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ROUSSEAU – OCRATOXINA A NOS VINHOS : O ESTADO DOS CONHECIMENTOS – OS MEIOS DE PREVENÇÃO NA

VINHA – PARTE 3

OCRATOXINA A NOS VINHOS: ESTADO DOS CONHECIMENTOS

Jacques Rousseau – Responsável de Viticultura do ICV


Institut Coopératif du Vin – La Jasse Maurin – 34970 Lattes – France
www.icv.fr

OS MEIOS DE PREVENÇÃO NA VINHA

O controlo contra a traça da uva: muito eficaz

Os ensaios realizados em 2001 e 2002 pelo ICV demonstram claramente que um bom
controlo da traça da uva pode induzir uma redução de 80% na contaminação em
Ocratoxina A relativamente a um vinho testemunha contendo mais de 2 µg/l.

Em 2001, diversas estratégias fitossanitárias foram comparadas, no quadro de um ensaio


em bloco, com 4 repetições por modalidade, numa parcela de Cabernet Sauvignon. As
uvas produzidas em cada modalidade foram vinificadas na adega experimental do ICV e
foram objecto de análise para detecção de Ocratoxina A. Entre as modalidades testadas,
nas 8 modalidades envolvendo um tratamento insecticida ovicida preventivo (flufenoxurão),
foi constatada uma redução média de 82% dos teores em Ocratoxina A nos vinhos na
altura do engarrafamento.

Em 2002 foram comparadas diferentes estratégias insecticidas sobre a mesma parcela,


com aplicação do mesmo protocolo. As três modalidades comparadas foram:
-
- uma estratégia ovicida e larvicida (à base de fenoxicarbe + flufenoxurão e
deltametrina),
- uma estratégia puramente larvicida (deltametrina),
- uma estratégia à base de Bacillus thurgiensis, um insecticida larvicida biológico.

A estratégia ovicida induziu a mesma redução na contaminação em Ocratoxina A nos


vinhos que aquela observada em 2001 (menos 80%). As outras estratégias induziram uma
redução muito menos importante dessa contaminação. Os estragos causados pelas larvas
parecem ser suficientes para explicar estas diferenças.

Alem disso, o acompanhamento de vinhas instaladas em sectores sujeitos a forte pressão


de infestação pela traça da uva demonstra que, qualquer que seja a estratégia de luta
utilizada, as uvas alvo de uma protecção insecticida originam sempre vinhos menos
contaminados por Ocratoxina A relativamente às uvas testemunha não tratadas (a redução
varia entre 40 e 60%).

A desfolha induz uma ligeira diminuição da contaminação em Ocratoxina A, sobre a


testemunha ou em complemento de um tratamento insecticida, mas sem efeito
verdadeiramente significativo.

Figura 1: A luta contra a traça da uva com o auxílio de tratamentos ovicidas


preventivos permite diminuir em 80% a contaminação dos vinhos em Ocratoxina A
(ensaios ICV 2002).
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Redução dos teores dos vinhos em Ocratoxina A e das perfurações das uvas em
função da estratégia de luta contra a traça da uva

ovicida + larvicida larvicida Bacillus


0%
-10%
-20%
-30%
-40%
-50%
-60%
-70%
-80%
-90%

Perfurações OTA

Figura 2: O acompanhamento de parcelas de viticultores demonstra que a luta contra


as traças da uva diminui fortemente a contaminação dos vinhos em Ocratoxina A
(ensaios ICV 2002).

Tratado Testemunha

100
Teor do vinho em Ocratoxina A (ng/l)

90

80

70

60

50

40

30

20

10

Carignan Costières Grenache Carpentras

O fostenil-Al: um efeito entre a alimpa e o fecho do cacho

O fosetil-Al é um fungicida anti-míldio conhecido pelas suas acções secundárias sobre


determinados fungos como os do género Botrytis. A sua acção sobre a Ocratoxina A foi
igualmente avaliada nos ensaios realizados pelo ICV em 2001 e 2002, com o mesmo
dispositivo experimental aplicado naqueles realizados para a traça da uva (ensaios em

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blocos com 4 repetições por modalidade), comparando diferentes programas à base de


fostenil-Al (sem tratamento insecticida complementar) com a testemunha.

Em 2002, 3 modalidades foram testadas, com 3 aplicações de fosetil-Al com 12 dias de


intervalo para cada modalidade:

- antes da floração;
- entre a floração e o fecho do cacho;
- após o fecho do cacho.

Foram as aplicações realizadas entre a alimpa e o fecho do cacho que induziram as


maiores reduções na contaminação dos vinhos por Ocratoxina A. Os tratamentos
realizados antes da floração tiveram um impacto muito menos marcado.

Os resultados confirmam as observações de 2001: os tratamentos com fostenil-Al após a


alimpa induzem uma redução de 50% na contaminação por Ocratoxina A relativamente a
uvas testemunha fortemente contaminadas (em 2001) e de 80% relativamente a uvas
testemunha com contaminação fraca (em 2002).

Figura 3: O fosetil-Al diminui fortemente os teores em Ocratoxina A quando os


tratamentos são efectuados entre a alimpa e o fecho do cacho (ensaios ICV 2002).

70%
Teor em Ocratoxina A (em % da testemunha)

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Antes da floração Entre alimpa e o fecho dos cachos após o fecho dos cachos

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Principais conclusões dos ensaios ICV 2001 e 2002


- Existe uma estreita ligação entre o mau estado sanitário da uva e o nível de
contaminação do vinho em Ocratoxina A, resultante, em particular, dos estragos
provocados pela traça da uva (eudémis, cochonilhas).

- O controlo dos danos provocados pela traça da uva com a aplicação de um


programa de luta, em respeito das boas práticas agrícolas e da protecção integrada,
é suficiente para induzir uma forte diminuição do nível de contaminação.

- As estratégias ovicidas parecem induzir uma diminuição mais marcada da


contaminação que aquela possibilitada por tratamentos estritamente larvicidas
(químicos ou biológicos).

- O fostenil-Al exerce um efeito secundário não negligenciável sobre a diminuição da


contaminação das uvas e dos vinhos por Ocratoxina A, no caso de tratamentos
realizados após a alimpa.

- O efeito secundário do fosetil-Al não justifica a aplicação de tratamentos específicos


«anti-ocratoxina». A sua aplicação deve ser, antes de mais, justificada pela
necessidade da luta contra o míldio. Nos últimos tratamentos, o recurso ao fostenil-
Al pode ter um efeito secundário interessante.

- O arejamento das uvas conseguido pela desfolha diminui um pouco o teor em


Ocratoxina A, o qual não é suficiente em caso de forte contaminação.

Acção dos fungicidas sobre os fungos: primeiros resultados in vitro

O INRA avaliou, in vitro, a actividade de diferentes fungicidas utilizados em viticultura para


o controlo de fungos produtores de micotoxinas: Aspergillus carbonarius, Aspergillus niger,
Penicillium chrysogenum, Penicillium expansum (in Phytoma LdV n° 553, Outubro 2002, p.
28-31).

In vitro, determinados anti-botrytis exercem uma acção importante sobre os fungos, quer na
fase de alongamento, quer na fase de germinação dos conídios, quer na fase de
desenvolvimento do micélio: o fluaziname, o fludioxonil e, sobretudo, o ciprodinil, o
mepanipirim e o pirimetanil.

Outras substâncias activas registam uma acção menos marcada:


-
- o folpete e o tirame (e provavelmente o cobre) têm uma forte acção anti-
germinativa, mas actuam pouco sobre o desenvolvimento micelar;
-
- os benzimidazóis (carbendazima, dietofencarbe) não exercem qualquer acção anti-
esporulante, mas conseguem uma forte inibição do desenvolvimento micelar. No
entanto, foram já registadas resistências por parte de espécies do género
Penicillium;

- os IBS (espiroxamina, difeconazol, fenbuconazol, tebuconazol) apresentam uma


certa actividade.

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Determinadas substâncias activas parecem pouco eficazes ou ineficazes.

- as estrobilurinas apresentam uma acção potencial, a confirmar com ensaios a


realizar nas vinhas;
-
- o cimoxanil e o metalaxil não apresentam qualquer acção;
-
- o fostenil-Al apenas apresenta acção in vitro, o que é explicado pelo seu modo de
acção (sem actividade fungicida directa, mas com reforço das resistências da
planta).

Uma vez que as observações de campo podem diferir sensivelmente dos resultados de
ensaios in vitro, a acção destes fungicidas sobre os fungos deve ser confirmada através de
ensaio na vinha, antes de ser atribuído um eventual efeito «anti-ocratoxina» a determinadas
substâncias activas.

Os primeiros ensaios actualmente realizados demonstram que certos anti-botrytis têm uma
actividade potencialmente interessante contra a Ocratoxina A. No entanto, o respeito do
intervalo de segurança limita a utilização «anti-ocratoxina» destas substâncias activas.

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