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DENIS BOING
Joinville
2010
Denis Boing
Joinville
2010
ANÁLISE DA VIDA DE FERRAMENTAS DE PcBN NO TORNEAMENTO DE
FERRO FUNDIDO BRANCO COM ALTO TEOR DE CROMO
Denis Boing
Este trabalho não poderia ser terminado sem a ajuda de diversas pessoas às quais presto
minha homenagem:
Ao meu professor orientador Prof. Dr. Adilson José de Oliveira, por toda atenção,
orientação e acima de tudo pelo exemplo, amizade, ajuda, apoio, simplicidade, incentivo e
colaboração recebida ao longo da realização deste trabalho.
Aos professores do Instituto Superior Tupy Guido Warmling e Orlando Preti pelos
inúmeros ensinamentos durante o desenvolvimento do trabalho.
À minha família, afinal vocês foram mais importantes que possam imaginar. Em
especial, agradeço o carinho da minha esposa Sarah, sempre ao meu lado me apoiando e
incentivando em todas as jornadas. Esta conquista é fruto seu também.
BOING, D. “Analysis of the PcBN tool life in turning of high chromium white cast iron”.
Dissertation (Master Degree), Instituto Superior Tupy, Joinville, 2010.
Keyworks: Turning, PcBN grades, white cast iron, continuous cutting, interrupted
cutting.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2 – Influência da dureza do aço AISI 4030 nas componentes da força de usinagem (vc
= 90 m/min, ap = 0,15 mm e ƒ = 0,9 mm). Adaptado de Matsumoto (1987) apud Tönshoff,
Arendt e Amor (2000). ............................................................................................................. 23
Figura 3 – Micrografia das classes de materiais endurecidos usinados por torneamento. Fonte:
a) Bramfitt e Lawrence (2004); b) Maru (2003), c) Franco Junior (2003) e d) Preti (2004). .. 26
Figura 4 – Comparação da microdureza dos carbonetos com a matriz dos aços. Adaptado de
Roberts, Krauss e Kennedy (1998). .......................................................................................... 28
Figura 5 – Esquema de crescimento do composto eutético das ligas de ferro fundido branco de
alto cromo. Adaptado de Laird, Gundlach e Rohrig (2000). .................................................... 33
Figura 8 – Comparação de vida das ferramentas cerâmica reforçadas com SiC Whiskers e
PcBN (baixo teor de CBN) no corte contínuo e interrompido do aço AISI 4340 com 56 HRC
de dureza. Adaptado de Oliveira, Diniz e Ursolino (2009). ..................................................... 41
Figura 9 – Vida das ferramentas na usinagem de materiais com restrita e elevada fração
volumétrica de carbonetos. Adaptado de Yallese et al. (2004) e Oliveira, Diniz e Ursolino
(2009). ...................................................................................................................................... 42
Figura 10 – Influência da condição de corte na vida das ferramentas de alto teor de CBN
(CBN 7050) e baixo teor de CBN (CBN 7020) na usinagem do aço AISI 4340. Adaptado de
Diniz e Oliveira (2008). ............................................................................................................ 43
Figura 11 – Vida das ferramentas de PcBN na usinagem do aço AISI M50 no corte contínuo e
interrompido. Adaptado de Chou e Evans (1999). ................................................................... 46
Figura 12 – Influência da velocidade de corte na: (a) vida das ferramentas e (b) na força de
atrito para o torneamento do aço AISI 4340 com 50 HRC (Classe A). Adaptado de Lin, Liao e
Wei (2008). ............................................................................................................................... 47
Figura 13 – Vida das ferramentas de PcBN na usinagem do aço AISI D2. Adaptado de
Arsecularatne et al. (2006). ...................................................................................................... 48
Figura 18 – Imagens de M.E.V. das ferramentas de PcBN na usinagem do aço AISI 4340 e
esquema da mínima espessura do cavaco. Adaptado de Diniz e Oliveira (2008). ................... 55
Figura 35 – Centro de Torneamento ROMI modelo GL240 utilizado nos experimentos. ....... 83
Figura 42 – Micrografia em M.E.V. do ferro fundido branco de alto cromo utilizado. ........... 90
Figura 46 – Vida das ferramentas de PcBN em função do tipo de corte e classe de ferramenta.
.................................................................................................................................................. 96
Figura 47 – Interação dos fatores condição de usinagem e ferramenta de PcBN, para a vida da
ferramenta [min]. ...................................................................................................................... 98
Figura 48 – CBN 7050 em corte contínuo: a) superfície de folga e b) superfície de saída. ... 102
Figura 50 – CBN 7025 em corte contínuo: a) superfície de folga e b) superfície de saída. ... 106
Figura 56 – Análise EDS da ferramenta CBN 7050 em corte interrompido na terceira réplica
dos experimentos. ................................................................................................................... 114
Figura 59 – CBN 7025 - Comparação entre as arestas de corte remanescentes. .................... 117
Figura 61 – Morfologia dos cavacos do ferro fundido branco de alto cromo. ....................... 121
Figura 63 – Cavaco formando na usinagem do ferro fundido branco de alto cromo (CBN 7050
em corte interrompido). .......................................................................................................... 125
Figura 64 – Análise da rugosidade pelo parâmetro Ra [µm] no início da vida das ferramentas:
a) probabilidade normal dos efeitos; b) interações no planejamento fatorial. ........................ 126
Figura 65 – Análise da rugosidade pelo parâmetro Rz [µm] no início da vida das ferramentas:
a) probabilidade normal dos efeitos; b) interações no planejamento fatorial. ........................ 127
Figura 66 – Topografias das superfícies usinadas no início da vida das ferramentas. ........... 128
Figura 67 – Análise da rugosidade pelo parâmetro Ra [µm] ao final da vida das ferramentas:
a) probabilidade normal dos efeitos; b) interações no planejamento fatorial. ........................ 130
Figura 69 – Alterações microestruturais ocasionadas pela ferramenta CBN 7025. ............... 135
Figura 70 – Alterações microestruturais ocasionadas pela ferramenta CBN 7050. ............... 137
LISTA DE TABELAS
Tabela 2 – Composição química básica dos materiais (% em massa). Fonte: Metals Handbook
(1993). ...................................................................................................................................... 29
Tabela 3 - Classificação das ligas (composição química) de ferro fundido branco resistente a
abrasão de acordo com a norma ASTM A 532 apud Preti (2004). .......................................... 30
Tabela 4 – Dureza Vickers (HV) das ligas de ferro branco resistente a abrasão. Adaptado de
Preti (2004). .............................................................................................................................. 31
Letras latinas
Letras gregas
AISI American Iron and Steel Institute – Instituto Americano do Ferro e Aço
ASTM American Society for Testing and Materials – Sociedade Americana para
Testes e Materiais
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 19
2.1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 21
3.1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 83
4.2.1. Arestas de corte da ferramenta CBN 7050 em corte contínuo .................. 101
4.2.2. Arestas de corte da ferramenta CBN 7025 em corte contínuo .................. 105
4.2.3. Arestas de corte da ferramenta CBN 7050 em corte interrompido ........... 111
4.2.4. Arestas de corte da ferramenta CBN 7025 em corte interrompido ........... 115
4.2.5. Comparação entre as topografias dos desgastes das ferramentas ............. 117
2.1. INTRODUÇÃO
Figura 1 – Características das operações de torneamento duro e retificação. Adaptado de Klocke, Brinksmeier e
Weinert (2005).
Machado et al. (2009), Grzesik (2008a), Lahiff, Gordon e Phelan (2007) e Pavel et al.
(2005) afirmam que a usinagem de materiais endurecidos se caracteriza pela dureza do
material usinado superior a 45 HRC. A conclusão destes autores surgiu por meio da análise do
comportamento do processo de torneamento de materiais endurecidos utilizando ferramentas
de cerâmicas e de PcBN. A Figura 2 mostra o comportamento das componentes da força de
usinagem no torneamento do aço AISI 4030 em diferentes níveis de dureza.
Figura 2 – Influência da dureza do aço AISI 4030 nas componentes da força de usinagem (vc = 90 m/min, ap =
0,15 mm e ƒ = 0,9 mm). Adaptado de Matsumoto (1987) apud Tönshoff, Arendt e Amor (2000).
ressaltar que o ponto de ótima temperatura de corte é influenciado por fatores como dureza do
material usinado e sistemas de refrigeração.
Dentre os materiais que possuem elevada dureza e com capacidade de serem usinados
por torneamento estão principalmente os aços para construção mecânica, os aços-ferramenta,
os aços para rolamento, os ferros fundidos brancos e as ligas de ferros fundidos. Apesar de
estes materiais possuírem elevada dureza, em alguns casos, até em durezas idênticas
(macrodureza), seus comportamentos na usinagem são diferentes devido às características
microestruturais, principalmente em relação à presença de partículas duras (SMITH, 2008;
POULACHON et al., 2003; REN et al., 2001).
26
Figura 3 – Micrografia das classes de materiais endurecidos usinados por torneamento. Fonte: a) Bramfitt e
Lawrence (2004); b) Maru (2003), c) Franco Junior (2003) e d) Preti (2004).
27
A classificação dos materiais adotada neste trabalho não corresponde somente aos
materiais específicos apresentados na Figura 3, mas também aos seus similares,
principalmente em relação à fração volumétrica de carbonetos. A Tabela 1 mostra as classes
de materiais adotadas, a estimativa da fração volumétrica de carbonetos nos materiais de
referência e o intervalo de fração volumétrica de carbonetos correspondente às classes
estipuladas.
sua composição. Detalhes sobre a Regra da Alavanca podem ser consultados em Preti (2004),
Chiaverini (2002) e em Laird, Gundlach e Rohrig (2000).
Figura 4 – Comparação da microdureza dos carbonetos com a matriz dos aços. Adaptado de Roberts, Krauss e
Kennedy (1998).
Na Figura 4 é possível observar que a dureza dos carbonetos de cromo (do tipo M7C3) é
aproximadamente três vezes maior que a dureza da matriz dos aços-rápidos (similar à matriz
dos materiais classificados na Tabela 1). Para estas condições, apesar de a dureza superior das
ferramentas de PcBN (aproximadamente 4500 HV), durante o processo de corte, o impacto
das ferramentas de PcBN contra os carbonetos da microestrutura do material pode acarretar
severos desgastes ou avarias na aresta de corte, ou ainda, imperfeições na superfície usinada
(SMITH, 2008; LAIRD, GUNDLACH e ROHRIG, 2000).
Tabela 2 apresenta a composição química básica dos materiais apresentados nas Figura 3a, 3b
e 3c. As composições químicas dos ferros fundidos brancos estão apresentadas na Tabela 3.
Tabela 2 – Composição química básica dos materiais (% em massa). Fonte: Metals Handbook (1993).
Material C Cr Mo Si V Mn Ni
0,38 0,70 0,20 0,15 - 0,6 1,65
Aço AISI 4340
0,43 0,90 0,30 0,35 0,8 2,00
0,98 1,30 - 0,15 - 0,24
Aço AISI 52100
1,10 0,60 0,35 0,45
1,40 11,0 0,70 0,60 1,10 0,60 0,30
Aço AISI D2
1,60 13,0 1,20 máx máx máx máx
Ferros fundidos brancos são os ferros fundidos que possuem o Carbono combinado na
forma de carbonetos, isto é, sem grafita. Sua obtenção é realizada por meio do processo de
fundição mediante a utilização de basicamente duas técnicas: a) a primeira consiste no
emprego da composição química do ferro fundido cinzento (isento de elementos de liga)
associada à elevada taxa de resfriamento, o que impedirá a formação da grafita, favorecendo a
30
A norma mais utilizada para a classificação dos ferros fundidos ligados resistentes a
abrasão é a ASTM A 532. Esta norma classifica os ferros fundidos brancos em 10 ligas de
acordo com sua composição química, conforme apresentado na Tabela 3.
Tabela 3 - Classificação das ligas (composição química) de ferro fundido branco resistente a abrasão de acordo
com a norma ASTM A 532 apud Preti (2004).
Classe I – Ferros Ni-hards: nestas classes utilizam-se pequenas adições de cromo para a
formação do carboneto do tipo M3C. O Níquel é adicionado para aumentar a temperabilidade
da liga (evitar a decomposição da austenita em perlita), possibilitando a formação da
martensita no estado bruto de fusão além de maior resistência ao desgaste. A exceção nesta
classe é o tipo D, o qual apresenta maior teor de cromo (7 a 11%) que promove a alteração do
tipo de carboneto M3C para M7C3. O carboneto do tipo M7C3 é mais duro e menos contínuo
que o M3C, resultando em uma liga com maior tenacidade e resistência à abrasão quando
comparado aos tipos A, B e C (LAIRD, GUNDLACH e ROHRIG, 2000; METALS
HANDBOOK, 1993).
31
Classes II e III– Ferros Cr-Mo e alto cromo: estas ligas apresentam teores de cromo
acima de 12%, visando a formação de carbonetos de cromo do tipo M7C3. Pequenas adições
de elementos, como o Mo, Ni e Cu, proporcionam maior endurecimento da matriz. Variações
de composições químicas nestas classes de materiais permitem obter diferentes fases na
matriz metálica, tais como: austenita, ferrita, perlita, bainita, martensita, ou ainda, uma
combinação destas. Esta flexibilidade microestrutural possibilita a estes ferros fundidos
diferentes combinações de resistência a abrasão, tenacidade e corrosão (LAIRD,
GUNDLACH e ROHRIG, 2000; WALTON, 1993; GUNDLACH, 1988).
Tabela 4 – Dureza Vickers (HV) das ligas de ferro branco resistente a abrasão. Adaptado de Preti (2004).
Fundido em Areia
Bruto de Fundição (HV) Temperado (HV) Recozido (HV) Coquilhado (HV)
IA 600 660 - 660
IB 600 660 - 660
IC 600 660 430 660
ID 540 660 - 660
IIA 600 660 430 660
IIB 485 660 430 -
IIC 600 660 430 -
IID 485 660 430 -
IIE 485 660 430 -
IIIA 485 660 430 -
Nota: os valores correspondem à dureza mínima.
Conforme mostrado na Tabela 4, a menor dureza encontrada na matriz das ligas de ferro
fundido branco resistente a abrasão é de ou 485 HV ou 46 HRC (a conversão de escalas de
dureza foi realizada conforme a norma E 140-05 (ASTM, 2005)). Apesar de a dureza da
matriz ser elevada, não proporciona dificuldades para a usinagem destas ligas. A suposta
dificuldade de usinagem está na dureza dos carbonetos, como os carbonetos de cromo do tipo
M7C3 que possuem dureza aproximadamente três vezes maior que a da matriz (LAIRD,
GUNDLACH e ROHRIG, 2000; GUNDLACH, 1988).
32
Nos ferros fundidos brancos de alto cromo, as propriedades mecânicas e de desgaste são
provenientes da microestrutura com matriz controlada e da dispersão dos carbonetos de cromo
do tipo M7C3. Estes materiais podem possuir durezas uniformes mesmo em peças de grande
espessura. Estes valores de durezas são atingidos por processos de tratamento térmico, como a
têmpera e o revenimento. Os tratamentos térmicos são facilitados pela presença de elementos
químicos como o cromo, molibdênio, níquel e cobre (BERNS e THEISEN, 2008).
A principal diferença entre os ferros fundidos brancos Cr-Mo e alto cromo, mostrados
na Tabela 3, é quantidade de cromo. A quantidade de cromo influencia diretamente na fração
volumétrica de carbonetos presentes na microestrutura, sendo que maiores quantidades de
cromo equivalem à maior quantidade de carbonetos. Além da formação e estabilização dos
carbonetos, o cromo é adicionado aos ferros fundidos brancos para prevenir o surgimento da
grafita, estabilizar a austenita e aumentar a resistência à corrosão (ASM INTERNATIONAL,
2009; LAIRD, GUNDLACH e ROHRIG, 2000).
Figura 5 – Esquema de crescimento do composto eutético das ligas de ferro fundido branco de alto cromo.
Adaptado de Laird, Gundlach e Rohrig (2000).
Conforme mostrado na Figura 5, as células eutéticas nos ferros fundidos brancos são
formadas em posições aleatórias, onde o composto eutético M7C3 é disposto em um sentido
radial e possui crescimento em profundidade. Os crescimentos em profundidade das células
eutéticas formam uma ancoragem dos carbonetos com a matriz do material. Esta característica
é importante para a resistência ao desgaste destas ligas. No entanto, podem acarretar desafios
nas operações de torneamento (LAIRD, GUNDLACH e ROHRIG, 2000). Para evidenciar
com mais clareza os carbonetos nos ferros fundidos brancos de alto cromo, a Figura 6a mostra
uma célula eutética em vista de topo (carbonetos em vista de topo), enquanto que na Figura 6b
a célula eutética é apresentada em vista ao longo da célula (seção transversal).
Figura 6 – Microestrutura da liga de ferro fundindo branco ASTM A 532 II D obtida em microscópio eletrônico
de varredura. a) microfotografia do composto eutético em vista de topo. a) microfotografia do composto eutético
M7C3, vista ao longo da célula eutética (seção transversal). Fonte: Preti (2004).
Nas Figura 6a e 6b a ancoragem dos carbonetos na matriz dos ferros fundidos brancos
fica evidenciada. Além disso, pode ser observado na Figura 6b que existem carbonetos
maiores que 150 µm (em seção transversal), os quais equivalem à profundidade de corte (ap)
34
A limitada utilização dos ferros fundidos brancos está relacionada à sua complexidade
microestrutural, a qual impõe severos desafios aos processos de manufatura após a fundição.
Deste modo, o conhecimento adquirido nesta pesquisa pode ampliar as áreas de aplicações
dos ferros fundidos brancos. Além disso, tal conhecimento pode ser transportado a outros
materiais com características microestruturais similares.
Tabela 5 – Características das ferramentas de cerâmica e PcBN. Adaptado de: 1- Trent e Wright (2000) e 2 -
Grzesik (2008a).
Figura 7 – Micrografia das ferramentas de PcBN. a) baixo teor de CBN, adaptado de Angseryd et al. (2009) e
b) alto teor de CBN, adaptado de Grzesik (2008a)..
A Figura 7a apresenta uma micrografia da ferramenta de PcBN baixo teor, a qual possui
uma fase cerâmica como aglomerante, geralmente TiC ou TiN. A Figura 7b corresponde a
uma ferramenta de alto teor de CBN, sendo que, nestas a fase aglutinante é geralmente
metálica (SMITH, 2008; STEPHENSON e AGAPIOU, 2006). Apesar da Figura 7b não
possuir escala, segundo Grzesik (2008a), os grãos nas ferramentas de PcBN são menores do
que 1 µm.
Parâmetros de usinagem
Material da Material Dureza Condição
Classes Pesquisadores vc ap
ferramenta usinado (HRC) de Corte ƒ (mm)
(m/min) (mm)
(DINIZ e C–I
PcBN 56 150 0,08 0,15
OLIVEIRA, 2008) S.I.
PcBN
(LUO, LIAO e 0,20-
Cerâmica (Al2O3) 35-55 C 60-200 0,10-0,30
TSAI, 1999) 0,50
Metal duro P10
AISI 4340
(BARRY e Cerâmica (Al2O3)
52 C 150-282 0,10 0,20
BYRNE, 2001)(a)(b) PcBN
Classe A
(OLIVEIRA, PcBN
DINIZ e Cerâmica- 56 C-I 150 0,08 0,15
URSOLINO, 2009) Whiskers
(GRZESIK,
Cerâmica (Al2O3) AISI 5140 60 C 100 0,04-0,80 0,20
2008b)b
(PAVEL et al. AISI 1117 62 C 0,102-
PcBN 125-175 0,178
2005) AISI 1137 48 I 0,15
Cerâmica (Al2O3) 0,06-
(SAHIN, 2009) 57 C 100-196 0,2
PcBN 0,117
(SMITH et al. 0,051-
PcBN 61 C 122 0,127
2007) 0,255
(CHOU, EVANS e AISI 52100 0,05-
PcBN 62 C 60-240 0,0125
BARASH, 2002) 0,25
Classe B 0,05-
(KO e KIM, 2001) PcBN 60 I 97-218 0,05-0,15
0,20
(YALLESE et al. 0,10-
PcBN 60 C 60-350 0,08-0,24
2009) 1,0
(LALWANI,
MEHTA e JAIN, Cerâmica (Al2O3) 18Ni(250) 50 C 55-93 0,04-0,12 0,1-0,2
2008)
Metal duro P15
Classes AISI 4340 42-50 60-180 0,10-0,40 0,5-2,0
(LIMA, 2005) PcBN C
AeC AISI D2 58 80-220 0,05-0,15 0,2
Cerâmica (Al2O3)
AISI 52100
Classes (POULACHON et 35NiCrMo16
PcBN 54 C 180-230 0,08-0,12 0,20
BeC al. 2004) AISI H11
AISI D2
(FARHAT, 2003) PcBN AISI P20 34 C 60-1000 0,06 2,60
(KATUKU,
KOURSARIS e PcBN ADI 33 C 50-800 0,05 0,20
SIGALAS, 2010)
(CHOU e EVANS, C
PcBN AISI M50 63 120-468 0,012 0,05
1999) I
Classe C
(ARSECULARATNE
PcBN 62 C 70-120 0,08-0,20 0,5
et al. 2006)
AISI D2
(GAITONDE et al.
Cerâmica (Al2O3) 60 C 80 0,10 0,2-0,6
2009)
(YALLESE et al. Cerâmica (Al2O3) 60-180
AISI D3 60 C 0,08-0,20 0,2-1,0
2004) PcBN 90-350
“High
Classe D (REN et al. 2001) PcBN chromium 58 C 32-85 0,15-0,25 0,65
Hardfacing”
Condição de corte: C = contínuo; I = interrompido; S.I. = semi-interrompido
39
Além das restrições nas aplicações das ferramentas cerâmicas, quando utilizadas, os
valores de velocidade de corte (vc) são geralmente inferiores comparados às velocidades de
corte praticadas nas ferramentas PcBN. No entanto, conforme a Tabela 6, no torneamento de
materiais endurecidos, os valores de velocidade de corte praticados com maior frequência
estão no intervalo de (vc) = 100 a 200 m/min.
Este item tem o objetivo de apresentar as diferenças na vida das ferramentas de PcBN
em comparação às ferramentas cerâmicas. Além disso, este item também abordará a
influência do teor de CBN na vida das ferramentas.
Figura 8 – Comparação de vida das ferramentas cerâmica reforçadas com SiC Whiskers e PcBN (baixo teor de
CBN) no corte contínuo e interrompido do aço AISI 4340 com 56 HRC de dureza. Adaptado de Oliveira, Diniz e
Ursolino (2009).
Sahin (2009) comparou a vida das ferramentas de PcBN [CBN (50%) +TiC (40%) +WC
(6%) + AlN,AlB2 (4%)] e cerâmicas mistas (Al2O3 + TiC e Al2O3 + TiC + TiN), no corte
contínuo do aço AISI 52100 (Classe B). Nas condições testadas as ferramentas de PcBN
apresentaram as maiores vidas, as quais foram superiores a 97,5 minutos. Por outro lado, no
menor patamar de velocidade de corte testada (100 m/min), as ferramentas cerâmicas
apresentaram vidas superiores a 100 minutos. No entanto, com o incremento na velocidade de
corte para 196 m/min, a vida das ferramentas cerâmicas passou para aproximadamente 15
minutos. Estes resultados mostram que as ferramentas de PcBN mostram melhor desempenho
independente do valor de velocidade de corte testado. No entanto, quando utilizados baixos
valores de velocidade de corte (vc), as ferramentas de PcBN perdem eficiência em
42
A direta comparação entre a vida das ferramentas de cerâmica e PcBN no corte contínuo
em materiais com restrita e elevada fração de partículas duras na microestrutura pode ser
observada na Figura 9.
Figura 9 – Vida das ferramentas na usinagem de materiais com restrita e elevada fração volumétrica de
carbonetos. Adaptado de Yallese et al. (2004) e Oliveira, Diniz e Ursolino (2009).
A comparação entre ferramentas de PcBN (alto e baixo teor) foi realizada por Diniz e
Oliveira (2008). O experimento foi realizado na usinagem do aço AISI 4340 – 56 HRC
(Classe A) considerando o limite de vida das ferramentas igual ao desgaste de flanco médio
(VBB) = 0,2 mm. Os resultados estão apresentados na Figura 10.
Figura 10 – Influência da condição de corte na vida das ferramentas de alto teor de CBN (CBN 7050) e baixo
teor de CBN (CBN 7020) na usinagem do aço AISI 4340. Adaptado de Diniz e Oliveira (2008).
44
Conforme a Figura 10, os autores observaram que, no corte interrompido, a classe das
ferramentas PcBN (alto e baixo teor) não influencia na vida das ferramentas, as quais foram
superiores a 90 minutos. Porém, no corte contínuo e semi-interrompido, a vida da ferramenta
de baixo teor de CBN (CBN 7020) foi de aproximadamente 60 minutos, três vezes superior a
da ferramenta com alto teor de CBN (CBN 7050). Segundo os autores, este comportamento
está relacionado à maior estabilidade química e à condutividade térmica das ferramentas com
baixo teor de CBN (CBN 7020).
A mesma tendência nos resultados referente à vida das ferramentas com alto e baixo
teor de CBN foi apresentada por Chou e Evans (1999) no torneamento do aço-rápido ao
Molibdênio AISI M50 (Classe C). Os autores demonstraram que, no corte contínuo, a vida
das ferramentas com baixo teor de CBN foi de aproximadamente 25 minutos, 2,5 vezes
superior às ferramentas com alto teor de CBN. No entanto, no corte interrompido, as classes
de ferramentas PcBN apresentaram resultados similares na maior frequência de interrupções
utilizada no experimento (aproximadamente 140 Hz), com vida de aproximadamente 10
minutos (ver a Figura 11).
Este item demonstrou que existe uma tendência de melhor desempenho das ferramentas
de PcBN quando comparadas às ferramentas cerâmicas, independe da condição de corte
utilizada (contínuo ou interrompido) ou da fração volumétrica de carbonetos presentes na
microestrutura do material usinado. Também verifica-se que na comparação entre as
ferramentas com alto e baixo teor de CBN, as ferramentas com baixo teor de CBN possuem
melhor desempenho na usinagem de superfícies contínuas. No entanto, no torneamento em
superfícies interrompidas, ambas as classes de ferramentas de PcBN promovem resultados
similares, tanto na usinagem de materiais com baixa ou elevada fração volumétrica de
carbonetos.
45
Figura 11 – Vida das ferramentas de PcBN na usinagem do aço AISI M50 no corte contínuo e interrompido.
Adaptado de Chou e Evans (1999).
Os resultados mostraram que a vida das ferramentas com alto teor de CBN se manteve
constante (aproximadamente 10 minutos) independente da condição de corte e da frequência
de interrupções. Para as ferramentas com baixo teor de CBN utilizadas em corte contínuo
(frequência zero de interrupções), a vida das ferramentas foi de aproximadamente 25 minutos.
Com a alteração do tipo do corte para interrompido e com o aumento da frequência de
interrupção, nota-se uma forte redução na vida da ferramenta (de 25 minutos na primeira
condição para aproximadamente 10 minutos na mais extrema). Este comportamento está
relacionado aos tipos de desgaste das ferramentas. Para as ferramentas de baixo teor de CBN,
o desgaste de flanco aumenta com a frequência de interrupções. Em contrapartida, o
incremento na frequência de interrupções não promove efeito significativo na taxa de desgaste
das ferramentas com alto teor de CBN. Devido à elevada temperatura gerada durante o corte
contínuo, a maior vida nas ferramentas com baixo teor de CBN nesta condição está
relacionada à elevada estabilidade química. Por outro lado, as ferramentas com baixo teor de
CBN possuem baixa tenacidade. Deste modo, os cíclicos choques promovidos pelo corte
interrompido sobre a aresta de corte reduzem a vida da ferramenta com o incremento na
frequência de interrupções. Esta influência não é constatada na usinagem com ferramentas de
alto teor de CBN devido à maior tenacidade comparada à ferramenta de baixo teor de CBN.
Este item mostrou a tendência na superior vida das ferramentas no corte interrompido
quando comparado ao corte contínuo, principalmente para materiais com restrita fração
volumétrica de carbonetos. Enquanto que, quando usinados materiais com elevada presença
47
Este item tem o objetivo de discutir a influência dos parâmetros de usinagem na vida
das ferramentas utilizadas no torneamento de materiais endurecidos. O foco desta discussão
está no parâmetro de usinagem com maior fator de impacto na vida das ferramentas, a
velocidade de corte (vc).
Lin, Liao e Wei (2008) estudaram a influência da velocidade de corte na vida das
ferramentas de baixo teor de PcBN (CBN + TiC) no torneamento em corte contínuo do aço
AISI 4340 (Classe A) com 50 e 58 HRC. Os resultados estão apresentados na Figura 12.
Figura 12 – Influência da velocidade de corte na: (a) vida das ferramentas e (b) na força de atrito para o
torneamento do aço AISI 4340 com 50 HRC (Classe A). Adaptado de Lin, Liao e Wei (2008).
necessária para o cisalhamento na formação do cavaco segmentado (LIN, LIAO e WEI, 2008;
TÖNSHOFF, ARENDT e AMOR, 2000).
Figura 13 – Vida das ferramentas de PcBN na usinagem do aço AISI D2. Adaptado de Arsecularatne et al.
(2006).
De acordo com a Figura 13, a tendência para redução da vida das ferramentas está
relacionada ao aumento dos valores de velocidade de corte e de avanço por volta. Obteve-se a
49
menor vida da ferramenta com a combinação dos parâmetros de usinagem mais severos,
sendo: velocidade de corte (vc) = 120 m/min e avanço (ƒ) = 0,20 mm. Por outro lado, a maior
vida das ferramentas aconteceu com os parâmetros de usinagem mais brandos (velocidade de
corte (vc) = 70 m/min e avanço (ƒ) = 0,08 mm). Apesar de os autores não explicarem os
motivos deste comportamento, a utilização dos parâmetros de usinagem mais severos acarreta
em maior temperatura na interface cavaco-ferramenta. Para explicar esta hipótese é necessário
compreender que apesar de a temperatura na interface-cavaco ferramenta reduzir
drasticamente a dureza da matriz do material usinado, não reduz significativamente a dureza
dos carbonetos do tipo M7C3 presentes na microestrutura do aço AISI D2. Por outro lado, a
elevada temperatura gerada durante o corte também reduz a resistência do material
aglomerante da ferramenta de PcBN, facilitando a atuação do mecanismo de desgaste
abrasivo. Desta forma, o mecanismo de desgaste abrasivo para estas condições é ocasionado
pelos carbonetos da microestrutura do aço AISI D2 e pelas próprias partículas de CBN
desprendidas do substrato.
Na usinagem com corte interrompido no aço-rápido AISI M50 (Classe C) com 63 HRC,
Chou e Evans (1999) observaram que o incremento da velocidade de corte proporciona
diferentes comportamentos para as ferramentas de PcBN com alto e baixo teor de CBN. Os
comportamentos estão apresentados na Figura 14.
Figura 14 – Influência da velocidade de corte na vida das ferramentas de PcBN em corte interrompido do aço
AISI M50. Adaptado de Chou e Evans (1999).
velocidade de corte, as vidas das ferramentas com alto teor de CBN foram aproximadamente
3 vezes superiores comparadas a 240 m/min e aproximadamente 7 vezes superiores quando
comparadas à velocidade de corte de 480 m/min. Por outro lado, para as ferramentas com
baixo teor de CBN, a melhor vida foi encontrada quando utilizado 240 m/min de velocidade
de corte, a qual foi 3 vezes superior comparada às velocidades de corte de 120 e 480 m/min.
Os autores descrevem que este comportamento está associado aos mecanismos de desgaste
nas ferramentas de baixo teor de CBN no patamar de velocidade de corte (vc) = 240 m/min,
nas quais não foram observados microlascamentos e a topografia do desgaste da ferramenta
apresentou-se mais uniforme comparada às condições utilizando a velocidade de corte de 120
e 480 m/min.
Este item mostrou que o parâmetro de usinagem com maior fator de impacto na vida das
ferramentas é a velocidade de corte (vc). Também verificou-se que existe uma tendência a
redução da vida das ferramentas quando utilizados parâmetros de usinagem mais severos. O
motivo para estes resultados serão descritos em dois outros itens: geometria da aresta de corte
e, principalmente, na seção sobre mecanismos de desgaste das ferramentas.
de arredondamento da aresta pode variar entre 25 μm (raio de aresta pequeno) até 180 μm
(raio de aresta grande). Esta variação no raio de aresta está relacionada com a espessura média
de corte. Recomenda-se que a espessura média seja pelo menos de duas a três vezes maior do
que o raio de arredondamento da aresta. O ângulo de saída efetivo no torneamento de
materiais endurecidos é formado pela inclinação do porta-ferramenta (geralmente γ = -6º)
somado à inclinação do chanfro de preparação da aresta de corte. O somatório de ângulos
promove um ângulo de saída normalmente entre (γ) = -20º e -45º. O comprimento do chanfro
de proteção da aresta é de 0,1 mm para operações de acabamento e 0,2 mm para operações de
desbaste. Em operações com grande exigência da ferramenta, um arredondamento é
adicionado nos vértices dos chanfros com raios de 25 μm a 50 μm (STEPHENSON e
AGAPIOU, 2006; KLOCKE e KRATZ, 2005; ZHOU et al. 2003).
Figura 16 – Esquema da microgeometria da aresta de corte com chanfro e com arredondamento. Adaptado de
Diniz e Oliveira (2008)
Ainda referente aos resultados encontrados por Diniz e Oliveira (2008), os autores
descreveram que o principal mecanismo de desgaste observado nas ferramentas com baixo
teor de CBN foi a abrasão. O aumento na deformação do cavaco e, consequentemente, na
temperatura da interface cavaco-ferramenta quando a microgeometria arredondada é utilizada,
promove a redução da resistência da aresta de corte e a torna mais susceptível ao desgaste
abrasivo. Deste modo, os autores sugerem que a temperatura gerada quando utilizada a
microgeometria da aresta com chanfro, promove maior vida para as ferramentas com baixo
teor de CBN. Vale ressaltar que apesar de as elevadas temperaturas geradas durante o corte, as
ferramentas com baixo teor de CBN possuem elevada estabilidade química, dificultando o
aparecimento do mecanismo de desgaste da difusão.
Resultados diferentes foram observados para as ferramentas com alto teor de CBN.
Segundo os autores, embora as ferramentas não possuam elevada estabilidade química, a
elevada temperatura gerada quando utilizada a microgeometria com aresta arredondada é
53
facilmente dissipada pelos gradientes da ferramenta devido à maior área de contato entre peça
e ferramenta (Figura 16). Deste modo, a difusão não é intensa nas ferramentas com
microgeometria arredondada comparada a microgeometria com chanfro, e a vida da
ferramenta é prolongada. A discussão detalhada sobre os mecanismos de desgaste nas
ferramentas será realizada no item 2.4.4.
Zhou et al. (2003) realizaram um estudo na usinagem do aço similar ao AISI 52100
(classe B) com 60 a 62 HRC utilizando ferramentas de baixo teor de CBN e com diversos
ângulos do chanfro de proteção da aresta de corte (γ - 0º, -10º, -15º, -20º e -30º). Os resultados
estão mostrados na Figura 17.
Figura 17 – Influência do ângulo de saída nas componentes da força de usinagem e na vida das ferramentas de
PcBN. Adaptado de Zhou et al. (2003).
melhor relação entre força de usinagem e vida da ferramenta foi encontrada com o ângulo de
saída de (γ) = -20º.
Este item mostrará os principais mecanismos de desgaste atuantes nas ferramentas com
alto e baixo teor de CBN. A discussão entre material da ferramenta e condições de corte será
realizada de forma unificada, pois, principalmente em função da temperatura gerada no
processo, o tipo de corte proporciona a atuação de diferentes mecanismos de desgaste nos
distintos materiais de ferramentas.
Figura 18 – Imagens de M.E.V. das ferramentas de PcBN na usinagem do aço AISI 4340 e esquema da mínima
espessura do cavaco. Adaptado de Diniz e Oliveira (2008).
Nas pesquisas descritas, o principal mecanismo de desgaste observado nas arestas das
ferramentas de usinagem foi a abrasão. Microlascamentos foram observados somente na
usinagem de superfícies interrompidas, evidenciando que as ferramentas de PcBN e todo o
sistema máquina-ferramenta utilizado nas pesquisas mencionadas possuem rigidez adequada.
No entanto, a fração volumétrica de carbonetos nos aços-ferramenta (classe C) é
relativamente baixa quando comparada aos ferros fundidos brancos e às ligas de Fe-Cr-C
(classe D) depositadas pelo processo de soldagem em material base.
Conforme mostrado na Figura 19, o principal resultado encontrado por Poulachon et al.
(2004) está relacionado à morfologia do desgaste abrasivo da ferramenta de PcBN na
usinagem do aço AISI D2 (Classe C).
Figura 19 – a) Morfologia do desgaste de flanco da ferramenta de PcBN na usinagem do aço AISI D2; b)
micrografia do aço AISI D2. Adaptado de Poulachon et al. (2004).
59
Figura 20 – Morfologia do desgaste de flanco da ferramenta de PcBN após o torneamento do aço AISI D2 com
62 HRC de dureza. Adaptado de Arsecularatne et al. (2006).
60
Assim como descrito por Poulachon et al. (2004), Arsecularatne et al. (2006) descrevem
que a principal característica na morfologia do desgaste de flanco apresentada na Figura 20
são os sulcos (canais) com grande espessura (até 40 µm). No entanto, a fonte para o
surgimento destes canais na morfologia do desgaste de flanco difere do primeiro trabalho
discutido. Para este trabalho, os autores sugerem que os maiores sulcos no desgaste de flanco
das ferramentas foram ocasionados por partículas de CBN dissociados da ferramenta devido à
dissolução química do material aglomerante.
Um estudo similar foi realizado por Katuku, Koursaris e Sigalas (2010), mas o material
usinado foi o ADI (ferro fundido nodular austemperado) em um intervalo de velocidade de
corte (vc) = 50 a 800 m/min. Os autores também utilizaram ferramentas com baixo teor de
CBN. Os resultados demonstram que a abrasão e adesão foram os principais mecanismos de
desgaste em velocidades de corte inferiores a 150 m/min. Em velocidades de corte superiores
61
Um aspecto interessante a ser observado nos resultados de Yallese et al. (2009) e por
Katuku, Koursaris e Sigalas (2010), é que mesmo utilizando ferramentas com baixo teor de
CBN, as quais possuem elevada estabilidade química devido à adição da fase cerâmica
(57%CBN + 35 Ti(C,N)), constata-se a presença do mecanismo de desgaste da difusão em um
patamar de velocidades de corte superiores a 150 m/min.
Figura 21 – Morfologia do cavaco de acordo com a dureza e velocidade de corte. Adaptado de Poulachon,
Moisan e Jawahir (2001).
Figura 22 – Morfologias dos cavacos obtidas em velocidades de corte convencionais e altas. Adaptado de
Dolinsek, Ekinovic e Kopac (2004).
Figura 24 – Cavaco segmentado gerado na usinagem de material endurecido depositado por solda. Adaptado
de Ren et al. (2001).
Poulachon et al. (2003) relataram que em materiais com elevada fração volumétrica de
carbonetos na microestrutura, a frequência de formação lamelar dos cavacos pode ser
irregular devido às diferentes posições de nucleação e propagação das trincas para a formação
do cavaco segmentado. Também descreveram que com o desgaste da aresta de corte, o
formato do cavaco se altera mais precisamente em função do ângulo de saída dos cavacos.
Esta seção mostrou que cavacos contínuos e segmentados podem ser formados no
torneamento de materiais endurecidos. A transição da morfologia do cavaco de contínuo para
segmentado é principalmente afetada pela dureza do material usinado, pela velocidade de
corte e pela interação entre estes dois fatores. Além disso, no torneamento de materiais
correspondentes à classe D existe uma tendência na formação de cavacos segmentados.
2.5.1. Rugosidade
A rugosidade da superfície usinada pode ser utilizada como parâmetro de saída para
controlar um processo de usinagem, a qual também é um importante indicador da integridade
da ferramenta. Segundo Penalva et al. (2002) os parâmetros de rugosidade Ra e Rsk são os
mais adequados para realizar esta avaliação em operações de torneamento. Rech e Moisan
(2003) e Thiele e Melkote (1999) relataram que o parâmetro de rugosidade Ra não é sensível
às características isoladas do perfil da superfície, como o fluxo lateral do material. Por isso, os
autores indicaram a utilização de dois tipos de parâmetros, o Ra para indicar a média da
rugosidade, justificada sua funcionabilidade, e o Rz para indicar os danos nas arestas corte e
as falhas na superfície usinada. No entanto, Whitehouse (2003) descreve que a avaliação da
rugosidade em uma superfície pode ser realizada através de diversos parâmetros, dentre eles:
a. Parâmetros de amplitude: determinados por alturas dos picos, profundidade dos vales,
ou por ambos, sem considerar o espaçamento entre as irregularidades ao longo da
superfície. Exemplo: Rpk, Rq, Rz, Rv, Rp, Ra (Ra – amplitude média do perfil).
nas normas NBR 8404:1984 e ISO 1302:2002 e serve para realizar um comparativo entre as
rugosidades das superfícies.
Figura 27 – Topografia da de superfcície: a) superfície gerada por torneamento duro e b) superfície gerada por
retificação. Adaptado de Waikar e Guo (2008).
Este item aborda que apesar de as superfícies usinadas por torneamento duro e
retificação serem capazes de atingir os mesmos níveis de rugosidade (geralmente N5 e N6), as
topografias geradas por estas operações são distintas, promovendo diferentes comportamentos
físicos da superfície usinada. As principais vantagens das superfícies torneadas em relação às
retificadas são: topografia da superfície usinada menos propensa a nucleação e a propagação
de trincas e melhores propriedades para retenção de lubrificantes.
71
Yallese et al. (2009) no torneamento do aço AISI 52100 com 60 HRC (classe B) e
Yallese et al. (2004) no torneamento do aço AISI D3 (classe C) com 60 HRC observaram
fenômenos similares aos descritos anteriormente. Entretanto, nestas pesquisas os autores
utilizaram um intervalo de profundidade de corte de (ap) = 0,2 – 1,0 mm, e observaram um
72
Comparando os trabalhos realizados por Yallese et al. (2009) e por Yallese et al.
(2004), verifica-se a mesma tendência nos resultados referente à rugosidade da superfície
usinada em materiais da classe B (aço AISI 52100) e C (aço AISI D3), principalmente em
relação ao parâmetro Ra, o qual se manteve no limite superior da classe N5 e inferior da
classe N6, para o mesmo raio de ponta (rε) e avanço (ƒ) utilizado. Por outro lado, no
torneamento de materiais das classes C e D (elevada fração volumetria de carbonetos) os
parâmetros de rugosidade Rz e Rt podem ser influenciados por falhas na superfície usinada
promovidas pelos carbonetos da microestrutura do material.
No torneamento do aço AISI 5140 (60 HRC) utilizando ferramentas de cerâmica mista
(71%Al2O3 e 21%TiC) com raio de ponta (rε) = 0,8 mm, Grzesik (2008b) observou que nos
primeiros minutos de usinagem, devido à cinemática da processo, a topografia da superfície
usinada foi similar à superfície teórica gerada pelo torneamento. Com a evolução do desgaste
na aresta de corte, o autor observou que a superfície usinada é a reprodução do perfil de
desgaste de entalhe (VBC) e de flanco (VBN) da aresta de corte. Enquanto o VBC causa um
pico na topografia da superfície usinada, o VBN causa um pico intermediário adjacente ao
pico ocasionado pelo VBC. A topografia da superfície descrita está apresentada na Figura 28.
Figura 28 – Influência do tipo de desgaste da ferramenta na superfície usinada. Adaptado de Grzesik (2008b).
Pavel et al. (2005) observaram diferentes topografias nas superfícies usinadas no corte
contínuo e interrompido. O corte contínuo foi realizado no aço AISI 1117 (classe A) com 62
HRC utilizando ferramentas de baixo teor de CBN. A progressão das topografias geradas
durante o corte contínuo está mostrada na Figura 29.
Para o corte interrompido, os autores utilizaram o aço AISI 1137 (classe A) com 48
HRC. No corte interrompido, quando a aresta de corte é nova ocorre o mesmo efeito que o
corte contínuo na topografia da superfície usinada. No entanto, o tipo de corte promoveu
microlascamentos nas arestas de corte, influenciando a topografia da superfície usinada. A
topografia da superfície usinada em corte interrompido está mostrada na Figura 30.
Pavel et al. (2005) também relatam que apesar dos menores valores de rugosidade, o
corte interrompido promoveu a formação de rebarbas na superfície usinada. Apesar de não
esclarecer o motivo deste fenômeno, sugere-se que a formação das rebarbas está relacionada à
modificação da geometria da aresta de corte em função dos microlascamentos.
Figura 31 – Redução dos valores de rugosidade no corte interrompido. Adaptado de Ko e Kim (2001).
Os resultados mostram que até o comprimento de corte de 8,8 km (VBB) = 0,05 mm), o
parâmetro de rugosidade Ra aumenta de aproximadamente 0,5 µm para 0,7 µm. Após este
valor, a rugosidade Ra da superfície diminui para aproximadamente Ra = 0,5 µm,
independente da profundidade de corte (ap) utilizada. Apesar da oscilação nos valores de
rugosidade, esta se manteve na classe N6 (KO e KIM, 2001).
Como já discutido, quando a aresta de corte está nova, o perfil da superfície gerada tem
a forma geométrica que obedece a superfície teórica do torneamento (Figura 27a). Contudo,
em operações de acabamento este padrão é rapidamente alterado, devido à pequena espessura
do cavaco na superfície secundária de corte. Nesta região da aresta de corte, a ferramenta é
incapaz de cisalhar o cavaco em função da restrita espessura, e o material é deformado para a
superfície de folga da ferramenta gerando o fluxo lateral do cavaco (RECH e MOISAN, 2003;
PENALVA et al. 2002).
Machado et al. (2009) definem o fluxo lateral do cavaco como um fator relacionado à
ação da aresta de corte, no qual partes do material à frente desta são comprimidas pela
superfície de folga. Uma porção deste material se recupera elasticamente e outra porção sofre
deformação plástica em uma direção perpendicular ao movimento da ferramenta sem, no
entanto, se separar da peça. A Figura 32 exemplifica o mecanismo do fluxo lateral do cavaco.
Figura 32 – a) Efeito do fluxo lateral de cavaco na superfície usinada e b) mecanismo do fluxo lateral do
cavaco. Adaptado de Kishaway e Elbestawi (1999).
78
melhor resistência aos choques térmicos devido à elevada condutividade térmica das
ferramentas com baixo teor de CBN.
Figura 33 – a) Formação da camada branca, adaptado de Chou e Song (2004) e b) formação de trincas na
camada branca,.adaptado de Smith (2008).
Figura 34 – Deformação plástica na camada abaixo da superfície usinada. Adaptado de Javidi, Rieger e
Eichlseder (2008).
3.1. INTRODUÇÃO
3.2. MÁQUINA-FERRAMENTA
Segundo Sandvik (2009), a classe da ferramenta com baixo teor de CBN (classe
Sandvik Coromant CB7025) possui uma fase cerâmica como ligante, que neste trabalho será
denominada de CBN 7025. A ferramenta com alto teor de CBN (classe Sandvik Coromant
CB7050) será denominada de CBN 7050.
A decisão de utilizar somente ferramentas de PcBN neste trabalho foi baseada nas
informações descritas no item 2.4.3.1, no qual, diversos autores demonstraram o desempenho
superior das ferramentas de PcBN em relação às ferramentas cerâmicas, principalmente em
materiais com alta fração volumétrica de carbonetos na microestrutura.
Por outro lado, a decisão de utilizar diferentes classes de ferramentas de PcBN está
baseada nos estudos realizados por Diniz e Oliveira (2008) na usinagem do aço AISI 4340,
por Chou, Evans e Barash (2002) na usinagem do aço AISI 52100, e por Chou e Evans (1999)
na usinagem do aço AISI M50. Esta abordagem está relacionada ao comportamento distinto
das classes de PcBN (alto e baixo teor) na usinagem de diferentes ligas de aços endurecidos,
principalmente do ponto de vista dos mecanismos de desgaste.
85
Realizou-se análise de microdureza nos corpos-de-prova pelo ensaio Vickers (HV 0,1),
utilizando um microdurômetro Leitz Wetzlar Germany modelo 6833. Foram realizadas 40
indentações no corpo-de-prova conforme a norma ABNT NBR 6507-1. Destas, 20
indentações foram realizadas nos carbonetos e outras 20 na matriz do material. Os resultados
foram os seguintes: dureza média de 1329 HV e desvio padrão de 113 HV para os carbonetos,
e para a matriz dureza de 492 HV com desvio padrão de 17 HV. Realizando o teste de
89
Figura 41 – a) esquema de crescimento do composto eutético das ligas de ferro fundido branco de alto cromo,
adaptado de Laird, Gundlach e Rohrig (2000). b) micrografia do ferro fundido branco alto cromo utilizada no
trabalho.
As imagens de microscopia óptica não permitem uma clara definição dos componentes
da matriz do material usinado. Deste modo, conforme mostrado na Figura 42, realizaram-se
análises da microestrutura do ferro fundido branco de alto cromo com o auxílio de um
microscópio eletrônico de varredura (MEV) da marca Jeol – modelo JSM 6360.
A Figura 42a mostra a micrografia do ferro fundido branco utilizados nos experimentos,
na qual a parte mais escura representa os carbonetos de cromo do tipo M7C3. Já a Figura 42b
mostra em detalhes a matriz do ferro fundido branco utilizado nesta pesquisa, a qual é
composta por uma matriz perlítica extremamente refinada (colônia de perlita – detalhe Figura
42b), formada por lamelas justapostas de ferrita (constituinte escuro) e cementita.
No início da vida das ferramentas (primeiro ciclo de cada condição dos experimentos),
foram recolhidas amostras dos cavacos com o objetivo de caracterizar as diferenças
microestruturais e a morfologia de formação em função das condições de usinagem. Os
cavacos foram embutidos, lixados, polidos e atacados com a solução de com Nital a 3%, por
aproximadamente 7 segundos. Após a preparação, as amostras também foram fotografadas em
um microscópio Óptico Olympus modelo BY51, equipado com uma câmera digital acoplada
(modelo LC Color da marca Evolution), e analisadas utilizando o software Image Pro-Plus.
Whitehouse (2003) descreve que a avaliação da rugosidade em uma superfície pode ser
realizada por meio de diversos parâmetros. No entanto, para a avaliação de superfícies
torneadas, Rech e Moisan (2003) e Thiele e Melkote (1999) sugerem utilizar um parâmetro de
rugosidade que represente a amplitude média do perfil da rugosidade (Ra) em conjunto com
um parâmetro que detecte características isoladas da superfície usinada, como o Rz. A
avaliação da superfície usinada foi realizada por meio dos parâmetros Ra e Rz.
Parâmetro Valor
Velocidade de corte (vc) 200 m/min
Profundidade de corte (ap) 0,15 mm
Avanço por volta (ƒ) 0,08 mm
A velocidade de corte de (vc) = 200 m/min foi determinada em função da vida das
ferramentas de PcBN no torneamento de materiais das classes C e D. Como exemplo, Yallese
et al. (2004) no torneamento do aço AISI D3 (classe C) constataram uma vida de 30 minutos
para uma velocidade de corte (vc) = 120 m/min. A (vc) = 200 m/min torna a condição de
usinagem mais severa comparada aos patamares de velocidade de corte comumente utilizados
no torneamento de materiais das classes C e D (ver Tabela 6). Este valor de velocidade de
corte também foi estipulado para incentivar o surgimento de diferentes mecanismos de
desgaste nas arestas de corte, como abrasão e difusão. A base para a escolha da (vc) = 200
m/min foi descrita por Yallese et al. (2009) no torneamento com ferramentas de PcBN do aço
AISI E52100, no qual observou-se o mecanismo de desgaste da difusão somente utilizando
valores de velocidade de corte (vc) superiores a 180 m/min. Ainda, Katuku, Koursaris e
Sigalas (2010), no torneamento do ferro fundido nodular austemperado, observaram o
95
Antes do início do ensaio, a superfície a ser usinada foi preparada com uma ferramenta
de corte de PcBN (aresta de corte dedicada para a operação). O objetivo desta preparação era
tornar uma superfície de referência para minimizar o batimento radial do corpo-de-prova após
a fixação. Após a criação da superfície de referência, a ferramenta utilizada na regularização
da superfície era substituída e se iniciava o experimento.
Figura 46 – Vida das ferramentas de PcBN em função do tipo de corte e classe de ferramenta.
preparação utilizada nos experimentos, possuem rigidez suficiente para realizar operações de
acabamento em ferro fundido branco com alto teor de cromo.
Evans (1999) foi de (vc) = 240 m/min e o limite de vida das ferramentas foi de VBB = 0,5
mm.
Com uma análise mais detalhada da Figura 46, verifica-se que tanto a condição de
usinagem como o teor de CBN possuem influência na vida das ferramentas de PcBN. A
Figura 47 relaciona a interação das variáveis utilizadas.
Figura 47 – Interação dos fatores condição de usinagem e ferramenta de PcBN, para a vida da ferramenta
[min].
Os resultados apresentados para as classes de baixo teor de CBN (CBN 7025) no corte
contínuo e interrompido foram diferentes dos apresentados por Diniz e Oliveira (2008) e por
Oliveira, Diniz e Ursolino (2009) no torneamento do aço AISI 4340 com 56 HRC. Nas
referidas pesquisas, os autores observaram que, no corte interrompido, a classe de baixo teor
99
de CBN demosntra melhor desempenho comparado ao corte contínuo (estes resultados podem
ser visualizados na Figura 10). Esta comparação indica que o material usinado influencia no
desempenho das classes de baixo teor de CBN nas condições de corte contínuo e
interrompido. Uma hipótese para explicar estes diferentes resultados está relacionada à
atuação dos mecanismos de desgaste nas arestas de corte em função da condição de usinagem.
A discussão detalhada sobre os mecanismos de desgaste atuantes nas arestas de corte será
realizada com profundidade no item 4.2.
Nesta pesquisa, a classe de baixo teor de CBN (CBN 7025) demonstrou melhor
desempenho no corte contínuo comparado ao corte interrompido. Segundo Grzesik (2008a), a
adição da fase cerâmica na classe de baixo teor de CBN promove a redução da condutividade
térmica de 100 W/m-1 K-1 (alto teor de CBN – CBN 7050) para 44 W/m-1 K-1 (baixo teor de
CBN – CBN 7025). Deste modo, pressupõe-se que uma maior parcela da carga térmica seja
direcionada para o cavaco e para a peça, contribuindo para a ferramenta de baixo teor de CBN
(CBN 7025) suportar com maior eficiência a elevada temperatura e as condições tribológicas
impostas no corte contínuo do ferro fundido branco de alto cromo.
A adição da fase cerâmica na classe CBN 7025 (baixo teor de CBN) promove melhores
resultados em corte contínuo devido à elevada estabilidade química e à menor condutividade
térmica. Contudo, a presença da fase cerâmica reduz a dureza e a tenacidade das ferramentas
de PcBN (Tabela 5), as quais são propriedades fundamentais no torneamento de superfícies
interrompidas. Deste modo, uma hipótese para explicar a drástica redução da vida da
ferramenta da classe de baixo teor de CBN no corte interrompido está relacionada a sua
menor tenacidade e ao surgimento de microlascamentos. Esses microlascamentos podem ter
sido encobertos parcialmente pelo desgaste abrasivo. A análise detalhada dos mecanismos de
desgaste será realizada no item 4.2.
Diferentemente do ocorrido com a classe de baixo teor de CBN (CBN 7025), para a
classe de alto teor de CBN (CBN 7050) a alteração do tipo de corte de contínuo para
interrompido proporcionou um aumento na vida. No entanto, Chou e Evans (1999), no
torneamento do aço-rápido AISI M50 com 63 HRC, constataram que a mudança do corte de
contínuo para interrompido nas ferramentas com alto teor de CBN não promovem efeito
significativo na vida das ferramentas (estes resultados podem ser visualizados na Figura 11).
Smith (2008) descreve que as classes com alto teor de CBN (CBN 7050) possuem
aproximadamente 90% de partículas de CBN, e o material geralmente utilizado como
100
aglomerante é o Cobalto. Em função desta composição, as classes de alto teor de CBN (CBN
7050) possuem elevados valores de condutividade térmica e maior afinidade química com o
material usinado comparada às classes com baixo teor de CBN (CBN 7025) (Tabela 5). Deste
modo, teoricamente, a classe com alto teor de CBN não proporciona condições favoráveis
para a aplicação no torneamento em corte contínuo devido à elevada temperatura gerada na
interface cavaco-ferramenta. Então, assim como descrito por Arsecularatne et al. (2006), que
a elevada temperatura e a afinidade química do material usinado com os elementos da classe
CBN 7050 incentivaram a dissociação do material aglomerante das partículas de CBN,
facilitando a atuação do mecanismo de desgaste da abrasão, causando a menor vida dentre as
condições testadas da ferramenta CBN 7050 em corte contínuo.
Como descrito anteriormente, a classe de alto teor de CBN (CBN 7050) não possui uma
fase cerâmica. A ausência desta fase proporciona maior dureza e tenacidade quando
comparadas à classe CBN 7025. As propriedades de dureza e de tenacidade das ferramentas
CBN 7050 foram fatores preponderantes para o incremento na vida destas ferramentas no
corte interrompido. Sugere-se, ainda, que a manutenção da elevada temperatura na interface
cavaco-ferramenta no corte interrompido fica dificultada, reduzindo a atuação dos
mecanismos de desgaste termicamente ativados nas arestas das ferramentas da classe de alto
teor de CBN.
Os resultados apresentados nesta seção mostraram que a classe CBN 7025 (baixo teor
de CBN) promovem os melhores desempenhos no torneamento do ferro fundido branco no
corte contínuo. Por outro lado, no corte interrompido, ambas as classes de PcBN promoveram
resultados similares. O comportamento das diferentes classes de ferramentas de PcBN foi
atribuído principalmente à condutividade térmica, à estabilidade química e à dureza. Estes
comportamentos serão explicados de forma detalhada no item 4.2. com a análise dos
mecanismos de desgaste nas arestas de corte .
Pressupõe-se que os resultados encontrados neste item podem ser aplicados a materiais
com características microestruturais similares, principalmente aos que possuem elevada
presença de partículas duras na microestrutura, dentre eles: ligas de ferros fundidos, aços-
ferramenta, aços-rápidos etc.
101
A Figura 48 mostra a aresta de corte da ferramenta da classe alto teor de CBN (CBN
7050) utilizada em corte contínuo. A Figura 48a mostra a superfície de folga e a Figura 48b
mostra a superfície de saída.
102
Na Figura 48a, é possível observar que o desgaste de flanco, tipicamente abrasivo, está
distribuído regularmente ao longo da região de contato da superfície de folga. Também é
possível notar que o desgaste de flanco não apresenta maior valor na região da aresta
secundária de corte, denominado como VBC. Maiores valores de desgaste na região da aresta
secundária de corte foram identificados por Diniz e Oliveira (2008) no torneamento em corte
contínuo e interrompido do aço AISI 4340 com 56 HRC e por Grzesik (2008b) no
torneamento do aço AISI 5140 com 60 HRC. Ambos os autores atribuíram o desgaste VBC à
restrita espessura de cavaco na região secundária de corte, ocasionando fluxo lateral de
material e aumento da pressão específica de corte no local (explicação detalhada na Figura
18). Uma explicação para diferente topografia do desgaste de flanco desta pesquisa em
relação às mencionadas anteriormente está relacionada à microestrutura do material. A
microestrutura do ferro fundido branco alto cromo é heterogênea e constituída principalmente
por uma matriz perlítica com grandes carbonetos de cromo (maiores do que 150 m)
103
ancorados na matriz, o que promove uma estrutura muito rígida. No caso dos aços utilizados
por Diniz e Oliveira (2008) e Grzesik (2008b), as microestruturas são homogêneas (martensita
revenida) e susceptíveis às deformações em elevadas temperaturas promovidas pelo
cisalhamento. A rígida estrutura do ferro fundido branco (ver Figura 41) dificulta o fluxo
lateral de cavaco na região da aresta secundária de corte, principalmente pela presença dos
carbonetos. Isto promove um mecanismo de desgaste abrasivo regular em toda a aresta de
corte, conforme pode ser visto na Figura 48.
Figura 49 – Topografia do desgaste na aresta de corte da ferramenta CBN 7050 em corte contínuo.
Ainda nas Figura 48a e 49, é possível observar que o desgaste de cratera tornou-se uma
cavidade mais profunda que o nível da preparação (microgeometria) da aresta de corte,
105
tornando-se menos rígida. Mesmo com a redução de resistência da aresta pela alteração da
geometria, não foram observadas quebras ou microlascamentos. Sugere-se que este
desempenho da ferramenta CBN 7050 é principalmente atribuído à rigidez do sistema de
usinagem e à elevada tenacidade da classe de elevado teor de CBN (CBN 7050), conforme as
propriedades mostradas na Tabela 5.
Conforme também mostrado na Tabela 5, a classe de alto teor de CBN (CBN 7050) se
distingue das demais pelo elevado valor de condutividade térmica. Esta propriedade aliada ao
corte contínuo que, conforme relatado por Diniz e Oliveira (2008), promove elevada
temperatura na interface cavaco-ferramenta, acarreta condições favoráveis para o surgimento
do mecanismo de desgaste da difusão. Além disso, para o surgimento deste mecanismo de
desgaste é necessária a utilização de elevados valores de velocidade e de corte (para atingir
elevadas temperaturas na interface cavaco-ferramenta). Yallese et al. (2009), no torneamento
com ferramentas de PcBN do aço AISI E52100, observaram o mecanismo de desgaste da
difusão somente utilizando valores de velocidade de corte (vc) superiores a 180 m/min,
enquanto que Katuku, Koursaris e Sigalas (2010), na usinagem do ferro fundido nodular
austemperado, observaram o mecanismo de desgaste da difusão utilizando velocidades de
corte (vc) superiores a 150 m/min. Apesar de ser utilizada nesta pesquisa uma velocidade de
corte (vc) = 200 m/min, os resultados mostrados na Figura 49 não apresentam indícios do
mecanismo de desgaste da difusão. Desta forma, esta pesquisa evidencia que não é só a classe
da ferramenta (alto teor de CBN) e o patamar de velocidade de corte que influenciam no
mecanismo de desgaste da difusão. A microestrutura do material usinado também é um fator
de influência.
Na condição utilizando a classe de baixo teor de CBN (CBN 7025) no corte contínuo, o
principal mecanismo de desgaste identificado também foi a abrasão. A Figura 50a mostra a
superfície de folga e a Figura 50b mostra a superfície de saída.
106
As arestas de corte, tanto da classe CBN 7025 como da classe CBN 7050 utilizadas em
corte contínuo, foram fragilizadas devido à alteração da geometria da ferramenta em função
do intenso desgaste de cratera. Entretanto, a Figura 50a (classe CBN 7025) apresenta uma
aresta de corte remanescente mais aguda (menor ângulo de cunha) em comparação à aresta
mostrada na Figura 49a (classe CBN 7050). Esta condição proporciona maior fragilidade à
aresta de corte, favorecendo o surgimento de microlascamentos.
Figura 51 – Topografia do desgaste na aresta de corte da ferramenta CBN 7025 em corte contínuo.
mostrada neste item em função de uma topografia lisa. Segundo Trent e Wright (2000), a
presença da zona de aderência é uma condição necessária para ocorrer o desgaste difusivo.
Figura 52 – Topografia do desgaste na aresta de corte da ferramenta CBN 7025 em corte contínuo
evidenciando desgaste na superfície de folga da ferramenta.
Observa-se nas Figura 51a e 51b que as marcas abrasivas na superfície de folga são
maiores e mais profundas comparadas às marcas na ferramenta CBN 7050 em corte contínuo
(ver a Figura 49). Estes canais ou sulcos na superfície de folga têm uma distribuição uniforme
ao longo da aresta de corte, com distância de aproximadamente 60 µm de comprimento (ver a
Figura 52d). O surgimento desta topografia de superfície está relacionado ao mecanismo de
desgaste da abrasão. Uma hipótese para explicar a formação dos sulcos é a contribuição dos
carbonetos fortemente ancorados na microestrutura do material usinado. Como estes
carbonetos são relativamente grandes (maiores que 100 µm em seção transversal da célula
eutética), podem, simultaneamente, entrar em contato com a superfície de folga da ferramenta
110
corte contínuo deve promover maiores valores de rugosidade. A avaliação dos valores de
rugosidade será realizada no item 4.4.1.
Para as ferramentas da classe de baixo teor de CBN (CBN 7025) no corte contínuo não
foram observados os mecanismos de desgaste da difusão e da adesão. Nesta condição, o único
mecanismo de desgaste observado nas arestas de corte foi a abrasão. Contudo, para esta classe
de ferramenta também foram observadas avarias na forma de microlascamentos nas arestas de
corte.
Figura 54 – Topografia do desgaste na aresta de corte da ferramenta CBN 7050 em corte interrompido.
Figura 55 – Análise EDS da ferramenta CBN 7050 em corte interrompido na segunda réplica dos experimentos.
Figura 56 – Análise EDS da ferramenta CBN 7050 em corte interrompido na terceira réplica dos experimentos.
Na ferramenta da classe de alto teor de CBN (CBN 7050) utilizada no corte contínuo, o
principal mecanismo de desgaste foi a abrasão. Neste caso, também notou-se a presença de
adesão de material usinado principalmente na aresta secundária de corte. Apesar dos cíclicos
choques térmicos e mecânicos promovidos pelo corte interrompido, não foram observadas
quebras ou microlascamentos nas arestas de corte.
Figura 58 – Topografia do desgaste na aresta de corte da ferramenta CBN 7025 em corte interrompido.
A aresta de corte remanescente da classe de baixo teor de CBN (CBN 7025) empregada
no corte interrompido possuiu um aspecto arredondado (maior ângulo de cunha) (Figura 59b),
diferente das demais três condições, que apresentam uma aresta de corte mais aguda, ou seja,
com menor ângulo de cunha (Figura 59a). A aresta de corte arredondada torna a ferramenta
mais robusta contra a propagação de longas trincas, impedindo o aparecimento de
microlascamentos, conforme o observado na Figura 51 e Figura 59a. Outro ponto que
favorece o aparecimento de microlascamentos nas arestas de corte da classe de baixo teor de
CBN (CBN 7025) é que estas ferramentas possuem menores valores de tenacidade quando
comparadas às ferramentas da classe de alto teor de CBN (CBN 7050).
Esta seção apresentará basicamente um resumo das quatro seções anteriores, com o
objetivo de facilitar a compreensão das diferenças nos mecanismos de desgastes atuantes nas
classes de ferramentas CBN 7025 (baixo teor de CBN) e CBN 7050 (alto teor de CBN) no
corte contínuo e interrompido na usinagem do ferro fundido branco de alto cromo. A Figura
60 apresenta a morfologia dos desgastes das ferramentas nas quatro condições analisadas.
118
Figura 60 – Morfologia e mecanismos de desgaste atuantes nas ferramentas de PcBN no torneamento do ferro
fundido branco de alto cromo.
Tabela 11 – Desempenho das ferramentas de PcBN no torneamento do ferro fundido branco de alto cromo.
Com base nos fenômenos tribológicos visualizados nas arestas de corte das ferramentas
de PcBN utilizadas no torneamento ferro fundido branco de alto cromo, fazem-se seguintes
considerações correlacionando a vida da ferramenta com os mecanismos de degaste
identificados:
a) Do ponto de vista de vida das ferramentas, esta pode ser melhorada com uma atuação
menos agressiva dos mecanismos de desgaste na aresta de corte. Para as condições adotadas
nesta pesquisa, pode-se aumentar a vida das ferramentas utilizando uma velocidade de corte
menor que (vc) 200 m/min. Com isso, a temperatura de usinagem não atingirá o mesmo
patamar, consequentemente a ferramenta perderá menos resistência em função do efeito
térmico, reduzindo a ação dos mecanismos de desgaste;
b) Do ponto de vista da classe da ferramenta, observa-se que a classe com alto teor de
CBN possui maior tenacidade (ver Tabela 5), na qual não foram observados
microlascamentos nas arestas de corte. Desta forma, com o objetivo de evitar
microlascamentos, a classe com alto teor de CBN (CBN 7050) é a melhor opção, tanto para o
corte contínuo, como para o corte interrompido;
Apesar da elevada fragilidade do ferro fundido branco, a morfologia dos cavacos foi
similar à morfologia de cavacos dos aços endurecidos. No torneamento de aços endurecidos
(dureza > 45 HRC) em operações de acabamento, utilizando ferramentas de cerâmica e PcBN,
é comum identificar a formação dos cavacos segmentados. No entanto, na usinagem de ferros
fundidos cinzentos, por exemplo, ocorre a formação de cavacos descontínuos. Katuku,
Koursaris e Sigalas (2009) observaram cavacos contínuos e segmentados (Figura 23) na
usinagem do ferro fundido nodular austemperado. Os autores relatam que a transição da
morfologia dos cavacos de contínuos para segmentados está relacionada ao incremento nos
valores de velocidade de corte.
Pode ser observado nas morfologias dos cavacos apresentados na Figura 61, que a
frequência de formação das lamelas nos cavacos foi irregular. Sugere-se, assim como relatado
por Poulachon et al. (2003), que este fenômeno ocorreu devido à heterogeneidade
microestrutural do material usinado, a qual promoveu a nucleação e a propagação das trincas
no plano de cisalhamento em diferentes posições (diferentes frequências) durante a formação
do cavaco segmentado.
123
Além da hipótese sugerida no parágrafo anterior, segundo Shaw (2005) e Trent e Wright
(2000), a frequência irregular de formação das lamelas também pode estar associada à
presença do cisalhamento termoplástico catastrófico, também conhecido por cisalhamento
adiabático. Com a presença deste fenômeno, associado à heterogeneidade microestrutural do
material usinado, a rotação da lamela do cavaco em relação ao eixo do plano de cisalhamento
(região entre lamelas com elevada taxa de deformação) pode ocorrer em diferentes ângulos,
promovendo a irregularidade na frequência de formação lamelar observada na Figura 61.
Pressupõe-se que na formação dos cavacos segmentados mostrados na Figura 61 ocorreu a
combinação dos dois fenômenos descritos.
A região do cavaco que fica em contato com a superfície de saída da ferramenta (região
inferior da Figura 61) apresenta maior tendência às alterações metalúrgicas devido aos
gradientes de temperatura a partir da interface cavaco-ferramenta. A alteração metalúrgica no
cavaco indica que o mesmo fenômeno pode ocorrer na superfície usinada. Em todos os
cavacos observados em que o torneamento foi realizado com a ferramenta da classe CBN
7025 no corte contínuo, existem indícios de alteração de fase na zona de fluxo do cavaco,
conforme mostrado na Figura 61a. A ferramenta da classe de baixo teor de CBN (CBN 7025)
possui uma fase cerâmica que promove à ferramenta menor condutividade térmica comparada
à ferramenta da classe de alto teor de CBN (CBN 7050). Desta forma, o cavaco e a peça
tendem a absorver maior porção do calor gerado na interface cavaco-ferramenta durante o
corte, favorecendo as alterações metalúrgicas. Já a ferramenta da classe CBN 7050 possui
maior condutividade térmica, e deste modo a ferramenta tende a absorver maior quantidade de
calor comparada à ferramenta da classe CBN 7025, dificultando a alteração de fase na região
de contato do cavaco com a superfície de saída da ferramenta.
A Figura 61h também indica que ocorreram alterações metalúrgicas na área do cavaco
que ficou em contato com a superfície de saída da ferramenta. Contudo, as alterações
observadas possuíram menor intensidade comparadas à Figura 61a. É importante ressaltar que
a Figura 61h mostra o cavaco formado na condição de corte interrompido, na qual a
manutenção da elevada temperatura na interface-cavaco ferramenta fica dificultada.
Figura 63 – Cavaco formando na usinagem do ferro fundido branco de alto cromo (CBN 7050 em corte
interrompido).
Shaw (2005) descreve que os cavacos segmentados possuem regiões entre lamelas com
elevadas taxas de deformação, e regiões centrais das lamelas com baixa taxa de deformação
(ver Figura 23). Porém, todo o corpo do cavaco mostrado na Figura 63 apresenta elevadas
taxas de deformação, as quais são influenciadas diretamente pela elevada fração volumétrica
de carbonetos na microestrutura do material. Durante a formação dos cavacos, os carbonetos
são quebrados e reorganizados na matriz do material (cavaco), deixando todo o cavaco com
elevadas taxas de deformação. Este fenômeno sugere que foi necessária maior energia para
realizar o corte comparado ao clássico cavaco segmentado mostrado na Figura 23.
A quebra dos carbonetos nos cavacos sugere que o mesmo fenômeno pode ocorrer na
superfície usinada, podendo alterar as propriedades da superfície como a ductilidade, a
resistência à fratura e ao desgaste. Esta pode ser uma vantagem siginificativa para a aplicação
do ferro fundido branco em novos segmentos. A análise da superfície usinada será realizada
no item 4.4.
126
4.4.1. Rugosidade
Figura 64 – Análise da rugosidade pelo parâmetro Ra [µm] no início da vida das ferramentas: a) probabilidade
normal dos efeitos; b) interações no planejamento fatorial.
Os resultados mostrados na Figura 64 são esperados, pois, conforme descrito por Javidi,
Rieger e Eichlseder (2008) e por Machado et al. (2009), no início do corte as arestas ainda
não apresentaram alterações geométricas significativas. Desta forma, a rugosidade da
superfície usinada depende preponderantemente dos parâmetros de usinagem e da geometria
da ferramenta, principalmente, o avanço por volta (ƒ) e o raio de ponta da ferramenta (rε).
ferramentas. Esta análise é confirmada pela probabilidade normal dos efeitos mostrada na
Figura 64a. Na mesma Figura, é possível observar também que todas as condições de
usinagem possuem valores de rugosidade similares, entre 0,30 e 0,36 µm na escala Ra. Estes
valores indicam que todas as superfícies usinadas pertencem à classe de rugosidade N5
(conforme NBR 8404), possuindo as mesmas características de aplicação. Desta forma, todas
as condições pesquisadas promoveram, no início da vida das ferramentas, um valor de
rugosidade similar para o parâmetro Ra (WHITEHOUSE, 2003).
Figura 65 – Análise da rugosidade pelo parâmetro Rz [µm] no início da vida das ferramentas: a) probabilidade
normal dos efeitos; b) interações no planejamento fatorial.
De uma forma geral, não foram observadas diferenças significativas entre as topografias
das superfícies usinadas no início da vida das ferramentas mostradas na Figura 66, nas quais
também não é possível observar defeitos na superfície.
Segundo Grzesik (2008a), o fator que ainda limita a aplicação das ferramentas de PcBN
no ambiente industrial é seu elevado custo. Desta forma, tais ferramentas precisam ser
aplicadas até seu limite crítico de vida. Além desse fato, é pertinente ressaltar que nas
operações de acabamento em peças grandes (como cilindros de laminação confeccionados de
ferro fundido branco), um único passe no diâmetro externo destes componentes pode
consumir por completo a vida da ferramenta. Com base nas informações descritas, a avaliação
dos parâmetros de superfície ao final da vida das ferramentas torna-se imprescindível para
entender os fenômenos do processo. A Figura 67 mostra o comportamento da rugosidade Ra
ao final da vida das ferramentas.
130
Figura 67 – Análise da rugosidade pelo parâmetro Ra [µm] ao final da vida das ferramentas: a) probabilidade
normal dos efeitos; b) interações no planejamento fatorial.
que a condição de corte contínuo alterou muito mais a geometria da aresta de corte (tanto na
superfície de saída como na superfície de folga), promovendo consequências diretas nos
valores de rugosidade.
Apesar dos acentuados picos no perfil nas topografias das superfícies usinadas
apresentadas na Figura 68, os perfis da rugosidade apresentam uma simétrica e periódica
variação dos picos e dos vales, caracterizando assim um perfil de rugosidade periódico. Um
importante indicador que suporta este fenômeno é a observação do parâmetro de rugosidade
RSm que, nesta condição, apresenta-se similar ao avanço utilizado (ƒ = 80 µm).
Além da influência na formação dos picos nos perfis das rugosidades (conforme a
Figura 68), estas condições de corte podem provocar severas alterações microestruturais na
camada abaixo da superfície usinada. Estas alterações podem, ainda, ser agravadas com a
elevada temperatura gerada durante a formação do cavaco. As alterações microestruturais na
superfície usinada são abordadas no item 4.4.2.
134
Outro ponto pertinente a ser ressaltado com a análise da Figura 68 são os valores da
rugosidade no parâmetro Rt. Este parâmetro é a soma da maior altura do pico com a maior
profundidade do vale no perfil da rugosidade dentro do comprimento analisado. Conforme
Abrão e Aspinwall (1996), o parâmetro de rugosidade Rt é um importante indicador de
resistência à fadiga dos componentes.
Conforme pode ser verificado na Figura 69, alterações nas camadas subsuperficiais são
promovidas em todas as condições de torneamento pesquisadas. As Figura 69a e 69c mostram
as alterações promovidas pela ação da aresta de corte no início da vida das ferramentas, e as
Figura 69b e d mostram as alterações promovidas pela aresta de corte ao final da vida das
ferramentas.
136
Analisando a parte superior das Figura 69a e 69c, é nítida a observação na interrupção
da continuidade dos carbonetos, indicando que estes foram cisalhados. A diferença de
tamanho nos carbonetos das Figura 69a e c é devido à disposição da célula eutética na região
analisada. Na Figura 69a, a célula eutética está disposta em sentido transversal e na Figura
69c, está sendo mostrada em vista de topo (ver a Figura 6). Deste modo, não é possível
identificar diferenças significativas entre as condições de corte contínuo e interrompido para
as ferramentas da classe CBN 7025 no início da vida das ferramentas.
foram identificadas na superfície usinada com a ferramenta da classe de alto teor de CBN
(CBN 7050), conforme mostra a Figura 70.
As Figura 70a e 70c mostram as alterações promovidas pela ação da aresta de corte da
ferramenta da classe CBN 7050 (alto teor de CBN) no início da vida das ferramentas, tanto no
corte contínuo como no corte interrompido. Enquanto as Figura 70b e d mostram as alterações
nas camadas subsuperficiais promovidas pela aresta de corte da ferramenta CBN 7050 ao final
da vida das ferramentas. Analisando a Figura 70 e comparando-a com a Figura 69 verifica-se
que ocorreram os mesmos fenômenos em relação à alteração microestrutural da camada
abaixo da superfície usinada, para os dois tipos de corte como para o início e final da vida.
Com base nos resultados mostrados nas Figura 69 e 70 e comparados aos resultados
encontrados na literatura, verifica-se que as alterações microestruturas promovem uma
oportunidade de pesquisa sobre a superfície usinada do ferro fundido branco de alto cromo,
uma vez que esta pesquisa pode apresentar maiores vantagens da utilização do torneamento de
materiais com elevada fração volumétrica de carbonetos em determinadas aplicações.
provocar tal alteração já no início do corte, pode-se utilizar uma geometria de ferramenta
redonda ou alisadora. Tais geometrias de ferramentas promoveriam maior área de contato da
região secundária de corte (parte da aresta que promove elevada pressão específica de corte)
com o material usinado, favorecendo a quebra dos carbonetos pelas deformações plásticas e
elásticas originadas durante a formação do cavaco. Esta condição também pode melhorar a
rugosidade da superfície usinada, pois a região secundária de corte também é a área da aresta
com maior parcela na formação da rugosidade da superfície.
Conforme anteriormente discutido no item 4.4.1, é possível verificar que nas Figura 69a
e c e 70a e c para o início da vida das ferramentas, a superfície usinada apresenta aspecto
irregular. Tal aspecto pode estar relacionado ao cisalhamento seguido de extração dos
carbonetos da superfície usinada. No entanto, também se sugere que tal fenômeno foi
agravado durante a preparação das amostras para análise metalográfica da região afetada, pois
os carbonetos das superfícies que não estavam profundamente ancorados a matriz do material,
foram arrancados durante o processo de lixamento e polimento. É pertinente ressaltar que as
etapas de preparação do corpo-de-prova não influenciam nas análises de rugosidade.
Gundlach (1988) descreve que os ferros fundidos brancos são materiais geralmente
usinados pelo processo de retificação devido às dificuldades impostas pela dureza e elevada
presença de carbonetos na microestrutura sobre as ferramentas de usinagem com geometria de
corte definida. Tal dificuldade foi a principal motivação para o desenvolvimento desta
pesquisa. Assim, demosntrou-se que utilizando parâmetros de usinagem e rigidez adequada do
sistema de usinagem é possível atingir satisfatórios valores de vida das ferramentas. No
entanto, ainda são necessários estudos sobre a geometria de corte ideal a ser utilizada e as
alterações microestruturais na superfície usinada. É importante ressaltar que os equipamentos,
parâmetros de usinagem e os fenômenos descritos nesta pesquisa podem ser aplicados a uma
ampla gama de materiais similares, principalmente os que possuem elevada fração de
carbonetos na microestrutura.
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
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