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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

DEPARTAMENTO DE ELETRICIDADE

CONVERSÃO DE ENERGIA I

Parte I
LEIS FUNDAMENTAIS EM ELETROTÉCNICA

Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza

Manaus/AM
Conversão de Energia I – Parte I

1. LEIS FUNDAMENTAIS EM ELETROTÉCNICA


Os fenômenos que intervêm na eletrotécnica e no funcionamento das máquinas elétricas
estão baseados em três leis simples, a saber:

- Lei de BIOT e SAVART ou Teorema de Ampère;


- A expressão da Força de LAPLACE, ou de LORENTZ;
- A lei de indução de FARADAY, ou de LENZ.

Estas três leis são expressas implicitamente nas equações gerais do eletromagnetismo de
MAXWELL. Tais equações são uma forma vetorial mais complicada e geralmente sem interesse
em eletrotécnica. De fato, por um lado, a frequência dos fenômenos associada é baixa (50 Hz ou
60 Hz para as correntes); por outro, nunca intervem um campo eletrostático significativo (o que
possibilita desprezar a “corrente de deslocamento” nas equações de AMPÈRE-MAXWELL).

A seguir será feita uma breve discussão acerca destas leis.

1.1 CRIAÇÃO DE UM CAMPO MAGNÉTICO POR CORRENTES ELÉTRICAS


A existência de um campo magnético H em um ponto do espaço pode ser devido à
presença de uma matéria magnetizada ou da circulação de correntes elétricas.

1.1.1 Fórmula de Biot e Savart

Considere (Figura 1.1) um circuito elétrico (C), percorrido por uma corrente i: a circulação
desta corrente provoca, por “indução”, o surgimento de um campo magnético ao redor do
condutor elétrico.
Objetivando apresentar a expressão matemática para determinar o vetor intensidade de
campo magnético em um determinado ponto, consideremos um ponto M, situado a uma distância
r de um elemento de comprimento dl do circuito. O campo pode ser definido pela seguinte
expressão vetorial:


(c) dH


M
dl r

Figura 1.1. Fórmula de BIOT e SAVART.


i  1 

4 C
H grad  dl [1-1]
r
Na prática, se calcula o campo magnético por meio de duas leis deduzidas da relação [1-1].

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A primeira delas é a Fórmula de BIOT e SAVART que indica o módulo elementar do


campo (figura 1.1):
i dl sen 
dH  [1-2]
4 r2
Seja  designando o ângulo entre o elemento de circuito e a linha que une este elemento
ao ponto M, de comprimento r.

A segunda é a regra de observação de AMPÈRE que indica o sentido do campo (figura


1.2):
“Para um observador localizado ao longo do circuito no sentido da corrente e olhando o
ponto M, o campo está dirigido para sua esquerda”.

Esquerda

Figura 1.2. Sentido do campo.

Comumente também se usa a regra da mão direita, ver figura 1.3. O dedo polegar é
orientado na direção da corrente elétrica e os demais dedos apontarão a direção do vetor
intensidade de campo magnético produzido em um determinado ponto do espaço.

Figura 1.3 Representação da regra da mão direita.

A seguir veremos como determinar a intensidade de campo magnético em situações típicas


da engenharia.

1.1.2 Campo criado por uma espira circular

Considere (figura 1.4) uma espira circular de raio a, percorrida por uma corrente i, e
calcule o campo magnético que ela cria em seu centro. Cada elemento dl cria um campo

elementar dH normal ao plano da espira, dirigido para cima, onde o módulo vale, de acordo coma
a expressão [1-2]:
i dl
dH 
4 a 2

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Figura 1.4. Campo no centro de uma espira.

Para obter o campo total é necessário integrar os elementos de campo ao longo de todo o
comprimento da circunferência, assim:

i i
2 C
H dl  2a
4a 4a 2

i
H [1-3]
2a
1.1.3 Campo criado por um fio infinito

Considere (figura 1.5) um filme retilíneo infinito, e estude o campo magnético que este
cria em um ponto M situado a uma distância a = KM.
dl

l
r

K  H

a
M

Figura 1.5. Campo a uma distância a de um fio infinito.

Cada elemento dl situado a uma distância “l” do ponto K cria em M um campo elementar

dH dirigido como indicado na figura, onde o módulo vale:

i dl sen 
dH 
4 r2

Para integrar o efeito da corrente, falta expressar o segundo membro da expressão em


função de uma só variável (pois , r e l variam). Escolhendo o ângulo  = 90 - :

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a a
cos   ou r 
r cos 
l a d
tg   ou dl 
a cos 2 

De onde se obtêm:

i
dH  cos  d
4a
Para obter o campo total, deve-se integrar variando  entre +90 e - 90 (fio infinito):

90
i i
sen  9090 i

4a 
H cos  d   
90
4a 2a

i [1-4]
H
2a
É evidente, pela simetria radial, que o campo será o mesmo em torno do ponto situado a
mesma distância do fio, isto é sobre um cilindro ao redor do fio. De outro modo, vimos que o
campo é inversamente proporcional à distância “a”. Foi assim que foi descoberta,
experimentalmente, a lei de BIOT e SAVART.

1.1.4 Campo criado por uma bobina

Considere (figura 1.6) uma bobina regular, um solenóide, de comprimento “l” e de raio
“a”. É possível demonstrar que, em um ponto M do eixo, o campo está dirigido ao longo do eixo,
e vale:
l

a
1 2

H
M

i i

Figura 1.6. Campo em ponto M do eixo de um solenóide.

ni  cos  1  cos  2 
H . [1-5]
l  2 

onde n é o número de espiras, e 1 e 2 os ângulos sob os quais um observador vê, do ponto M, os
extremos dos raios. Em particular se M está no centro da bobina:
ni
H  . cos  [1-6]
l
Caso de uma bobina muito longa

Suponha que o comprimento l de uma bobina seja muito maior que seu raio a (figura
1.7a).

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l l

a
  a
H  
M

H
M
i i

i i

(a) (b)

Figura 1.7. Bobinas (a) muito longa, (b) muito plana.

É possível obter uma expressão aproximada do campo em seu centro, supondo que:

cos   1 ( próximo de 0), assim:

ni
H [1-7]
l

Caso de uma bobina muito plana

Supondo agora, ao contrário, que o raio “a” da bobina seja muito maior que seu
comprimento l (figura 1.7b). Também é possível obter uma expressão aproximada do campo em
seu centro, supondo que:
l
cos   cot g  2  próximo de 90 , assim:
a
ni
H [1-8]
2a

A expressão encontrada é da mesma forma que a [1-3], o campo estando aqui multiplicado
pelo número de espiras.

1.2 TEOREMA DE AMPÈRE

Os exemplos anteriores mostram que a fórmula de Biot e Savart permite o cálculo de


campos magnéticos no caso de circuitos que possuem uma geometria simples. Entretanto, existem
outras fórmulas para cálculo de campo e, em particular, uma fórmula conhecida pelo nome de
“Teorema de Ampère”.
A relação mais geral que existe nas equações de Maxwell para definição do campo
magnético é:

  D
rot H  j  [1-9]
t

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 D
onde j representa o vetor denominado “densidade de corrente de condução”, representa o
t

vetor denominado “densidade de corrente de deslocamento” (derivada parcial do vetor D ,
indução eletrostática).

1.2.1 Integral de Ampère


D
Em eletrotécnica, é possível desprezar o segundo termo , e escrever simplesmente:
t
 
rot H  j [1-10]
Uma integral dupla desta relação conduz à relação [1.1], mas uma integral simples conduz a
seguinte forma, portanto, equivalente:

 H. dl  ni [1-11]

“A circulação do campo H ao longo de uma linha de indução  formado na proximidade
de um circuito C percorrido por uma corrente i, é igual ao produto da corrente i pelo número de
vezes que esta linha  atravessa o circuito C”. (Figura 8).

Figura 1.8. Teorema de Ampère.

O interesse deste teorema na eletrotécnica decorre do fato que, muito frequentemente, a


linha de indução  está evidente, como se poderá observar nos exemplos a seguir.
Deve ser observado que o número de vezes que a linha  atravessa o circuito C é igual ao
número de vezes que o circuito envolve a linha . No caso prático, será o número de espiras do
circuito C.
A quantidade associada ao segundo membro da equação [1-11]:
F  ni [1-12]
é denominada “força magnetomotriz” do circuito (f.m.m.).

1.2.2 Campo em um toróide

Considere (figura 1.9) uma bobina regular de n espiras do tipo “toroidal”. Para calcular o
campo magnético em um ponto M do núcleo, é evidente que a aplicação da relação [1-2] será
longa e cansativa. Por outro lado, o Teorema de Ampère fornece imediatamente a solução se

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escolhermos como “linha de indução”  a linha média do toróide (supondo o material homogêneo
e isotrópico).

Figura 1.9. Campo em um toróide.


 H.dl  H  dl  H X 2R  ni
ni
H [1-13]
2R

1.2.3 Bobinas de um transformador

A aplicação correta do teorema de Ampère é sua generalização ao caso de vários circuitos


elétricos agindo ao mesmo tempo criando um campo, implicando em precisar perfeitamente o
sentido da corrente e a maneira da linha de indução  atravessar estas correntes.
Considere, por exemplo (figura 1.10), as bobinas de um transformador.

Figura 1.10. Bobina de um transformador.

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Para o sentido indicado da corrente no caso (a), um observador instalado ao longo da linha
de indução  na direção indicada, verá a corrente i 1 ir para a sua esquerda, e verá igualmente a
corrente i2 ir para sua esquerda. Dessa forma, o teorema terá que ser escrito como:
 H.dl  n1i1  n 2i 2
Se o núcleo é homogêneo, o campo H é o mesmo, portanto, pode-se escrever, designando
por l o comprimento médio do núcleo:
H l  n1i1  n 2i 2 [1-14]

No caso (b), tem-se uma inversão no sentido da bobina do circuito 2. O observador verá a
corrente i2 ir para a sua direita (uma direção oposta a da corrente i 1). Essa situação nos leva a
escrever o teorema da seguinte forma:

H l  n1i1  n 2i 2 [1-15]

1.2.4 Circuito não homogêneo

Se o núcleo da bobina não for homogêneo, por exemplo, se ele é constituído de dois
materiais diferentes (figura 1.11), o campo magnético terá um valor diferente no interior de cada
um dos materiais.

Figura 1.11. Circuito não homogêneo.

Se designarmos por l1 e l2 os comprimentos médios da linha de indução no interior de cada


material, o teorema da Ampère seria escrito da seguinte forma:
H1l1  H 2l 2  ni [1-16]
Na prática da eletrotécnica, se o primeiro material é ferromagnético e o segundo é o ar,
teremos constituído o que se denomina de “entreferro”.

1.3 LEI CONSTITUTIVA DOS MEIOS: PERMEABILIDADE MAGNÉTICA

Para caracterizar os diversos meios, e em particular os meios ferromagnéticos, é necessário



introduzir um outro vetor B , denominado “indução magnética”, ou ainda “densidade de fluxo
magnético”, relacionado com o campo pela relação [1-17], na qual o coeficiente de
proporcionalidade  é denominado de “permeabilidade magnética”:

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 
B  H [1-17]
No SI a unidade é o Tesla [T] e a permeabilidade magnética é medida em Henry por metro
[H/m].
A permeabilidade magnética do vácuo, com o sentido de Maxwell, não é nula e vale:
 o  410 7 H / m [1-18]
A permeabilidade magnética da maioria dos meios comuns (ar, água, líquidos etc.) é muito
próxima de o e praticamente linear. Por outro lado, a permeabilidade dos meios ditos
“ferromagnéticos” é extremamente elevada e variável não linearmente. O estado magnético desses
materiais é definido por uma curva representando B em função de H (figura 1.12), chamada
“curva de magnetização”, ou então “lei constitutiva magnética”. A permeabilidade magnética está
representada graficamente sobre esta curva pela inclinação da tangente em cada ponto.
B (T)

material ferromagnético 

o
vácuo

H (A/m)

Figura 1.12. Curva de magnetização.

É conveniente introduzir a “permeabilidade magnética relativa”, r, grandeza


adimensional que mede a amplitude magnética do material com relação à do vácuo:

r  [1-19]
o
As propriedades particulares dos materiais ferromagnéticos serão estudadas mais adiante.

1.4 FORÇA EXERCIDA POR UMA INDUÇÃO SOBRE UMA CORRENTE

A conversão da energia eletromagnética que ocorre em máquinas elétricas está alicerçada



em uma lei simples, que informa que uma indução B exerce uma força sobre uma carga animada
de velocidade. Como uma corrente elétrica consiste em uma circulação de cargas (elétricas), e que
uma indução magnética resulta da circulação de correntes, uma máquina é constituída por dois
circuitos elétricos (bobina do estator e do rotor) entre os quais são exercidas “forças de indução”.

1.4.1 Expressão de LORENTZ

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A expressão mais geral da força F que é exercida sobre uma carga elétrica “q” animada de
  
uma velocidade u , sujeita a um campo eletrostático E e a indução magnética B , é a seguinte,
denominada de Lorentz:
    
F  q E x u  B  [1-20]
 
Quando é possível desprezar o campo eletrostático, se escreve:
   
F  q u  B  [1-21]
 
Esta força é um vetor, cujo módulo vale:

F  q u B sen 
    
 designa o ângulo entre B e u , e o sentido é tal que a tríade [ B , u , F ], são perpendiculares

(figura 1.13): “para um observador posicionado no sentido da velocidade u e olhando no sentido
da indução, a força está dirigida para sua esquerda”.

Figura 1.13. Força de Lorentz.

1.4.2 Expressão de LAPLACE

Pode-se utilizar uma forma da relação [1-21], válida para as bobinas. Seja a circulação de
uma corrente elétrica i em um fio correspondente ao deslocamento, durante um intervalo de tempo
elementar dt, de uma corrente elétrica

dq = i dt
a uma velocidade
dl
u
dt
 
A força elementar dF exercida sobre o elemento dl pela indução B vale, de acordo com
[1-21]:

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 dl   
dF  idt B  idl  B
dt
De onde se obtêm a expressão dita de “LAPLACE”.
  
dF  idl  B [1-22]
O sentido desta força é tal que “para um observador posicionado no sentido da corrente e
olhando no sentido da indução, a força estará dirigida para sua esquerda” (figura 1.14).

Figura 1.14. Força de LAPLACE.

Pode-se ainda determinar o sentido da força pela regra da mão esquerda. Colocando-se o
polegar no sentido do campo e o indicador no sentido da corrente, então o médio dará o
sentido da força (ver figura 1.15).

Figura 1.15. Regra da mão esquerda.



Se o fio tem um comprimento “l”, e a indução B lhe é perpendicular, o módulo da força
vale:
F  B*i *l [1-23]
OBS: Ao comparar as duas expressões [1-22] e [1-21], pode parecer, à primeira vista, que estas
estão em contradição no que diz respeito ao sentido de força (veja que “q” é negativo na
fórmula [1-21], uma vez que as cargas móveis geralmente são constituídas de elétrons). De
fato, por causa do sentido positivo convencional para a corrente “i” na fórmula [1-22], esta
está no sentido oposto ao sentido do deslocamento dos elétrons no interior do fio.

1.4.3 Interação entre duas correntes retilíneas paralelas

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Considere dois fios retilíneos paralelos situados a uma distância “a”, percorridos por duas

correntes i1 e i2 nos sentidos indicados (figura 1.16). A corrente i1 cria um campo H1 em torno de
um ponto no espaço, e em particular na vizinhança de um elemento dl de corrente i 2. De acordo
com [1-4]:
i
H1  1
2a
com o sentido indicado na figura 1.16.

i1
i2


H1 
dl dF

Figura 1.16. Interação entre duas correntes.

 
Ao campo H1 , corresponde uma indução B1 que vale, se  designar a permeabilidade do
meio no qual estão os fios:
  i
B1   H1   1
2a
Esta indução exerce sobre um elemento dl percorrido por uma corrente i 2 uma força
dirigida no sentido indicado (figura 1.14), de módulo:
i
dF  i 2 dl.B1  i 2 1 dl
2a
Assim, a força de interação por unidade de comprimento vale:
dF ii
 1 2 [1-24]
dl 2a
A existência desta força (de atração se as correntes estão no mesmo sentido, e de repulsão
estão em sentidos opostos) mostra que é possível que os 2 fios realizem uma conversão de energia
eletromagnética (se estão livres para se mover).

1.4.4 Torque exercido por uma indução sobre uma bobina

Na figura 1.17a tem-se uma espira, de área S, percorrida por uma corrente elétrica (I)
imersa numa região onde existe uma indução magnética (B). Na Figura 1.17b, tem-se um
diagrama representativos das forças que atuam nos lados das espiras, bem como do vetor indução
magnética (B).

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(a) (b)

Figura 1.17. Demonstração de torque (a) Espira percorrida por uma corrente elétrica imersa em
um campo magnético de indução B (c) diagrama vetorial das grandezas envolvidas.

As forças que atuam nos lados 1 e 3 da espira possuem mesma intensidade, sentidos
opostos e estão aplicadas sobre o mesmo eixo, portanto, sua resultante é nula. Assim, podemos
escrever:
   
F1   F3  F1  F3  0
Deve-se observar que o mesmo não ocorre com as forças que atuam nos lados 2 e 4, pois,
embora tenham mesmo intensidade, estas não estão aplicadas sob o mesmo eixo. Portanto,
considerando que comprimento do lado 2 é igual ao comprimento do lado 4, sendo o mesmo
representado por “a”, podemos escrever:
 
F2  F4  iaB [1-25]

Verifica-se, portanto, o surgimento de um binário de forças atuando sobre a bobina, como


pode ser visto na figura figura 1.17 b. Se assumirmos que o comprimento do lado 1 é igual ao
comprimento do lado 3, e que o mesmo vale “b”, o que exercido sobre a bobina será dado por:

b b
T  F2 * sen   F4 * sen   i * ab * B * sen  i * S * B * sen [1-26]
2 2
Onde:
b sen θ é o segmento perpendicular ao eixo de aplicação das forças e S = ab é a área da espira.

Se admitirmos que a bobina possui “n” espiras, o torque será dado por:

 
T  ni * S * B * sen  m x B [1-27]

Onde: m = ni*S denominado momento magnético.

O vetor momento magnético pode ser expresso como:


 
m  ni * S * n
Onde:


n : é o vetor unitário orientado conforme a normal ao plano definido pela espira.

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1.5 Fluxo magnético

Uma quantidade importante que está associada ao estudo de máquinas é o “fluxo


magnético”, ou então, “fluxo de indução” que atravessa uma superfície.
Considere um circuito ( C ) e sua superfície S (figura 1.18).

Figura 1.18- Densidade de fluxo.


Se este circuito está na presença de uma indução B uniforme, diz-se que esta indução
provoca ao atravessar ( C ) um “fluxo”:
 
  S B . dS [1-28]
Quando o circuito é plano, se pode tomar sua própria superfície para definir o fluxo,
como:
 
  B . S  BS cos   B n S [1-29]
 
onde Bn é a componente normal de B sobre o vetor axial S da superfície do circuito C.

Se B está perpendicular ao plano do circuito ( = 0), tem-se:
=BS [1-30]
A unidade do  é o Weber (Wb).

É necessário lembrar que o fluxo que atravessa um circuito pode resultar da circulação de
uma corrente no próprio circuito: sendo denominado de “fluxo próprio”.
As convenções se sinal (figura 1.19) adotadas para o fluxo corresponde à regra de
observação de Ampère.
Para uma bobina como a da figura 1.19a, o campo e a indução são dirigidas para cima.
Nesse caso se assume que o  > 0.
No caso da figura 1.19b, B e H são dirigidos para baixo, assim,  < 0.
Uma propriedade importante do fluxo é ser “conservativo” no espaço. Na equação geral de
Maxwell, esta propriedade é expressa pela relação:

div B  0 [1-31]

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Figura 1.19. Convenção do sinal para o fluxo.

Em eletrotécnica, frequentemente supõe-se que o “espaço” está limitado a uma região


conhecida (núcleo ou carcaça ferromagnética e seu entreferro) onde se diz que o fluxo se conserva
nesta região, exceto o “fluxo de fuga”.

1.6 TENSÕES INDUZIDAS EM UM CIRCUITO POR UMA VARIAÇÃO DE FLUXO

Em todo circuito elétrico atravessado por um fluxo magnético pode surgir uma tensão em
seus bornes, se este fluxo variar em função do tempo. Esta tensão é chamada de “força
magnetomotriz induzida” (f.e.m.).

1.6.1 Leis fundamentais de Faraday e de Lenz


A Lei de Faraday, na sua forma geral, fornece o valor do campo elétrico E induzido por

uma variação de indução B :

 B
rot E   [1-32]
t

Para circuitos de bobina, a expressão [1-32] pode ser simplificada, expressando a f.e.m.
em função da variação do fluxo:
d
en [1-33]
dt
“A f.e.m. nos bornes de um circuito é igual a derivada do fluxo que o atravessa com
relação ao tempo, por cada espira do circuito”.
É possível introduzir um sinal ( - ) na fórmula [1-33] para representar que a f.e.m. é um
efeito que se opõe a causa que lhe dá origem. Este efeito de oposição é determinado pela lei de
Lenz, que diz respeito a corrente induzida.
“Em um circuito fechado onde aparece uma f.e.m., o sentido da corrente induzida é tal que
se opõe ao fluxo que a gerou”.
As duas leis precedentes são muito gerais, e são válidas qualquer que seja a forma do
circuito e o sentido em que se varia o fluxo:
a) Quando as variações de fluxo são devidas a um movimento (ou a uma deformação) do
circuito, ele pode ser denominado de um fluxo “cortado” para o circuito, e a f.e.m.

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denominada de “f.e.m. de velocidade” (por exemplo, f.e.m. que aparece nos bornes de um
fio rígido que se move em uma região com uma indução uniforme).
b) Quando a variação do fluxo se deve a variação da indução (ou seja, da corrente que a cria)
este se chamará fluxo “enlaçado”, e a f.e.m. correspondente será denominada de “f.e.m. de
transformação”.

A seguir são apresentados alguns exemplos práticos de criação da f.e.m.

1.6.2 F.E.M. de “velocidade”, produzida por uma variação de fluxo “cortado”


Considere um fio de comprimento “l” se deslocando a uma velocidade u em uma região

com uma indução B uniforme (Figura 1.20).

Figura 1.20. F.E.M. de “velocidade”.

Durante um deslocamento elementar dx, o fio “cortará” um fluxo elementar:

d  B dS  B l dx
Isto produzirá em seus bornes uma f.e.m. dada por:
d dx
e  Bl  Bl u
dt dt
  
Quando u , B e l tem direções não conhecidas, esta relação se generaliza por um
produto “misto”:
           
e  l . u  B   u . B  l   B . l  u 
     
 
Ao designar por  o ângulo entre u (direção do deslocamento) e l (direção do fio), e
  
por  o ângulo entre B e uma perpendicular à u e l , o módulo da f.e.m. vale:
e  B l u sen  cos  [1-34]

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 
Quando o fio se desloca com uma velocidade u perpendicular a sua direção l (ou seja,
 = 90o e sen  = 1), escreve-se: e = Blu cos .
Introduzindo agora a componente normal da indução, ou seja a componente
  
B perpendicular ao plano de u e l :
Bn  B cos  ou e  Bn l u
A polaridade de “e” é tal que a corrente induzida se oporá ao movimento, tal como
indicado na figura 1.20. De fato, em um circuito fechado (fio considerado como gerador), tais
   
correntes estarão sujeitas, devido à B , a uma força de LAPLACE f  i l  B dirigida para
baixo, e por consequência se oporá ao movimento para cima.

1.6.3 F.E.M. auto-induzida

Todo circuito elétrico percorrido por uma corrente cria uma f.e.m. que se oporá a sua fonte
de alimentação. Naturalmente, este efeito é muito mais sentido, se o mesmo ocorre em uma
bobina (efeito multiplicado pelo número de voltas) e se ele tem um núcleo de ferro, capaz de
capturar todo o fluxo.
Considere uma bobina ao redor de um núcleo de seção S constante e de comprimento
médio “l” alimentado por uma fonte “v” (figura 1.21): a circulação da corrente cria no núcleo um
ni ni
campo H  , ao qual corresponde uma indução B   .
l l

Figura 1.21. F.E.M. auto-induzida.

Cada espira do circuito, de superfície S, é atravessada por um fluxo desta indução:


ni
  BS   S
l
Se a corrente “i” é variável (alternada, por exemplo) o fluxo também é variável fazendo
aparecer, por consequência, nos bornes a e b do circuito, uma f.e.m. dada por:
d n 2 di
en  .
dt l dt
S

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O fator de proporcionalidade é denominado “indutância própria” da bobina:


n2
L [1-35]
l
S
E a f.e.m. é expressa da seguinte forma:
di
e  L. [1-36]
dt
O sentido da f.e.m. auto-induzida é tal que se opõe à tensão “v”, que alimenta a bobina;
tendo assim a polaridade indicada na figura 1.21. Considerando a bobina como um gerador, teria
seu pólo (+) em a, e seu pólo ( - ) em b (em um momento em que as polaridades de “v” são as
indicadas), isto é correspondente a uma corrente “ i’ ”se opondo a corrente “ i ”.
Se for desprezada a resistência da bobina, pela lei de Kirchoff, se escreve:
v – e = 0.

Considere o circulo R-L da figura 1.22a. Na figura 1.22b, tem-se a representação elétrica
do indutor, ou seja, a f.e.m auto induzida no mesmo se comportará como uma fonte de tensão que
se oporá a fonte tensão que alimenta o circuito.

(a) (b)
Figura 1.22. Demonstração do efeito da fem auto-induzida. (a) circuito elétrico RL com a
representação dos componentes do circuito; (b) representação elétrica do indutor.

Ao fecharmos a chave na figura 1.22a, a corrente não alcançará instantaneamente seu valor
dado por Vo/R.
Aplicando a lei de Kirchhoff na malha da figura 1.21b, temos:
di V   R 
Vab  Vbc  Vca  0  iR  L  V0  0  i  0 1  exp   t 
dt R   L 
Portanto, o comportamento da corrente será como apresentado na figura 1.23.

Figura 1.23. Comportamento da corrente em função do tempo.

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Conversão de Energia I – Parte I

Se R/L é grande, como acontece na maioria dos casos práticos, a corrente atinge seu valor
máximo constante muito rapidamente.

1.6.4 F.E.M. de “transformação”, produzida por uma variação de fluxo “enlaçado”

Uma f.e.m. pode ser criada nos bornes de um circuito fazendo variar o fluxo que o
atravessa por um meio exterior.
Considere (figura 1.24) um núcleo ferromagnético sobre o qual tem uma bobina:
a) Um circuito no. 1 percorrido por uma corrente i1 alternada (fonte v1), de n1 espiras.
b) Um circuito no. 2, em circuito aberto, de n2 espiras.

Figura 1.24. F.e.m. de transformação.

O fluxo alternado  devido a i1 atravessa os 2 circuitos, se este não é de fuga. Aparece


assim, nos bornes do circuito no. 2, uma f.e.m. de “transformação”.
d
e2  n 2
dt
e a f.e.m. nos bornes do primeiro circuito, vale:
d
e1  n1
dt
onde se deduz que:
e1 n1
 [1-37]
e2 n 2
A polaridade de e2 está representada na figura 1.24. De fato, se fecharmos o circuito no. 2,
a circulação da corrente induzida i’ será como a indicada na Figura 1.24. Uma vez que esta criará
um fluxo ’ tal como indicado, que se oporá ao fluxo .

Observe que se o circuito no. 2 for fechado, circulará uma corrente neste circuito que por
sua vez, produzirá um outro fluxo magnético e assim, o fluxo “comum” não será somente o
produzido pela corrente do circuito no. 1.

1.6.5 Forma matemática geral da f.e.m. induzida

Os exemplos precedentes mostram que as f.e.m. induzidas em um circuito podem ser


provenientes da modificação de sua forma (parâmetros geométricos), ou da modificação da
indução (que é o mesmo que a modificação da corrente i).

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d
Isto é completamente normal, porque a lei de FARADAY e  n se refere a existência
dt
de uma variação de fluxo, que depende de 2 parâmetros: B (na verdade i) e S (na verdade x).
Seja um circuito com n espiras onde definimos ao mesmo tempo o “fluxo equivalente” e o
“fluxo por espira”.
  n [1-38]
que corresponde ao fluxo que atravessa o circuito se este tem um único caminho para todas as
espiras (seria o mesmo que atravessar n espiras com o fluxo , ou uma só espira com o fluxo ).
Para um circuito móvel onde a posição é definida por um parâmetro de posição x, excitado por
uma corrente i, o fluxo é função de duas variáveis i e x:
 = (i , x)
e a lei de FARADAY se escreve agora, em derivadas parciais para fazer referência a i e à x:
d  di  dx
e   [1-39]
dt i dt x dt
Para os circuitos lineares o primeiro termo corresponde à f.e.m. de “transformação”, e o
segundo termo a f.e.m. de “velocidade”.

1.7 DIVERSAS DEFINIÇÕES DE INDUTÂNCIA

Já definimos anteriormente a “indutância própria” de uma bobina com núcleo de ferro, em


função do comprimento “l” do núcleo, de sua seção S, e do número de espiras n (ver [35]). Esta
definição não é a mais geral e, de fato, a definição precisa das indutâncias de um circuito não é
simples: na teoria eletromagnética geral, podemos definir a indutância “mútua” de dois circuitos
por meio da fórmula de Newmann.

1.7.1 Fórmula de Newmann para indutância mútua

Seja o estudo da interação magnética de dois circuitos, C 1 e C2, percorridos pelas correntes
i1 e i2, em situação de influência mútua em um meio de permeabilidade  (figura 25), onde
podemos demonstrar que os fluxos mútuos (i.e. envolve os dois circuitos), são proporcionais as
correntes i1 e i2 (se  é constante):

 
 dl1 . dl 2
 m1  i 2 C C
4 1 2 r
 
 dl 2 . dl1
 m2  i1 C C
4 2 1 r

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Conversão de Energia I – Parte I

Figura 25. Fórmula de Neumann.

O coeficiente de proporcionalidade entre os fluxos mútuos e as correntes é denominado de


“coeficiente de indutância mútua” (é possível ver que é o mesmo para os dois circuitos).
 
 dl1 . dl 2
M   [1-40]
4 1 2
C C r
Se quisermos definir agora, a partir da fórmula [40], a influência que um circuito exerce
sobre ele mesmo, como sua “indutância própria”, vê-se que está introduzida uma dificuldade. De
fato, a distância r do denominador, no caso de somente um circuito, pode tender para zero nas
proximidades do circuito, o que equivalerá a uma indeterminação.
Assim, é necessário definir a “indutância própria”, de modo geral, como a média do ,
supondo que este é conhecido.

1.7.2 Indutância de fuga e indutância de magnetização

Chamando  o fluxo produzido por um circuito percorrido por uma corrente i, composto
por n espiras, podemos definir a “indutância própria” L pela relação:

Ln [1-41]
i
A dificuldade aqui provém do fato que  não é sempre perfeitamente definido.
Se considerarmos, por exemplo, o fluxo de uma bobina no interior de um material
ferromagnético (figura 1.26), uma parte deste fluxo, representado por f, flui no ar, e resta
somente uma parte útil m =  - f dentro do núcleo.

Figura 1.26. Fluxo de fuga.

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Conversão de Energia I – Parte I

Da mesma forma, se considerarmos uma bobina imersa no ar, tal como na figura 1.27, na
qual as espiras interiores são menores que as espiras mais externas, uma fração do fluxo
produzido pelas espiras exteriores não atravessa as espiras interiores.

Figura 1.27. Bobina no ar.

Isto leva a definir duas outras indutâncias, fazendo intervir os fluxos de fuga f e de
magnetização m:

 
indutância de fuga ln f 
i
 [1-42]
m 
indutância de magnetizaç ão Tn
i 
Vamos admitir por comodidade, que os fluxos f e m são proporcionais as correntes.
A indutância “própria” é dada pela soma da indutância de “fuga” e a indutância de
“magnetização”.
L=l+T [1-43]
É possível ainda, definir o “coeficiente de fuga” da bobina, K, como a razão entre o fluxo
“útil” ou de “magnetização”, m, e o fluxo “total”  = f + m:
m T
K  [1-44]
f   m L
O coeficiente é, portanto, menor que 1, sendo determinado de forma empírica.

1.7.3 Indutância “dinâmica”

Quando tratamos com materiais não lineares, como os materiais ferromagnéticos, o fluxo
produzido no núcleo não é mais diretamente proporcional a corrente: a partir de certo valor de
corrente de excitação i, o fluxo quase não aumenta: dizemos que o núcleo “saturou”.
Sobre a curva representando as variações do fluxo n  em função de i (figura 28), que
possui o mesmo comportamento da curva B(H) da figura 1.11, vemos que a indutância, tal como
definida na equação [1-41], não pode mais ser considerada como uma constante; com rigor,
devemos definir a “indutância dinâmica”, na sua forma diferencial:
d
L din  n [1-45]
di

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Conversão de Energia I – Parte I

Assim, para um circuito polarizado em corrente contínua, e excitado por uma pequena
corrente alternada superposta, a indutância dinâmica é igual a inclinação da curva n (i) em cada
ponto, apresentando as variações apresentadas na curva da figura 1.28.

Figura 1.28. Indutância “dinâmica”.

1.8 RELUTÂNCIA DE UM CIRCUITO MAGNÉTICO

No interior de núcleos de circuitos magnéticos, é cômodo expressar a lei de Ampère sobre


uma forma onde intervêem o fluxo.
Considere (Figura 1.29) um núcleo de seção variável excitado por uma bobina com “n”
espiras percorrida por uma corrente “i”. Ao longo de uma linha de indução , o teorema de
Ampère se escreve:
 H.dl  n i

i
+
n
-

Figura 1.29. Definição de relutância.

Substituindo-se nessa relação à indução B = H, e o fluxo  = BS, se obtêm:


dl
 S   n i
Se admitirmos o fluxo conservativo no interior do núcleo, podemos deixá-lo fora do sinal
 , e escrevemos a seguinte relação:

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Conversão de Energia I – Parte I

  ni [1-46]
onde:
dl
   [1-47]
S
A relação [46] é outra forma do teorema de Ampère, conhecida como “Lei do circuito
magnético”, e a relação [1-47] exprimi a definição da “relutância” do circuito magnético: esta é
uma quantidade característica da geometria do núcleo (comprimento l e seção S) e de sua aptidão
para capturar um campo magnético (permeabilidade ).
Nos casos de geometria simples a relutância se calcula usando a relação [1-47]. Nos outros
casos, decompõe-se o núcleo em tantas partes quanto necessário, de acordo com as variações de
sua superfície S ao longo das diversas linhas de indução.

Exemplo 1: Indutância própria de um núcleo em função de sua relutância.

Se considerarmos um núcleo de seção constante (figura 1.21), sua relutância vale:


l

S

e sua indutância própria pode ser definida em função de sua relutância e do quadrado do número
de espiras, conforme [1-35]:
n2
L [1-48]

Exemplo 2: Relutância de um relé cilíndrico

Considere um relé cilíndrico, constituído de uma carcaça fixa em ferro, e de uma armadura
também de ferro, suspenso por uma mola, que pode se mover verticalmente. Na figura 30
apresenta-se uma seção radial do relé.

mola
anel g
guia

l b c

i x
d
+
bobina
-
carcaça
r
Figura 30. Relutância de um relé.

Quando a bobina de excitação é percorrida por uma corrrente i, esta cria um fluxo ao
longo de uma linha de indução , e as diversas partes percorridas pelo fluxo são: ab, dentro da

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Conversão de Energia I – Parte I

armadura; bc, dentro do entreferro onde fica o anel guia (parte superior); cd, dentro da carcaça e,
da, dentro do entreferro central. Com as dimensões indicadas na figura, a relutância do relé vale,
de acordo com a expressão [1-47]:

dl g dl x
  ab   cd  [1-49]
S  g S o 2r 2
o 2 r  l
 2
Deve-se observar que o segundo termo do lado direito da expressão [1-49] foi obtido
considerando que a área lateral do cilindro, para os parâmetros dado é expressão como:
d
S L  2l , onde l é a altura do cilindro e d diâmetro do cilindro. Portanto, o cilindro considerado
2
não corresponde somente ao constituído pela armadura, mais o que engloba armardura e
entreferro. Assim, desenvolvendo a expressão tem-se:
d  2r  g   g
S L  2l  2l    2l  r  
2  2   2

1.9 ENERGIA MAGNÉTICA ARMAZENADA: O CONCEITO DE COENERGIA

1.9.1 Definições

Considere um pequeno elemento de volume d no espaço, de permeabilidade , onde há



um campo magnético H (figura 1.30). As considerações das equações de Maxwell mostram que
está armazenada no interior deste elemento de volume d uma energia magnética, dW.
A “energia por unidade de volume” (ou a densidade de energia) vale, por definição:
dW 1  
 B.H [1-50]
d 2
Esta quantidade é um número (produto escalar entre dois vetores) medido, no sistema
internacional, em J/m3.

Figura 1.30. Definição de energia.

No vácuo, esta energia magnética aparece no interior de “ondas eletromagnéticas”,


1 
associadas à energia elétrica D . E .
2

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Conversão de Energia I – Parte I

Nos materiais ferromagnéticos, de grande permeabilidade, a energia magnética está


armazenada de maneira condensada, e pode ser encontrada sobre a forma mecânica, térmica ou
elétrica, dentro de certas condições.

Quando a permeabilidade do material é constante, isto é, praticamente na zona linear da


 
curva B(H) (ver figura 1.31), os vetores B e H são paralelos, e podemos expressar a “densidade
de energia” sob uma ou outra das seguintes formas:
dW 1 1 1 B2
 BH  H 2  [1-51]
d 2 2 2 

B [T]

B
M


H [A/m]
O H

Figura 1.31. Curva de magnetização B(H) e densidade de energia.

Sobre a “curva de magnetização” B(H), a densidade de energia correspondente a um


estado magnético representado pelo ponto M, aparece como a superfície do triângulo OMB (igual
1 B2 1
à ), e ele é igual à superfície do triângulo OMH (igual à H 2 ).
2  2

1.9.2 Diversas expressões da energia armazenada

No estudo das máquinas, consideramos geralmente que o “espaço” está limitado ao


material ferromagnético constituído de carcaça e seus “entreferros”. Podemos então, definir
diretamente a energia armazenada neste espaço, de dimensões geralmente conhecidas.
Considere, por exemplo, uma bobina enroladas sobre um núcleo ferromagnético de
volume V = S l (Figura 1.32).

Figura 1.32. Toróide ferromagnético.

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Conversão de Energia I – Parte I

A energia armazenada vale, da expressão [51]:

1
W BH Sl
2

Ao utilizar o fluxo  no interior do toróide ( = BS) e a força magnetomotriz F = ni da


bobina (relacionado com um campo por H l = ni = F), podemos expressar a energia armazenada
pela seguinte relação:
1
W  F [1-52]
2
O estado magnético do núcleo pode ser representado sobre a curva  (F) (figura 1.33), que
é idêntica, mudando as escalas dos seus eixos, à curva de magnetização B(H). Sobre esta curva, a
energia correspondente a um ponto M é igual à superfície do triângulo OM. De acordo com a
relação [1-46], a inclinação da curva OM é igual ao inverso da relutância, que denominamos de
1 
“permeância”:   
 F  [ Wb ]


M


F
O F

Figura 1.33. Curva de magnetização (F) e energia.

Podemos assim, exprimir a energia sob uma das seguintes formas:


1 1
W   2  F 2 [1-53]
2 2
 
É às vezes, mais cômodo introduzir a “indutância” L  n  .
i i
Representamos então, a curva de magnetização de uma terceira forma (i) (figura 1.34), de
maneira idêntica, mudando as escalas de seus eixos, as curvas B(H) e (F), na qual a inclinação
representa a indutância L do núcleo.
  n


M

L
O i (A)
i
Figura 1.34. Curva de magnetização (i) e energia.

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Conversão de Energia I – Parte I

A energia armazenada no núcleo pode ser escrita como:


1 1
W  i  Li 2 [1-54]
2 2
Do ponto de vista da energia armazenada, toda a energia elétrica da fonte de corrente é
transferida sob a forma magnética para o interior do toróide ao desprezarmos a resistência da
bobina.
De fato, quando a corrente varia de 0 a i, a energia armazenada fornecida pela fonte vale:

t t 1 2 i
W  0 v i dt  0 e i dt  0 L i di 
Li
2
Se circularmos pela bobina uma corrente contínua i, o ponto representativo do estado
magnético do toróide se fixará em M, e se terá gasto a energia hachurada na figura para obter este
estado magnético.
Se circularmos uma corrente alternada na bobina, o ponto representativo do estado
magnético do toróide variará sobre a curva de magnetização segundo as variações de corrente
(como veremos ao falar de histerese).

1.9.3 Materiais de permeabilidade magnética variável: coenergia e energia total

No caso dos materiais de permeabilidade variável, isto é, praticamente para os materiais


 
ferromagnéticos na vizinhança da saturação, os vetores B e H não são mais paralelos, e assim,
temos que definir a energia de modo diferente.
A densidade de energia elementar vale, para uma variação elementar dB de indução que
sai do campo constante H:
 dW 
d   H dB [1-55]
 d 
ou então, para uma variação elementar dH do campo que sai da indução B constante:
 dW 
d   B dH [1-56]
 d 
Podemos ver que a integral das relações [1-55] e [1-56] conduz a dois diferentes
resultados, uma vez que a relação B(H) é suposta qualquer.
A quantidade
W B
  à H cons tan te  0 H dB [1-57]
  
é denominada de densidade de “energia”.
A quantidade
W H
  à B cons tan te  0 B dH [1-58]
  
é chamada de densidade de “coenergia” associada.

Se representarmos o estado de magnetização de um núcleo por sua curva de magnetização


sobre a forma (F) (figura 1.35), sua energia será definida por:

W  0 f F d [1-59]

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Conversão de Energia I – Parte I

e sua coenergia será definida por:


F
W'  0 f  dF [1-60]


energia - W
f M

coenergia - W'

0 Ff F

Figura 1.35. Energia e coenergia.

Podemos ver que, o estado de magnetização de um material é, de fato, representado pela


soma dessas duas quantidades (todo o retângulo OfMFf hachurado sobre a figura), que
chamamos de “energia total”.
WTOT  W  W'   F [1-61]
A energia total é uma “função de estado” do material, dependente de duas “variáveis de
estado”  e F (ou B e H). No caso de um material linear ela é igual ao “dobro” da energia no
sentido clássico (de fato, neste caso, energia e coenergia são iguais).
Se representarmos o estado magnético do núcleo por sua curva (i), se pode usar as
fórmulas seguintes:

energia W  0i d 

coenergia W'  0  di
i
 [1-62]
energia total WTOT  W  W'   i 

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