Deus às suas promessas ....................... 131
[2] A Única Interpretação Lógica da Profecia Messiânica do Antigo Testamento ............................................................. 132
[3] A única explicação da história do fim que concorda com as palavras do Senhor Jesus e seus apóstolos .............. 133
[4] A única conclusão completa da autojustificação divina na história da salvação ......................................................... 136
[5] O único e necessário meio de levar adiante a história humana desde seu estágio atual até seu objetivo no Reino
Eterno do Pai ..................................................................................................................................................................... 137
Capítulo 2. A Glória Do Reino De Deus Na Terra ................................................139
[1] Cristo, o Rei Divino .............................................................................................................................................................. 139
[2] O Povo de Israel .................................................................................................................................................................. 142
[3] As Nações ............................................................................................................................................................................. 148
[4] A Igreja ................................................................................................................................................................................. 150
[5] Natureza ................................................................................................................................................................................ 151
Capítulo 3. Ruína Mundial e Julgamento Mundial ..............................................154
[1] Imperfeição Mundial ............................................................................................................................................................ 154
[2] Rebelião Mundial .................................................................................................................................................................. 154
[3] Destruição Mundial .............................................................................................................................................................. 156
[4] Julgamento Mundial............................................................................................................................................................. 156
PARTE IV: A CONSUMAÇÃO MUNDIAL E A JERUSALÉM CELESTIAL .........................160
Capítulo 1. O Novo Céu e a Nova Terra ...............................................................160
[1] Velho e Novo Mundo ........................................................................................................................................................... 160
[2] Céu e Terra ........................................................................................................................................................................... 161
[3] Eternidade e Tempo ............................................................................................................................................................ 161

3
[4] Corpo Espiritual e (In)Visibilidade ..................................................................................................................................... 162
[5] O Mundo Eterno e Simbolismo........................................................................................................................................... 164
Capítulo 2. A Nova Jerusalém .............................................................................167
[1] A Glória da Cidade ............................................................................................................................................................... 167
[2] As Fundações da Cidade ..................................................................................................................................................... 168
[3] A Muralha de Jaspe ............................................................................................................................................................. 168
[4] Os Portões de Pérola ........................................................................................................................................................... 169
[5] Os Habitantes da Cidade .................................................................................................................................................... 170
[6] Vida na cidade ...................................................................................................................................................................... 171
[7] O tamanho da cidade .......................................................................................................................................................... 173
Capítulo 3. O Templo Aperfeiçoado de Deus ......................................................176
Capítulo 4. O Paraíso Glorificado ........................................................................178
INFORMAÇÕES HOMILÉTICAS ..................................................................................180

4
PREFÁCIO

Por A. RENDLE SHORT, MD, B.SC., FRCS

Se alguém lê um livro novo para obter nova luz sobre a verdade cristã, há um valor especial se
o autor tiver sido educado numa escola totalmente diferente da sua, desde que, é claro, seja
realmente a verdade cristã que ele expõe. Tudo isso pode ser encontrado eminentemente no
volume que temos diante de nós. O escritor é um conhecido expositor alemão das Escrituras,
pertencente a um grupo independente de igrejas, de fortes tradições evangélicas. Ele é diretor
de uma escola bíblica na Renânia e há muitos anos tem sido muito requisitado como professor
em toda a Europa Central. Ele visitou a Grã-Bretanha diversas vezes e podemos testemunhar a
sua capacidade de pregação.

Os alemães têm reputação de industriosidade e meticulosidade incomuns, e este livro é


característico. Está incluído um vasto corpo de doutrina cristã, organizado em ordem histórica,
começando com a Encarnação, a Pessoa de nosso Senhor, Sua Morte e Ressurreição, a obra de
São Paulo e o caráter da igreja. O escritor passa então aos sinais da Segunda Vinda e a uma
descrição muito completa dos ensinamentos do Antigo e do Novo Testamento sobre o reinado
de Cristo na terra. Os capítulos finais tratam do Juízo Final e do Estado Eterno.

O material do livro é resumido em cerca de noventa esboços de sermões, e são fornecidas nada
menos que 3.700 referências bíblicas. O ensino pode ser descrito como totalmente bíblico.
Nenhum orador que esteja tentando expor uma porção do Novo Testamento poderia deixar de
lucrar ao pesquisar o que Sauer tem a dizer sobre esse assunto específico. Esse é o principal
valor do livro. É muito mais do que uma mera sinopse. O escritor é sempre atencioso, são e
sólido, e não tem teorias unilaterais para defender. Quem gosta de pegar um livro emprestado,
lê-lo rapidamente para ter a ideia principal e depois devolvê-lo, vai perder tempo aqui. É um
livro para comprar, guardar e consultar sempre que necessário. Quase todos os noventa
sermões poderiam muito bem ser pregados novamente, e com muito proveito.

A tradução funciona muito bem; na verdade, quase a única indicação de que o original era
alemão é que muitos escritores continentais são citados.

A. RENDLE CURTO

Professor de Cirurgia, Universidade de Bristol.

5
PREFÁCIO DO TRADUTOR

Este excelente trabalho, e seu igualmente excelente companheiro The Dawn of World
Redemption, foram escritos como um só livro. Meu estimado amigo, o autor, deu-me o
privilégio de ler o manuscrito original. Não conheço nenhum livro em inglês que corresponda a
estes e senti que deveriam ser disponibilizados aos leitores ingleses. Herr Sauer concordou de
bom grado com isso. A guerra retardou grandemente a obra, mas finalmente, com a ajuda de
Deus e a cooperação sincera de vários amigos, os livros são agora oferecidos a todos os que
pesquisam as palavras e os caminhos de Deus.

Dos amigos mencionados, meus agradecimentos especiais são devidos ao Sr. RC Thompson,
falecido Tradutor Sênior do Ministério das Relações Exteriores, por examinar cuidadosamente as
traduções de ambos os livros e fazer muitas sugestões valiosas.

Mas estou especialmente feliz que Herr Sauer e sua esposa tenham conseguido analisar ambas
as traduções comigo nos mínimos detalhes. Seu conhecimento competente do inglês garantiu
um grau de exatidão na representação de seu significado que de outra forma dificilmente seria
alcançado.

Adicionei algumas notas, marcadas como [Trad.], e o assunto entre colchetes é meu.

As citações das Escrituras são fornecidas na Versão Revisada em Inglês ou na Versão Padrão
Americana, mas frequentemente, onde o pensamento do escritor segue alguma orientação
específica do alemão, é fornecida uma tradução mais literal em inglês.

Estas obras tiveram uma circulação notável na Alemanha, antes, durante e depois da guerra.
Eles foram traduzidos para sueco e norueguês e um para holandês. Uma tradução para o
espanhol está sendo preparada. Que a iluminação do Espírito da verdade os acompanhe em
inglês.

GH Lang

6
NOTA DO AUTOR

É com gratidão ao Senhor que vejo meus dois livros, The Dawn of World Redemption e The
Triumph of the Crucified, publicados em inglês. Li e aprovei esta tradução e aproveitei a
oportunidade para fazer algumas melhorias e alterações no texto alemão. Estou muito grato ao
tradutor de ambos os livros, Sr. GH Lang, pelo seu trabalho muito cuidadoso e confiável.

O texto contém muitas referências bíblicas (em Dawn of World Redemption, cerca de 2.200, em
O Triunfo do Crucificado, cerca de 3.700). Destinam-se não apenas a provar, pela própria
Palavra de Deus, as declarações dadas nos livros, mas também a ajudar os leitores que usarão
o que é aqui oferecido para seu estudo bíblico particular ou em preparação para a pregação da
palavra. Não raramente são ao mesmo tempo uma expansão da linha de pensamento.

Na edição alemã forneci referências literárias teológicas. Mas como estes não são de grande
utilidade para o leitor inglês, omiti-os na edição inglesa. Os leitores ingleses de língua alemã
podem encontrá-los nas edições alemãs. As citações são colocadas em todos os lugares entre
aspas.

É minha oração que Deus use esta edição em inglês para a bênção dos leitores e para a glória
do Seu nome.

Wiedemest.

Eric Sauer

7
PREFÁCIO DO AUTOR

O Triunfo do Crucificado — este é o significado da revelação histórica do Novo Testamento. A


vitória da igreja, a conversão das nações, a transfiguração do universo são os três estágios
principais no curso triunfante de Sua redenção. O próprio Cristo é as primícias, o início de uma
nova humanidade. Num ritmo harmonioso de eras e períodos, a economia Divina avança em
direção ao seu objetivo eterno. O fim do todo, como seu começo, é o próprio Deus (1 Coríntios
15:28).

Mostrar esta conexão é a tarefa da atual história da salvação. É uma tentativa de traçar um
esboço do desdobramento divino da redenção do mundo, culminando na Jerusalém celestial.

Numa época de grandes acontecimentos na história mundial, este livro fala do maior
acontecimento que ocorreu na terra e ainda está ocorrendo, a obra redentora do Filho de Deus.
Fala do povo chamado Sua igreja e da execução de Seus planos para o Seu reino, com Israel e
as nações, tanto com o indivíduo como com o universo.

Fora de toda a escuridão do tempo, nosso olhar será direcionado para o nascer do sol na
eternidade, para a vitória da causa de Cristo e para o futuro glorioso de Sua igreja. E nossos
corações se regozijarão com os planos de Seu amor, e à medida que marcharmos por este
mundo, com suas crises e catástrofes, saberemos que “a luz deve sempre surgir para os justos”
(Salmos 97:11, que “o caminho do justo é como a luz brilhante da aurora, que brilha cada vez
mais clara até o auge do dia” (Provérbios 4:18).

Eric Sauer

Wiedenest, Renânia, Alemanha.

8
PARTE I: A ALVORADA DO ALTO

Capítulo 1. A Aparição do Redentor do Mundo


Em meio aos gritos triunfantes das hostes celestiais, o evangelho entrou na arena do mundo
terreno. “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra, boa vontade para com os homens.” Isto
ressoou naquela hora da noite nos campos de Belém-Efrata (Lucas 2:14).

Ele, cuja vinda os pais tanto esperaram, entrou no meio do Seu povo como a “esperança” (Atos
26:6) e a “consolação” de Israel (Lucas 2:25). “Deus manifestado na carne.” Que mistério de
piedade! (1 Timóteo 3:16). É verdade que Ele veio na forma de servo (Filipenses 2:7) e em
humildade e pobreza (2 Coríntios 8:9, grego ptochos); mas este exterior era apenas o
“tabernáculo” de Sua divindade inerente (João 1:14, grego eskenosen = tabernáculo). Mesmo
no reino da morte Ele permaneceu o Príncipe da Vida (Atos 3:15); pois “nele estava a vida, e a
vida era a luz dos homens” (João 1:4).

[1] As Mensagens Divinas da Mudança de Época

1. Cristo — o Filho de Deus. O primeiro anúncio ocorreu no templo ao sacerdote Zacarias


(Lucas 1:8-13). Estava diretamente ligado à última e maior das profecias do Antigo Testamento
(Malaquias 4:5). Falava primeiro do nascimento daquele que prepararia o caminho, o segundo
“Elias”, e dizia que Ele, cujo precursor esse “Elias” seria, não seria menos pessoa do que o
Senhor, o Deus de Israel. Ele mesmo. “Ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu
Deus. E ele é quem irá adiante de sua face no espírito e poder de Elias” (Lucas 1:16-17). Foi
esse Senhor e Deus vindouro que Malaquias viu em espírito e nomeou “o Senhor dos Exércitos
(Jeová Zebaoth), que virá de surpresa ao seu templo” (Malaquias 3:1). Quão apropriado foi,
portanto, que o cumprimento iminente desta mensagem profética fosse anunciado num templo
e a um sacerdote.

2. Cristo — o Filho de Davi. A segunda proclamação foi feita a Maria, a piedosa virgem da
casa de Davi (Lucas 1:26-38). Começando com as promessas davídicas e, de fato, com a
primeira e mais antiga promessa, que foi dada ao próprio Davi pelo profeta Natã e descreveu o
Messias como o Filho de Deus e o Filho de Davi (1 Crônicas 17.11-14), o anjo acrescentou estas
palavras: “Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono
de Davi, seu pai” (Lucas 1:32). Assim, aqui novamente a mensagem do anjo é mais
significativamente adequada à pessoa que a recebe.

3. Cristo — o Salvador. Finalmente, o terceiro anúncio foi feito a Joseph. Apesar de sua
descendência davídica, ele entrou na história não como pai, mas apenas como pai adotivo e,
portanto, apenas como um israelita crente e penitente, designado apenas para receber o
Redentor em sua casa. Para ele foi, portanto, declarado o que o Messias seria para o Israel
crente que precisava de redenção. Ele é o “Emanuel, Deus conosco”, predito por Isaías (Isaías
7:14). Chamarás o seu nome Jesus, porque é ele quem salvará o seu povo dos seus pecados”
(Mateus 1:21-23). Aqui o ofício e a obra do Redentor são mencionados como tal. E este é o
ponto mais importante; porque Cristo não se tornou Redentor para ser Filho de Deus e Filho de
Davi, mas apareceu como Filho de Deus e Filho de Davi para ser Redentor. Jesus — o Senhor é

9
a salvação — é, portanto, o Seu nome particular, e a Redenção é tão inteiramente Seu e mais
íntimo ser que Ele leva o nome “Salvador” como um nome humano e pessoal direto.

Todas as três proclamações angélicas estavam, no entanto, incluídas na mensagem do exército


celestial naquela noite acima do campo dos pastores em Belém:

“Hoje vos nasceu um Salvador” — este é o cumprimento da profecia de Isaías e


do nome “Jesus” confiado a José;

“Quem é Cristo, o Senhor” – este é o cumprimento da mensagem de Malaquias


sobre a vinda do Senhor e Deus, conforme repetida a Zacarias;

“na cidade de David” – este é o cumprimento da mensagem de Natã a respeito do


Filho de David dada a Maria.

Com este testemunho quádruplo de mensagens celestiais diretas através da boca dos anjos,
também soou em harmonia um testemunho indireto sétuplo do Espírito através da boca dos
homens crentes. Zacarias, os pastores, Simeão, os magos do oriente, com Isabel, Maria e Ana
aparecem como tochas acesas iluminando o portal no ponto de viragem dos tempos, dirigindo-
se a Ele, Aquele que vem, a Aurora do alto (Lucas 1:78), o grande Libertador de Davi.

Zacarias louvou a Deus por Ele ter visitado os homens (Lucas 1:68; Lucas 1:76-
79);

os pastores louvaram o Salvador (Lucas 2:20, comp. 2);

Simeão elogiou a Luz do mundo (Lucas 2:31-32); e das três mulheres

Isabel celebrou a felicidade (Lucas 1:41-45);

Maria celebrou a misericórdia (Lucas 1:14; Lucas 1:50, comp. 48); e

Ana celebrou a redenção (Lucas 2:38).

[2] A Encarnação como Fato Histórico

Movimentos poderosos no mundo superior devem ter precedido o aparecimento do Filho de


Deus na terra. As Escrituras levantam o véu, mas ligeiramente. Mas nos informa, como se
saísse de uma conversa dentro da Divindade, de uma palavra que o Filho, em Sua entrada no
mundo, disse ao Pai: “Sacrifício e oferta de alimentos não quiseste; mas na verdade me
preparaste um corpo; no holocausto e na oferta pelo pecado não tiveste prazer. Então disse eu:
Eis que venho (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade
(Hebreus 10.5-7).

E então o incompreensível aconteceu. O Filho abandonou o esplendor do céu e tornou-se um


homem tão real quanto nós. Entregando a forma eterna de Deus acima de todos os mundos,
Ele voluntariamente entrou em relacionamentos humanos dentro do mundo1. Deixando a
absolutidade livre, incondicionada e governante do mundo da forma Divina, o Filho entrou nos

1
O fato da preexistência pessoal, consciente e real de Cristo é ensinado claramente em João 8:58; João
17:5; Filipenses 2:6-8, onde a ação voluntária é atribuída ao Filho de Deus como antes do mundo existir.
Isto exclui uma pré-existência meramente “ideal”. Compare ainda as passagens que tratam do “envio”
do Filho e da Sua “saída” do Pai. Mais adiante Miquéias 5:2; João 1:14, esp. 1-5; Hebreus 10:5-7.
10
limites do tempo e do espaço da criatura. O Verbo eterno tornou-se uma alma humana e
esvaziou-se do Seu poder abrangente como Governante. A mente egoísta pode manter com
tenacidade até mesmo bens estranhos e adquiridos injustamente, como sendo uma “presa”
bem-vinda (Filipenses 2:6); mas Ele, a fonte primária de amor, não considerou nem mesmo Sua
posse original e legítima, a forma divina e a posição divina, como algo a ser mantido a todo
custo, mas entregou-a para nos salvar. Ele desceu “às regiões mais baixas da terra” (Efésios
4:9) para nos levar, os redimidos, com e em Si mesmo até as alturas do céu. Deus se tornou
homem para que o homem pudesse se tornar piedoso. Ele se tornou pobre por nossa causa,
para que através de Sua pobreza pudéssemos nos tornar ricos (2 Coríntios 8:9).

A história da salvação humana concentra-se no aparecimento de Cristo como ponto central. O


que aconteceu antes Dele aconteceu totalmente em antecipação a Ele; o que aconteceu depois
Dele foi realizado em Seu nome. Assim como as cores variadas de um prisma, apesar de todas
as diferenças, são raios de uma mesma luz, assim também a história da revelação, com todas
as suas dispensações, é o produto de um princípio de vida uniforme. Cristo, o Mediador, é a
pedra angular do todo. O seu trabalho na terra é o ponto de viragem de todo o
desenvolvimento, e a história da Sua pessoa é o conteúdo essencial de toda a história.
Portanto, a encarnação de Cristo é a revelação da base divina de tudo o que existe, a entrada
do Senhor da história na própria história; e a manjedoura de Belém, em conjunto com o
Gólgota, será para sempre

“de todos os tempos - o ponto de viragem,

de todo amor - o ponto mais alto,

de toda salvação - o ponto de partida,

de toda adoração – o ponto central”.

Mas como em Cristo estes dois, Sua divindade e Sua humanidade, se unem em um, ninguém é
capaz de explicar. O segredo de Sua auto-humilhação é para sempre insondável. Cristo não
apenas fez maravilhas, mas foi Ele mesmo uma maravilha, na verdade, a maravilha de todas as
maravilhas, a Maravilha original em pessoa. Ainda não compreendemos o tempo; para nós é
um enigma. Ainda menos compreendemos a eternidade; na verdade, muito mais é para nós um
enigma. Como então poderíamos compreender o enigma dos enigmas, a união desses mistérios
opostos, a intersecção no tempo de dois paralelos, a união orgânica e harmoniosa do infinito e
do finito2. Não, resta-nos aqui apenas uma confissão:

Quando eu contemplo esta maravilha

Meu espírito espera com reverência:

Ele adora, ao ver esta altura -

O amor de Deus é infinito (Gellert).

2
Quão insuficientes aqui são todas as especulações, mesmo as mais bem intencionadas, as
controvérsias cristológicas dos séculos quatro ou sete provaram suficientemente, assim como as
discussões sobre a relação “intertrinitária” do eterno “Verbo” (Logos) com Deus (Arius), e as disputas
monofisistas e monotelitas sobre a relação humana interna da “natureza” divina e humana do Filho de
Deus encarnado (Apolinário, Nestório, Êutico).
11
[3] Encarnação e Ressurreição

Mas para ver e sentir o significado salvífico da Encarnação ainda mais distintamente, devemos
considerá-la em conexão com a ressurreição do Senhor, e isto sob um triplo contraste:

1. Humilhação e Exaltação;

2. Obtenção da salvação e Aperfeiçoamento da salvação;

3. Forma Histórica e Idéia Eterna.

1. No entanto, na verdade, apesar de toda a descida do alto do céu, não foi propriamente a
encarnação em si que significou para o Filho do Altíssimo aquela humilhação infinita, mas antes
a tomada da forma de homem desonrado sob as consequências do pecado. Na verdade, não
que Ele tenha vindo em carne pecaminosa, mas verdadeiramente “em semelhança de carne de
pecado” (Romanos 8:3). Pois se o tornar-se homem como tal tivesse sido uma humilhação do
Filho de Deus, então a Sua exaltação não poderia ter consistido de forma alguma na
glorificação de toda a Sua natureza humana, mas antes numa renúncia completa a ela. No
entanto, é o ensino claro da Sagrada Escritura que Jesus, em Sua exaltação, manteve a forma
de homem3, e que, portanto, Sua ressurreição e ascensão ao céu envolveram nada menos do
que tornar eterna Sua humanidade em forma transfigurada e glorificada, mesmo que de uma
maneira totalmente incompreensível para nós. Ele realmente assumiu a “forma de um “escravo”
(na KJV “servo”) Filipenses 2:7, que pertence ao homem em sua atual humildade; contudo,
através de Sua obra redentora, Ele a exaltou e transfigurou de tal maneira que ela não pode
mais formar uma contradição ou antítese à Sua própria glória como Aquele que está sentado à
direita do Pai. Pois a glória do Homem transfigurado, Cristo Jesus, no céu certamente não é
menor do que aquela que o Verbo eterno tinha antes de Sua encarnação. Ele mesmo disse:
“Glorifica-me, Pai, por ti mesmo, com a glória que eu já possuía por ti antes que o mundo
existisse” (João 17:5).

2. Mas ainda mais. Esta continuação eterna da humanidade do Filho de Deus é uma condição
indispensável para a conclusão e preservação de Sua obra. Pois somente como Homem
glorificado Ele poderia ser o “último Adão” (Romanos 5:12-21; 1 Coríntios 15:21-22; 1 Coríntios
15:45), e o Cabeça exaltado do “novo homem” Efésios 4:15; Colossenses 2:19; Efésios 2:15) e
o organismo humano redimido, Sua igreja. Somente assim seria possível que os salvos
estivessem “em Cristo”, com comunhão de vida orgânica como os “membros” de Seu “corpo”
com Ele mesmo, a “Cabeça” (1 Coríntios 12:12; 1 Coríntios 12:27; Efésios 1:23). Portanto, o
fato de Cristo permanecer homem é uma parte necessária e essencial de Sua exaltação, e
somente através da ressurreição e ascensão a maravilha de Belém é colocada em sua devida
luz bíblica.

3. Cristo tornou-se homem para que pudesse ser o “último Adão”. Esta é a ideia básica eterna
de Seu aparecimento em forma criada e, portanto, isso é uma glorificação de Sua pessoa como
o Redentor. No entanto, Ele foi um homem humilhado para que, em substituição ao pecador,
alcançasse através do sofrimento as glórias deste último Adão. Essa foi a forma histórica de Sua
vinda ao mundo; e nesse aspecto foi uma autoprivação e um auto-esvaziamento de Sua glória.

3
João 20:15; João 20:25; Lucas 24:13; Lucas 24:36-43; Atos 1:11; Apocalipse 1:13; Filipenses 3:21.
12
Mas a forma histórica foi apenas o meio para a realização da ideia eterna. Ele veio para servir e
dar Sua vida em resgate por muitos (Mateus 20:28), a fim de, através de Sua “hora” no
Gólgota, salvar para a eternidade aqueles que, chamados por Ele ao arrependimento, se
deixam procurar e encontrar (Lucas 19:10). E ao sermos incorporados Àquele que é a nossa
vida, o Cristo celestial ganha em nós uma estatura cada vez mais vitoriosa; e assim o processo
avança para uma encarnação contínua de Sua natureza santa em nós, Seus redimidos (2 Pedro
1:4), e “a encarnação do Filho como ponto central da história universal torna-se ao mesmo
tempo o ponto central da história da nossa vida pessoal e a meta do nosso futuro”.

13
Capítulo 2. O Nome Jesus Cristo: O Tríplice Ofício
“Teu nome é um ungüento derramado.” - Cantares 1:3. “E em nenhum outro há salvação;
porque debaixo do céu não há outro nome, que seja dado entre os homens, em que devamos
ser salvos” (Atos 4:12). O que significa este nome? Por que exatamente o Redentor é chamado
de Jesus Cristo?

[1] O Nome Jesus

O nome “Jesus” tem um significado triplo. Em primeiro lugar é simplesmente

1. Seu nome pessoal. “Chamarás o seu nome Jesus” (Mateus 1:21). Mas “Cristo” não é antes
de tudo um nome pessoal. Portanto, para se adequar ao contexto em Efésios 2:12 e Hebreus
11:26, não Jesus, mas somente Cristo poderia ser usado, como é de fato o caso. Mas na
medida em que pela encarnação o nome Jesus seria dado ao Filho de Deus, é ao mesmo tempo

2. Seu nome em humilhação. Na verdade, este nome está tão relacionado com a humilhação
do Senhor que Ele o tem em comum com outros: como com Josué, filho de Num, o sucessor de
Moisés (gr. Iesous Hebreus 4:8), e com Josué, o sumo sacerdote da época de Zacarias
(Zacarias 3:1), com Jesus Sirach, Jesus Justus (Colossenses 4:11), e até mesmo com Jesus, o
pai do feiticeiro judeu-árabe Bar-Jesus (filho de Jesus, Atos 13:6).

Disto fica claro por que os Evangelhos falam principalmente de “Jesus”, enquanto em todas as
Epístolas o título “Cristo” permanece em primeiro plano. Pois os Evangelhos tratam do tempo
de Sua humilhação, enquanto as Epístolas testificam Dele como Aquele que foi exaltado e
glorificado; e no nome Jesus prepondera o pensamento da salvação, mas no título Cristo a
glória. Nas Epístolas “Jesus” fica sozinho apenas onde Sua antiga humildade deve ser
enfatizada: 2 Coríntios 4:10; Filipenses 2:10; 1 Tessalonicenses 4:14; Hebreus 2:9; Hebreus
12:2; Hebreus 13:12 (em contraste com o versículo 8).

Como Pedro disse no dia de Pentecostes, somente pela ressurreição e ascensão Jesus se tornou
propriamente Cristo, no sentido pleno da palavra: “Saiba com certeza toda a casa de Israel que
Deus o constituiu Senhor e Cristo, a este Jesus, a quem vós crucificados” (Atos 2:36). Na
medida em que, portanto, como o caminho do Senhor passou do auto-esvaziamento para a
glória, o Novo Testamento segue o mesmo caminho, o caminho de “Jesus” para “Cristo”; assim
como, inversamente, o Antigo Testamento avançou da ideia geral do Messias, isto é, de Cristo,
para o aparecimento histórico de Jesus de Nazaré.

Mas o significado principal do nome Jesus reside no significado próprio da palavra: Jehoshua, o
Senhor é a salvação. Portanto é especialmente

3. Seu Nome como Salvador, o Redentor do mundo: “É ele quem salvará o seu povo dos
seus pecados” (Mateus 1:21). Como tal, faz uma tríplice revelação de

a exclusividade de Sua salvação, pois Ele e somente Ele pode salvar (Atos
4:12). Daí a ênfase no grego sobre “Ele” em Mateus 1:21;

o limite de Sua salvação, pois Ele salvará apenas “Seu povo”, isto é, os salvos de
todas as nações (comp. 1 Pedro 2:9; Tito 2:14; Atos 15:14); e

14
a profundidade e amplitude de Sua salvação: pois Ele não apenas redime das
consequências do pecado - condenação e julgamento, mas dos próprios pecados,
de sua escravidão, senhorio e poder. Ele é a fonte não apenas da justificação,
mas também da santificação (1 Coríntios 1.30).

Tudo isso está no nome de Jesus. Nele está declarado o “Índice”, título, símbolo, lema de Sua
atividade salvadora. Portanto, não é de admirar que este seja o nome que enche o louvor dos
redimidos por toda a eternidade; não é de admirar que nele se dobre todo joelho de todos os
que estão no céu, na terra e debaixo da terra (Filipenses 2:10).

Mas qual é o método e a maneira pela qual o Senhor revela os tesouros do Seu nome Jesus? A
resposta está no título Cristo.

[2] O Nome Cristo

Aqui estão quatro fatos triplos principais que revelam para nós o significado interno deste título:

1. A tríplice unção oficial no Antigo Testamento.

2. O triplo desdobramento no Novo Testamento.

3. A tríplice escravidão do homem através do pecado.

4. A tríplice obra de Cristo como Redentor.

1. No tempo da salvação do Antigo Testamento, havia três principais unções teocráticas


ordenadas por Deus: uma unção do sumo sacerdote (Levítico 8:12; Salmos 133:2), do rei (1
Samuel 10:1; 1 Samuel 16:13), e do profeta (1 Reis 19:16). Portanto, quando o Mediador da
salvação é descrito como Cristo, Messias, isto é, Ungido, isso significa que os mais altos ofícios
e dignidades de toda a antiga aliança estão unidos em Sua pessoa, e que Nele todas as
profecias alcançaram o cumprimento eterno. De acordo com a profecia de Jeremias a respeito
da nova aliança (Jeremias 31:31-34; comp. Hebreus 8:8-12), o Messias traz uma extensão de
Seu reinado sobre a vida interior (Jeremias 31:33; 2 Coríntios 3:3);

uma concessão geral do dom de profecia, e

uma consumação eterna do sacerdócio (Jeremias 31:34).

Ele coloca Sua natureza em Seu próprio povo e os torna igualmente reis, sacerdotes e
testemunhas de Sua verdade profética (Pedro 2:9; Apocalipse 1:6). E assim o Doador se torna
o presente (2 Coríntios 9:15), e faz com que Seu próprio esplendor como Cristo, o sol, flua dos
cristãos, Seus redimidos (Atos 11:26).

2. Não de uma só vez, mas em três grandes etapas, o Senhor revela o conteúdo glorioso do
Seu título, Cristo.

Primeiro Ele vem como profeta (Deuteronômio 18:15-19), como Filho, em quem “no fim dos
dias” Deus falou (Hebreus 1:1-2), e que, como “o resplendor da glória” de Deus, torna
conhecida a natureza de Seu Pai com clareza incomparável, além de todos os profetas da
antiguidade (João 1:18; João 3:13).

E então este Profeta vai para a cruz. Ele se permite ser carregado com os pecados do mundo
(João 1:29; 1 João 2:2), torna-se ao mesmo tempo o cordeiro do sacrifício e o sacerdote
15
(Hebreus 9:12; Hebreus 9:14; Hebreus 9:25-26) e efetuar através de Si mesmo a purificação
dos pecados (Hebreus 1:3).

Finalmente Ele é exaltado e se assenta à direita da Majestade nas alturas (Hebreus 1:3), e
agora vemos Aquele que “foi feito um pouco menor que os anjos” “coroado de glória e honra
como Rei, no mesmo motivo que Ele sofreu até a morte (Hebreus 2:9).

3. Mas porquê precisamente um cargo triplo? Por que esta tríplice atividade do Redentor?
Porque existe uma necessidade tripla na salvação do homem; porque a posteridade caída de
Adão é mantida em uma escravidão tripla e, portanto, deve ser redimida em três aspectos.

Deus criou o homem para ser um reflexo da Sua natureza espiritual, santa e abençoada. Para
que pudessem ser um espelho de Sua espiritualidade, Ele lhes deu o entendimento; para que
possam ser uma cópia de Sua santidade e amor, a vontade; e que eles deveriam ser um vaso
de Sua bem-aventurança e felicidade, os sentimentos.

Mas então veio o pecado. O homem inteiro caiu. Seu entendimento foi obscurecido (Efésios
4:18), sua vontade tornou-se má (João 3:19) e seus sentimentos tornaram-se infelizes
(Romanos 7:24).

4. Desta ruína total, a obra de Cristo agora o salva.

Como Profeta, Ele traz conhecimento, ou seja, luz, liberta o entendimento das trevas do
pecado e estabelece o reino da verdade.

Como Sacerdote, Ele traz o sacrifício, cancela a culpa e, portanto, a consciência da culpa,
libertando assim os sentimentos da pressão paralisante da miséria e de uma consciência
acusadora, e estabelece o reino de paz e alegria.

Como Rei, Ele governa a vontade, guia-a nos caminhos da santidade e estabelece o reino do
amor e da justiça.

Assim, o Seu título Cristo, abrangendo uma salvação tríplice, torna-se o desdobramento e a
explicação do Seu nome Jesus. É porque o Redentor é o Cristo, o três vezes ungido, que Ele é
Jesus, o Salvador. Seu tríplice ofício liberta o homem nos três poderes de sua alma: o
entendimento, os sentimentos e a vontade. É introduzida uma salvação plena, gratuita e
completa, de modo que a redenção não poderia ser mais perfeita do que é. A tríplice miséria
das trevas, infelicidade e pecaminosidade é enfrentada por uma salvação tripla, mas
organicamente única, de iluminação, bem-aventurança e santidade, e a espiritualidade
(Colossenses 3:10), felicidade gloriosa (2 Coríntios 3:18), e santidade de Deus (Efésios 4:24)
brilha novamente na criatura que é Sua imagem.

16
Capítulo 3. A Mensagem do Reino dos Céus
Arrependa-se, pois o reino dos céus está próximo. Mateus 3:2; Mateus 4:17.
[1] O Arauto

No deserto, no Jordão, João pregou o batismo de arrependimento para o perdão dos pecados
(Marcos 1:4). O elemento novo no batismo de João não foi o fato de ele ter batizado, pois os
judeus já praticavam o chamado batismo de prosélito nos gentios que passaram a ter fé em
Jeová; mas foi que ele batizou os judeus, colocando-os assim no mesmo nível das nações.

João foi o “Elias” (Malaquias 4:5-6; Lucas 1:17; Mateus 17:10-13), o preparador do caminho
(Isaías 40:3-4; Mateus 3:3), com maior autoridade do que todos os profetas (Mateus 11: 9-10),
o testemunho da Luz e do Cordeiro (João 1:7-8; João 1:29; João 1:36). Ele era o arauto do Rei
cuja vinda estava próxima (Malaquias 3:1; João 1:26), e era o maior de todos os que nasceram
de mulher (Mateus 11:11). Ele era uma lâmpada acesa e brilhante (João 5:35), a voz de
alguém que clama no deserto (João 1:23; Isaías 40:3), que apontava para a “Palavra” desde a
eternidade.

O que é uma voz? Um som, um ruído, um grito indistinto, a menos que uma palavra o
acompanhe. Uma besta (Apocalipse 9:9), uma explosão (João 3:8, lit.), um trovão (Apocalipse
6:1) - estes podem muito bem ter voz, mas somente através da palavra a voz recebe conteúdo
e significado claros. Então João Batista sem Jesus era um som vazio, um sopro, um nada.

Mas a palavra pode muito bem existir sem a voz. A palavra não dita ou não escrita permanece
uma palavra no sentido mais amplo. Assim, Jesus é tudo o que Ele é, mesmo sem o Batista. A
voz precisa da palavra, mas a palavra não precisa da voz. João precisava de Jesus, mas Jesus
não precisava de João.

Mas se a palavra e a voz se combinam, então, do ponto de vista do ouvinte, a voz precede a
palavra; pois a voz é a primeira a chegar ao ouvido do ouvinte, e só então o significado – a
palavra – chega ao seu espírito. Assim, o Batista veio ao mundo primeiro, e Cristo, a Palavra,
veio depois.

Mas ao falar isso se inverte: então a palavra precede a voz; pois a palavra deve ser concebida
interiormente antes que a voz passe pelos lábios. Então João disse: “Depois de mim vem um
homem que existiu antes de mim; porque ele chegou antes de mim” (João 1:30).

Finalmente; se a palavra foi dita então a voz cessa, morre e não existe mais. Mas a palavra
permanece, pois foi plantada no coração de quem a ouve. Assim também com Jesus e João.
“Ele deve aumentar: eu devo diminuir” (João 3:30). Assim que João cumpriu sua comissão, ele
foi removido; Mas Jesus permanece.4

[2] O Rei

O Rei retomou a mensagem do arauto (Mateus 4:17; comp. 3; 2). Em Sua pessoa o reino de
Deus veio entre os homens (Lucas 17:21; Lucas 10:9; Lucas 10:11). Ele mesmo era o reino
pessoal presente. Isto Ele expressou, tanto velado como desvelado, ao designar-se a Si mesmo
como “Filho do homem”.

4
Veja Trench, Sinônimos do Novo Testamento, 336, ed. 12.
17
1. A origem do título “Filho do Homem”. Este título é encontrado mais de oitenta vezes nos
Evangelhos. Tem sua raiz no livro de Daniel. Ali, o reino messiânico, em contraste com a
natureza fera dos impérios mundiais — leão, águia, urso, pantera, fera terrível — foi descrito
como o reino do Filho do homem, isto é, como sendo o primeiro e único reino da história em
que a verdadeira humanidade, no sentido da Sagrada Escritura, governará a terra. “Eu vi nas
visões noturnas, e eis que veio com as nuvens do céu alguém semelhante a um filho de
homem, e ele veio até o Ancião de Dias... e a ele foi dado domínio e glória e um reino” (Daniel
7:13-14). Esta profecia do Filho do homem nas nuvens do céu, que como o Rei Messias
estabelece o reino, Cristo inequivocamente aplicou a Si mesmo, tanto quando discursou aos
Seus discípulos no Monte das Oliveiras (Mateus 24:30) quanto em Seu juramento perante o
Conselho Superior: “Doravante vereis o Filho do homem sentado à direita do Poder, e vindo
sobre as nuvens do céu” (Mateus 26:64).

2. O Significado do Título Filho do homem. Chamando a si mesmo de Filho do Homem

Cristo não denota simplesmente Sua humildade e humilhação, em contraste com Seu passado
celestial, que Ele, o Filho de Deus, agora havia se tornado homem (comp. Filipenses 2:5-10);

nem, em primeira instância, com referência ao presente, Ele quer dizer que Ele,
como o Santo e sem pecado, é o único homem verdadeiro de acordo com a
mente do Criador (Gênesis 1:1-31; Gênesis 27:1-46);

mas antes, olhando para o futuro, Ele declara Sua dignidade divina como
Messias, que Ele, como o Homem glorificado, vindo novamente nas nuvens do
céu, trará o reino de Deus no tempo da consumação, e assim em Seu divino
pessoa exaltará a ideia realizada da verdadeira masculinidade no trono da história
humana.

A expressão “Filho do homem” é, portanto, um título messiânico e real divino, assim como Davi,
o salmista, já havia dito do filho do homem: “De glória e de esplendor o coroaste. Tu o fizeste
governante sobre todas as obras das tuas mãos. Todas as coisas puseste debaixo de seus pés”
(Salmos 8:5-6; Hebreus 2:6-9). E porque no título velado Filho do homem está contido o
mistério velado de Sua filiação a Deus, portanto a Cristo, em resposta à pergunta do sumo
sacerdote: “És tu o Filho de Deus?” poderia dizer: “Doravante vereis o Filho do homem
sentado à direita do poder e vindo sobre as nuvens do céu”, pois o último inclui o primeiro
(Mateus 26:63-64).

Repetidamente esta conexão divina e real do título Filho do homem vem à tona. “O Filho do
homem virá na glória de seu Pai” (Mateus 16:27), “com grande poder e glória” (Mateus 24:30)
e “todos os santos anjos com ele” (Mateus 25:31). O retorno do Filho do homem será “como o
relâmpago que sai do oriente e brilha até o ocidente” (Mateus 24:27). “O Filho do homem se
assentará no trono da sua glória” (Mateus 19:28), e como “Rei” dividirá os povos uns dos
outros como o Pastor separa as ovelhas dos cabritos (Mateus 25:32; Mateus 25:34; Mateus
25:40; comp. João 5:27).

É claro que o título Filho do homem é uma descrição velada do Rei divino (João 12:15; João
12:34; Mateus 16:13; Mateus 16:16); pois Cristo, em Sua primeira aparição, desejou que
somente pela fé Ele fosse reconhecido como o Messias (Mateus 8:4; Mateus 9:30; Mateus 17:9;

18
João 6:15). Que Ele era o Messias, Ele tornou público apenas imediatamente antes de Sua
morte na cruz, e mesmo assim apenas na forma de um ato simbólico, a entrada em Jerusalém
(Lucas 19:29-40; Zacarias 9:9). Foi somente no círculo de Seus próprios seguidores que, desde
o início, mas com clareza cada vez maior, Ele se revelou como Messias (João 1:41; João 1:49;
João 4:25-26; João 9:35-38), até que finalmente Pedro, iluminado pela revelação do Pai,
proferiu a confissão vitoriosa: “tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16).

[3] O Reino

1. O termo “Reino dos céus”. Antes da época de João Batista os judeus já falavam do reino
dos céus. Eles o chamavam de malekut schamayim (reino dos céus), e entendiam por isso o
governo de Deus sobre todas as coisas criadas, especialmente Seu governo real sobre Israel, e
particularmente o glorioso reino do Messias no final da história. Como diz o Talmud: “Se
alguém, ao orar, colocar a mão diante do rosto, tomará sobre si o jugo do Reino dos céus”.
Novamente, o Targum de Jônatas em Miquéias 4:7 diz: “Quando no Sinai Israel aceitou o livro
da lei, aceitou-o com a lei do reino dos céus.” O reino dos céus será manifestado no Monte
Sião. Que o reino de Deus foi chamado de reino dos céus foi porque os judeus, por reverência
ao santo nome Jeová, transcreveram isso por meio de expressões como “altura”, “nome”,
“poder”, “céu”. Daniel havia dito: “os céus governam” para indicar a soberania de Deus
(Daniel 4:26).

Podemos comparar expressões rabínicas como “Peça perdão ao céu”, “o céu faz maravilhas”.
Esta circunlocução pelo nome de Deus não teve nada a ver com as concepções insípidas da
incredulidade moderna a respeito do “céu” e da “Providência”. O primeiro surgiu de uma ideia
intensa, o segundo de uma ideia indistinta de Deus.

Assim, João Batista e Cristo não foram os primeiros a falar do reino dos céus. Muito pelo
contrário, adoptaram a linguagem do Antigo Testamento e do Judaísmo que os rodeava,
preenchendo a mesma expressão com um novo significado; como Lucas 15:21, “Pai, pequei
contra o céu (ou seja, Deus) e diante de ti;” Mateus 21:25, “O batismo de João, de onde foi?
Do céu (isto é, de Deus) ou dos homens?” Mateus 26:64, “Vereis o Filho do homem sentado à
direita do poder” (isto é, de Deus). Portanto, para o Senhor, a descrição predominante do reino
de Deus é o reino dos céus.5

O reino de Deus é o reino dos céus porque

quanto à sua origem – vem do céu (Apocalipse 1:7; Mateus 26:64);

5
Por esse motivo a expressão “reino dos céus” aparece apenas em Mateus (32 vezes), o Evangelho
originalmente destinado aos judeus: os demais Evangelhos, tendo em vista a compreensão de seus
leitores gentios, traduziram-na por “reino de Deus” (assim por exemplo, Lucas, 32 vezes: Mateus 13:31-
32, comp. Lucas 13:18-21; Mateus 19:14, comp. Lucas 18:16-17). Quanto à coisa em si, o reino dos
céus e o reino de Deus são exatamente a mesma coisa. Isto é provado pela comparação das seguintes
passagens paralelas: Mateus 4:17 = Marcos 1:15; Mateus 5:3 = Lucas 6:20; Mateus 11:11 = Lucas
7:28; Mateus 10:7 = Lucas 10:9; Mateus 13:11 = Lucas 8:10; Mateus 19:14 = Lucas 18:16; Mateus
19:23 = Lucas 18:24. Em todos esses lugares, Marcos e Lucas citam as mesmas palavras de Jesus nas
mesmas ocasiões, mas reproduzem a expressão “reino dos céus” de Mateus simplesmente com “reino
de Deus”. Comp. mais Mateus 19:23 com 24.
19
quanto à sua natureza – carrega o céu dentro de si (Filipenses 3:20; Efésios 1:3;
Efésios 2:6; Colossenses 3:1-4);

quanto ao seu centro – tem o Senhor como seu Rei, através de quem somente o
céu será propriamente o céu (Salmo 73:25).

2. As Formas sob as quais o Reino dos Céus aparece. Proclamar, tornar possível e
completar este governo real de Deus era todo o propósito da obra de Cristo; a proclamação foi
Sua obra como Profeta, a possibilitação que Ele efetuou como Sacerdote, a conclusão será Sua
obra como Rei. Portanto, a proclamação do reino dos céus foi o tema distintivo de Sua
mensagem terrena, e todas as Suas parábolas são parábolas do reino, mesmo aquelas em que
as palavras “reino dos céus” não são expressamente usadas (por exemplo, Mateus 13:3;
Mateus 21:33). No entanto, esta omissão nunca é sem significado, pois o próprio silêncio da
Bíblia fala (Hebreus 7:3). Em consequência, o reino dos céus não é simplesmente “céu”, o reino
celestial, nem apenas o futuro reino do Messias (comp. 2 Timóteo 4:18), nem a igreja da era
presente (comp. Colossenses 1:13; Romanos 14:17).), mas de maneira bastante geral e
simples, é o governo real de Deus conforme vem do céu, por meio da redenção, estabelecido
na velha terra, e que continuará eternamente na nova terra.

A respeito de todos os períodos e de todas as formas de seu aparecimento, o Rei testemunhou


como Seu próprio arauto (keryssein; Mateus 4:17, comp. keryx, arauto). Ele falou

do reino em Israel, o reino do Antigo Testamento, que preparou o caminho para


a salvação, e que deveria ser “tirado” dos antigos possuidores, os judeus (Mateus
21:43).

do reino de Cristo, o reino pessoalmente presente em Si mesmo, na pessoa


(Lucas 17:21) e nas obras maravilhosas (Lucas 11:20) do Rei que se tornou carne
entre Israel:

do reino na igreja (comp. Colossenses 1:13), o presente reino oculto que em Sua
própria pessoa se aproximava (Mateus 4:17), e que durante toda a dispensação
da igreja perduraria (Mateus 13:24-47; Mateus 18:23; Mateus 20:1; Mateus 22:2)
no “mistério” (Mateus 13:11) até a consumação da era (Mateus 13:39; Mateus
13:49). Finalmente Ele falou

do reino na consumação, o reino messiânico em glória, predito pelos profetas,


que finalmente virá em poder (Marcos 9:1), aparecerá (Lucas 19:11), e será dado
pelo Pai aos “pequenos rebanho” (Lucas 12:32), que terá permissão de entrar
(Mateus 7:21) como recompensa (Mateus 5:10-12) e uma herança (Mateus
25:34; Mateus 8:11; Mateus 13:43).

3. O Evangelho do Reino. Tudo o que foi dito acima pertence ao evangelho do reino (Marcos
1:14-15; Lucas 4:43). É o verdadeiro tema básico da mensagem de Cristo. Somente o contexto
pode esclarecer o sentido exato. Assim, por “reino” Paulo também às vezes significa algo
presente (Romanos 14:17; 1 Coríntios 4:20; Colossenses 1:13; Colossenses 4:11), mas muitas
vezes algo futuro (1 Coríntios 6:9-10; Gálatas 5:21; Efésios 5:5; 1 Tessalonicenses 2:12; 2
Tessalonicenses 1:5; Atos 14:22). Assim, a mensagem fala ora do presente, ora do próximo,
ora do distante, ou do reino mais distante.
20
O reino não é, portanto, algo meramente israelita e futuro. Até mesmo Paulo proclamou o
reino, e isso aos gentios, e depois de se afastar dos judeus (Atos 20:25; Atos 28:31). Suas
atividades durante “todo o tempo” de sua estada em Éfeso (isto é, dois anos e um quarto, Atos
20:18; Atos 19:8; Atos 19:10) ele descreve pelas duas expressões: “testificar o evangelho da
graça de Deus” (Atos 20:24) e proclamar como arauto o reino de Deus” (Atos 20:25). Ambas as
expressões pertencem à mesma época.

Assim, é sempre o mesmo reino, que sai do céu e da eternidade, continua através dos tempos
e corre novamente para a eternidade de Deus. É preciso também evitar uma identificação
precipitada entre “reino” e reino milenar. O reino é antes de tudo totalmente geral, o governo
de Deus, Sua realeza tão viva e poderosa, a atividade de Deus tornada conhecida através das
diferentes dispensações em formas sempre novas de manifestação. Como vimos, mesmo os
judeus dos tempos pré-cristãos designavam por “reino dos céus” não apenas o reino de glória
do Messias, mas muitas vezes o governo moral, espiritual e invisível de Deus sobre a Natureza,
as nações e Israel (veja a página 22). Além disso, Cristo se opôs diretamente a muitas
concepções do reino de Seus contemporâneos judeus, que o limitaram aos assuntos terrenos
(Lucas 17:20-21; Lucas 19:11 e segs.). Portanto, embora mantenhamos firme a expectativa de
um reino visível vindouro (Mateus 19:28; Atos 1:6-7), Sua idéia do reino certamente não pode,
sem mais delongas, ser explicada por referências à concepção judaico-farisaica do reino.

Portanto, há apenas um evangelho (Gálatas 1:6-9), e este é

o evangelho de Deus – pois Deus é sua fonte (Romanos 1:1; Romanos 15:16);

o evangelho de Cristo — pois Cristo é seu Mediador (Romanos 15:19; 1 Coríntios


9:12);

o evangelho da graça – pois a graça é a sua própria alma (Atos 20:24);

o evangelho da salvação – pois a salvação é o seu dom (Efésios 1:13);

o evangelho do reino – pois o reino de Deus é o seu objetivo (1 Coríntios 15.28);

o evangelho da glória – pois a glória é todo o seu efeito (1 Timóteo 1:11).

E Paulo diz de si mesmo e de seus colegas de trabalho

“meu evangelho” (Romanos 16:25; 2 Timóteo 2:8) ou “nosso” evangelho (2


Coríntios 4:3; 1 Tessalonicenses 1:5) - pois eles eram os mensageiros (Gálatas
1:11; 1 Timóteo 1:11).

[4] O Caminho para o Reino

Mas o caminho para a coroa passa pela cruz. Portanto, depois que o Rei colocou pela primeira
vez no centro de Sua mensagem o resultado de Sua obra, o reino, Ele passou a trazer cada
vez mais à frente os meios para alcançar esse objetivo, até mesmo o sofrimento.

Ele falou do fato de Sua morte quando falou da retirada do Noivo (Mateus 9:15),
do beber do cálice e do ser batizado com o batismo do sofrimento (Marcos 10:38-
39), mas sobretudo em os três principais anúncios de Seus sofrimentos, em
Cesaréia de Filipe, na Galiléia e no caminho para Jerusalém (Mateus 16:21-23;
Mateus 17:22-23; Mateus 20:17-19).
21
Ele falou da necessidade de Sua morte, do “dever” divino de Ele ser levantado
como a serpente no deserto (João 3:14), e de Sua morte como o grão de trigo
para ser glorificado através da produção de frutos (João 12:23-24; comp. Lucas
24:26; Lucas 24:46).

Ele falou da voluntariedade de Sua morte: “Ninguém me tira a vida, mas eu


mesmo a dou” (João 10:18); e

Ele falou do significado de Sua morte

como o fundamento da salvação completa (João 19:30), mundial (João 12:32;


Lucas 24:46-47) (João 3:14-15), através da morte substitutiva para pecadores
perdidos (Mateus 20:28), com o propósito de estabelecer uma nova aliança
através do perdão dos pecados (Mateus 26:28); e também

como o fundamento para a santidade prática no discipulado genuíno, pela


abnegação e pelo carregar a cruz após Ele (Mateus 10:38; Lucas 14:27; João
12:24-26).

E em todas as coisas Ele sempre viu Sua morte em conexão com Sua ressurreição e glorificação
(João 10:17). Isto é demonstrado por Suas palavras quanto à destruição do templo (João 2:18-
20), e ao sinal de Jonas (Mateus 12:39-40), e quanto à pedra angular (Mateus 21:42) e ao grão
de trigo. (João 12:23-24). E nesta base da ressurreição e da concessão de Sua vida para ser a
vida daqueles que crêem, Ele viu o único caminho para o pecador participar do significado
salvador de Sua obra; e daí Suas palavras quanto a comer e beber de Sua carne e sangue, sem
os quais ninguém tem vida em si mesmo (João 6:53). “O pão que eu darei é a minha carne,
que darei pela vida do mundo... quem comer deste pão viverá para sempre” (João 6:51; João
6:58).

[5] A Mensagem do Reino

É impossível descrever exaustivamente o conteúdo moral da mensagem do reino dos céus: “o


mundo não conteria os livros”. A mensagem é

1. Sagrado e sublime em sua autoridade. “Ele ensinava como quem tem autoridade, e não
como os escribas” (Mateus 7:29; João 7:46), o que foi confirmado por sinais e admiração (João
5:36; Hebreus 2:4). Confirmar a mensagem do reino celestial foi o propósito principal dos
milagres de Jesus, como é mostrado especialmente no Evangelho de João (2:23; 3:2; 6:14;
9:32,33; 11:47; 12:37). Daí a recusa de sinais onde esta prontidão para acreditar não foi
encontrada (Mateus 12:38-39; Marcos 6:4-5). E as palavras do Senhor foram ações; Suas obras
foram maravilhas, e Ele mesmo foi o Príncipe da vida divinamente designado (Atos 3:15). Além
disso, a mensagem do reino foi

2. Maravilhosamente sábio em suas instruções. A antiga aliança que Cristo tratou como
preparatória para a nova, como prova da verdade (João 10:34-35; Lucas 20:41-44), como
profetizando Sua própria mensagem (Mateus 5:17; Lucas 24:27; João 5:39). Seu ensino foi,
portanto, explicativo.

22
A natureza Ele refinou em imagens e parábolas do reino dos céus (Mateus 13:3; Mateus 13:31),
e Ele fez o mesmo com a vida humana (Mateus 13:24; Mateus 13:33; Mateus 13:44-45) e a
história (Lucas 19:12 e segs.). Assim, Seu ensino foi uma mensagem transfiguradora.

Questionando inimigos, Ele silenciou com contra-perguntas (Mateus 15:2-3; Mateus 21:23-25;
Mateus 22:17-22; Mateus 22:41-45). Assim, a mensagem foi defensiva e vitoriosa.

Discípulos ávidos por aprender, Ele iniciou especialmente em Seus mistérios (Mateus 13:18 e
segs.; Marcos 4:34). Assim foi instrutivo.

Portanto, Deus disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Ouça-o!” (Mateus
17:5). E Ele mesmo testificou: “Eis que está aqui quem é maior do que Salomão” (Mateus
12:42; 1 Reis 10:1-10).

De especial significado aqui é a atitude de Jesus para com o Antigo Testamento. Para Cristo, a
Palavra viva pessoal (João 1:14), a palavra escrita, o Antigo Testamento, era uma unidade
indissolúvel, um organismo, “a Escritura” (João 10:35). E em particular foi para Ele:

a Autoridade, sob a qual Ele se colocou (Gálatas 4:4);

o Alimento, do qual Ele se alimentou (Mateus 4:4);

a Arma, com a qual Ele se defendeu (Mateus 4:4; Mateus 4:7; Mateus 4:10;
Mateus 12:3);

o Livro Texto, que Ele explicou (Lucas 24:27; Lucas 24:32; Lucas 24:44-45);

a Profecia, que Ele cumpriu (Mateus 5:17-18; João 5:39);

a Etapa Preparatória, que Ele superou (Mateus 5:22; Mateus 5:28; Mateus 5:32;
Mateus 12:6; Mateus 12:41-42);

Sua própria palavra, que Ele interpretou e aprofundou (1 Pedro 1:11; Mateus
5:28).

Com tudo isso Sua pregação foi:

3. Terrivelmente severo em seu julgamento. O homem é por natureza “mau” (Mateus


7:11), “uma geração adúltera” (Marcos 8:38). Todos os tesouros do mundo não valem uma
alma humana (Mateus 16.26); toda piedade carnal é uma “abominação diante de Deus” (Lucas
16:15). Com zelo consumidor (João 2:17), Cristo lutou contra os fariseus, Seus inimigos (Lucas
19:27), os principais representantes da religião fingida. Ele os chamou de “sepulturas caiadas,
cheias de ossos de mortos” (Mateus 23:27), tolos (Lucas 11:40) e cegos (Mateus 15:14),
mentirosos (João 8:55) e hipócritas (Mateus 23:13-15), ladrões (João 10:8) e assassinos
(Mateus 22:7), lobos vorazes (Mateus 7:15), filhos do Diabo (João 8:44), uma raça de
serpentes e víboras (Mateus 23:33).

O templo Ele chamou de “toca de ladrão” (Marcos 11:17), Herodes de “raposa” (Lucas 13:31-
32). Aqueles que O confessaram falsamente eram “malfeitores” (Mateus 7:23), “filhos do
Maligno” (Mateus 13:38), e todos os que O rejeitaram são piores que Sodoma e Gomorra
(Mateus 10:15).

23
Todos os que assim continuam estão “perdidos” (Mateus 16:25) e “amaldiçoados” (Mateus
25:41); seu destino é “uivar e ranger de dentes” (Mateus 24:51 - Mateus 25:30), seu lugar é o
“fogo inextinguível” (Marcos 9:43; Mateus 25:41).

E, no entanto, ao mesmo tempo, a mensagem do reino dos céus é

4. Infinitamente compassivo em suas boas novas. Isto mostra

o amigo dos pecadores (Mateus 11:19; Mateus 9:13), e

o Médico dos enfermos (Marcos 2:17);6

o Refrigeração dos cansados e oprimidos (Mateus 11:28);

o Abençoador dos filhos (Mateus 19:15);

o Proclamador de boas novas aos pobres (Lucas 4:18);

o Prometedor do Paraíso ao assassino moribundo (Lucas 23:43).

Assim, o Rei tornou-se o Servo de Seus servos (João 13:1-12), e, de fato, como o Glorificado,
Ele ainda está pronto para o serviço: “Bem-aventurados aqueles servos a quem o Senhor,
quando vier, achar vigilantes: em verdade eu digo a vós, que ele se cingirá, e os fará sentar à
mesa, e virá e os servirá” (Lucas 12:37).

E ainda assim a mensagem do reino é:

5. Sem reservas em suas demandas. Requer obediência ilimitada. Ela concede e comanda,
é ao mesmo tempo dádiva e tarefa. Se algum reino já apresentou reivindicações totalitárias, é o
reino de Cristo e de Deus. Autoridade e obediência, liderança e seguimento, comando e
sujeição, esta é a sua ordem. Este é um rei, um reino e uma igreja totalitários. Toda indiferença
e tibieza são uma abominação para o Rei. O homem inteiro pertence a Ele, em espírito, alma
e corpo, em todos os relacionamentos, celestiais e terrenos. Renunciar a tudo (Lucas 14:33),
tomar a cruz (Mateus 16:24), amar Jesus mais do que o mais querido da terra (Mateus 10:37),
servir somente a Ele (Lucas 16:13), odiar a si mesmo (Lucas 14:26), perder a vida, para ganhá-
la eternamente (João 12:25) - esta é a mente que o Rei exige. E em detalhes Ele ordena
amor fraternal e amor a Deus (Marcos 12:28-31), verdade e fidelidade (Mateus 5:33-37),
humildade e abnegação (João 13:1 ss.; Mateus 16:24), liberdade de ansiedade com fé corajosa
(Mateus 6:25; Mateus 21:21), um espírito de oração e uma esperança celestial (Mateus 6:6;
Lucas 12:35-48).

Mas tudo isso vem da vida do alto, da consciência da posição real da criança nobremente
nascida da semente divina. “Portanto, sereis perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está nos
céus” (Mateus 5:48). “Porque eu vos digo que, se a vossa justiça não for superior à dos
escribas e fariseus, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20). E ainda!

6
Todos os milagres de Jesus são milagres de ajuda e, portanto, ao mesmo tempo, ações que
simbolizam o propósito de Sua missão. Até mesmo o único milagre do julgamento – a maldição da
figueira (Mateus 21:19) – foi na verdade um ato de Seu amor, uma advertência simbólica a Israel.

24
“Quando tiveres feito tudo o que te foi ordenado, dize: Somos servos inúteis: apenas
cumprimos o nosso dever” (Lucas 17:10).

Finalmente, chegará o Fim (Mateus 24:14), e com ele a vitória, pois a mensagem do reino dos
céus chegou

6. A Libertação Mundial como objetivo. “O campo é o mundo” (Mateus 13:38). “Pregue o


evangelho a toda a criação” (Mateus 28:19-20). Pois “em seu nome o arrependimento e o
perdão dos pecados devem ser pregados a todos os povos” (Lucas 24:47), para “um
testemunho para eles” (Mateus 24:14) em Jerusalém, em toda a Judéia, Samaria e até o fim da
terra (Atos 1:8).

E então, quando o Rei aparecer, Seu reino será visível. Os abençoados do Pai herdarão a
soberania (Mateus 25:34), e os justos brilharão como o sol para todo o sempre (Mateus 13:43).
Esta é a esperança da mensagem do reino.

[6] Os Ouvintes

Mas todas essas palavras foram ditas em território nacional judaico. Nos dias de Sua carne, o
Senhor era um “ministro da circuncisão” (Romanos 15:8), e até mesmo Ele mesmo estava
“debaixo da lei” (Gálatas 4:4; comp. Lucas 2:22; Lucas 2:24; Lucas 2:41; Março 1:44). “Não fui
enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mateus 15:24; Mateus 10:5-6). Aqueles
abordados no sermão da montanha (Mateus 5:1-48; Mateus 6:1-34; Mateus 7:1-29), a
conversa à beira-mar (Mateus 13:1-58), o discurso no Monte das Oliveiras (Mateus 24:25), e
todas as parábolas, eram em primeira instância filhos de Israel. Somente após a remoção da
“parede do meio” através da Cruz (Efésios 2:13-16), e a abertura do reino dos céus aos
homens totalmente gentios pela conversão de Cornélio (Atos 10:1-48; Mateus 16:19), as
nações também tinham o direito de tomar para si diretamente, da mesma forma que os judeus,
o ensinamento essencial dos Evangelhos. Somente esses dois eventos, que aconteceram
depois da vida terrena de Jesus, abriram mais tarde aos não-israelitas a porta do auditório do
Senhor.

Mas agora não existe mais diferença (Atos 15.8-9); pois ambos têm a mesma salvação (Atos
28:28; Atos 11:17). Não existem duas “boas novas” - um judeu-cristão e um gentio-cristão -
mas apenas um evangelho e uma igreja (Gálatas 1:6-9; Efésios 2:11-22; Efésios 3:6). A
afirmação de que, após a abertura da porta do reino através da cruz e de Atos 10:1-48, o
conteúdo doutrinário do evangelho continuou a ser limitado a Israel, e não se manteve no
mesmo terreno dispensacional que a mensagem de Paulo e a igreja, contradiz, portanto, a
doutrina da salvação do Novo Testamento e especialmente a de Paulo. O próprio Paulo testifica
do “seu” evangelho, no que diz respeito à sua área, que ele teve que passar por dois períodos –
primeiro para o judeu7 e depois (esta mesma salvação, Atos 28:28) para os gentios (Romanos
1:16; Atos 13:46).

Além disso, de acordo com o escritor de Hebreus, que foi um dos colaboradores de Paulo
(Hebreus 13:23), a salvação da era da igreja “começou” a ser ensinada na mensagem terrena
de Cristo e não na de Paulo (Hebreus 2:3). E se Paulo descreve “seu” evangelho como
“espírito” e “vida” (“o espírito vivifica”, 2 Coríntios 3:6), então também o caráter das palavras

7
Conforme Mateus 10:5-6, comp. 28:19; e por causa de João 3:22; Romanos 11:18.
25
do Senhor Jesus está na mesma linha dispensacional: “As palavras que vos tenho falado são
espírito e são vida” João 6:63). Portanto, aquilo que foi proclamado por Paulo e seus
colaboradores na era da igreja não foi, no que diz respeito à mensagem dos Evangelhos, uma
nova mensagem dispensacional, mas simplesmente uma continuação, ampliada e aprofundada
por revelações adicionais do Espírito (Gálatas 1:11-12; Efésios 3:3; 1 Coríntios 11:23; 1
Tessalonicenses 4:15). As palavras do Senhor foram uma mensagem de alegria, um
pronunciamento de bênção (Mateus 5:3-12); eram “palavras de graça” (Lucas 4:22), revelações
do nome do Pai (João 17:6; Mateus 5:45). De acordo com Hebreus 2:3, “salvação” e
“redenção” são o cabeçalho inspirado de Sua pregação terrena. Seus milagres foram obras de
cura e ajuda, e Ele era - não a “morte” declarada na lei - mas a “graça de Deus” pessoal que
havia aparecido (Tito 2:11; Tito 3:4), Ele mesmo a ressurreição e o eterno vida (João 11:25;
João 14:6; João 17:3). Assim, no período dos Evangelhos, a área, o ambiente e muitas vezes a
forma da doutrina (Mateus 5:21; Mateus 5:23-27; Mateus 5:31; Mateus 5:38; Mateus 5:43) do
reino dos céus teve um Antigo Testamento e limite nacional, mas sua essência e espírito eram
os da liberdade do Novo Testamento. As dispensações da lei e da graça não devem ser
nitidamente separadas uma da outra por um único evento, mas sobrepõem-se, como as cores
do arco-íris.

[7] A Glória do Reino

Um rei que morre por seus súditos.8

Um Juiz que é o Salvador de todos.

Aristocratas que eram meros escravos (Lucas 12:32; Romanos 6:20).

Juízes que eram criminosos (1 Coríntios 6:2-3)

Uma lei que é liberdade completa (Romanos 8:2; Tiago 1:25).

Uma liberdade totalmente vinculada (Romanos 6:18).

Todos no reino eram antigos inimigos (Romanos 5:10).

Todos os governantes são ao mesmo tempo servos (Apocalipse 1:6).

Cada um nasceu duas vezes (terrestre e celestial, João 3:3).

Muitos nunca morrem (1 Coríntios 15:51).

Todos trazidos da morte para a vida (João 5:24).

Derrotados, mas conquistadores (2 Coríntios 6:9-10).

Heróis cuja glória é a sua fraqueza (2 Coríntios 12:9).

Desprezado a quem o Rei do universo exalta (Lucas 12:32).

Um domínio na terra com capital no céu (Gálatas 4:26)

Um pequeno rebanho, mas inumerável como a areia do mar (Gênesis 22:17; Apocalipse 7:9).

8
Considerando que geralmente os súditos morrem por seu rei.
26
Um reino sem país ao qual pertence o mundo inteiro (1 Pedro 2:11; Mateus 5:5; 1 Coríntios
6:2).

E o segredo do todo?

Um Rei de glória coroado de espinhos!

Esta é a glória do reino.

27
Capítulo 4. A Batalha Decisiva no Gólgota
“Theologia crucis — theologia lucis” A teologia da cruz é a teologia da luz. — Lutero.

O ódio dos fariseus levou Cristo à cruz. A execução de Jesus foi o maior assassinato judicial da
história do mundo. “Foi o assassinato mais covarde de um embaixador, o ultraje mais hediondo
que os rebeldes cometeram em qualquer momento contra um gentil pai de sua pátria.”

Mas o que Deus fez?

“Ele transformou esta rebelião diabolicamente cruel contra Sua pessoa na expiação pela
salvação desses rebeldes! Ele respondeu a este golpe na Sua santa face com o beijo do amor
reconciliador! Fizemos o máximo de bondade para conosco, e ambos ao mesmo tempo.” Assim,
no mesmo momento, o ato vergonhoso na cruz tornou-se, pela redenção, o ponto de viragem
da história humana e de todo o drama da super-história universal.

De acordo com os últimos cálculos, a crucificação de Jesus ocorreu muito provavelmente em 7


de abril do ano 30 dC. De todos os pontos de vista, a cruz prova ser o fundamento vitorioso da
redenção.

[1] O significado da cruz para Deus.

A cruz é o maior acontecimento da história da salvação, maior ainda que a ressurreição. A cruz
é a vitória, a ressurreição o triunfo; Mas a vitória é mais importante que o triunfo, embora este
último decorra necessariamente dele. A ressurreição é a manifestação pública da vitória, do
triunfo do Crucificado. Mas a vitória em si foi completa. “Está consumado” (João 19:30).

Para Deus a cruz é

1. A evidência suprema do AMOR de Deus. Pois ali o Senhor de toda a vida entregou à
morte Seu Amado, Seu Filho unigênito, o Mediador e Herdeiro da criação (Colossenses 1:16;
Hebreus 1:2-3). Cristo, o Senhor, morreu na cruz, Aquele por Quem as estrelas circulam no éter
e por Quem todo mosquito dança ao sol (Hebreus 2:10). Verdadeiramente “nisto Deus prova o
seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores”
(Romanos 5:8). Ao mesmo tempo, a cruz é

2. A maior evidência da JUSTIÇA de Deus. Pois ali o Juiz do mundo “como prova de sua
justiça” (Romanos 3:25) não poupou nem mesmo Seu próprio Filho (Romanos 8:32). Em todos
os séculos antes do Gólgota, apesar de muitos julgamentos individuais (Romanos 1:18 e
seguintes), Deus nunca visitou o pecado com punição de cem por cento (Atos 17:30); de modo
que finalmente, por causa de Sua paciência, Sua santidade pareceu ser questionada “por causa
da omissão dos pecados cometidos anteriormente, na paciência de Deus” (Romanos 3:25).
Portanto, somente a morte expiatória do Redentor, como autojustificação divina para a história
passada da humanidade, prova a justiça irrefutável do Juiz supremo do mundo. Toda a
paciência do passado só foi possível em vista da cruz (Romanos 3:25), e todo perdão futuro é
justo apenas olhando para trás, para a cruz (Romanos 3:26; 1 João 1:9). A paciência passada
(Romanos 3:25), o julgamento presente (João 12:31) e a graça futura se encontram na cruz
(Romanos 5:8-9). Portanto agora, pela primeira vez, de uma maneira única, a justiça de Deus é
revelada no evangelho (Romanos 1:17; 2 Coríntios 3:9), a justiça de Deus como um atributo

28
divino e também um dom divino que vem de Deus e é válido diante de Deus (2 Coríntios 5:21).
Precisamente por isso a cruz é

3. O mais maravilhoso aumento das RIQUEZAS de Deus. “Foste morto e com o teu
sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação, e os fizeste ser
para o nosso Deus um reino e sacerdote” (Apocalipse 5:9). Eles agora são adquiridos para
Deus, um “povo para Sua possessão” (1 Pedro 2:9), um povo que é Sua propriedade (Tito
2:14). No entanto, não é como se a riqueza adquirida pela cruz significasse um aumento da
própria glória divina - pois Deus em si mesmo é infinito; contudo, é verdade que na igreja Ele
ganhou um instrumento, um órgão para a revelação de Sua glória. Mesmo agora, no presente,
o ofício da igreja não está limitado à terra. Mesmo agora “será dada a conhecer aos principados
e autoridades do mundo celestial a multiforme sabedoria de Deus” (Efésios 3:10-11). Irmão ou
irmã, que o teu espírito se levante da poeira cotidiana! Em ti os principados do mundo celestial
aprenderiam algo da sabedoria do teu Deus! Para cima, para conhecer as estrelas! Sim, além,
acima das estrelas! Deixe teu coração habitar junto ao trono de Deus, o Todo-Poderoso, teu e
meu Pai!

[2] O significado da cruz para Cristo

Para Cristo e Deus a cruz é

1. O mais elevado reconhecimento da autoridade de Deus; pois o Filho tornou-se obediente


até a morte, sim, a morte de cruz (Filipenses 2:8; Romanos 5:19). Isso é

2. A mais alta perfeição de fé em Deus; pois Ele “aprendeu a obediência pelas coisas que
sofreu” (Hebreus 5.8-9), e assim se tornou o “principiante” e o “expositor perfeito” da fé
(Hebreus 12.2; comp. 2.13). Isso é

3. O aumento mais definitivo do beneplácito de Deus; pois Ele se deu uma oferta “para ser
para Deus um cheiro suave” (Efésios 5:2); e isso é

4. Uma base da continuação eterna do amor do Pai ao Filho: “Por isso o Pai me ama, porque
dou a minha vida para retomá-la” (João 10:17).

No que diz respeito pessoalmente a Cristo, para Ele a cruz é

5. O caminho para a transfiguração de Sua posição de amor e poder na de Vitorioso, desde Seu
estar “no seio do Pai” (João 1:18) até sentar-se “à direita da majestade nas alturas” (Filipenses
2:9; Hebreus 2:9; Hebreus 8:1). E mais, é

6. O caminho para a posse de Sua igreja redimida, desde Seu estar “sozinho” como o grão de
trigo, passando pela morte, até a glorificação e fecundidade vitoriosas (João 12:24). Somente
assim o “Líder” (Hebreus 2:10) poderia ganhar a alegria que estava diante dele (Hebreus 12:2).
Somente assim Cristo poderia se tornar o Primogênito entre muitos irmãos (Romanos 8:29) e o
Cabeça de Seus membros (Efésios 1:22). Somente assim Ele poderia adquirir Sua “plenitude”,
Seu “corpo”, aquela “igreja que é a plenitude daquele que cumpre todas as coisas em todos”
(Efésios 1:23). Certamente, como Pessoa Divina, Cristo nada ganhou através da cruz. O
Homem glorificado no céu não possui agora mais divindade e glória pessoal do que a Palavra
eterna que Ele possuía antes de encarnar. Ele mesmo disse: “Glorifica-me, Pai, por ti mesmo,
com aquela glória que eu tinha por ti antes que o mundo existisse” (João 17:5). Mas como o
29
Redentor e “último Adão” (Romanos 5:12-21; 1 Coríntios 15:45), Cristo, no entanto, alcançou
uma nova exaltação, sim, o nome que está acima de todo nome, no qual todo joelho finalmente
se dobrará, nos céus, terra e debaixo da terra (Filipenses 2:9-10).

E finalmente, no que diz respeito à relação de Cristo conosco, a cruz é

7. A mais maravilhosa expressão do amor do Filho de Deus. “Cristo amou a igreja e se entregou
por ela” (Efésios 5:25; Gálatas 2:20). Ele fez da Sua morte agonizante na cruz a fonte da nossa
vida e, assim, respondeu à nossa contradição e ao nosso ódio com amor redentor. Assim, a
aparente vitória de Satanás tornou-se a sua derrota mais poderosa e decisiva, e a aparente
vitória de Jesus tornou-se a sua vitória mais poderosa e triunfante.

[3] O significado da cruz para nós

A. O ASPECTO INDIVIDUAL

Para o indivíduo a cruz tem um duplo significado: é a base da sua justificação, a ordenação
jurídica do seu passado; e a base de sua santificação, o governo moral de seu presente.

1. A Base da Justificação. Nossos pecados devem todos ser depositados no Fiador (Isaías
53.6); Ele deve suportá-los como substitutos de outros (1 Pedro 2:24; Hebreus 9:28), para que
eles, tendo morrido para o pecado, agora vivam para a justiça (2 Coríntios 5:21). E como a
destruição do homem foi ocasionada pela Queda, historicamente um único evento (Gênesis 3:1-
24), então ele deve agora, da mesma maneira, ser levantado de sua queda, pela Fiança através
de um único evento, o “um só ato de justiça” do Gólgota (Romanos 5:18).9

Como a natureza do pecado consiste na separação da criatura do Criador, que é a Fonte de


toda a vida, consiste consequentemente na sua morte; e por causa da necessidade de que o
pecado e a propiciação correspondam; portanto, o Redentor deve suportar a sentença desta
morte e, assim, através de Sua morte, efetuar a restauração da vida. “Sem derramamento de
sangue não há perdão” (Hebreus 9:22). Somente através da morte Ele poderia tirar a força
daquele que tinha o poder da morte, o Diabo (Hebreus 2:14). A redenção deve consistir nisto:
que a morte, este grande inimigo dos homens (1 Coríntios 15:56), deve tornar-se o meio de
sua salvação, e aquilo que é a necessária continuação e punição do pecado deve tornar-se o
caminho da redenção do pecado (Efésios 2:16). Mas isto significa que a morte de Cristo é a
morte da morte10. Compare a serpente de bronze no deserto (Números 21:6; Números 21:8;
João 3:14) e como Davi matou Golias com a própria espada de Golias (1 Samuel 17:51).

9
A palavra grega dikaioma (ação justa), que Paulo usa aqui, em distinção de dikaiosyne (justiça como
atributo), significa um único ato correto. Não através da justiça (dikaiosyne) da vida santa de Jesus na
terra a salvação foi obtida, mas através de um único ato de justiça, Sua obediência até a morte. Claro,
ambos pertencem um ao outro.
10
“No CASTLE CAMPS o seguinte epitáfio curioso sobre um ex-reitor:
Mors mortis nortem nisi morte dedisset,
Aeternae Vitae Janua clausa foret.
A tradução é obviamente:
A menos que a Morte da Morte (Cristo) tivesse dado a morte à morte pela Sua própria morte,
a porta da vida eterna teria sido fechada.”
HE Norfolk's Gleanings in Graveyards, p. 11 (1861). [Trad.]

30
Esta é a lógica da salvação. Está firmemente enraizado e incontestável no plano redentor de
Deus. Na sua demonstração convincente, todos os orgulhosos ataques de incredulidade são
destruídos. A odiada “teologia do sangue” da Bíblia (Hebreus 9:22), com o Cristo crucificado
como seu centro (1 Coríntios 2:2; Gálatas 3:1), permanece, no entanto, a rocha da salvação:
para muitos, na verdade, uma pedra de tropeço e uma rocha de ofensa (1 Pedro 2:8), um sinal
contra o qual se fala em todos os lugares (Atos 28:22; Lucas 2:34); mas para os redimidos a
pedra angular viva, escolhida, cara e mais firmemente fundamentada (1 Pedro 2:4; 1 Pedro
2:6; Isaías 28:16; Salmo 118:22). Está designado para ser a queda e a ascensão de muitos
(como 2:34); para um, um salvador da morte para a morte, para o outro, um salvador da vida
para a vida (2 Coríntios 2:15-16); para os judeus uma pedra de tropeço, para os gregos uma
loucura (1 Coríntios 1:23), mas em ambos os casos a verdade (Romanos 15:8), o poder (1
Coríntios 1:18) e a sabedoria do Altíssimo (1 Coríntios 1:24).

Nota sobre Substituição.

O pensamento de substituição foi tão profundamente impresso antecipadamente


no Antigo Testamento que às vezes ele usa a mesma palavra para pecado e
oferta pelo pecado (heb. chata-ah). Em Êxodo 34:7 e 1 Samuel 2:17 esta
palavra significa pecado; em Números 32:23 e Isaías 5:18, o castigo do pecado;
e Levítico 6:18; Levítico 6:23 e Ezequiel 40:39 a oferta pelo pecado. Assim
também Cristo, que não conheceu pecado, foi “feito pecado por nós”, isto é, foi
feito para ser a oferta pelo pecado (2 Coríntios 5:21), na verdade, Ele mesmo
testemunhou esta verdade da substituição. Não foi ensinado primeiro por Paulo, a
quem a incredulidade calunia como o “falsificador” do Cristianismo, pois em
Mateus 20:28 o próprio Cristo diz que dá Sua vida “como preço de resgate em vez
de muitos”, onde para “em vez de” o texto original usa anti. Não se pode negar
que esta palavra tem aqui o sentido de “no lugar de”; pois quando, por exemplo,
em Gênesis 22:13 o Antigo Testamento grego diz que Abraão ofereceu o carneiro
“por” (gr. anti) seu filho; ou quando no catálogo dos reis diz que o filho se tornou
rei “para” (anti) seu falecido pai (Gênesis 36:33-35; etc.), é claro que anti tem o
significado “em vez de”. Assim, Paulo extraiu do próprio Cristo o seu direito de
descrever a auto-oferta do Senhor como um “preço de resgate em vez de tudo”
(anti-lutron, 1 Timóteo 2:6).

Para os salvos a cruz é então

2. A Base da Santificação. Cristo, o Senhor, morreu na cruz para que pudéssemos ser salvos
da cruz. Isso para nós é o lado judicial e excludente de Sua morte, a libertação proporcionada
pelo Gólgota. No entanto, apesar disso, Cristo morreu ali na cruz para que pudéssemos ir junto
com Ele na cruz. Este é para nós o lado moral e inclusivo de Sua morte, a obrigação do
Gólgota. Somos “plantados juntos” com o Crucificado e associados organicamente com “a
semelhança de sua morte” (Romanos 6:5). Somos seguidores, portadores da cruz (Mateus
10.38), grãos de trigo como Ele era, que só através da morte realmente vive (João 12.24-25).
Somos chamados a participar do caráter realmente sombrio, mas nem por isso menos precioso,
do fundamento de nossa própria redenção. Fomos “crucificados com Cristo” (Gálatas 2:20).
Para nós

31
(a) O mundo ao redor está morto por causa do Crucificado. Através da cruz ele é
“crucificado” por nós e nós pelo mundo (Gálatas 6:14).

(b) O mundo dentro de nós também está conosco na cruz: “Sabendo isto, que o
nosso velho homem foi crucificado com ele... para que não sirvamos mais ao
pecado” (Romanos 6:6; Romanos 6:11).

(c) O mundo abaixo de nós é completamente conquistado através da cruz; pois


“depois que Cristo desarmou os poderes e autoridades, ele os colocou
publicamente no pelourinho e pela cruz triunfou sobre eles” (Colossenses 2:15;
Gênesis 3:15). E finalmente através da cruz

(d) O mundo acima de nós é, para nós, graça e bênção; pois a maldição da lei foi
abolida (Gálatas 3:13). A acusação contida em seus mandamentos, que testificava
contra nós, é cancelada e pregada na cruz (Colossenses 2:14). O olhar de Deus já
não pode cair sobre ela sem cair ao mesmo tempo sobre a cruz. Da mesma
forma, morreu junto e foi crucificado com Ele: “Eu pela lei morri para a lei, para
viver para Deus” (Gálatas 2:19).

A lei de Deus suspendeu a morte sobre o pecador (Gálatas 3:10), e Cristo suportou isso em seu
lugar. Assim, Cristo também morreu “através” da lei. Mas, com isso, a lei perdeu qualquer outra
reivindicação válida contra Ele, mesmo quando, por meio da execução, o homem condenado à
morte sai da relação de súdito com a autoridade que o executa. Assim, Cristo também está
agora morto para a lei. Agora, o que Cristo experimentou, o crente Nele experimentou junto
com Ele (Romanos 6:5-11). Assim, ele também está morto no que diz respeito à lei, e vive
agora na liberdade Daquele que ressuscitou dos mortos (Romanos 7:4).

B. O ASPECTO CORPORATIVO

Também para a humanidade corporativamente foi introduzida através da cruz uma ordem
completamente nova, em três aspectos:

interiormente — pela remoção da lei;

externamente – pela admissão de todas as nações à salvação;

em geral - pelo triunfo universal do Crucificado.

1. A Remoção da Lei. Quanto à vida interior, a cruz significa o cumprimento e, portanto, a


abolição de todos os sacrifícios levíticos (Hebreus 10.10-14), e com isso a anulação da lei
levítica em geral (Hebreus 7.18); pois os sacrifícios eram a base do sacerdócio, e o sacerdócio
era o fundamento dessa lei (Hebreus 7:11). Mas assim Cristo, através da cruz, tornou-se “o fim
da lei” (Romanos 10:4), e também a garantia de uma melhor aliança (Hebreus 7:22), até
mesmo a nova aliança (Mateus 26:28), através da qual “os chamados receba a promessa da
herança eterna” (Hebreus 9:15-17). Mas na medida em que o sacerdócio levítico é dissolvido, o
“antigo tabernáculo” desaparece (Hebreus 9:8), o véu do templo é rasgado (Mateus 27:51), o
caminho para o lugar santíssimo é livre (Hebreus 9:8; Hebreus 10:19-22), e todo o povo de
Deus é agora um reino de sacerdotes (1 Pedro 2:9; Apocalipse 1:6).

32
2. A admissão de todas as nações à salvação. Mas como a lei foi eliminada interiormente,
ela também deve ter sido eliminada externamente. Até a cruz, a lei, como “tutora de Cristo” de
Israel (Gálatas 3:24), era a “cerca” que separava o povo judeu dos povos do mundo (Efésios
2:14). As nações estavam “sem lei” (Romanos 2:12) e “estrangeiras no que diz respeito aos
convênios da promessa” (Efésios 2:12). Existia uma tensão entre os dois, uma espécie de
“inimizade” nos anais da salvação (Efésios 2:15), que não permitia que os “distantes” e os
“próximos” se reunissem. Mas agora Cristo é “nossa paz”. Pelo cumprimento da lei, Ele
removeu “o muro de separação do meio”, e ambos, judeus e gentios, no único corpo de Sua
igreja, Ele reconciliou-se uns com os outros, bem como com Deus, por meio da cruz (Efésios
2:13-16).

Portanto, o cumprimento da lei por meio da morte de Cristo significou que “a promessa a
Abraão rompeu os limites da lei mosaica” (comp. Gênesis 12:3; Gálatas 3:13-14). Isto significou
ainda o alargamento da salvação para além de Israel, para os povos do mundo, e o caminho,
pela extrema estreiteza da cruz, para uma amplitude que tudo abrange, e assim a passagem do
nacionalismo de preparação para o universalismo de realização (João11:52). “E eu, quando for
levantado da terra, todos atrairei a mim” (João 12:32).

3. O Triunfo Universal do Crucificado. “Agora é o [ou, como RV mgn, um] julgamento


deste mundo. Agora será expulso o príncipe deste mundo” (João 12:31). Foi através da cruz
que o moribundo triunfou (Apocalipse 5.5-6). Foi através da cruz que Ele roubou a armadura
dos principados (Colossenses 2:14-15). Foi através da Sua morte que Ele tirou o poder daquele
que tinha o poder da morte, o Diabo (Hebreus 2:14). Daí Seu grito vitorioso “Está consumado”
(João 19:30).

A expulsão de Satanás

quanto ao seu poder – é baseado no Gólgota (João 12:31);

quanto à sua realização – ela acontece gradualmente (Mateus 12:29);

quanto ao seu resultado final – no devido tempo estará completo (Apocalipse


20:10).

Portanto, o duplo sentido nas Escrituras da expressão “elevado” (João 3:14; João 8:28; João
12:32; Filipenses 2:9). Pois ser “levantado” na cruz e ser “exaltado” ao trono do céu estão
juntos, e em grego a mesma palavra é usada para ambos os eventos. O Crucificado é o
Coroado (Filipenses 2:8-11; Hebreus 2:9); e, portanto, o velho príncipe deste mundo deve ser
expulso, porque o novo e legítimo Príncipe entrará.

Portanto a terra tremeu com a morte do Senhor (Mateus 27:12), e o sol perdeu a sua luz
(Lucas 23:44-45). Pois a cruz de Cristo é o grande NÃO de Deus a toda manifestação de
pecado (João 12:31). Portanto, no dia da destruição do mundo, a terra será convulsionada
(Ageu 2:6; Hebreus 12:26-27) e o sol será coberto de vergonha (Isaías 24:23); a lua não
brilhará mais, as estrelas empalidecerão e o céu e a terra fugirão diante do grande trono
branco (Apocalipse 20:11). Mas então, de facto, do velho mundo, pela transfiguração dos seus
elementos básicos, que foram dissolvidos pelo calor ardente, emergirá um mundo novo e
glorioso; e como no final dos tempos o universo deverá experimentar a sua morte, o seu
“Gólgota”, assim também, imediatamente a seguir, com base na cruz, experimentará a sua
33
ressurreição e a manhã de Páscoa através do poder transfigurador de Deus. Este é o significado
profético do escurecimento do sol e do tremor da terra no momento da morte no Gólgota.

4. Cristo, o grão de trigo. Através de todas estas experiências “Cristo tornou-se

o grão de trigo cujo amor redentor do mundo O colocou na terra na Sexta-Feira


Santa;

o grão de trigo que no domingo de Páscoa rompeu o solo e começou a crescer em


direção ao céu;

o grão de trigo cujo talo dourado ascendeu ao céu no Dia da Ascensão;

o grão de trigo cujas espigas, ricas em miríades de grãos, se curvaram à terra no


Pentecostes e espalharam as sementes das quais a igreja deveria nascer” (João
12:24).

5. A Cruz de Eternidade em Eternidade. Assim vemos a cruz em todos os lugares:

a cruz na eternidade — o Cordeiro conhecido antes da fundação do mundo; a cruz


no passado – Getsêmani, Gábatá, Gólgota;

a cruz no presente – o Cristo crucificado como o tema vivo e fundamental de


nossa própria proclamação (1 Coríntios 2.2);

a cruz no futuro — o Salvador anteriormente humilhado como então Rei do reino


messiânico manifestado (Filipenses 2:8-11); e

a cruz na glória — a mensagem de que o Cordeiro é a pedra preciosa que é o


fundamento da cidade celestial (Apocalipse 21:14), e, no meio do trono, o próprio
Cordeiro como objeto de adoração dos espíritos abençoados (Apocalipse 5:6-10).

34
Capítulo 5. O Triunfo da Ressurreição
Cristo ressuscitou! Com este grito vitorioso o evangelho passou pelas terras. A mensagem da
cruz é ao mesmo tempo uma mensagem da ressurreição (Atos 1:22; Atos 2:32). Nisto reside a
sua invencibilidade.

Por si só, era concebível um retorno do Redentor ao céu sem uma ressurreição corporal. O Filho
de Deus teria permanecido o Vivo se, imediatamente após a morte, tivesse retornado à glória
do Pai na natureza espiritual. Antes de Sua encarnação, Ele existia eternamente no céu sem
corpo humano e, no entanto, era a fonte e o príncipe de toda a vida criada (Atos 3:15; João
1:4). Não: a continuação da existência após a morte e a ascensão ao trono celestial não eram
necessariamente o mesmo que a ressurreição do corpo.

E, no entanto, este último foi precisamente o pré-requisito para a realização da redenção, pois
só ele foi:

[1] A plena realização da vitória do Redentor sobre a morte

Por um retorno ao céu sem a ressurreição do corpo, Cristo não teria sido apresentado como o
completo conquistador da morte (Salmos 16.10). Ele teria triunfado sobre a morte apenas
espiritual e moralmente, mas Sua vitória sobre a morte física não teria chegado à frente de uma
maneira real. A sua vitória teria sido, por assim dizer, um triunfo de “dois terços”, mas não um
triunfo completo; pois da tríplice personalidade apenas duas partes, espírito e alma, mas não o
corpo também, teriam sido incluídas no triunfo de Sua ressurreição.

Mas ainda mais. Sem a ressurreição corporal, Cristo não teria sido revelado em nenhum grau
como o conquistador da morte. Pois a morte não é a cessação da existência, mas a dissolução
da personalidade humana; não é a extinção do ser, mas a ruptura da conexão entre o espírito,
a alma e o corpo. A conquista da morte deve, portanto, manifestar-se na restauração desta
unidade, no restabelecimento desta ligação orgânica entre espírito, alma e corpo, o que, do
ponto de vista do corpo, significa a reunião do corpo com o corpo, alma e espírito. Portanto,
sem ressurreição corporal não há nenhum tipo de triunfo de vida (1 Coríntios 15:54-57), sem
ressurreição corporal não há fruto claro da vitória. Somente pela ressurreição do corpo pode ser
demonstrado que a morte foi vencida. E devemos ter decidido isso mesmo se não tivéssemos
nos quatro Evangelhos o testemunho do túmulo vazio de Jesus (Mateus 28:1-20; Marcos 16:1-
20; Lucas 24:1-53; João 20:1-31).

Além disso, a ressurreição era necessária como

[2] O Pressuposto para o Surgimento da Fé nos Redimidos

“Porque a fé vem pela pregação” (Romanos 10:14-17), e isso remonta à fé do primeiro


período. O indivíduo crê através do testemunho daqueles que acreditaram antes dele, e a fé
deles é impensável fora da fé da primeira geração (Efésios 2:20). Mas foi precisamente esta fé
que entrou em colapso após a morte de Cristo na cruz (João 10:19; João 10:25; Lucas 24:21-
22; Marcos 16:14), e só foi restabelecida pela ressurreição corporal do Senhor e Suas aparições
subsequentes como o Ressuscitado (João 20:8; João 20:20; 1 Pedro 1:21). Sem a ressurreição
corporal, nenhum homem pensante teria acreditado no Crucificado; pois Seu fim teria
contradito Seus próprios anúncios anteriores de Sua ressurreição e triunfo (Mateus 16:21;
Mateus 17:23; Mateus 20:19; comp. 12:40; João 2:19).
35
A ressurreição do Senhor é, portanto, o selo do Pai na pessoa e na obra do Filho (Atos 2:32).
Pela Sua ressurreição, Cristo é demonstrado como o Profeta e o Filho de Deus (Romanos 1:4).
A ressurreição é o selo

1. o testemunho dos profetas (Salmos 16:10; Oséias 6:2; o “sinal de Jonas”,


Mateus 12:39-40; Isaías 53:8-10);

2. o testemunho de Jesus sobre si mesmo (Mateus 16:21; João 2:19-22);

3. o testemunho de Seus apóstolos (1 Coríntios 15.15);

4. a verdade de que Jesus é o Filho de Deus (Romanos 1:4; Atos 13:33);

5. a Realeza de Jesus (Atos 13:34);

6. a plena autoridade de Jesus como Juiz universal (Atos 17:31); e isso garante

7. nossa futura ressurreição e glória (1 Tessalonicenses 4:14).

Portanto, é o acontecimento mais autêntico e melhor atestado na história da salvação. A


primeira epístola aos Coríntios é reconhecida como genuína pelos críticos mais radicais da
Bíblia. É nesta epístola que Paulo, apelando a centenas de testemunhas ainda vivas, apresenta
aos leitores, alguns dos quais se opunham e, portanto, eram críticos (1 Coríntios 15.6), as
seguintes quatro provas principais:

i. A prova da experiência. Os próprios coríntios foram salvos através da


mensagem relativa Àquele que experimentou a ressurreição do corpo (1 Coríntios
15:1-2);

ii. A prova das Escrituras. Cristo não apenas morreu, mas também ressuscitou
“segundo as Escrituras” (1 Coríntios 15:3-4);

iii. A prova de testemunhas. Mais de meio milhar de homens, nas mais diversas
circunstâncias, O viram pessoalmente após Sua ressurreição (1 Coríntios 15:5-12);

iv. A prova da necessidade do acontecimento na história da salvação. “Se


Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é vã e a vossa fé é vã; então
aqueles que dormiram em Cristo estão perdidos; então seremos os mais
miseráveis de todos os homens” (1 Coríntios 15:13-19).

Conseqüentemente, a cruz e a ressurreição estão juntas. O Crucificado morre para ressuscitar


(João 10:17), o Ressuscitado vive para sempre como o Crucificado (1 Coríntios 2:2; Apocalipse
5:6).11

Portanto, os efeitos salvadores da redenção sempre foram colocados em conexão com esses
dois fatos em uníssono, assim, a reconciliação daqueles que seriam levados à fé em Cristo
(Romanos 5:10);

11
De acordo com 1 Corintios 2:2, Paulo pregou Cristo como o “Crucificado”, onde o particípio perfeito
(estauromenon) expressa continuidade; isto é, que Cristo como o Ressuscitado é visto como
eternamente conectado com a cruz. Assim, Tomé também vê o Ressuscitado com Suas marcas de
feridas (João 20:27), e João vê o Cordeiro no trono da glória “como se tivesse sido morto” (Apocalipse
5:6).
36
a eliminação do pecado nos crentes (Romanos 6:10-11);

sua comunhão viva com o Redentor (1 Tessalonicenses 5:10);

o senhorio de Cristo (Romanos 14:9);

Seu sacerdócio celestial (Romanos 8:34);

Sua futura união com Sua igreja glorificada (1 Tessalonicenses 4:14 e segs.);

a perpetuação do amor de Seu Pai celestial (João 10:17).

O que foi dito acima mostra que a ressurreição, em conexão com a cruz, é

[3] O fundamento de uma nova vida para os crentes

Isto é, a oferta pelo pecado de Cristo só pode beneficiar o pecador culpado quando ele crê Nele
como a contrapartida da serpente erguida (João 3:14), como o Cordeiro de Deus que tirou o
pecado do mundo (João 1:29). Mas a ressurreição foi necessária para tornar possível esta fé.
Pois a fé no Cordeiro de Deus não teria sido possível sem a demonstração da vitória completa
do Gólgota (João 19:30) pelo triunfo da ressurreição.

Portanto, somente no Mediador elevado e exaltado a salvação conquistada para nós na cruz se
torna disponível. Somente no Cordeiro exaltado à glória a graça está aberta a todos. E porque
assim, pela fé, recebemos o perdão dos pecados e, assim, no julgamento de Deus, fomos feitos
justos e nos tornamos Seus filhos, portanto, Deus enviou o Espírito de Seu Filho aos nossos
corações (Gálatas 4:6). Assim, o fruto abençoado daquilo que ocorreu na morte sacrificial do
Filho de Deus e na reconciliação é uma união orgânica do crente com Cristo (Romanos 6:5;
Gálatas 2:19-20), uma comunhão dos redimidos na morte e na vida do Redentor. É, por assim
dizer, comer e beber de Sua carne e Seu sangue (João 6:53; João 6:32-35; João 6:48-58), com
o qual podemos comparar o tipo do Antigo Testamento de comer o sacrifício. (Levítico 7:32-34;
Êxodo 12:3 e seguintes; 1 Coríntios 5:7; Hebreus 13:10); e assim Cristo por nós se torna Cristo
em nós a esperança da glória (Colossenses 1:27).

Assim, na doutrina da substituição, as Escrituras tratam de algo muito mais elevado do que um
processo meramente intelectual de subtração e adição, uma contabilidade mecânica e
transporte de culpa e mérito, uma espécie de questão de fato mercantil que entra ou não nos
itens de débito e crédito. Preocupa-se com o entrelaçamento orgânico de um princípio de vida
completamente novo, divino, pessoal e todo-penetrante.

Cristo, o Doador, só pode dar os dons em Si mesmo. Somente assim Ele se torna realmente o
Doador (2 Coríntios 9:15). Ele não apenas prepara e mostra o caminho, mas é Ele mesmo o
caminho (João 14:6); pois Ele não é apenas Propiciador, mas propiciação (1 João 2:2; 1 João
4:10), não apenas Redentor, mas redenção (1 Coríntios 1:30). Fala-se do pessoal como a coisa,
para que se possa mostrar que a coisa é pessoal. Portanto, a fé Nele não é apenas um
consentimento externo, mas uma fé que traz à união com Ele pessoalmente, isto é, à12 Sua
comunhão, e com Paulo e todos os redimidos a palavra de ordem “em Cristo” é a palavra que
descreve a origem e a essência da sua experiência de salvação.

12
Gk. pisteuein eis (por exemplo, Atos 10:43; Filipenses 1:29; 1 Pedro 1:8).
37
Com Paulo a expressão “em Cristo” é encontrada 164 vezes, como “justificado em Cristo”
(Gálatas 2:17), “a justiça de Deus nele” (2 Coríntios 5:21). Desse segredo abençoado e
penetrante, todas as suas cartas falam, cada uma em seu aspecto particular e especialmente
proeminente.

Por isso:

em Romanos —justificação em Cristo;

em Coríntios – santificação em Cristo;

em Gálatas – liberdade em Cristo;

em Efésios – unidade em Cristo;

em Filipenses – alegria em Cristo;

em Colossenses – plenitude em Cristo;

em Tessalonicenses - glorificação em Cristo.

Portanto, o sacrifício propiciatório de Cristo só pode beneficiar justamente o pecador culpado se


ele estiver ao mesmo tempo unido ao santo Redentor pelo novo nascimento. Mas o orgânico só
pode existir pela união formada por uma cabeça e membros que tenham a mesma natureza
(Hebreus 2:14-17) e, portanto, Cristo deve permanecer homem para sempre. Somente como
homem Ele pode ser a cabeça de um organismo humano.

Mas o corpo é a essência do homem. Não é “uma prisão da alma”, como pensavam Platão,
Aristóteles e Orígenes, mas pertence à própria ideia de masculinidade. Sem o corpo o homem
está “nu”, despido (2 Coríntios 5:3). E, portanto, Cristo também, uma vez que Ele permanecerá
um homem, requer eternamente um corpo de homem. Sem a ressurreição corporal, Cristo
teria, por assim dizer, deixado a ordem humana, e não poderia ser o completador e
transfigurador da obra de redenção que Ele realizou por Sua encarnação (Hebreus 2:14).

Portanto, a ressurreição corporal denotava o retorno do Redentor à plena natureza humana, a


imortalização de Sua humanidade em forma transfigurada e glorificada. Indicou que Cristo é o
“último Adão” (Romanos 5:12-21), o “segundo homem” do céu (1 Coríntios 15:45; 1 Coríntios
15:47), e que está no céu, à direita de Deus (Atos 1:11; Daniel 7:13; Apocalipse 1:13;
Filipenses 3:21), Ele é o Iniciante criativo e o “Cabeça” orgânico (Efésios 1:22) de uma
humanidade espiritual redimida.

Ao mesmo tempo, enfrentamos aqui uma imensa pressão sobre os nossos poderes de
pensamento. Pois como pode o Redentor, após Sua exaltação em glória, ainda ser “homem” e,
além disso, na forma de um corpo transfigurado? Ele mesmo não disse aos Seus: “Eis que
estou convosco todos os dias”? E, acima de tudo, Ele não é a segunda Pessoa na Divindade?
Aqui aparece novamente o abismo do eterno. O super-espacial e o super-temporal estão para
nós totalmente além de qualquer explicação. Quando falamos aqui, como fala a Bíblia, do
“material” e do “corpóreo”, tudo isso tem para nós um sentido incompreensível. Mas o “eterno”
é a própria esfera para a qual Cristo entrou.

No entanto, a Sagrada Escritura ensina esta humanidade eterna do Redentor. É este mesmo
fato que garante a operação e a permanência de Sua obra. A Sua vitória sobre a morte deve
38
incluir a continuidade infinita da Sua humanidade. Somente como o “Primogênito entre muitos
irmãos” (Romanos 8:29; Colossenses 1:18 f.; 8 Hebreus 2:11 segs.) Ele pode ser a “causa da
salvação eterna” (Hebreus 2:10; Hebreus 5:9; Hebreus 6:20). Só assim pode se tornar possível
a renovação do indivíduo e que os redimidos existirão “em Cristo”, só assim eles serão “gerados
de novo para uma viva esperança” (1 Pedro 1:3), e unidos a uma igreja como seus membros
(Efésios 4:15-16). Assim, eles podem agora experimentar o “poder da Sua ressurreição”
(Filipenses 3:10), e andar diante Dele em novidade de vida como ressuscitados com Ele
(Romanos 6:5-11), e vivificados com Ele (Efésios 2:5), e pode de maneira viva servir ao Deus
vivo (Hebreus 9:14; Romanos 7:4-6).

Tudo isso mostra que trazer novamente à vida o Crucificado não foi apenas uma obra do Pai
sobre o Filho, nem simplesmente um selamento e ratificação de Sua pessoa após Sua obra
consumada (Atos 2:32), e, portanto, “uma ressuscitação por meio de a glória do Pai” (Romanos
6:4). Ao mesmo tempo, além de tudo isso, foi um elemento indispensável, na verdade a
maravilha mais gloriosa na obra do próprio Filho, como sendo, por assim dizer, uma auto-
ressuscitação realizada pelo exercício voluntário do poder de13 Seu própria vida (João 2:19).
“Por isso meu Pai me ama, porque dou a minha vida para retomá-la” (João 10:17-18).

Finalmente a ressurreição é:

[4] A Base da Transfiguração do Mundo

Como tal, desdobra-se em três círculos cada vez mais amplos. Garante:

na vida do indivíduo — a ressurreição do corpo;

na vida da terra – o aparecimento do reino de glória;

na vida do universo - a nova criação transfigurada.

1. A ressurreição do corpo só é possível através da ressurreição do Senhor Jesus. Sua


ressurreição é a transfiguração da humanidade Nele como suas Primícias (1 Coríntios 15:20; 1
Coríntios 15:23; Colossenses 1:18). A ressurreição de muitos santos do Antigo Testamento na
Sua ressurreição mostra que o caminho para a ressurreição dos redimidos está aberto (Mateus
27.52-53). Seu triunfo sobre a morte nos garante nossa própria ressurreição (Romanos 8:11; 1
Tessalonicenses 4:14). Seu corpo de glória é o padrão e tipo de nossos próprios corpos futuros
(Filipenses 3:20-21; 1 Coríntios 15:49). A ressurreição das “primícias” é a base de toda
ressurreição (João 5:26-29).

Até mesmo a ressurreição do julgamento é confiada ao Filho pela mesma razão de que “Ele é
Filho do homem” (João 5:27; João 5:29). Assim, toda ressurreição, tanto de crentes como de
incrédulos, é garantida pela ressurreição do último Adão. “Visto que a morte veio por meio de
um homem, assim também por meio de um homem (a) ressurreição dos mortos. Assim como
em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados (1 Coríntios 15:21-
22). Avançar

13
Na ressurreição Cristo é passivo, na ressurreição Ele é ativo. Como a ressurreição, o prodígio pascal é
um ato do Pai, como a ressurreição é um ato do Filho. Na ressuscitação o evidencial prepondera, na
ressurreição o orgânico. Mas ambos são apenas aspectos diferentes do mesmo evento.
39
2. O Reino Milenial baseia-se inteiramente na ressurreição do Senhor Jesus. Pois a promessa
feita a Davi falava de um reino humano eterno e transfigurado (2 Samuel 7:13). Mas para este
propósito é necessário um Rei humano eterno, sim, o Filho do homem, que ainda aparecerá nas
nuvens do céu (Daniel 7:13; Mateus 26:64; Apocalipse 1:13). A humanidade contínua de Cristo
na ressurreição é, portanto, o cumprimento em princípio da profecia do reino dada a Davi. A
ressurreição do Rei é o fundamento para o “renascimento” (Mateus 19:28) do mundo
messiânico, e o que acontecerá no retorno de Cristo será apenas a manifestação histórica deste
“cumprimento” dado há muito tempo em Sua primeira vinda.

Portanto Paulo diz: “que Deus o ressuscitou (Jesus) dentre os mortos - ele declarou assim: Eu
te darei as bênçãos invioláveis prometidas a Davi” (Atos 13:34; Isaías 55:3; comp. Atos 2:30-
31). Ressurreição espiritual de Israel (Ezequiel 37.1-14): renascimento espiritual das nações
(Salmos 87.4-6; Isaías 25:7-8; Isaías 19:21-25); renovação da natureza (Isaías 41:18; Isaías
55:12-13): eliminação do mundo animal do poder destrutivo das feras (Isaías 11:6-7): aumento
da energia vital e da idade da humanidade (Isaías 65:20; Isaías 65:22) — desta maneira, no
devido tempo, a energia vital do Ressuscitado preencherá toda a terra, e o governo visível do
Messias será o renascimento e uma nova vida para a criação terrena (Mateus 19:28).

Mas mesmo o reino milenar é apenas uma introdução e um prelúdio. O objetivo final é

3. O Novo Céu e a Nova Terra após o grande trono branco (Apocalipse 21.1; comp. 20.11-
15). Então não só a alma e o espírito, mas também a matéria e a natureza serão
completamente transfigurados. Na Jerusalém celestial haverá ouro “transparente como vidro”
(Apocalipse 21:18-21). Não apenas o espírito, mas a encarnação do espírito é o fim dos
caminhos de Deus com Suas criaturas.

Mas aí também o evento da Páscoa é a base criativa. A ressurreição do Herdeiro de todas as


coisas é a garantia do novo céu e da nova terra. Em Seu corpo ressuscitado a matéria foi
transfigurada pela primeira vez (João 20:27, e especialmente Lucas 24:39-43), e ali pelo
princípio de que a matéria é capaz de transfiguração foi revelado na história da salvação e
garantido. Nesse aspecto também Cristo é as primícias (1 Coríntios 15:20; 1 Coríntios 15:23). A
partir desse momento, toda transfiguração do céu e da terra depende da ressurreição do corpo
do Redentor; e depois do grande trono branco a atividade viva do Ressuscitado se manifestará
da maneira mais universal. Portanto, o significado final e mais inclusivo da ressurreição é este:
“Eis que eu crio um novo céu e uma nova terra” (Isaías 65:17; 2 Pedro 3:13).14

14
Os significados da ressurreição dados em [1]-[4] acima são os seguintes:
1. Cristológico-cósmico,
2. Subjetivo-apologético,
3. Objetivo-orgânico,
4. Escatológico-universal.
40
Capítulo 6. A Ascensão do Vencedor
O Victor ressuscitado foi para o céu. Aquele que pelos homens foi levantado na cruz (João
12:32-33; João 8:28; João 3:14), por Deus foi elevado à glória (Filipenses 2:9; Atos 2:33; Atos
5:31). “Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como escabelo dos teus
pés” (Salmos 110.1).

Para todos os três ofícios do Redentor, a ascensão ao céu tem o significado mais decisivo. Isso
é

para o ofício profético — transição do reino da profecia imediata para o da


profecia espiritual;

para o ofício sacerdotal – transição para o sumo sacerdócio “segundo a ordem de


Melquisedeque”;

para o cargo real – extensão da autoridade real ao governo real.

[1] O Ofício Profético

Isto foi antes de tudo e principalmente

1. Testemunho por Caminhada. Desde a encarnação do Redentor até Sua aparição pública,
a manifestação de Deus por meio de Cristo (João 1:18) foi uma profecia por meio de Sua
personalidade. A vida da criança, do menino, do homem em crescimento revelou a santidade de
Deus. “Quem me vê, vê o Pai” (João 14:9). Exibiu o ideal divino para o desenvolvimento normal
da vida humana (comp. Lucas 2:40; Lucas 2:52). O tema desta profecia era, por assim dizer,
“O Homem de Deus” e, portanto, aquela palavra do Batista: “Preciso ser batizado por ti, e vens
tu a mim?” (Mateus 3:14).

Depois do batismo seguiu-se

2. Profecia pela Palavra. Ao profetizar pela vida foi acrescentado o ensino. Cristo “ensinou
como quem tem autoridade, e não como os escribas” (Mateus 7:29; João 7:46). Seu tema
agora era o reino de Deus (Mateus 4:17). Mas Sua ascensão ao céu indicou esta transição da
profecia direta para a indireta e, ligada ao Pentecostes, começou uma profecia que foi efetuada
do céu, mesmo

3. Profecia pelo Espírito. Para nós que devemos ser instruídos, há agora uma “vinda” do
exaltado Profeta por palavra e em espírito (João 14:18; João 14:28). Não apenas Seus
mensageiros “vêm” – os apóstolos, profetas, pastores e mestres (Efésios 4:11), e Suas
testemunhas em geral (Atos 1:8), mas neles e em sua mensagem o próprio Cristo vem (Mateus
10:40), e da glória continua Sua profecia através do Espírito. Assim, Paulo diz sobre Aquele
crucificado e ressuscitado: “Ele veio e proclamou paz para vocês que estavam de fora (não-
judeus) e paz para aqueles 'próximos' (os judeus)” (Efésios 2:17). Como mostra o contexto, isto
não fala da vinda e pregação de Cristo nos dias de Sua vida na terra antes do Gólgota, mas do
tempo após Sua obra pacificadora concluída na cruz e, portanto, de Sua “vinda” em o tempo
presente, em palavra e espírito, para Israel e os povos da terra (comp. vv. 13-16). Seu tema
atual é a redenção completa, com sua paz e luz (Atos 26:23).

A ascensão é de significado ainda maior para

41
[2] O Ofício do Sumo Sacerdote

Na terra, Cristo trouxe o cumprimento essencial do sacerdócio Aarônico (Hebreus 5:1-4;


Hebreus 9:6-23; Hebreus 10:1; Colossenses 2:16-17), pelo sacrifício expiatório pela salvação do
pecador; ainda assim, ressuscitado dentre os mortos e ido para o mundo celestial (Hebreus
9:24; Hebreus 4:14), de fato, tornou-se mais alto do que todos os céus (Hebreus 7:26; Efésios
4:10), Ele agora é saudado por Deus como Sumo Sacerdote após a ordem de Melquisedeque
(Hebreus 5:10). Portanto, Sua ascensão não é apenas o ponto de inflexão entre Sua
humilhação e exaltação, mas também entre duas formas de exercício de Sua obra sumo
sacerdotal. Na Sua ascensão, Cristo entrou no lugar Santíssimo acima “não com o sangue de
outros”, como os sumos sacerdotes do Antigo Testamento entraram no lugar santíssimo no
grande dia da expiação (Levítico 16:15-19), mas “em virtude de Seu próprio sangue”, isto é,
com base em Seu mérito pessoal por meio de Sua auto-oferta no Gólgota; para que neste
terreno apareça agora diante da face de Deus por nós (Hebreus 9:11-14; Hebreus 9:24-25;
Romanos 8:34).

Por esse motivo, a ascensão de Cristo tornou-se ao mesmo tempo a justificação do Crucificado
(João 16:10; 1 Timóteo 3:16), ver p. 41, mostrando a aceitação pelo Pai da obra do Filho. A
Mais Alta Majestade no mundo celestial declarou assim válido o sumo sacerdócio terreno de
Cristo (Atos 2:34-36). A ascensão era o significado essencial e o cumprimento central do mais
solene ato sumo sacerdotal na maior de todas as festas de Israel, a entrada no lugar santíssimo
(Hebreus 9:7), que acontecia em um único dia do ano, o yom kippur, o grande dia da expiação
(Levítico 16:1-34).

1. Melquisedeque e Cristo. Quem foi Melquisedeque? Ele era rei da cidade de Salém (cidade
da paz). Não se sabe ao certo onde ficava esta cidade. Os pais da igreja pensaram que era o
Salém de Enon mencionado em João 3:23 (Citópolis no Jordão). Mais provável é a suposição de
Josefo e dos rabinos de que era a Jerusalém posterior, a Urusalim da carta de Tel el Amarna
(cerca de 1200 aC). Ir = Ur = cidade. Salem = shalom = paz (comp. Salmos 76:2).

De acordo com a antiga lei cananéia (que era geral no mundo antigo), o rei era ao mesmo
tempo o principal sacerdote da cidade. E Melquisedeque (como foi Jó em sua época), no meio
do ambiente pagão, foi um representante da revelação original (Gênesis 1:1-31; Gênesis 2:1-
25; Gênesis 3:1-24; Gênesis 4:1-26; Gênesis 5:1-32; Gênesis 6:1-22; Gênesis 7:1-24; Gênesis
8:1-22; Gênesis 9:1-29; Gênesis 10:1-32; Gênesis 11:1-32) e, portanto, um sacerdote do Deus
Altíssimo (Gênesis 14:18). Hebreus 7:3 não significa que ele era o próprio Filho de Deus, pois
então teria havido uma encarnação antes da encarnação. Nem foi ele uma espécie de aparição
angelical do Filho de Deus (comp. Gênesis 18:2), pois como rei legítimo de uma cidade, ele
governou uma antiga cidade-estado cananéia. Ele era um homem temente a Deus natural da
época de Abraão, que em Hebreus 7:3 foi simplesmente comparado ao Filho de Deus.

Sua fé em Deus foi recompensada porque ele foi enobrecido ao se tornar o mais elevado de
todos os tipos de Redentor. Ele é um tipo de Cristo

pela união de seu sacerdócio e realeza; ele é ao mesmo tempo sacerdote e rei;

por seu nome pessoal, Melquisedeque, que significa rei da justiça (Hebreus 7:2);

pelo nome de sua cidade, Salém, que é paz (Hebreus 7:2);


42
por sua aparição na vida de Abraão (Gênesis 14.17-20).

Seu significado aqui é tratado apenas de forma típica. Historicamente e na história da salvação,
Abraão é o maior pessoalmente (Romanos 4:11-12; Romanos 4:16-17); mas normalmente
Melquisedeque é o maior. Ele é um tipo de Cristo, pois “dizimou” o patriarca e, portanto, é
maior que a lei (Hebreus 7:4-6); pois sob a lei os homens que morrem recebiam os dízimos,
mas em Melquisedeque eles foram levados por um de quem é testificado que ele vive. Além
disso, como consequência da conexão orgânica de descendentes e ancestrais, em Abraão, Levi,
o recebedor dos dízimos sob a lei, era ele próprio dizimado (Hebreus 7:8-10). Então também
Melquisedeque “abençoou” o detentor da promessa e assim é maior que a promessa (Hebreus
7:6-7). Ele dizimou e abençoou a tribo de Levi em Abraão e é, portanto, maior que o sacerdócio
levítico, os ministros humanos da lei e da promessa (Hebreus 7:9-10). Assim, ele é maior do
que tudo o que a antiga aliança incluía, pois a lei e a promessa eram os dois pilares e o
resumo de todo o Antigo Testamento.

Mas acima de tudo Melquisedeque é um tipo de Cristo pelo silêncio da Bíblia quanto à sua
ascendência, nascimento e morte (Hebreus 7:3). Nisto especialmente ele é feito completamente
semelhante Àquele que é na verdade sem princípio de dias, cuja descendência é eterna, e que
permanece Rei e Sacerdote eternamente. Nesta eternidade do sacerdócio reside a ênfase
expressa da ordem de Melquisedeque. Assim também o sacerdócio de Cristo não é algo
transferido, mas é para sempre Seu pessoalmente e, portanto, é superior ao sacerdócio levítico
(Hebreus 7:16). Não é concedido ao homem mortal, mas àquele a quem é prestado
testemunho de que Ele vive.

Portanto, Ele é o único Sumo Sacerdote e Seu ofício é para sempre intransferível (Hebreus
7:23-24), fundado em um juramento de Deus, o Senhor. E porque Ele, como Filho de Davi, é
descendente da tribo de Judá e não da de Levi (Salmos 110:1; Salmos 110:4; Mateus 22:42-45;
Hebreus 7:11-14), Seu sacerdócio sugere ao mesmo tempo, uma eliminação eterna da ordem
levítica e, com isso, uma anulação definitiva da lei levítica baseada nela15 (Hebreus 7:12-18).

2. A Ordem Sacerdotal de Melquisedeque. Este sacerdócio celeste é o complemento


necessário do sacerdócio terreno.

Na terra, Cristo foi ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício (Hebreus 9:12-14): no céu Ele é
sacerdote e rei (Hebreus 7:2; Hebreus 8:1).

Na terra o centro de gravidade foi Sua morte, a dissolução de Sua vida no Gólgota (Hebreus
9:15-23): no céu o centro de gravidade é Sua vida, a indissolubilidade de Sua vida no poder da
ressurreição e da ascensão (Hebreus 7:16; Hebreus 7:3; Hebreus 7:24; Salmos 110:1-4);

Como cumprimento essencial do sacerdócio Aarônico, Ele adquiriu a salvação, legalmente, por
meio de Seus sofrimentos, como Cristo por nós: como o Sacerdote de Melquisedeque, Ele

15
[Em Jeremias 31:32 e Hebreus 8:9 é afirmado claramente que foi a aliança feita no Sinai que foi
declarada nula. Isso deixa em vigor a aliança anterior e básica com Abraão, que é o argumento em
Gálatas 3:15-17. Por consequência, quaisquer disposições ou características da aliança abraâmica que
foram incorporadas na aliança do Sinai também devem ainda estar em vigor. Muito decorre disso. Exige
cuidado ao considerar quanto da economia mosaica expirou. Trad.]
43
concede a salvação, como Cristo em nós, organicamente, por meio de Sua vitória
(Colossenses 1:27);

Como sacerdote na terra, Ele lançou a base de uma vez por todas (Hebreus 10:10; Hebreus
10:14; Hebreus 10:18); Sua obra aqui abaixo é histórica e concluída (Hebreus 9:26): como
sacerdote no céu, Ele trabalha sem interrupção (Hebreus 7:25); Seu serviço a Melquisedeque
nunca termina, é eterno.

Como sacerdote em humildade, Ele serviu para a redenção do mundo inteiro, e sem a
cooperação deles Ele ofereceu o sacrifício reconciliador para todos: como Sacerdote nas
alturas, Ele serve apenas aos Seus escolhidos; somente para “nós, Seus membros, Ele aparece
diante do trono de Deus (Romanos 8:34; Hebreus 9:24; João 17:9).

No entanto, ambos pertencem um ao outro, eternamente inseparáveis: o sacrifício e a


intercessão, a aquisição da salvação e a manutenção da salvação, o histórico e o eterno, o
sofrimento e a glória.

Em tudo isso, Seu sacerdócio de Melquisedeque é o aperfeiçoamento do Aarônico. Como


Sacerdote no céu, Ele entrou diante do Pai em nosso nome, no poder daquilo que Ele
conquistou como Sacerdote na terra (Hebreus 9.24-25); e assim, à aquisição da salvação, Ele
acrescenta a apropriação, preservação e glorificação; e a eternidade de Sua eterna dignidade
melquisedeque torna-se com isso o penhor da eternidade de nossa própria redenção. “Portanto
também Ele é poderoso para salvar completamente16 aqueles que por meio dele se aproximam
de Deus, visto que Ele sempre gosta de interceder por eles” (Hebreus 7:25). Mas o principal
significado da ascensão relaciona-se com

[3] O Gabinete Real

É a entronização do Rei da glória. Aquele que possui

por direito de nascimento real (Mateus 2:2; João 18:37),

em Sua pessoa, dignidade real (João 1:49), e

autoridade total (Marcos 1:27; Marcos 4:41; Mateus 7:29), por Sua ascensão
tomou posse do governo real. No céu, Sua realeza oculta foi revelada (1
Timóteo 3:16), e Sua autoridade moral pessoal tornou-se abrangente, exaltada
acima de todos os principados, governos e poderes (Efésios 1:20-21). Agora
vemos Jesus no trono de Deus (Hebreus 8:1; Filipenses 2:9), “exaltado à direita
da Majestade” (Hebreus 1:3; Salmos 110:1; Romanos 8:34; 1 Pedro 3:22),
“coroado com glória e honra” (Hebreus 2:9). Na ascensão, Jesus foi devidamente
feito Cristo (Atos 2:36), feito Senhor e Governador (Romanos 14:9), feito
governante de todas as terras (Mateus 28:18).

Do céu, Cristo demonstra Sua realeza de várias maneiras:

16
[ “completamente” eis para panteles. Veja a única outra ocorrência no Novo Testamento, Lucas
13:11. A mulher presa por Satanás não estava acamada, mas não conseguia levantar-se
completamente; uma foto de muitos crentes. Trad.]
44
na fundação de Sua igreja — pelo derramamento do Espírito (Atos 2:33; 1
Coríntios 12:3);

na extensão do Seu reino — pela confirmação da mensagem de salvação (Mateus


28:1-20; Marcos 16:17-20);

no controle do Seu reino – por comando autorizado (1 Coríntios 9:21);

na defesa do Seu reino – superando obstáculos (Atos 5:19; Atos 12:7; Atos
12:23);

no aperfeiçoamento do Seu reino – pela Sua vinda em glória (1 Timóteo 6:14-15).

As Escrituras distinguem três “tronos”, correspondendo simbolicamente aos três períodos


principais de Sua soberania celestial.

1. No tempo presente, entre Sua ascensão e Seu retorno, Cristo está no trono de Seu Pai
(Apocalipse 3:21; Hebreus 8:1). “Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus
inimigos como escabelo dos teus pés” (Salmos 110.1). Durante todo o Seu tempo de “espera”
(Hebreus 10:13), Sua realeza é supranacional, puramente espiritual, invisível, preocupada
com o curso da salvação. Este é o reino da graça.

2. No reino milenar, Cristo está no trono de Davi (Lucas 1:32; Atos 2:30). O trono deste Seu
ancestral terrestre é então Seu trono (Apocalipse 3:21; Mateus 19:28; Mateus 25:31), e Ele
mesmo, como o verdadeiro e perfeito Davi, governa Israel e os povos do mundo (Oséias 3:5;
Ezequiel 37:24-25). A sua realeza é então visível, nacionalmente universal, tanto do ponto de
vista da história mundial como da história da salvação. Este é o reino da glória.

3. O trono de Deus e do Cordeiro pertence propriamente ao novo mundo (Apocalipse 22:1;


Apocalipse 22:3). Então a realeza do Filho, sob a realeza do Pai, é universal, eterna, supra-
histórica. É o reino em consumação.

Agora, um reino deve ter súditos, um rei, servos. Mas ninguém pode reconhecer Cristo como
Senhor, exceto somente através do Espírito Santo (1 Coríntios 12:3). Pois a lei do Seu reino é
uma lei espiritual (Romanos 8:2), e a natureza do Seu governo é justiça, paz e alegria “no
Espírito Santo” (Romanos 14:17). Portanto, o derramamento do Espírito foi o pré-requisito para
a verdadeira vinda do Seu reino. Antes dessa época, o reino dos céus não era tão real e aberto
na terra. O Pentecostes foi o resultado de Seu ofício real, e com a ascensão veio pelo Espírito
uma associação espiritual dos súditos do reino.

E o Rei deve estar no trono antes de poder começar a governar. A ascensão deve preceder o
Pentecostes. Sem a ascensão do Filho não poderia haver descida do Espírito: “É-vos bom que
eu vá; porque se eu não for, o Consolador não virá até vós; mas se eu for, vo-lo enviarei” (João
16:7; comp. 7:39).

Mas quando Ele enviou o Espírito, Ele se uniu ao Seu povo. Sua pessoa e Sua obra estão agora
para sempre neles. Portanto, tudo o que Cristo experimentou é também a sua porção.
Crucificados com Ele, mortos com Ele, eles também são vivificados com Ele, e com Ele sentam-
se nos lugares celestiais vivificados com Ele, e com Ele sentam-se nos lugares celestiais (Efésios
2:5-6; Efésios 1:3; comp. 1:20). Seu país de origem está agora no alto, com Ele nas alturas

45
(João 14:2-3; Filipenses 3:20). Através do Espírito eles foram associados a Cristo em Sua
ascensão.

E finalmente virá sua ascensão literal ao céu, seu arrebatamento e exaltação à Sua presença (1
Tessalonicenses 4.13-18). A ascensão de Cristo foi fundamentalmente a entrada da Cabeça da
nova humanidade na glória celestial. Daí então o céu - o céu de nosso Senhor Jesus Cristo - é o
nosso céu (Filipenses 3:20; Hebreus 13:14; Colossenses 3:1-3). Ele, o Cabeça, avançou, como
o Líder de Seus membros para a glória. Pois “uma cabeça deixa um de seus membros que não
puxa depois dela?” “Vou preparar-vos lugar” (João 14:2-3). Pois “onde eu estiver ali estará
também o meu servo (João 12:26; João 17:24). O caminho para a glória é gratuito.

46
Capítulo 7. A Inauguração do Reino de Deus (O Derramamento do Espírito Santo)
“Tornai-vos cheios de espírito” (Efésios 5:18). Com Pentecostes começa uma nova era, a era do
Espírito Santo. A diferença em relação ao período do Antigo Testamento é tripla:

1. A extensão. Sob a antiga aliança, o Espírito veio apenas sobre certos indivíduos. (Números
11:29) sob a nova aliança Ele vem sobre todos os crentes (Atos 2:4; Atos 2:17; Romanos
8:9).17

2. A duração. Sob a antiga aliança, o Espírito, em cada caso, trabalhou apenas por um tempo
(Números 11:25): sob a nova aliança, Ele habita nos crentes (João 14:17; João 14:23; 1
Coríntios 3:16; 2 Coríntios 6:16; 2 Timóteo 1:14; Tiago 4:5).

Somente por esse motivo a igreja universal pode ser descrita como um “templo” ou “casa” de
Deus, e isto como toda a igreja (Efésios 2:21-22; 1 Pedro 2:4-5), a igreja local (1 Coríntios
3:17; 1 Timóteo 3:15) e o cristão individual (1 Coríntios 6:19). Mesmo sobre os crentes que
estavam em Corinto, é afirmado de maneira bastante geral que “seu corpo é um templo do
Espírito Santo, que habita em você (1 Coríntios 6:19).

Que o Espírito Santo não é apenas um poder, capacidade ou atributo de Deus, mas um Ego
consciente com uma vontade, uma superpersonalidade Divina segue disso, que Ele fala e
chama (Atos 13:2), ordena, permite (Atos 16:6-7), lidera (Romanos 8:14), instrui (João 16:13),
conforta (João 14:26), intercede (Romanos 8:26), dá testemunho (Romanos 8:16) e pode ser
entristecido (Efésios 4:30) —todas as expressões que só podem ser usadas para se referir a um
ser pessoal vivo. Também na ordem batismal (Mateus 28:19), e na bênção em 2 Coríntios
13:14, Ele está tão claramente no mesmo nível que o Pai e o Filho que Ele, exatamente como
Eles, deve ser reconhecido como Pessoa Divina (Ego).

A terceira diferença é

3. O Conteúdo e Propósito da obra do Espírito. Sob a antiga aliança, o Espírito trabalhou


apenas para educar e capacitar para o serviço: na nova, Ele trabalha de muitas maneiras, a
saber,

para o despertar da fé -

cortejando para a salvação, como o Espírito da verdade (João 15:26);

para efetuar o novo nascimento -

dispensar vida, como o Espírito de filiação (Romanos 8:15);

por liderar na santificação -

educar, como Espírito de santidade (1 Coríntios 6:19-20; 1


Tessalonicenses 4:7-8);

17
A diferença não é expressa pelas abreviaturas “on” e “in”, como se sob a nova aliança o Espírito de
Deus estivesse nos crentes, enquanto sob a antiga aliança Ele veio apenas sobre eles. Pois não apenas
a operação do Espírito no Antigo Testamento é descrita por on, mas também a do Novo Testamento, na
verdade o próprio evento de Pentecostes (Atos 2:3; Atos 2:17-18; Atos 10:44; Atos 11:15; Lucas
24:49). Por outro lado, a operação do Espírito no Antigo Testamento não é apenas descrita por on, mas
também em (1 Pedro 1:11).
47
para estimular o serviço -

equipar, como o Espírito de poder (2 Timóteo 1:7);

por trazer a glorificação –

transfigurando, como o Espírito da glória (1 Pedro 4:14).18

i. Cortejando para a Salvação. A função do Espírito é glorificar a Cristo (João 16:14). Como
a Testemunha do Senhor para o mundo (João 15:26; Apocalipse 19:10), Ele é o grande
evangelista do Filho (Apocalipse 22:17). Ele fala ao mundo do pecado, da justiça e do
julgamento; do pecado do mundo, da justiça de Cristo e do julgamento sobre Satanás (João
16:8-11).

O pecado do mundo Ele expõe com referência à sua incredulidade, pela qual eles rejeitaram
o Senhor, o único bem verdadeiro (João 16:8-9; Atos 2:22-23; Atos 3:13-15; Atos 7:52).

A justiça de Cristo Ele estabelece com referência à ascensão ao céu; pois por essa exaltação
Aquele que foi rejeitado pelos pecadores como sendo injusto foi reconhecido por Deus como o
santo e justo (João 16:10; Atos 2:25, comp. 34,35; 1 Timóteo 3:16).

“A Sexta-feira Santa parecia ter considerado Jesus um pecador e Seus juízes justos; mas a
ascensão e o Pentecostes reverteram esta sentença; eles concederam a justiça ao condenado
do Gólgota e o pecado aos Seus juízes.” Este é o significado das palavras do Senhor, que o
Espírito convencerá o mundo da justiça “porque vou para meu Pai e não me vereis mais” (João
16:10).

O julgamento sobre Satanás, o Espírito, deixa claro com referência à vitória do Redentor na
cruz (João 19:30); pois é pela própria cruz que o príncipe deste mundo foi julgado (João 12:31;
Colossenses 2:15); e por esse motivo o mundo pode agora ser obrigado a prestar homenagem
a outro, ao seu próprio Príncipe.

Assim, através do testemunho do Espírito, o mundo, que é justo aos seus próprios olhos, é
declarado pecador; Aquele que foi crucificado pelo mundo provou ser santo e justo; e
Satanás, o instigador do assassinato do Gólgota, é exposto como aquele que foi conquistado e
julgado. Este é o tríplice testemunho do Espírito ao mundo, como o próprio Senhor o
descreveu. Em tudo isso, o Espírito se associa à palavra (1 Coríntios 2:2-4). Ele coloca as
palavras na boca de Suas testemunhas (Mateus 10:20; Atos 1:8) e torna a palavra falada e
escrita eficaz e viva (1 Tessalonicenses 1:5; Hebreus 4:12) para a salvação.

ii. Dispensando Vida. Quem é vencido Ele transforma. À conquista da alma Ele acrescenta a
renovação da alma (Tito 3.5). “É o Espírito que vivifica” (João 6:63; 2 Coríntios 3:6; Gálatas
5:25), que liberta o cativo (2 Coríntios 3:17; Romanos 8:2), e faz escravos para serem filhos
(Romanos 8:14; Gálatas 4:6). Eles não apenas recebem algo novo, mas se tornam algo novo,
recriado na própria essência de sua natureza (2 Coríntios 5:17). Eles são homens “no Espírito”
(Romanos 8:9), o Espírito de Jesus Cristo (Romanos 8:9), e são, portanto, homens “em Cristo”,
unidos a Ele como membros.

18
Assim Sua atividade é: 1. Evangelística; 2. Orgânico; 3. Pedagógico; 4. Carismático (carisma = dom
da graça); 5. Escatológico (história final).
48
O Antigo Testamento tinha apenas uma atividade educativa do Espírito Santo (Salmos 51.11),
uma preparação para o serviço. Ele deu habilidade para profetizar (1 Samuel 10:6; 1 Pedro
1:11; 2 Pedro 1:21), para lutar (Juízes 6:34; Juízes 14:19) e para todos os tipos de trabalhos
manuais (Êxodo 28:3; Êxodo 31:3-5). O significado do Pentecostes consiste nisto: a esta
atividade pedagógica e carismática do Espírito Santo foi acrescentado o orgânico, e daí em
diante o Espírito Santo atua não apenas como o Espírito de Deus, mas especialmente como o
Espírito do Filho. É nesse sentido que o Espírito “não estava lá” antes do Pentecostes (João
7:39) e, portanto, no Antigo Testamento foi predito como ainda por vir (Joel 2:28-29; Ezequiel
36:27; Zacarias 12:10). Por esta razão em Efésios 1:13 Ele é mencionado como “o Espírito
Santo da promessa”, isto é, o Espírito Santo prometido.

Assim, o significado apropriado do Pentecostes é que o Espírito do Filho (Gálatas 4:6) enviado
do céu, une os redimidos com o Redentor, realiza sua incorporação como membros (1 Coríntios
12:13) e permite que os crentes se apropriem pessoalmente da plenitude. fruto do sacrifício de
Cristo.

Portanto à frase “em Cristo” (usada por Paulo 164 vezes corresponde a frase “no Espírito” (19
vezes) e em referência aos mesmos benefícios, por exemplo:

justificação em Cristo (Gálatas 2:17)

e no Espírito (1 Coríntios 6:11);

paz em Cristo (Filipenses 4:7)

e no Espírito (Romanos 14:17);

santificação em Cristo (1 Coríntios 1:2)

e no Espírito (Romanos 15:16);

selado em Cristo (Efésios 1:13)

e no Espírito (Efésios 4:30);

habitação de Cristo (Gálatas 2:20)

e do Espírito (Romanos 8:9).

Assim, a relação que primeiro, do lado Divino, foi fundada na encarnação e ressurreição de
Cristo (isto é, na Sua humanidade contínua), agora, através do derramamento do Espírito
Santo, tornou-se também no lado humano uma realidade experimentada. “O Senhor é o
Espírito” (2 Coríntios 3:17; 1 Coríntios 15:45), e aquele que se une ao Senhor é um só espírito
com Ele (1 Coríntios 6:17). Ele é membro de Seu corpo e, portanto, participante de Sua obra.
Assim, o Pentecostes tornou-se o início do período de salvação plena e o “dia da abertura da
vontade e testamento de Jesus Cristo como o último Adão”.

Mas na medida em que todos são membros Dele, também são mutuamente um corpo,
membros uns dos outros (Romanos 12:5). Através do nascimento do Espírito eles se tornaram
filhos do único reino de Deus (João 3:3; João 3:5; Mateus 13:38), e “em um Espírito foram
todos batizados em um corpo” (1 Coríntios 12:13). Isto significa que o Pentecostes foi o
aniversário da igreja e o dia inaugural do reino de Deus no sentido pleno do Novo Testamento.
49
Daí em diante, ao lado do corpo coletivo do primeiro Adão (1 Coríntios 15:22), existe o
organismo do último Adão; ao lado dos homens perdidos, os salvos; ao lado de Israel e das
nações a igreja, o “povo” de Deus, o “novo homem” (Efésios 2:15), “o Cristo” (1 Coríntios
12:12; 1 Coríntios 1:13), isto é, o Cristo místico, a Cabeça dos quais é o Cristo pessoal
glorificado.

E na igreja o Espírito de Deus opera como o Espírito de santidade,

iii. Educando. O espírito glorifica a Cabeça aos membros, mostrando-lhes a Sua glória (João
16:14).

Ele conduz os redimidos nos caminhos da justiça (Romanos 8:14; Gálatas 5:25) e
efetua sua santificação (1 Pedro 1:2; 2 Tessalonicenses 2:13).

Ele os conforta como um advogado (Gk. parakletos) (João 14:16-18), e dá-lhes


Seu testemunho (Romanos 8:16).

Ele os convence quando são infiéis e os leva ao arrependimento (2 Coríntios 2:5-


11).

Ele lhes ensina as palavras de Jesus (João 14:26) e os guia em toda a verdade
(João 16:13; 1 João 2:20).

iv. Equipando para serviço. Então Ele os prepara e os usa como Seus instrumentos. Ele
ordena seus dons e os divide de acordo com Sua vontade (1 Coríntios 12:4-11).

Ele nomeia seu serviço na igreja e em suas reuniões (Atos 13:4; Atos 16:6-7; Atos
20:28; 1 Coríntios 12:28-30).

Ele anima suas orações (Juízes 1:20; Efésios 6:18) e concede a estes autoridade
(Romanos 8:26).

Ele lidera o testemunho deles (Mateus 10:20; 1 Pedro 1:12). enche-o com o poder
de Deus (1 Coríntios 2:4; Romanos 15:19; 1 Tessalonicenses 1:5; Atos 4:31; Atos
7:55-57; Atos 13:9), e se eles forem reprovados, Ele repousa sobre eles como o
Espírito de glória (1 Pedro 4:14).

Em tudo isso, Ele é o “poder do alto” (Lucas 24:49; Atos 1:8);

1. como uma árvore que dá o seu fruto (Gálatas 5:22);

2. como óleo que unge e brilha Atos 10:38);

3. como fogo que arde (Atos 2:3-4; 2 Timóteo 1:6);

4. como água que purifica (Ezequiel 36.25-26);

5. como a chuva precoce que refresca (Joel 2:23; Joel 2:28);19

6. como um farfalhar silencioso e suave (Zacarias 4:6; 1 Reis 19:12-13);

19
Desta imagem vem a expressão “o derramamento do Espírito Santo”. É encontrado em Joel 2:28; e
forma a contraparte espiritual contrastante da secura externa e da esterilidade interna do povo de Israel
na época de Joel (Joel 1:10-12; Joel 1:17-20, comp. 2:23; Atos 2:16-17).
50
7. como um vento impetuoso, misterioso, mas poderoso (Atos 2:2; João 3:8).

v. Transfiguração. Quanto ao futuro, o Espírito é a garantia da nossa libertação, o “selo” da


nossa salvação (Efésios 1:13; Efésios 4:30; 2 Coríntios 1:22), o penhor da nossa herança
(Efésios 1:14; 2 Coríntios 5:5), os juros sobre o estado glorioso que está por vir, as primícias da
colheita eterna que está por vir (Romanos 8:23). E porque o nosso corpo é um templo do Seu
Espírito, Deus não o deixará no deserto: “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a
Jesus dentre os mortos, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo vivificará os vossos
corpos mortais, porque o seu Espírito habita em vós” (Romanos 8:11).

Assim, o significado do Pentecostes alcança a eternidade. Através do Espírito somos filhos


(Romanos 8:14; Gálatas 4:6-7), como filhos somos herdeiros (Romanos 8:14; Romanos 8:17;
Gálatas 4:7), e como herdeiros somos participantes de Sua glória vindoura (Romanos 8: 17).

51
Parte II: A Igreja dos Primogênitos

Seção I —O Chamado da Igreja

Capítulo 1. O Novo Povo de Deus


“Evangelizar é a melhor coisa que está acontecendo agora no mundo. É um
grande poder na forma de servo.”
A mensagem da cruz avança pelo mundo. A era atual tem um significado especial. Seu
propósito é o chamado para fora da igreja. Tudo nele é direcionado para esse fim.

[1] O objetivo do chamado

O programa para o tempo presente não é a transformação da humanidade e a criação de


nações cristãs. Isso não acontecerá antes do vindouro reino visível de Deus (Isaías 2:3-4; Isaías
19:21-25). Mas a presente obra de Deus é “tirar das nações um povo para o Seu nome” (Atos
15:14), isto é, não cristianizar as raças, mas evangelizar as raças, com o propósito de convocar
um povo supernacional de Deus (Mateus 28:19; Marcos 16:15). “Não há “judeu nem grego,
nem escravo nem homem livre... mas vós sois todos um em Cristo” (Gálatas 3:28; Colossenses
3:11).

No lugar da antiga divisão dupla da humanidade surge assim uma divisão tripla (1 Coríntios
10:32), e a Israel e aos povos do mundo é acrescentada a igreja como uma “terceira raça”. Daí
em diante, cada um que não é cristão no sentido do Novo Testamento (Atos 11:26), é judeu ou
gentio. Uma quarta possibilidade não existe.

Uma cristandade nominal geral não tem justificativa no Novo Testamento. É apostasia do
Cristianismo e, afinal de contas, é apenas uma “monstruosa ilusão mental” (Kierkegaard).

Este povo de Deus recém-conquistado pelas Escrituras chama-se ecclesia (Mateus 16:18;
Efésios 1:22). É a companhia dos redimidos que, por meio da proclamação do evangelho (1
Timóteo 2:7), foram chamados dentre judeus e gentios (Efésios 2:11-22), que, no gozo da
cidadania celestial (Filipenses 3:20) e posse do enobrecimento divino (João 1:12-13), se tornará
a futura “assembleia administrativa legal” do reino dos céus (1 Coríntios 6:2-3). Eles devem ser
exaltados e glorificados com Cristo. Eles são “do céu, no céu, para o céu. Sua natureza é
eterna. A igreja se origina na eternidade e é para a eternidade, tirada do tempo.”

Sob a antiga aliança Israel já tinha sido chamado de eclésia. Esta palavra ocorre cerca de 100
vezes na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento), o que é quase tão frequente
como no Novo Testamento. Neste último é usado dez vezes para toda a igreja (especialmente
Mateus 16:18; Efésios 1:22; Efésios 3:10; Efésios 3:21; Efésios 5:23-32; Colossenses 1:18;
Colossenses 1:24), e mais de 90 vezes de a igreja local (por exemplo, Mateus 18:17). Quase
em toda a Septuaginta é a tradução do hebraico kahal. Isso vem do verbo khl “reunir” (Josué
18:1; Josué 22:12; etc.), ou “reunir” (Deuteronômio 4:10; Deuteronômio 31:12 etc.). Assim, a
palavra se aplica a quase todo tipo de reunião, como, por exemplo, 1 Samuel 17:47; Jeremias
26:17; mas adquiriu um significado especial pela associação com Jeová, o Deus de Israel. Como
o povo chamado e reunido de Deus, Israel é kahal Jeová, eclésia de Deus (Deuteronômio 23:2;
Deuteronômio 3:8; Salmos 22:25; etc.). Sua apresentação visível neste caráter é encontrada no
deserto. “As tendas do povo das doze tribos ficam dispostas em ordem regular ao redor do
52
Tabernáculo. A pedido do arauto, o povo se reúne no espaço diante da Tenda e fica ali como
povo de Deus, para receber suas ordens e bênçãos.” No Novo Testamento também Israel é
descrito como uma eclésia (Atos 7:38). É a palavra para a unidade ideal de Israel como povo
escolhido, mesmo quando, quanto à localidade, não foi reunido como uma comunidade
religiosa (Êxodo 16:3; Números 15:15).

Mas Israel, como unidade nacional, cedo demais trilhou o caminho da apostasia. Perdeu na
prática o seu caráter de “povo de Deus”. Tornou-se Lo ammi, “não meu povo” (Oséias 1:9).
Apenas um fragmento, o pequeno grupo de fiéis, permaneceu devotado ao seu Deus. Portanto,
na história da salvação, eles se tornaram o núcleo da raça que levou adiante a sua vocação, o
verdadeiro Israel, o verdadeiro povo de Deus, a encarnação real e essencial da ideia de ecclesia
do Antigo Testamento. A eles, portanto, estão anexadas todas as promessas do reino de Deus.
Enquanto o Israel incrédulo, como um todo, caiu sob o julgamento da lei, o grupo dos fiéis foi,
como um remanescente, salvo dos julgamentos (Isaías 6:13; Malaquias 4:1-2; Oséias 1:10). Ao
mesmo tempo, eles se tornaram a base para a realização e conclusão do plano de que haveria
um povo de Deus (Miquéias 2:12; Miquéias 4:7). “Portanto, com os profetas, 'remanescente'
tornou-se a descrição direta e especial do povo de Deus, a eclésia do fim dos tempos. ”Como
tal, é o “porta-raiz” sobrevivente, a “semente sagrada” da qual brotará uma nova vida (Isaías
6:13), o “pequeno rebanho” que finalmente recebe o grande reino (Miquéias 2:12). A existência
e a história deste núcleo essencial da ecclesia do Antigo Testamento é, portanto, o pressuposto
e a preparação para um povo de Deus no tempo do fim.

Os primeiros cristãos declararam-se este povo de Deus do tempo do fim. Eles são o objetivo da
história do Antigo Testamento (1 Coríntios 10:11), a igreja messiânica, os salvos dos “últimos
dias”. Sobre nós, que vivemos na era messiânica (cristã), os “pontos finais”20 chegou a era pré-
messiânica (pré-cristã) (1 Coríntios 10.11), ou seja, o tempo do aperfeiçoamento messiânico.
(Sobre o sentido do termo “últimos dias” no Novo Testamento, ver pp. 102,103).

Esta é a razão pela qual eles não aplicam a si mesmos nenhuma das outras descrições de
comunhão religiosa que estavam à mão, como koinos, syllogos, thiasos, synodos. No mundo
que rodeava o cristianismo primitivo, estes eram os termos para descrever as uniões religiosas,
tal como hoje nas esferas cristãs falamos de Igrejas, Igrejas Livres, Irmandades, Uniões. Mas
nenhum destes termos foi escolhido pelos cristãos como sua descrição principal. Eles usaram a
palavra familiar ecclesia tirada do Antigo Testamento grego, o nome da antiga comunidade
crente da qual o “remanescente” dos fiéis era historicamente o núcleo, a continuação e a
incorporação.

Com isso, os primeiros cristãos “não fizeram mais nem menos do que Paulo, que disse dos
cristãos que eles são o Israel segundo o Espírito, o Israel de Deus (Gálatas 6:16; comp. 1
Coríntios 10:18; Gálatas 4:29), o (verdadeiro) descendentes de Abraão (Gálatas 3:29); ou do
que Pedro fez quando trouxe para a comunidade cristã os títulos de honra de Êxodo 19:6 e
Isaías 43:21, e os chamou de 'raça escolhida, sacerdócio real, povo de nação santa para posse'
(1 Pedro 2:9). O ato do próprio Senhor deve ter aproximado Seus discípulos dessa concepção.
Pois a escolha de exatamente doze discípulos para serem apóstolos deve ter significado para
eles nada mais do que o fato de que estes, como antigamente os doze patriarcas, deveriam ser

20
Os “pontos de meta” (gr. ta tele).
53
ancestrais de um novo povo... assim como a Páscoa em Israel, a Ceia do Senhor foi a grande
refeição deste novo povo, e o batismo foi o paralelo à passagem pelo Mar Vermelho” (1
Coríntios 10:1).

A reunião desta igreja, a igreja dos primogênitos, é o objetivo principal desta era. Seu
significado é nada menos que a criação de uma família real, a aristocracia governante do reino
vindouro de todos os tempos (1 Coríntios 6:2-3). “Não temas, pequeno rebanho, porque é do
agrado de vosso Pai dar-vos o reino” (Lucas 12:32).

Nota sobre a palavra ecclesia.

Quem primeiro aplicou a palavra grega ecclesia à igreja do Novo Testamento não
pode ser definido agora. Por um lado, Jesus falava aramaico, incluindo
originalmente as palavras de Mateus 16:18; Mateus 18:17. Por outro lado, Paulo
aplica a palavra grega ecclesia de tal maneira que pressupõe seu uso antes do
período de suas atividades (Gálatas 1:22), na verdade, antes do tempo de sua
conversão (Gálatas 1:13; Filipenses 3:6; 1 Coríntios 15:9). Portanto, muito
provavelmente foram os cristãos judeus de língua grega, antes da conversão de
Paulo, os primeiros a chamar a comunidade cristã de eclésia. Lucas também
chama a comunidade cristã pré-paulina de eclésia. De Atos 6:1; Atos 6:9,
sabemos que na época da primeira igreja em Jerusalém havia sinagogas
helenísticas, isto é, de língua grega, de cujos membros vários se tornaram
cristãos.

A palavra grega ecclesia é derivada de ek out of e kaleo eu chamo. Mas não se


deve dar muita ênfase a esta derivação, como se a palavra tivesse, por esse
motivo, sido escolhida como a nova descrição da comunhão dos crentes, de modo
a chamá-los de “os chamados (companhia) do Senhor”. Aqui e ali isso pode de
fato ter soado simpático e ter sido considerado especialmente adequado e
aceitável; mas, em princípio, a derivação de uma palavra (etimologia) e o seu
significado (definição) nem sempre ou necessariamente são os mesmos. É
verdade que através do evangelho a igreja é uma companhia que é chamada para
fora do pecado, do mundo, da morte e do julgamento, mas este fato é expresso
de outra forma e maneira, não em primeiro lugar através da escolha da palavra
ecclesia. Caso contrário, o verbo que está na sua raiz, ekkaleo, deve ter sido
usado pelo menos uma vez no Novo Testamento. E, no entanto, nem em uma
única passagem em todo o Novo Testamento é esse o caso, embora tal aplicação
em certas passagens estivesse bastante disponível (1 Pedro 2:9; 1 Pedro 1:15; 2
Tessalonicenses 2:14; Romanos 8:28 e seguintes).

Em grego, a palavra ecclesia era antes de tudo a descrição de qualquer reunião


ocasional de um povo. É usado neste sentido em Atos 19:32; Atos 19:41. Mas na
vida política dos Estados livres gregos a palavra denotava a assembleia legislativa
regular convocada por um arauto da população, composta por todos os
cidadãos livres e irrepreensíveis com direito a voto. Os pontos de acordo entre a
“eclésia de Deus ” e esta eclésia política helenística são principalmente quatro,
como segue:

54
1. A convocação através da mensagem do arauto do evangelho (Filipenses 3:14; 2
Timóteo 1:9). Pregar = Gk. keryssein, para anunciar; comp. Arauto Keryx).

2. A chamada para fora do mundo (Romanos 11:7; 2 Pedro 1:10).

3. Três condições de admissão anexas à eclésia:

cidadania: “nossa cidadania está no céu” (Filipenses 3:20);

liberdade: escravos não eram admitidos na ecclesia grega: “vocês eram


bálsamos do pecado” (Romanos 6:20): “fostes chamados à liberdade”
(Gálatas 5:13);

irrepreensível: nenhum criminoso teve acesso à ecclesia grega:


“justificado gratuitamente pela sua graça” (Romanos 3:24).

4. O objetivo do ecclesia: a ordenação dos assuntos públicos de Estado, isto é,


assuntos governamentais: “Não sabeis que os santos julgarão o mundo?” (1
Coríntios 6:3; comp. 5).

No entanto, por mais que esses paralelos se encaixem, e mesmo que às vezes
possam estar ainda mais próximos, o uso da palavra no Novo Testamento não é
derivado da vida estatal grega. Como vimos, sua raiz está na Septuaginta. Pois lá,
neste grego (Bíblia do Antigo Testamento dos primeiros cristãos, este mundo já
era a designação do povo de Israel (Deuteronômio 4:10; Salmos 22:22; Salmos
22:25; comp. Atos 7:38). Assim, no tempo de Jesus e Seus apóstolos, a palavra
kahal (= ecclesia) já estava em uso como a descrição bíblico-teocrática da
concepção “povo de Deus”. Conseqüentemente, eles não precisaram criá-lo
primeiro, mas puderam naturalmente retirá-lo da Septuaginta e aplicá-lo ao povo
de Deus do Novo Testamento.

A palavra ecclesia é em si intraduzível. A disputa quanto à tradução é ociosa. A


questão principal é atribuir à palavra o significado correto.

[2] O Início da Chamada

Nos primeiros dias do Senhor Jesus, a igreja, no sentido pleno do Novo Testamento, não
existia. Portanto, Cristo falou disso como ainda futuro: “Eu edificarei a minha igreja ” (Mateus
16:18). Foi primeiro no Pentecostes que os crentes “foram batizados em um Espírito em um
corpo” (1 Coríntios 12:13). Portanto Pentecostes é o aniversário da igreja.

No entanto, o novo começo ocorreu inteiramente em terreno nacional judaico. Apenas os


israelitas eram destinatários do Espírito e apenas os judeus e associados judeus (prosélitos)
eram ouvintes da pregação (Atos 2:5-11). Também no período que se seguiu, foram apenas
aqueles que pertenciam à nação de Israel, e outros que total ou parcialmente passaram para o
judaísmo, que foram recebidos na igreja (Atos 3:12; Atos 3:26; Atos 6:1; Atos 8:26-40; Atos
11:19).

Assim, os samaritanos (Atos 8:4-25), embora odiados pelo judaísmo nacional, eram pelo menos
meio-judeus (2Rs 17:24-41), com circuncisão e os chamados Cinco Livros da Lei próprios (o
Pentateuco Samaritano), e a pretensão, em oposição a Jerusalém, o lugar “falso”, de possuir
55
em e perto de Siquém o verdadeiro principal local de adoração de Jeová (João 4:20). O eunuco
de Atos 8:26-40 era um prosélito que, tanto quanto era possível a um eunuco, já havia aderido
à fé judaica e à adoração a Deus. Assim, a forma mais antiga de cristianismo foi a israelita.

Nenhuma missão, propriamente dita, aos gentios, onde pudessem ser batizados como
totalmente gentios, ainda existia. Tudo aconteceu através da adesão e coordenação com Israel.
Portanto, o Pentecostes ainda não é, em todos os aspectos, o início da era atual. Na verdade,
mesmo depois do Pentecostes, Pedro fez uma oferta de salvação expressamente no terreno de
Israel como nação. “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos novamente, para que vossos
pecados sejam apagados, para que possam vir tempos de refrigério pela presença do Senhor, e
para que ele possa enviar o Cristo que foi designado para vocês, sim, Jesus, a quem, de fato, o
céu deve receber até os tempos da restauração de todas as coisas, dos quais Deus falou pela
boca dos Seus santos profetas desde a antiguidade” (Atos 3:19-21).

Assim, mesmo depois do Pentecostes, a mensagem de salvação do Novo Testamento ainda


está em terreno israelita, e a separação de Israel que se seguiu não ocorreu realmente por
causa da rejeição do Messias enquanto Ele viveu na terra (comp. Atos 3:17), mas de maneira
final e decisiva apenas por causa da rejeição do Espírito Santo, que glorificou diante deles o
Messias como tendo ido para o céu e sido exaltado. Finalmente, Israel até assassinou Estêvão,
que, cheio do Espírito Santo, deu testemunho da ressurreição, e assim confirmou as palavras
deste mártir: “Vós, obstinados e incircuncisos de coração e de ouvidos, sempre resistis ao
Espírito Santo: como vossos pais vós também o fizestes” (Atos 7:51).

E precisamente porque o chamado dos gentios pertencia à natureza essencial da igreja (Efésios
2:11-22; Efésios 3:6; Romanos 15:9-12), deve-se dizer que a igreja não encontrou seu início
completo e abrangente em Jerusalém (Atos 2:1-47), mas em Cesaréia (Atos 10:1-48). Este
processo foi completado através das revelações a Paulo, a quem foi confiado de maneira
especial o desdobramento doutrinário deste mistério (Efésios 3:1-7) e a proclamação
evangelística da mensagem salvadora entre as nações (Efésios 3:8-9). Primeiro para o judeu e
depois também para o grego - esta foi a prática de Paulo em particular e também o curso da
história da salvação em geral (Romanos 1:16; Atos 13:46).

Dar aos gentios uma posição igual à do povo da aliança do Antigo Testamento significa ao
mesmo tempo a anulação da posição privilegiada dos judeus e a separação de Israel como
nação (Romanos 11:25). Vista do ponto de vista do lugar nacional de Israel na história da
salvação, a era atual é, portanto, um parêntese. O gentio agora pode beber do poço público da
salvação sem primeiro ter obtido a permissão judaica para sacar (Romanos 10.12-13). Um
endurecimento parcial tomou conta de Israel, mas sua “queda” são as riquezas do mundo
(Romanos 11:25; Romanos 11:11-12). Os que estão longe tornaram-se próximos (Efésios 2:11-
13): os gentios crentes têm o mesmo título que os judeus crentes. Eles são co-herdeiros e
companheiros do corpo, companheiros da promessa e concidadãos dos santos (Efésios
3:6; Efésios 2:19). Eles são participantes de suas posses espirituais (Romanos 15:27) e estão
junto com eles “um novo homem”, o corpo de Cristo (Efésios 2:15-16). Portanto, na distinção
da igreja não há mais regras. “É como se alguém fizesse duas colunas, uma de prata e outra de
chumbo, depois as fundisse e por um milagre delas saísse uma coluna de ouro” (Crisóstomo).

56
[3] O Mistério do Chamado

Nenhum profeta do Antigo Testamento tinha visto claramente este edifício maravilhoso (1
Pedro 1:10-12; Mateus 13:17). Embora determinada desde a eternidade em Deus (Efésios 3:9),
sua estrutura foi escondida pelo silêncio desde os tempos como um segredo, um “mistério”
(Romanos 16:25; Efésios 3:5; 1 Coríntios 2:7). A igreja em seu caráter neotestamentário,
portanto, não pode ser encontrada diretamente em nenhum lugar do Antigo Testamento, mas
apenas indiretamente, em tipos, como Eva, Rebeca, o Cântico dos Cânticos e o Tabernáculo.
Somente desde o Pentecostes, e o envio de Pedro a Cesaréia, e, acima de tudo, desde a
revelação dele dada independentemente a Paulo (Gálatas 1:11-12; Efésios 3:3), foi dado a
conhecer aos filhos dos homens o segredo do Novo Testamento da composição da igreja, seu
chamado, posição e esperança. A partir desse momento, foi dado a conhecer através de
“escritos proféticos”21, e os proclamadores do evangelho são “administradores dos mistérios de
Deus” (1 Coríntios 4:1).

Seu fundamento é a obra de Cristo — o mistério da piedade (1 Timóteo 3:16);

Seu edifício - a igreja, o mistério de Cristo (Efésios 3:3-4; Efésios 3:9; Efésios
2:11-22);

Seu prazer – Sua comunhão, o grande mistério do amor (Efésios 5:31-32),

Sua força – Sua habitação, o mistério de “Cristo em você” (Colossenses 1:26-27);

Sua expectativa — a transformação, o mistério do arrebatamento (1 Coríntios


15.51).

E mesmo que em Israel o mistério do endurecimento continue (Romanos 11:25), e se na era


atual as nações do mundo se enfurecerem, e entre elas o mistério da iniquidade operar (2
Tessalonicenses 2:7; Apocalipse 17:5), ainda assim o objetivo é certo: Deus finalmente reunirá
todos sob uma só Cabeça (1 Coríntios 15.28). Este é o “mistério da Sua vontade”, Seu objetivo
final e triunfo eterno (Efésios 1:9-10; Filipenses 2:10-11).

Até então pregamos o Cristo crucificado e tornamos conhecido em todos os lugares “o salvador
do conhecimento dele” (2 Coríntios 2:14). Nossa mensagem

quanto à sua origem, é o mistério de Deus (Colossenses 2:2):

quanto à sua mediação, é o mistério de Cristo (Colossenses 4:3):

quanto à sua proclamação, é o mistério do evangelho (Efésios 6:19):

quanto à sua experiência, é o mistério da fé (1 Timóteo 3:9).

E a fé é a chave para todos esses mistérios de Deus. Para a fé os mistérios não são mais
apenas coisas ocultas, “porque o Espírito esquadrinha todas as coisas, até as coisas profundas
de Deus” (1 Coríntios 2:10).

Nota sobre o “mistério de Cristo”.

21
O que significa profetas do Novo Testamento (Romanos 16:26; comp. Efésios 2:20; Efésios 4:11;
Atos 13:1; Atos 15:32; Atos 21:10).
57
Tomado estritamente, o “mistério de Cristo” em Efésios 3:1-21 não é a igreja em
si, mas a igualdade de título dos gentios crentes dentro da igreja: “que os das
nações são co-herdeiros [com os crentes de Israel], e companheiros do corpo,
e companheiros da sua promessa em Cristo Jesus ” (ver. 6). Paulo diz que
acabou de escrever sobre o mistério e, portanto, volta ao cap. 2:13-19. Ali
também ele havia falado da ausência de diferença entre judeus e gentios no que
diz respeito à admissão à salvação e dos direitos iguais de ambos como uma
unidade no “um só corpo” de Cristo, o único “novo homem”, de modo que desde
a quebra derrubados da lei, como o “muro intermediário de separação”, os
gentios antes “distantes” são trazidos para perto, e junto com aqueles “próximos”,
os israelitas que acreditam em Cristo, eles formam uma unidade orgânica uns com
os outros e com Cristo.

Assim, o “mistério de Cristo” aqui não é a existência do Cristo místico em si, isto
é, a existência da igreja como um organismo, nem é de forma alguma a unidade
orgânica dos membros uns com os outros e com a Cabeça, mas é a participação
indiferenciada dos gentios nesta ecclesia, e seu direito igual de participar com os
israelitas que acreditam em Cristo no relacionamento com o Ressuscitado e
exaltado. Portanto, refere-se menos aos judeus crentes do que à porção da igreja
formada por gentios crentes. Trata menos da ecclesia como corpo do que da
questão dos crentes membros do corpo dentro da ecclesia e, portanto, das
condições de recepção dos crentes dos povos do mundo e do seu desfrute das
bênçãos na comunhão da salvação.

O próprio Cristo já havia dito que os cristãos passariam a ter uma relação
orgânica viva com Ele, embora Ele não usasse a figura do corpo, mas a da videira
(João 15:1-27). Mas a questão principal aqui não é a figura, mas a realidade
espiritual, e isto foi claramente declarado por Cristo.

Consequentemente na expressão "mistério de Cristo" o genitivo "de" não pode ser


tomado como genitivo de explicação (genitivus explicativus), como se o "Cristo
místico" fosse o "mistério de Cristo" (comp. 1 Coríntios 1:13; 1 Coríntios 12:12),
mas como genitivo de relacionamento místico (gentivus mysticus): é um mistério
que está organicamente conectado com a pessoa e a obra de Cristo, e existe
somente através dele, com ele e nele.

A partir de Efésios 5:32 foi ensinado que Paulo descreve a própria igreja como “o
grande mistério”. Considerado estritamente, este não é, no entanto, o caso aqui.
O “segredo” de que fala aqui o apóstolo não é a igreja, mas a relação de amor
entre a igreja e Cristo, que tem a sua contrapartida humana na relação
matrimonial. “Por esta causa deixará o homem o seu pai e a sua mãe e apegar-
se-á à sua mulher; e os dois se tornarão uma só carne. Este mistério é grande:
mas falo a respeito de Cristo e da igreja. ”Assim, a palavra “mistério” refere-se
aqui não apenas à igreja, como se à sua existência em si mesma, mas à igreja e a
Cristo, isto é, à relação celestial, à unidade no amor, entre o Redentor e os
redimidos. Sobre a questão de até que ponto o plano para a existência de uma

58
igreja composta por cristãos de judeus e gentios estava oculto no Antigo
Testamento, o apóstolo nada diz neste lugar.

[4] Entrada para o Chamado

Maravilhosa é a redenção; maravilhosa também a entrada na salvação. O pecador experimenta


todos os três ofícios do Redentor em sua sequência histórica adequada:

a do Profeta — em seu chamado e iluminação;

a do sacerdote – na sua conversão e justificação;

a do Sacerdote e Rei - em sua santificação e glorificação.

Ele experimenta primeiro o serviço profético de Cristo.

1. A condução para a salvação: o chamado através da Sua palavra e a iluminação através


do Seu Espírito. O despertar: “a fé vem pela pregação” (Romanos 10:17). Alarmado pelas
acusações de uma consciência desperta, quebrada sob a palavra de Deus, autocondenada, o
homem é autorizado a reconhecer no evangelho de Cristo a oferta de salvação. Depois vem o
serviço sacerdotal, a experiência do Gólgota.

2. A entrada na salvação através da conversão e da regeneração. O pecador recebe o


perdão de sua culpa com base no sacrifício sacerdotal, é renovado (Tito 3:5), transformado (1
Coríntios 6:11), vivificado (Efésios 2:5) e nascido de Deus (1 João 3:9; 1 João 4: 7; 1 João 5:1;
1 João 5:4; João 3:5).

A regeneração é, portanto, a verdadeira entrada na redenção (Tito 3:5). É a contrapartida de


Cristo ter se tornado homem, a transmissão de Sua vida a nós, os mortos (Colossenses 1:27).
Somente através dela nos tornamos “novos” homens (Efésios 4:24; Colossenses 3:10) e
membros do “último Adão”.

Mas este novo nascimento está inseparavelmente ligado à conversão, isto é, uma reviravolta
Atos 3:19; Atos 15:19; Atos 26:18). A regeneração é o lado Divino, a conversão é o lado
humano da mesma experiência. O homem experimenta ambos simultaneamente, mas a
conversão é a condição para a regeneração, e a regeneração é a resposta divina à conversão.
O homem é responsável pela conversão, pela conversão para Deus: a regeneração é obra de
Deus. Na conversão o está ativo; “virem-se” – imperativo! (Atos 3:19): na regeneração ele é
passivo; ele “se torna” regenerado.

A conversão em si (1 Tessalonicenses 1:9) é dupla: desviar-se e voltar-se para,


arrependimento e fé (Marcos 1:15). O arrependimento é negar (negativo), a fé é afirmar
(positiva), o arrependimento olha para dentro, a fé olha para cima; o arrependimento vê nossa
miséria, a fé nosso Libertador.

Mas com tudo isso, a conversão inicial de um pecador a Deus é um ato realizado de uma vez
por todas. Todas as conversões do Novo Testamento foram repentinas e básicas. O homem
“passou” (João 5:24) da morte para a vida. Assim, ele conhece um “uma vez” e um “agora”
(Efésios 2:2; Efésios 2:11; Efésios 2:13). Esta ruptura é apresentada simbolicamente no
batismo cristão original, a confissão do crente de que ele morreu com Cristo e ressuscitou com
Ele (Romanos 6:1-11).
59
O arrependimento (Mateus 3:2; Atos 17:30) é uma ação tripla: no entendimento -
conhecimento do pecado; nos sentimentos — dor e pesar; na vontade — uma mudança de
opinião (grego metanoia) e uma reviravolta. Em geral, é uma aquisição de discernimento, um
desespero quanto a si mesmo, uma renúncia a toda auto-redenção (Romanos 7:24).

A fé também é uma ação tripla: no entendimento — um estar convencido da redenção


completa; nos sentimentos — confiança repousante no amor salvador; na vontade - devoção
ao Salvador pessoal. Assim, a fé é a mão do homem que aperta a mão de Deus. Não se trata
de desenvolver sentimentos, de atormentar o eu, de expiar a culpa, mas de um relacionamento
pessoal com Cristo, de uma aceitação consciente de Sua graça e de uma abençoada “vida na
cabeça” (Zwingli). “O arrependimento é a fome, a fé é a boca aberta, Cristo o alimento vivo”
(João 6:14; João 6:55). A fé experimenta o Cristo presente agora e aqui: é ainda hoje um
ponto de apoio firme na eternidade e, portanto, torna-se uma “autodemonstração de realidades
invisíveis” (Hebreus 11:1).

Somente quando tudo isso estiver presente poderá começar a experiência do ofício real de
Cristo.

3. Preservação e Avanço na Salvação, ou seja, na santificação. Aquele que é “declarado


justo” (justificado) ainda não é, na prática, “perfeito em justiça”. Os “santos” (santos) devem
tornar-se “santos” (santificados, 1 Tessalonicenses 5:23). A graça “governará regiamente”
(Romanos 5:21). A nova natureza, implantada no crente pelo novo nascimento, será um ponto
de partida a partir do qual a nova vida conquistará o homem inteiro. Só assim o Redentor
poderá aperfeiçoar a transfiguração.

Os nomes de todas as almas que experimentam este processo de salvação estão no “livro da
vida do Cordeiro”. Eles são

homens antes conhecidos - pois o livro da vida existe desde a fundação do


mundo (Apocalipse 13:8; Apocalipse 17:8);

homens comprados pelo sangue – pois é o livro da vida do Cordeiro


(Apocalipse 21:27);

homens recém-nascidos – pois é o livro da vida (Apocalipse 20:15);

homens felizes – pois seus nomes estão nos céus (Lucas 10:20);

homens santos – pois todos os inscritos serão chamados “santos” (Isaías 4:3);

testemunhas alegres – pois desafiam até o Anticristo (Apocalipse 13:8;


Apocalipse 17:8; Filipenses 4:3);

homens vitoriosos – pois são vencedores (Apocalipse 3:5; Daniel 12:1);

homens glorificados – pois eles entram na cidade celestial (Apocalipse 21:27).

60
Capítulo 2. O Apóstolo das Nações
Paulo teve um significado especial para o chamado da igreja. Concedendo plenamente o
trabalho dos outros, do ponto de vista da história geral da igreja, ele foi “o primeiro depois do
Um”. Jesus foi “Aquele”, Aquele que lançou o alicerce, incomparável, insuperável. Paulo foi “o
primeiro”, o arauto (1 Timóteo 2:7), o principal pioneiro do evangelho no mundo das nações, o
primeiro em eminência na grande e abrangente área dos povos.

[1] Sua Comissão como Pregador do Evangelho.

Quatro marcas externas são as características especiais da sua atividade apostólica.

1. Paulo foi um arauto para os gentios. Ele estava em uma distinção harmoniosa entre os
apóstolos e a circuncisão (Gálatas 2:7-10; Atos 15:1-41). A ele, de maneira especial, foi dado
“proclamar as riquezas insondáveis de Cristo entre a nação” (Efésios 3:8; Efésios 3:1;
Colossenses 1:25; Colossenses 1:27; 1 Timóteo 2:7; 2 Timóteo 1:11). Portanto o “para mim”
(gr. emoi) em Efésios 3:8; “Foi-me dado este favor de pregar aos gentios”, enfatizado e
enfático ao ser colocado no início da frase.

2. Paulo foi um pioneiro. Como tal, cabia a ele introduzir a mensagem de salvação em terras
sempre novas. Portanto, ele foi principalmente a regiões onde o evangelho ainda não havia sido
divulgado (Romanos 15:20). A continuação da continuação do evangelho nas regiões onde
havia trabalhado, ele deixou para os crentes recém-conquistados. Sua própria tarefa era formar
centros de luz, isto é, igrejas locais com mentalidade missionária, principalmente nas principais
cidades. Assim, Filipos era a “principal cidade” da Macedônia (Atos 16:12), Corinto a da Acaia,
Atenas o principal centro intelectual da Grécia, Éfeso a principal cidade do oeste da Ásia Menor,
Roma a do mundo inteiro.

A partir desses centros, a luz do evangelho deveria brilhar nos distritos vizinhos (1
Tessalonicenses 1:8). Quando tal centro foi formado, Paulo foi mais longe. Em tal terra, Paulo
“não tinha mais espaço” (Romanos 15:23), embora centenas de milhares de pagãos morassem
ao redor, mas ali ele “proclamou plenamente o evangelho de Cristo” (Romanos 15:19). Para
ele, qualquer outra coisa seria “edificar sobre o fundamento de outro homem” (Romanos
15:20). Paul viajou pelo menos cerca de 24.000 quilômetros.

3. Paulo foi um mensageiro para grandes cidades. Os centros de suas atividades foram os
grandes centros da cultura grega. Isto é suficientemente provado pelos nomes Antioquia,
Trôade, Filipos, Tessalônica, Atenas, Corinto, Éfeso. Portanto também seu esforço para chegar
a Roma, “a reunião de toda a terra”, a metrópole do mundo (Romanos 1:11; Romanos 1:13;
Romanos 15:23).

Isso também explica o uso de figuras de linguagem da vida civilizada das grandes cidades.
Jesus pregou principalmente ao ar livre, para camponeses e aldeões, e usou figuras de
linguagem do campo; mas Paulo, ensinando principalmente nas grandes cidades, usou em
medida decidida figuras de linguagem da cultura das cidades. Ele não apenas será em geral
“um judeu para os judeus e um grego para os gregos” (1 Coríntios 9:20-21), mas também, de
maneira muito especial, ele será um homem da cidade para os moradores da cidade. Jesus fala
mais das aves do céu, dos lírios do campo, dos pastores, dos semeadores e da colheita, mas
Paulo fala mais da absolvição do juiz, do perdão da dívida do devedor, da armadura do soldado
61
(Efésios 6:13-17), a ordem do comandante (1 Tessalonicenses 4:10), na verdade, ele faz suas
comparações até mesmo no mundo do esporte e do teatro (Filipenses 3:14). Tudo o ajudará a
tornar o evangelho claro às pessoas das cidades e a chegar aos seus corações.

A maioria de suas fotos ele tira do tribunal, do quartel e do campo esportivo, e assim emprega
termos técnicos jurídicos, militares e esportivos. Suas expressões figurativas centrais e
principais são extraídas do tribunal e da casa de negócios. Ele também tinha um olhar aberto
para a visão de mundo, a poesia e a filosofia de seu ambiente não-cristão, e para os detalhes
locais de religião e cultura (Atos 17:16-29). Aos atenienses ele falou do “seu” altar, aos
coríntios dos jogos ístmicos realizados perto de sua cidade (1 Coríntios 9:24-27). Paulo não era
um estudante de livros pouco prático, um estranho ao mundo, um “teólogo” abstrato, que
falava aos seus ouvintes em jargões escolásticos incompreensíveis ou em tons untuosos de
púlpito e, portanto, falava por cima de suas cabeças: mas ele era, para sua época, um homem
totalmente moderno, um homem de uma grande cidade (Tarso, Atos 21:39), para a grande
cidade, um homem prático, que uniu em si essas duas características - ele foi santificado, mas
aberto ao mundo, unido à eternidade, mas próximo ao presente.

4. Paulo era um mensageiro para os portos marítimos. Se olharmos mais de perto para
essas grandes cidades, e especialmente para sua situação geográfica e significado, percebemos
que “o mundo do apóstolo deve ser procurado principalmente onde sopra o vento do mar”. Sua
atividade evangélica abrangeu particularmente o Mar Egeu e os portos marítimos que ficam ao
seu redor. Ali, ou pelo menos na vizinhança, ficavam os grandes portos comerciais de Trôade,
Tessalônica, Atenas, Corinto e Éfeso. Além disso, Antioquia e Roma eram portos através dos
seus portos Selêucia e Óstia. A razão para este método era óbvia em uma vantagem tripla.

Os portos marítimos poderiam ser alcançados mais facilmente do que as cidades provinciais no
interior. Por mar avançava-se mais rápido e com mais segurança do que pelas estradas, que
eram de fato bem construídas, mas onde a viagem era mais lenta e muitas vezes não isenta de
perigos, como é indicado nas próprias palavras de Paulo, “em perigos de rios, em perigos de
ladrões”. (2 Coríntios 11:26). Considerando que, segundo Plínio, alguém veio da Espanha para
Ostia em quatro dias, e da África em dois dias. Havia um serviço diário entre Alexandria e a
Ásia Menor.

Na época, o grego era a língua das relações mundiais e se espalhara muito mais amplamente
nas cidades portuárias do que no resto do mundo. Para o pregador pioneiro, o demorado
obstáculo ao aprendizado de línguas foi assim eliminado e a marcha conquistadora do
evangelho pôde avançar mais que o dobro da velocidade.

Além disso, mais tarde, quando o apóstolo seguiu em frente, o evangelho pôde se espalhar
mais rapidamente nas igrejas portuárias do que naquelas situadas mais no interior.
Comerciantes viajantes, visitantes de portos, marinheiros e outros viajantes que durante uma
estada em um porto marítimo foram apanhados pelo evangelho poderiam, por sua própria
conta, à medida que viajavam mais longe em seu retorno para casa, sempre serem novos
pioneiros da mensagem salvadora em terras e regiões sempre novas do mundo. Por este meio,
o número de “missionários” e as terras por eles alcançadas aumentaram e foram acrescentados
aos trabalhadores e às terras alcançadas pelos esforços gigantescos do apóstolo e pelo envio
sistemático do círculo mais restrito de seus colegas de trabalho.

62
A estratégia missionária de Paulo. Assim, as atividades de Paulo no evangelho não poderiam
ter sido planejadas de maneira mais prática do que foram. Portanto, é justo falar da “estratégia
missionária” de Paulo. Tudo é tão sistemático, tão baseado no princípio de servir a um fim, tão
planejado antecipadamente para a propagação mais rápida e extensa do evangelho, que não se
pode deixar de ver um plano deliberado que deve ter estado na base de todos os planos do
apóstolo.

Mas com tudo isso não foi Paulo quem planejou, mas o Senhor a quem ele serviu. Significativo
disso é a visão do sonho em Trôade, por meio da qual o apóstolo, sem impulso pessoal ou
ponderação autodependente, foi chamado à Macedônia e à Grécia (Atos 16:8-11), de modo que
agora, com base na direção divina não o Oriente, mas o Ocidente - a Europa jafética e os povos
ocidentais em geral - deveriam se tornar o principal teatro das maravilhas do evangelho. Na
verdade, poderia ter acontecido e aconteceu, que Paulo tivesse planejado certas viagens, mas
“o Espírito de Jesus não o permitiu” (Atos 16:6-7, duas vezes), e Paulo seguiu a iniciativa
divina. De modo que é muito justo falar de uma estratégia missionária na vida de Paulo, mas a
estratégia não era de Paulo, mas de Cristo, não do embaixador22 mas do Remetente, não do
arauto, mas do Senhor da empresa. Cristo era o líder, Paulo o agente; Cristo era o Diretor,
Paulo o viajante; Cristo era o Comandante, Paulo o soldado (2 Timóteo 2:3; 2 Timóteo 4:2; 2
Coríntios 6:7; Efésios 6:10-20).

A essas marcas mais externas de suas atividades evangélicas devem ser acrescentadas as
características mais internas de seu ministério de ensino.

[2] Sua Comissão como Mestre da Igreja

1. O ponto de partida da sua instrução sistemática reside no acontecimento principal da


história da salvação. No centro desta história está Jesus Cristo. Nascido em Israel (Romanos
1:3). Ele ainda era o Salvador do mundo. Nele a promessa a Abraão de abençoar todos os
povos alcançou cumprimento (Gálatas 3:8-9). O nacionalismo precedente e interveniente da
revelação do Antigo Testamento foi ampliado através de Cristo e da Sua obra na mensagem
universal de salvação do Novo Testamento. Como o cumprimento dos sacrifícios do Antigo
Testamento, a cruz é ao mesmo tempo a abolição do sacerdócio e da lei levíticos (Hebreus
10:10-14; Hebreus 7:11-18) e, portanto, a demolição do muro de separação entre Israel e os
gentios (Efésios 2:13-16). A salvação está agora aberta a todos.

Historicamente, este significado mundial da cruz veio à luz pela primeira vez depois do
Pentecostes. O principal evento que marcou época neste desdobramento do Gólgota é o envio
de Pedro a Cornélio em Cesaréia (Atos 10:1-48). Por esta razão é dado na história bíblica o
relato mais detalhado de qualquer evento em toda a era apostólica. Aqui, pela primeira vez, um
gentio pleno é levado a participar do Espírito Santo, é batizado e recebido na igreja sem
qualquer questão de lei ou circuncisão, isto é, sem conexão com o Israel nacional, mas com
base única em sua fé na obra consumada de Cristo.

Isto é tão vital que deve ser considerado mais detalhadamente.

22
Atos 22:21; Atos 13:4; 1 Corintios 1:17. Compare o “apóstolo”, do grego apostello que envio,
despacho. 2 Coríntios 5:20.
63
A visão de Cornélio é narrada nada menos que três vezes (Atos 10:3-6; Atos 10:30-32; Atos
11:13-14) e a visão de Pedro também é narrada duas vezes (Atos 10:10-16; Atos 11:5- 10) e
mencionado pela terceira vez (Atos 10:28). Os próprios eventos mostram uma impressionante
variedade de acontecimentos sobrenaturais: a visão de Cornélio, a tríplice visão de Pedro, o
encorajamento de Pedro pelo Espírito após a visão (ver. 19), o derramamento do Espírito (ver.
44) e o efeito da recepção do Espírito no acompanhamento do falar em línguas (ver. 46). Tudo
isto mostra o grande peso atribuído a este evento; e o alto significado que o historiador lhe
atribui é demonstrado pelo seu relato detalhado.

Foi desta forma que o que foi introduzido em princípio no Gólgota tornou-se pela primeira vez
realidade histórica (João 12:32; João 11:52; Efésios 2:15-16). Foi assim declarado que diante
de Deus não há diferença entre judeus e gentios. A posição separada de Israel foi assim posta
de lado, e a igreja, consistindo de ex-judeus e gentios, foi estabelecida. A visão de Pedro em
Jope e o seu envio a Cornélio em Cesaréia são, portanto, o início de um novo tipo de
cristianismo para todos os povos, livre da lei, tipo esse que foi agora adicionado ao tipo original
judaico-cristão como sendo de nascimento igual.

Assim, e ao mesmo tempo, apareceu pela primeira vez em toda a sua extensão a nova
comunhão na salvação, que é supranacional, histórica, universal e que abrange o mundo
interior e exteriormente. Aqui, pela primeira vez, foi manifestado historicamente o princípio de
que Deus não faz diferença entre judeus e gentios (Atos 15:9), e concede a todos os crentes de
ambos os grupos, "o mesmo dom" (Atos 11:17), da "mesma maneira" (Atos 15:11); ou, para
expressar em linguagem paulina, que “o muro intermediário de separação”, que separava os
dois, Deus havia agora quebrado (Efésios 2:14). Assim, o “mistério” que Paulo discutiu em
Efésios 2:1-22; Efésios 3:1-21 (especialmente 2:13-3:6) não foi revelado primeiro a ele, mas a
Pedro. Assim como em Jerusalém Pedro abriu a porta do reino celestial aos judeus (Atos 2:1-
47), ele também o fez em Cesaréia aos gentios (Atos 10:1-48; comp. Mateus 16:19).23

23
A “igreja” tinha existência definida antes de Paulo. Somente assim Lucas poderia aplicar o termo à
comunidade cristã pré-paulina (Atos 8:1-3) ou o próprio Paulo confessou que havia perseguido “a igreja”
(Filipenses 3:6; Gálatas 1:13; comp. 1 Coríntios 15:9). Em Efésios 3:3, Paulo não afirma que ele foi o
primeiro a quem o mistério da igreja foi dado a conhecer. Ele diz apenas que o conselho secreto de que
não há diferença na igreja entre judeus e gentios, e que os direitos iguais dos gentios crentes e dos
judeus crentes não foram divulgados na época (não antes dele pessoalmente, mas em geral) antes de
seu reinado. geração, como agora havia sido revelado aos “santos apóstolos e profetas através do
Espírito”. O plural “apóstolos e profetas” deve ser observado como implicando que a revelação não foi
feita apenas a Paulo, e foi feita a eles “através do Espírito”, e não primeiro pela agência de Paulo (ver.
5). O “como agora foi revelado” pode de fato sugerir que este mistério foi sugerido no Antigo
Testamento, mas sob formas ou tipos velados, e só agora foi devidamente revelado.
O que Paulo declara é que ele recebeu este mistério por “revelação” (ver. 3). Mas ele não diz
nenhuma palavra sobre a sequência dessas revelações divinas ou sobre a questão da prioridade
de recepção. A ênfase do ver. 3 não se baseia no “eu”, mas na “revelação”. Ele não usa aqui o
enfático grego emoi, mas o não enfático moi, e o coloca (no texto original), não no início da
frase, mas o anexa como não acentuado. Pelo contrário, para enfatizar a palavra “revelação”, ele
a coloca no início da frase: “de acordo com a revelação me foi dado a conhecer o mistério”. Aqui
(como em Gálatas 1:12) ele não deseja declarar qualquer prioridade de tempo. para si mesmo
ou que a revelação lhe foi dada exclusivamente, mas apenas que ele permaneceu sozinho no
assunto, independentemente do homem. Somente em Efésios 3:8 ele usa o emoi enfático e o
64
A exposição e expansão deste mistério, juntamente com as questões básicas dependentes e
recém-surgidas relacionadas com o seu lugar na história da salvação, foi a tarefa especial de
Paulo como professor. Além disso, foram dadas a ele revelações mais detalhadas sobre a
natureza e conclusão desta igreja. Quase tudo o que é peculiar à doutrina proclamada por
Paulo deriva desta fonte.

Assim, então, Paulo não foi de fato o primeiro a quem este mistério da igreja, em sua
composição e estrutura do Novo Testamento, foi dado a conhecer. No entanto, mais tarde,
independentemente dos homens e de tudo o que precedeu, foi-lhe transmitido, pelo próprio
Senhor, por revelação especial (Gálatas 1:11-12; Efésios 3:3 e segs.). Isso foi necessário por
causa da independência de seu serviço e da autenticidade de seu apostolado aos gentios
(comp. Gálatas 1:11-24). Como resultado, sob a liderança do Espírito, ele descreveu esta nova
e grande verdade, e suas implicações essenciais, com uma largura e profundidade além de
todas as outras antes, com ou depois dele, e neste sentido ele não é apenas o principal arauto
de Jesus Cristo para os povos, mas o principal mestre e profeta da igreja.

Mas isso não significa que Paulo estivesse em terreno dispensacional diferente dos outros
apóstolos. Não há na igreja duas mensagens de salvação e doutrina, uma judaico-cristã a ser
distinguida em conteúdo de outra, uma gentia-cristã (comp. Gálatas 1:9-10; Atos 15:9; Atos
11:17), mas todas os apóstolos expuseram a mesma verdade do Novo Testamento. As
distinções residem apenas nos seus campos de trabalho (Gálatas 2:7-10), na forma e maneira
como transmitem a sua mensagem, condicionadas pelas suas personalidades (causando, por
exemplo, uma diferença na perspectiva, estilo e uso de figuras bíblicas da fala), e na
profundidade e amplitude dividida a cada um segundo a medida do dom de Cristo. Foi
precisamente neste último assunto que Paulo foi especialmente agraciado.

A grande importância de Paulo na proclamação do ensino do Novo Testamento é demonstrada


também pelo grande espaço que os escritos dele e de seus colegas de trabalho ocupam no
Novo Testamento. O círculo de Paulo – isto é, neste caso, Paulo, Lucas e o escritor aos Hebreus
– escreveu mais da metade do Novo Testamento, e o próprio Paulo um quarto.24

2. As verdades centrais das cartas de Paulo. No centro da mensagem paulina está Jesus
Cristo, e Ele como o Salvador crucificado e ressuscitado. Sua obra expiatória na cruz extinguiu
nossos pecados (Romanos 3:25). Sua vida na glória é a fonte de força para nossa santificação.
Sua vinda (parusia) e aparecimento (resplendor, epifania) é o objetivo da nossa expectativa.
Através do arrependimento (Atos 17:30) e da fé (Romanos 1:16-17), o pecador entra em Sua

coloca no início da frase. Mas aí ele não se trata da primeira recepção do mistério, mas da sua
proclamação dele entre as nações. Esta, é claro, era de fato a tarefa especial de Paulo. Ele foi
o principal arauto do evangelho para os povos do mundo. [Se alguém disser: “Recebi esta
informação do próprio Sr. Jones”, isso não afirma que o Sr. Jones não tenha mencionado
anteriormente o assunto a outros. Trad.]
24
Mais exatamente 56 por cento, Paulo 24 por cento. Lucas, que foi ao mesmo tempo o autor dos Atos
(Atos 1:1; comp. Lucas 1:1-4), foi um colega de trabalho próximo e de longa data e companheiro de
viagem de Paulo (Colossenses 4:14; comp. além disso, as contas “nós” em Atos 16:10; Atos 16:13; Atos
16:16; Atos 20:7 etc.). O estilo e o conteúdo mostram que Hebreus não foi escrito pessoalmente por
Paulo, mas pode muito bem ter sido obra de um de seus colegas de trabalho. Hebreus 13:23.

65
comunhão (Efésios 3:17), é espiritualmente ressuscitado dentre os mortos e vivificado (Efésios
2:5-6). A história do seu Salvador é agora a sua própria história. Ele é crucificado, sepultado,
ressuscitado com Ele e “colocado com Ele nos lugares celestiais” (Romanos 6:1-23; Efésios
2:6). Assim, o homem redimido da terra está “no céu” (Filipenses 3:20). Um cristão é um
“homem em Cristo” (2 Coríntios 12:2).

O inverso também é verdadeiro. Através do Espírito, o Exaltado está presente na terra em Seu
próprio povo (Gálatas 2:20). “Cristo por nós ” é “Cristo em nós ” (Colossenses 1:27). A jurídica
é ao mesmo tempo orgânica. Aquele crucificado é Aquele que é coroado em nós. O substituto é
o governante. Jesus Cristo é o SENHOR (kurios) (Romanos 14:9).

Assim, para Paulo, a cruz não é um simples facto da história passada, mas ele olha sempre
para a cruz juntamente com a ressurreição. Sem a ressurreição, a cruz é para ele impotente e
vazia, sim, desmorona e é derrubada; na verdade, a tragédia mais catastrófica (1 Coríntios
15.14-19). Ele nunca afirmou que pregou apenas a cruz, nem mesmo em 1 Coríntios 2:2 (sobre
qual passagem ver p. 42, n.), mas que ele trouxe aos homens o Crucificado. Mas ele O trouxe,
de fato, como seu único tema; não um evento, mas uma Pessoa; não um ponto, mas uma linha
sem fim; não puramente como passado, mas como Alguém sempre presente, mesmo Cristo, o
Exaltado, que mesmo na glória deve ser visto em conexão com Sua experiência na cruz (comp.
Apocalipse 5:6).

Esta é a teologia paulina da cruz. Move-se no plano da ressurreição. A escuridão da morte é


vista à luz do sol da manhã de Páscoa.

Então este Sol flui por todo o mundo. O próprio Cristo havia dito: “Se eu for elevado, atrairei
todos a mim” (João 12:32), isto é, judeus e gentios, sem qualquer distinção de nação. Com isso
a porta foi aberta para a missão mundial do evangelho. Historicamente, isso ocorreu
publicamente na casa do gentio Cornélio (At 10.1-48). A lei que dividia foi posta de lado como
cumprida.

Assim, o abandono da circuncisão e da lei esteve envolvido, em princípio, na obra redentora de


Cristo e na revelação a Pedro que levou aos acontecimentos na casa de Cornélio. Mas se desde
o tempo de Atos 10:1-48 a lei e a circuncisão não eram mais uma condição para entrar na
salvação e na sua comunhão, então surge por si só a grande questão:

Para que serve a lei? Aqui é Paulo — e entre todos os apóstolos e escritores do Novo
Testamento principalmente Paulo — quem tratou e explicou doutrinariamente este problema
prático criado por Atos 10:1-48. A lei como reveladora do pecado é um “tutor de Cristo”
(Romanos 3:20; Romanos 7:7; Gálatas 3:24), porque mostra ao pecador sua maldade e
desamparo e, portanto, a necessidade de um Redentor Divino. Portanto, com o Seu
aparecimento, ela pode desaparecer, e assim, do propósito da lei no Antigo Testamento, segue-
se a liberdade do Novo Testamento em relação à lei. Cristo como o objetivo da lei é ao mesmo
tempo o seu fim (Romanos 10:4). Este é o tema básico das passagens centrais de Romanos e
Gálatas, especialmente Romanos 1:1-32; Romanos 2:1-29; Romanos 3:1-31; Romanos 4:1-25;
Romanos 5:1-21; Romanos 6:1-23; Romanos 7:1-25; Romanos 8:1-39 (notadamente o capítulo
7) e Gálatas 2 a 4 (especialmente o capítulo 3).

66
Na justificação dos gentios praticada desde Atos 10:1-48, estava ainda mais a anulação real de
Israel como nação. A partir de agora, na história da salvação, o judeu não teve mais
precedência e, necessariamente, a questão se apresenta:

Então, Deus agora repudiou Seu povo? Isto também é tratado por Paulo e somente por ele
dos escritores do Novo Testamento; e ele trata disso precisamente naquela passagem central
de Romanos (ao mesmo tempo história e profecia, caps. 9,10,11), que de maneira tão única
nos permite examinar os planos de Deus para o governo mundial. A ação de Deus é gratuita;
portanto, Israel não tem o direito de extorquir nada Dele (Romanos 9.1-33). A ação de Deus é
justa: portanto Israel, por causa de sua culpa, deve curvar-se ao Seu julgamento (Romanos
10:1-21). A ação de Deus traz bênção: portanto, Ele transforma a queda de Israel em salvação
para o mundo e, finalmente, em salvação plena para o próprio Israel. Ele receberá de volta o
Seu povo (Romanos 11.1-36). Ver pág. 148 f.

E se além disso, em princípio através do Gólgota e na prática por Atos 10:1-48, todas as
performances religiosas humanas, como pré-requisito para experimentar a salvação, forem
eliminadas, de modo que sem qualquer adoração anterior a Deus ordenada de acordo com a
revelação, alguém completamente pagão, somente através da fé em Cristo, pode alcançar a
salvação e a igreja, então, ao mesmo tempo, foi levantada a questão adicional:

O valor de todas as ações religiosas humanas em geral. E aqui também foi Paulo, e
novamente ele em primeira instância, quem deu a resposta. Isto consistia em seu ensino da
gratuidade da graça, da justificação sem obras da lei, com base única no sacrifício de Cristo e
somente através da fé. Este é o coração e o centro de toda a mensagem paulina, o grande
tema geral de Romanos e Gálatas. “Portanto, sustentamos agora que um homem se torna
justificado sem obras da lei, somente através da fé” (Romanos 3:28).

A maneira pela qual Paulo lida com esta questão é determinada para ele pela sua atitude
fundamental para com o judaísmo religioso. Disto surge a aparente contradição com Tiago
(Romanos 3:28; comp. Tiago 2:24). Na realidade não se trata de uma contradição, mas de um
contraste harmonioso. Isto deve ser explicado pelo diferente desenvolvimento e condução da
vida dos dois apóstolos. Paulo, o ex-fariseu, procurando então ser justificado pelas obras, vê a
obra e o ensino de Cristo em seu grande contraste com o fariseu, isto é, com o falso judaísmo;
Tiago, por outro lado, o irmão do Senhor (Gálatas 1:19), tendo crescido no círculo mais estreito
da família de Jesus, ou seja, num ambiente de verdadeiros israelitas sem falsidade, no círculo
do remanescente fiel crendo no Messias, expõe a obra e o ensino de Cristo como o
aperfeiçoamento do verdadeiro Judaísmo.

Portanto, quanto à doutrina da justificação, Paulo enfatiza a sua liberdade de todas as obras
mortas e legalistas. Tiago, pelo contrário, destaca que, ao mesmo tempo, a verdadeira
justificação é uma vida nova e, portanto, revela-se em obras vivas. Paulo observa o contraste
com o falso judaísmo que ele nega; James enfatiza a conexão com o verdadeiro judaísmo que
ele aceita. Portanto, Paulo fala da liberdade da lei, mas Tiago da lei da liberdade (Tiago 2:25;
Tiago 2:12). Mas no fundo ambos enfatizam a mesma verdade; pois Paulo também fala da
necessidade de obras de fé (Gálatas 5:6; Tito 2:7; Tito 3:1; Tito 3:8; Tito 3:14:1 Coríntios
7:19).

67
Em geral, o que Paulo contrasta não é tanto a execução dos regulamentos legais do Antigo
Testamento em si, mas sim o falso motivo para fazê-lo. Ele contesta a circuncisão, a
observância do sábado e coisas semelhantes, apenas se forem considerados meios de
justificação ou santificação e, portanto, caírem no uso indevido farisaico da lei (Gálatas 5:12;
Colossenses 2:16 e segs.; comp. 1 Timóteo 1:8). Caso contrário, o apóstolo deixou livre a
observância do sábado (Romanos 14:5), na verdade ele mesmo circuncidou Timóteo (como
sendo um costume judaico nacional, Atos 16:3) e assumiu certos sacrifícios da lei levítica (Atos
21:26; Atos 18:18), quando fazer isso tinha valor como meio de ganhar almas (“por causa dos
judeus”, Atos 16:3; Atos 21:24; 1 Coríntios 9:20).

Finalmente: Se ambos, judeus e gentios, por indistinguível igualdade de títulos, estivessem


estabelecidos na partilha da mesma redenção, surgiria necessariamente a questão de

A natureza da nova comunhão de salvação, especialmente de

a comunhão dos redimidos entre si e

o relacionamento comum dos redimidos com seu Redentor comum.

E nisto também Paulo é novamente o mestre principal da igreja. Ele descreve esta comunhão
sob a figura de um “corpo”: Cristo é a “Cabeça”, os redimidos são Seus “membros”. Paulo é o
único escritor do Novo Testamento que usa esta imagem do “corpo de Cristo”. Ele faz isso em
Efésios e Colossenses, também em 1 Coríntios (especialmente o capítulo 12), bem como em
passagens individuais em outros lugares (por exemplo, Romanos 12:4).

Assim, na história da salvação surgem do Gólgota e da revelação a Pedro em Jope quatro


grandes novas questões fundamentais -

o propósito da lei,

o abandono e a esperança de Israel,

justificação separada das obras da lei, e

a unidade orgânica da nova comunhão na salvação;

e em todas essas questões Paulo – e ele é o único de todos os escritores do Novo Testamento
– tornou-se o principal professor da igreja. A partir disso percebemos que todas as grandes
questões básicas nas cartas de Paulo, como resultados da cruz de Cristo, estão enraizadas na
revelação dada a Pedro em Jope. As revelações dadas a Paulo são a explicação e o
aprofundamento da revelação dada a Pedro com base no Gólgota.

A coroação disso vem no final. Ao homem a quem foi especialmente dado explicar o início da
igreja do Novo Testamento, foi agora concedido prever a sua conclusão. Isso pertence à lógica
Divina. Assim Paulo se torna o profeta da esperança da igreja. A ressurreição dos crentes, o
arrebatamento dos santos, o tribunal de Cristo, a transfiguração do Seu povo, a vinda do seu
corpo espiritual - todos estes assuntos são básicos para a esperança cristã, e a respeito deles
não recebemos de nenhum outro escritor do Novo Testamento algo tão claro, e instruções
detalhadas de Paulo. Este é o assunto principal tanto das epístolas aos Tessalonicenses quanto
do capítulo da ressurreição, 1 Coríntios 15:1-58.

68
Com tudo isto Paulo torna-se o profeta da história da salvação. Com uma visão que inclui
milênios e abrange povos e épocas, ele examina eras e dispensações.

Ele fala dos primórdios da história sagrada, de Adão, o pai ancestral da humanidade, a
contraparte de Cristo (Romanos 5:1-21).

Ele fala da era patriarcal, de Abraão, o pai e tipo de crentes (Romanos 4:1-25).

Ele indica o significado da economia mosaica, o milênio e meio da lei do Antigo Testamento
(Romanos 7:1-25; Gálatas 3:1-29).

Ele fala da “plenitude do tempo” em que Cristo apareceu (Gálatas 4:4), de Sua cruz, Sua
ressurreição, Sua ascensão ao céu e Sua exaltação (Efésios 1:20-21).

Ele ensina os princípios da igreja, seu chamado e posição, com a glorificação dos redimidos e
sua manifestação diante de Cristo (2 Coríntios 5:10)

Ele prediz a vinda do Anticristo, sua natureza e seu poder, sua vitória e sua derrota (2
Tessalonicenses 2:1-17). E ele aguarda a aparição do Senhor e o estabelecimento do Seu reino
(2 Tessalonicenses 2:8; 1 Tessalonicenses 2:12). Mas, além de tudo isso, seu olhar passa
finalmente para a eternidade, para a Jerusalém acima (Gálatas 4:26), para a consumação, para
o alvorecer do dia de Deus, quando “o próprio Filho estará sujeito Àquele que sujeitou todas as
coisas a ele, para que Deus seja tudo em todos” (1 Coríntios 15:28).

Mas Cristo é o Sol central radiante do todo. Somente Nele, o Vivo, todas as fontes vivas estão
abertas. A curta frase “em Cristo”, que aparece nas suas cartas mais de 160 vezes, é a chave e
o cerne de toda a sua experiência de salvação e do seu ensino público. Somente para Ele
viverá. Somente a Ele dará testemunho, somente a Ele proclamará como o maior presente de
Deus aos povos do mundo. Essa é a sua comissão. Como tal, ele é o mestre das nações, o
principal apóstolo da igreja, o profeta da história da salvação, o arauto de Jesus Cristo, o porta-
estandarte do Rei vindouro.

69
SEÇÃO II —A POSIÇÃO DA IGREJA

Capítulo 1. A Dispensação da Graça de Deus


Falaremos da posição elevada da igreja. Chamada “por glória e perfeição”, ela possui as
maiores promessas (2 Pedro 1:3-4). É nesta época que as riquezas insondáveis de Cristo são
reveladas (Efésios 3:8).

As bênçãos celestiais da igreja são múltiplas demais para serem expressas por uma única
descrição. Portanto, o Espírito de Deus emprega as mais variadas imagens e comparações para
dividir, como por um prisma, o brilho de sua luz eterna em seus raios separados.

A igreja está em relação com todas as três Pessoas da Essência Divina, com o Pai, com o Filho,
com o Espírito Santo. Nas suas relações com Deus é uma “família”. Deus é o “Pai” (Romanos
8:15; Gálatas 4:6; João 20:17), e os redimidos são os membros de Sua família (Efésios 2:19;
Gálatas 6:10). Quanto ao dever, eles são Seus escravos (1 Pedro 2:16), quanto ao privilégio,
são Seus filhos (Romanos 8:14).

[1] A posição dos redimidos como escravos

Comprado para Deus através do sangue de Jesus Cristo (Apocalipse 5:9), não com prata e ouro
(1 Pedro 1:18), mas pelo preço de Sua vida (1 Coríntios 6:20; 1 Coríntios 7:23), o “dinheiro do
resgate” do Gólgota (Mateus 20:28; 1 Timóteo 2:6), os redimidos não são mais seus (1
Coríntios 6:19), mas são escravos de Deus (Romanos 6:22) e de Cristo (Romanos 1:1; Efésios
6:6). Eles são para sempre Sua posse [SUBLINHANDO O QUE] (Tito 2:14), Suas ferramentas
que Ele usa25, Seus escravos que, como sinal de que nunca poderão ser vendidos26, Ele “selou”
com Seu Espírito (Efésios 1:13; Efésios 4:30; 2 Coríntios 1:22). A sua redenção é ao mesmo
tempo uma compra, a sua emancipação impõe uma obrigação e a sua posição como escravos é
ao mesmo tempo uma condição de

propriedade pessoal (1 Pedro 2:9),

obediência (Romanos 6:17-18) e

proteção (Gálatas 6:17; João 10:28-29).

A palavra grega doulos não significa servo, mas escravo. O servo pertence a si mesmo e,
conseqüentemente, recebe o seu próprio salário; um escravo pertence ao seu dono e não tem
direito a salário (Lucas 17.9-10). Um servo vende ao seu senhor apenas o seu trabalho, e
principalmente por apenas um tempo; um escravo pertence a ele como pessoa e
perpetuamente. Paulo considerou como sua “glória” ser, não apenas um servo, mas um escravo
de Cristo (1 Coríntios 9:15-18). Na tradução, esta palavra deve ser traduzida de forma mais
exata.

[2] A posição dos redimidos como filhos

Mas o conselho de salvação de Deus é mais elevado. Aqueles libertos da escravidão do pecado
não são apenas Seus servos, que, redimidos da destruição, são praticantes de Sua boa

Um escravo é uma ferramenta animada, uma ferramenta é um escravo inanimado (Aristóteles).


25

Já no código legal babilônico de Hamurabi, o contemporâneo de Abraão (= Anrafel, Gênesis 14:1), um


26

mestre, ao marcar um escravo com uma marca, declarou que nunca se separaria dele.
70
vontade, mas Ele os levará a serem participantes de Si mesmo, a se tornarem participantes de
Sua natureza divina (1 Pedro 1:4). Eles serão filhos (Romanos 8:21), filhos (Romanos 8:14), na
verdade, filhos primogênitos (Hebreus 12:23).

1. Crianças. Este e nada menos é o significado da Sagrada Escritura quando fala dos redimidos
como aqueles que nasceram de (de) Deus; pois a elevação dos súditos da graça à posição de
filhos não é apenas uma declaração formal de filiação, uma exaltação e nomeação legal,
uma, por assim dizer, adoção jurídica, mas é uma geração real (Tiago 1:18), um ser
realmente nascido de novo, um nascimento orgânico de Deus (João 3:3; João 3:5; 1 Pedro
1:23; 1 Pedro 2:2; 1 João 2:29; 1 João 3:9). “Eis que grande amor o Pai nos mostrou, que
fôssemos chamados filhos de Deus. E assim somos nós!” (1 João 3:1).

2. Filhos. Mas, como tal, atingimos ao mesmo tempo a maioridade. Esta é precisamente a
principal diferença em relação à era do Antigo Testamento. Pois a filiação já era de fato uma
posse de Israel (Romanos 9:4; Deuteronômio 14:1). Conforme mostrado na história revelada,
Israel era o filho primogênito de Deus entre os povos (Êxodo 4:22). O Antigo Testamento já
havia ensinado a paternidade de Deus (Deuteronômio 32:6; Isaías 63:16; Isaías 64:8;
Malaquias 1:6; comp. Isaías 1:2; Isaías 30:1-9). Mas a filiação do Antigo Testamento foi
baseada no ato da criação (Isaías 64:8; Deuteronômio 32:6) e na redenção nacional de Israel
do Egito (Isaías 63:16); a filiação do Novo Testamento é baseada no nascimento pessoal do
indivíduo de Deus e na recepção do espírito de filiação (Gálatas 4:5-6).

Portanto, também Israel ainda estava sob um “tutor”, um treinador de meninos (gr.
paidagogos), até mesmo a lei (Gálatas 3:24). “Mas agora que veio a fé, não estamos mais sob
tutor” (Gálatas 3:25). Para um israelita, tornar-se um crente significa sua maioridade, sua
independência de tutor, isto é, sua liberdade da lei (Gálatas 4:1-5); e como agora na igreja não
existe mais diferença entre judeus e gentios, portanto os crentes das nações compartilham a
mesma liberdade. Portanto, em comparação com o passado, somos maiores de idade,
enquanto no que diz respeito ao futuro ainda aguardamos a adoção (Romanos 8:23). Mas não
somos apenas crianças e filhos, mas também

3. Filhos primogênitos. Os redimidos desta era são “uma espécie de primícias das suas
criaturas” (Tiago 1:18), a “igreja dos primogênitos que estão inscritos no céu” (Hebreus 12:23).
Que homens, e não anjos, são significados pelo termo “primogênito” é mostrado pela expressão
adicional “que estão inscritos no céu” (comp. Lucas 10:20; Filipenses 4:3).

Como primogênitos eles têm:

posição sacerdotal (Êxodo 13:2; Êxodo 13:15; Números 8:16-18; 1 Pedro 2:5);

dignidade real (1 Crônicas 5:1-2; Apocalipse 1:6);

uma porção dupla27 da herança (Deuteronômio 21:15-17; Efésios 1:3).

27
Com a morte do pai, se houvesse, digamos, seis filhos, a propriedade era dividida em sete parcelas,
das quais o primogênito ficava com duas. [Trad.]
71
Assim, a sua posição como filhos é completada no direito de primogenitura do primogênito:
como filhos eles têm a vida de Deus, como filhos a posição e a dignidade, como primogênitos a
Sua glória.

As concepções de infância e filiação não são, portanto, exactamente as mesmas, mas são o
complemento necessário uma da outra. “Infância” enfatiza mais o místico, o orgânico, o
metafísico; “filiação” (= aceitação como filhos, adoção) enfatiza o declarativo jurídico. A ideia
de filiação prevalece com Paulo (Gálatas 3:26; Gálatas 4:7; Romanos 8:14; Romanos 8:19), a
de infância com João (1 João 3:1-2; 1 João 3:10; 1 João 5:2); assim como Paulo é o principal
escritor jurídico do Novo Testamento e João o escritor místico-metafísico. As traduções devem
manter distintos estes dois termos diferentes (tekna, filhos, huioi, filhos).

Mas com tudo isto permanece para sempre a distância infinita entre o Filho e os filhos, o
Primogénito e os primogénitos. Ele é o único Filho do Altíssimo dentro da Deidade (Marcos
14:61-62), e eles são os muitos filhos do Pai celestial dentro do universo criado. Ele mesmo é
o unigênito (João 1:14; João 1:18; João 3:16), o herdeiro de todas as coisas (Hebreus 1:2),
“Deus sobre todos, bendito para sempre” (Romanos 9:5); eles são objetos da graça, resgatados
do pecado e da miséria. E, portanto, o Senhor nunca usou a expressão “nosso Pai” para unir
Ele mesmo e Seu povo, mas apenas “Meu Pai e vosso Pai” (João 20:17). No entanto, Ele não se
envergonha de chamá-los de Seus “irmãos”, pois tanto Aquele que santifica como aqueles que
estão sendo santificados são todos de Um (o Pai) (Hebreus 2:11-12). Os membros da igreja são
primogênitos apenas em relação ao resto da criação redimida: no que diz respeito à eternidade
e à totalidade do universo, Cristo é o Primogênito.

72
Capítulo 2. As Riquezas Incompreensíveis de Cristo
As relações entre Cristo e Sua igreja são extremamente múltiplas, especialmente

[1] Ensino e aprendizagem (discipulado, escola);

[2] Liderar e seguir (rebanho, exército);

[3] Governar e obedecer (comunidade, povo);

[4] Amoroso e responsivo (noiva, esposa);

[5] Vivificar e ser vivificado (videira, corpo);

[6] Fundação e construção (casa espiritual);

[7] Bênção e ser uma bênção (sacerdócio, templo).

[1] Ensino e Aprendizagem

Cristo é o Mestre e nós somos os estudiosos (Mateus 23:8). Ele é o padrão (João 13:14-15; 1
Pedro 2:21). Ele diz: “Aprendei de Mim” (Mateus 11:29; Efésios 4:20). Nossa tarefa é “adornar”
o ensino de nosso Deus Salvador em todas as coisas (Tito 2:10). A igreja é uma escola, um
discipulado. A palavra grega para discípulo, mathetes, significa erudito.

[2] Liderando e Seguindo

Cristo é o Pastor e nós somos o rebanho. Do rebanho de Israel (João 10:1-5) e dos apriscos da
civilização mundial, Ele reuniu os Seus em um só rebanho (João 10:16).

Como o bom pastor, Ele deu a vida por Suas ovelhas (João 10:11; João 10:15; comp. Salmos
22:1-31);

como o grande Pastor, Ele é Aquele que ressuscitou dos mortos no poder do
sangue da aliança eterna (Hebreus 13:20-21; comp. Salmos 23:1-6);

como o pastor principal, Ele virá novamente e dará aos Seus subpastores a coroa
de honra (1 Pedro 5:4; 1 Pedro 5:2-3; comp. Salmos 24:1-10).

Mas na presente era Ele realiza um serviço sétulo como Pastor:

Ele nos chama (João 10:3),

Ele nos guia (Salmos 23.3),

Ele nos nutre (Salmos 23.2),

Ele nos conhece (João 10:14-15; João 10:27),

Ele nos guarda (João 10:28-30),

Ele nos cura (1 Pedro 2:24-25),

Ele nos leva para casa (Lucas 15:5-6; Isaías 40:11).

73
[3] Governar e obedecer

Cristo é o Senhor e nós somos Seus servos (1 Coríntios 4:1). Cristo é o Governador e nós
somos Seus súditos (Juízes 1:4). Cristo é o comandante-chefe e nós somos Seus guerreiros (2
Timóteo 2:3-4; veja também Efésios 6:10-17; 1 Tessalonicenses 5:8-9; 2 Coríntios 6:7). Os
redimidos são um povo (Atos 15:14 e 2 Coríntios 6:16; 1 Pedro 2:9; Tito 2:14); eles são
concidadãos dos santos (Efésios 2:19), um reino de sacerdotes (Apocalipse 1:6; 1 Pedro 2:9). A
igreja tem a natureza de um Estado. Sua comunidade está no céu (Filipenses 3:20). Seus
cidadãos estão no reino do Filho (Colossenses 1:13). Eles deveriam manifestar o reino de Deus
(Romanos 14:17; 1 Coríntios 4:20). Portanto, eles pregam o reino (Atos 20:25; Atos 20:28;
Atos 20:31; Colossenses 4:11).

Uma lei pertence ao reino; para o reino do Filho é a lei de Cristo (Gálatas 6:2). Portanto,
acreditar é ao mesmo tempo obedecer. Portanto confiar é ser confiável. Para estas duas
expressões a língua grega tem uma mesma palavra, pistis. É Paulo, o apóstolo da liberdade,
quem fala em “guardar os mandamentos” (1 Coríntios 7:19). Ele mesmo ordenou (2
Tessalonicenses 3:6). A incredulidade é para ele o mesmo que desobediência (Romanos 10:3).
A conversão é para ele um ato de obediência e sujeição (Atos 26:19), e a mensagem do
evangelho é uma ordem para se arrepender (Atos 17:30). Redimido da “lei do pecado e da
morte” (Romanos 8:1-2) e também livre da lei de Moisés (Romanos 3:21; Romanos 7:1-6;
Romanos 10:4), o crente não está de forma alguma sem lei (1 Coríntios 9:21; Gálatas 5:13),
mas agora está “sob a lei de Cristo” (1 Coríntios 9:21). Ele tem que cumprir “a lei de Cristo”
(Gálatas 6:2) e andar na “obediência da fé” (Romanos 1:5; Romanos 15:18; Romanos 16:26). A
graça “governará regiamente” (Romanos 5:21). Esta lei do Novo Testamento é

quanto à sua origem – a lei de Cristo (Gálatas 6:2);

quanto à sua natureza — a lei da liberdade (Tiago 1:25; Tiago 2:12);

quanto ao seu conteúdo – a lei do amor (Romanos 13:8-10, comp. Tiago 2:8; 1
Timóteo 1:5; Gálatas 6:2);

quanto à sua força – a lei do Espírito (Romanos 8:2);

quanto ao seu efeito – a lei do Espírito da vida (Romanos 8:2);

quanto ao seu valor – a lei perfeita (Tiago 1:25);

quanto à sua dignidade – a lei real (Tiago 2:8).

No Antigo Testamento o homem estava sob a lei de Deus como homem natural; ele estava
“na carne”; daí a impotência da lei (Romanos 8:3). Mas na nova aliança ele é um novo homem
(2 Coríntios 5:17); ele está “no Espírito”; daí sua vitória (Romanos 8:1-4).

Na antiga aliança, a lei abordava o homem de fora, em tábuas de pedra, como letras que
matavam (2 Coríntios 3:3; 2 Coríntios 3:6); na nova aliança é colocado em sua mente
(Hebreus 8:10; Romanos 6:17), escrito nas “tábuas carnais do coração e com o Espírito do
Deus vivo” (2 Coríntios 3:3).

Assim, a igreja é um povo maravilhoso, uma “nação santa” (1 Pedro 2:9):

seu Governador – o Senhor Cristo (Juízes 1:4);


74
sua lei – Sua vontade (Gálatas 6:2);

suas riquezas – Sua glória (Efésios 3:16);

seu louvor – Sua honra (1 Coríntios 1:31);

sua comunhão como povo – Seu amor (João 13:34);

sua esfera – toda a terra (Romanos 10:18);

sua capital – a Jerusalém celestial (Gálatas 4:26).

[4] Amoroso e responsivo

Cristo é o Amante e a igreja é Sua amada (2 Coríntios 11:2-3). Cristo é o Senhor e ela será Sua
esposa (Efésios 5:31-32). Como prometida ela tem o amor puro e expectante (2 Coríntios 11.2-
3); como esposa ela terá o amor que possui e desfruta.

É como se um príncipe oriental visse no mercado de escravos uma escrava e, ardendo de


repentino amor, comprasse-a por um alto preço, para então purificá-la, vesti-la com roupas
esplêndidas e, finalmente, exaltá-la; ela como sua esposa no trono real - assim também Cristo
e a igreja. Ele a amou, a antiga escrava do pecado; então se entregou como preço de compra,
e agora a purifica por meio da “palha de água da palavra”, e em breve “apresentá-la-á a Si
mesmo” sem mancha ou ruga, isto é, na santidade e na beleza do eterno juventude (Efésios
5:25-27).

Assim, no quadro do casamento temos toda a obra de Cristo para Sua igreja:

a escolha dela – através do Seu amor (Efésios 5:25);

sua redenção – através de Sua devoção (Efésios 5:25);

sua purificação – através de Seu senhorio (Efésios 5:26; Efésios 5:24; Efésios
5:33);

sua glorificação – através de Seu retorno (Efésios 5:27).

Como já disse Agostinho: “A quem Deus

preordenado antes que o mundo existisse, Ele também

chamado para fora do mundo,

justificado no mundo, e será

glorificar depois do mundo ” (comp. Romanos 8:29-30).

Nossa vida, portanto, pertence somente a Ele. Nossa alma deve brilhar para sempre com seu
primeiro amor (Apocalipse 2:4), isto é, o amor como era no início, quando nossa união com
Cristo começou. Na carta do Senhor a Éfeso está associada à árvore da vida do Paraíso
(Apocalipse 2:4; Apocalipse 2:7), pois o amor é vida, e “quem não ama, não vive. Quem vive
dessa vida não pode morrer” (Raymond Lull: morreu em 1315).

Mesmo na época do Antigo Testamento existia uma relação de amor entre Jeová e Seu povo.
Em um grau muito mais glorioso existe hoje entre Cristo e Sua igreja. Portanto, o Espírito de
75
Deus assume o mais alto relacionamento de amor que a experiência humana geral conhece e o
aplica a Israel (Oséias 2:21-22; Ezequiel 16:1-63; Ezequiel 23:1-49; Isaías 62:5; Salmos 45:1-
17; Cântico dos Cânticos) e também à igreja (2 Coríntios 11:2-3; Efésios 5:31-32). Mas a
conjunção de ambos é a Jerusalém celestial, a cidade onde no devido tempo habitarão os
remidos de Israel (Apocalipse 21:12), e que é a “mãe de todos nós” para a igreja (Gálatas 4:26;
Hebreus 12:22; Apocalipse 3:12). É a “cidade santa”, “a noiva e a esposa do Cordeiro”
(Apocalipse 21:9-10; comp. 19:7).

A objeção de que, como “corpo” de Cristo, a igreja não pode ser também “desposada” e
“esposa”, baseia-se num erro quanto à variabilidade das figuras de linguagem orientais e
bíblicas. Na parábola do semeador o campo é o coração humano (Mateus 13:19), na parábola
do joio é o “mundo” (ver. 38). Os pássaros às vezes são emblemas do bem (Mateus 6:26;
Mateus 10:16; Mateus 3:16), em outros lugares eles representam o mal (Mateus 12:4; Mateus
12:19). a águia, como criatura impura, é uma abominação para os filhos de Israel (Levítico
11:13); no entanto, é empregado como uma imagem do poderoso cuidado de Deus (Êxodo
19:4; Apocalipse 4:7). Da mesma forma, a linguagem pictórica paulina é fluida, viva e
comovente em toda parte. O status de escravo é agora uma imagem do que nossos
relacionamentos com Deus não são (no que diz respeito ao estranhamento interior e ao medo
– Gálatas 4:7; João 15:15); agora, do que eles são (quanto à posse, obediência, proteção)
(Romanos 6:15-23). Dizer que porque a igreja é o “corpo” de Cristo, ela não pode ser também
a “noiva” seria tão precipitado quanto dizer que porque ela é um “corpo” ela não pode ser
“coluna” ou “casa” (1 Timóteo 3:15). Em todos estes casos é uma questão de imagens. E a
imagem da “noiva” e da “esposa” está inequivocamente em 2 Coríntios 11:2-3 e Efésios 5:31-
32. Mas por trás de todas essas imagens, e explicadas por elas, existem realidades espirituais.

[5] Avivar e Ser Avivado (Unidade de Vida)

A base de tudo é a comunhão orgânica na vida dos membros com Cristo. Isto já está indicado
no quadro do casamento: “os dois serão uma só carne... falo a respeito de Cristo e da igreja ”
(Efésios 5:31-32). Aqui também o Novo Testamento tem uma rica linguagem ilustrada:

Cristo é a “videira” e nós somos os ramos (João 15:1-5). Cristo é a cabeça e nós somos os
membros (Efésios 1:22-23). O crente é uma árvore enraizada Nele (Colossenses 2:7). O
indivíduo é uma planta (Mateus 15.13; 1 Coríntios 3.6-9) plantada junto com Ele (Romanos 6.5,
lit.). Eles estão todos “em Cristo”. ”

A. O Relacionamento dos Membros da Cabeça.


A figura mais importante é a do “corpo”. É usado exclusivamente por Paul. Ela, como nenhuma
outra figura, apresenta as bênçãos da comunhão cristã.

1. Possessão de Cristo. A igreja é o Seu “corpo” (Efésios 1:23).

2. Serviço dependente. Em um corpo apenas um governará, e a cabeça governa o corpo


(Colossenses 1:18).

3. Comunhão direta. O membro individual está em relacionamento direto com o Chefe.


Nenhum homem ou anjo fica no meio (1 Timóteo 2:5). Portanto, cabe a nós “reter” a Cabeça
em todas as coisas (Colossenses 2:18-19).

76
4. Amor e cuidado. “Nenhum homem jamais odiou a sua própria carne; Mas a nutre e cuida,
assim como Cristo também a igreja” (Efésios 5:29). “Ele é o Salvador do corpo” (Efésios 5:23).

5. Avivamento e Edificação. A Cabeça é a fonte para o corpo se construir. No terreno, a


alma é o elemento construtor do corpo. Daí a conexão entre a forma corporal e os poderes da
alma. Assim também “de” sua Cabeça o corpo de Cristo cresce com seu aumento designado por
Deus (Colossenses 2:19). Somente “fora” Dele pode efetuar a “edificação de si mesmo em
amor” (Efésios 4:16). Assim, Cristo é o construtor (Mateus 16:18) e nós também somos os
construtores (1 Coríntios 3:10-15). No Novo Testamento, a figura da construção é empregada
apenas para a igreja, mas não para o reino de Deus.

6. A “plenitude” da Cabeça. Não como uma pessoa divina, mas apenas como o “último
Adão”, Cristo não estaria “completo” sem o Seu “corpo”: o grão de trigo sem o seu fruto estaria
“sozinho” (João 12:24). Um redentor sem redimido não seria redentor. Assim, a igreja é “a
plenitude daquele que cumpre todas as coisas em todos”; isto é, “a plena formação dAquele
que traz à plena formação todas as coisas em todos” (Efésios 1:23).

Através de tudo isso a igreja está

7. Os meios de revelação da vida de Cristo. Na vida terrena o corpo é o órgão pelo qual o
espírito se revela. E na vida espiritual é através da igreja que a multiforme sabedoria de Deus é
divulgada (Efésios 3:10). A Cabeça exaltada continua através de Seu corpo, Sua vida aqui
embaixo. A igreja é “a esfera da vida de Deus na história”, a continuação na terra da
encarnação de Cristo. Através do Espírito a igreja estende Sua vida aqui embaixo. Não está
apenas em Cristo, mas também Cristo está nele (Colossenses 1:27). Na igreja Ele ganha forma
(Gálatas 4:19) nela expressa Sua natureza, e a Cabeça se revela através de Seus membros.

B. As relações dos membros entre si


Também na comunhão dos cristãos, o “corpo” é a imagem mais expressiva. A passagem
principal é 1 Coríntios 12:1-31. Os resgatados são:

1. Uma Unidade, muito mais profunda do que toda irmandade nacional, e muito mais ampla
do que toda irmandade internacional (Gálatas 6:10). Embora eles possam não ter se visto,
ainda assim eles se conhecem (2 Coríntios 6:9), embora possam ser totalmente estranhos,
ainda assim eles se amam! (Colossenses 2:1-2; Colossenses 1:9). Pois “assim como o corpo é
um, embora tenha muitos membros, assim também é o Cristo” (1 Coríntios 12:12). Ele é um
organismo e não uma organização; não uma corporação, mas um corpo, o corpo de Cristo;
uma criação de Deus e não uma obra do homem. Cristo, a Cabeça, é a unidade do corpo; Seu
corpo é o “um novo homem ” (Efésios 2:15).

Sete características particulares constituem a unidade do corpo. Há “um só corpo (Romanos


12:5; Efésios 2:16) e um só espírito (Efésios 2:18; 1 Coríntios 12:11; 1 Coríntios 12:13), assim
como vocês são chamados em uma só esperança, da sua vocação; um só Senhor, uma só fé,
um só batismo, um só Deus e Pai de todos nós, o qual está sobre todos vós, e por meio de
todos vós, e em todos vós ” (Efésios 4:4-6).

A unidade da igreja é tripla:

77
A unidade do espírito (da vida) já existe. Já é uma realidade, que temos através
da fé (Efésios 4:3);

A unidade da mente deveria existir; é nosso dever, que cumprimos através do


amor (Filipenses 1:27; Filipenses 2:1-4; Filipenses 4:2);

A unidade de conhecimento passará a existir. É o nosso objetivo, uma parte da


nossa esperança (Efésios 4:13).

Unidade de vida é o que temos, o fundamento, que olha para o passado, para a obra do
Gólgota (João 11:52);

Unidade de mente é aquilo que deveríamos ter, a tarefa que nos cabe no presente; isso é
unidade de propósito, nem sempre unidade absoluta de opinião (Romanos 14.1-7);

Unidade de conhecimento é aquela em que teremos a “plena medida” (Efésios 4:13), que será
alcançada no futuro.

Mas, por enquanto, vale o ditado de Agostinho: “nas coisas a unidade necessária, nas coisas
duvidosas a liberdade, em todas as coisas a caridade”,28

2. Variedade. “Pois o corpo não é um membro, mas muitos. Se o todo fosse um olho, onde
estaria a audiência? Se todos estivessem ouvindo, onde estariam os olfatos?” (1 Coríntios
12:14; 1 Coríntios 12:17; Romanos 12:4-8). Assim como no peitoral do sumo sacerdote
brilhavam doze joias diferentes, representando as doze tribos de Israel (Êxodo 28:15-21), assim
são os membros da nova aliança carregados no peito do Sumo Sacerdote Melquisedeque. Eles
são todos diferentes, mas todos brilham, e a unidade da sua luz é a unidade do Sol.

3. Dependência mútua. Cada um de nós é unilateral. Portanto, cada um precisa de tudo. “O


olho não pode dizer à mão: não preciso de ti; ou ainda da cabeça aos pés, não preciso de vós”
(1 Coríntios 12:21). Não, todos eles dependem uns dos outros, até os maiores dos menores, e
os mínimos que Deus cobriu com maior honra, “para que os membros tenham o mesmo
cuidado uns pelos outros” (1 Coríntios 12:22-25).

4. Simpatia mútua. “Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; ou se um
membro é homenageado, todos os membros se alegram com isso” (1 Coríntios 12:26).

5. Serviço comum. Cada membro serve ao outro, e todos servem ao corpo inteiro, e assim
todo o corpo é “suprido pelas juntas e faixas” (Colossenses 2:19), e “mantido unido pela ajuda
de todas as juntas, que prestam seu serviço de acordo com à atividade específica atribuída a
cada membro” (Efésios 4:16). Todos os membros têm deveres. Nenhum indivíduo pode ficar de
lado. Comunhão no reino de Deus é comunhão no trabalho. Só assim eles terão comunhão na
vitória.

6. Crescimento comum. Mas tudo isso é “até que todos alcancemos a unidade da fé e o
conhecimento do Filho de Deus, à maturidade de um homem adulto, à plena medida da
estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13).

28
“In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas.”
78
[4] Fundação e construção

Com a figura do corpo está intimamente ligada na Escritura a figura da construção da casa. As
duas figuras estão de fato entrelaçadas: A casa cresce (Efésios 2:21); o corpo é edificado
(Efésios 4:12).

Cristo é a pedra angular e nós somos a superestrutura (1 Pedro 2:6). A igreja é uma casa de
Deus, um templo. Esta figura é válida de maneira tripla - em referência à igreja inteira (Efésios
2:21-22; 1 Pedro 2:4-5), à igreja local (1 Coríntios 3:16-17; 1 Timóteo 3:15), ao cristão
individual (1 Coríntios 6:19).; Efésios 3:17).

1. A Fundação é o próprio Senhor. “Ninguém pode lançar outro fundamento além do que já
foi posto” (1 Coríntios 3:11). O testemunho da primeira geração fala Dele. Portanto, tudo o que
se segue é “edificado sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas” (Efésios 2:20). A
verdade que Pedro confessou é o alicerce firme da igreja: a filiação super-histórica de Deus e a
messianidade histórica de Jesus de Nazaré. “Tu és o Cristo (Messias), o Filho do Deus vivo” -
“Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mateus 16:16-18).

2. As Pedras. Eles saem de duas pedreiras, os judeus e os gentios (Efésios 2:11-12), e são
unidos em um templo santo (Efésios 2:21-22). Eles são trazidos como pedras mortas para Ele,
o Único, e através do Espírito de Sua vida são feitos viver (1 Pedro 2:4). A fé deles em Cristo é
ao mesmo tempo fé em Cristo (1 Pedro 2:6; Romanos 9:33), um repouso na pedra angular em
Sião (Isaías 28:16) e um ser edificado sobre Ele (Efésios 4:29; Juízes 1: 20; 1 Coríntios 14:12-
26).29

3. O propósito desta casa é que seja um templo. É uma casa espiritual (1 Pedro 2:5), e as
“pedras” na parede são ao mesmo tempo sacerdotes no altar (1 Pedro 2:5; Hebreus 13:10), e
os líderes são “colunas” no templo de seus Deus (Gálatas 2:9; Apocalipse 3:12).

Com isso já está indicado que a igreja é um sacerdócio.

[7] Abençoado e feito uma bênção

Cristo é o sumo sacerdote e nós somos os sacerdotes (Hebreus 8:1; Apocalipse 1:6). A igreja é
um povo “santo” (1 Pedro 2:9). Como sacerdotes, seus membros têm um serviço quádruplo:

1. Eles oferecem.

A vida deles é – um sacrifício (Romanos 12:1; Romanos 15:16; Darby);

Sua devoção — um holocausto (Marcos 12:33); Seu serviço — uma oferta de


bebida (2 Timóteo 4:6, RV mgn.; Filipenses 2:17);

Suas ações — sacrifícios espirituais (1 Pedro 2:5; Hebreus 13:16);

Suas orações — uma oferta de incenso (Salmos 141.2; Apocalipse 8.3-4);

Sua adoração – uma oferta de louvor (Hebreus 13:15).

29
Portanto, o Novo Testamento fala não apenas de uma fé em Cristo (pisteuein eis Christon), mas
também de uma fé Nele (pisteuein ep'auto), Romanos 9:33; 1 Pedro 2:6.
79
2. Eles oram. Eles oram pelos outros; eles agradecem pelos outros; na câmara silenciosa eles
abraçam o mundo inteiro (1 Timóteo 2.1-2); e no céu o Espírito intercede por eles com gemidos
inexprimíveis e concede às suas orações a energia divina (Romanos 8:26-27).

3. Eles testemunham. “Os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua


boca devem buscar a lei, porque ele é o mensageiro de Jeová dos exércitos” (Malaquias 2:7).

4. Eles abençoam. “Fala a Arão e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de
Israel... Eles porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei” (Números 6:23-
27). Assim, “abençoar” significa “colocar o nome de Deus em alguém”. Portanto, só é uma
bênção aquele que leva outros a entrar em contato com Deus por meio da palavra e do
caminhar.

Mas na nova aliança existe um sacerdócio universal. Todos desfrutam da porção sacerdotal no
altar (Hebreus 13:10; 1 Coríntios 9:13). Eles são todos, o que Israel deveria ter sido, “um reino
de sacerdotes” (Êxodo 19:6) e mesmo no menor deles a promessa pode ser cumprida: “Eu te
abençoarei e tu serás uma bênção” (Gênesis 12:2).

80
Capítulo 3. A Nova Aliança de Deus
Todas as bênçãos da igreja, tomadas em conjunto, formam a acne do conteúdo da salvação
sob a “nova aliança” (Mateus 26:28). Este é o chamado celestial da aliança com Abraão
(Hebreus 11:10; Efésios 1:3), as riquezas insondáveis de Cristo (Efésios 3:8).

[1] A Antiga e a Nova Aliança

Mas a Nova Aliança é “nova” apenas em relação à “antiga” aliança (Hebreus 8.13), e esta foi
dada apenas a Israel (Salmos 147.19-20), de modo que as nações eram “estranhas quanto aos
pactos da promessa” (Efésios 2:12). O nome “nova aliança”, “novo testamento”, por si só
expressa que a igreja não pode ser separada da base da promessa do Antigo Testamento. “A
salvação vem dos judeus” (João 4:22; Romanos 9:5). “Tu não trazes a raiz, mas a raiz te traz”
(Romanos 11:18). No entanto, uma vez que o reino de Deus foi aberto também aos gentios,
não existe mais “diferença” no que diz respeito ao desfrute de suas bênçãos (Atos 15:9; Atos
11:17; Atos 10:17), e os crentes dos povos são exatamente como os crentes de Israel,
participantes dos benefícios salvadores da nova aliança.

Quanto ao seu conteúdo, a nova aliança é infinitamente maior que a antiga. A carta aos
Hebreus mostra isso especialmente. Num contraste sétulo, mostra a excelência da salvação do
Novo Testamento, e isto em comparação especial com quatro pessoas (ou grupos de pessoas)
do Antigo Testamento e três instituições do Antigo Testamento.

Nisto é como 2 Coríntios 3.1-18, que também destaca uma glória sétupla da nova aliança: (1)
pedra – carne (vv. 3,7); (2) letra – espírito (ver. 6); (3) morte – vida (vv. 6,7); (4) menor—
maior (vv. 8-10); (5) condenação – justiça (ver. 9); (6) passagem – permanência (ver. 11); (7)
velamento — revelação (vv. 12-18).

Em Hebreus é mostrado que

A. Cristo é maior
(1) do que os anjos — os mediadores celestiais da antiga aliança (caps. 1 e 2), e comp.
Hebreus 2:2 com Atos 7:53;

(2) do que Moisés — o mediador terrestre da antiga aliança, o líder profético (Deuteronômio
34:10);

(3) do que Josué — o doador de descanso da antiga aliança, o líder político (cap. 4).

(4) do que Arão — o sumo sacerdote da antiga aliança, o líder sacerdotal (caps. 5 a 9); Além
disso, em Hebreus, é mostrado que:

B. Cristo é maior
(5) do que a própria aliança — o conteúdo salvador da antiga aliança (cap. 8). Pois de acordo
com Hebreus 8:8-13 e Jeremias 31:31-34, Cristo faz: (a) a soberania uma regra interna, (b) o
ofício profético universal, (c) o sacerdócio perfeito. Ele é maior

(6) do que o tabernáculo — o lugar da revelação sob a antiga aliança (cap. 9);

(7) do que os sacrifícios – os meios de salvação sob a antiga aliança (cap. 10). Assim, Ele é
maior do que tudo o que a antiga aliança incluía, pois Nele somos feitos para participar:
81
1. uma aliança melhor – 7:22; 8:6;

2. um Mediador melhor – 1:4; 3:3;

3. um sacrifício melhor – 9:23; 12:24;

4. um sacerdócio melhor – 8:6; 7:7;

5. uma posse melhor – 6:9; 10:34;

6. uma promessa melhor – 8:6; 11h40;

7. uma esperança melhor – 7:19;

8. uma ressurreição melhor – 11:35;

9. uma pátria melhor – 11:16.

Portanto, em Seu poder podemos trilhar o “caminho novo e vivo” (10:20), isto é:

na fé que olha para cima (cap. 11),

na esperança de ver as coisas adiante (cap. 12),

no amor que contempla todas as coisas ao redor (cap. 13).

[2] As Alianças com Abraão e com David

Nesta nova aliança está o cumprimento de duas alianças do Antigo Testamento, aquela com
Abraão e aquela com Davi. Na aliança abraâmica estava a amplitude, a bênção para todos os
povos (Gênesis 12.3); na aliança davídica estava o auge, o trono real do Messias (1 Crônicas
17.11-14). Num deles estava a expansão, pressionando para fora da circunferência; no outro,
estava a união, a concentração no centro. E, portanto, ambos são frequentemente
mencionados juntos, como na mensagem de Gabriel e no cântico de Maria (Lucas 1:32; Lucas
1:55); no louvor profético de Zacarias cheio do Espírito (Lucas 1:67; Lucas 1:73); e na principal
prova bíblica da justificação na carta de Paulo aos Romanos (4:1-3,6).

Mas o cumprimento do Novo Testamento toma um rumo oposto ao da promessa do Antigo


Testamento. Primeiro Cristo aparece em Israel e atua principalmente entre a circuncisão e
especialmente como Filho de Davi (Mateus 10:5-6; Mateus 15:24); e então chega o tempo da
salvação para os povos do mundo (Atos 13:46; Romanos 11:25), o chamado das nações, e
assim a bênção da aliança com Abraão abrangendo toda a humanidade (Gálatas 3:8-9; Gálatas
3:14).

[3] Aliança e Testamento

Tomado estritamente, é menos “aliança” do que “testamento”. Para

1. Um pacto é bilateral, um testamento apenas uma disposição unilateral pela vontade do


testador (“último testamento”). Mas na salvação tudo procede de um lado, o lado de Deus, e a
fé do homem não é equivalente (nenhuma “consideração”), mas simplesmente a mão que
segura o que é oferecido,

2. A aliança é dissolvida com a morte, mas o testamento só se torna legalmente eficaz com a
morte. Mas a salvação é inteiramente um testamento, uma disposição como a “última vontade”
82
de alguém. Somente com a morte do Crucificado ele se tornou operativo e válido (Hebreus
9.15-18). Sua pressuposição é a morte de Cristo, sua propriedade é a herança eterna e ela
mesma é uma santa nomeação divina. “Nomeação divina” é, portanto, a melhor tradução do
grego diatheke (heb. berith), quando é usado neste sentido na história da salvação.

[4] Povo e Mundo da Aliança

Exteriormente, o povo da aliança é o testemunho da graça da aliança experimentada. É


primeiro o seu produto, depois o seu órgão; primeiro o objeto da salvação, depois o
instrumento da salvação. Esta relação com o mundo é expressa de forma mais conectada
naquele mesmo capítulo que mais conduz ao reino interior, o lugar santo, à parte do mundo, a
oração do Sumo Sacerdote (João 17:1-26). Aqui o Senhor Jesus menciona sete relacionamentos
principais. Os seus são:

1. quanto ao seu entorno – viver no mundo (vv. 11,15).

2. quanto à sua posição – tirada do mundo (6).

3. quanto aos seus sentimentos – separados do mundo (16,14,9).

4. quanto ao seu serviço como testemunhas — enviados ao mundo (18,21-23).

5. quanto ao seu tratamento – odiado pelo mundo (14).

6. quanto à sua força vitoriosa – mantida longe do mundo (15,11).

A base do todo é:

7. o plano amoroso de Deus antes da fundação do mundo.

Antes de todos os tempos, o Pai deu a igreja ao Filho como um presente de amor, e este amor
do Pai ao Filho antes da fundação do mundo é a base para a igreja ser glorificada no fim do
mundo. “Pai, desejo que aqueles que me deste estejam comigo onde eu estiver, para que
vejam a minha glória... porque tu me amaste antes da fundação do mundo ” (João 17:24).
Assim, o amor do Altíssimo antes e depois do tempo se arqueia como um arco-íris sobre todos
os tempos. O fim retorna ao começo porque o começo garante o fim (Romanos 11:36).

Mas no presente os santos são os mensageiros de Deus para o mundo;

i. a “coluna e base da verdade (1 Timóteo 3:15);

ii. Suas testemunhas (Atos 1:8);

iii. Suas “cartas” (2 Coríntios 3:1-3);

iv. Seus embaixadores no mundo (2 Coríntios 5.20);

v. Suas “exposições da palavra da vida” (Darby, darstellend, Filipenses 2:16);

vi. Suas estrelas na noite escura (Filipenses 2:15);

vii. Seus sete candelabros de ouro com Ele mesmo no meio (Apocalipse 1:12-13).

83
Capítulo 4. A Salvação Presente e Pessoal
Quem nega a certeza da salvação rejeita a fé. — Lutero.
Não que eu já tenha me segurado. -Paulo.
A redenção em Cristo é ao mesmo tempo ser e vir a ser. O indivíduo tem, através da fé, uma
salvação plena, livre e presente, que, no entanto, ele, ao mesmo tempo, experimenta apenas
nas contra-operações combinadas e mais eficazes.

[1] Uma salvação plena, gratuita e presente.

Paulo retrata especialmente sua experiência cristã com cores sempre novas. Em harmonia com
a sua preferência pelo pensamento jurídico, ele o descreve em cinco conjuntos principais de
imagens, todas tiradas do domínio do direito. Para ele é justificação, redenção, perdão,
reconciliação e adoção como filho. Para o apóstolo, sua experiência de salvação é como um sol
claro e brilhante, com todo o seu brilho - Cristo - em si mesmo, mas com cinco raios principais
que dele saem em todas as direções, ilimitados, imensuráveis.

Para Paulo, todos os cinco quadros principais não são meras concepções teológicas, mas antes
de mais nada são expressões puramente cotidianas da vida jurídica romano-grega,
especialmente:

dikaiose, absolvição —justificação;


apolitrose, compra — redenção;
aphesis, remissão de dívida — perdão;
huiothesia, adoção, aceitação como filho — filiação.
Toda “dogmática” teórica está longe de Paulo. “Ele é muito mais um homem de oração e
testemunho, um confessor e profeta, do que um exegeta erudito ou teólogo filosófico.”

1. Na justificação, o pecador apresenta-se diante de Deus como acusado e é


declarado livre (Romanos 8:33);

2. Na redenção, ele se apresenta diante de Deus como escravo e recebe a


liberdade por meio de resgate (Romanos 6.18-22).

3. No perdão, ele se apresenta diante de Deus como um devedor e recebe sua


quitação (Efésios 1:7; Efésios 4:32; comp. Mateus 18:21-35).

4. Na reconciliação ele se apresenta diante de Deus como um inimigo e é


conduzido à paz (2 Coríntios 5.18-20).

5. Na adoção ele fica diante de Deus como um estranho (ou escravo) e recebe
adoção, filiação (Efésios 1:5).

Mas cada uma dessas cinco imagens principais mostra um outro lado da mesma experiência de
salvação.

1. O perdão refere-se ao fruto, às ações individuais de nossa vida, aos pecados


(Efésios 1:7; comp. Romanos 3:1-31; Romanos 4:1-25).

84
2. A redenção refere-se à raiz, a toda a nossa condição de vida, ou seja, à
escravidão sob o pecado (Romanos 6:18-22; cap. 5 a 8).

3. A justificação é a soma do perdão e da redenção. Em primeiro lugar, isto é, no


sentido fundamental mais restrito, é

absolvição da culpa dos pecados (Romanos 3:23-24), e isso equivale ao


perdão; mas então é também o

declaração de liberdade do poder do pecado (Romanos 6:7; Romanos


6:10), isto é, emancipação.

4. A reconciliação é a conclusão da paz, a remoção da inimizade; está conectado


com a vontade e a renovação da mente (Romanos 5:10); e

5. A filiação é finalmente a maior de todas; está associado à nossa posição e


confere dignidade celestial (Romanos 8:17).

Assim tudo é realizado! Pecado e pecados, raiz e árvore, o poder do pecado e a culpa do
pecado, condição e posição do coração - tudo isso Cristo colocou sob Sua cruz: “Ninguém é
mais santo do que um pecador que recebeu a graça” (Zinzendorf).

E ainda! Embora tudo tenha acontecido, tudo — exceto a justificação — está acontecendo.
Até o retorno de Cristo, o crente — visto em si mesmo — experimenta certas experiências mais
eficazes, poderosas, combinadas.

[2] Contador de trabalho

Futuro e presente, posição e condição, a obra de Deus e a nossa obra, o céu e a terra, a
eternidade e o tempo, o espírito e o corpo — tudo isso continua nele num conflito vivo, vital e
não resolvido.

1. Futuro e Presente. Temos redenção (Efésios 1:7; Colossenses 1:14) e aguardamos a


redenção (Romanos 8:23). Portanto, o “dia da redenção” ainda está futuro (Efésios 4:30).

Temos a vida eterna (João 3:36) e nos apoderamos da vida eterna (1 Timóteo
6:12).

Somos filhos de Deus (Romanos 8:14) e aguardamos a filiação (Romanos 8:23).

estamos no reino (Colossenses 1:13; Hebreus 12:22) e depois entramos no


reino (At 14:22), herdamos o reino (1 Coríntios 6:9-10; Efésios 5:5; 1
Tessalonicenses 2:12).

Deus nos glorificou (Romanos 8:30) e Ele nos glorificará (Romanos 8:17).

Este é o contraste entre presente e futuro, ser e vir a ser, não ter e ainda ter. “A fé traz a
plenitude do futuro para a pobreza do presente.” Cristo, as primícias (1 Coríntios 15:20), dá aos
Seus, mesmo agora, o dom das primícias (Romanos 8:23).

Gostamos do presente e ao mesmo tempo ainda não é a realização. Em Cristo, a nova era está
vivamente presente e, no entanto, a velha ainda não acabou. A salvação é ao mesmo tempo
presente e futura, pois é eterna.
85
Tudo o que temos esperamos, tudo o que esperamos já temos. Somos “salvos na esperança”
(Romanos 8:24). O centro de gravidade está no passado — no Gólgota; o zênite está no futuro
– o aparecimento da glória. Mas é o futuro o pano de fundo de todas as ideias do Novo
Testamento. O olhar para a meta é a pulsação de toda santificação e salvação. Pois Cristo é ao
mesmo tempo a personificação da promessa e do cumprimento.

Disto surge a concepção do Novo Testamento de que todas as coisas se tornam manifestas
(Colossenses 3:4; Romanos 8:19; 1 João 3:2), pois somente as coisas já existentes podem se
tornar manifestas (descobertas). O Deus fiel e supratemporal atesta-nos o futuro como já
presente, sim, como já tendo ocorrido no passado. “Ele nos glorificou ” (Romanos 8:30).

Assim, já temos tudo, mas o nosso desfrute ainda é apenas parcial. Até a redenção do corpo,
nossa maioridade (Romanos 8:23), nosso capital investido está reservado no céu (1 Pedro 1:4;
2 Timóteo 1:12; Colossenses 1:5). E aquilo que já temos é uma prova de que a soma do capital
é nossa e, portanto, a nossa posse presente é uma garantia do futuro, as primícias da colheita
plena (Romanos 8:23), um penhor, um penhor da soma total que está por vir. (Efésios 1:14; 2
Coríntios 1:22; 2 Coríntios 5:5).

Mas é precisamente a certeza do “agora” que estabelece o alto contraste do “ainda não”. A
própria grandeza do nosso hoje faz com que olhemos ansiosamente para um amanhã ainda
maior. Nosso próprio desejo é um prazer abençoado e, ao sermos satisfeitos, nossa fome
aumenta (Filipenses 3:12; Mateus 5:6).

2. Posição e condição.

Estamos mortos (Colossenses 3:3; Gálatas 2:19-20; Gálatas 5:24; Romanos 6:6)
e matamos nossos membros (Colossenses 3:5).

Somos homens novos (Colossenses 3:10; Efésios 4:24; 2 Coríntios 5:17) e nos
tornamos renovados (Colossenses 3:10; Efésios 4:23).

Somos luz (1 Tessalonicenses 5:5) e devemos brilhar como a luz (Efésios 5:9;
Mateus 5:16).

Somos santos de Deus (Colossenses 3:12; Efésios 1:1) e nos tornamos


santificados (1 Tessalonicenses 5:23; Hebreus 12:14; 2 Coríntios 7:1).

Somos perfeitos (Colossenses 2:10) e buscamos depois da perfeição


(Filipenses 3:12).

Cristo habita em nós (Colossenses 1:27) e Ele deve habitar em nós (Efésios
3:17).

Este é o contraste entre posição e condição, dignidade e dever, realidade e realização,


permanecer na graça e no caráter. O mendigo pobre é tirado de sua cabana miserável e
colocado entre os príncipes, mas depois é exortado a se comportar como um príncipe (Efésios
4:1). O nobre deve ser nobre. A posição impõe dever. Aqui entra a luta entre carne e espírito
(Gálatas 5:17), entre o velho homem e o novo homem (Romanos 6:6; Romanos 6:11), e a
constante obra da fé, que é a santificação.

86
Mas só aqui continuamos a experimentar o contraste que se segue e que está relacionado com
a força.

3. A Obra de Deus e a Nossa Obra. É Deus quem faz todas as coisas, mas nós também
somos os trabalhadores. É tudo uma dádiva, mas tudo deve ser adquirido com esforço (2 Pedro
1:3; Colossenses 4:12). A santidade é totalmente Sua obra (1 Tessalonicenses 5:23; 1 Coríntios
6:11), e também totalmente minha obra (Hebreus 12:14; 1 João 3:3), totalmente um presente
e totalmente uma ordem, totalmente dom e totalmente tarefa.

Quanto à escolha dos chamados, ocorreu antes de todos os tempos (Efésios 1:4-
5; 2 Pedro 2:10);

quanto à santificação dos escolhidos, ocorre no decorrer dos tempos (João


17:17; 2 Coríntios 7:1);

quanto à glorificação dos santificados, será no fim dos tempos (João 17:24; 2
Timóteo 2:5).

Este contraste harmonioso é válido: “Trabalhe a sua própria salvação com temor e tremor,
pois (!) é Deus quem opera em você tanto o querer como o realizar, de acordo com a Sua boa
vontade ” (Filipenses 2:12-13).

Todas as tentativas humanas de explicação são aqui inadequadas. Eles apenas mostram,
especialmente se levados ao extremo, que o cerne da questão permanece inexplicado. Mesmo
em Romanos 8:29 e 1 Pedro 1:1-2 a questão não é definitivamente respondida. A liberdade da
vontade humana (Mateus 23:37; Apocalipse 22:17) e sua falta de liberdade (Romanos 9:11;
Romanos 9:15-16; Romanos 9:18; Romanos 11:5; Romanos 11:7; Atos 13:48) é um mistério
do reino de Deus. São duas linhas paralelas que se encontram primeiro no infinito. A fé aceita
este contraste sem poder explicá-lo. Que exista é suficiente. É o contraste entre a escolha da
graça de Deus e a responsabilidade do homem, entre a falta de liberdade e a liberdade da
vontade da criatura, entre a graça e a recompensa (Romanos 4:2-6; 1 Coríntios 3:14; 1
Coríntios 4:5; Colossenses 3:24; 2 Coríntios 5:10).

O próximo contraste é aquele entre:

4. Céu e Terra. Cristo é Aquele exaltado no céu (Efésios 1:20; Efésios 4:10; Hebreus 7:26;
Hebreus 8:1) e que ao mesmo tempo habita em nós na terra (Efésios 3:17; Gálatas 2:20).30

O cristão vive aqui embaixo na terra (João 17:11; João 17:15; Filipenses 2:15) e ainda assim,
ao mesmo tempo, ele se senta junto nos lugares celestiais (Efésios 2:6; Efésios 1:3; Hebreus
12:22; Filipenses 3:20)31

30
Esta é a polaridade místico-transcendental entre a transcendência e a imanência de Cristo. Daí as 164
vezes em que Paulo usou “em Cristo”, como também as 19 vezes “no Espírito”, e o paulino genetivus
mysticus, como, por exemplo, paz de Cristo (Colossenses 3:15), bênção de Cristo (Romanos 15:29), fé
de Cristo (Romanos 3:22), amor de Cristo (2 Coríntios 5:14), obediência de Cristo (2 Coríntios 10:5),
circuncisão de Cristo (Colossenses 2:11); etc.
31
A expressão “nos lugares celestiais” (en tois epouraniois) é encontrada apenas em Efésios (cinco
vezes), e deve sempre ser entendida localmente, como é provado especialmente por Efésios 1:20
(comp. 2:6); também 3:10 e 6:12. O cristão experimentou com Cristo não apenas a crucificação
(Gálatas 2:19) e a ressurreição (Colossenses 3:1), mas também através do Espírito Sua ascensão ao céu
87
A conexão dos dois é o Espírito. O Espírito desceu do alto, de “Cristo acima de nós”, do céu à
terra (Atos 2:33); e o Espírito como “Cristo em nós ” conduz de baixo para cima, da terra ao
céu (Colossenses 1:27; 2 Coríntios 3:17-18).

Mas a base de tudo é o contraste entre

5. Eternidade e Tempo. A eternidade é mais do que apenas um tempo interminável. Não


apenas quanto à continuidade, mas também quanto ao conteúdo, é diferente em essência de
tudo que é temporal. É algo outro, algo superior, portanto não apenas um “antes” e um
“depois”. Eterno não é uma mera noção de quantidade, mas sobretudo de qualidade. É preciso
evitar introduzir a ideia de tempo na de eternidade. “Não chegamos à ideia de eternidade por
meio de qualquer tipo de soma de tempo.” Portanto, “vida eterna” é de fato vida sem fim
(comp. Mateus 25:46), mas ao mesmo tempo mais do que a imortalidade. É a vida divina.

No entanto, a fé mesmo agora experimenta o Deus eterno sempre dentro dos limites do tempo.
Para a fé, isso eleva e humilha ao mesmo tempo. Toda comunhão com Deus, especialmente
por meio da oração, é uma participação na vida de Deus. Através dela o homem, no meio do
tempo, permanece no atemporal. No meio do movimento e da mudança, o estável e
permanente rompe. O super-histórico é vivenciado no histórico.

Isto é o que a Sagrada Escritura quer dizer quando ensina que o crente já “tem” a vida eterna.
Não começa depois da morte, mas já hoje, na terra, nesta vida. “Aquele que crê no Filho tem a
vida eterna” (João 3:36, comp. 17:3; 1 João 3:14; 1 João 5:12).

6. Espírito e Corpo. No entanto, tudo isso acontece dentro dos limites do tempo. Estamos
“em Cristo” e ainda assim “no mundo” (João 17:11); estamos “no Espírito” (Romanos 8:9) e
ainda assim “no corpo” (2 Coríntios 5:6); somos ao mesmo tempo superiores à morte, mas
sujeitos a morrer (2 Coríntios 4:11; 2 Coríntios 4:16). Que órgão fraco é a nossa alma! Que
frágil “tenda” é o nosso corpo! (2 Coríntios 5:1; 2 Coríntios 5:4). Na verdade, que contraste
entre o Espírito de Deus e o homem, entre força e fraqueza, entre conteúdo e recipiente!
Temos tesouros “em vasos de barro” (2 Coríntios 4:7).

Portanto, ao mesmo tempo, estamos ambos “prontos e esperando, descansando e apressando-


nos (Hebreus 4:3; Hebreus 4:10; Filipenses 3:12), livres, mas constrangidos, sinal de vitória,
mas gemendo ” (Romanos 8:31-39:2 Coríntios 5:4; Romanos 8:23). Estamos “morrendo e eis
que vivemos”; estamos “entristecidos, mas sempre alegres”; somos “pobres, mas enriquecemos
muitos”; nós “nada temos, mas possuímos todas as coisas” (2 Coríntios 6:9-10). Nosso olhar é
um olhar para cima, para o eterno como o super-histórico, como um olhar para frente, para
o eterno como o fim da história; é um “agora” e um “breve”, um ter e uma espera, um hoje e
um amanhã, uma fé e uma esperança, uma dupla experiência ao mesmo tempo (1 Pedro
1:21), mas ambas nascidas do amor eterno.

Mas finalmente chegará o dia em que toda essa tensão será relaxada. O retorno de Cristo é a
libertação de todas as restrições. O contraste e a tensão básicos da era atual são aqueles entre

(Efésios 2:6). Portanto, Efésios 1:3 deve ser traduzido como “lugares celestiais”, e não como
“possessões celestiais”.
88
a manifestação do reino de Satanás e a ocultação do reino de Deus, apesar da vitória do
Gólgota. Mas no aparecimento de Cristo tudo isso será resolvido. Sua revelação então será

1. A revelação do corpo espiritual, e

2. A passagem da igreja do tempo para a eternidade.

3. Então o presente será transfigurado no futuro;

4. Nossa condição corresponderá perfeitamente à nossa posição;

5. Sua obra divina aperfeiçoará nossa obra humana em Si mesmo; e

6. Seremos arrebatados para cima, da terra para o mundo celestial.

89
SEÇÃO III —A ESPERANÇA DA IGREJA

Capítulo 1. O Arrebatamento e a Primeira Ressurreição


Marana isso. Nosso Senhor, venha! (1 Coríntios 16:22)
A era atual é o tempo da Páscoa. Começa com a ressurreição do Redentor e termina com a
ressurreição dos redimidos. No meio está a “ressurreição” espiritual daqueles chamados à vida
(Romanos 6:4-11; Colossenses 3:1). Assim, vivemos entre duas Páscoas, como aqueles que
foram ressuscitados entre duas ressurreições, como luzes ardentes e brilhantes (Filipenses
2:15) entre dois resplendores (epiphaneiai) da Luz Eterna (2 Timóteo 1:10; Tito 2:13). E no
poder da primeira Páscoa vamos ao encontro da última Páscoa. A ressurreição da Cabeça
garante a ressurreição dos membros. A árvore da vida da ressurreição dá frutos totalmente
maduros.

A esperança da igreja inclui quatro características:

O arrebatamento e a primeira ressurreição (1 Tessalonicenses 4.13-18);

O tribunal de Cristo (2 Coríntios 5.10);

As bodas do Cordeiro (Apocalipse 19.7-8);

A vindoura Regra Mundial (1 Coríntios 6:2-3).

[1] O Momento do Arrebatamento

1. As Duas Ressurreições. A Sagrada Escritura não ensina uma ressurreição geral simultânea
e um julgamento final único e abrangente de justos e injustos. Falo antes de uma “ressurreição
fora dos mortos ” (Lucas 20:35), de uma “primeira” ressurreição (Apocalipse 20:6), na
verdade, de uma “ressurreição fora dos mortos ” (Filipenses 3:11; lit.). Fala de “divisões” e
“classes” dentro da ressurreição (1 Coríntios 15:15-24) e enfatiza que estas são separadas
umas das outras por períodos intermediários. “Assim como em Adão todos morrem, assim
também em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um na sua classe (a palavra denota ao
mesmo tempo “divisões” militares): as primícias, Cristo; depois disso, aqueles que pertencem
a Cristo, quando Ele vier: depois disso, o fim (isto é, o fim da ressurreição, ou seja, do
restante dos mortos) ” (1 Coríntios 15:22-24).

No Antigo Testamento, ambos - a ressurreição “para a vida eterna” e a ressurreição “para o


opróbrio e vergonha eterna” - foram de fato vistos juntos em uma imagem (Daniel 12:2; Daniel
12:13), assim como nas profecias do Senhor Jesus quando esteve na terra (João 5:28-29;
comp. Atos 24:15). Mas no progresso da revelação profética (João 16:12-13) estes dois foram
separados como dois eventos principais: a ressurreição dos justos antes do início do reino do
Messias, e a ressurreição geral depois do reino, no fim do mundo. A chave é Apocalipse 20:4-5;
“Estes (os sacerdotes de Deus e de Cristo) viveram e reinaram com Cristo durante mil anos.
Mas os demais mortos não foram obrigados a viver até que os mil anos terminassem.”
“Pertence à glorificação de Cristo como a Cabeça que Seus membros participem de uma
ressurreição especial, como a sua, uma “ressurreição dentre os mortos ” (Marcos 9:9-10;
Lucas 20:35). Estas e outras expressões semelhantes ocorrem 34 vezes em conexão com a
ressurreição de Cristo (por exemplo, 1 Pedro 1:3; Gálatas 1:1) e 4 vezes em conexão com a
ressurreição de Seu povo (Marcos 12:25; Lucas 20:35; Atos 4:2; Filipenses 3:11).
90
Esta ressurreição é:

quanto ao seu tempo – a primeira ressurreição (Apocalipse 20:5-6);

quanto à sua extensão – uma ressurreição extraordinária (Filipenses 3:11; Lucas


20:35);

quanto ao seu caráter – uma ressurreição dos justos (Lucas 14:14);

quanto ao seu benefício salvador – ressurreição para a vida (João 5:29; Daniel
12:2).

Portanto, “Bem-aventurados e santos os que participam da primeira ressurreição” (Apocalipse


20:6).

2. Os Dias de Deus. Com a primeira vinda de Cristo começam no calendário de Deus os


“últimos dias” (Atos 2:17). De acordo com a convicção cristã primitiva, com a encarnação de
Cristo começou o “tempo do fim” (Hebreus 1:2; 1 João 2:18). Pois Cristo é a meta pela qual as
longas eras anteriores se esforçaram (Hebreus 9:26). “Sua primeira aparição é o começo do
Fim, e com Sua segunda aparição começa o fim do Fim. Portanto, os pontos finais, os “fins” e o
objetivo das eras pré-messiânicas (pré-cristãs) vieram em Cristo sobre nós que vivemos na era
messiânica (cristã) (1 Coríntios 10:11). “A igreja de Cristo é a meta da história” (Ph.
Bachmann). A história do Fim, no sentido do Novo Testamento, não é, portanto, simplesmente
a história do futuro final, mas toda a história da salvação do Novo Testamento é a história do
Fim que se desenvolve progressivamente. Em Cristo apareceu o início da conclusão. Portanto,
desde então tudo já é a história do fim dos tempos.

O presente é:

i. O “dia da salvação” (2 Coríntios 6:2), o “dia” em que a graça está buscando (Hebreus 4:7),
a “hora” da plena proclamação da salvação (João 16:25; lit.), a “hora” da adoração ao Pai em
espírito e verdade (João 4:21-23). O objetivo é

ii. O “dia de Deus” (2 Pedro 3:2), a nova criação do céu e da terra, o “dia da eternidade” (2
Pedro 3:18, lit., comp. nota RV). Entre esses dias mentiras

iii. O “último dia”. Este também é um longo período (2 Pedro 3:8). Começa com a
ressurreição dos justos (João 6:39-40; João 6:44; João 6:54; João 11:24) e termina com o
julgamento dos perdidos (João 12:48). Como o reino messiânico se situa entre esses dois
eventos, abrange um período de mais de mil anos (Apocalipse 20.5). Começa com o
arrebatamento, o “dia de Jesus Cristo” (Filipenses 2:16; Filipenses 1:6; Filipenses 1:10; 1
Coríntios 1:8; 2 Coríntios 1:14)32, e o “dia do Senhor” (2 Tessalonicenses 2:2-4), o “dia de
Jeová” dos profetas do Antigo Testamento (Joel 2:1-2; Joel 3:14). Continua através do glorioso
reino do Messias, através de “aqueles dias”, o período brilhante da velha terra (Jeremias 3:16;
Joel 3:2; Zacarias 8:23), e termina com o “dia do julgamento” (Mateus 10:15).; Mateus 11:22;
Mateus 11:24; Mateus 12:36), a recompensa de homens e anjos (Juízes 1:6), o assentamento
final diante do grande trono branco (Apocalipse 20:11-15; 2 Pedro 2:9; 2 Pedro 3:7; Romanos

32
Comp. Efésios 4:30; 2 Timóteo 1:12; 2 Timóteo 4:8; 1 Corintios 3:13; 2 Pedro 1:19; 1 João 4:17;
Hebreus 10:25.
91
2:5). Assim, pode ser comparado a um dia com a estrela da manhã ao amanhecer (2 Pedro
1:19; Apocalipse 22:16), com tempestade antes do meio-dia (Apocalipse 6:1-17; Apocalipse
7:1-17; Apocalipse 8:1-13; Apocalipse 9:1 -21; Apocalipse 10:1-11; Apocalipse 11:1-19;
Apocalipse 12:1-17; Apocalipse 13:1-18; Apocalipse 14:1-20; Apocalipse 15:1-8; Apocalipse
16:1-21; Apocalipse 17:1-18; Apocalipse 18:1-24; Apocalipse 19:1-21), com sol ao meio-dia e à
tarde (Malaquias 4:2, que é o reino milenar), e com relâmpagos flamejantes ao entardecer
(Apocalipse 20:9, Gogue e Magogue). Mas finalmente surge o novo sol, “ao entardecer haverá
luz”, e da destruição mundial surge a transfiguração mundial.

3. A Conclusão dos Tempos, a vinda e aparecimento do Senhor. A hora exata do arrebatamento


não pode ser determinada33. “Não vos pertence saber a estação ou a hora” (Atos 1:7; Mateus
24:36; Marcos 13:32). O tempo de glória está próximo, pois o Senhor diz: “Eis que cedo venho”
(Apocalipse 22:20; 2 Pedro 3:8-9). O tempo de glória está distante, pois Ele disse que o noivo
“permaneceu” (Mateus 25:5). O nobre que recebe o reino foi para uma terra distante (Lucas
19:11-12), e só “depois de muito tempo” voltou para acertar contas com seus servos (Mateus
25:13; Marcos 13:32-37; Lucas 12:40). Deus deseja em nós expectativa instantânea e
prontidão para a eternidade. Conosco as últimas coisas devem ser sempre as primeiras.
“Estejam os vossos lombos cingidos e as vossas luzes acesas, e vós mesmos como homens que
esperam pelo seu senhor” (Lucas 12:35-36).

Nos detalhes deste assunto sempre existiram muitas diferenças. Igualmente grandes santos e
estudiosos apoiam pontos de vista divergentes. Isto deveria repreender o dogmatismo, induzir
à tolerância e provocar investigação.

Com este espírito olhamos para a última vez.

Em referência ao reinado mundial de Cristo, é a “conclusão dos tempos”;34

em referência à ausência de Cristo é a Sua vinda Real (parusia, advento);35

em referência à ocultação de Cristo é a Sua revelação e desvelamento (apocalipse);36

33
Quão infrutífera é toda a computação aqui foi demonstrada pelas contradições das maiores mentes
que a tentaram. Lutero esperava o fim do mundo em 1556, o escritor do hino “Acorde, a voz está
chamando” em 1670, o célebre expositor John Cocceius em 1667, Amos Comenius em 1672, o cientista
Isaac Newton em 1715, JA Bengel em 1836, para não falar das contradições entre os Adventistas do
Sétimo Dia.

34
Cinco vezes no Novo Testamento: Mateus 13:39-40; Mateus 13:49; Mateus 24:3; Mateus 28:20, lit.
35
Dezessete vezes no Novo Testamento do advento de Cristo: por exemplo, Mateus 24:3; Mateus
24:27; Mateus 24:37; 1 Corintios 15:23; 1 Tessalonicenses 2:19; 13:13; etc.
O termo não significa “futuro” ou “retorno”, mas “presença”, ou mais estritamente a entrada
daquela parusia e epifania eram os termos técnicos para a visita de um rei ou imperador (por
exemplo, a parusia de Nero, a epifania de Adriano). Assim, o elemento do governo real de Jesus
está contido na concepção da esperança cristã primitiva da parousia e da epifania. É a chegada
de Jesus como o “Rei da glória”. “Eis que o teu Rei vem a ti” (Zacarias 9:9).
36
Cinco vezes no Novo Testamento da volta de Cristo: 1 Corintios 1:7; 2 Tessalonicenses 1:7; 1 Pedro
1:7-13; 1 Pedro 4:13.
92
em referência à luz da glória de Cristo é Sua aparição brilhante (epifania).37

[2] A Natureza do Arrebatamento

“Eis que vos conto um mistério; na verdade nem todos dormiremos, mas todos seremos
transformados” (1 Coríntios 15:51). “Porque o mesmo Senhor descerá do céu, com grito de
guerra, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus, e os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro. Depois disso, nós, os que vivemos e permanecemos, seremos ao mesmo tempo que
eles arrebatados nas nuvens para encontrar o Senhor nos ares e assim estaremos em todos os
momentos com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:16-17).

O arrebatamento quanto à sua natureza é um evento quíntuplo: arrebatamento, recuperação,


transfiguração, triunfo, bem-aventurança.

1. Uma fuga. É um arrebatamento, uma libertação de toda angústia da alma e do corpo (2


Coríntios 5:2; 2 Coríntios 5:4; Filipenses 3:21), de toda perseguição e opressão do inimigo, de
toda a esfera do pecado (comp. Romanos 6:6) e da morte (Romanos 7:24). Assim, é descanso
para todos os santos (2 Tessalonicenses 1:7) no “dia da (vinda) redenção” (Efésios 4:30;
Romanos 8:23).

Como tal é:

um ato da graça divina, “a graça que nos será trazida pela revelação de Jesus
Cristo” (1 Pedro 1:13), e que nos libertará de todo pecado;

um ato de misericórdia divina, a misericórdia pela qual esperamos até a vida


eterna (Judas 1:21) e que nos libertará de toda miséria. “A graça tira o pecado, a
misericórdia a miséria” (Bengel);

um ato de onipotência divina, a onipotência que nos transfigura em


conformidade com o Redentor e nos eleva ao mais glorioso corpo espiritual. Nesse
momento o mesmo poder que move todo o universo atuará sobre o nosso corpo!
“Ele mudará o nosso corpo de humilhação para que seja semelhante ao seu corpo
de glória, de acordo com o poder pelo qual ele é capaz de subjugar o mundo
inteiro” (Filipenses 3:21).

Portanto, Paulo usa para “arrebatamento” uma palavra particularmente forte (harpazo, 1
Tessalonicenses 4:17), que na verdade significa agarrar apressadamente, roubar com violência,
atrair para si por meio de um movimento rápido e repentino, palavra que Lucas usa nos Atos
para descreva como Paulo foi arrancado pelos soldados romanos da multidão de seus
opressores (Atos 23:10). E em 1 Tessalonicenses 1.10, onde Paulo chama o arrebatamento de
“salvação da ira vindoura”, ele usa uma palavra (gr. rhuo) que significa estritamente um
“resgate com poder”, a mesma palavra pela qual em 2 Timóteo 4.17 ele descreve sua
preservação no tribunal de Nero, seu “resgate das garras do leão”. Portanto, ele descreve a
tomada da igreja por um acúmulo de figuras militares poderosas. O próprio Senhor descerá do
céu com um “sinal de alarme”, com uma “palavra de comando”, um “grito de guerra” (KJV A

37
A palavra grega está conectada com “brilhar” (epi-phan-eia: comp. phaino, eu brilho; por exemplo,
João 1:5).
93
SHOUT) com um “toque de trombeta” da “trombeta de Deus”. E então Ele, o Conquistador real,
acompanhado pelos exércitos do céu, unirá Consigo para sempre Seus guerreiros terrenos.

E isto é tudo o mais importante, pois o arrebatamento é

2. Um Catching Up, e como tal é

Uma união dos membros à Cabeça; pois o próprio Senhor descerá e estaremos
com Ele para sempre (1 Tessalonicenses 4:16-17). Ele apresentará a igreja a “Ele
mesmo” glorificado (Efésios 5:27) com o propósito de aperfeiçoar Sua glória como
o Redentor (Efésios 1:23). “Volto e vos receberei para mim mesmo, para que
onde eu estiver estejais vós também ” (João 14:2-3). E o arrebatamento é

Uma união dos membros entre si; pois os vivos serão arrebatados em algum
momento com os mortos (1 Tessalonicenses 4:17), e pela primeira vez a igreja de
todos os tempos e de todas as terras estará uma com a outra. Assim, a igreja
completa existirá pela primeira vez, mas não na terra, mas no ar (1
Tessalonicenses 4:17). Até então existem apenas igrejas (no plural, Apocalipse
22:16), e a igreja de uma geração que vive em qualquer época na terra. “Mas
então haverá uma ascensão, não de um Elias solitário com carros e cavalos de
fogo, mas milhões de santos se levantarão, atraídos para cima pelo santo poder
de Deus, e todos juntos encherão as regiões celestiais com seu Aleluia.” Mas
ainda mais. Aqueles assim elevados receberão sua transfiguração.

3. Transfiguração. “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta -
então eles serão transformados em corpo de humilhação em corpo de glória (Filipenses 3:21), e
este corruptível se revestirá de incorrupção e este imortalidade mortal (1 Coríntios 15:51; 1
Coríntios 15:53).

E tudo isso no ar! (1 Tessalonicenses 4:17). Que triunfo!

4. Triunfo! Pois o ar é a própria base de operações do Inimigo. É do ar que o mundo é


atualmente governado por poderes demoníacos. Portanto, Satanás é chamado de “o príncipe
das potestades do ar” (Efésios 2:2; comp. 6:12). Mas agora, exatamente na região de seu
poder, no próprio quartel-general do inimigo conquistado, ocorre o encontro do Conquistador e
de Suas hostes vitoriosas. O triunfo não pode ser maior; um festival de vitória mais glorioso não
pode existir. Cristo conquistou completamente. Sua igreja venceu absolutamente. Portanto, a
coroação dos perseguidos ocorre no quartel-general do seu perseguidor derrotado.

5. Bem-aventurança. Esta é a “bendita esperança” dos redimidos (Tito 2:13). “Despertai e


alegrai-vos, vós que jazeis no pó; pois o teu orvalho é como o orvalho das luzes celestiais, e a
terra produzirá novamente as sombras [Heb. Refaim ] para a luz do dia ” (Isaías 26:19; comp.
35:10; 51:11).

[3] O Corpo Espiritual Vindouro

1. Sua necessidade. Mas por que exatamente a ressurreição corporal? Por que não
simplesmente espírito puro? Porque o corpo não é uma prisão da alma, mas pertence à
essência do homem, pois sem corpo o homem está “nu” (2 Coríntios 5:3). Porque mesmo aqui
embaixo o corpo terreno foi enobrecido por ser o templo do Espírito e, portanto, não pode ficar
94
abandonado (Romanos 8:11; 1 Coríntios 6:19). Porque através do pecado veio a separação do
espírito e da alma do corpo e, em consequência, sem a ressurreição corporal, alguns dos efeitos
do pecado permaneceriam nos redimidos. Mas Deus criou o homem como um todo e, portanto,
como um todo, Ele o redimirá. A mera permanência do espírito como imortal era apenas uma
continuação parcial da vida e, portanto, uma redenção parcial. Deus não abandona as obras
das suas mãos: a matéria também é um pensamento e uma obra do seu poder de criador.
Portanto, nenhuma parte de Seu próprio redimido pode permanecer na morte. Somente assim
“a morte será tragada pela vitória” (1 Coríntios 15:55-57; 2 Coríntios 5:4; Isaías 25:8; Oséias
13:14). Não pode ser permitida uma redenção do corpo, mas deve haver uma redenção do
corpo (Romanos 8:23). Portanto, Cristo considera a ressurreição dos mortos como Sua obra
especial como Salvador; na verdade, Ele mesmo é a ressurreição viva (João 11:25). “Ninguém
pode vir a mim se o Pai não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia? (João 6:44). “Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último
dia” (João 6:54; comp. 39; 5:28,29).

2. Na verdade é. “A corporificação é o fim dos caminhos de Deus.” Isso é provado mais


claramente pelo corpo ressurreto de Jesus. Podia ser visto com os olhos (Lucas 24:40) e tocado
com as mãos (Lucas 24:39; João 20:27). Podia comer mel e peixe (Lucas 24:41-43; comp. Atos
10:41); na verdade, segundo o testemunho do próprio Senhor, tinha até carne e ossos: “Vede
as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, porque um espírito não
tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lucas 24:39). O grego tem ostea, osso, a
mesma palavra que em João 19:36 e Hebreus 11:22. Portanto, é falso o ensino de que o
Ressuscitado não tinha um corpo real, mas apenas o poder de encarnar-se; que, quanto à Sua
natureza, Ele se tornou puro “espírito” e assumiu um corpo ressurreto apenas com o propósito
de se tornar visível aos homens, mas sempre para deixá-lo de lado após Suas aparições. Isto
contradiz imediatamente a passagem acima, Lucas 23:39, onde o Senhor diz expressamente
que Ele não era um “espírito”. De acordo com essa opinião errônea, Ele teria sido geralmente
um espírito sem carne e osso, caso em que Ele deve ter enganado completamente Seus
discípulos com o que disse; pois em vez de dizer: “um espírito não tem carne nem ossos, como
vedes que eu tenho ”, Ele deve ter dito: “um espírito não pode assumir carne e ossos. ”

Mas o Ressuscitado é o padrão e o protótipo de todos os aperfeiçoados no trono celestial (1


João 3:2; Romanos 8:29). Ao Seu corpo de glória o nosso será atualmente conformado
(Filipenses 3:21; 1 Coríntios 15:49). Portanto, em Seu corpo podemos perceber certas
características básicas do nosso corpo futuro; e se Seu corpo glorificou a matéria como seu
fundamento externo, o mesmo acontece com o nosso.

1 Coríntios 15:50 não diz nada contra isso; pois, como mostra o contexto, Paulo fala ali apenas
da carne e do sangue não glorificados, que não podem herdar o reino de Deus. Nem apelará à
espera de 1 Coríntios 15:54. O novo corpo é de fato chamado de corpo “espiritual”, mas isso
não significa que seja totalmente imaterial e consista puramente de espírito. Isto é tão pouco
verdade quanto o corpo “anímico” (psíquico) que temos atualmente consiste apenas em “alma”.
Muito antes, por “anímico” e “espiritual” é indicada a natureza básica de ambos os tipos de
corpo. No corpo terreno a alma domina, no corpo celeste o espírito. A mudança de um para o
outro não consiste em despir-se do material, mas, exatamente o contrário, em vestir (1
Coríntios 15:53-54), não em “desvestir-se”, mas em “vestir-se” desta matéria corruptível com

95
imortalidade e incorrupção (2 Coríntios 5:2-4). Mas a natureza desta mudança é totalmente
inexplicável; é uma maravilha que, como também a da matéria celeste, só será percebida na
eternidade.

Porque, portanto, da realidade do corpo celeste a Escritura fala da ressurreição dos corpos fora
das sepulturas. “Chega a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a voz do
Filho do homem” (João 5:28-29). Este corpo de humilhação será glorificado (Filipenses 3:21);
este corpo mortal será vivificado (Romanos 8:11); este corpo semeado em corrupção será
ressuscitado incorruptível e imortal (1 Coríntios 15:42-43; 1 Coríntios 15:53-54; comp. Jó
19:25-26).

“Mas se não houvesse corpo espiritual e nenhuma relação direta entre o corpo presente e o
futuro, por que a abertura dos túmulos? Por que então uma ressurreição? Nesse caso o novo
corpo seria outro, nem o mesmo, não “este” corpo que foi semeado na sepultura. Não, deve
haver uma conexão entre o velho e o novo corpo, uma conexão não apenas da alma e da
personalidade, mas também do corpo.

No corpo terrestre os átomos estão continuamente em fluxo. A mudança de matéria completa a


cada sete anos uma transformação completa de toda a constituição material do corpo, de modo
que, com o passar desse período, nenhum átomo do material anterior esteja mais presente; e
ainda assim é “o mesmo” corpo. Por meio do poder dado pelo Criador, a alma constrói
continuamente, a partir do material que a rodeia, um “novo” corpo. O próprio corpo é composto
de material retirado da Natureza que a alma vivifica e governa e, correspondendo ao seu
próprio caráter, molda numa unidade superior da natureza.

Assim, mesmo no corpo terreno não é o material o elemento decisivo, mas o poder de
construção corporal da alma; no entanto, já deve estar presente no corpo antigo e corruptível
um elemento indestrutível que na ressurreição e na transfiguração será “revestido com a casa
que é do céu (2 Coríntios 5:2). Só assim é concebível que o corpo antigo deva “surgir” e que
possa ser descrito como a “semente” do corpo futuro. O processo em vista é ao mesmo tempo
quebra e construção, dissolução e conexão, nova criação e preservação.

“Assim como na planta moribunda apenas sobrevive um elemento, que então, atraindo para si
novo material, sob a influência da luz e da terra, forma para si um novo corpo vegetal, que por
causa desse elemento é o mesmo que o morto planta e, no entanto, outra”, assim também
após a dissolução do corpo humano sobrevive um elemento com possibilidade de nova
formação. A alma é, por assim dizer, o ímã do corpo que efetua a conjunção de milhões de
seus átomos. Na morte perde o seu poder magnético e os átomos desintegram-se; mas na
ressurreição ele o recebe novamente e, na verdade, em um grau muito mais elevado e mais
perfeito. Portanto agora a alma se reveste dos poderes da luz celestial e se veste (2 Coríntios
5:2-4) com um novo corpo perfeito de glória.

Não podemos formar nenhuma concepção do material celestial. Somente a linguagem figurada
é possível. Está relacionado com o material terrestre como o diamante brilhante está
relacionado com o carbono escuro do qual é formado38, como o corpo luminoso da chama do

38
Através do calor (comp. 2 Pedro 3:12) o carvão, volatilizado em gás, cristaliza e torna-se como se
fosse “glorificado” em diamante.
96
gás está relacionado com o carvão negro do qual é feito; como a joia radiante para o solo
opaco de onde foi tirada. Assim, os cemitérios do homem tornam-se os campos de sementes da
ressurreição e os cemitérios do povo de Deus tornam-se, através do orvalho celestial, os
campos da ressurreição do aperfeiçoamento [prometido] (Isaías 26:19).

Nota sobre o Estado Intermediário.

A respeito das circunstâncias da alma entre a morte e a ressurreição, as Escrituras


dizem pouco. É certo que o aperfeiçoamento do indivíduo está ligado à sua
ressurreição e, portanto, não ocorre na morte. A Sagrada Escritura olha
principalmente para o objetivo, passando pelo intervalo com apenas algumas
dicas e sem dar ênfase especial a ele. Deveríamos esperar pelo retorno de Cristo,
não pela morte. Para os crentes mortos, é antes de tudo um tempo de espera
abençoado no Paraíso (Lucas 23:43), com Cristo (Filipenses 1:23; Atos 7:59), no
“seio de Abraão” (Lucas 16:22), onde é “muito melhor ”do que aqui (Filipenses
1:23). Para os mortos não salvos começa imediatamente o “fogo” (Lucas 16:22-
24). Portanto, para o crente, o primeiro “ganho” não é no arrebatamento, mas na
morte (Filipenses 1:21); para o incrédulo há uma terrível expectativa do justo
julgamento de Deus. Mas em ambos os casos a conclusão é a ressurreição da vida
ou do julgamento (João 5:29).

[4] A Glória Sétupla do Corpo da Ressurreição

A natureza do novo corpo é indescritível. A Escritura dá apenas sugestões figurativas.

1. Espiritualmente. O corpo da humilhação é um corpo “anímico”, o corpo da glória será


“espiritual” (1 Coríntios 15:44-46), o que significa que no primeiro predomina a alma, no
segundo o espírito.

2. Sujeição. O corpo da humilhação é muitas vezes um limite e uma restrição: o corpo da


glória será inteiramente útil. O corpo da humilhação, como corpo “anímico”, tem uma certa
independência do espírito, uma independência que muitas vezes equivale a conflito entre corpo
e espírito (Romanos 7:5; Romanos 7:23; 1 Coríntios 9:27; Romanos 6:6). Mas o corpo da glória
será completamente governado pelo espírito. Na dependência irrestrita estará à disposição do
espírito, instrumento perfeito da vida aperfeiçoada.

Mas no mundo natural prevalece a condição inversa.

3. Superioridade. O corpo da humilhação, que é em certa medida independente no que diz


respeito ao espírito, no que diz respeito às condições naturais, é dependente e vinculado; o
corpo da glória, que depende do espírito, é independente e livre no que diz respeito a essas
condições naturais. Portanto, com os primeiros existe a necessidade de nutrição e o perigo de
doença e infortúnio; com este último, porém, está a liberdade real e é superior às restrições da
matéria, do espaço e do tempo.

Assim pode comer, mas sem que seja necessário (Lucas 24:41-43) –

superioridade sobre o material;

97
então pode aparecer em uma sala com portas fechadas (João 20:19; comp. Lucas
24:31; Lucas 24:36) -

liberdade das restrições do espaço;

então é imortal na eternidade (1 Coríntios 15:54; 1 Coríntios 15:42) -

liberdade de todas as limitações através do tempo.

4. Exaltação. O corpo da humilhação, porque é tal (Filipenses 3:21), é um corpo de “desonra”


(1 Coríntios 15:43). Mas o corpo de glória será um corpo de exaltação. A humildade do corpo
atual é demonstrada pela doença e pela morte, como também pela concepção, nascimento e
maneira como é nutrido (1 Coríntios 6:13); portanto, pertence à dignidade do futuro corpo que
estas condições cessem: “na ressurreição não se casarão nem se darão em casamento; mas
são como os anjos de Deus no céu” (Mateus 22:30).

Mas isto não significa “eles próprios serão anjos”, mas apenas neste ponto “como anjos”.
Nenhum homem se torna um anjo quando morre. De fato estaremos em comunhão com os
anjos (Hebreus 12:22; Lucas 16:22); mas seremos mais que anjos (1 Coríntios 6:2-3). Somos
“primícias de suas criaturas” (Tiago 1:18) e “filhos de Deus” (Romanos 8:14).

5. Felicidade. O corpo da humilhação passa por tristeza e dor (2 Coríntios 5:2; 2 Coríntios
5:4); o corpo da glória estará cheio de bem-aventurança. “Não terão fome nem sede” (Isaías
49:10; Apocalipse 7:16-17). “Não haverá mais luto, nem choro, nem dor: as primeiras coisas já
passaram” (Apocalipse 21:1-27; Apocalipse 4:1-11). “É semeado corruptível, ressuscita
incorruptível. É semeado em desonra e ressuscita em glória. É semeado em fraqueza e
ressuscita em força” (1 Coríntios 15:42-43).

6. Esplendor. O corpo da humilhação é uma tenda pobre, o corpo da glória é um palácio


transparente e radiante. “Os justos... resplandecerão no reino de seu Pai” (Mateus 13:43):

como neve branca e deslumbrante (Março 9:3; Filipenses 3:21);

como orvalho transparente (Isaías 26:19);

como a lua e as estrelas (Daniel 12:3);

como o brilho do firmamento (Daniel 12:3);

como o sol em sua força (Mateus 13:43; Mateus 17:2 Apocalipse 1:16);

como o próprio Senhor Jesus à luz de Sua glória (Filipenses 3:21; 1 João 3:2; 2
Coríntios 3:18). “Os mestres irradiarão brilho como o céu, e aqueles que
conduzem muitos à justiça como as estrelas para todo o sempre” (Daniel 12:3).

Esta é a grandeza pela qual esperamos. Comparado com isso, o corpo terreno é como uma
semente da flor totalmente desdobrada (1 Coríntios 15:35-39; 1 Coríntios 15:42-44). Tão pouco
se pode ver que uma planta brilhante está contida numa minúscula semente de papoula, ou o
poderoso carvalho na bolota, ou a macieira na semente, tão pouco se pode discernir no corpo
presente a glória do corpo futuro.

7. Conformidade com Cristo. Mas a característica mais gloriosa é que os redimidos serão
conformados com ELE. “Seremos semelhantes a ele, porque o veremos como ele é” (1 João
98
3:2). Seremos “conformados com o corpo da sua glória” (Filipenses 3:21). Traremos sobre nós
Sua “imagem” para que “Ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8:29;
Colossenses 1:18; comp. 2 Coríntios 3:18). “Pois o primeiro homem é da terra, do pó; o
segundo homem é do céu. Mas assim como aquele que é do pó, assim são os que são do pó; e
assim como o Celestial, também o são os celestiais. E assim como trouxemos a imagem
daquele que veio do pó, assim traremos também a imagem daquele que veio do céu” (1
Coríntios 15:47-49; Darby).

99
Capítulo 2. O Tribunal de Cristo
O retorno de Cristo é a “bendita esperança” da igreja (Tito 2:13). No entanto, está ligado não
apenas aos privilégios celestiais, mas também à responsabilidade santa. Assim como o
arrebatamento é um refrigério para o coração, o tribunal de Cristo também é um estímulo para
a consciência.

Há sete fatos sobre isso que especialmente a Sagrada Escritura nos permite conhecer:

1. O tempo — o “dia de Cristo: (1 Coríntios 1:8).

2. O juiz — o próprio Cristo (2 Timóteo 4:8).

3. As pessoas – “Todos nós” (2 Coríntios 5:10).

4. A severidade — seu fogo (1 Coríntios 3.13).

5. O padrão — nossa fidelidade (1 Coríntios 4.1-5).

6. O resultado — recompensa ou perda (1 Coríntios 3.14-15).

7. O objetivo – glória (1 Pedro 5.4).

1. O tempo é o “dia de Cristo, ou do Senhor” (seis vezes no Novo Testamento, 1 Coríntios 1:8;
1 Coríntios 5:5; 2 Coríntios 1:14; Filipenses 1:6; Filipenses 1:10; Filipenses 2:16), “aquele dia”
(2 Timóteo 4:8; 2 Timóteo 1:12), “na Sua vinda” (parusia 2 Timóteo 4:8), o que significa, de
acordo com o testemunho de todo o Novo Testamento, o tempo antes do estabelecimento do
reino visível de glória e, portanto, antes do reino milenar. Em consequência, o “tribunal de
Cristo” (gr. bema) deve ser distinguido do “grande trono branco” (gr. thronos). Este último será
estabelecido somente após o reino visível da glória, na verdade, após a destruição de todo o
antigo universo (Apocalipse 20:11).

Mas também deve ser distinguido do julgamento no início do reino milenar (Mateus 25:31-46;
Apocalipse 20:4). Pois após o retorno de Cristo as nações então vivas serão julgadas. O “último
dia” incluirá, portanto, três julgamentos a serem distinguidos quanto ao tempo:

(a) O julgamento sobre a igreja, ou seja, os arrebatados; no “tribunal de Cristo”


antes do reino milenar.

(b) O julgamento sobre as nações, isto é, sobre os então vivos: no “trono da Sua
glória”, no início do reino milenar.

(c) O julgamento geral, ou seja, dos mortos (Apocalipse 20:12); no “grande trono
branco”, depois do reino milenar.

2. O juiz é Cristo, “o Senhor, o justo Juiz” (2 Timóteo 4:8). Pois o Pai confiou todo o
julgamento ao Filho (João 5:22). Portanto, também antes do reino milenar é tanto o tribunal de
Cristo (2 Coríntios 5:10) como também o tribunal de Deus (Romanos 14:10).

3. As pessoas são “todos nós” (2 Coríntios 5:10; Romanos 14:10), os “em casa” e os “fora de
casa”, todos redimidos, os então vivos e os já adormecidos quando o Senhor vier (2 Coríntios
5:6-10 e contexto). É verdade que aquele que crê no Filho está livre do julgamento final de
condenação (João 5:24; Hebreus 10:14; Hebreus 10:17), pois “não há condenação para

100
aqueles que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1): mas a questão da fidelidade (1 Coríntios
4:2-5) e a determinação da recompensa (1 Coríntios 3:14; Colossenses 3:24), ou da perda (1
Coríntios 3:15; 2 João 1:8), exigem um dia especial de julgamento (1 João 4:17) até mesmo
para os crentes. Aqui não se trata de salvação, mas definitivamente da medida da recompensa
da graça.

4. A gravidade. “o Senhor julgará o seu povo” (Hebreus 10:30). Mesmo para os Seus o dia
será “revelado em fogo” (1 Coríntios 3:13). Portanto, em estrita conexão com o tribunal de
Cristo, Paulo fala de um “terror do Senhor” (2 Coríntios 5:10-11). “Dano” e “perda” (1 Coríntios
3:15; 2Jo 1:8), um encolher de vergonha Dele em Sua presença39 (1 João 2:28), “queimar” o
trabalho de toda a vida (1 Coríntios 3:13-15), a si mesmo salvo, mas apenas como um tição
retirado do fogo, como alguém que escapa de um prédio em chamas com a vida nua (1
Coríntios 3:15; comp. Amós 4:11 e Gênesis 19:16; Gênesis 19:29, Ló) - essas são possibilidades
que devemos olhar de frente.

Na verdade, em 2 Coríntios 5:10, a Escritura diz que receberemos não apenas segundo as
nossas boas obras, mas também segundo as nossas más obras. “Nós” (isto é, todos os
membros da igreja, seja “em casa” ou “fora de casa” quando o Senhor vier, vv. 6-9) “devemos
todos ser manifestados perante o tribunal de Cristo, que cada alguém pode receber as coisas
feitas por meio (dia) do corpo, de acordo com o que fez, seja bom ou mau ”; e na epístola aos
Colossenses (Colossenses 3:24-25), em conexão com o recebimento da recompensa vindoura, e
em referência à vida cotidiana dos membros da igreja, é declarado que “aquele que pratica o
mal receberá novamente o errado que ele fez; e não há respeito pelas pessoas.” Com isto
compare 1 Coríntios 3:15; Lucas 19:24; Lucas 12:45-48. Não vamos, portanto, embotar a ponta
da espada do Espírito (Hebreus 4:12). Ser manifestado perante o tribunal de Cristo é um
assunto mais sério do que muitas vezes pensamos. A mera referência a “ganho” ou “perda”
dificilmente parece fazer plena justiça a declarações tão sérias do Novo Testamento.

Com a nossa atual capacidade de compreensão, não parece possível compreender o assunto
mais detalhadamente e, acima de tudo, ver como a glória e a solenidade podem aqui se

39
A tradução exata não é como AV “envergonhado diante Dele em Sua vinda”, mas como a margem RV
“envergonhado Dele. ”O grego apo em Apocalipse ' autou não é equivalente a “antes”. Este “de” não
fala de um cristão infiel sendo expulso pelo Senhor para a vergonha da condenação e destruição eterna
como estando eternamente perdido; mas contrasta com a ousadia e confiança que o cristão deve ter na
vinda de Cristo, que é mencionada nas palavras imediatamente anteriores no mesmo versículo: de modo
que este “ter vergonha Dele” mostra que para um cristão infiel haverá na vinda do Senhor um
“encolhimento de vergonha Dele em Sua presença”. Portanto, Alford traduz corretamente, e Westcott
acrescenta as palavras explicativas reveladoras “como uma coisa culpada surpresa”. Darby traduz “e não
seja envergonhado diante Dele em Sua vinda”.
Os principais tradutores alemães dão o mesmo sentido, como
Professor Menge:
“Para que não sejamos obrigados a nos afastar Dele com vergonha.”
Obra Bíblica de Dachsel:
“Para que não sejamos obrigados a recuar com vergonha Dele.”
Bíblia de Elberfeld:
“Para que não sejamos envergonhados por Ele.”
Professora Lange:
“Para que não sejamos envergonhados por Ele na Sua vinda” (Dia).

101
combinar, porque pertence ao reino eterno. Em muitos aspectos, nossas percepções e
sentimentos serão bem diferentes daqueles aqui, que se adequam às atuais condições de vida.

Mas as Escrituras nos dão essas palavras muito sérias para impressionar-nos com a necessidade
de santidade prática e de serviço fiel e abnegado. Com toda a certeza da salvação e toda a
eficiência da obra Divina em nós, esta palavra ainda se aplica: “Operai a vossa própria salvação
com temor e tremor” (Filipenses 2:12).

5. O padrão é a nossa fidelidade (1 Coríntios 4:1-5; Mateus 25:21; Mateus 25:23), a soma
total da nossa vida, o produto do nosso desenvolvimento: não apenas as nossas ações, mas
também as nossas possibilidades, não apenas o que éramos mas o que poderíamos ter nos
tornado, não apenas nossas ações, mas também nossas omissões (Tiago 4.17); não o trabalho,
mas o trabalhador, não o número, mas o peso de nossas ações (1 Samuel 2.3); não apenas o
que alcançamos, mas também o que buscamos. Das nossas obras, o sacrifício é o que mais
conta: da nossa disposição, apenas o amor altruísta; de nossos bens, apenas o que
empregamos no serviço. Quanto aos nossos pecados, essa palavra se aplica: o que julgamos,
Ele não julgará novamente (1 Coríntios 11:31); o que descobrimos, Ele cobrirá (1 João 1:9;
Hebreus 8:12); o que cobrimos, Ele descobrirá (Lucas 12:2). E em tudo Ele tomará nota dos
elementos mais íntimos, dos impulsos e motivos, dos conselhos do coração, dos segredos da
alma escondidos nas trevas (1 Coríntios 4:5; 1 Samuel 16:7; Hebreus 4:13; Salmos 139: 1-24).

6. O resultado será muito variado. Mesmo com Seu próprio povo o Senhor é “o justo Juiz” (2
Timóteo 4:8). Alguém construiu com madeira, feno e restolho — sua obra será queimada; o
outro construiu com ouro, prata e pedras caras – sua obra resistirá ao fogo (1 Coríntios 3:12-
15).

Estes serviram fielmente - serão grandes no reino dos céus (Mateus 5:19; Mateus 25:21; Lucas
19:17); outros semearam na carne – eles colherão a corrupção do trabalho de sua vida
(Gálatas 6:6-8).

Estes são puros, sem defeito e irrepreensíveis (Filipenses 1:10; 1 Coríntios 1:8) - eles ganharão
o prêmio (Filipenses 3:14); outros são [espiritualmente] pobres (Apocalipse 3:17) e reprovados
(1 Coríntios 9:27) - eles sofrerão perdas (1 Coríntios 3:15; 2 Timóteo 2:5).

Estes têm ousadia no dia do julgamento (1 João 4.17); a vergonha será a porção dos outros (1
João 2.28).

Assim, cada um recebe o que lhe é devido (Hebreus 6:10; 1 Coríntios 4:5; 2 Timóteo 4:8), sem
respeito pelas pessoas (Colossenses 3:24-25). A salvação depende da fé, a recompensa da
fidelidade. Como filhos recebemos Sua vida, como servos. Sua recompensa. “Eis que cedo
venho, e o meu salário comigo” (Apocalipse 22:12).

Mas finalmente todos serão salvos e todos brilharão, ainda que em diferentes graus de glória e
esplendor (1 Coríntios 15.40-42). Haverá vasos grandes e pequenos no futuro, mas todos serão
preenchidos. Haverá graus e estágios de glória (Mateus 25.14-30), mas nenhuma diferença na
felicidade (Mateus 20.1-16). Pois os servos e o serviço são muitos, mas só há um Senhor.

Mas os fiéis serão especialmente coroados:

o guerreiro vitorioso -
102
com a coroa da justiça (2 Timóteo 4:8);

o piloto firme -

com a coroa imperecível (1 Coríntios 9.25-27);

aquele que é fiel até a morte –

com a coroa da vida (Apocalipse 2:10; Tiago 1:12);

o trabalhador altruísta -

com a coroa de honra (1 Tessalonicenses 2:19, comp. 3-6; Filipenses 4:1);

o exemplo para o rebanho -

com a coroa de glória (1 Pedro 5:3-4).

7. A glória. Através de tudo isso virá a consumação para a igreja. “E ouvi como a voz de uma
grande multidão, e como a voz de muitas águas, e como a voz de poderosos trovões, dizendo:
Aleluia, porque o Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso, reina. Regozijemo-nos e exultemos, e
demos-Lhe a glória; porque são chegadas as bodas do Cordeiro, e sua esposa já se preparou.
... Bem-aventurados os que são convidados para a ceia das bodas do Cordeiro.” (Apocalipse
19:6-9).

Mas simultaneamente rompeu o grande dia em que o Senhor punirá o exército dos altíssimos
que está nas alturas e os reis da terra sobre a terra (Isaías 24:21), e no qual lhe parecerá bom
dar o grande reino de poder e glória para Seu “pequeno rebanho” (Lucas 12:32). “Eu vi tronos
e eles se sentaram neles, e foi-lhes concedido exercer julgamento” Apocalipse 20:4). “Os santos
do Altíssimo receberão o reino” (Daniel 7:18; Daniel 7:22). Aqueles que no tribunal de Cristo
foram julgados dignos do prêmio serão feitos juízes do mundo. Eles serão a aristocracia
dominante no reino eterno dos céus.

E porque são “um só corpo”, o indivíduo não será glorificado perante a comunidade. É tudo um
“herança dos santos na luz” e o indivíduo tem apenas uma parte dela (Colossenses 1:12). É
juntos que eles formam um reino real, um reino (Apocalipse 1:6; Apocalipse 5:10), e os
indivíduos são sacerdotes e reis nele. O todo é superior ao indivíduo. O indivíduo é colocado em
seu lugar durante todo o curso do todo. Portanto, o indivíduo não pode ser aperfeiçoado como
indivíduo, mas apenas em conexão pessoal e viva com a comunidade aperfeiçoada.

Daí a espera daqueles que dormem pelo aperfeiçoamento das gerações futuras
(Hebreus 11:40; Apocalipse 6:10-11).

Portanto, o revestimento da “alma” com o vindouro corpo de glória (1 Coríntios


15:23)40 não ocorre diretamente na morte (Apocalipse 6:9; Hebreus 12:23).

Portanto, ocorre ao mesmo tempo a ressurreição dos mortos em Cristo e a


“revestimento” (2 Coríntios 5:2-4) dos então vivos pelo arrebatamento (1

40
Isto acontece apenas “na Sua vinda”. A aparição de Moisés e Elias na transfiguração (Mateus 17:3), e
a ressurreição de muitos santos do Antigo Testamento na ressurreição de Jesus (Mateus 27:52-53), são
exceções por causa da glória pessoal de Jesus, no um caso, e por causa do triunfo de Sua obra no
Gólgota, no outro caso.
103
Tessalonicenses 4:15). Pois o objetivo do todo é um organismo; não apenas a
salvação do indivíduo, mas a glorificação da comunidade; não apenas a bem-
aventurança individual, mas o “reino de Deus” (Mateus 6:10).

E assim como agora o Estado universal cósmico de Deus está sob o governo do príncipe anjo
regional (comp. Daniel 10:13; Daniel 10:20), então a companhia dos santos glorificados reinará
como reis, com Cristo como Cabeça, sobre os sóis. e mundos (Apocalipse 22:5; comp.; Hebreus
2:5). “Não sabeis que os santos julgarão o mundo? não sabeis que julgaremos os anjos?” (1
Coríntios 6:2-3). Portanto “ao que lhe vencer, eu lhe darei que se assente comigo no meu
trono, como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono” (Apocalipse 3:21). “Bem-
aventurados aqueles servos que o Senhor, quando vier, encontrar vigiando; em verdade vos
digo que ele se cingirá e os fará sentar à mesa, e virá e os servirá” (Lucas 12:37). Esta é a
maior promessa da Bíblia (JA Bengel).

==============================

104
Parte III: O vindouro Reino de Deus

Seção I — O Sistema Mundial Anticristão

Capítulo 1. A Pessoa do Anticristo


[1] A Vinda do Anticristo

O objetivo final do Cristianismo é Jesus Cristo; o fim da cristandade nominal é o Anticristo. É o


ensinamento inequívoco da Bíblia que o objectivo da história não é o produto da história, que o
reino de Deus não alcança a soberania através do crescimento e da ascensão, mas apenas após
o colapso e a catástrofe mundial. A ilegalidade assumirá o controle, o amor de muitos esfriará
(Mateus 24:12), e quando o Filho do homem vier, Ele encontrará pouca fé na terra (Lucas
18:8). Não a cristianização do mundo com a consequente cristianização da civilização, mas a
crescente inimizade do mundo até à expulsão do cristianismo pela civilização — este é o
caminho predito pela profecia bíblica.

Portanto, não é porque o mundo não seja cristão o suficiente que Cristo ainda não veio, mas
Ele ainda não veio porque o mundo não é incrédulo o suficiente (2 Timóteo 3:1-4; 2 Timóteo
4:3-4; 2 Pedro 3:3; 1 Timóteo 4:1 -3). É um princípio básico do governo divino do mundo que
todas as coisas, tanto as boas quanto as más (Mateus 13:29-30; Apocalipse 14:15; Apocalipse
14:18), devem atingir a maturidade; somente para o mal a paciência de Deus leva ao
julgamento mais severo. “Ninguém vos engane, porque o dia do Senhor não virá, a menos que
a apostasia venha antecipadamente e o Homem do Pecado se manifeste, o Filho da perdição, o
opositor, o Iníquo, a quem o Senhor Jesus, quando ele vier, destruirá pelo sopro da sua boca”
(2 Tessalonicenses 2:3-4; 2 Tessalonicenses 2:8).

Assim, não pela reconciliação, mas pela intensificação do conflito até ao fim, não pela
glorificação do desenvolvimento humano, mas pelo seu colapso, não por um pacto entre Deus e
a civilização, mas pela destruição do reino do mundo pelo reino de Deus. (Daniel 2:34-35;
Apocalipse 19:11-21) - esta é a maneira pela qual os assuntos do Senhor triunfarão. O fim da
história não é o seu aperfeiçoamento natural. A linha “ascendente” será repentinamente
despedaçada; os invasores do céu serão derrubados pelo céu (Gênesis 11:4; Gênesis 11:6;
Apocalipse 18:1-24).

Na verdade, à primeira vista, todas as coisas parecem o contrário disso. Pois, de acordo com o
testemunho das Escrituras, surgirá um sistema de civilização que parece satisfazer todos os
anseios da humanidade ao longo de milhares de anos. À sua frente está um governante
poderoso que, por um gênio para a organização, é ao mesmo tempo um governante e benfeitor
mundial (Apocalipse 13:7; Apocalipse 13:4; Apocalipse 11:10), um conselheiro das nações que
as protege contra todos os perigos de guerra (1 Tessalonicenses 5:3), um organizador da
humanidade que traz ordem ao caos desesperador das massas. Como o ápice da grandeza
humana, ele inflamará os homens com o máximo entusiasmo, como o líder supremo em todos
os empreendimentos, ele despertará uma consciência de descanso e segurança e, como chefe
governante, receberá a honra divina (Apocalipse 13:3-4; Apocalipse 13:12). Assim ele exaltará
o espírito mundial ao mais alto nível, e para a cultura mundial será um momento de maior
progresso ascendente e brilho.

105
Mas tudo isso será sem Deus, com a exclusão da graça, unicamente na autoconfiança, para a
glória da própria força, e com a deificação do espírito do homem (2 Tessalonicenses 2:4).

Portanto, o Altíssimo não reterá Sua resposta (Jeremias 17.5), Ele não dará Sua honra a outro,
nem Seu louvor aos rebeldes gerados no pó (Isaías 42.8). Sua resposta ao desafio do Anticristo
será enviar Seu Cristo (Atos 3:20); e aquele cuja “chegada (parusia) foi de acordo com a
energia de Satanás ” Ele destruirá “através do resplendor de Sua chegada ” (a epifania de Sua
parusia) “em fogo flamejante, quando Ele retribuirá aqueles que não conhecem a Deus, e
aqueles que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Tessalonicenses
1:8). Assim, o ápice da civilização se tornará o drama final de sua história, e através do pôr do
sol vermelho do mundo haverá, por assim dizer, uma chama como um sinal do julgamento:

“Mene, mene, tekel, afarsin,”


Numerado, numerado, pesado e considerado muito leve ” (Daniel 5:25-27).

[2] Os Nomes do Anticristo

O título "Anticristo" é encontrado apenas nos escritos de João, mas lá cinco vezes, com um
triplo sentido: do Anticristo pessoal (1 João 2:18), do espírito do Anticristo (1 João 4:3), e dos
anticristos (no plural, 1 João 2:18; 1 João 2:22; 2Jo 1:7). Já foi observado antigamente (como,
por exemplo, Agostinho) que por este “Anticristo” João sem dúvida se refere à mesma pessoa a
quem Paulo chama de “homem do pecado”, o filho da perdição”, o iníquo”, o “opositor” (2
Tessalonicentes 2:3; 2 Tessalonicentes 2:8); e quem, segundo o Apocalipse, é a Besta que sai
do mar dos povos (Apocalipse 13:1-10), e, segundo as profecias de Daniel, é o "chifre
pequeno" que surge do quarto mundo -império (Daniel 7:8; Daniel 7:23-25). Assim, as
Escrituras fornecem sete designações principais dessa mesma figura funesta, totalizando uma
descrição sétupla da oposição a Deus desse rebelde demoníaco.

[3] A Personalidade do Anticristo

O Anticristo é ao mesmo tempo uma pessoa e um sistema. Como indivíduo, ele é o chefe
pessoal de um sistema, o líder e a personificação de uma revolta humana geral. Como
inspiração e tendência, ele está de fato sempre presente (1 João 2:22; 2 João 1:7), mesmo
como o “mistério da iniquidade” (2Tessalonicenses 2:7) e “o espírito do anticristo” (1 João 4:3)
- portanto, através de milênios segue a linhagem de seus arautos e precursores, os anticristos
(no plural, 1 João 2:18); mas como exposição completa da história final ele é um indivíduo, um
gênio demoníaco, uma figura super-humana, um Messias do Diabo. A universalidade de um
movimento não exclui figuras pessoais individuais: pelo contrário, todo o progresso notável no
mundo foi provocado por homens individuais. “A história de um povo é a biografia de seus
grandes homens” (Carlyle). Portanto, foi uma convicção completamente histórica e verdadeira
quando os primeiros cristãos esperavam o aperfeiçoamento do anticristianismo através de um
homem individual. “Vim em nome de meu Pai e não me recebeis; se outro vier em seu próprio
nome, a ele recebereis ” (João 5:43). O oposto “eu – outro” deixa fora de dúvida que este

106
“outro” (o Anticristo) deve ser um indivíduo tão certamente quanto Cristo é tal, que aqui fala de
Si mesmo por este “eu”.41

Isto decorre ainda do ensino de Cristo quanto ao futuro encontrado em Marcos 13:14, quando
lido estritamente: “Quando virdes a abominação da desolação parada onde não deveria (quem
lê tome conhecimento disso), então aqueles que estão na Judéia, fujam para as montanhas”. A
“abominação da desolação” está claramente ligada ao período anticristão. Mas o facto
surpreendente é que, embora no texto original o substantivo “abominação” seja do género
neutro, o seu particípio dependente “posição” não é neutro mas sim masculino na forma.42

Isto significa inequivocamente que a “abominação da desolação” não deve ser meramente uma
imagem ou algum outro objeto ou ação, mas que uma pessoa, um homem, deve permanecer
no lugar santo. Assim, a profanação do santuário procederá de um homem individual que,
como uma abominação humana idólatra, como um deus falso, se apresentará como inimigo do
Deus verdadeiro e exigirá para si mesmo a adoração divina (2 Tessalonicenes 2.3-4).

Finalmente, que o Anticristo é uma pessoa individual é demonstrado por este facto adicional,
que ele, assim como Cristo, terá a sua parusia (vinda). É ele “cuja vinda (parusia) é segundo a
operação de Satanás com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira ” (2 Tessalonicenses
2:9). E assim como Cristo, como uma pessoa individual, após este período de Sua ocultação, na
hora de Deus surgirá em Sua revelação (Apocalipse, 2 Tessalonicenses 2:7), o mesmo
acontecerá com Sua falsificação, o Anticristo, como uma pessoa individual, em sua estação (que
será ao mesmo tempo a hora de Satanás e a hora de Deus), receba sua revelação (apocalipse)!
“O Iníquo será revelado” (2 Tessalonicenses 2:8).

[4] Os precursores do Anticristo

1. Na história bíblica, estes, entre outros, foram:

Caim – o criador da guerra religiosa – o anti-Abel. Assim como a primeira “guerra”


foi, por assim dizer, uma guerra religiosa (Gênesis 4:4-8), assim será a última
desta era, a Anticristã (Apocalipse 19:19).

Lameque — o presunçoso que desafiou “eu” — o anti-Enoque. Deificar a si


mesmo é o personagem de Lameque do Anticristianismo (Gênesis 4:23-24;
Apocalipse 13:1; 2 Tessalonicenses 2:4).

Nimrod —O fundador do poder mundial. Com Nimrod começou, com o Anticristo


terminará, a história do poder mundial babilônico. Babel no Eufrates é a

41
Existem diferentes respostas para a questão de saber se o Anticristo será judeu ou pagão. Que ele
será judeu, e aparentemente da tribo Dã, Ireneu baseado em Jeremias 8:16 e na ausência dessa tribo
em Apocalipse 7:5-8. Hipólito baseou isso em Deuteronômio 33:22; Gênesis 49:16-17, e a consideração
de que, como oposto de Cristo, ele deve descender de Israel. Ambrósio refere-se a João 5:43; Prof.
Schlatter para 2 Tessalonicenses 2:4; que ele se coloque no templo de Deus, não dos ídolos. De acordo
com outros, ele vem do paganismo, pois seu protótipo principal, Antíoco Epifânio, um greco-sírio, era
um rei pagão (Daniel 8:8-12; Daniel 11:21 e segs.), e que ele mesmo, como a primeira besta de
Apocalipse 13:1-18, surge do “mar”, isto é, das nações (Apocalipse 13:1; comp. 17:15; Isaías 17:12-13).
42
Gk. para bdelygma (neutro)... hestekota, acusativo masculino, não hestekos, acusativo neutro. (O RV
marca isso pela tradução acima “ficando onde não deveria”.)
107
precursora da Roma Imperial e da Roma Imperial do fim dos tempos anticristão
(Gênesis 10.8-12; Apocalipse 17.1-14).

Balaão – o sedutor da fornicação – o anti-Moisés, como disseram os rabinos


(Núm. 31:16; 2 Pedro 2:15; Apocalipse 17:4; Apocalipse 17:15; Apocalipse 18:3-
4; Apocalipse 19:2).

Golias — o orador popular blasfemador — o anti-Davi, o terrorista representativo.


Então o

Rabinos (1 Samuel 17:8; 1 Samuel 17:10; 1 Samuel 17:25; Daniel 7:25;


Apocalipse 13:6).

Antíoco Epifânio — o devastador do santuário. Ele é o principal tipo do Anticristo


(Daniel 8:11; Daniel 9:27; Apocalipse 11:7; Apocalipse 13:7). Como tal, ele é o
“chifre pequeno” do terceiro império mundial (Daniel 8:9-14), assim como o
próprio Anticristo é o “chifre pequeno” do quarto império mundial (Daniel 7:23-
25). Em Daniel 11:21-45 os dois se fundem em um.

2. Na história da igreja e na história mundial, os seguintes são precursores:

Nero —o perseguidor dos cristãos (Apocalipse 13:7; Apocalipse 17:6).


Considerado o Anticristo pelos primeiros cristãos. “Neron Kesar” (Nero César)
escrito em letras hebraicas, tem o valor numérico 666.

os imperadores de Roma – representantes do poder mundial (Apocalipse 17:3;


Apocalipse 17:9). Comp. Kesar Romim, “César dos Romanos”, em letras hebraicas
= 666.43

Maomé — o falso profeta; como foi considerado por muitos crentes no início da
Idade Média.

o Papado - a religião falsa, foi considerado como Anticristo pelas primeiras igrejas
evangélicas da Idade Média (valdenses, wicliffitas, hussitas), também por Dante,
Lutero e pelos reformadores, Bengel e outros.44

Napoleão – o conquistador do mundo. Na medida em que Napoleão representou o


domínio absoluto, que surgiu do radicalismo, ele é certamente um tipo do
Anticristo.45

Todos estes são mensageiros avançados do Anticristo.

43
Alos “Lateinos”, “Romano”, escrito em caracteres gregos. Então Irineu (cerca de 200 DC). Mais
adiante o titã grego, o gigantesco = 666 (Irineu.). Assim também a “prostituta” (Apocalipse 17:1;
Apocalipse 17:3; Apocalipse 17:9; Apocalipse 17:15), que está entronizada nas sete colinas e nas muitas
águas, inequivocamente a reunião de toda a terra, “a cidade de sete colinas (urbs septivllis).
44
Comp. o título latino do Papa, Vicarius filii Dei, Vigário do Filho de Deus, em letras latinas=666.
45
Além disso, a palavra grega para “besta”, escrita em caracteres hebraicos, tem o valor 666. Mas não
se deve dar muito valor às diferentes tentativas de explicar o número 666.
108
Duas linhas percorrem a história da humanidade: a linha de Cristo e a linha do Anticristo, a
linha da semente da Mulher e a da serpente. A linhagem de Cristo começa com Adão46, passa
pelo Gólgota e leva à Jerusalém celestial. A linhagem do Anticristo começa com Caim, passa por
Babel e leva ao lago de fogo. Cada um de nós hoje pertence a uma ou outra linha e é ao
mesmo tempo o preparador do seu próprio futuro. Ele está introduzindo e promovendo sua
própria conclusão final, da qual ele é ao mesmo tempo tipo e pré-representação. Ele é de Cristo
ou do Anticristo.

46
Adão imediatamente acreditou nas boas novas da vinda da semente da mulher (Gênesis 3.15). Isto é
mostrado pelo nome Eva (heb. Chavva vida) que ele deu à sua esposa (mulher Ischa, Gênesis 2:23)
imediatamente após a primeira promessa e certamente diretamente antes da expulsão do Paraíso
(Gênesis 3:1-24, contexto). “Afundado na morte, ele deu à sua esposa um nome tão orgulhoso”
(Calvino), e assim expressou sua confiança na conquista da morte pela vida. Assim, foi “um ato de fé
que Adão deu à sua esposa o nome de Eva” (Delitzsch), e desde então o nome dela foi para a
humanidade o “memorial da graça prometida de Deus” (mnemosymon gratia Dei promissa,
Melanchthon). Como Lutero disse sobre a primeira promessa: “Adão acreditou nisso e foi salvo da
queda”.
109
Capítulo 2. O Sistema do Anticristo
De acordo com Apocalipse 13:1-18, o Anticristo vem como o chefe de um sistema humano em
inimizade com Deus.

Em oposição e imitação bastante aberta da Triunidade Divina, este sistema é uma unidade de
três trindades:

Três pessoas: o Dragão, a Besta e o Profeta;

Três cidades: Jerusalém, Babilônia e Roma;

Três princípios: unidade mundial política, económica e religiosa.

É como uma pirâmide de três lados com a trindade satânica no auge. É a “torre de Babel” em
conclusão histórica final. Então, novamente, a destruição e o julgamento são a resposta de
Deus a este desafio da humanidade (Apocalipse 19:11-21; comp. Gênesis 11:7).
Correspondentemente, a natureza do Anticristianismo (além das três cidades) se apresenta da
seguinte forma:

a. A trindade pessoal:

(i) o anti-Deus; (ii) o anti-Filho; (iii) o anti-Espírito.

b. A trindade cultural:

(i) a unidade política; (ii) a unidade económica; (iii) a unidade religiosa.

A. A Trindade Pessoal
Três pessoas são o ápice espiritual do sistema (Apocalipse 16:13; Apocalipse 20:10): o
“Dragão”, como a autoridade demoníaca (Apocalipse 12:3; Apocalipse 12:9; Apocalipse 12:17;
Apocalipse 13:2); a Besta como política (Apocalipse 13.1-10); e o “falso profeta” como o
religioso (Apocalipse 16:13; Apocalipse 13:11-18). O Dragão é o anti-deus, a Besta o anti-filho
(Anticristo); o falso profeta, o anti-espírito.47

[1] O Anti-Deus

O Dragão é a contraparte do Pai. Ele é a “primeira” pessoa na trindade infernal (Apocalipse


16:13), o líder e sedutor de todo o sistema, o principal inimigo, “a velha serpente, que se
chama Diabo e Satanás” (Apocalipse 12:9; João 8:44). Ele está com a Besta em um
relacionamento semelhante ao do Pai com o Filho na Divindade:

assim como o Pai enviou o Filho ao mundo (João 6:57), assim Satanás, depois de
ser expulso do céu, envia o Anticristo (Apocalipse 2:7-12; Apocalipse 13:1-2);

47
Das duas “bestas” em Apocalipse 13:1-18, a primeira é o Anticristo, a segunda o seu profeta. Isto é
demonstrado por tudo o que foi dito acima a respeito do “anti-filho” e do “anti-espírito”. Além disso:
destes dois, a primeira Besta está sempre em primeiro plano (Apocalipse 13:12). A segunda tem
apenas a autoridade da primeira Besta (Apocalipse 13:12). O número 666, exatamente como a
“imagem” da Besta (Apocalipse 13:14; comp. 3:4), relaciona-se inequivocamente com a primeira Besta,
não com a segunda (Apocalipse 14:11; Apocalipse 15:2; Apocalipse 19:20). Quase todos os expositores
notáveis explicam isso. De acordo com Apocalipse 16:13; Apocalipse 20:10, o antiespírito, a segunda
Besta, é o “falso profeta”.
110
assim como o Pai deu toda autoridade ao Filho (João 17:2; Mateus 28:18-20),
assim o Dragão dá à Besta “seu poder e seu trono” (Apocalipse 13:2; Apocalipse
13:4);

assim como o Pai através do Filho, após sua ressurreição, recebe toda honra (1
Coríntios 15:28; João 12:27-28; Filipenses 2:11), assim o Dragão através da
Besta, após sua ressurreição, recebe a adoração da humanidade (Apocalipse
13:4).

[2] O Anti-Filho (Anticristo)

A Besta é a “segunda” pessoa na trindade demoníaca (Apocalipse 16:13), o opositor (2


Tessalonicenses 2:4), a grande paródia de Cristo.

1. Sua origem. Cristo desceu “do céu” (João 6:38; Filipenses 2:6-8); O Anticristo surge do
Abismo (Apocalipse 11:7).

2. Sua vinda. Cristo veio em nome do Pai; O Anticristo vem em seu próprio nome (João 5:43).

3. Sua natureza. Cristo é o “Santo” (Marcos 1:24) e incorpora a Verdade (João 14:6); O
Anticristo é o Iníquo (2 Tessalonicenses 2:8) e incorpora a Mentira (2 Tessalonicenses 2:9; 2
Tessalonicenses 2:11).

Cristo, o mistério da piedade (1 Timóteo 3:16), é o Redentor; O Anticristo, o mistério da


ilegalidade (2 Tessalonicenses 2:7), é o destruidor (Daniel 7:25).

Cristo, o Filho de Deus (Lucas 1:35), é a refulgência de Seu Pai (Colossenses 1:15; Hebreus
1:3); O Anticristo, o filho da perdição, é a exata semelhança do Dragão.48

4. Sua atividade. Cristo serviu três anos e meio em Israel (João 2:13; João 6:4; João 13:1); O
Anticristo domina o mundo por três anos e meio (Apocalipse 13.5).

5. Sua ressuscitação. Cristo é Aquele que ressuscitou dentre os mortos: o Anticristo é aquele
cuja ferida mortal foi curada (Apocalipse 13.3).

6. Sua esfera. Cristo tem a igreja, Jerusalém, a noiva (Efésios 5:31-32; Gálatas 4:26;
Apocalipse 21:9); O Anticristo tem o império mundial, a Grande Babilônia, a Prostituta
(Apocalipse 17:1-16).

Cristo constrói, a partir de materiais vivos, um organismo (Efésios 1:23; Efésios 4:12-16); O
Anticristo constrói com materiais mortos e organização (Apocalipse 13:17; Efésios 2:1).

A igreja de Cristo tem “o cálice da bênção, que nós abençoamos” (1 Coríntios 10:16); a cidade
mundial do Anticristo tem “o cálice da fornicação” (Apocalipse 17:4; Apocalipse 18:3;
Apocalipse 18:6).

7. Seu destino. Cristo conduz os Seus para a vida eterna (João 3:36); O Anticristo leva seus
seguidores à destruição e ao julgamento (2 Tessalonicenses 2:12).

48
Tanto o Dragão como a Besta são, simbolicamente, monstros com sete “cabeças” e dez “chifres”
(Apocalipse 13:3; comp. 13:1).
111
O próprio Cristo foi exaltado no céu (Filipenses 2:9); O Anticristo é lançado no lago de fogo
(Apocalipse 19:20).

[3] O Anti-Espírito

A “terceira” pessoa na triunidade satânica é o “falso profeta” (Apocalipse 16:13). Ele é tanto a
imitação quanto o contraste com o Espírito Santo, a segunda Besta de Apocalipse 13:11-18.

Ele é um profeta (Apocalipse 13:11; Apocalipse 16:13), assim como o Espírito de Deus é a
energia viva de toda profecia (2 Pedro 1:21).

Ele recebe tudo do Anti-filho (Apocalipse 13:12; Apocalipse 13:15), até o Espírito de Deus
deriva tudo do Filho. “Ele tomará do que é Meu” (João 16:14).

Ele magnifica o Anti-filho (Apocalipse 13:12; Apocalipse 13:16), assim como o Espírito de Deus
glorifica a Cristo (João 16:14).

Ele dá vida à imagem da Besta (Apocalipse 13:15), assim como é o Espírito de Deus quem dá
vida aos crentes (João 6:63; Romanos 8:11; Gálatas 5:25).

Ele causa o selamento dos homens com a marca da Besta (Apocalipse 13:16), assim como o
Espírito de Deus é nosso selo e penhor (Efésios 1:13; 2 Coríntios 1:22).

Ele causa e acelera toda adoração à Besta (Apocalipse 13:12), assim como o Espírito de Deus
causa toda a adoração ao Santo (João 4:23-24).

Assim, o todo é uma trindade infernal, um organismo monstruoso vindo do abismo, com
espírito, alma e corpo. O Dragão é o espírito, a Besta é o corpo, o falso Profeta é a alma de
tudo. E em relação às Pessoas da Divindade o Dragão é — o deus demônio; a Besta é o
messias de Satanás; o Profeta é — o espírito diabólico e profano.

Mas assim, na carreira do Diabo, o fim está ligado ao começo; pois agora é manifesto que o
sistema anticristão é nada menos que o ápice de toda rebelião satânica, a realização do seu
objetivo consciente de seu desejo de ser como Deus, a exibição completa e mais blasfema de
sua própria presunção: “Sereis como Deus” (Gênesis 3:5; Isaías 14:13-14; Ezequiel 28:2;
Ezequiel 28:6; Ezequiel 28:17).

B. A Trindade Cultural
[1] Unidade Política Mundial

Se de acordo com Apocalipse 13:1-18 “todos os que habitam na terra” adoram a Besta (ver. 8),
e “todos” recebem a sua marca, os pequenos e os grandes (ver. 16), e se ninguém mais puder
comprar ou vender, quem não o faz isso (ver. 17), e todos os que se opõem à adoração de sua
imagem são mortos (ver. 15), isso significa que um sistema humano está prestes a vir que
abrangerá política e civilmente todos os povos do mundo, que mais rigidamente organizaram,
supervisiona cada indivíduo e que, agindo com energia e sem tolerar oposição, exerce
jurisdição suprema.

Isto significa que a profecia bíblica prediz uma colaboração de todas as partes da terra, um
gigantesco sistema de civilização composto por todos os sistemas, uma união universal da
humanidade com uma só cabeça. “A ele foi concedida autoridade sobre todas as tribos e povos,
112
línguas e nações” (Apocalipse 13:7). Aqui está uma união de opostos; de entusiasmo
(Apocalipse 13:4) com medo (Apocalipse 13:5), de felicidade geral (Apocalipse 11:7-10,
especialmente 10) com severidade implacável (Apocalipse 11:7; Apocalipse 13:10; Apocalipse
17:6), de cultura idealista com despotismo (Apocalipse 17:6). A força centrípeta do todo supera
a força centrífuga da parte. Aqui está a audaciosa construção da torre dos babilônios do tempo
do fim (Gênesis 11.1-4; comp. Apocalipse 13.7), o ápice de toda auto-redenção da humanidade
sem Deus.

Portanto, também a linguagem figurada do Apocalipse continua a retratar esta situação mundial
do tempo do fim como a reunião e a culminação de todos os antigos impérios mundiais de
profecia, como o produto final de todo o esforço mundial alienado por Deus dos milênios da
humanidade, raça antiga, como a soma geral de todos os impérios “bestiais” das profecias de
Daniel:

O babilônio era um leão,

O persa era um urso,

O grego era um leopardo,

A quarta Besta era uma besta terrível (Daniel 7:2-8).

Mas a Besta anticristã é tudo isso ao mesmo tempo; sua forma de leopardo, seus pés de urso,
sua boca de leão e, como um todo, um monstro inspirado no Dragão (Apocalipse 13:2).

A mesma ideia surge do número de cabeças e chifres. O leão babilônico tinha uma cabeça, da
mesma forma que o urso persa, o leopardo grego tinha quatro, e o quarto, a terrível Besta,
uma, portanto juntos sete. E quanto aos chifres, os três primeiros não tinham nenhum, mas os
últimos tinham dez. Assim, no total, havia sete cabeças e dez chifres, exatamente o número da
primeira Besta no Apocalipse (13:1). Mas visto que esta é ao mesmo tempo uma reprodução
exata do Dragão, que também tem sete cabeças e dez chifres (Apocalipse 12:3), torna-se claro
que todo o desenvolvimento foi controlado pelo “deus deste mundo”, que o Dragão está por
trás de todo o labirinto dos assuntos humanos (1 João 5:19), que a história do pecador é uma
auto-revelação do Diabo, uma perversão chocante do antigo evangelho da serpente: “Sereis
como - Satanás, vosso deus”.

Mas com tudo isso fica claro que o governo do Anticristo não se estende a todo o mundo no
início de sua carreira, mas que ele antes de tudo luta por sua posição política. Surgindo numa
das regiões que anteriormente pertenciam ao antigo Império Romano, ultrapassará os Estados
vizinhos em poder político, estenderá o seu domínio a terras mais distantes e, em particular,
obterá o poder supremo sobre um grupo de Estados que, no tempo do fim, existirá na área do
quarto império mundial de Daniel (Apocalipse 17:12). Estes correspondem aos dez dedos da
imagem de Nabucodonosor (Daniel 2:41) e aos dez chifres da quarta besta de Daniel ' visão
(Daniel 7:7; Daniel 7:24).

Entre esses dez chifres, ele aparece inicialmente apenas como um chifre pequeno, mas que
finalmente supera todos os demais em tamanho e poder. Com este reino de dez chifres como
seu próprio reino, sua influência se estenderá a todos os outros povos, mesmo que estes não
possam a princípio ser incorporados ao seu próprio reino.

113
Mas, numa medida cada vez maior, ele colocará sob o seu controlo a vida política, industrial e
comercial, bem como a vida religiosa e filosófica de todo o mundo. Ele resolverá seus
problemas civis e sociais, despertará seu entusiasmo, suprimirá suas religiões (2
Tessalonicenses 2.4) e atrairá para si sua adoração (Apocalipse 13.4). Finalmente, tendo
atingido o ápice de seu poder, ele dominará toda a sua vida exterior e interior de uma maneira
imponente, mas ao mesmo tempo desafiadora de Deus (Apocalipse 13.7).

Mas, finalmente, como parece, esta influência mundial, fascinante e fascinante sobre os povos,
em certa medida, declina. Em várias partes do mundo o entusiasmo diminui. Algumas nações
se revoltam. As guerras estouram. A combinação da humanidade como uma unidade está em
perigo. Ele é vitorioso contra oponentes poderosos, especialmente o Egito (Daniel 11.40-43),
mas finalmente ocorre sua própria derrubada.

Tais eventos militares no final do período Anticristão são sugeridos nas profecias de Daniel.
Polegada. 11 o profeta dá primeiro um esboço do futuro então próximo, das guerras entre o
“rei do sul” e o “rei do norte”, isto é, dos conflitos políticos e militares entre o Egito e a Síria no
terceiro e segundo séculos antes de Cristo. Ele tem especialmente em vista Antíoco Epifânio
(175-164), o principal inimigo da adoração de Jeová por Israel, o tipo especial do Anticristo.

Mas então a profecia, considerando o tipo e o cumprimento final juntos, passa cada vez mais
para o verdadeiro Anticristo dos dias do Fim, e diz o que acontecerá no “tempo do fim”. Esta
expressão “tempo do fim” é usada duas vezes no contexto (Daniel 11:35; Daniel 11:40).
Independentemente do significado óbvio e adequado da palavra em si, ela é inequivocamente
conectada pelo profeta com o verdadeiro tempo do fim, pois em conexão imediata Daniel diz
que “naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe que representa os filhos do teu
povo; e haverá um tempo de angústia, como nunca houve desde que houve nação até aquele
mesmo tempo; e naquele tempo o teu povo será libertado... E muitos dos que dormem no
pó da terra despertará; estes para a vida eterna, aqueles para vergonha e aversão eterna”
(Daniel 12:1-2).

Esta conexão deixa claro que, permitindo a referência na visão ao Anticristo típico (Antíoco
Epifânio), o profeta leva cada vez mais adiante sua profecia até o Anticristo real, e traz cada
vez mais distintamente o anticristão dos tempos do Fim para o centro de sua mensagem. É
exatamente nesta conexão que ele diz que “no tempo do fim o rei do sul (Egito) contenderá
com ele (isto é, o Anticristo)... e ele (o Anticristo) estenderá a mão sobre os países: e a terra do
Egito não escapará” (Daniel 11:40; Daniel 11:42). A passagem inteira, com ver. 44, sugere
aquele declínio final de sua influência que foi mencionado acima. Caso contrário, tais revoltas
não seriam possíveis, embora ele seja capaz de derrotá-las.

Mas finalmente o próprio Anticristo “chegará ao seu fim” (Daniel 11:45). Ele mesmo, com seu
reino central e todos os seus muitos servos e vassalos, será reduzido a nada por Cristo quando
Ele aparecer com os exércitos do céu em glória e poder (Apocalipse 19:11-21; 2
Tessalonicenses 2:8).

No entanto, a Bíblia não ensina com isso que Deus é contra toda união da raça humana. Pelo
contrário, a comunhão mais próxima, mais espiritual e abrangente da humanidade é
precisamente a Sua intenção (Miquéias 4:1-4). Mas esta comunhão está em Cristo, Seu Filho, a
quem Ele constituiu Rei (Salmos 2:6; Efésios 1:10; João 10:16); tem a si mesmo como centro
114
(Zacarias 14:9); e traz bênçãos para a humanidade na escala mais mundial. A compreensão
entre os povos, a estima mútua, o apreço recíproco, a cooperação na paz — tudo isto é tão
pouco anticristão que é exatamente a vontade de Deus. Aquilo que as Escrituras chamam de
anticristão não é a forma exterior, mas a revolta religiosa da alma, a rejeição unida de Cristo, a
decisão consciente contra Deus. Assim, o anticristianismo, quanto à sua essência, reside no
plano da crença, não no da cultura em si, mas no do culto (aquele que se venera como
divino), não na esfera da perspectiva histórica, mas na esfera da religião. É a concentração do
ódio a Cristo, a revolta contra o Altíssimo, a tentativa de destronar o Senhor supremo dos
mundos.

[2] Unidade Comercial Mundial

De acordo com Apocalipse 13:17 “ninguém em toda a terra ” que não receber a marca da
Besta poderá mais comprar ou vender. Isto só será possível se todos os comerciantes, com
todos os empreendimentos sociais e industriais, estiverem sob uma supervisão comum, se
existir um centro no mundo onde tudo esteja organizado e centralizado, uma colaboração geral
de todos os homens, que exerça um controle e domínio absolutos sobre comércio mundial.
Assim, o Novo Testamento prediz uma gigantesca organização da humanidade que abrangerá
cada indivíduo dos seus membros, incluindo os trabalhadores individuais e os pequenos
empregadores49, e exercerá sobre todos os povos o direito exclusivo de comércio; uma
Autoridade Comercial comum que orienta toda a vida comercial, sem cuja marca ninguém pode
continuar a fazer negócios.

Também aqui não é a forma comercial que é anticristã. Somente o mal-entendido mais
grosseiro poderia afirmar isso. A supervisão da vida comercial — exercida livremente por cada
nação civilizada — é uma necessidade na vida de cada nação, uma medida indispensável para
se proteger contra a injustiça social. Exercida corretamente é um pré-requisito para a
preservação da vida, para o avanço e a ascensão. O antagonismo a Deus do tempo do fim
consiste muito mais nisso, que tudo isso será mal utilizado na luta contra o Eterno, para a
destruição do Cristianismo Bíblico, para a opressão brutal de qualquer um que confesse fé em
Deus (Apocalipse 13:17, comp. ver. 7; 17:6; 18:24; 20:4).

[3] Unidade Religiosa Mundial

1. Auto-Deificação da Humanidade. De acordo com as profecias do Apocalipse, o Anticristo


será adorado (Apocalipse 13:8; Apocalipse 13:12; Apocalipse 14:9; Apocalipse 16:2). Ele se
torna o admirado de toda a terra (13:3), o honrado de todos os seus habitantes (13:8),
inflamando o entusiasmo das massas (13:4; 11:10). Dir-se-á dele: “Quem é semelhante à
Besta? Quem é capaz de guerrear com ele?” (13:4). Ele se torna o ápice da humanidade, a
personificação de seus ideais mais elevados, a perfeição visível de todo o gênio humano, na
verdade “o homem ” no sentido mais elevado da palavra. Na divinização do seu próprio poder
ele se exaltará acima de tudo o que é divino, se colocará no templo de Deus e representará que
ele é Deus! (2 Tessalonicenses 2:4).

49
Os crentes que se recusam a receber a marca e, portanto, são boicotados e até executados
(Apocalipse 13:13; Apocalipse 13:17), sem dúvida, como em todos os tempos, serão em sua maioria de
posição humilde (1 Coríntios 1:26-28).
115
Mas, desse modo, a adoração a ele torna-se a adoração da humanidade em geral, e quem lhe
resiste ao corpo coletivo; no sentido mais ofensivo da palavra, ele é, entre todos os homens, o
Ofensor; ele é Insurgente e Rebelde e, portanto, está sob sentença de destruição.

Através de tudo isto, o sistema anticristão torna-se uma associação político-religiosa com uma
fusão de Estado e religião, uma Igreja Mundial auto-deificante marcada pela intolerância de
todas as convicções opostas. Assim ocorrerá a retirada da liberdade religiosa, a compulsão
religiosa, a escravização planeada da consciência, a execução em massa de50 cidadãos
respeitáveis apenas por causa da consciência.

Esta é a religião do Anticristo: é a detestável doutrina da divindade do homem, da fé em si


mesmo, da deificação do próprio espírito. É a tentativa mais imponente de escapar às
consequências do pecado sem deixar de lado o próprio pecado, o resultado final do
“progresso”, a soma total e a conclusão de toda a civilização alienada de Deus.51

2. Religião do Estado. A anticristandade não é, portanto, irreligiosa, mas um contraste


religioso com o cristianismo. Não se trata de uma eliminação da religião, mas do
estabelecimento de uma religião estatal; não se trata de menosprezá-lo, mas de atribuir-lhe um
valor tão elevado que a autoridade do Estado é exercida em seu favor. Não é simplesmente
paganismo, mas um super-paganismo. É o paganismo com conquista e rejeição do cristianismo
bíblico. É a glorificação e adoração de si mesmo por uma geração adúltera (Mateus 12:39;
Filipenses 2:15); é tornar-se um deus e, portanto, é a completa impiedade, o clímax de toda
abominação e idolatria do mundo. “Não é carne, mas espírito, não é loucura, mas sabedoria,
não é fraqueza, mas força; não é humano, mas demoníaco, não é simples, mas cheio de
mistério, não é escuridão por brilho ofuscante.”

Exteriormente aparece como uma União Mundial religiosa, como uma combinação de negócios,
política e fé; como uma mistura política de comércio, assuntos externos e religião; como União
de Estado, comércio e Igreja, ou seja, uma concentração de três linhas de vida já
concentradas. Seu chefe é uma personalidade extraordinária, um organizador inventivo e único,
“um gênio em política, ciência, arte e finanças sociais, de tipo religioso, e dotado dos poderes
ocultos do mundo invisível” (2 Tessalonicenes 2:9).

Mas por dentro é oco e vazio, nada mais sendo do que a filosofia da folha de figueira do
primeiro homem (Gênesis 3:7), a filosofia de auto-redenção do primeiro assassino, o evangelho
da serpente do primeiro enganador: “Sereis como Deus."

E como a soma de tudo, é o ápice da revolta humana, o zênite da civilização da semente da


serpente. O reino terreno dos céus, o governo de “Deus” sem Deus e, portanto, de todas as
religiões da história, a mais antagônica ao verdadeiro evangelho. (Apocalipse 13:7; Apocalipse
17:6).

50
Os “santos” de Deus (Apocalipse 13:7; Apocalipse 17:6; Apocalipse 18:24), as “testemunhas”
(Apocalipse 11:3; Apocalipse 11:7) e os “profetas (Apocalipse 16:6).
51
Neste sentido, o número puramente simbólico 666 é o lema do Anticristo. Pois 6 é o número do
homem — no sexto dia o homem foi criado, no sexto dia (sexta-feira) ele foi redimido no Gólgota. Mas
666 é o total de todos os números de 1 a 36, o quadrado de 6 (6x6=36:1+2+3+4 ... 35+36=666).
116
3. O Pináculo da Religião. O próprio Anticristo será o “contra” Cristo porque ele é o Cristo
“mentiroso”, o pseudo -falso Cristo (Mateus 24:5; Mateus 24:23-24). Ele não apenas suprimirá
Cristo, mas O suplantará. No que diz respeito à cultura humana, ele não negará abertamente a
expectativa geral que os cristãos associam à pessoa de Jesus de Nazaré; pelo contrário, ele
começa com isso e confia nele; mas ele se descreve como seu cumprimento e, assim, tornaria
supérfluo o verdadeiro Cristo. Assim, ele confirma intelectualmente a ideia de Cristo e
prossegue como o Cristo “substituto”; ainda assim, ele nega o Cristo pessoal da profecia e é,
portanto, o “opositor” (2 Tessalonicenses 2:4) e “anti”-Cristo.

Este duplo caráter corresponde às duas designações “pseudo-Cristo” (Cristo mentiroso, Marcos
13:22) e Anticristo (contra Cristo). Como Anticristo, ele se opõe a Cristo; como o Cristo
mentiroso, ele se declara, por assim dizer, "Cristo." Ele é as duas coisas ao mesmo tempo, já
que é o “Cristo substituto” intelectual.

Assim, ele é, por assim dizer, o Messias do mundo, o seu Salvador cultural, a sua Cabeça
salvadora. Ele se coloca diante dela como o centro de gravidade de sua ordem, o centro de sua
esperança, a meta de seu desenvolvimento. E contra a verdade celestial de que em Cristo
Deus se tornou homem, ele coloca a mentira demoníaca de que nele o homem se tornou
Deus (2 Tessalonicenses 2.4).

Portanto, é uma fixação da fé neste lado, uma transformação do celestial em terreno, uma
humanização da concepção de Deus. Por outro lado, é uma deificação do intelecto humano,
uma reivindicação de ser igual a Deus; na verdade, uma vontade de substituir o Divino e,
portanto, é o pecado final e aperfeiçoado.

117
Capítulo 3. Sinais do Tempo
De acordo com as Escrituras, no final dos tempos ocorrerá uma rebelião contra Deus que
abrangerá todos os povos, uma negação do Cristianismo Bíblico por todas as civilizações e
culturas.

Será possível tal situação mundial? Pelo menos, não é improvável? O que a história da
civilização diz sobre isso?

A civilização em si não é ímpia e muito menos anticristã. Pelo contrário, as conquistas culturais
fazem parte da nobreza paradisíaca do homem. A invenção e a descoberta, a ciência e a arte, o
refinamento e o aperfeiçoamento, em suma, o progresso do espírito do homem, são
inteiramente a vontade de Deus. São a tomada de posse da terra pela raça real da
humanidade, a realização de uma tarefa criativa pelos enobrecidos servos de Deus, um serviço
de governo designado por Deus para a bênção da terra. “Crescei e multiplicai-vos, e enchei a
terra, e sujeitai-a, e dominai” (Gênesis 1:28). Somente um completo mal-entendido das leis
mais simples da revelação pode, portanto, encontrar falhas na Sagrada Escritura como sendo
uma forma retrógrada de pensamento e inimiga da cultura. Não, o que a Bíblia rejeita e o que é
contrário a Deus não é a cultura em si, mas o afastamento de Deus de milhões de seus
representantes, o isolamento do céu do pecador, as falsas farsas “religiosas”, a negação da
soberania de o Altíssimo, o espírito de soberba e de rebelião, a exclusão consciente de Deus,
em suma, a insurreição contra o próprio Senhor. “Não queremos que este nos governe ”
(Lucas 19:14).

Assim, a estrutura externa da história da civilização não está em oposição a Deus, muito menos
ao anticristão. O que importa é antes o espírito, a substância moral das ações, a aplicação
moral do avanço cultural, a atitude do coração de cada indivíduo para com Deus. Além disso, a
política e a história estão completamente interligadas no plano de Deus (Provérbios 21:1; 1 Reis
11:14; 1 Reis 11:23; Isaías 45:1-7) e são governadas pelo Altíssimo como o Senhor supremo do
mundo.

1. O Mistério do Quarto Império Mundial de Daniel. O quarto império mundial da profecia


de Daniel nunca morreu. O ferro na imagem de Nabucodonosor ia das coxas aos pés (Daniel
2:33). No sentido da profecia, dura até o fim dos tempos atuais. Após o império ser
despedaçado, segue-se imediatamente o estabelecimento do reino do Filho do homem
(Daniel 7:7-14; Daniel 2:33-35; Daniel 2:44).

Em nenhum lugar das Escrituras este quarto império de Daniel é descrito expressa e
diretamente pelo nome “Roma”. Mas não há dúvida de que o antigo império romano foi a sua
primeira fase. O quarto império começa com Roma.

Mas a velha Roma ruiu. Mesmo nos primeiros dois séculos depois de Cristo, e apesar de todo o
esplendor do período dos Césares, declinou em força interior e poder exterior. Pela divisão do
império pelo imperador Teodósio (395 DC), ele foi dividido em duas seções, o império ocidental
com capital na própria Roma (Imperador Honório), e o império oriental com capital em
Constantinopla (Imperador Arcádio). Numerosos expositores pensam que isto foi representado
pelas duas pernas da imagem de Nabucodonosor. O império ocidental foi pouco depois
destruído pelos invasores do norte (Odoacro, 476), e o oriental mil anos depois (1453) pelos
turcos sob o comando do sultão Mohammed II.
118
No entanto, das terras que originalmente haviam sido incluídas no Império Romano saíram os
impulsos mais poderosos e decisivos para o desenvolvimento posterior dos povos civilizados
sobreviventes da esfera deste antigo Império Romano. Somente este fato nos permite
compreender por que, apesar de todas as variações individuais, e após o colapso político de
Roma, a profecia bíblica vê os desenvolvimentos consequentes como ligados a esse império, e o
apresenta como uma unidade histórica, até mesmo como sendo o único quarto império
mundial de Daniel, continuando desde o início da época romana até o fim da era atual.

A administração romana viveu na Igreja de Roma. As províncias eclesiásticas coincidiam com as


províncias do Estado; e Roma, a principal cidade do império mundial, tornou-se a principal
cidade da Igreja mundial, a sede do Papado.

A língua romana sobreviveu no latim da Igreja e ainda é usada na linguagem técnica


internacional do direito, da medicina e das ciências naturais.

O direito romano sobreviveu na legislação. O corpus juris Romanum (corpo de direito romano)
do imperador romano oriental Justiniano (527-565 dC) tornou-se a base da jurisprudência entre
os povos latinos e germânicos durante a Idade Média e até os tempos modernos.

O exército romano viveu em sistemas militares. Tornou-se o modelo para armamentos e defesa
ocidental. Ainda usamos palavras latinas como capitão, major, general, batalhão, regimento,
exército, infantaria, artilharia e cavalaria.

Os governantes da Europa central eram chamados de Kaiser. Na Idade Média eles eram
frequentemente coroados em Roma, como Carlos Magno em 800 d.C. e Otão, o Grande, em
196252. Os governantes do leste e do sul da Europa (Rússia e Bulgária) eram chamados de
czares. Ambos os títulos provinham do nome pessoal do romano Caio Júlio César, que se tornou
título (século I a.C.).

Também o espírito da concepção romana do Estado sobreviveu. Foi marcada pela mais severa
disciplina, vontade de ferro, centralização, subordinação do indivíduo à comunidade, devoção
ao Estado, crença na sua eternidade, expressa na "Roma eterna" (Roma aeterna), idolatria do
Estado, como na Romana culto ao imperador, fusão do homem com o cidadão.

Por fim, um certo mistério paira sobre a história da própria cidade de Roma:

cerca de 1000 a.C. — uma aldeia pobre.53

por volta de 100 d.C. — uma cidade de 1.000.000 habitantes.54

na Idade Média —uma cidade provinciana de médio porte.55

desde o século XVI —aumentando gradualmente.56

52
Só em 1806, durante os ataques de Napoleão, a dignidade imperial do Kaiser “romano” foi
abandonada por Francisco II da Áustria.
53
Roma é pelo menos 300 anos mais velha que o ano oficial de sua fundação, 753 a.C.
54
700 mil habitantes, mais 300 mil escravos.
55
25.000 a 40.000 habitantes. Em 546, depois de despedidos em diversos momentos do período
migratório, restavam apenas 500 habitantes.
56
1870. A unificação da Itália. 215.000 habitantes.
119
desde 1870 —crescimento forte e rápido.57

hoje — novamente um milhão de habitantes, como nos dias dos imperadores


romanos.

Muitos desses fatos são apenas incidentes históricos. Muitos deles aparecem apenas por um
breve período e desaparecem. O valor de observá-los reside no facto de nos permitirem
perceber que, mesmo depois do colapso de Roma, no desenvolvimento subsequente dos povos
da sua região, e no contexto de todo o processo, existe um trabalho contínuo, força histórica
homogênea e dinâmica que, em formas sempre novas, mostra sua permanência, vitalidade e
força. Isto mostra que, num sentido mais amplo, o todo é na verdade um reino. Ao mesmo
tempo, esta continuidade, que abrange séculos, torna-se um testemunho sublime da fiabilidade
dos profetas, da sua compreensão da realidade e da exatidão da sua previsão histórica.

Mas o centro e o peso de toda a profecia bíblica quanto ao quarto império reside no futuro. Na
verdade e estritamente a profecia não se preocupa com as “pernas” da imagem imperial de
Nabucodonosor, mas sim com os “dedos” dos seus pés. Mostra claramente que, no
desenvolvimento final do quarto império, o império anticristão incluirá um grupo de Estados
correspondentes aos dedos dos pés da imagem (Daniel 2:40) e aos dez chifres da quarta besta
da visão de Daniel, do qual o Anticristo finalmente surgirá como o “chifre pequeno” (Daniel 7:7-
8; Daniel 7:20-25).

Mas que no final dos tempos a última fase deste quarto império mundial verá uma restauração
exata da sua primeira fase, isto é, que no tempo anticristo haverá uma renovação literal e
territorial e um renascimento do Império Romano, com as mesmas fronteiras e, sem dúvida, a
mesma capital — esta Sagrada Escritura em nenhum lugar afirma claramente58. Mesmo no
passado, as fronteiras do antigo Império Romano não eram invariáveis e, em qualquer caso,
um reino permanece o mesmo reino, mesmo que as suas fronteiras sejam estendidas muito
além do seu limite anterior, e mesmo que a sua capital seja transferida para outro lugar. Assim,
a China continuou a ser China, embora a sua capital tenha sido transferida de Pequim para
Nanquim, cerca de 910 quilómetros a sul. A Rússia continuou a ser Rússia, embora a sua capital
já não fosse São Petersburgo, mas, como agora, Moscovo. Ou, para tomar um exemplo da
história da Europa Ocidental, a Inglaterra continuou a ser Inglaterra, embora originalmente a
sua capital não fosse Londres, mas, nos tempos dos antigos reis saxões, Winchester, cerca de
20 quilómetros a norte de Southampton, e Londres tornou-se a capital apenas no século XIII.
Da mesma forma, o quarto império de Daniel permanecerá o mesmo império, mesmo que, no
desenvolvimento final, não a Roma literal, isto é, a sua primeira capital, mas alguma outra
cidade se torne a capital.

Vários expositores notáveis pensam ter encontrado na palavra profética terreno abundante para
acreditar que no tempo do fim a antiga Babilônia no Eufrates será reconstruída, para ser o
centro do império mundial anticristão. Babilônia, a “mãe de toda prostituição e idolatria”
(Apocalipse 17:5)! Babilônia, o centro “de todas as abominações na terra”! Babilônia é o

57
1950. Mais de 1.000.000 de habitantes.
58
[Este assunto é de importância crucial. Aqui é oferecida a opinião de que as Escrituras não apenas em
nenhum lugar declaram claramente a visão mencionada, mas são claramente contra ela. Veja minhas
Histórias e Profecias de Daniel e A Revelação de Jesus Cristo.]
120
começo, Babilônia é o fim de toda apostasia religiosa e moral da atual história humana sem
Deus!

Os reinos mundiais só entraram plenamente na visão profética quando se uniram à Babilónia no


Médio Oriente e consideraram-na como o seu centro. Assim, Nabucodonosor, o soberano do
primeiro império mundial da profecia, teve Babilônia como sua capital. Os medos e os persas já
existiam há séculos, mas só se tornaram um império mundial no sentido profético com a
conquista da Babilônia por Ciro e a remoção da capital persa para lá. O mesmo aconteceu com
os gregos. O desenvolvimento da sua alta civilização ao longo de muitos séculos não foi incluído
na perspectiva profética. Isto não aconteceu até que Alexandre, o Grande, após a derrubada
dos persas, conquistou o Oriente e escolheu Babilônia como sua capital. Somente a partir de
então o reino grego é o império do terceiro mundo no sentido da profecia. E não será que o
quarto império mundial de Daniel também só terá alcançado a sua culminação e perfeição se
também reconstruir a Babilónia na Mesopotâmia como o centro do Anticristianismo?

Não respondemos a esta pergunta com total segurança. A possibilidade de tal desenvolvimento
permanece. Mas o cumprimento será a explicação completa da profecia.

Até então esperamos. Na consciência da nossa insuficiência buscamos a palavra profética. Mas
isto já vemos claramente: que o caminho da história mundial se move continuamente para o
Oriente como seu centro e que o curso dos acontecimentos conduz cada vez mais claramente
para o primeiro plano do desenvolvimento final.

2. Muitos sinais dos tempos mostram inequivocamente que o Fim se aproxima.

Rápido desenvolvimento de meios de comunicação. Os povos se unem. Os eventos


mundiais se expandem. A Europa foi tirada do seu orgulhoso isolamento. Desde o século XIX,
surgiu pela primeira vez uma unidade na história mundial. O que antes era assim chamado era
apenas uma história de parte da humanidade, mesmo que das principais civilizações, asiática
ocidental, egípcia, europeia e americana. Agora, tudo é como uma roda dentada, com
interação de todas as partes da terra.

Comércio Mundial. Século dezenove. Absorção de pequenas indústrias por grandes indústrias
similares – construção horizontal. Século XX. Absorção de diferentes pequenas e grandes
indústrias em “preocupações” gigantes, trustes. Conjunto de minas de carvão, fábricas de
máquinas, cais, empresas de navegação, fábricas de açúcar, empresas cinematográficas,
jornais, etc., para a produção e distribuição de mercadorias, desde a matéria-prima até ao
produto acabado – construção vertical.

Controle do comércio varejista. Combinações centrais obrigatórias. Cartões de racionamento,


cupons. Possível prevenção de todas as “compras e vendas” (Apocalipse 13:17). Sistema
moderno de boicote.

Medidas de melhoria por parte dos governos. Reações e reformas. Novos programas
económicos. Mas isto também só é possível através da centralização e da organização; caso
contrário, impossível. Só assim a salvação da ameaça de colapso. A organização em si não é
anticristã, mas antes uma medida necessária na vida das nações para o bem-estar comum.

Aumento do intercurso mundial. Ritmo acelerado dos acontecimentos mundiais.

121
Desenvolvimento da Técnica de Guerra. Melhoria das mais horríveis armas de matança.
Perigo de autoextinção da principal nação civilizada. Portanto, considerado apenas do ponto de
vista técnico, aumenta a necessidade de um entendimento entre as nações para a manutenção
da paz (1 Tessalonicenses 5.2-3).

Exércitos que somam milhões. “Duas vezes dez mil vezes dez mil”, isto é, 200 milhões
(Apocalipse 9:16). Já na guerra de 1914-18, 40 milhões estavam envolvidos. Só os mortos
foram 9 milhões, e morreram, incluindo as mortes por peste, outros 35 milhões.

Um terço da humanidade foi morta (Apocalipse 9:15; Apocalipse 9:18). Certamente


inteiramente possível agora. Ataques de avião! Bombas voadoras! Bombas atômicas e de
hidrogênio! Uma guerra total europeia – a destruição da Europa, literalmente. A supercivilização
é a assassina da cultura.

Propaganda mundial religiosa. O Falso Profeta trará todos, pequenos e grandes, para
adorar o Anticristo (Apocalipse 13:12; Apocalipse 13:16).

Supressão da liberdade religiosa. Execuções em massa por causa de convicções espirituais


(Mateus 24:9; Apocalipse 13:15; Apocalipse 17:6; Apocalipse 18:24) ainda são possíveis hoje?
Apesar do “progresso” e da “melhoria mundial”? Sim, mesmo nos tempos modernos houve e há
perseguições por causa da fé cristã.

Guerras e rumores de guerra até o fim (Mateus 24:6-7). No entanto, apesar de tudo isso

Evangelização Mundial. “O evangelho do reino será pregado em todo o mundo, para


testemunho a todos os povos, e então virá o fim” (Mateus 24:14).

Até 1500 DC. Bíblias impressas e porções distribuídas em 14 idiomas.

1800. Em 17 idiomas.

1804. Fundação da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira.

1930. De acordo com o Dr. Kilgour, Diretor de Tradução da Casa Bíblica de


Londres, em mais de 900 idiomas (incluindo as traduções de todas as Sociedades
Bíblicas). Isto significa que “a cada cinco ou seis semanas um novo idioma pode
ser adicionado às listas da nossa Sociedade”.

1948. O número de línguas e dialetos principais aumentou para mais de 1.100,


dos quais a Sociedade Britânica publicou 770, e emite todos os anos mais de 11
milhões de exemplares das Escrituras. (O Evangelho em Muitas Línguas, 1948, pp.
187, 188).

Uma preparação verdadeiramente poderosa para a evangelização dos povos no tempo do fim
(Apocalipse 7:9-11).

Israel. Por um lado, agosto de 70 dC viu a destruição de Jerusalém por Tito, com 1.100.000
mortos. E

em 135 seguiu-se o colapso do Estado nacional judeu após a derrota do “filho das
estrelas”, Bar Kochba (comp. Números 24:17), 500.000 mortos. Expulsão de
todos os judeus da Judéia e de Jerusalém (Deuteronômio 28:64; Levítico 26:33).
122
Por outro lado, vemos a indestrutibilidade do povo judeu, mesmo sob o julgamento divino
(Isaías 66:22; Jeremias 33:20-26; Mateus 24:34). Hoje, depois de séculos de julgamentos
catastróficos59, há duas vezes mais judeus do que nos dias mais esplêndidos de David e
Salomão. Como cerca de um quarto dos habitantes de uma terra são capazes de prestar serviço
militar, segue-se de 2 Samuel 24.9 que a população total nos dias de Davi era de cerca de
5.000.000. Mas hoje existem cerca de 12 milhões de judeus na terra. Por outro lado, com
exceção de Roma, observe o colapso ou declínio de todos os outros povos civilizados antigos.

Além disso: em 28 de setembro de 1791, a Assembleia Nacional Francesa anulou todas as leis
especiais contra os judeus. Desde então no

Século XIX, um rápido desenvolvimento da influência judaica em uma grande potência na


política, na imprensa e nas altas finanças.

1897. Fundação do Sionismo. Esforços sistemáticos para retornar à terra de seus pais.

27 de fevereiro de 1919. Conferência em San Remo. A Palestina declarou o lar nacional do povo
judeu sob mandato britânico, em virtude da Declaração Balfour de 1917. Em 26 de fevereiro de
1923, o Conselho Principal (Sinédrio) realizou a sua primeira sessão em muitos séculos. Depois
de mil e quinhentos anos, a língua hebraica “morta” é novamente a língua viva das relações
comuns em Erez Israel, a terra de Israel – 1918 viu o estabelecimento da Universidade
Hebraica no Monte Scopus. Em 1900 havia cerca de 50 mil judeus no país; em 1936, o número
já era de cerca de 375.000. A população judaica é agora superior a um milhão.

1948. Assistiu à criação de um governo judaico na Palestina mais de dezoito séculos depois de
135 dC. Tudo isto é o despertar do Próximo Oriente. A “figueira” de Israel floresceu (Mateus
24:32; comp. Lucas 13:6-9; Mateus 21:19). Os “ossos mortos” começam a se mexer e a se
juntar (Ezequiel 37:7). Israel, o “ponteiro do relógio mundial de Deus”, já aponta para meia-
noite.

Assim, vemos em todos os lugares evidências da possibilidade histórica e do sentido literal das
profecias bíblicas do fim (Mateus 16:2-3).

1. Na vida política:

o despertar do Oriente (Apocalipse 16:12; Apocalipse 9:14-16);

o retorno dos judeus à Palestina (Isaías 11.11);

59
Além dos números acima indicados, em
Maio a julho de 1096: 10.000 judeus foram mortos na Renânia, Alemanha.
1º de novembro de 1290: Expulsão de todos os judeus (mais de 1.600) da Inglaterra sob
ameaça de enforcamento. Retorno legalmente sancionado somente após 370 anos, por
Cromwell.
20 de abril até o outono de 1298: 100.000 judeus mortos na Francônia, Baviera e Áustria.
Setembro de 1306: 100.000 judeus expulsos da França sob ameaça de morte.
2 de agosto de 1492: Expulsão de 300.000 judeus da Espanha sob ameaça de morte pela
Inquisição.
1648-58: Morte de cerca de 400.000 judeus polacos na guerra entre a Rússia, a Polónia e a
Suécia.
1939-45: Assassinato de pelo menos muitas centenas de milhares de judeus na Segunda Guerra
Mundial.
123
a fermentação política mundial geral (Mateus 24:6-7).

2. Na vida económica:

tensão entre ricos e pobres (Tiago 5.1-8);

organizar e centralizar (Apocalipse 13:17).

3. Na vida técnica:

desenvolvimento das relações mundiais —aproximação dos povos —


melhoramento da técnica de guerra—necessidade de compreensão mundial
devido ao perigo de auto-aniquilação dos principais povos civilizados.

4. Na vida religiosa:

autodeificação (2 Tessalonicenses 2.3-4);

espiritismo (1 Timóteo 4:1);

piedade fingida (2 Timóteo 3:5; comp. 1);

fanatismo (Mateus 24:4-5; Mateus 24:11; Mateus 24:23-26);

doutrinas falsas (2 Timóteo 4:3-4; 2 Pedro 2:1-2).

5. Na vida moral:

segurança carnal (Mateus 24.37-39; 1 Tessalonicenses 5.3);

conduta imoral (2 Timóteo 3:1-4);

zombaria arrogante (2 Pedro 3:3-4).

6. Na natureza:

Terremotos60 e desastres naturais (Mateus 24:7; Joel 2:3; Joel 2:10);

comp. sinais no sol, na lua e nas estrelas (Mateus 24:29).

7. Na vida da igreja de Deus:

Circulação da Bíblia e evangelização mundial (Mateus 24:14);

Mornidão de muitos (Apocalipse 3:16; Mateus 25:5; Lucas 18:8), mas vigilância
dos fiéis Lucas 12:37).

Mas à meia-noite soará um grito: “Eis o Noivo! Saí ao seu encontro (Mateus
25:6).61

60
“Entre os anos de 1600 a 1700 foram registrados quatro grandes terremotos; entre 1700 e 1800 sete,
de 1800 a 1900 nove. No último quarto de século (1901-1925) já havia quatro – o da Martinica (30.000
mortos), São Francisco, Messini (100.000 mortos) e Tóquio (230.000 mortos)” (FP Keller).
61
No entanto, ainda existem poderes que trabalham decididamente a favor do atraso. Portanto, toda
tentativa de datar antecipadamente o cumprimento deve ser evitada. Em particular, há uma pessoa que
e uma coisa que “restringe” (2 Tessalonicenses 2:6-7), mas quem e o que são essas coisas não pode ser
pronunciado com certeza. A visão da maioria dos Padres da Igreja era que se tratava do Império
124
Romano (então Irineu, Tertuliano, Hipólito, Jerônimo e Crisóstomo). Teodoreto pensava que era a
idolatria pagã, JP Lange o espírito moral da vida do Estado, Calvino a pregação do evangelho, Darby a
igreja e o Espírito de Deus, Bullinger o Diabo que “mantém firme” sua posição no céu e deve ser expulso
pelo arcanjo Miguel (Apocalipse 12:7 ss.) antes que ele permita que o Anticristo saia na terra
(Apocalipse 13:1-18). Agostinho comenta bem: “Os tessalonicenses entenderam isso ('Vocês sabem', 2
Tessalonicenses 2:6); Não sei nada disso: mas não esconderei as suposições dos outros.”
[Uma sugestão mais recente é que, como o Anticristo é um rei que viveu anteriormente na terra
e agora está no abismo, o mundo dos mortos (Apocalipse 17:8; Apocalipse 17:11), e voltaria
alegremente à terra antes de “seu próprio tempo” (2 Tessalonicenses 2:6), é o anjo governante
daquele mundo quem o “restringe”, isto é, quem não o deixará vir antes do tempo permitido por
Deus. Este “anjo do abismo” é mencionado em Apocalipse 9:11, onde são dados seus nomes em
hebraico e grego, sendo o nome grego o do conhecido deus Apolo. Esta concepção era bastante
conhecida no mundo antigo, o que explicaria por que Paulo diz que os tessalonicenses já sabiam
quem era o repressor. Trad.]
125
Capítulo 4. O Julgamento Sobre o Anticristo
O brilhante ápice da história humana é ao mesmo tempo o ponto de virada do colapso (Daniel
2:34-35). O próprio Senhor executa o julgamento.

[1] A Grande Tribulação

Os terrores do julgamento convulsionam toda a terra (Apocalipse 3:10), especialmente a terra


da Judéia (Mateus 24:16; Lucas 21:21). A “grande tribulação” (Daniel 12:1; Mateus 24:21;
Mateus 24:29; Apocalipse 7:14) - a “angústia de Jacó” (Jeremias 30:7) - irrompe sobre a
humanidade (Apocalipse 6:1-17; Apocalipse 7:1- 17; Apocalipse 8:1-13; Apocalipse 9:1-21;
Apocalipse 10:1-11; Apocalipse 11:1-19; Apocalipse 12:1-17; Apocalipse 13:1-18; Apocalipse
14:1-20; Apocalipse 15:1-8; Apocalipse 16:1-21; Apocalipse 17:1-18; Apocalipse 18:1-24;
Apocalipse 19:1-21). Poderosas são as catástrofes:

a quebra dos sete selos e o toque das sete trombetas (Apocalipse 6:1-17;
Apocalipse 7:1-17; Apocalipse 8:1-13; Apocalipse 9:1-21; Apocalipse 10:1-11;
Apocalipse 11:1-19);

o rolar dos sete trovões (Apocalipse 10:4) e o derramamento das sete taças da ira
(Apocalipse 16:1-21);

os Cavaleiros apocalípticos e a vindoura Guerra Mundial (Apocalipse 6:9;


Apocalipse 13:1-18; Apocalipse 14:1-20; Apocalipse 15:1-8; Apocalipse 16:1-21;
Apocalipse 17:1-18; Apocalipse 18:1-24; Apocalipse 19:1-21; Apocalipse 20:1-15;
Apocalipse 21:1-27);

a destruição de Jerusalém (Zacarias 14:2) e a destruição da Grande Babilônia


(Apocalipse 17:16);

a Expedição militar do Oriente e o “Tumulto no vale da Decisão” (Apocalipse


16:12-16; Joel 3:14).

É claro que muitos detalhes não são divulgados, tais como a figuratividade ou literalidade de
muitas profecias do Fim dos Tempos;

se as semanas de setenta anos de Daniel 9:24-27 estão cumpridas ou ainda não


cumpridas;

a relação do discurso do Senhor no Monte das Oliveiras (Mateus 24:1-51) com as


outras profecias do Novo Testamento sobre o fim dos tempos;

o entrelaçamento de profecias relativas aos futuros próximos e distantes em um


quadro total uniforme com características que se interpenetram nitidamente;

a cidade de Babilônia, de sete colinas, que se opõe a Deus e sua destruição pelo
Anticristo, que se opõe ainda mais a Deus (Apocalipse 17:16);

a área de governo da Besta e o segredo do seu número 666 (Apocalipse 13:18);

o Estado Judeu na Palestina e a invasão devastadora das nações (Apocalipse


11:7; Zacarias 14:1-21);

126
a batalha decisiva do Har-Magedon (Apocalipse 16:16), e o julgamento das
nações no vale de Josafá (Joel 3:12) –

todos esses são hieróglifos proféticos que nenhum homem até agora decifrou com
certeza incontestável.

Mas finalmente vem o golpe final: o aparecimento do Senhor em glória e a destruição das
hostes anticristãs no Har-Magedon (Apocalipse 19:11-21; Apocalipse 16:16).

Através de tudo isto, de uma forma inesperada, cumprir-se-á a palavra de Napoleão, o grande
conquistador do mundo: “A história mundial não será decidida no Ocidente (no Ocidente), mas
no Oriente (no Oriente)”. “Har-Magedon” significa “montanha (hebr. har) de Megido ”, a
principal cidade da planície de Jezreel, no sopé do Carmelo, o campo de batalha mais
importante da história judaica.

[2] A Aparição do Senhor

Os céus estão abertos. Aparece o sinal do Filho do homem (Mateus 24:30). O Senhor vem
como um cavaleiro montado num cavalo branco, acompanhado pelos exércitos do céu. De Sua
boca sai uma espada afiada de dois gumes, e Ele mesmo pisa o lagar da ira de Deus, o Todo-
Poderoso (Apocalipse 19:11-16).

Com vara de ferro (Apocalipse 19:15; Salmos 2:9);

com roupas manchadas de sangue (Apocalipse 19:13);

como quem pisa o lagar (Isaías 63.1-6; Apocalipse 19.15);

como alguém que trilha a eira da colheita (Miquéias 4:12-13; Mateus 3:12);

como alguém que colhe com a foice do julgamento divino (Joel 3:13; Apocalipse
14:17-18) –

assim aparecerá novamente o desprezado Jesus de Nazaré!

Então todas as famílias da terra lamentarão (Mateus 24.30). Então chegou o Dia do Senhor
(Joel 1:15; Joel 3:14; Amós 5:20), “o dia da Sua ira ardente” (Isaías 13:13), o dia “grande e
terrível” (Malaquias 4:5), “um dia de trevas e de escuridão, um dia de nuvens e de densas
trevas” (Joel 2:2; Zacarias 14:6).

Então eles se infiltrarão nas fendas e ravinas (Apocalipse 6:15). Então eles se esconderão nas
cavernas das rochas e nos buracos da terra (Isaías 2:19). Então eles chamarão às montanhas:
Caiam sobre nós! E, para as colinas, cubra-nos! (Lucas 23:30; Apocalipse 6:16; Apocalipse 9:6).
Mas não haverá escapatória.

Pois o Senhor vem como um relâmpago (Mateus 24:27), Seus carros como uma tempestade
(Isaías 66:15), Seus olhos como chamas de fogo (Apocalipse 19:12), Sua voz como a voz de
um leão (Joel 3:16; Isaías 30:30), e os mortos do Senhor serão muitos (Isaías 66:15-16;
Salmos 110:6).

Em chamas de fogo (2 Tessalonicenses 1:8; Isaías 66:15-16),

como um forno ardente (Malaquias 4:1; Mateus 13:41-42),


127
como uma armadilha inevitável (Lucas 21:35), a destruição repentina “apoderará-
se de todos” (1 Tessalonicenses 5:3),

como o dilúvio nos dias de Noé (Mateus 24:38-39),

quando o julgamento ardente alcançou Sodoma e Gomorra (Lucas 17:28-32).

No monte das Oliveiras, de onde Ele ascendeu anteriormente (Atos 1:9; Atos 1:12), o Senhor
aparecerá novamente pela primeira vez (Zacarias 14:4). Todo olho o verá (Apocalipse 1:7;
Mateus 24:30); toda contradição será silenciada (Mateus 22:12; Jó 9:3); toda língua
confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para honra de Deus Pai (Filipenses 2:11).

[3] A Destruição da Trindade Satânica

Após a destruição do poder militar do Anticristianismo, segue-se imediatamente a ruptura de


seu triplo alto comando demoníaco (comp. Apocalipse 16:13). O Senhor matará o Iníquo com o
sopro de Sua boca e o destruirá com o brilho de Sua chegada (2 Tessalonicenses 2:8; Isaías
11:4; Salmo 110:6). Ele, a Besta e o Falso Profeta serão capturados e lançados no lago de fogo
(Apocalipse 19.20); O dragão, a velha Serpente, será amarrado e lançado no Abismo por mil
anos (Apocalipse 20.1-3). Assim, a trindade satânica é dividida. A primeira Pessoa fica
inofensiva por mil anos; a segunda e a terceira Pessoas são julgadas finalmente e para sempre.

Assim, o Cordeiro triunfa sobre o Dragão, o Filho do homem sobre a Besta, a Noiva sobre a
Prostituta, a Trindade Divina sobre a trindade satânica das mentiras.

Mas agora surge sobre o campo de devastação do Har-Magedon o Sol da justiça, que traz
saúde (Malaquias 4:2). Após o esmagamento da união anticristã dos povos, entra em cena a
comunhão dos povos do Milénio. Após o colapso de todos os esforços falhos do homem, será
agora mostrado o que DEUS pode fazer.

E agora o caminho está livre para o reino de Deus. A prisão do Diabo é um evento no reino
espiritual, pré-requisito para o reino terrestre de glória. Agora, ainda deve ser decidido qual dos
sobreviventes pode ter permissão para entrar neste reino. Isto é efetuado através

[4] O Julgamento das Nações no Vale de Josafá

O Filho do homem sentar-se-á no trono da Sua glória e julgará todas as nações da terra. Todos
serão reunidos diante Dele, e Ele os separará uns dos outros, como um pastor separa as
ovelhas dos cabritos (Mateus 25:31-32). Estes últimos irão para a destruição eterna, os
primeiros para o reino preparado para eles desde a fundação do mundo (Mateus 25:34; Mateus
25:46).

Este é o grande julgamento dos povos no início do Milênio (Mateus 25:31-46; Daniel 7:9-14;
Apocalipse 20:4). É importante distingui-lo do julgamento final diante do grande trono branco
(Apocalipse 20.11-15).

1. O lugar. Não ocorre após a destruição da velha terra (Apocalipse 20:11), mas no solo da
velha terra, ou seja, no vale de Josafá (Joel 3:12; Mateus 25:31).

2. A hora. Não será realizado após o fim do reino terrestre de glória, mas no seu início
(Apocalipse 20:11, comp. 7-10; Mateus 25:31).

128
3. As Pessoas. Não são os “mortos” que são julgados, isto é, aqueles ressuscitados na
segunda ressurreição (Apocalipse 20:12-13), mas aqueles que então vivem e sobrevivem dos
julgamentos catastróficos sem morte e ressurreição (Mateus 25:32).

4. A decisão. A questão não é a destruição ou simplesmente o reino celestial eterno (comp. 2


Timóteo 4:18); mas destruição ou antes de tudo o reino terrestre de glória (Mateus 25:34;
Mateus 25:46).

Este julgamento no início do reino milenar é (como parece, e de acordo com a lei da
perspectiva profética) certamente visto com o julgamento final como uma imagem; de modo
que o julgamento prévio e o julgamento final, o julgamento parcial e o julgamento completo se
fundem em um único quadro completo, poderoso e mutuamente interpenetrante.

De maneira semelhante, a primeira e a segunda vindas de Cristo foram vistas pelos profetas do
Antigo Testamento como uma imagem (por exemplo, Isaías 61:1-3, comp. Lucas 4:18-19); e
nas profecias do próprio Jesus as duas ressurreições antes e depois do reino milenar, que por
Paulo e João são separadas quanto ao tempo (1 Coríntios 15:23-24; Apocalipse 20:5;
Apocalipse 20:12), foram combinadas em uma única profecia sublime o que não enfatiza ainda
mais essas gradações de tempo (João 5:28-29; comp. Daniel 12:2-3).

[5] O Estabelecimento do Reino da Glória

Tudo isso junto é o “resplendor de Sua presença”, a epifania de Sua parusia (2 Tessalonicenses
2:8). É o triunfo do Crucificado (Mateus 26:64), a revelação de Sua glória (1 Pedro 4:13) e o
aparecimento de Seu reino (Lucas 19:11). Seus anjos O acompanharão (Mateus 23:31; 2
Tessalonicenses 1:7), Seus remidos estarão com Ele (2 Tessalonicenses 3:13; Judas 1:14), e
Ele mesmo será admirado em todos os Seus santos (2 Tessalonicenses 1:10). Todo o mundo O
servirá (Isaías 60.1-3); Ele reinará sem oposição (Apocalipse 12:10), pois Ele é o “Rei de todos
os reis e o Senhor de todos os senhores” (Apocalipse 19:16; Apocalipse 1:5).

Mas o reino que Ele traz é o reino de Deus. Não é uma criação terrena, mas celestial (Lucas
19:12; Dan 7:13-14); não vem através do “progresso”, mas do despedaçamento (Daniel 2:34;
Daniel 2:44-45); não é o resultado do esforço humano, mas é um dom de Deus.

1. Vista de fora, é a pedra insignificante que destrói o imponente colosso de Nabucodonosor


(comp. Mateus 21:44), mas depois aumenta para uma grande montanha e enche toda a terra
(Daniel 2:35; Daniel 2:44-45).

2. Visto de dentro dele está o reino do Filho do homem que prepara o fim para as bestas
sanguinárias do império mundial de Daniel e, pela primeira vez, exalta ao trono da história
internacional a verdadeira humanidade no sentido da Sagrada Escritura, isto é, a humanidade à
imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27; Daniel 7:13, comp. 2:7; Mateus 26:64).

3. Visto de cima, é o reino dos céus, que desce do céu e, portanto, traz a este mundo terreno
a natureza celestial e a felicidade celestial (comp. Daniel 4:23).

4. Mas em tudo é o reino de Deus, que era:

i. planejado desde o início (Mateus 25:34);

ii. lutou por todos os tempos (Mateus 6:10);


129
iii. fundada por Cristo (João 18:36-37);

iv. pregado por Seus seguidores (Atos 20:25; Atos 28:31);

v. esperado pela humanidade (Romanos 8:19), e agora

vi. estabelecido na velha terra (Apocalipse 11:15; Apocalipse 19:6), de modo que,
após a catástrofe final do mundo até então existente (Apocalipse 20:7-15),

vii. correr para a nova criação eterna (Apocalipse 21:1-27; Apocalipse 22:1-21).

Com tudo isso, deve-se observar que em numerosos lugares a profecia bíblica vê juntos em
uma imagem o reino visível de Deus na velha terra (isto é, o Milênio) e as eras do eterno reino
de glória na nova terra e no novo céu (isto é, a condição eterna). Deve, portanto, ser evitada
toda a estereotipagem lateral da imagem, tal como qualquer ênfase exagerada no Milénio. O
reino visível de glória na velha terra não é o objetivo principal e adequado da expectativa
profética. É o último estágio rumo ao aperfeiçoamento, como o vestíbulo imediato de um
palácio real. E como num palácio o vestíbulo é construído e pertence ao próprio palácio, mas
não tem o mesmo estatuto que a sala do trono do rei, assim mesmo o Milénio pertence ao
reino da glória, na verdade é ele próprio esse reino de glória em o verdadeiro sentido do termo,
mas o brilho principal dessa glória e o triunfo completo e sem reservas estão além dos mil anos
no reino de Cristo e de Deus (Apocalipse 22:1; Efésios 5:5), após a catástrofe final da velha
terra, depois da renovação e transfiguração mundial (Apocalipse 21:1-27; Apocalipse 22:1-21).
Veja nossas explicações nas páginas 25, 152f., 156f., e sobretudo em The Dawn of World
Redemption, Parte III, cap. 8.

130
SEÇÃO II —O REINO VISÍVEL DE CRISTO

Capítulo 1. Sua realidade histórica


O governo real de Deus é o objetivo final da história da salvação. “Para que Deus seja tudo em
todos” (1 Coríntios 15:28). O reino é, portanto, o verdadeiro tema básico da Bíblia.

A crença num reino visível de Deus na velha terra era originalmente propriedade espiritual
comum de todos os cristãos62. Somente com o início do crescente catolicismo ele foi perdido,
como por Clemente, Orígenes (cerca de 250 DC) e Agostinho (cerca de 400). Contudo, foi
novamente colocado no candelabro durante os últimos séculos.63

Na verdade, apenas uma tripla falha básica na exposição das Escrituras permite que esta
verdade bíblica seja negligenciada: uma confusão entre Israel e a igreja, uma troca precipitada
do presente com o futuro e uma “espiritualização” unilateral das profecias do Antigo
Testamento sobre o Reino.

Contra isso, a esperança cristã original de um reino de glória terrestre e visível assenta sobre
um alicerce rochoso quíntuplo e inabalável. Isso é:

1. A única confirmação adequada da veracidade e fidelidade da aliança de Deus às Suas


promessas.

2. A única interpretação lógica da profecia messiânica do Antigo Testamento.

3. A única explicação da história do Fim que concorda com as palavras do Senhor Jesus e Seus
apóstolos.

4. A única conclusão completa da autojustificação divina na história da salvação.

5. O único e necessário meio de levar adiante a história humana desde o seu estágio atual até
o seu objetivo no reino eterno do Pai.

[1] A única confirmação adequada da veracidade e fidelidade da aliança de Deus às suas


promessas

“Os dons da graça e do chamado de Deus estão além da mudança de opinião” (Romanos
11:29). Aos descendentes naturais crentes de Abraão, Deus havia dado a promessa da terra
(Gênesis 15.4-7; Gênesis 15.18). Foi uma promessa que não começou com Moisés, mas com
Abraão (Gênesis 12:1-3; Gênesis 13:15) e, portanto, não foi fundada na lei, mas na promessa
(Romanos 4:13-15). Portanto, não pode ser anulado pelo fracasso de Israel, mas permanece
inalterado por causa da honra de Deus (Ezequiel 36.22-23) e de Sua veracidade (Romanos
15.8), e por causa de Abraão, seu amigo (Gênesis 26.2-5).; Levítico 26:42). A Sagrada Escritura
mostra que isso é tão seguro quanto:

62
O chamado Quiliasmo (do grego clilioi, mil), ou seja, a doutrina do reino Milenial, foi defendido, por
exemplo, por Papias, Justino, Tertuliano, Irineu, Hipólito, e geralmente, nos séculos I ao III. "Reino
milenar" vem do latim millennium, a saber, mille 1000 e annus ano.
63
Como, por exemplo, por Comenius, Labadie, Bengel, Lavater, v. Hofmann, Frank, Th. Culmann, Kurtz,
Ebrard, Beck Auberlen, Stier, Baumgarten, Bettex, Spener, Franz Delitzsch, embora divirjam nos
detalhes. Também devem ser mencionados Mat. Hahn, Crusius, [BW Newton, JN Darby, Wm. Kelly,
George Muller, R. Govett, GH Pember, AT Pierson e muitos outros.]
131
a firmeza das montanhas (Isaías 54:10),

a ordem da Natureza (Isaías 54:9),

o curso do dia e da noite (Jeremias 33:20-21; Jeremias 33:25-26),

as leis do sol, da lua e das estrelas (Jeremias 31:35-37; Salmos 89:36-37),

a eternidade dos novos céus e da nova terra (Isaías 66:22).

“Assim diz Jeová, que dá o sol para luz do dia e as ordenanças da lua e das estrelas para luz da
noite... Se estas ordenanças falharem de diante de Mim, diz Jeová, então a semente de Israel
também deixará de ser uma nação diante de mim para sempre” (Jeremias 31:35-36). “Porque,
assim como o novo céu e a nova terra, que eu farei, permanecerão diante de mim, diz Jeová,
assim permanecerão a tua descendência e o teu nome” (Isaías 66:22). Estas profecias do reino
foram entendidas literalmente. A espiritualização deles e a transferência deles para algum outro
sistema corporativo nada mais eram do que uma quebra encoberta da aliança de Deus no que
diz respeito às Suas promessas. Mas isso é impossível.

Além disso, a esperança cristã original do reino é:

[2] A Única Interpretação Lógica da Profecia Messiânica do Antigo Testamento

As promessas da primeira vinda de Cristo foram cumpridas literalmente. As promessas da


segunda vinda muitas vezes permanecem a mesma frase com aqueles. Quem, portanto,
pode justificar que estes sejam considerados meramente “espiritualmente”? (por exemplo Lucas
1:31-33). Cristo saiu literalmente de Belém (Miquéias 5:2), montou literalmente em um
jumento até Jerusalém (Zacarias 9:9), foi literalmente traído por trinta moedas de prata
(Zacarias 11:12), e Suas mãos e pés foram literalmente traspassados na cruz. (Salmos 22:16).
Literalmente, Seus ossos não foram quebrados (Salmos 34:20), literalmente, Seu lado foi
perfurado por uma lança (Zacarias 12:10). Ele morreu e foi sepultado literalmente (Isaías 53:8-
9; Isaías 53:12), e também literalmente ressuscitou no terceiro dia (Salmo 16:10; Oséias 6:2).64

Que absurdo e contrariedade, portanto, seria agora evaporar em meras metáforas as previsões
de Sua vinda em glória. “Então Jesus morreu apenas metaforicamente na cruz? Ele bebeu
apenas vinagre espiritual (Salmos 69.21), e foram lançadas sortes apenas para Suas vestes
espirituais? (Salmos 22:18) Será que Deus dispersou Seu povo apenas figurativamente
entre todas as nações? (Deuteronômio 4:27), e eles estão neste momento
metaforicamente 'sem rei, sem príncipe, sem sacrifício, sem altar, sem éfode e sem
santuário'? (Oséias 3:4). Não, tudo aconteceu literalmente e de fato ” (Bettex). Como seria,
portanto, correto, quando Deus afirma repetidamente nos profetas que Ele reunirá novamente
o povo de Israel dentre todos os povos do mundo e os trará novamente para a terra de seus
pais, supor que tudo isso é meramente65 figurativo? voltas (termos?) do discurso? Quem nos
deu o direito de fazer dos judeus os cristãos, de Jerusalém a igreja, de Canaã o céu? O “trono
de Davi” já esteve no céu (Lucas 1:32), e tem “esta” terra e o Líbano, e a terra de Gileade,

64
Compare ainda as seguintes profecias sobre a primeira vinda de Cristo e seu cumprimento literal.
Salmos 41:9 (João 13:18); Zacarias 13:7 (Mateus 26:31); Salmos 35:11 (Mateus 26:60); Isaías 56:6
(Mateus 26:67); Zacarias 11:13 (Mateus 27:7-10).
65
por exemplo, Jeremias 16:14-15; Zacarias 10:8-9; Isaías 27:12-13; Ezequiel 11:17; Ezequiel 28:25.
132
onde o Senhor replantará Seu povo (Jeremias 32:41; Zacarias 10:10), já esteve em qualquer
lugar, exceto na terra e no Oriente Próximo?

Certamente os profetas usam frequentemente metáforas poéticas; certamente o reino milenar é


uma previsão típica da eternidade, e certamente no que diz respeito a este reino terreno Deus
deu ao mesmo tempo na igreja um cumprimento espiritual; para que a espiritualização não seja
totalmente rejeitada, na verdade, com os olhos voltados para a eternidade, ela é ainda da
maior importância.66

Mas a mera espiritualização é um desvio perigoso do significado mais simples das Escrituras:
em vista das profecias da primeira vinda de Cristo, é arbitrário e ilógico, e faz de Deus um
mentiroso no que diz respeito à Sua promessa. Os Judeus já estão a regressar à Palestina. Isto
faz parte do programa bíblico para o futuro deles.

Além disso, a expectativa cristã primitiva do reino é

[3] A única explicação da história do fim que concorda com as palavras do Senhor Jesus e seus
apóstolos

1. O Testemunho de Cristo. Em Seu julgamento sobre os fariseus e sobre Israel, por terem
sido desencaminhados por eles, Cristo disse: “Ó Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e
apedrejas os que lhe são enviados... Eis que a tua casa vos ficará desolada. Porque eu vos digo
que desde agora não me vereis até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor”
(Mateus 23:37-39). Com isto o Senhor disse que a casa de Israel não permanecerá para
sempre um deserto; nem para sempre permanecerá sob julgamento com a alma murcha e o
coração enfraquecido: Mas chegará um tempo em que Israel o reconhecerá como Messias e O
receberá com canto alegre e aclamação alegre. Sendo assim convertidos, eles se dedicarão a
Ele de todo o coração e o saudarão como seu Messias e Rei divino.

O reino do Senhor Jesus não é “deste” mundo (quanto à sua origem ou caráter) (João 18:36),
mas é certamente para este mundo. O próprio Senhor testifica: “vós que me seguistes, na
regeneração (isto é, no tempo do renascimento da criação terrena no reino visível de Deus),
quando o Filho do homem se sentará no trono de Sua glória, também vós vos assentareis em
doze tronos, julgando as doze tribos de Israel” (Mateus 19:28). E quando, após Sua
ressurreição, Seus discípulos perguntaram: “Senhor, é neste tempo que restauras o reino a
Israel?” (Atos 1:6), Ele não os repreendeu por causa de suas “concepções carnais” ou negou
geralmente a vinda do reino no sentido visível que eles queriam dizer, mas disse apenas: “Não
cabe a vocês saber tempos das estações, que o Pai reteve em seu próprio poder ” (Atos 1:7).
Agora, esta expressão profética “tempos ou estações” prova que o reino de Deus algum dia
será realmente estabelecido (comp. Mateus 8:11; Mateus 26:29).

2. O Testemunho do Apóstolo João. Além de contradição, o Apocalipse de João testifica


ainda mais da vinda deste reino de glória. Ao fazê-lo, é o único livro da Bíblia que fala
expressamente dos “mil anos” (Apocalipse 20:2-7). A colocação da seção em questão após o
relato do aparecimento de Cristo e da derrubada do Anticristo (Apocalipse 19:11-21) prova que

66
Como mostra o exemplo dos escritores do Novo Testamento: Romanos 15:12 (Isaías 11:10); 1 Pedro
2:10 e Romanos 9:25-26 (Oséias 1:10); Atos 2:16-21 (João 2:28-32); 1 Pedro 2:9 (Êxodo 19:6).
133
estes “mil anos” devem ser contados a partir do retorno de Cristo e ficarão entre o “primeira”
ressurreição e o “grande trono branco” (Apocalipse 20:11-15).

3. O Testemunho de Paulo. Em sua segunda epístola aos Coríntios, Paulo compara a glória
da antiga aliança com a da nova, e neste contexto fala da incredulidade de Israel no tempo de
sua cegueira. “Mas o seu entendimento estava endurecido; porque até hoje, sempre que
Moisés é lido, um véu está posto sobre o seu coração. Mas sempre que ele (ou seja, Israel) se
voltar para o Senhor, o véu será tirado” (2 Coríntios 3:14-16; comp. Êxodo 34:34). O apóstolo
aqui olha para um tempo em que Israel se voltará para Cristo. Então o véu será retirado do seu
coração e eles alcançarão a glória e a verdadeira liberdade. Assim, esta passagem é um
testemunho claro de que Paulo esperava uma futura salvação e recepção de Israel. “Como
Paulo tinha a promessa a respeito de Israel de que Cristo se revelaria a eles, chegará a hora
para Israel em que não honrará mais uma lei que não entendia, mas compreenderá seu
significado e propósito. Então chegará a hora em que tudo se voltará para Jesus”. “Moisés
retirou o véu toda vez que se voltava para Deus (Êxodo 34:34). Assim também quando o povo
de Deus do Antigo Testamento se voltar para o Senhor, se converter a Jesus, o véu será
retirado. Então Israel perceberá que a glória de Moisés não deve ser comparada com a glória
do 'Filho unigênito do Pai, cheio de graça e verdade' (João 1:14-17). Esta era uma esperança
viva no coração do apóstolo. ”

A segunda passagem principal é o capítulo da ressurreição, 1 Coríntios 15:1-58. Ali Paulo fala
da ressurreição corporal dos mortos e, numa seção especial (vv. 22-24), dos tempos das etapas
e da ordem das mesmas. Destes ele distingue três:

(a) Cristo, as primícias,

(b) “Então, aqueles que são de Cristo, no Seu advento (parousia).”

(c) “Então o fim, quando Ele entregar o reino a Deus Pai.”

De acordo com o contexto, este “fim” só pode significar o fim da ressurreição corporal. Com
isto ocorre ao mesmo tempo a entrega do reino por Cristo ao Pai. Assim, Paulo também
testifica de um reino de Cristo entre a ressurreição da igreja e a ressurreição geral, o fim: e
porque, de acordo com o Apocalipse, isso coincide com o grande trono branco e a destruição da
velha terra (Apocalipse 20:12-13; Apocalipse 20:5), este apóstolo também se torna uma
testemunha de um reinado real de Cristo sobre a velha terra. Somente depois deste tempo
terreno de glória a história avança para a eternidade.

Mas acima de tudo, aqui entra em questão a grande prova de Paulo de que seu evangelho é
justificado pela história da salvação (Romanos 9:1-33; Romanos 10:1-21; Romanos 11:1-36).
Paulo proclamou um evangelho livre da lei, sem distinção entre judeus e gentios (Romanos 3:9;
Romanos 3:22-23; Romanos 10:12; Gálatas 3:29). Em todo israelita que acreditou nas
Escrituras, a questão deve ter surgido: O fato da escolha e da posição única de Israel, que
permaneceu inabalável por dois mil anos, não desmente esta mensagem? (Salmos 147:19-20;
Amós 3:2; Êxodo 19:5). Não está claro que ou Deus deve ter quebrado Suas promessas a Israel
ou – já que isso nunca pode ser o caso (2 Coríntios 1:20) – que este Jesus de Nazaré, como
Paulo o proclamou, não é o Messias prometido a Israel?

A isto Paulo responde:


134
(a) A ação de Deus é gratuita (Romanos 9:1-33). No teatro da história mundial, Ele move as
figuras como deseja. Ele certamente não obriga o crente a acreditar nem o incrédulo a descrer;
Mas dentre o número de incrédulos, Ele escolhe certos indivíduos para serem exemplos
especiais de Seu poder de julgar (como Faraó do Egito, vv. 14-18), e dentre o número de
crentes, Ele escolhe outros para serem agentes especiais para mediando Sua salvação (como
Abraão, Isaque e Jacó, vv 6-13). Assim, Romanos 9:1-33 não trata do chamado à salvação,
mas de certos propósitos relacionados com a história da salvação. Fala menos de Deus como
o Redentor do indivíduo do que Dele como Aquele que dirige a história geral. Aqui os
indivíduos são mais pessoas oficiais do que privadas.

Assim, portanto, também a escolha de Israel repousa inteiramente na liberdade de Deus, e o


homem, incluindo os judeus, não tem nenhum direito de exigir nada de Deus67. Mesmo quando
ele não entende o trato de Deus, cabe a ele ficar em silêncio e simplesmente reconhecer a
liberdade de Deus, como a liberdade do oleiro sobre o barro (vv. 19-25).

(b) A ação de Deus é sempre justa (Romanos 10.1-21). Sua liberdade não é arbitrária. Ele
acabou de fundamentar o tratamento de Israel como Ele fez. Pois Israel desejou ser justificado
pela lei (Romanos 9:30-33; Romanos 10:1-3), mas Deus designou a justificação pela fé. Ele
ordenou, tornou possível (Romanos 10:4-13), Ele proclamou (10:14-18); mas Israel, pelo
contrário, recusou-o. Portanto Israel é desobediente e culpado e mereceu o castigo que o
atingiu (10:19-21).

(c) A ação de Deus sempre traz bênçãos (Romanos 11.1-36). Mesmo no julgamento, Ele
não “rejeitou” Seu povo, mas apenas os deixou de lado por um tempo (Romanos 11:1). Mesmo
durante a dispersão, Israel ainda mantém a sua esperança (Levítico 26:44-45; Ezequiel 11:17).
O trato de Deus com Israel traz bênçãos para todos:

para o remanescente que crê em Cristo — pois eles alcançam o perdão (vv. 1-10);

para o mundo em geral — pois ele recebe o evangelho (vv. 11-15);

para Israel quando finalmente renovado espiritualmente - pois será recebido


novamente (vv. 16-32).

Portanto, o endurecimento que caiu sobre Israel caiu sobre eles apenas “em parte”, e somente
“até” que o número total de nações tenha chegado (Romanos 11:25). Então os ramos
quebrados da oliveira do reino de Deus serão novamente enxertados (Romanos 11:23-24;
Romanos 11:16-17), “e assim todo o Israel será salvo” (11:26).

Esta é a solução do aparente conflito entre o chamado do povo de Israel e o chamado da igreja
por parte dos povos do mundo. Somente através do futuro o passado poderá ser reconciliado
com o presente. Só no final o período intermédio se justifica.

Todo o evangelho paulino permanece ou cai com o reconhecimento dessas proposições.


Portanto, quem nega estas profecias relativas a Israel nega a base da igreja. Ele nega, se

67
Por exemplo, Deus teria sido capaz de escolher Melquisedeque, o contemporâneo de Abraão, o
“sacerdote do Deus Altíssimo”, em vez de Abraão (Gênesis 14.18).
135
pensar logicamente, a fidelidade de Deus à aliança ou a liberdade do evangelho em relação à
lei, isto é, a Jeová ou a Paulo.

A questão do reino milenar não é, portanto, apenas uma questão de história final, mas toca ao
mesmo tempo o próprio coração do evangelho (liberdade da lei, universalidade do evangelho,
dom pela graça). Negá-lo faz de Deus um mentiroso em relação aos Seus profetas ou de Paulo
uma falsa testemunha em relação a nós. Romanos 9:1-33; Romanos 10:1-21; Romanos 11:1-
36 não é uma mera justificação de Deus, mas uma justificação da doutrina da justificação de
Paulo.

De acordo com o testemunho do apóstolo, este reavivamento de Israel terá efeitos poderosos
sobre o mundo gentio. Isso equivale a um renascimento generalizado no reino do Ressuscitado
(Mateus 19:28). Paulo diz: “Pergunto agora: Será que tropeçaram para cair? De jeito nenhum!
Muito antes, através da sua transgressão, a salvação passou para os gentios... Mas se a sua
transgressão se tornou uma bênção para a humanidade, e o fato de terem sido reduzidos a
um pequeno remanescente uma bênção para os gentios, quão mais rica em bênçãos deve
ser a sua plena admissão? Pois se a sua rejeição leva à reconciliação do mundo, o que pode a
sua aceitação trazer além da vida dentre os mortos?” (Romanos 11:12; Romanos 11:15).

Em palavras que simplesmente não podem ser mal interpretadas, Paulo confessa aqui sua
crença na conversão total de Israel e explica que dela os maiores e mais abençoados efeitos
fluirão para a humanidade. Em comparação com estes novos dons de Deus e com as energias
vivas de uma plenitude mais elevada do Espírito, que então se espalhará pelas nações, toda a
antiga vida nacional aparecerá como algo morto, todas as antigas riquezas nacionais apenas
como pobreza, e todas as antigas bem-estar nacional como miséria.

Mas com isto Paulo declara não apenas a sua crença numa futura salvação espiritual e nacional
de Israel, mas ao mesmo tempo mostra o significado deste evento como incluindo assuntos
nacionais e supranacionais, afetando a história mundial e a história da salvação. É “salvação”
para os povos do mundo, “riquezas” para as nações, deveras, um festival de ressurreição
espiritual para a humanidade em geral, até mesmo “vida dentre os mortos”.

Isto toca imediatamente na questão do significado deste vindouro reino de Deus. Pois ainda
surge a questão: qual é o propósito de um reino tão visível? Por que Deus fez tais promessas a
Israel? Qual é o significado deste período do reino vindouro em Seu plano de redenção e
salvação?

A isto respondemos que o reino visível da glória é

[4] A única conclusão completa da autojustificação divina na história da salvação

1. Em referência a Cristo. Não está o Altíssimo sob a obrigação de dar ao Seu Rei ungido a
oportunidade de provar que é o melhor Legislador e Juiz, Regente e Governante Mundial, e
Aquele que sabe como dirigir os assuntos mundiais melhor do que todos os grandes e
poderosos até agora existentes? Poderosos da terra, e isto especialmente dentro da estrutura
da velha criação, na qual de fato eles viveram e O rejeitaram como Rei? E não é certo que
depois de Satanás, durante milhares de anos, ter mostrado a todo o mundo como ele pode
mentir, enganar e corromper os povos, que Deus agora ao Seu lado mostre como Ele, em
Cristo, pode abençoar, salvar e dar paz, e isto também no solo deste velho mundo? “Sim, de
136
fato, esta mesma terra que viu o desconhecimento e a vergonha do Filho de Deus, também
ainda deve ver Sua glória. Esta mesma terra que bebeu o sangue do Todo-santo, também deve
ainda participar de Sua redenção. A justiça de Deus exige isso.” Aqui, onde Satanás triunfou,
Jesus deve ser coroado.

2. Em referência à humanidade. “Se considerarmos esta crença num reino milenar livre de
preconceitos, devemos admitir que seria um grande e excelente pensamento de Deus se Ele
concedesse a esta pobre terra, e ao hóspede cansado que nela vive, após seis dias difíceis de
fardo e trabalho, um grande sábado em que Cristo tirará as rédeas das mãos do homem
pecador e, por um tempo, pessoalmente, governará este mundo com justiça e retidão de
acordo com a lei de Deus” (Bettex). Até agora nunca foi demonstrado quão feliz e glorioso um
povo pode ser nesta terra se tiver o Senhor pessoalmente habitando e entronizado em seu
meio. Esta é, de facto, a grande ideia transfiguradora do mundo da revelação, de que o reino
de Deus ainda é possível na velha terra. E com isto Deus provará que não foi culpa das
circunstâncias e dos poderes elementares que os povos não puderam viver em paz uns com os
outros, mas simplesmente o pecado do homem e a corrupção através do Diabo.

Além disso, o fim deste reino mostra quão irremediavelmente perdido o homem está por
natureza. Pois o que a humanidade faz depois de mil anos de perfeito governo Divino? Rebela-
se contra o Senhor e, em milhões armados, entra em campo contra o Altíssimo (Gogue e
Magogue, Apocalipse 20:7-10). Portanto, o último teste de Deus mostra a desesperançada
maldade do homem.

Mesmo nas mais ideais condições económicas e políticas, nas mais abundantes provas da graça
do Altíssimo, na verdade, no governo direto do próprio Senhor, as nações terão aprendido tão
pouco, que no final, seduzidas pelo Diabo, eles avançarão juntos na mais terrível das revoltas
humanas (Apocalipse 20:8). Assim ficará claro que o homem não só é incapaz de criar
condições ideais, mas também que, mesmo quando elas existem, não o pode melhorar. Assim,
este período mais brilhante da história humana tornar-se-á a prova mais catastrófica da
condição perdida do pecador, e será provado irrefutavelmente que Deus estava certo quando,
na questão da redenção humana, excluiu absolutamente a própria força do homem. Agora, foi
alcançado o ápice e a conclusão da autojustificação Divina e está provado publicamente diante
de todo o mundo que desde o início só poderia haver um caminho que pudesse levar a
humanidade à paz, até mesmo a graça de Deus somente e a cruz do Gólgota.

Mas, finalmente, o reino visível da glória do Filho no final da história é:

[5] O único e necessário meio de levar adiante a história humana desde seu estágio atual até
seu objetivo no Reino Eterno do Pai

É um facto que, em todo o curso dos assuntos mundiais, a cópia e o original estão inicialmente
misturados, mas que à medida que os assuntos se desenvolvem, mais as características
essenciais vêm claramente à tona. Este é evidentemente o caso na história da salvação do
Novo Testamento.

A partir do seu atual caráter oculto, o reino de Deus finalmente surgirá em exibição mundial.
“Ele (o Filho) deve governar até que tenha colocado todos os inimigos debaixo de seus pés” (1

137
Coríntios 15:25). Este é o reino que finalmente se manifestará, a consumação de todas as
coisas visíveis na terra, o período mais esplêndido da sua história.

Mas o Filho não é o Pai, mas o esplendor da Sua glória (Hebreus 1:3), a imagem do Deus
invisível (Colossenses 1:15). Em Sua Pessoa, portanto, a imagem de Deus está presente na
terra no reino visível de Deus. Resta, portanto, a necessidade de um período de transição
histórica, que transfira a história do reino de Deus para o próprio Pai. Este é o principal, o
próprio e o mais profundo significado divino do reino milenar. “A atividade de Cristo no reino
milenar conduz a história da revelação desde esta última etapa preparatória até o lugar
Santíssimo final, em comunhão direta com o Pai.”

Portanto, Irineu (por volta de 190 DC), o aluno de Policarpo, o aluno de João, o apóstolo,
percebeu com justiça três estágios principais no desenvolvimento da salvação no Novo
Testamento, que correspondem às três Pessoas da Divindade, de modo que todo o
desenvolvimento da a revelação do Novo Testamento carrega ao mesmo tempo uma marca
histórica e trinitária.

Quer dizer:

A presente é a era do Espírito Santo que glorifica aqui na terra em Sua ausência o Redentor
que foi para o céu e que chama e edifica a igreja (João 16:7-17; 1 Coríntios 12:3-13).

Depois segue-se o retorno de Cristo e o estabelecimento do reino visível de Deus durante os mil
anos, isto é, o reino do Filho (1 Coríntios 15:25).

Mas finalmente o Filho entrega o reino ao Pai, sujeita-se a Ele, e o reino do Pai, a consumação
eterna, torna-se manifesto. Então Deus será “todas as coisas em todos” (1 Coríntios 15:28).

Neste contexto, o reino milenar é o único meio para levar adiante a história humana, sob a
direção do Filho, para o reino do Pai. Então “os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai”
(Mateus 13:43).

A profecia bíblica mostra-nos assim dois principais avanços vitoriosos do vindouro reino de
Deus, duas principais demonstrações de poder, que estão em relação especial com as duas
Pessoas divinas do Filho e do Pai:

o aparecimento do reino do Filho no início do reino Milenial, tendo a velha terra


como cenário; e

a manifestação do reino do Pai no triunfo da Consumação no novo céu e na nova


terra.

A estas duas fases principais da renovação do mundo correspondem as duas ressurreições da


humanidade, uma antes e outra depois do reino milenar, bem como as duas sessões principais
do julgamento sobre os ímpios e a trindade satânica. Comp. pág. 174. É a soma de tudo isso
que por si só nos permite perceber, não apenas isso, mas também por que a Consumação
final não chega com a vinda de Cristo ao reino Milenial, mas está além dos Mil Anos
(Apocalipse 20:1- 15; Apocalipse 21:1-27).

138
Capítulo 2. A Glória Do Reino De Deus Na Terra
“regeneração” mundial (Mateus 19:28). Toda a criação terrena tem parte na sua glória visível:
Israel, as nações, a Natureza e — como o governo aristocrático celestial do todo — a igreja.

A glória do Senhor abandonou relutantemente o templo (Ezequiel 10:18-19; Ezequiel 11:22-


23); de repente o Senhor aparece novamente para vir ao Seu templo (Malaquias 3:1; Ezequiel
43:1-5). Um evento é o começo, o outro é o fim dos “tempos das nações” (Lucas 21:24). O
objetivo é “o Senhor está ali” (Ezequiel 48:35), “o tabernáculo de Deus está com os homens”
(Apocalipse 21:3).

[1] Cristo, o Rei Divino

1. Sua glória pessoal. “Governador dos homens, um governante no temor de Deus, como a
luz ao romper da manhã, quando o sol nasce, como uma manhã sem nuvens, quando ao sol
depois da chuva a erva nova brota da terra” - assim é Cristo Redentor, filho de Davi e Senhor
de Davi. Assim testemunhou o próprio ancestral do Descendente, o Davi típico do Davi
antitípico (2 Samuel 23:2-4). Nele todos os ideais reais são cumpridos.

Ele é Emanuel (Isaías 7:14; Mateus 1:23), o grande Triunfante (Filipenses 2:11), o Herói
vitorioso (Sofonias 3:17), o único Cabeça sobre todos (Efésios 1:10; Oséias 1:11; Ezequiel
37:24; Zacarias 14:9).

De fora Ele é:

o Unificador de Seu povo -

como o verdadeiro Davi (Ezequiel 37:22-24; Ezequiel 34:23-24; Oséias


3:5):

o Príncipe da Paz no trono —

como o Senhor de Seu ancestral (Lucas 1:32; Mateus 22:45; Isaías 9:6-7):

a Bandeira das nações —

como a raiz de Jessé (Isaías 11:10):

a elevada Árvore das nações —

como o galho mais alto do cedro de Deus (Ezequiel 17:22-24; Ezequiel


17:4);

De dentro Ele é:

Aquele permeado com o Espírito Sétuplo —

como o broto do tronco de Jessé (Isaías 11.1-2; Apocalipse 5:6; Apocalipse


4:5). Em Isaías 11:1-2, o profeta menciona um equipamento espiritual
sétuplo do Messias:

o Rei-Sacerdote com a coroa prateada e dourada —

139
como Zemach, o Renovo do Senhor (Zacarias 6:11-13);68

o “Jeová, nossa justiça” -

como o Divino Rei e Redentor (Jeremias 23:5-6; Jeremias 33:15-16).

Assim, Ele é na verdade o glorioso Nazareno, o nezer (heb. tiro) de Nazaré (Isaías 11.1). Pois
“sob Ele brotará” (Zacarias 6:12, comp. Isaías 27:6; Isaías 35:1-2; Oséias 14:6-8), e Ele
construirá novamente o templo de Deus e a “tenda caída de Davi” (Amós 9:11).

Mas tudo isso virá de (“de”) Deus (Oséias 14:8). O fato básico do Messias é Sua Deidade
eterna. Portanto, Ele é ao mesmo tempo raiz e rebento, origem e coroa, início e objetivo da
raça real de Davi (Apocalipse 22:16; Apocalipse 5:5), Ele é promessa e cumprimento em um,
Ele é a estrela da noite e do romper do dia, isto é, a “brilhante estrela da manhã”, o arauto e
portador de um nascer do sol eterno (Apocalipse 22:16).

2. Sua adoração pela humanidade. “Desde o nascente do sol até o seu poente, Meu nome
será glorioso entre os gentios, e em todo lugar será oferecido incenso e uma oferta de
manjares pura ao Meu nome; porque o meu nome será glorioso entre os gentios, diz o Senhor
dos Exércitos” (Malaquias 1:11). Ao que parece, um templo surgirá novamente em Jerusalém
(Ezequiel 37:26; Ezequiel 37:28; Ezequiel 43:7). Todos os principais tipos de ofertas serão
apresentados ali - holocaustos, farinhas, ações de graças e ofertas pelo pecado (Ezequiel
43:18-27; Ezequiel 44:11; Ezequiel 44:15; Ezequiel 44:27; Ezequiel 44:29; Ezequiel 45:17;
Zacarias 14:20 -21); certas festas serão solenizadas, por exemplo, a Páscoa (Ezequiel 45:21) e
a dos Tabernáculos (Zacarias 14:16); os sábados serão guardados (Ezequiel 44:24; Ezequiel
45:17; Ezequiel 46:3); e o sacerdócio estará nas mãos dos filhos de Zadoque, os “justos”
(Ezequiel 40:46; Ezequiel 43:19; Ezequiel 44:15). De qualquer forma, Ezequiel, em sua profecia
da salvação messiânica, retrata um futuro serviço de ofertas com tantos compromissos
detalhados (por exemplo, 45.23,24; 46.4-15), e um futuro templo com tantos relatos e medidas
detalhadas (40:6-15; 41:1-4; 43:13-17), que parece dificilmente possível entendê-los como
apenas figurativos e espirituais (Ezequiel 40:1-49; Ezequiel 41:1-26; Ezequiel 42:1-20; Ezequiel
43:1-27; Ezequiel 44:1-31).69

68
Como Zemach (Ramo) Messias é:
(a) Rei (Jeremias 23:5): comp. Evangelho de Mateus.
(b) Servo (Zacarias 3:8): comp. Evangelho de Marcos.
(c) Filho do homem (Zacarias 6:12): comp. Evangelho de Lucas.
(d) Filho de Deus (Isaías 4:2): comp. Evangelho de João.
69
A Sagrada Escritura menciona em todos os oito templos de Deus:
(a) O tabernáculo de Moisés (1.500 a 1.000 AC).
(b) O templo de Salomão (1000 a 586).
(c) O templo de Zorobabel (reconstruído por Herodes, João 2:20; (516 AC a 70 DC).
(d) O templo do corpo de Jesus (João 2:21).
(e) O templo espiritual, a igreja.
(i) toda a igreja (Efésios 2:21),
(ii) a igreja local (1 Corintios 3:16-17),
(iii) o cristão individual (1 Corintios 6:19).
(f) O templo dos últimos dias (Apocalipse 11:1-2).
(g) O templo de Ezequiel (caps. 40-44).
(h) A nova Jerusalém como templo (Apocalipse 21:3; Apocalipse 21:22). “Eis que o tabernáculo
de Deus está com os homens.”
140
A dificuldade de que após a obra completa do Gólgota, e apesar do ensino da epístola aos
Hebreus (10:10,14; 8:13; 7:18), deveria haver novamente um serviço de ofertas, poderia
possivelmente ser resolvida por considerando essas ofertas quase no mesmo nível do batismo e
da Ceia do Senhor nos tempos atuais, a saber, que seriam sinais memoriais, representando a
obra completa da redenção, símbolos que olham para trás, assim como as ofertas do Antigo
Testamento, eliminadas por na cruz, aguardavam a obra de redenção ainda por completar,
vista do seu ponto de vista como ainda futura.

Mas, em qualquer caso, este templo será diferente daquele de Salomão: não haverá arca da
aliança (Jeremias 3:16-17), como também não haverá candelabro, nem mesa dos pães da
proposição, nem véu entre o Lugar Santo e o Santíssimo (comp. Hebreus 9:8; Mateus 27:51).

Desde a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, Israel nunca teve uma arca da aliança.
Esta foi uma grande perda para o templo de Zorobabel (516 AC a 70 DC). Pois sem a arca o
templo era apenas uma casca sem núcleo, como uma casa sem habitante; pois a arca da
aliança era o “trono” do Senhor, o símbolo de Sua presença, o objeto santíssimo no lugar
santíssimo (Êxodo 25:22).

Para o futuro templo, porém, justamente essa falta será um grande ganho. E a razão é nada
menos que esta: agora o Senhor está pessoalmente presente, que Jerusalém é o Seu trono
(Jeremias 3:17), que a presença de Deus é a shechiná, a nuvem de glória (Isaías 4:5; Êxodo
40:34-38); para que o símbolo, cumprido, possa agora dar lugar à realidade.

Esta ausência da arca da aliança expressa exatamente a natureza do reino milenar; é o período
de transição da salvação para a eternidade. Na Jerusalém celestial não haverá mais templo
algum, porque tudo se cumpre em Cristo (Apocalipse 21.22). Mas aqui desaparece primeiro
uma parte, e na verdade a parte principal; mas a “concha” – o velho mundo – ainda não foi
eliminada. Assim, é ao mesmo tempo o cumprimento da profecia e a introdução à consumação,
a conclusão desta condição temporal e também o alvorecer da eternidade.

Como tal, é o tipo mais perfeito de glória. O reino terreno de Deus não é realmente o assunto
principal, mas o reino eterno quando tudo será aperfeiçoado; não o período brilhante da
história “deste lado”, mas o pleno desenvolvimento do objetivo final “daquele lado”, não o
encerramento da era na velha terra, mas a eternidade na nova terra. A essência do reino do
Messias é o novo mundo.

No entanto, eles estão relacionados entre si como uma introdução à parte principal, como uma
apresentação preliminar ao cumprimento final, como um hall de entrada do palácio real. Eles
são separados pela nova criação, isto é, pela destruição mundial, julgamento mundial e
transfiguração mundial (Apocalipse 20:7-15; Apocalipse 21:1). Estes são o muro divisório entre
“este lado” e “aquele lado” da terra.

Mas os profetas do Antigo Testamento viam o tempo e a eternidade como um só. Para eles, o
primeiro passo e a conclusão, o tempo do fim e o outro lado, a Jerusalém terrena e a celestial,
fluíam juntos em uma única imagem magnífica70. Assim, Isaías fala de um novo céu e de uma

70
Assim também eles viram juntos em uma imagem a primeira e a segunda vindas de Cristo (Isaías
61:1-3; comp. Lucas 4:18-19), e a primeira e segunda ressurreições (Daniel 12:2; comp. Apocalipse
20:5; 1 Pedro 1: 11) (comp. A Lei da Perspectiva Profética, p. 142).
141
nova terra (65:17; 66:22), nos quais, no entanto, há pecado e morte, mesmo que como
exceções (65:20). Isso só pode se referir ao reino terrestre de glória (comp. Apocalipse 21:4).
Por outro lado, da Jerusalém do fim dos tempos ele diz que ela não precisa de sol nem de lua,
porque o Senhor é a sua luz (60:19), que, no entanto, em conexão com o Novo Testamento,
alude inequivocamente à Jerusalém celestial (Apocalipse 21:23).

Assim, os profetas veem o fim de “este lado” e o eterno “outro lado” como uma única linha
contínua com a natureza de “este lado”, e retratam a nova criação da Consumação com as
cores do reino de glória de a velha criação (por exemplo, Isaías 54:11-12; Apocalipse 21:18-
21). Aqui, é claro, a “espiritualização”, no sentido mais elevado e nobre, está em vigor. É
apenas o Novo Testamento que traça uma linha diagonal clara que divide a eternidade do
tempo.

[2] O Povo de Israel

1. O retorno e a reunião de Israel em Canaã. “Eu reunirei, sim, reunirei a ti, Jacó, todos
juntos: reunirei, sim, reunirei o restante de Israel” (Miquéias 2:12; Isaías 27:12-13; Isaías 60:4;
Oséias 11:10 -11). Mesmo “se os teus dispersos estivessem na extremidade do céu, assim o
Senhor te reunirá dali e dali te levará” (Deuteronômio 30:4).

Pela agência de nações e reis (Isaías 49:22-23; Isaías 60:9-10; Isaías 61:5; Isaías
66:20);

Com sinais visíveis e admiração (Miquéias 7:15; Isaías 11:15-16; Isaías 35:5-10;
Zacarias 10:11); de fato,

Sob a direção pessoal do Senhor (Isaías 52:12; Miquéias 2:13; Oséias 1:11;
Jeremias 31:9) - assim o povo de Israel retornará à sua terra.

Deste retorno futuro, o retorno da Babilônia é um tipo de cumprimento real, assim como uma
introdução ao assunto principal (comp. Jeremias 23:7-8). Mas, na verdade, com este “segundo”
e decisivo acontecimento (Isaías 11.11-12) tudo fica mais poderoso.

A extensão é maior. O retorno da Babilônia ocorreu entre um povo; o retorno da presente


dispersão ocorrerá em todos os povos (Deuteronômio 30:3; Isaías 11:11-12; Isaías 43:5-6;
Isaías 60:9; Jeremias 23:8; Jeremias 29:14; Jeremias 31:8-10; Jeremias 32:37; Ezequiel
34:12). O retorno da Babilônia foi a experiência principalmente de duas tribos, o reino de Judá
unido a Benjamim (Ed 2:1-70); mas o retorno da presente dispersão será compartilhado por
todas as doze tribos, incluindo o reino de Israel (Jeremias 3:18; Jeremias 30:3; Jeremias 31:1;
Jeremias 31:6; Jeremias 33:7; Jeremias 50:4; Zacarias 10:6; Isaías 11:13; Ezequiel 37:15-24;
Oséias 1:11).

A duração é mais segura. O retorno da Babilônia terminou com a destruição de Jerusalém e a


expulsão dos judeus da Palestina pelos romanos (70 e 135 d.C.). O retorno futuro será
definitivo e para sempre. Jerusalém e seu remanescente renovado espiritualmente “habitarão
em segurança” (Zacarias 14:11; Jeremias 24:6; Jeremias 30:10; Jeremias 32:37; Jeremias
33:16; Oséias 2:20) e “nunca mais serão arrancados da terra” (Amós 9:15). A cidade que no
curso da história foi destruída mais de vinte vezes não será mais destruída enquanto a terra
permanecer (Jeremias 31:38-40; Isaías 54:15; Isaías 32:18; Isaías 52:1; Joel 3:17).

142
A condição interior é mais espiritual. O retorno da Babilônia estava relacionado com um
despertar; desde então, Israel nunca mais caiu na idolatria. Mas o retorno futuro estará
conectado com a salvação messiânica completa (Isaías 49.8-13); daí em diante, a idolatria
desaparecerá não apenas em Israel (Oséias 2:17), mas em toda a terra. E enquanto o primeiro
despertar degenerou em ortodoxia e crença mental morta, este último consistirá numa fé
verdadeira do coração e numa vida espiritual vigorosa.

Tudo isso prova que é impossível relacionarmos todas essas profecias ao retorno da Babilônia,
536 aC, pois

(a) Profecias de Isaías expressamente sobre uma “segunda” coligação de Israel


dentre as nações do mundo (Isaías 11:11);

(b) Zacarias, por volta de 520 aC, e assim após o retorno da Babilônia em 536
aC, falou de um retorno, então ainda futuro, de todo o Israel de uma dispersão
(Zacarias 9:11-13); 10:8-10); e

(c) a extensão, a duração e o conteúdo da profecia não concordam em muitos


detalhes com o evento de 536 aC (ver acima) e, portanto, aguardam o
cumprimento.

Disto se segue que muitas profecias contemplam ambos os eventos como um, mas muitas
outras, principal ou totalmente, apenas o último.

2. A conversão de Israel ao Senhor. Mesmo antes do tempo do Anticristo, o povo de Israel


terá regressado à sua terra. Isto é comprovado pelos fatos

que é na própria Judéia que o Anticristo os oprimirá (Mateus 24.16-22;


Apocalipse 11.1-14);

que ele estabelecerá a abominação da desolação “em um lugar santo ” (Mateus


24:15; Daniel 9:26-27; Daniel 11:31; Daniel 12:11) (ver p. 119);

que na guerra contra os judeus ele invade e devasta a Palestina (Zacarias 14:1-
2; Zacarias 12:2; Joel 3:12); e

que o Messias, ao descer do céu, libertará Seu povo pela vitória no Har-
Magedon71 (Apocalipse 16:16); e

pelo julgamento das nações no vale de Josafá (Joel 3:12-18; Zacarias 14:3-5;
Zacarias 12:3-9).

Mas tudo isso (exceto o último) acontecerá enquanto Israel ainda estiver na incredulidade. Não
como “povo de Deus”, mas como “nação judaica”, eles regressarão à Palestina, não tanto por
motivos religiosos, mas por motivos políticos. Os ossos mortos que Ezequiel viu, e que
representam a nação de Israel (Ezequiel 37:11-12), se juntam antes mesmo do fôlego de vida,
o Espírito de Deus, o Senhor, está neles (Ezequiel 37:7-8; Ezequiel 37:12-14).

Então os acontecimentos na Palestina sucedem-se muito rapidamente.

Har-magedon significa “monte de Megido”, que fica no norte da Palestina, na planície de Jezreel, na
71

encosta do Carmelo.
143
1. A aparição do Messias. “Eis que ele vem com as nuvens e todo olho, inclusive aqueles que
o traspassaram, o verá” (Apocalipse 1:7; comp. Zacarias 14:4; Mateus 26:64).

2. O luto. Então “todas as tribos da terra chorarão por causa dele” (Apocalipse 1:7; Zacarias
12:10), “como quem chora por seu único filho, como quem chora por seu primogênito”
(Zacarias 12:10-14).

3. Arrependimento. Eles chorarão por seus pecados, especialmente pelo assassinato do


Messias (Zacarias 12:10). O próprio judeu reconhecerá sua maldade judaica como abominável e
abominável (Ezequiel 36:21, lit.), e aqueles que em seus pecados se tornaram repugnantes
para Jeová agora se odiarão aos seus próprios olhos (Levítico 26:30; Ezequiel 20:43; Ezequiel
36:31). No entanto, “chorando continuamente, eles virão e buscarão ao Senhor seu Deus”
(Jeremias 50:4; Oséias 3:5; Jeremias 31:9).

4. Confissão. Então dirão de Cristo, seu Messias: “Nós O consideramos como nada. Nós O
consideramos alguém que foi atormentado, ferido e torturado por Deus. Mas o Senhor lançou
todos os nossos pecados sobre Ele. Por causa das nossas transgressões Ele foi ferido, e por
causa das nossas iniqüidades foi ferido. Para que possamos ter paz, o castigo caiu sobre Ele, e
pelas Suas feridas fomos curados” (Isaías 53:3-6). Este é o sentido direto de Isaías 53:1-12,
este grande capítulo central da profecia do Antigo Testamento. É a confissão de
arrependimento que Israel, no tempo do Fim, envergonhado da sua cegueira, fará no dia em
que o Senhor aparecer.

E então ocorrerá o grande milagre:

5. O Novo Nascimento. “Naquele dia se abrirá uma fonte para a casa de Davi e para os
habitantes de Jerusalém, para o pecado e para a impureza” (Zacarias 13:1). Deus perdoará
suas transgressões (Jeremias 33:8; Jeremias 50:20), cobrirá suas iniquidades (Isaías 44:22),
lavará sua sujeira (Isaías 4:4) e curará sua apostasia (Oséias 14:4). Seu coração de pedra Ele
tirará (Ezequiel 11:19; Ezequiel 36:26), extinguirá seu espírito mercenário (Zacarias 14:21),
purificará sua culpa de sangue (Isaías 4:4), vivificará seus “ossos mortos” (Ezequiel 37:9;
Oséias 6:2). Ele os aspergirá com água limpa (Ezequiel 36:25-28; Levítico 14:1-7), derramará
sobre eles o espírito de graça e súplica (Zacarias 12:10), sim, colocará Seu próprio Espírito
Santo dentro deles (Ezequiel 37:14; Ezequiel 39:29; Isaías 44:3; Joel 2:28-29).

Este é o renascimento espiritual de Israel. De Lo-ruhama ela se tornará Ruhama, no lugar de


Não Amada ela se tornará a Amada (Oséias 1:6; Oséias 2:1), em vez de Lo-ammi ela será
Ammi, de Não meu Povo ela se tornará Meu Povo (Oséias 1:9; Oséias 2:1; Oséias 2:23).
Espiritualmente renovado, Israel entrará na nova aliança (Jeremias 31:31-34; Jeremias 32:40),
nas bênçãos de seu feliz “noivado” e “casamento” com Jeová (Oséias 2:18-20; Isaías 62:5;
Isaías 61:10).

Tudo isto terá lugar na própria terra de Israel, na Palestina, no Próximo Oriente, e tudo num só
dia. “Grande é o dia de Jezreel” (Oséias 1:11). O Senhor realizará com rapidez Sua obra de
nova criação (Isaías 60:22), e assim “em um dia uma terra inteira será trazida ao mundo” e “de
uma só vez” uma nação nascerá (Isaías 66:7- 9), e “com os olhos se verá quando o Senhor
converter Sião” (Isaías 52:8).

144
6. Santidade. Daí em diante Israel é um povo santo. “Acontecerá que aquele que permanecer
em Sião e aquele que permanecer em Jerusalém serão chamados santos, cada um que for
inscrito na vida72 em Jerusalém (Isaías 4:3). “Não farão mais o mal nem agirão injustamente
em todo o Meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as
águas cobrem o fundo do mar” (Isaías 11:9). Na verdade, sobre os sinos dos cavalos estará a
palavra sumo sacerdotal “Santo ao Senhor” (Zacarias 14:20; comp. Êxodo 28:36), e todas as
panelas em Jerusalém e Judá serão santas ao Senhor dos Exércitos (Zacarias 14:21).

Assim a justiça de Israel será perfeita, clara e brilhante, na salvação será como uma lâmpada
acesa (Isaías 62:1), sua pureza como ouro e prata (Zacarias 13:9; Malaquias 3:3), sua beleza
como um diadema real na mão de seu Deus (Isaías 62:3; Isaías 28:5-6).

Sua capital é uma cidade santa (Joel 3:17; Isaías 52:1), seu povo é uma nação justa (Isaías
26:2), a Palestina é o ornamento do mundo inteiro (Jeremias 3:19) e os israelitas individuais
são jóias que brilham no solo da sua terra (Zacarias 9:16).

Jerusalém é chamada de Cidade da Verdade (Zacarias 8:3; comp. Sofonias 3:13), seus muros
são chamados de Salvação (Isaías 26:1; Isaías 60:18), suas portas são chamadas de Louvor
(Isaías 60:18), e o Rei em seu no meio está o Senhor, a Rocha dos séculos (Isaías 26:4).

Não é de admirar que todo coração esteja cheio de alegria (Isaías 65.19; Isaías 12.1-6).

7. Bem-aventurança. “Os resgatados do Senhor retornarão e virão jubilosamente para Sião;


e alegria eterna estará sobre suas cabeças, e a tristeza e o suspiro fugirão” (Isaías 35:10;
Isaías 51:11).

“Eles se voltarão com tremor para Jeová e para Sua bondade no fim dos dias (Oséias 3:5),
“sim, eles tremerão e serão movidos por causa de toda a bondade e toda a paz” que o Senhor
seu Deus concederá para eles (Jeremias 33:9; Isaías 60:5; Oséias 14:5-7). “Eis”, diz o Senhor,
“tu infeliz, sacudido pela tempestade, desconfortado, eu assentarei as tuas pedras em
antimônio, e lançarei os teus alicerces com safira, e farei os teus pináculos de rubis e as portas
de carbúnculos e todas as tuas ameias de pedras preciosas” (Isaías 54:11-12). Aqui, é verdade
que o profeta descreve, em esplêndido discurso pictórico, a cidade celestial, Jerusalém acima, a
cidade dourada (Apocalipse 21:1-27); e é verdade que por trás da Sião do reino Milenar existe
uma Sião muito maior e mais gloriosa, a Jerusalém da Consumação, da qual a primeira será
apenas um símbolo; mas aqui, em primeiro lugar, o profeta fala da cidade terrena, pois a
celestial nunca foi miserável e sem conforto, e muito definitivamente a cidade terrena é “a
cidade do grande Rei” (Mateus 5:35; Salmos 48:2).), a “Sião do Santo de Israel” (Isaías 60.14).
Portanto, Ele construirá novamente a cidade terrena (Lucas 21:24; Isaías 58:12), e “Sua
magnífica casa” Ele tornará novamente magnífica (Isaías 60:7; Isaías 60:13).

Então Jerusalém habitará em segurança (Jeremias 24:6; Jeremias 32:37; Zacarias 14:10-11;
Ezequiel 28:26; Jeremias 23:6). Nenhum estrangeiro passará por ela (Joel 3:17; Isaías 52:1),
nenhuma doença a ameaçará (Deuteronômio 7:15; Isaías 33:5-6; Isaías 65:20-23), nenhuma
destruição destruirá suas casas e habitações (Isaías 60:18). Todo perigo será banido, nenhuma

72
[Isto é, quem está registrado no livro de Deus como alguém que deve viver e não perecer.]
145
angústia poderá se aproximar. Com efeito, a cidade será na verdade, como expressava o seu
antigo nome, uma Salém, uma cidade de paz.

Seus habitantes serão heróis, como um nobre cavalo de guerra (Zacarias 10:3-5), os mais
fracos entre eles como Davi, e a casa de Davi como Deus, como o Anjo do Senhor à sua frente
(Zacarias 12:8; Isaías 33:24). Na verdade, Jerusalém será habitada como uma cidade aberta,
pois “eu mesmo”, diz o Senhor, “serei para ela um muro de fogo ao redor e serei sua glória no
meio” (Zacarias 2:5; Sofonias 3:17).

Como o lugar do trono do Messias (Jeremias 3:17; Isaías 24:23), o monte do templo será mais
alto que todas as outras montanhas e se elevará acima de todas as colinas (Isaías 2:2;
Miquéias 4:1; Salmos 48:1-2). Ali estará o trono de Davi, o trono do Messias (Lucas 1:32-33),
cercado pelos tronos de Seus doze apóstolos (Mateus 19:28), que, à frente de um círculo mais
amplo de juízes e príncipes subordinados, estarão em Seu nome governar com justiça as doze
tribos (Isaías 1:26; Isaías 32:1; Isaías 60:17; Jeremias 23:4; Obá 1:21).

Assim, Israel alcança a salvação, “para ser um louvor e um nome nas terras de seu opróbrio
(Sofonias 3:19-20; Isaías 61:9) e como antigamente o judeu havia sido uma maldição (Jeremias
24:9; Jeremias 25:18; Jeremias 26:6; comp 19:22), então ele agora será uma bênção (Zacarias
8:13; comp. Gênesis 48:20), e quando alguém deseja o bem de outro ele dirá: “O Senhor te
abençoe como Ele abençoou Sião! ”

E estes são os nomes pelos quais a cidade será chamada:

individualmente: Sacerdotes, servos de Deus, redimidos do Senhor (Isaías


61:6; Isaías 62:12; comp. 58:12);

corporativamente: o povo santo, meu prazer está nela (Isaías 62:12; Isaías
62:4);

a terra: a casada com o Senhor, a noiva de Jeová, o deleite da terra (Isaías 62:4;
Salmos 48:3);

a capital: cidade da verdade, monte da justiça, cidade fiel, monte santo, Sião do
Santo de Israel, “Jeová está lá”; na verdade, o mesmo nome do próprio Rei -
Jeová, nossa justiça (Zacarias 8:3; Isaías 1:26; Isaías 60:14; Jeremias 33:16;
Jeremias 23:6; Ezequiel 48:35).

Mas tudo isto é obra de Deus, não da força nacional humana. No que diz respeito à sua origem,
Israel era o menor de todos os povos (Deuteronômio 7:7), em sua rebelião como um espinheiro
(Miquéias 7:4; Ezequiel 3:2), em seus pecados uma abominação para Jeová (Levítico 26:30).
Portanto, pode agora a sua transformação espiritual no início da nova era de salvação ser
apenas um milagre de Deus, para a glorificação do Seu nome e para a manifestação do Seu
novo poder criador. “Eles me serão um nome de alegria, um louvor e um ornamento diante de
todas as nações da terra”, diz o Senhor (Jeremias 33:9; comp. 13:11). O ponto principal não é
Israel, mas Deus e Sua honra (Isaías 11.9); não o homem e sua salvação, mas Deus e sua
glória. “Não é por sua causa, ó casa de Israel, que ajo assim, mas por causa do meu santo
nome, que vocês desonraram entre os gentios. Pelo meu grande nome, que profanastes
entre os gentios, trarei novamente para honra, para que os povos reconheçam que eu sou o

146
Senhor” (Ezequiel 36:22-23; Ezequiel 20:44; Ezequiel 39:25). E, portanto, mais uma vez: “Não
é por sua causa que ajo assim, diz o Senhor Jeová, seja-o notório. Antes, envergonhem-se e
corem por causa de sua conduta, vocês da casa de Israel” (Ezequiel 36:32; comp. 20).

Israel é, portanto, inteiramente por causa do Senhor. Pois o Senhor Sião será edificada
(Jeremias 31:38), Sua bênção será vista em tudo (Isaías 61:9), Seus feitos gloriosos serão
proclamados em Jerusalém (Isaías 60:6). Não por causa dos judeus, mas “por causa do nome
do Senhor”, os povos se reunirão para adorar (Jeremias 3:17); pois Seu nome será santificado
através da cura de Israel (Isaías 29:23; Ezequiel 28:25), e Sua glória será exibida diante dos
olhos de todas as nações (Ezequiel 39:21). Em tudo Ele se glorifica (Isaías 44.23).

Mas através disto, a re-aceitação de Israel torna-se uma glorificação mundial de Deus. O
significado do seu louvor é o louvor de Deus (Isaías 60:21; Isaías 43:6-7); é inteiramente um
símbolo e testemunho da misericórdia de Deus (Isaías 49:10; Isaías 54:10), e o próprio Israel é
apenas o humilde e honrado portador da honra de seu Deus: “Não para nós, ó Senhor, não
para nós, não, ao Teu nome seja honrada, por causa da Tua graça e da Tua fidelidade ”
(Salmos 115.1).

3. Serviço Evangelístico de Israel. O Israel renovado será o evangelista de Deus para as


nações. “De Sião sairá a lei e a palavra do Senhor de Jerusalém” (Miquéias 4:2; Isaías 2:3).
“Este povo que formei apresentará o meu louvor” (Isaías 43:21; Salmos 79:13), “para que
declarem o nome de Jeová em Sião e o seu louvor em Jerusalém, quando os povos se
reunirem, e os reinos, para servir a Jeová” (Salmos 102:21-22).

Daí também a sua especial capacidade de propaganda, o seu dom de aprender línguas e a sua
capacidade de se adaptarem a todas as nações, apesar da mais tenaz adesão à sua própria
nacionalidade. Tudo isso Israel só compreenderá quando passar a entendê-lo como um talento
nacional para a sua missão junto às nações no reino do Messias. Em sua condição de
incredulidade, Israel, como disse o Antigo Testamento, é apenas uma maldição73 entre os
povos (Jeremias 14:9; Jeremias 25:18), mas então, como mensageiro de Deus, usará seus dons
para a bênção deles (Zacarias 8:13), como portador e personificação das boas novas do reino
(Mateus 4:23; Mateus 9:35; Mateus 24:14). Portanto “Levanta-te, resplandece; porque já vem
a tua luz e a glória de Jeová nasce sobre ti” (Isaías 60:1).

Mas também dos salvos das nações Deus enviará mensageiros aos povos mais distantes do
mundo. “Chegará o tempo em que reunirei todas as nações e línguas, e elas virão e verão a
minha glória. E porei entre eles um sinal e enviarei os que deles escaparem 74 (Isaías 66:18-19).

Através disto, o seu serviço missionário ao mundo, Israel se tornará o “Paulo” do reino milenar:

a princípio, um perseguidor e odiador dos crentes (Atos 9:1-2; 1 Tessalonicenses


2:15-16);

então subitamente conquistado pela aparição do Senhor (Atos 9:4-8; Mateus


24:30);

73
[ Fluchwort, lit. "palavrão."]
74
[Isto é, como escapar quando os exércitos do Anticristo forem destruídos e, portanto, os não-judeus
(vv. 15-17; comp. Apocalipse 1:9; Apocalipse 1:19-20).]
147
finalmente, um apóstolo principal e mensageiro de Cristo aos gentios.

Israel no Monte das Oliveiras (Zacarias 14:4; Apocalipse 1:7), onde - em contraste com nós
mesmos - passa da vista para a fé (João 20:29; 2 Coríntios 5:7), é o início de uma missão
mundial para as nações (Isaías 12:4). Desde então, Israel é a testemunha de Deus para a
humanidade (Isaías 55:4), uma bênção na terra (Isaías 19:24), um orvalho entre os povos
(Miquéias 5:7), e Jerusalém, sua capital, é o berço de muitas nações. (Salmos 87:2-6).

[3] As Nações

Mas o objetivo de Deus não é apenas Israel; O objetivo de Deus é a humanidade (1 Timóteo
2:4; Isaías 40:5). “É muito pouco que você seja meu servo apenas para restaurar as tribos de
Jacó e trazer de volta os preservados de Israel. Eu te coloquei para ser uma luz para as nações
também, para ser minha salvação até os confins da terra” (Isaías 49:6; Isaías 42:6-7; Lucas
2:30-32).

1. A conversão das nações do mundo. As nações evangelizadas através da mensagem do


reino de Deus (Miquéias 4:2; Isaías 43:21; Salmos 102:21-22; Isaías 66:18-19) se submeterão
a Cristo como seu Governador e Rei (Isaías 59:19). Todos os deuses-ídolos serão derrubados,
todas as religiões humanas desaparecerão (Zacarias 13:2; Jeremias 16:19-21; Isaías 2:18-20),
e “o Senhor será rei sobre toda a terra” (Salmos 96:10; Salmos 98:9; Salmos 99:1-2). “Naquele
dia somente o Senhor será Deus e somente seu nome será reconhecido” (Zacarias 14:9; Isaías
54:5). Então Ele destruirá em Sião o véu com o qual todos os povos estão velados e a
cobertura que cobre todas as nações (Isaías 25:7), e como povos e tribos eles virão e se
voltarão para Cristo, e perceberão Nele, o desprezado Nazareno, o Rei da glória (Salmos 24:7-
10; Filipenses 2:11; Efésios 1:10). Toda a Assíria, todo o Egito, todo Israel virá (Isaías 19:21-
25; Romanos 11:26), e o Senhor os receberá, os abençoará e dirá: “Bendito seja o Egito, meu
povo, e a Assíria, obra das minhas mãos, e Israel, minha herança” (Isaías 19:25).

Aqui a profecia bíblica oferece de fato o máximo no que diz respeito à extensão da redenção
humana, pois a esperança aqui não é a incorporação dos gentios convertidos no povo
espiritualmente renovado de Deus, mas uma salvação espiritual de Israel, o povo convertido de
Deus, e das nações convertidas com base na eterna redenção divina. Assim, Israel em sua terra
(Zacarias 10:10) e os povos em suas terras experimentarão um novo nascimento espiritual e
divino (Salmos 87:4-6), e como o Rei Divino, o Senhor governará sobre toda a terra, e a justiça
e a paz reinarão sobre toda a humanidade. Sim, “muitas e poderosas nações virão” (Zacarias
8:22) e “se unirão ao Senhor, e se tornarão meu povo ” (Zacarias 2:11), diz o Senhor.

O fim será a sujeição universal do mundo a Cristo (Salmos 22:28-29; Salmos 47:7-9; Salmos
50:1-2; Salmos 72:8-11; Salmos 86:9; Salmos 99:1-2; Salmos 113:3 -4). Assim é uma missão à
humanidade sob o cetro do Todo-Poderoso, a evangelização mundial com a cristianização da
civilização, a proclamação do Reino com a conquista de todos os povos. Será, portanto, o
período missionário mais importante e mais real da história, e pela primeira vez na terra haverá
nações cristãs e associações de povos no sentido da Sagrada Escritura (Isaías 45:22-24).

O fato de os povos, como povos, neste exato momento se voltarem para o Senhor, e não
apenas como indivíduos, como antigamente, tem sua razão especial nisso: que as nações terão
visto com seus olhos os atos poderosos de Deus; a glorificação da igreja, a vinda de Cristo em

148
glória, a batalha decisiva no Har-Magedon, o julgamento dos povos no vale de Josafá, a
salvação de Deus e a maravilha de Israel. “Se o Senhor libertar os prisioneiros de Sião, seremos
como os que sonham... Então alguém dirá entre os gentios: O Senhor fez grandes coisas por
eles” (Salmos 126:1-2). “Levantar-te-ás e terás misericórdia de Sião, pois é tempo de mostrar o
seu favor... Então os gentios temerão o nome do Senhor e todos os reis da terra a tua glória”
(Salmos 102:13; Salmos 102:15). A isto se acrescenta o fato de que os endurecidos terão sido
mortos no Har-Magedon e, acima de tudo, que o Diabo está preso e, portanto, não pode mais
enganar os povos (Apocalipse 20:2).

2. A Santificação das Nações. Da conversão segue-se a santificação. “Então voltarei aos


povos um lábio puro, para que invoquem o nome do Senhor e o sirvam com um
consentimento” (Sofonias 3:9; Jeremias 3:17; Miquéias 4:2). Não haverá mais guerra (Isaías
2.4), nenhuma luta pelo poder, nenhuma vontade de oprimir e saquear o outro; mas em troca
pacífica e relações harmoniosas eles honrarão e enriquecerão mútua e livremente uns aos
outros e servirão ao Senhor comum de todos e ao Rei Divino (Isaías 19:23; Isaías 66:23;
Zacarias 14:9). Saúde do corpo (Isaías 35:5-6; Isaías 65:20), trabalho lucrativo (Isaías 65:21-
23), justiça social (Isaías 11:3-4), assistência mútua dentro da comunidade (Isaías 58:7),
evitação de gigantes cidades (Zacarias 3:10), fronteiras justamente fixadas (Atos 17:26),
igualdade de direitos determinada por Deus (Isaías 19:25; Mateus 8:11; Zacarias 2:11),
desarmamento geral (Miquéias 4:3) - essas são bênçãos nacionais cotidianas desfrutadas Por
todos. Assim os povos continuam a sua vida nacional, mas ao mesmo tempo formam juntos um
organismo harmonioso; como membros de um corpo, promoverão o bem-estar mútuo, como
uma família de povos, cheia de variedade e, ao mesmo tempo, unidade.

Mas santificação é devoção, um esforço por Deus, uma devoção de coração Àquele que nos
amou primeiro. Assim o Renovo da raiz de Davi permanecerá como “estandarte das nações” e
“após ELE os povos inquirirão” (Isaías 11:10). Por causa do Seu nome “eles se reunirão como
um só” (Jeremias 3:17), e “a terra se encherá do conhecimento da Sua glória como as águas
cobrem o fundo do mar” (Habacuque 2:14).

3. A Adoração das Nações. O conhecimento do Senhor leva à adoração. “Do nascer ao pôr
do sol meu nome será glorioso entre os gentios, e em todo lugar será oferecido incenso e uma
oferta de manjares pura ao meu nome... diz o Senhor dos Exércitos” (Malaquias 1:11). E ainda
mais: “Acontecerá que de lua nova a lua nova e de sábado a sábado toda a carne virá adorar
diante de mim” (Isaías 66:23). E eles então suplicarão ao Senhor (Zacarias 8:21-22),
oferecerão a Ele seus presentes (Isaías 56:7; Isaías 60:7), celebrarão a festa dos tabernáculos
(Zacarias 14:16) e servirão somente a Ele (Salmos 102:21- 22; Salmos 72:11).

4. O Rei das Nações. Emanuel, o Rei Divino, será o centro de tudo. “Uma criança nasceu para
nós, um filho nos foi dado e o governo estará sobre seus ombros. E ele é chamado
maravilhoso, Conselheiro, Força, Herói, Pai da eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). Ele
julgará os povos com justiça (Salmos 67:4; Salmos 96:10; Salmos 72:1-2). Ele executa justiça
para os humildes (Salmos 72:4; Salmos 72:12-14; Isaías 11:3-4; Isaías 29:19-21), dá favor aos
humildes (1 Samuel 2:8), concede descanso às nações (Isaías 2:4) e cria bem-estar para todo o
mundo (Salmos 96:1-3; Salmos 100:1-2). Ele é o árbitro dos povos (Isaías 2:4), protetor da paz
(Zacarias 9:10; Miquéias 4:3), Príncipe dos reis da terra (Apocalipse 1:5; Apocalipse 19:16;
Apocalipse 11:15), o Chefe geral de todos (Efésios 1:10). Assim “a justiça se estabelecerá no
149
deserto e a justiça habitará no campo frutífero” (Isaías 32:16-17), e “como a terra produz os
seus botões, e como o jardim faz brotar as coisas que nele são semeadas; assim o Senhor Deus
fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações” (Isaías 61:11).

5. As Bênçãos das Nações. Assim os povos do mundo alcançarão as bênçãos prometidas, e


serão efetuadas:

sua admissão final [ou seja, às bênçãos prometidas] —

através do julgamento no vale de Josafá (Joel 3:12; Mateus 25:31-46);

sua renovação espiritual —

através da conversão nacional (Isaías 2:3; Isaías 19:21; Isaías 19:24;


Isaías 25:1-12);

sua ordem política -

através do Divino Redentor (Apocalipse 1:5; Isaías 2:2; Isaías 45:22-23);

sua concordância internacional -

através da concessão do Rei do mundo (Isaías 2:4; Zacarias 9:10);

sua harmonia civil -

através de medidas sociais justas (Isaías 11.3-4; Isaías 29.19-21);

sua felicidade exterior -

através das bênçãos diárias;75

sua santificação interior —

através da comunhão com o Eterno (Sofonias 3:9; Habacuque 2:14; Isaías


11:10);

seu culto comum –

por meio de peregrinações e serviço divino (Miquéias 4:2; Zacarias 8:21;


Zacarias 14:16; Isaías 56:7; Isaías 60:3; Isaías 66:23).

[4] A Igreja

Mas onde está a igreja durante o reino milenar? Ao que parece, com Cristo no céu, não
regularmente na terra. Desde o arrebatamento a igreja está “sempre com o Senhor” (1
Tessalonicenses 4:17).

A Cabeça está unida aos membros, e os membros compartilham a soberania e a glória da


Cabeça (2 Tessalonicenses 2:14; Colossenses 3:4; 1 Coríntios 1:9). Eles reinarão com Cristo (2

75
Tais como saúde corporal (Isaías 35:5-6), longevidade patriarcal (Isaías 65:20), trabalho bem-
sucedido (Isaías 65:21-23), evitar cidades gigantes (Zacarias 3:10), fecundidade da Natureza (Isaías
30:23-24; Isaías 41:18-19; Isaías 43:20; Isaías 55:13).
150
Timóteo 2:12; Apocalipse 20:4-6; 1 Coríntios 6:2-3). “Ao que lhe vencer, eu o darei que se
assente comigo no meu trono” (Apocalipse 3:21; Mateus 19:28).

Desde que foram glorificados, eles não têm mais um corpo terreno, mas um corpo celestial de
luz (Filipenses 3:21; 1 Coríntios 15:40-49), e são, portanto, como corporificados
espiritualmente, distintos de Israel e das nações. A maneira de suas aparições na terra,
portanto, é aparentemente semelhante às aparições do Senhor após Sua ressurreição; tão
glorificados, eles pertencem ao mundo celestial, mas assim como Ele, eles também podem
participar da vida terrena, possivelmente até no ponto de comer e beber (Mateus 26:29; Lucas
24:29-43; João 20:27). Mas em detalhes essas questões estão muito além do nosso
pensamento e compreensão. Nós nos regozijamos com a glória vindoura. Todos os detalhes
deixamos com Deus.

Assim, a igreja está muito acima de Israel. Os judeus são súditos de Cristo, os membros da
igreja são Seus co-regentes (2 Timóteo 2:12; Mateus 19:28); os judeus pertencem ao reino, a
igreja é Sua esposa; os judeus são o povo terreno de Deus (Isaías 60:21), a igreja Seu povo
celestial (Efésios 1:3), e como o céu é mais alto que a terra, assim são as bênçãos espirituais
da igreja mais altas que as bênçãos terrenas do, finalmente, o povo convertido de Israel.

Todo o reino milenar é, portanto, um organismo poderoso e trino: as nações são o corpo, Israel
a alma, a igreja, com Cristo, o espírito. As nações são a corte, Israel o lugar santo, a igreja
glorificada, com a habitação de Cristo, o lugar santíssimo.

Mas do lugar santíssimo a bênção de Deus fluirá para o lugar santo e para o tribunal.

Da Jerusalém celestial, a igreja glorificada (Gálatas 4:26; Hebreus 12:22), o Senhor fará com
que Sua graça e paz fluam sobre a Jerusalém terrena, e da Jerusalém terrena para os povos da
terra (Isaías 2:3).

[5] Natureza

Juntamente com a humanidade, a sua morada será abençoada. A terra inteira participa da
glória do seu Senhor. Com a revelação dos filhos de Deus toda a criação será libertada da
“escravidão da corrupção” (Romanos 8:19-22).

1. O Mundo Vegetal. O campo, amaldiçoado por causa do homem, será libertado de sua
maldição (Gênesis 3:17; Romanos 8:20-21). A “oração” muda que se move pela planície e pelo
campo será doravante respondida (Oséias 2:21-22). A 'ansiosa esperança' da criação que geme
será cumprida em glória (Romanos 8:19). O deserto da terra seca e da estepe se regozijará e
florescerá como o narciso... A glória do Líbano lhe será dada o esplendor do Carmelo e de
Sharon: eles verão a glória do Senhor, a magnificência do nosso Deus ” (Isaías 35:1-2). E:
“Farei brotar rios nas alturas nuas e fontes no meio dos vales; farei do deserto um lago de
águas e da terra seca em mananciais” (Isaías 41:18), e isso será para o Senhor um louvor, um
memorial eterno que não será apagado ” (Isaías 55:12-13; comp. 32:15; 35:6,7; 43:19-21; Joel
2:21-23).

Canaã especialmente será a terra que “mana leite e mel” (Joel 3:18; Jeremias 11:5). [O uso
desta frase no antigo Egito mostra que era uma descrição proverbial de uma região frutífera.]
Será como o jardim do Paraíso (Isaías 51.3), como o Éden antigo (Ezequiel 36.35).

151
Com jardins floridos (Amós 9:14),

Com campos frutíferos (Ezequiel 36:29-30; Ezequiel 34:27; Salmos 72:16),

Com montanhas repletas de milho, vinho novo e azeite (Joel 2:19),

Com chuva de bênçãos (Ezequiel 34:26; Levítico 26:4; Isaías 30:23),

Com colheitas transbordantes (Levítico 26:5; Joel 2:24; Amós 9:13-14),

Com alegria e deleite na planície, no campo e na floresta (Isaías 55.12) - esta


terra especialmente agora será uma terra encantadora, e todas as outras terras
compartilharão em medida de sua prosperidade.

Portanto: “Exulta, ó céu; regozije-se, ó terra; louvem, montanhas com gritos! Porque o Senhor
consolou o seu povo e teve compaixão dos seus miseráveis” (Isaías 49:13).

2. O Mundo Animal. Paz entre fera e fera. “Então o lobo habitará como hóspede do
cordeiro e a pantera se deitará perto do cabrito; o bezerro, o leão novo e o boi cevado
habitarão juntos, e uma criança os guiará. A vaca e o urso irão juntos para o pasto, seus
filhotes se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi” (Isaías 11:6-7; Isaías 65:25;
comp. 30:23,24; Joel 2:22).

Paz entre homem e animal. “Naquele dia também farei uma aliança em benefício deles com
os animais do campo, e com as aves dos céus, e com os répteis da terra” (Oséias 2:18), e “farei
com que os animais nocivos desaparecer da terra, para que possam habitar em segurança até
no deserto e dormir nas florestas” (Ezequiel 34:25; Levítico 26:6). Na verdade, mesmo a
serpente, embora ainda não redimida (Isaías 65:25; Gênesis 3:14), não será mais venenosa;
pois “o bebê brincará na cova da víbora, e a criança desmamada estenderá a mão para segurar
o basilisco” (Isaías 11:8).

3. O Mundo Estrelado também será de alguma forma atraído para a redenção: “Pois a luz da
lua será tão brilhante como a luz do sol, e a luz do sol tão brilhante como a luz de sete dias, no
tempo que o Senhor cura a dor do povo e cura o golpe de suas feridas” (Isaías 30:26; comp.
24:23).

Portanto, é uma redenção de extensão mundial; o novo nascimento da criação (Mateus 19:28),
“a estação do refrigério da face do Senhor” (Atos 3:19), “a restauração de todas as coisas das
quais Deus falou desde a antiguidade pela boca de seus santos profetas” (Atos 3:21).

“Alegrem-se os céus e regozije-se a terra;

Brame o mar e toda a sua plenitude;

Exulte o campo e tudo o que nele há;

Então todas as árvores do bosque cantarão de alegria;

Diante do Senhor, porque ele vem;

Pois ele vem julgar a terra:

Ele julgará o mundo com justiça,

152
E os povos com a sua verdade.” (Salmos 96:11-13)

153
Capítulo 3. Ruína Mundial e Julgamento Mundial
[1] Imperfeição Mundial

Apesar de toda a sua glória, o reino milenar chega inicialmente a um fim terrível. Nem mesmo o
reino visível de paz na terra é a plena consumação. O pecado e a morte ainda estão presentes,
com a possibilidade de o culpado ser amaldiçoado (Isaías 65:20); na verdade, a possibilidade
de desobediência nacional por parte de grupos inteiros de povos (Zacarias 14.17-18). A justiça
realmente governa a terra; ainda não reside absolutamente em tudo. Muito pelo contrário,
este será o caso primeiro na nova terra (2 Pedro 3:13; Apocalipse 21:3).

No entanto, Satanás está preso, o que elimina o seu poder de enganar (Apocalipse 20.2-3). Por
um lado, isto será um alívio para o homem, porque não será mais tão difícil não pecar; por
outro lado, implicará um aumento da sua responsabilidade, se ainda assim pecarem. Daí
também o julgamento mais severo no vindouro reino de Deus. O pecado não está mais, como
antes, sob a tolerância divina (Mateus 5:45; Mateus 13:30; Gênesis 8:21; Romanos 3:25;
Romanos 9:22; 2 Pedro 3:9; 2 Pedro 3:15), mas é julgado impiedosamente. As nações que não
seguirem serão pastoreadas com cetro de ferro, aqueles que resistirem serão despedaçados
como um vaso de oleiro (Salmos 2:8-9; Apocalipse 19:15; Apocalipse 12:5; Apocalipse 2:26-
27), e os iníquos serão mortos pelo Senhor com o sopro da Sua boca (Isaías 11.4). Obediência
ou destruição — esta é a alternativa para todos no início do reino. Todo falso profeta será
morto (Zacarias 13:3), cada povo que não adorar será visitado com falta de chuva (Zacarias
14:17-19), cada nação que se rebelar será destruída (Miquéias 5:7-8; Obadias 1:18; Zacarias
12:6).

[2] Rebelião Mundial

Mas finalmente Satanás deve ser solto para mais uma vez tentar seduzir (Apocalipse 20:3;
Apocalipse 20:7-8). “A justiça de Deus não permite que a injustiça seja exterminada antes que
esteja totalmente madura” (comp. Apocalipse 14:15; [Gênesis 15:16]). Esta é uma regra divina
que será seguida até mesmo no caso do próprio Satanás. Até mesmo o reino milenar deve ser
testado quanto aos resultados. Até mesmo as nações do reino da glória devem ter a
oportunidade de decidir por sua própria vontade. Ninguém será impedido de se juntar
livremente ao exército atrás de Satanás. Ninguém servirá ao Senhor na eternidade sem querer.
Mesmo este período brilhante da história humana deve demonstrar-se incapaz de quebrar a
obstinação inata do pecador.

Qual é de fato o resultado de toda aquela glória e bênção de mil longos anos? Rebelião dos
povos em uma área mais ampla. De todos os confins da terra eles se reúnem contra
Jerusalém, a concentração dos povos como a areia do mar, sob o comando supremo de Gogue
e Magogue (Apocalipse 20:8-9; Ezequiel 38:39; Gênesis 10:1-2).

Esta é a última rebelião da história, a última guerra religiosa dos povos, o último esforço
convulsivo de revolta humana contra o Altíssimo. Com isso o pecado atingiu sua medida plena.
A humanidade rejeitou até mesmo o senhorio visível da Divindade. Eles desprezaram a maior
de Suas bênçãos com a mais desdenhosa ingratidão, e Sua glória pessoal eles pisaram.

154
E qual foi a escolha deles? Em lugar da liderança de Deus, eles escolheram ser seduzidos por
Satanás. Em lugar da unidade e da paz, escolheram a conspiração e a insurreição. No lugar do
Cristo celestial, eles escolheram Seu inimigo mortal, o Diabo.

Para isto só pode haver uma resposta: destruição e ruína. Mas antes que possa entrar em
batalha, fogo cai do céu e os consome, e o Diabo que os enganou é lançado no lago de fogo e
enxofre, onde estão a Besta e o falso Profeta (Apocalipse 20:9-10). Que das três pessoas da
trindade infernal Satanás será o último a ser julgado tem sua própria razão interna.

É um facto que, em todo o curso dos assuntos mundiais, a cópia e o original estão inicialmente
misturados, mas à medida que o desenvolvimento mundial avança, os elementos essenciais
vêm cada vez mais claramente à luz. Este é o caso em ambos os reinos, tanto o da luz como o
das trevas.

Assim, na história da revelação do Ser Divino, percebemos três estágios principais


correspondentes às três Pessoas Divinas: a era da operação do Espírito (na era da igreja), a
era do governo real visível do Filho (o Milênio), o reino eterno de Deus Pai (na condição
perfeita final).

Mas a auto-revelação do Demoníaco também se completa em três etapas correspondentes.

Na era atual do mundo, Satanás trabalha sob um véu, camuflado como um anjo de luz (2
Coríntios 11:14), como um “mistério” de ilegalidade (2 Tessalonicenses 2:7), como o espírito
do Anticristianismo (1 João 4:3), por a maior parte até mesmo negando sua própria existência
pessoal. Mas então, depois de, ao longo de milhares de anos, ele ter mergulhado a humanidade
na destruição por meio de concupiscências malignas, religiões enganosas, mentirosos e
enganadores na história pessoal e mundial, no final dos tempos ele falará com eles através do
aparecimento de seu Anticristo, através da revelação especial de si mesmo no Homem do
pecado (2 Tessalonicenses 2:3), através de sua contraparte satânica ao Cristo celestial. Mas,
finalmente, quando este Iníquo entrar em colapso e for lançado no lago de fogo, ele próprio,
após os mil anos, entrará no campo de batalha e aparecerá como o Enganador direto e
imediato, mas também será conquistado e lançado no lago de fogo (Apocalipse 20:7-10). Por
isso

no período da igreja corresponde

ao Espírito de Deus

o demoníaco como uma atividade espiritual invisível (1 João 4:3);

no período imediatamente anterior à abertura do reino do Messias corresponde

para a manifestação do Cristo de Deus

o demoníaco como o surgimento do Anticristo;

no período imediatamente anterior à chegada do perfeito estado,

à vitória final de Deus Pai, o Cabeça de todo o reino Divino, corresponde

155
o demoníaco como a rebelião direta do chefe do reino demoníaco,
como a rebelião final de Satanás, ele mesmo a origem de tudo o que
é infernal.

Portanto, a “primeira” pessoa da trindade satânica deve ser a última a ser julgada, porque
como origem de tudo o que é demoníaco, é somente no final que ela se revela plenamente. No
aparecimento do Filho, o Anti-Filho (Anticristo) será julgado; na manifestação do Pai, e,
portanto, de Deus, o Anti-deus, o próprio Dragão, será julgado. A segunda Pessoa da Trindade
Divina triunfa sobre a “segunda” pessoa da trindade infernal demoníaca, a primeira Pessoa do
Ser Divino sobre a “primeira” pessoa do demoníaco. “Pois a atitude do Pai para com o Filho é a
atitude de Satanás para com o Anticristo. Assim como com a vinda do Pai o elemento mais
profundo do reino da luz é revelado, assim no reino das trevas o elemento mais profundo deve
ser forçado para a luz e o próprio Satanás deve ser julgado.”

Assim, torna-se manifesto que em todo o universo existe um poderoso paralelismo e uma lei
interna de consequência, uma lei espiritual, claramente a ser reconhecida, de desenvolvimento
e consumação histórica e supra-histórica.

[3] Destruição Mundial

Agora o último julgamento irrompe. A estrutura universal pega fogo. Destruição da Terra!
Destruição de estrelas! Destruição mundial! O céu e a terra são despedaçados (Ageu 2:6;
Hebreus 12:26-28), desaparecem como fumaça, perecem como uma roupa (Isaías 51:6); todos
os ímpios são queimados como num forno de fogo (Malaquias 4:1). A terra se estremece
(Isaías 24.19); as estrelas derretem (Isaías 34.4); o céu está enrolado como um pergaminho
(Hebreus 1:12; Salmos 102:26). A divisão do átomo! a dissolução dos elementos (2 Pedro 3:12;
2 Pedro 3:7)! a destruição do universo com poderoso rugido (2 Pedro 3:10)!

Tal é a resposta do Todo-Poderoso a esta rebelião mais desprezível de Suas criaturas. Tal é o
contra-ataque do Senhor dos mundos contra a revolta mais infernal do Seu universo. Tal é a
revelação final da justa ira de Deus sobre todo o cenário do pecado, terrestre e celestial.

Mas então deste julgamento ardente emerge um mundo novo e glorioso. Não a mera
aniquilação (Apocalipse 20:11), mas a transformação foi o objetivo final de Deus na destruição
(Salmos 102:26; Hebreus 1:12; Hebreus 12:27), não mera dissolução, mas nova criação, não
desolação, mas transfiguração. Após a morte do céu e da terra (Mateus 5:18; Mateus 24:35),
ocorrerá, sob o governo divino, uma transição de ambos para um novo céu e uma nova terra
(Apocalipse 21:1; 2 Pedro 3:13).

[4] Julgamento Mundial

“E vi um grande trono branco e aquele que estava assentado sobre ele, de cuja face fugiram a
terra e o céu; e não foi encontrado lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que
estavam diante do trono; e os livros foram abertos; e abriu-se outro livro, que é o livro da vida;
e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas
obras” (Apocalipse 20:11-12).

1. O Trono. O trono é grande pela sua majestade, branco pela sua santidade. A terra deve
fugir por causa dos pecados dos homens e da sua contaminação com o sangue do Filho de

156
Deus. O céu deve fugir por causa dos pecados dos espíritos e da maldade dos Governantes
Mundiais nos lugares celestiais, cuja sede eles eram (Efésios 6:12; Efésios 2:2). Assim, o céu e
a terra devem fugir de diante do grande trono branco, e toda cena de pecado será dissolvida.

2. O Juiz é Cristo. Pois o Pai confiou todo o julgamento ao Filho (João 5:22; João 5:27), Ele é o
Homem a quem o Altíssimo designou para julgar a terra com justiça (Atos 17:31), “O Juiz
ordenado por Deus dos viventes e os mortos” (Atos 10:42; 2 Timóteo 4:8; 1 Pedro 4:5), que
exerce Seu julgamento de acordo com o Pai (João 5:30; João 8:16).

3. O Padrão é a Palavra de Deus. “Aquele que me despreza, e não recebe a minha palavra, já
tem o seu juiz: a palavra que vos tenho falado, essa o julgará no último dia (João 12:48).

4. Os julgados são todos os mortos, os grandes e os pequenos, ou seja, todos os homens de


todas as terras e de todos os tempos, com exceção dos ressuscitados no início do reino milenar.
Os santos do Antigo Testamento, bem como os membros da igreja glorificada e os salvos do
tempo da Tribulação, já haviam sido ressuscitados na primeira ressurreição antes do reino do
Messias (Apocalipse 20.4-5); portanto, já havia estado diante do tribunal de Cristo (2 Coríntios
5:10) e, conseqüentemente, já estava há mil anos em corpos espirituais glorificados (Filipenses
3:20-21).

Na vinda do Filho serão ressuscitados aqueles que pertencem a Cristo e cujo relacionamento
com o Pai é, portanto, o de filiação (1 Coríntios 15:23). No último julgamento, as regiões mais
profundas despertarão e não foram tocadas pela vinda do Filho (Apocalipse 20:5; 1 Coríntios
15:24). Segue-se a ressurreição final, que inclui todos os que mantêm relacionamentos mais
gerais com Deus do que a filiação (Apocalipse 20:12). Assim, os dois estágios principais da
ressurreição de todos os homens correspondem aos dois estágios da marcha vitoriosa do plano
Divino para o aperfeiçoamento final: isto é, à vinda do Filho antes da abertura do reino visível
de Deus na terra, e ao aparecimento do reino eterno de Deus Pai no universo transfigurado.
Também aqui, neste paralelismo dos acontecimentos, vê-se novamente que o governo divino
da história da salvação segue a sua própria lei interior.

5. A gravidade. Todos os outros devem agora comparecer perante o tribunal de Deus. Todas
as suas obras estão registradas em “livros”, suas ações e pensamentos, seus atos e omissões
(Apocalipse 20:12). Eles devem prestar contas de toda palavra inútil (Mateus 12.36-37), e tudo
será manifesto, até as coisas mais secretas da alma (Hebreus 4.13). Ali o Senhor olhará nos
olhos de cada um, e cada um nos Seus olhos. Lá o Juiz, com um olhar de chama, verá
instantaneamente através das partes mais internas de cada indivíduo (comp. Apocalipse 1:14;
Dan 7:9-10). Lá o Rei, com santa implacabilidade, trará completamente à luz cada segundo de
sua vida.

Lá eles serão mudos, os tagarelas vaidosos (Jó 9:3; Mateus 22:12). Ali serão despedaçados, os
arrogantes e presunçosos (Judas v. 15). Lá serão manifestados em sua miséria lamentável
todas as “grandes mentes” e “heróis” da história humana (Salmos 2:1-5).

Todos suportam snap. Lá todas as religiões entram em colapso. Lá toda justiça própria é vista
como uma roupa imunda (Isaías 64.6). O engano não é mais possível. Nenhum esconderijo
pode ser encontrado (Salmos 139.1-12). Todo autoengano se transforma em decepção,
desmascarado pela verdade. Cada um deve se curvar (Romanos 14:11; Filipenses 2:10). Cada

157
um deve dar consentimento (comp. Romanos 9:20). Cada um deve reconhecer que Deus é
justo.

6. O resultado. Nem todos recebem da mesma forma; cada um recebe a sua porção, ou seja,
a porção que lhe pertence (Mateus 24:51), seja maior ou menor. Será mais fácil com Sodoma e
Gomorra do que com as cidades que rejeitaram a mensagem do reino dos céus (Mateus 10:15);
mais fácil para Tiro e Sidom do que Corazim e Betsaida (Mateus 11.21-22); mais fácil com a
terra de Sodoma do que com Cafarnaum, a cidade de Jesus (Mateus 11:23-24; comp. 4:13). A
Rainha de Sabá condenará os contemporâneos de Jesus (Mateus 12:42), e o mesmo
acontecerá com os homens de Nínive (Mateus 12:41). A qualquer professor falsamente
chamado de “cristão”, Deus acrescentará pragas (Apocalipse 22:18); e, em geral, a todos os
impostores piedosos e aos obstinados Ele clamará: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo
eterno, preparado para o Diabo e seus anjos” (Mateus 25:41; Mateus 7:23).

No entanto, nem todos serão condenados. A doutrina de que ninguém que estiver diante do
grande trono branco será salvo vai além das Escrituras. Pois o Apocalipse não diz: “Porque não
um foi achado escrito no livro da vida, todos foram lançados no lago de fogo ”, mas “se
alguém não foi achado escrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo ” (Apocalipse
20:15). A nação convertida do reino Milenar não foi julgada antes e deve, portanto, comparecer
perante o grande trono branco. E quando é dito ainda no relato do Apocalipse que os mortos
foram julgados “segundo as suas obras”, deve ser lembrado que a própria fé é uma “obra”, a
obra e a atitude que é a vontade de Deus, como O próprio Cristo declarou nas palavras: “Esta é
a obra daquele que me enviou, que creiais nele ”, etc. Esta foi Sua resposta à pergunta “O
que devemos fazer para que possamos realizar as obras de Deus” (João 6:28-29). E no que diz
respeito a ações específicas, existem dois tipos: as obras da carne e a lei praticada pelos não
regenerados, através das quais, é claro, nenhum homem pode ser justificado diante de Deus
(Romanos 3:28), de modo que aquele que tem somente estes serão lançados no lago de fogo;
e então as “boas” obras, as obras de fé dos regenerados, que, de acordo com as Escrituras, e
apesar de toda redenção e graça, são, no entanto, exigidas dos justificados (Tito 2:7; Tito 2:14;
Tito 3:1; Tito 3:8; Tito 3:14; Tiago 2:26).

As Escrituras não tratam plenamente da questão de como Deus tratará os gentios dos tempos
anteriores ao Milénio que não tinham ouvido o evangelho. Romanos 2:1-16 deve ser
considerado. É suficiente esperarmos pela fé que Deus agirá com justiça. “Não fará o que é
certo o Juiz de toda a terra?” Quando certa vez perguntaram a Jesus: “Senhor, você quer dizer
que poucos serão salvos?” Ele respondeu de forma bastante simples. “Esforce-se para entrar
pela porta estreita” (Lucas 13:23-24). No final do julgamento, cada um reconhecerá que
recebeu apenas o que lhe era devido. Isto é suficiente. O resto deixamos para Deus (Romanos
11:34).

7. A Segunda Ressurreição. Uma ressurreição está ligada ao grande trono branco, a


chamada “segunda” ressurreição em distinção da “primeira” ressurreição antes do reino milenar
(Apocalipse 20:12; comp. 5).

A Escritura ensina claramente uma ressurreição corporal dos perdidos. Chama isso de
“ressurreição dos injustos” (Atos 24:15), a “ressurreição para o julgamento” (João 5:29), a
“ressurreição para a desgraça e vergonha eterna” (Daniel 12:2). Isto também será realizado por

158
Cristo, o Despertar dos mortos (1 Coríntios 15:21-22; João 5:26-29), e nele Deus é aquele que
é capaz de destruir até o corpo no inferno (Mateus 10:28).

Terrível é a diferença entre isso e a ressurreição para a vida. Em ambos os casos, o novo corpo
tem em si a natureza e a essência do antigo corpo, mas cada um numa direção contrária e
numa forma plenamente amadurecida. No caso dos redimidos, o corpo terreno tinha sido um
“templo do Espírito Santo” (1 Coríntios 6:19), seus membros, em princípio, “instrumentos de
justiça” (Romanos 6:13), e seu elemento de ressurreição uma semente de Deus.; portanto,
será ressuscitado para a salvação. Mas no caso dos perdidos, havia sido apenas um corpo de
pecado e morte (comp. Romanos 6:6; Romanos 7:24), seus membros “instrumentos de
injustiça” Romanos 6:13), e seu elemento de ressurreição uma semente do Diabo; portanto,
agora se tornará um corpo de trevas e condenação.

Assim, toda “semente” atinge a maturidade (1 Coríntios 15:42-44). Cada corpo é ao mesmo
tempo uma expressão da realidade espiritual interior; e assim como o corpo dos salvos traz a
marca da santidade, o corpo da condenação dos perdidos traz a marca da impiedade, e isso os
leva à “vergonha e aborrecimento eterno” (Daniel 12:2).

No entanto, mesmo a sua ressurreição mostrará aos perdidos que eles não tinham necessidade
de ter permanecido na morte, pois a sua ressurreição também é um resultado da ressurreição
corporal do Crucificado (João 5:26-29; 1 Coríntios 15:20-22); e Cristo, o Príncipe da Vida, cujo
poder de ressurreição eles agora experimentam em seus próprios corpos por uma razão
puramente judicial, teria sido capaz de libertá-los, exatamente como os outros, das cadeias de
toda forma de morte.

Mas agora este tipo de ressurreição não lhes concede nada. É apenas, como diz a Escritura, a
“outra morte” (Apocalipse 20:14; Apocalipse 2:11); a passagem do pátio do inferno para o
próprio inferno, a transferência do lugar intermediário, o lugar do “tormento” (Lucas 16:23;
Lucas 16:28), para o “fogo eterno”.

A Escritura dá uma imagem terrível de muitos desses perdidos. Fala de “tribulação e angústia”
(Romanos 2:9), de “uivo e ranger de dentes” (Mateus 22:13; Mateus 25:30), de “destruição
eterna” (2 Tessalonicenses 1:9). Fala de uma “fornalha” e de um “lugar de horror” [Topheth]
(Mateus 13:42; Mateus 13:50; Salmos 21:9; Isaías 30:33), de uma “prisão” e um “abismo”
(Mateus 5:25; 2 Pedro 2:4, [Tártaro], de um “inferno” e “tormento eterno” (Mateus 25:46).
Fala de um “verme que não morre” (Marcos 9:48), um “fogo que não se apaga” (Marcos 9:43;
Marcos 9:48; Mateus 25:41), um “mar que arde com fogo e enxofre” (Apocalipse 20:15;
Apocalipse 20:10; Apocalipse 19:20). Diz: “é terrível cair nas mãos de o Deus vivo" (Hebreus
10:31). "Era melhor para aquele homem (Judas, por exemplo) nunca ter nascido" (Mateus
26:24), e "a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre" (Mateus 26:24). Apocalipse
14:11; Apocalipse 20:10).

159
Parte IV: A Consumação Mundial e a Jerusalém Celestial

Capítulo 1. O Novo Céu e a Nova Terra


As idéias eternas são de Deus, os pensamentos mutáveis a respeito delas são do homem.
Bettex.

“E vi um novo céu e uma nova terra: porque o primeiro céu e a primeira terra já passaram; e o
mar não existe mais. E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de
Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. E ouvi uma grande voz vinda do
trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, e ele habitará com eles, e
eles serão o seu povo, e o mesmo Deus será o seu Deus” (Apocalipse 21:1-3; Isaías 65:17).

Um novo mundo emergirá das chamas do antigo; no lugar do frágil mundo de poeira, uma
nova criação formada de matéria luminosa celestial; no lugar do teatro do pecado, um
supermundo de santa perfeição; no lugar de formação e desaparecimento, permanência eterna
e progresso. “Mas esperamos um novo céu e uma nova terra em que habite a justiça” (2 Pedro
3:13). Esta é a expectativa final e celestial da fé cristã.

Consideramo-lo aqui numa dupla conexão quíntupla: velho e novo mundo, céu e terra,
eternidade e tempo, corpo espiritual e (in)visibilidade, mundo eterno e simbolismo.

[1] Velho e Novo Mundo

O novo mundo não ficará sem ligação com o velho mundo. A terra vindoura não é “outra”, mas
uma “nova”. Caso contrário, não poderia ser chamada de “nova terra.” Não, se João vê um
novo “céu” e uma nova “terra”, isso prova que mesmo na eternidade a distinção entre o nosso
planeta e os lugares celestiais continuará de alguma forma. Com toda transformação e
transfiguração, mesmo nesse aperfeiçoamento, o novo plano do universo corresponderá de
alguma forma ao antigo.

Sem dúvida o material também será incorporado, mesmo que de uma maneira ainda
completamente incompreensível para nós no momento76. Deus não abandona a obra de Suas
mãos. Além disso, Ele nunca entregará Seu material glorioso a Satanás, seu arqui-inimigo, para
possuí-lo e destruí-lo. Com a nova criação do céu e da terra é muito semelhante à nova criação
da alma individual. Em Cristo o indivíduo é “uma nova criatura; o velho se foi; eis que tudo se
fez novo” (2 Coríntios 5:17). E ainda assim é o mesmo homem com o mesmo ego e a mesma
alma. “Ele” tornou-se novo (comp. Apocalipse 21:4-5). Assim Deus queimará com fogo Seu
material universal, o resolverá em seus elementos básicos, dividirá seus átomos, o libertará de
todas as restrições, transformará todas as coisas, e assim Ele construirá as pedras da velha
estrutura na nova de acordo com um novo plano. É como se um pedaço de carvão sujo fosse
colocado em uma retorta, tornado fluido como gás por meio de grande calor e depois
cristalizado novamente em um diamante glorioso. Assim, Deus não aniquilará, mas “mudará”
(Salmos 102.26), não rejeitará, mas redimirá, não destruirá, mas colocará em ordem, não
abolirá, mas criará de novo, não arruinará, mas transfigurará.

76
Para nossa principal evidência comp. “O Corpo Espiritual Vindouro: sua necessidade, sua atualidade”,
pp. 106-109.
160
[2] Céu e Terra

Não apenas a terra, mas também o céu terão parte na redenção. A oferenda no Gólgota
estende sua influência à história universal. A salvação da humanidade é apenas uma parte dos
conselhos abrangentes de Deus. Na verdade, está no centro, mas não ocupa todo o círculo. As
“coisas celestiais” também serão purificadas através do sacrifício de Cristo (Hebreus 9:23). Uma
“limpeza” dos lugares celestiais é necessária, pelo menos porque eles têm sido a morada de
espíritos caídos (Efésios 6:12; Efésios 2:2), e porque Satanás, seu chefe, durante séculos teve
acesso aos mais elevados regiões do mundo celestial (Jó 1:6; Jó 2:1; 1 Reis 22:19-23;
Apocalipse 12:7-9; comp. Jó 15:15; Isaías 24:23).

De fato, agradou ao Altíssimo cristalizar os pensamentos eternos de Seu amor redentor em nós,
homens - de modo que, sem a história da salvação da humanidade, não teria havido nenhuma
história de salvação (Romanos 8:19), para Cristo, o Redentor do mundo realizou Sua obra
redentora como Filho do homem. Mas as coisas no céu e no universo estão ligadas à
redenção do homem, coisas que ultrapassam todos os nossos atuais poderes de pensamento e
que na Palavra de Deus são mencionadas apenas em sugestões. Aqui nos curvamos diante do
infinito e confessamos nossa ignorância.

No entanto, vemos uma coisa até agora; a história da salvação tem relação com a humanidade
e com o universo ao mesmo tempo. Seu sol central é Deus, revelado em Cristo, Seu Filho; seu
brilho se estende por toda a humanidade; mas raios únicos alcançam os amplos espaços do
universo, para nós, infinito.

Mas como conseqüentemente a humanidade divina do Redentor é o princípio fundamental de


toda salvação no céu e na terra, a terra, esta morada da humanidade, se tornará a “morada”
da Divindade, a capital do universo do Senhor de tudo e, portanto, o centro de todo o universo.
O trono de Deus, que ainda está no céu (Salmos 103.19), estará então na terra, e a terra, o
“escabelo” de Seu trono, se tornará o trono (Mateus 5.34-35). A Jerusalém celestial desce à
terra (Apocalipse 21:10); o outro lado se torna este lado; a eternidade transfigura o tempo; e
esta terra, o cenário principal da redenção, torna-se a residência do reino universal de Deus.
“Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro” (Apocalipse 22:3). Não somente para o céu virão
os aperfeiçoados (João 14:2-3), mas o céu virá para a terra; na verdade, a própria nova terra
será o céu; pois onde está o trono de Deus, aí está o céu.

[3] Eternidade e Tempo

A eternidade é mais do que um mero tempo sem fim. Não apenas quanto à sua continuidade,
mas também no conteúdo, é essencialmente diferente de tudo que é temporal. Representa o
tempo não numa relação puramente temporal, de modo que existe apenas “antes”, “durante” e
“depois” do tempo, mas numa relação criativa, acelerada e transfiguradora. Todo o tempo é ao
mesmo tempo “da” eternidade, “na” eternidade e “para” a eternidade.

1. A eternidade é a origem do tempo, pois o tempo se origina de Deus: “dele procedem todas
as coisas (Romanos 11:36).

2. A eternidade é o pano de fundo do tempo; pois o “visível é temporal, mas o invisível é


eterno” (2 Coríntios 4:18).

161
3. A eternidade é o abismo do tempo; pois tudo o que é eterno é, sem exceção, inexplicável.
O que é “infinito” nenhuma criatura nascida no tempo pode conceber.

4. A eternidade é a substância do tempo; pois tudo que é temporal tem estabilidade apenas
no eterno (Colossenses 1:17). Nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17:28).

5. A eternidade dá sentido a todos os tempos; pois tudo o que é visível é interpenetrado pelo
invisível e é, portanto, uma cortina e uma semelhança do eterno.

6. A eternidade é o objetivo de todos os tempos; porque para o Criador são criadas todas as
Suas obras. Eles não são apenas “de” Ele, mas “para” Ele e “para” Ele (Colossenses 1:16;
Romanos 11:36). “Do invisível surge o que acontecerá no visível; mas quando acontece, flui
novamente para o invisível” (Bengel).

7. A eternidade é a transfiguração do tempo. As Escrituras nada sabem sobre a cessação do


tempo77. Pelo contrário, fala de eras após eras, de eras após eras, e assim divide a eternidade
sem fim numa sequência inconcebível de extensões e épocas de tempo sempre em movimento.
Assim, o contraste não é “eternidade e tempo”, mas “eterno e temporal”. A eternidade não é a
negação do tempo, mas, pelo contrário, a forma substancial do tempo; a sequência de uma
coisa após a outra permanece em vigor também na eternidade. São apenas as limitações do
tempo que estão ausentes, a sua estreiteza restritiva, a sua mutabilidade pouco confiável, a sua
evanescência evanescente. Por que Deus deveria destruir Seu arranjo, a lei do tempo, que Ele
criou antes de todo pecado, assim como aconteceu: “No princípio Deus criou”? Por que Ele
não deveria transfigurar ainda mais Sua lei do tempo na eternidade, e fazer com que ela se
desenvolvesse de forma mais ampla e gloriosa nos sábados celestiais e em poderosos Jubileus?
Por que uma eternidade sem tempo deveria ser mais gloriosa do que uma eternidade plena de
tempo? Não, é Deus quem é o Eterno no sentido de atemporal. Ele está acima do tempo, é
absolutamente livre. Ele é o Governante, o princípio e o fim, o Alfa e o Ômega, o primeiro e o
último. A eternidade atemporal é, portanto, exclusiva de Deus, o tempo completo que Ele
concedeu às Suas criaturas.

[4] Corpo Espiritual e (In)Visibilidade

1. Corporeidade. Na eternidade haverá “material”. “A corporificação é o fim de todos os


caminhos de Deus.” A Sagrada Escritura nada sabe sobre um céu sem espaço, sem tempo e
sem material; nenhum Além pálido e anêmico para a alma, nenhuma estrutura mental de
meros pensamentos e idéias, mas uma vida de ressurreição feliz em corpos renovados de luz,
uma transfiguração sagrada em um universo materialmente transfigurado. Na verdade, agora
podemos falar deste “material” eterno e inconcebível apenas em imagens e parábolas; mas ela
própria é mais do que uma mera alegoria, é uma Realidade real, existente e espiritualmente
incorporada. Daí o emprego na Bíblia de pedras preciosas como símbolos da Jerusalém celestial

77
Nem mesmo em Apocalipse 10:6. Pois quando é dito ali que “não haverá mais tempo”, a palavra
“tempo” é usada no sentido de trégua, atraso, adiamento: “a partir de agora não haverá mais trégua;
mas quando o sétimo anjo tocar a trombeta, então o mistério de Deus se completará”; tanto quanto
dizemos: “Não tenho mais tempo agora”. Não há dúvida alguma da abolição do tempo em si. Ainda
mais tarde no Apocalipse menciona “dias” (12:6), “meses” (13:5) e “anos” (20:2,3,4,5). Então Bengel,
Zahn, Lange, Menge, Darby. [Assim também o Tempo RV é um acompanhamento necessário da
finitude, pois nenhum ser finito pode conceber o infinito; portanto, o tempo nunca pode cessar para a
criatura, embora nunca seja necessário ao Criador. Trad.]
162
(Apocalipse 21.18-21); portanto, fala da árvore da vida, do rio de cristal, das harpas dos
cantores de salmos e das palmas da vitória dos vencedores. Daí a justificação do seu retrato
simbólico da glória do céu. Pois “naquilo que é dito sobre o esplendor e a luz de Deus, sobre o
paraíso e o jardim celestial, sobre uma festa abençoada e sobre a música celestial, reside mais
do que apenas um sentido 'espiritual'. A natureza terrena é uma promessa que aponta para
uma realização.

Bastante antibíblica, portanto, é a doutrina extraída da filosofia grega, e especialmente de


Platão, de um estado ideal que não contém nenhum elemento corporal. “A escatologia bíblica
nada sabe sobre essa espiritualização sem carne. Da crença na criação e na Páscoa carrega em
si a grande certeza de uma nova criação transfigurada deste mundo visível... Deus é um Deus
que formou o corporal, o terreno, o visível... Ele não criou simplesmente um reino de ideias, de
almas de chama e de espíritos imortais, mas Ele construiu um mundo com cor e forma. O
corporal e terreno não vem do abismo, mas é originalmente glorioso e bom... Portanto, a
própria Natureza pode avançar alegremente para encontrar uma Páscoa eterna... O próprio ato
de Cristo se tornar carne mostra quão profundamente Deus está preocupado com o terra, mas
isso é provado sobretudo pela ressurreição corporal do Redentor”.

Foi dito com razão que “assim como o Judaísmo aplicou as profecias messiânicas quase
exclusivamente a este mundo, o helenismo Alexandrino também as aplicou (também quase
exclusivamente) à vida além. Mas com Paulo encontramos total ênfase nesta vida e total ênfase
naquela vida harmoniosamente conjunta.” De acordo com as Escrituras o corpo não é uma
“prisão” para a alma, nem uma casa de correção para espíritos caídos, mas faz parte da
natureza essencial do homem (2 Coríntios 5:3-4). Portanto, as Escrituras não ensinam uma
redenção do corpo, mas do corpo (Romanos 8:23). Portanto também a ressurreição corporal
do Senhor Jesus (1 Coríntios 15:1-58). Que inconsistência, portanto, da parte de tantos, por um
lado, em acreditar em um Cristo que ressuscitou com carne e ossos (Lucas 24:39-43) e que
comeu e bebeu (Atos 10:41), mas, por outro lado, conceber toda a natureza celestial apenas
como simbólica e alegórica. Não, Jesus, ressuscitado corporalmente dentre os mortos, é o Rei
deste novo mundo (Mateus 28.18-20). Portanto, deve corresponder a Ele, que ascendeu
corporalmente ao céu (Atos 1:9-11), e ao Seu próprio povo, que será transfigurado em
corpo à semelhança do Seu corpo (Filipenses 3:21).

2. Invisibilidade. Mas a “materialidade” não é por si só igual à visibilidade. A visibilidade não é


da essência da materialidade, mas depende inteiramente dos nossos olhos. A visibilidade é tão
pouco condição essencial da matéria terrestre que esta pode a qualquer momento perdê-la e a
qualquer momento retomá-la sem que se perca sequer uma de suas características básicas.
Assim, a - 202 graus de frio, o ar “invisível” se transformará em um fluido cerúleo e, além disso,
em um bloco de cristal. Assim, pelo calor o “visível” pode tornar-se invisível e pelo frio o
“invisível” pode tornar-se visível. Portanto, o material em si não é nem “visível” nem “invisível”.

“Visibilidade” é, obviamente, uma concepção muito estreita. De todos os milhões de cores


(compare com o raio ultravioleta), “vemos” num raio de luz muito poucas, tal como “ouvimos”
apenas alguns de todos os milhões de sons. “O Senhor Deus pode pintar magicamente ao
nosso redor os quadros mais gloriosos; não os vemos, a menos que se movam entre 400 e 800
bilhões de vibrações do éter. Ele pode abranger esta terra com a melhor música; não ouvimos
isso se as vibrações do ar produzidas excederem 75.000 por segundo. Quão pouco inteligente,
163
portanto, objetar: 'Nenhum homem jamais viu o céu ou os anjos', como se a sua inexistência
ou imaterialidade fosse de alguma forma provada, e não apenas o fato de que, no que diz
respeito a um anjo, nós, homens, são simplesmente 'cegos' e 'surdos'. Não, toda 'visibilidade' e
'invisibilidade' depende inteiramente da nossa visão, mas esta da vontade de Deus” (Betex).

Mas ainda mais: toda visibilidade é simplesmente uma condição inferior do material. Fria e
desconcertante é a sua “morte”; a paralisação de todos os poderes do material terreno. A -328
graus de frio, nem mesmo os ácidos mais fortes são capazes de corroer os metais. Só o calor,
que torna o material invisível, também o torna forte e livre e intensifica a sua energia vital. Daí
também o aquecimento do material ao ser tratado quimicamente, até que ele aqueça, até que
seja realmente fluido e gasoso. Portanto, é um fato científico evidente na natureza que
precisamente as condições superiores da matéria terrena são invisíveis.

A Bíblia diz o mesmo sobre o material celestial, e está sendo mostrado como aqui também a
ciência natural moderna se aproxima cada vez mais da apresentação bíblica do mundo, e não,
como afirmam os desinformados, se afasta cada vez mais dela. E se simplesmente
assumíssemos que os anjos e as coisas do invisível tinham um corpo de “éter”, então a física
mais moderna, como os raios Röntgen ou o rádio, deveria admitir “não apenas que tal criação
permanece completamente invisível para nós, mas também que ele e seus anjos pudessem
vagar, fluir e voar através de nossa terra e de nossos corpos sem que os observássemos.”

E, no entanto, o material celestial ainda é mais do que meramente éter ou material terrestre
invisível. É essencialmente mais elevado, mais perfeito e mais celestial. É material
glorificado, totalmente governado pelo espírito; é supramundano, supraterreno, exaltado
acima de toda concepção (ver 2 Coríntios 12:4). A sua invisibilidade não depende dos graus de
calor e da cegueira dos nossos olhos imperfeitos, mas da sua natureza essencial, e sobretudo
da incapacidade de visão das nossas almas caídas. Somente na eternidade nossos olhos serão
abertos. Então primeiro conheceremos como fomos conhecidos (1 Coríntios 13.9-13). Mas
então conheceremos perfeitamente, e esta visão será a verdadeira “visão”, esta audição a
verdadeira “audição”. Para um corpo glorificado, o corpo espiritual será “visível”.

[5] O Mundo Eterno e Simbolismo

Mas mesmo com o corpo espiritual não é o elemento corporal, mas o espiritual que é a coisa
principal. É um corpo espiritual porque é inteiramente controlado pelo espírito. Mesmo na
natureza eterna o espírito é a essência.

Em germe já era assim na natureza terrena. Todo objeto externo inclui duas características,
uma do tempo, a outra da eternidade; um é revelado, o outro oculto, e ainda assim é o oculto
que constitui a essência do revelado.

Só assim surge o simbolismo. Toda a linguagem figurada da Bíblia, todas as parábolas do


Senhor Jesus e, em geral, todas as representações e comparações no espírito humano, têm
suas raízes somente nisso: que o visível é uma silhueta do invisível, uma roupagem de idéias,
uma representação do que de outra forma seria imperceptível. O simbolismo é, portanto, a
percepção de ideias em formas materiais, uma espécie de “escada de Jacó” entre o céu e a
terra.

164
Mas isto quer dizer ao mesmo tempo que tudo o que é visível é mais do que um símbolo. É
uma casa do eterno. “O eterno reside nele.” “A terra está cheia de céu” (Platão). O eterno não
é apenas o significado, mas também a essência do temporal, sua fonte, sua raiz, sua condição,
sua “alma”. As ideias celestiais são “as melodias das coisas” (Carlyle), e as próprias coisas são
figuras “veladas” de seu próprio futuro.

Mas então somente a natureza eterna pode ser a verdadeira natureza. Lá em cima está o
essencial, aqui embaixo a reflexão; lá acima do supremo, aqui abaixo da sombra; lá acima do
original, aqui abaixo da semelhança; não o inverso. O significado interior de todo o mundo é o
que está por trás e acima de toda perceptibilidade. “Os originais das coisas estão nos céus.”
Existe o verdadeiro comer, o verdadeiro beber, o verdadeiro ver, o verdadeiro ouvir. Aí está o
verdadeiro templo, o verdadeiro altar, o verdadeiro paraíso, o verdadeiro trono. O que
chamamos de tal aqui abaixo, embora real em si mesmo, em comparação é apenas um
fragmento pobre e grosseiro. Aqui abaixo há uma observação que não tem sua origem lá em
cima.

Não obstante, essas “árvores” da vida serão bem diferentes de todas as árvores toscas e
materiais desta terra. No entanto, esse “rio” será bem diferente de todas as águas e rios deste
lado. No entanto, esse “ouro transparente” (Apocalipse 21:18) será bem diferente de todo o
ouro aqui nos palácios dos reis.

No entanto, existe algum tipo de relacionamento; e mesmo que não percebamos o que isso é78,
mas apenas saibamos que o celestial é a origem do terreno e o terreno a profecia do celestial,
ainda assim uma coisa permanece imutávelmente firme: que lá em cima viveremos em uma
realidade que é muito mais real do que as coisas mais reais da terra, em um mundo físico
superior da natureza, do qual nosso mundo atual é apenas uma pobre imagem sombria, em um
reino da verdade e dos céus, ao qual todas as coisas terrenas ainda se assemelham, como faz
um sombreia o corpo substancial.

Mas precisamente a perfeição do celestial implica a perfeição do símbolo. No terreno, o símbolo


é apenas fragmentado. O espírito não permeia o material não é plástico. Não é interpenetrado,
não é completamente controlado, não é suficientemente permeado pelo espírito. As ideias
eternas são apenas parcialmente perceptíveis. O terreno os revela e os vela.

Não é assim o eterno. Lá o espírito governa sem restrições. Aí forma a matéria, aí interpenetra
a sua essência; ali determina a sua medida, a sua forma, a sua natureza. Lá ele se expressa de
forma ilimitada e perfeita, e assim torna o corporal uma semelhança celestial do espiritual.

Portanto o simbolismo é eterno. Na verdade, portanto, é apenas na eternidade que ele


realmente existe. Tudo antes era apenas um símbolo nascente, destruído ou expectante. Mas
agora, pela primeira vez, o espiritual é perfeitamente visto no corporal. Agora, o essencial na
Natureza é percebido através de tudo. Agora, todo o universo redimido de Deus é uma
vestimenta materialmente transfigurada do poder eterno do Seu Espírito.

Portanto, também na eternidade, com toda a materialidade das coisas celestiais, o simbólico
nelas é a característica principal. Embora mantendo firme a realidade do corpo espiritual das

78
Um conhecimento mais exato está além do nosso poder de percepção. O mundo eterno é totaliter
aliter, totalmente diferente. Comp. 2 Coríntios 12:4.
165
coisas celestiais, a ênfase principal deve ser colocada na figuratividade do discurso. Mesmo a
Jerusalém celestial, embora seja uma cidade “real”... na verdade, a primeira cidade que pode
ser apropriadamente chamada de “cidade”... é, no entanto, ao mesmo tempo, um símbolo
encarnado pelo espírito da vida glorificada e aperfeiçoada.

166
Capítulo 2. A Nova Jerusalém
O objetivo foi alcançado. A Consumação chegou. A Jerusalém celestial desce à terra. A capital
do céu torna-se a capital da terra, e a Jerusalém “celestial”... a original da terrena... torna-se a
“nova” Jerusalém, a glorificação do terreno, um paraíso neste mundo.

A designação Jerusalém “celestial” deve ser distinguida da designação “nova” Jerusalém.


Ambos descrevem a mesma “cidade” com (finalmente) os mesmos habitantes. Mas a Jerusalém
“celestial” refere-se à cidade de Deus como a capital no céu, como a “mãe” da igreja, como a
original da Jerusalém terrena, até a glorificação do universo (Hebreus 12:22; Gálatas 4:26). A
“Nova” Jerusalém a descreve em contraste com a “velha” Jerusalém, na Palestina, como o
objetivo desta última, aperfeiçoando e glorificando na nova terra (Apocalipse 3:12; Apocalipse
21:2). É como “nova” Jerusalém que a Jerusalém “celestial” desce à terra.

Do “deserto” João viu a Grande Babilônia, a prostituta (Apocalipse 17:1-3), de “um grande e
alto monte” a Nova Jerusalém, a noiva (Apocalipse 21:9-10). “Vem cá, eu te mostrarei a noiva,
a esposa do Cordeiro.” A Bíblia dá uma descrição tripla:

como a nova Jerusalém que desce do céu (Apocalipse 21.9-27);

como o Templo aperfeiçoado de Deus, o verdadeiro e eterno Santo dos Santos


(Apocalipse 21:15-16; Apocalipse 21:22);

como o Paraíso glorificado, o aperfeiçoamento super-histórico dos primórdios da


história (Apocalipse 22:1-5).

A Bíblia descreve o primeiro deles num quadro magnífico. Mostra (1) a sua glória, (2) os seus
alicerces, (3) o seu muro de jaspe, (4) as suas portas de pérolas, (5) os seus habitantes, (6) a
sua vida municipal, (7) o seu tamanho.

[1] A Glória da Cidade

“Glória é santidade demonstrada.” A santidade é a alma da verdadeira beleza. A beleza só é


bela se for o brilho da verdade.

Portanto Jerusalém é gloriosa (Salmos 87.3). Portanto brilha em ouro celestial. Portanto, é, por
assim dizer, um palácio de cristal translúcido e iluminado pelo sol (Apocalipse 21:18; Apocalipse
21:21; Apocalipse 21:23-24). Pois Jerusalém é a cidade da perfeição, o Paraíso espiritualizado,
a “Cidade Santa” iluminada e permeada por Deus (Apocalipse 21:2; Apocalipse 21:10;
Apocalipse 21:27).

Portanto, a Bíblia pinta-o com as cores mais gloriosas. Portanto, pega as coisas mais preciosas
da terra... ouro, pérolas, pedras preciosas... e as usa como profecia das coisas ainda mais
preciosas do céu, a origem de todo esplendor, a vindoura cidade de Deus.

Daí a conversa sobre as ruas douradas, os alicerces de pedras preciosas, os portões de pérolas,
o muro de jaspe e o rio cristalino da vida. Pois o objetivo de toda redenção é a santa
transfiguração: uma humanidade santa e transfigurada em uma terra santa e transfigurada sob
o brilho da glória de Deus que a transfigura pela santidade (Apocalipse 21:23-27).

167
[2] As Fundações da Cidade

“E o muro da cidade tinha doze pedras fundamentais, e nelas os nomes dos doze apóstolos do
Cordeiro.” E as pedras fundamentais foram adornadas com todos os tipos de pedras preciosas,
como jaspe, safira, esmeralda, sárdio, crisólita, ametista (Apocalipse 21:14; Apocalipse 21:19-
20).

Por quê esta base? Por que precisamente os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro como
inscrição?

Porque o Cordeiro é o fundamento da cidade celestial, porque Aquele que foi crucificado pela
velha Jerusalém é o Coroado na nova Jerusalém, porque a mensagem apostólica do Cordeiro é
o fundamento adornado com joias de toda a glória celestial (comp. Efésios 2:20).

Em sua imagem da nova Jerusalém, João nomeia sete vezes o “Cordeiro” (Apocalipse 21:1-27;
Apocalipse 22:1-21). A palavra é literalmente “cordeirinho”, portanto, em todo o Apocalipse ...
29 vezes. Contrapõe a aparente fraqueza do Crucificado ao Seu triunfo. Para João o Cordeiro é:

1. O fundamento ... pois os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro estão no fundamento
(21:14).

2. A guarda ... pois somente aqueles cujos nomes estão no livro da vida do Cordeiro podem
entrar na cidade (21:27).

3. A fonte da vida ... pois o rio da vida sai do trono de Deus e do Cordeiro (22:1).

4. A Luz ... para o Cordeiro é a sua luz, como o jaspe, tão clara como o cristal (21:23,11;
Isaías 60:19).

5. A Amada ... pois a cidade é a esposa do Cordeiro, preparada como uma noiva adornada
para o seu noivo (21:9,2; comp. 2 Coríntios 11:2-3; Efésios 5:31-32).

6. O Templo ... porque o Todo-Poderoso e o Cordeiro são o seu templo; portanto não há
outro templo nele (21:22).

7. O Rei ... porque o trono de Deus e do Cordeiro está na cidade: os seus servos prestar-lhe-
ão serviço (22:3).

[3] A Muralha de Jaspe

“E tinha um muro grande e alto... e ele mediu o seu muro de cento e quarenta e quatro metros
(250 pés) de acordo com a medida do homem, que é também a medida angélica” (21:12,17).

1. Sua altura. O muro é grande e alto, com quase 75 metros de altura, quase quatro vezes
mais alto que uma casa moderna comum de uma cidade grande. Naturalmente, as figuras
devem ser consideradas simbólicas e, do ponto de vista das condições do mundo civilizado da
época de João, o simbolismo significava que o muro não deveria ser escalado por nenhum
esforço humano. Ninguém pode entrar na Jerusalém celestial pelo progresso humano, ou pela
ascensão da cultura, ou pela ascensão do espírito do homem, pela auto-redenção por seus
próprios poderes. O muro é muito alto. É preciso entrar pelos portões de pérola. Mas estes são
guardados por anjos. Somente os redimidos de Deus têm acesso.

168
2. Sua humildade. E, no entanto, comparado com a própria cidade, o muro é baixo. Cerca de
250 pés a cerca de 1.500 milhas, como se uma casa em uma cidade grande com 20 metros de
altura tivesse ao redor uma grade de cerca de um quadragésimo de polegada de altura. Mas
isto está indicado: Jerusalém é tão segura! Nenhum inimigo pode perturbá-lo, nenhum
adversário pode perturbá-lo, tão completamente são conquistados todos os inimigos do
Crucificado. Jerusalém será habitada como uma cidade “aberta” (Zacarias 2:4), com portas
abertas o dia todo (Apocalipse 21:25). Entre o muro “salvação” e a fortaleza “rocha da
eternidade” os redimidos habitarão em segurança (Isaías 26:1-4; Salmos 122:7). O próprio
Senhor é o muro (Zacarias 2:5; Salmos 125:2), e ninguém pode atacá-lo. “O Pai é maior que
todos” (João 10:29; Salmos 46:6; Salmos 48:14).

3. Seu material de construção. “O muro era de jaspe”, o que permite a passagem da luz da
glória. A nova Jerusalém irradia luz sobre toda a terra. Não retém a sua luz; outros
compartilham. A glória de Deus está designada para todos. Por isso os povos andam na luz da
cidade e os reis da terra trazem para ela a sua glória (21:24). A cidade que tem o Cordeiro
como sol (21:23) torna-se ela mesma um sol (Mateus 5:14).

4. Sua preciosidade. Em todos os lados a parede tem 12.000 estádios, ou seja, 1.500 milhas
de comprimento, toda de jaspe, portanto, 6.000 milhas de jaspe, em todos os lugares com 250
pés de altura. Quais são todas as joias da terra em comparação? O maior de todos os
diamantes já conhecidos, de Bornéu, pesa 367 quilates (2 ½ onças). Kohinoor (monte da luz) é
famoso há séculos. Está hoje entre as joias da coroa britânica. Ele pesa 106 quilates (não
exatamente 1 onça). Orlow, o diamante na ponta do cetro dos ex-imperadores russos, pesa 195
quilates (cerca de 1½ onças)79. Mas aqui está um muro de pedra preciosa com cerca de 9.000
quilômetros de comprimento e 75 metros de altura, todo de cristal! Na verdade, todas as coisas
terrenas empalidecem diante das celestiais e tornam-se simplesmente nada. Eles afundam na
insignificância. Na verdade, não apenas os sofrimentos deste mundo, mas também as suas
glórias não são dignas nem mesmo de serem comparadas com a glória que nos será revelada
(Romanos 8:18). Portanto diz o Senhor: “Tu miserável, aturdido pela tempestade,
inconfortável! Veja, assentarei as tuas pedras em antimônio e lançarei os teus alicerces com
safiras, e farei os teus pináculos de rubis e as tuas portas de carbúnculos e todas as tuas
fronteiras de pedras preciosas” (Isaías 54:11-12).

[4] Os Portões de Pérola

“E tinha doze portas, e nas portas doze anjos, e nomes escritos nelas, que são os nomes das
doze tribos dos filhos de Israel ... e as doze portas eram doze pérolas; cada uma das várias
portas era de uma só pérola” (Apocalipse 21:12; Apocalipse 21:21). Eles são:

1. Portões que estão abertos... pois a cruz os destrancou (João 1:51; Atos 7:55; Isaías 26:2;
Isaías 60:11; Salmos 100:4). A pérola é em si um emblema de redenção. Origina-se através da
secreção especialmente forte de madrepérola pelos moluscos perolados como uma reação
contra lesões externas, como pela irrupção de objetos inanimados, conferva (fios de algas
marinhas), ácaros aquáticos e semelhantes. É, portanto, a resposta de uma vida ferida aos
ferimentos externos. Assim também a abertura das portas peroladas do céu é a resposta da

79
O maior diâmetro é inferior a 1 ½ polegada e sua maior altura não chega a 1 polegada.
169
vida mortalmente ferida do Redentor ao pecado no Gólgota, até mesmo o assassinato de Si
mesmo, o Filho de Deus.

2. Portões para todos os cantos do céu... pois a salvação é para todos (Apocalipse 21.13; Isaías
45.22, comp. 43.5-7; Ezequiel 48.30-35). Em direção a cada um dos quatro cantos da terra há
três portões: para a glória Divina (3) é designada para o mundo inteiro (4).

3. Portões com o brilho suave das pérolas, não com o brilho do diamante... pois são portões da
graça (Apocalipse 21:21; Mateus 11:28-30; Efésios 2:5; Efésios 2:7-8).

4. Cada portão de uma pérola gloriosa... pois eles conduzem à glória (Apocalipse 21:21; comp.
Isaías 60:18).

5. Portas somente para o povo de Deus... pois seu número é doze vezes maior (Isaías 33:24;
Apocalipse 21:13; Apocalipse 21:27), que é o número do povo de Deus, comp. pág. 194.

6. Portões sob a santa guarda dos anjos... pois o anjo do Senhor os guarda (Apocalipse 21:12;
Salmos 34:7; Isaías 62:6). Esses anjos guardas nas portas abertas de pérola contrastam
abençoadamente com os guardas querubins na porta fechada do Paraíso (Gênesis 3:24).

7. Portões com os nomes do povo de Israel... pois a salvação vem dos judeus, como disse o
próprio Jesus Cristo (João 4:22, comp. Romanos 11:18; Hebreus 11:10). Abraão é o pai de
todos os crentes. Somente quem entrou pela porta messiânica tem entrada pela porta de
pérola. As nações serão beneficiadas pela cidade celestial através da submissão ao Israel
convertido, renovado e glorificado na nova terra. Jesus, o Filho de Davi (Marcos 10:47; João
10:9) diz: “Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo”. Somente aquele que entrou
pela “porta estreita” (Mateus 7:13-14) garante a entrada “ampla” no reino dos céus. Somente
aquele que encontrou “a pérola de grande valor” (Mateus 13:46), somente para ele abre a
porta de pérola acima.

[5] Os Habitantes da Cidade

Quem mora na cidade?

1. Deus e o Cordeiro. “Nele está o trono de Deus e do Cordeiro” (Apocalipse 22:1; Apocalipse
22:3). “Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens!” (21:3).

2. Miríades de anjos. “Chegastes ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém


celestial, e a miríades de anjos, à assembléia festiva geral”80 (Hebreus 12:22-23; Apocalipse
21:10-12).

3. Os redimidos de Israel. Os nomes das doze tribos de Israel estão nas portas (Apocalipse
21:12). Na nova Jerusalém habita o “remanescente” de Israel do tempo da nova aliança
(Romanos 11:4-5; Apocalipse 7:3-8) como também os crentes do tempo anterior do Antigo
Testamento, que “sem nós não serão aperfeiçoados” (Hebreus 11:40; Gálatas 3:9; Gálatas
3:14). É a cidade que Abraão esperava, da qual Deus é arquiteto e construtor (Hebreus 11:10),
e por causa da qual os “justos aperfeiçoados” (Hebreus 12:23) - isto é, os santos do Antigo
Testamento - foram preparados para ser apenas convidados e estrangeiros na terra (Hebreus

80
O grego paneguris, que significa assembleia festiva, é mais que ecclesia, assembleia, igreja.
170
11.13). “Portanto Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus, porque lhes
preparou uma cidade” (Hebreus 11:16).

4. Aqueles dentre os povos do mundo que através do evangelho são chamados para a
igreja. A nova Jerusalém é a mãe de todos nós (Gálatas 4:26). Nós também viemos para a
Jerusalém celestial (Hebreus 12:11; Hebreus 12:23). Para nós também é a cidade que
buscamos, a cidade futura (Hebreus 13.14). Também sobre os vencedores dentre as nações o
nome da cidade eterna de Deus um dia será escrito (Apocalipse 3:12).

[6] Vida na cidade

Agora estão todos lá, os redimidos de todos os tempos, os profetas e apóstolos, os mártires e
testemunhas, os distantes e os próximos, todos os que em seus diferentes caminhos O
consultaram e em seus vários lugares se curvaram à Sua verdade. Lá estão eles agora como
porta-palmas e harpistas (Apocalipse 7:9; Apocalipse 15:2), coroados com coroas de ouro
(Apocalipse 4:4), adornados com vestes brancas (Apocalipse 7:9), vestidos com as vestes
nupciais da justiça (Apocalipse 19:8). Lá estão eles agora diante do trono do Cordeiro, como
Seus servos que O servem, como Seus santos que O veem, como Seus sacerdotes que O
adoram e cantam louvores eternos a Ele (Apocalipse 22:3-4; Mateus 5:8). E Ele mesmo está lá,
o sol de toda a cena (Apocalipse 21:23), o centro do universo, o céu dos céus.
Verdadeiramente: “Se o Senhor resgatar os prisioneiros de Sião, então seremos como os que
sonham; então a nossa boca se encherá de riso e a nossa língua se encherá de louvor” (Salmos
126:1-2). Então os veremos, as ruas douradas, as fundações adornadas com joias, os portões
de pérola, o brilho dourado da cidade, o rio cristalino da vida (Apocalipse 22.1).

Então os veremos, as miríades de anjos (Hebreus 12:22; Apocalipse 21:12), os santos que
partiram antes, os justos aperfeiçoados (Hebreus 12:23), todos os que lavaram suas vestes e
as branquearam no sangue do Cordeiro (Apocalipse 7:14). Lá O veremos, o Rei em Sua
formosura (Isaías 33.17), o Cordeiro que foi morto, o Vencedor do Gólgota (Apocalipse 5.5-10).

Esta é Jerusalém. Ela é construída como uma cidade onde eles se reúnem. É a meta da
redenção, a meta almejada pela humanidade, a meta vista de longe, a meta peregrina
inundada de luz do mundo. É a herança preservada no céu para o santo (1 Pedro 1:4;
Colossenses 1:5; Mateus 5:12), Paraíso perdido, reencontrado, glorificado.

E estas são as bênçãos que os redimidos desfrutam:

1. Uma caminhada santa sob o sol de Deus. “Ouro” é, por assim dizer, a luz solar
cristalizada, a imagem visível do sol. A “rua” é a imagem da “caminhada”, do movimento e da
atividade da vida. As “ruas douradas” significam, portanto, os movimentos da vida santa na
claridade ensolarada, a vida espiritual movida por Deus na luz da eternidade, o caminhar santo
na luz solar da perfeição.

2. Variedade harmoniosa. Cada um brilha, mas cada um de forma diferente. Cada um dos
doze fundamentos é adornado com uma joia diferente (Apocalipse 21.19-20). As doze portas de
pérola estão inscritas com doze nomes diferentes (21:12). O reino aperfeiçoado de Deus é a
glorificação de toda variedade do Antigo e do Novo Testamento. Isto é demonstrado pelos
vários nomes de Israel nas portas de pérola e pelos vários nomes dos apóstolos nas jóias dos
fundamentos de jaspe. Não a dissolução, mas a redenção, não a eliminação, mas a colocação
171
em serviço, não a abolição, mas a transfiguração da personalidade humana no objetivo de
glorificar Deus. A santidade é ao mesmo tempo uma personalidade fortemente marcada.
Portanto a imagem de uma “cidade” de Deus; pois no sentido ideal uma “cidade” não é uma
massa indistinguível de pessoas, mas uma irmandade de membros, um organismo harmonioso,
uma multiplicidade em unidade, uma união de numerosos poderes individuais numa energia
total muito maior.

Ao mesmo tempo, os nomes das doze tribos de Israel significam a variedade de glória da vida
interior dos redimidos.

3. Feliz harmonia. No entanto, apesar de toda variedade, reina uma unidade maravilhosa.
Portanto, a cidade de Deus é chamada também de cidade da paz, Jerusalém, pois no céu está a
comunhão aperfeiçoada dos santos. Aquele antigo príncipe oriental, no período anterior a
Abraão, que chamou seu assentamento de Urusalim81, Castelo da Paz, Cidade da Paz,
permaneceu, sem saber, sob o domínio divino. Pois a partir de então Jerusalém, simplesmente
por causa de seu nome, foi, durante séculos, uma profecia da cidade, uma paz no céu, a vida
comum dos glorificados em santa harmonia.82

Vamos nos conhecer novamente? Sem dúvida! Nós nos conhecemos aqui e certamente não
seremos mais tolos no céu do que somos agora. O homem rico, mesmo em seu tormento, não
reconheceu Abraão, a quem ele não conhecia antes, e também Lázaro (Lucas 16:23). Pedro, no
monte da transfiguração, não reconheceu Moisés e Elias, a quem ele também nunca tinha visto
antes (Mateus 17:3-4)? NÃO; no céu certamente não seremos hieróglifos errantes, mas um
reconhecerá o outro, sim, olhará para o fundo de sua alma; na verdade, em certo sentido, só
ali ele, pela primeira vez, realmente o verá. Pois na terra nenhum homem jamais “viu”
verdadeiramente seu próximo. O que agora chamamos ocorre apenas através da cobertura de
argila do corpo, a porta quíntupla dos olhos, da voz, da ação, do semblante e da forma
corporal. Mas aí haverá uma percepção de espírito para espírito, isto é, por intuição; não há
mais evasão, nada de esconde-esconde dos pensamentos, nada de falta de transparência, mas
todas as coisas perfeitamente claras como ouro transparente, uma percepção relâmpago de
personalidades cristalinas.

81
Este é o nome da cidade nas “Cartas de Tel-el-Amarna” cananítico-egípcias, cerca de 1300 a.C.
82
Comp. o significado típico messiânico do nome em Hebreus 7:2. A história de Jerusalém em referência
à história da salvação atravessa sete períodos.
(a) A Jerusalém celestial: o original.
(b) A antiga Jerusalém semítica: 2.300-2.000 aC Como seu nome semita mostra, Jerusalém foi
fundada pelos semitas antes que os cananeus camitas (de acordo com Gênesis 10:6, Canaã
era filho de Cão) tomassem posse da terra (Gênesis 10:15- 19), portanto entre o Dilúvio e
Abraão.
(c) A Jerusalém dos cananeus camíticos; 2.000-1.000 a.C., terminando com a expulsão dos
jebuseus camitas da cidadela de Sião por David: 2 Samuel 5:6-9; Gênesis 10:16.
(d) A teocracia israelita em Jerusalém: 1000 AC a 70 DC.
(e) Jerusalém controlada pelas nações. 70 DC para o reino milenar (Lucas 21:24). Neste período
Jerusalém foi conquistada mais de vinte vezes, e hoje está coberta aqui e ali com 27 metros
de escombros.
(f) A Jerusalém Messiânica, no reino Milenar.
(g) A “nova”, eterna e celestial Jerusalém: na nova terra.
172
Que alegria cultivar a comunhão com todos os santos que já existiram, com Abraão e Moisés,
com Elias e Isaías, com João e Pedro, com Agostinho e Lutero; com todos os grandes e
pequenos nos anais do reino de Deus; com tudo o que conhecíamos, quem nos amou e quem
amávamos; com todos cujos nomes estão escritos no céu (Filipenses 4:3; Lucas 10:20). Sim,
que alegria intensa saudar a todos e num só coro louvar o Redentor!

“No entanto, cada um trará sua doce harpa,

E sua própria música especial cantará.”

E o centro de tudo será o próprio Senhor.

4. Santo Culto. Aqui estão especialmente quatro raios celestiais que constituem a glória dos
santos celestiais:

em relação à majestade de Deus -

adoração santa (Apocalipse 7:9-10; Apocalipse 15:2-4):

em relação à Sua natureza -

conformidade com a imagem de Seu Filho (Apocalipse 22:4; Romanos


8:29);

em relação à Sua vida -

filiação criatural83 (Romanos 8:23):

em relação ao Seu reino –

reinando com Cristo (Apocalipse 22:5).

Mas o que é comum a todos, o cerne de tudo, é que eles vêem o Seu rosto. “Bem-
aventurados os puros de coração; porque eles verão a Deus” (Mateus 5:8; Apocalipse 22:4; 1
João 3:2). “Os teus olhos verão o Rei na sua formosura” (Isaías 33:17). Ver Jesus, nosso
Salvador e Libertador, vê-Lo, o Cordeiro de Deus, com as feridas do Seu amor (Apocalipse 5:6)
- essa será a felicidade todo-inclusiva, a bem-aventurança de toda bem-aventurança, o céu de
todos os céus!

[7] O tamanho da cidade

“Na casa de Meu Pai há muitas moradas” (João 14:2). No céu há lugar para todos. Isto é
expresso figurativamente pelas dimensões gigantescas da nova Jerusalém — 2.400 quilômetros
de comprimento, 2.400 quilômetros de largura, 2.400 quilômetros de altura, ou seja, 3.000
milhões de quilômetros cúbicos no total. Todos os edifícios do mundo, todas as casas e salões,
todas as cidades e aldeias, tudo o que hoje habitam os 2.000 milhões de homens, tomados em
conjunto, não perfazem 300 milhas cúbicas. Assim, há espaço na Jerusalém celestial para
centenas de milhares de gerações e, ainda assim, de acordo com a cronologia bíblica, apenas
200 gerações se passaram desde Adão.

83
[A filiação que os seres criados podem receber, em distinção da filiação eterna do “Filho unigênito”.]
173
Mas os números não devem ser interpretados literalmente. O que importa é a vastidão colossal
e o significado simbólico do sagrado número doze. Mesmo mantendo firmemente a
personificação do espírito, deve-se dizer que o espelho figurativo do eterno não é de forma
alguma o mesmo que a essência e o conteúdo do eterno. O próprio João testifica que a medida
que o anjo tem é uma medida humana (Apocalipse 21:17), isto é, que o anjo empregou
medidas e formas humanas, de modo a trazer o infinito à consciência do espírito finito. Ele
falou com ele em imagens da concepção humana, mas o próprio eterno é inconcebível, além da
nossa percepção, supraterreno, supramundano, simplesmente “o outro”. A realidade da sua
substância está, portanto, longe de denotar a literalidade verbal das suas medições. A forma na
qual sua corporificação espiritual é apresentada é figurativa, a própria corporificação espiritual é
real84. A revelação, portanto, não pretende dar uma descrição, mas apenas uma sugestão do
eterno; o que importa não é a forma, mas aquilo que a forma; o significado é o último, não o
seu símbolo. Assim, o tabernáculo feito por Moisés não era uma cópia do verdadeiro santuário
nos céus, mas de um padrão deste último: o original era o assunto importante, e não a cópia
(Êxodo 25:40; Hebreus 8:5).

O número básico dominante doze: doze fundamentos, doze pedras preciosas, doze nomes dos
apóstolos, doze portas, doze anjos, doze inscrições nas portas, 12 vezes 12 a altura do muro,
12.000 estádios de extensão da cidade em todos os lados.

Mas por que esse número exato em todos os lugares? Três é o número de Deus; quatro é o
número do mundo85. Três mais quatro (3 + 4) é o número da aliança entre Deus e o mundo,
portanto sete é o número da história da salvação.86

Três vezes quatro (3 multiplicado por 4) é o número do mundo, na medida em que é frutificado
por Deus, na medida em que é Sua vinha e terra cultivada, Sua semente e Sua colheita; o
terreno (4) multiplicado pelo celestial (3), a criação desenvolvida e abençoada pelo Criador. Isto
significa que 12 é o número do povo de Deus e, portanto, o número da comunhão dos santos.
Portanto, 12 tribos, 12 príncipes (Números 1:44), 12 estrelas (Apocalipse 12:1), 12 pães da
proposição, 12 apóstolos, 12 tronos (Mateus 19:28). Portanto a Jerusalém celestial é governada
pelo número 12, porque é a morada da igreja redimida.

84
Portanto as mudanças na auto-revelação do imutável. Assim, o anjo de Jeová aparece ora como
chama (Êxodo 3:2), ora como voz (1 Samuel 3:2-9), ora com forma de luz, ora como um homem
comum (Gênesis 18:1-8), e da mesma forma anjos em geral (Daniel 10:4-6; comp. Hebreus 13:2).
Assim também os querubins aparecem ora com quatro asas (Ezequiel 1:6), ora com seis asas
(Apocalipse 4:8), ora com quatro faces (Ezequiel 1:6; Ezequiel 1:10), ora com uma face (Apocalipse
4:7). Longe de ver aqui quaisquer “contradições”, antes percebemos nisso uma prova de que a forma da
revelação e apresentação profética é simbólica, e também da suscetibilidade do material celestial à
mudança de forma, isto é, da liberdade do espírito em seu corpo espiritual.
85
Quatro “pedras de construção” do universo (número, tempo, espaço, material), 4 quartos dos céus, 4
estações do ano, 4 dimensões (de acordo com a concepção antiga – comprimento, largura,
profundidade, altura: Efésios 3:18), 4 elementos (de acordo com a concepção antiga —fogo, água,
terra, ar; Naum 1:3-6), 4 impérios mundiais (as 4 bestas de Daniel; a vida do mundo em seu
afastamento de Deus: Daniel 7:1-28), 4 querubins (as 4 criaturas viventes de Ezequiel — a vida do
mundo a serviço de Deus: Ezequiel 1:10; Apocalipse 4:1-11), 4 Evangelhos (a mensagem de salvação
para o mundo inteiro).
86
Portanto, 7 dias da criação (incluindo o sábado), 7 selos, 7 trombetas, 7 taças da ira, 7 trovões, 7
estrelas.
174
Mas ainda mais. No número 12.000 que o livro do Apocalipse dá como medida da Cidade
Celestial, doze é ainda multiplicado por mil, isto é, pelo resultado da multiplicação do número
dez três vezes por si mesmo (12 por 10 por 10 por 10). Assim o número 12.000, segundo a
linguagem simbólica bíblica, apresenta-se como o resultado da multiplicação do número do
povo de Deus (12) pelo número de completude e conclusão (10), e isto três vezes (sendo três87
o número Divino). Com isto indica que na Jerusalém celestial o povo de Deus, a igreja, terá
alcançado o seu objetivo designado por Deus em plena glória e perfeição, será a igreja
eternamente glorificada.

E que a Cidade seja representada como um cubo, sendo em todas as suas dimensões (Efésios
3:18) regida pelo mesmo número 12.000 (Apocalipse 21:16), expressa igualmente a ideia de
perfeição: é proporcional em todos os lados, simétrica em todos os seus partes, um todo
harmonioso, a glória eterna.

87
Dez é o último dos numerais, portanto o número da conclusão, do desdobramento completo, do fim
do desenvolvimento. Noé é o décimo de Adão, Abraão é o décimo de Noé; o quarto império anticristão
termina como um reino de dez chifres (Daniel 7:24); 3 e 7 são números de Deus, 4 e 10 são números
do mundo.
175
Capítulo 3. O Templo Aperfeiçoado de Deus
Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens (Apocalipse 21:3).
Glória é o brilho da santidade. A santidade é a base essencial de toda glória. O Todo-Glorioso
deve, portanto, ser ao mesmo tempo o Todo-Santo.

1. A forma cúbica. Por esta razão, antigamente, no tabernáculo e no templo, a perfeição do


Todo-Glorioso era simbolizada pela forma cúbica do Todo-Santo (Êxodo 36:15-30); pois o cubo
é a figura da perfeição (ver p. 195). E uma vez que a nova Jerusalém também é apresentada
como um cubo (Apocalipse 21:16; comp. Ezequiel 48:16), é assim ensinado que é o Santo dos
Santos perfeito e celestial.

2. A ausência de um templo. Sob a antiga aliança havia um templo na cidade; em perfeitas


condições, a própria cidade será o templo. A presença de um templo antigamente baseava-se
sempre numa distinção entre templo e não-templo; entre terreno sacerdotal e não sacerdotal,
entre todo santo e não totalmente santo (comp. Ezequiel 45:20). Um templo era uma seção,
uma parte cortada88, uma área limitada, uma projeção do mundo eterno no terreno, e isso de
uma maneira sombria e típica (Colossenses 2:17; Hebreus 10:1). Mas aqui tudo é o Santo.
Aqui está a adoração mais pura e espiritual. Aqui o tabernáculo de Deus está com os homens
(Apocalipse 21:3; João 4:24). Portanto, não pode haver aqui nenhuma área separada do
templo: “Não vi nenhum templo ali” (Apocalipse 21:22). Um templo na nova cidade seria um
pedaço do velho mundo em meio ao novo, uma indicação de imperfeição em meio à perfeição,
um princípio do mundo das sombras em meio ao mundo do essencial. Portanto, o
desaparecimento do templo é um sinal do aperfeiçoamento da ideia de templo. Isto é ainda
comprovado por:

3. A base de pedras preciosas. No peitoral do sumo sacerdote sob a antiga aliança, as doze
tribos de Israel eram representadas por doze joias diferentes (Êxodo 28:17-21; Êxodo 28:29).
Também as doze pedras fundamentais da cidade celestial são adornadas com doze jóias
radiantes; o que significa que a Jerusalém celestial repousa, assim como a terrestre, na base de
um sumo sacerdócio. Mas não tem apenas uma base Aarônica, mas também a de
Melquisedeque (Hebreus 7:1-28); é sustentado pela pessoa e pela obra do eterno Sumo
Sacerdote. De tudo isso se segue que a nova Jerusalém é o templo aperfeiçoado de Deus.
Portanto também aqui está

4. Não é mais uma arca da aliança, pois o próprio trono de Deus está na cidade (Jeremias
3:16-17; Apocalipse 22:1; Apocalipse 22:3). Portanto, também,

5. Não há mais luz solar, pois no Santo dos Santos nunca foi criada luz. Somente no lugar
santo havia luz, isto é, do candelabro de sete braços. O Santo dos Santos estava escuro (1 Reis
8:12; comp. Êxodo 20:21). Pois Deus “habita em uma luz da qual ninguém pode se aproximar”
(1 Timóteo 6:16). Sua invisibilidade só poderia ser expressa figurativamente pela ausência de
toda luz criatural, isto é, a Luz absoluta apenas pela escuridão simbólica. Mas na nova
Jerusalém Sua face será vista (Apocalipse 22:4; Mateus 5:8; 1 João 3:2). Portanto, este Santo
dos Santos não está mais escuro, mas cheio de brilho radiante (Apocalipse 21.11). “O Senhor
Deus brilhará sobre eles” (Apocalipse 22:5). “A cidade não precisa de sol nem de lua para

88
Segundo sua derivação a própria palavra “templo” vem do grego temno, cortei.
176
brilhar; porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o Cordeiro” (Apocalipse 21:22;
Apocalipse 22:5). Portanto

6. O nome de Deus está na testa dos glorificados, pois cada um é consagrado a Deus,
assim como o sumo sacerdote (Apocalipse 22:4; Êxodo 28:36; Zacarias 14:20-21). Portanto

7. O radiante jaspe-shekinah89, para a glória de Deus ilumina todo o templo celestial


(Apocalipse 21:11; Isaías 4:5; Êxodo 40:34-38).

Mas com a ideia do templo está ligado o pensamento do Paraíso. O Santo dos Santos, o paraíso
e o céu pertencem um ao outro.

No templo está o pão da proposição, o emblema da vida90 - no Paraíso, a árvore


da vida.

No templo está o candelabro, o emblema do conhecimento - no Paraíso, a árvore


do conhecimento.

No templo estão as flores91, emblema da beleza - no Paraíso, a magnificência


florescente.

O templo foi fechado, o emblema da separação92 - diante do Paraíso estavam os querubins


(Gênesis 3:24).

Mas em Cristo tudo é aperfeiçoado e renovado. Ele é o grande Preparador do caminho e


Abridor da porta. Nele o Paraíso e o Santo dos Santos se abrem.

Agora tudo está realizado. O céu está aberto. Mas o céu é Jerusalém, Jerusalém é a Santíssima,
e a Santíssima é o Paraíso celestial e glorificado.

89
"Shekinah" (do hebraico shachan, assentar, habitar, permanecer) foi a palavra usada pelos rabinos da
nuvem brilhante da glória de Deus (comp. Êxodo 14:19; Êxodo 40:34; 1 Reis 8:10).
90
Compare João 6:48-51; e o pote de maná na arca da aliança (Hebreus 9:4; Apocalipse 2:17).
91
Assim, especialmente as taças, flores e flores de amendoeira na árvore de luz do candelabro de sete
braços (Êxodo 25:31-34; lit.). Além disso, as bordas douradas (ou coroas ou guirlandas) ao redor da
mesa dos pães da proposição, altar de incenso e arca da aliança (Êxodo 25:24-25; Êxodo 30:3-4; Êxodo
25:11); e também as romãs no manto do sumo sacerdote (Êxodo 28:33-34). Comp. também na arca da
aliança, a vara de Arão que havia florescido (Hebreus 9:4). A vida no santuário de Deus é uma vida
“florescente” (Salmos 92.13-14).
92
O lugar Santo só poderia ser acessado pelos sacerdotes e pelo sumo sacerdote, o Santo dos Santos
somente pelo último e por ele apenas uma vez por ano (Hebreus 9.6-8).
177
Capítulo 4. O Paraíso Glorificado
“Ao que vencer, eu lhe darei a comer da árvore da vida, que está no Paraíso de Deus”
(Apocalipse 2:7).

O fim da história e o início da história estão interligados. A última folha da Bíblia corresponde à
primeira. A Sagrada Escritura começa com o Paraíso (Gênesis 1.2); com o Paraíso termina
(Apocalipse 22.1-21).

Mas a conclusão é maior que o começo. O Omega é mais poderoso que o Alpha. O futuro
Paraíso não é apenas o Paraíso perdido e recuperado, mas sobretudo o Paraíso celestial e
eternamente glorificado.

No Paraíso perdido havia perigo: “No dia em que dele comeres, morrerás” (Apocalipse 2:17);
no glorificado Paraíso reina a segurança total. “Não haverá mais maldição” (Apocalipse 22:3).

No Paraíso perdido a serpente disse: “Você se tornará como Deus” (Gênesis 3:5); no Paraíso
glorificado a própria Escritura diz: “Seu nome (isto é, Sua natureza) estará em suas testas
(Apocalipse 22:4).

No Paraíso perdido havia uma árvore do conhecimento (Gênesis 2:9); no glorificado não é mais
necessário (Apocalipse 22.1-5); pois os aperfeiçoados contemplam com visão direta a face de
Deus (Apocalipse 22.5).

O Paraíso perdido teve fim com a derrota do homem (Gênesis 3:24); o Paraíso glorificado
permanece eternamente para os vencedores (Apocalipse 2:7). “Eles reinarão para todo o
sempre” (Apocalipse 22:5).

Há uma árvore da vida (Gênesis 2:9); aqui avenidas inteiras de árvores da vida (Apocalipse
22:2; Apocalipse 2:7).93

Há um rio de água que sai do Éden (Gênesis 2.10-14); aqui um rio de vida vindo do trono de
Deus (Apocalipse 22:1; comp. Ezequiel 47:1-23).

Há domínio somente sobre a terra (Gênesis 1:28-30; Gênesis 2:19-20); aqui senhorio sobre o
universo (1 Coríntios 6:2-3). Há um sol criado; aqui o eterno, o Criador, o próprio Deus, o sol
(Apocalipse 22:5).

Assim, tudo em todos os aspectos é uma “nova criação”;

93
“As folhas da árvore servem para curar as nações.” Seria errado extrair destas palavras a inferência
de que na nova terra o processo de cura para a humanidade ainda continuará, de modo que para
aqueles que diante do grande trono branco possam ainda não estar completamente justificados, ainda
restaria uma esperança de que, como nações da nova terra, poderão finalmente participar da salvação
plena. Isto significaria que mesmo depois do grande trono branco ainda haveria salvação para os
julgados, até que finalmente todos, sem exceção, experimentariam a redenção plena. Sobre isso o Dr. F.
Dusterdieck observa: “A expressão é igualmente pequena para ser pressionada para significar que um
então supõe-se que a doença ainda presente das nações, pois nos é permitido tirar a inferência de
Apocalipse 21:4 de que as lágrimas que Deus enxugará dos abençoados são sinais de dor ainda
presente. Significa antes que, assim como as lágrimas que derramaram por causa do sofrimento
terreno serão enxugadas na vida eterna, também as folhas curativas da árvore da vida servem para a
cura da doença da qual a nação sofreu durante sua vida terrena, mas nunca mais sofrerão na nova
terra.”
178
sobre nós – um novo nome (Apocalipse 2:17);

em nós – um novo cântico (Apocalipse 5:9; Apocalipse 14:3);

ao nosso redor — uma nova Jerusalém (Apocalipse 3:12; Apocalipse 21:2);

debaixo de nós – uma nova terra (Apocalipse 21:1);

sobre nós – um novo céu (Apocalipse 21:1);

diante de nós - sempre novas revelações do amor sem fim de Deus (Apocalipse 3:12)94

Verdadeiramente, Aquele que está assentado no trono disse: 'eis que faço novas todas as
coisas” (Apocalipse 21:5).

Contemplamos com adoração este plano eterno de Deus. O registro da salvação na Bíblia nos
conduziu desde a porta da eternidade antes de todos os tempos até a porta da eternidade
depois deste tempo. “O fim final é o começo glorificado e eternamente novo.” O objetivo é
exatamente como o início (Salmos 90.2), o PRÓPRIO DEUS.

“QUE DEUS SEJA TUDO EM TODOS” (1 Coríntios 15:28).

Mas Ele mesmo, o Rei de todos os tempos (1 Timóteo 1:17, lit.), então produzirá eras após eras
de Sua plenitude inesgotável e infinita (Apocalipse 22:5; Efésios 2:7, lit.). Nos Jubileus celestiais
Suas criaturas redimidas O louvarão, e através das esferas e mundos da nova criação ressoará
e ressoará o cântico triunfante e exultante:

“AO QUE ESTÁ SENTADO NO TRONO, E AO CORDEIRO, SEJA A BÊNÇÃO, E A HONRA, E A


GLÓRIA, E O DOMÍNIO,

“DE ETERNIDADE EM ETERNIDADE! Amém” (Apocalipse 5:13-14).

94
Isto é sugerido pelo “novo nome” do Redentor na condição aperfeiçoada (Apocalipse 3:12). O nome
significa a natureza; e que no estado glorificado o Senhor se revelará por meio de um novo nome
significa que no futuro Ele dará revelações inteiramente novas de Sua glória nunca antes vistas, de
modo que, por bondade, demonstre nas eras vindouras as riquezas excessivas de Sua graça (Efésios
2:7).
179
INFORMAÇÕES HOMILÉTICAS

(Lista dos Noventa esboços de Discursos Bíblicos incluídos no Texto.)

Observações introdutórias

Nossa época precisa da proclamação dos conselhos de Deus para a salvação. Em meio a todos
os conflitos e controvérsias a respeito da essência do evangelho, a apresentação positiva da
mensagem divina é a arma mais eficaz e vitoriosa. O poderoso plano de salvação de Deus deve
ser compreendido cada vez mais claramente, e na pregação pública ser declarado cada vez
mais energicamente. Para esse fim, os esboços de endereços espalhados ao longo deste livro
podem prestar algum serviço. Para os irmãos empenhados na obra do Senhor, eles podem ser
uma ajuda em seu trabalho e incentivá-los a meditar mais.

Além disso, as numerosas (cerca de 3.700) referências bíblicas são calculadas para ajudar
aqueles que usarão o que é aqui oferecido na preparação para a pregação da palavra, e
especialmente no estudo particular da Bíblia. Não raramente são ao mesmo tempo uma
expansão da linha de pensamento.

Os esboços são, em parte, muito curtos, oferecendo apenas alguns pontos principais e
deixando propositalmente a elaboração adequada à mente do leitor (por exemplo, páginas
84,85). Mas às vezes capítulos inteiros também podem ser usados como esboços de discursos
bíblicos de palestras. Nesse caso, há mais detalhes e explicações.

Nem todos os capítulos são esboços. O livro não se destina, em primeira instância, à
preparação de discursos, mas a uma tentativa de fornecer um quadro geral da revelação
histórica do Novo Testamento.

No Índice Homilético a seguir, os esboços curtos são mostrados com um número de página, os
mais detalhados com mais de um número de página. Em todos os casos —especialmente nos
resumos—recomenda-se observar todo o contexto.

(Número de página não atualizado)

1. As quatro mensagens angélicas no início da era atual de 11, 12 anos

2. O louvor sétuplo através de bocas humanas no nascimento de Cristo 12

3. A manjedoura de Belém 14

4. O triplo significado do nome Jesus 16, 17

5. A tríplice obra do Redentor como o Cristo 17-19

6. A tríplice natureza da nova aliança segundo Jeremias 17, 18

7. Por que Cristo chamou o reino de Deus de reino dos “céus”? (3 respostas) 22

8. Os quatro períodos do reino da graça 24

9. Sete características principais do evangelho 25

10. O quádruplo testemunho de Cristo a respeito de Sua morte 25, 26

11. A mensagem do reino dos céus (6 características) 26-29


180
12. A atitude sétupla de Jesus em relação ao Antigo Testamento 27

13. O significado da cruz para Deus (em 3 aspectos) 32

14. O triunfo da cruz para Cristo pessoalmente (7 significados) 33, 34

15. A cruz – nossa santificação (de 4 pontos de vista) 36

16. O triunfo universal do Crucificado (em 3 círculos principais) 37-39

17. A expulsão de Satanás (3 estágios) 38

18. Cristo – o grão de trigo 39

19. A cruz de eternidade em eternidade (em exibição quíntupla) 39

20. O significado quádruplo da ressurreição 40-46 (46)

21. A ressurreição como um selo divino sétuplo 41

22. Quatro principais provas bíblicas da ressurreição corporal de Jesus 41, 42

23. A unidade da cruz e a ressurreição na salvação (7 efeitos) 42

24. “Em Cristo” (o tema básico sétuplo das epístolas da igreja de Paulo) 43

25. A ressurreição de Cristo e a transformação do mundo (3 círculos principais) 45, 46 (45)

26. O significado da ascensão de Cristo para Seu tríplice ofício 47

27. O sumo sacerdócio celestial (Melquisedeque) de Cristo 48-51

28. A realeza celestial de Cristo (em efeito quíntuplo) 51

29. Os três tronos do exaltado Rei 51

30. O derramamento do Espírito Santo (5 resultados) 53, 54

31. O tríplice testemunho do Espírito Santo ao mundo 54

32. A quíntupla função do Espírito Santo na formação dos crentes 54

33. Quatro atividades do Espírito Santo em equipar para o serviço 56

34. O “Poder do alto” (7 figuras bíblicas do Espírito Santo) 56, 57

35. O grande mistério (5 “mistérios” da igreja) 64

36. O “mistério” do evangelho (4 significados bíblicos) 65

37. O caminho da salvação pessoal (3 etapas principais) 66-68

38. O livro da vida do Cordeiro (8 bênçãos) 68

39. Os redimidos como escravos (3 relações) 80

40. Filhos, filhos, primogênitos 81, 82

41. Os direitos da igreja como primogênito (3 bênçãos) 82

181
42. Sete relações da igreja com Cristo 83

43. Cristo como pastor (3 títulos de pastor) 83

44. Sete atividades de Cristo como pastor 83

45. A “lei de Cristo” (7 princípios) 84

46. A “nação santa” (7 fatos) 85

47. A igreja como noiva de Cristo (seu quádruplo desenvolvimento) 85

48. O conselho eterno de Deus (Romanos 8:29-30) 85

49. O Chefe e os membros (7 relações) 87

50. “Vocês são membros uns dos outros” (6 relações) 87-89

51. A tríplice unidade da igreja 88

52. A casa de Deus 89

53. O serviço sacrificial da igreja (6 sacrifícios) 90

54. Um sacerdócio real (4 deveres sacerdotais dos crentes) 90

55. A excelência sétupla da mensagem de salvação do Novo Testamento (2 Coríntios 3:1-18)


91

56. A glória sétupla da nova aliança (de acordo com Hebreus) 91, 92

57. A melhor aliança (9 excelências) 92

58. O cristão e o mundo (7 relações, João 17:1-26) 93

59. O testemunho dos redimidos (7 figuras do Novo Testamento) 94

60. Os cinco principais grupos de figuras da salvação presente de Paulo 95, 96

61. Contrastes na vida cristã (6 pares de antíteses) 96-100 (96)

62. A esperança da igreja (4 fatos principais) 101

63. A primeira ressurreição (4 características bíblicas) 102

64. O Dia de Deus 102

65. O Arrebatamento (5 características) 104-106

66. A glória sétupla do corpo ressurreto 109

67. O tribunal de Cristo (7 fatos) 112-116 (112)

68. Coroas 115

69. O sistema mundial anticristão 117-130 (117)

70. Sinais dos tempos (provas das sete esferas da vida) 131-138

71. O julgamento das nações no vale de Josafá (4 fatos) 141


182
72. O reino visível de Deus (de 3 pontos de vista) 142-143

73. O reino vindouro (7 fatos) 143

74. A certeza do reino milenar (5 motivos) 144

75. A glória do reino milenar 154-169

76. O Rei A quem nenhum rei é como 178, 179

77. Os oito templos de Deus 155

78. A próxima conversão das nações (4 fatos da salvação) 164-166

79. A salvação de Deus para as nações (8 bênçãos) 166

80. O último julgamento (7 fatos) 175-177

81. Eternidade e tempo (7 relacionamentos) 180

82. A vindoura cidade de Deus (7 glórias) 186

83. A Nova Jerusalém e o Cordeiro (7 relacionamentos, Apocalipse 21:1-27; Apocalipse 22:1-


21) 187

84. Os portões perolados (7 significados) 189

85. A comunhão aperfeiçoada dos santos 191-193

86. A história de Jerusalém (7 períodos) 192

87. A quádrupla glória da vida aperfeiçoada 193

88. O templo aperfeiçoado de Deus (7 características) 196-198

89. Paraíso perdido e recuperado (8 contrastes) 199, 200

90. Todas as coisas novas 200

(Número de página não atualizado)

183

Você também pode gostar