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RBEn 29 : 56-63, 1976:

A LG l) NS ASPECTOS QUE FUN DAMENTAM A ASSIST�NCIA.


DE E N F ERMAGEM A PACIENTES EM TRAÇÁO

Terezinha Aparecida Neves *


Celina de Arruda Camargo *
Marlúcia N. Comarú *

RBEn/07

NEVES, T.A., CAMARGO, C.A. e COMARÚ M.N. - Alguns aspectos que fundamentam a
assistência de enfermagem a pacientes em tração. Rev. Bras. Enf. ; DF, 29 : 56-63, 1976:

I . INTRODUÇAO deve ocorrer quando o paciente é admi­


tido no Hospital e prosseguir durante to­
Dando prosseguimento aos aspectos do o período de internação sUjeito natu­
que englobam a assistência de enferma­ ralmente a reformulações, conforme a·
gem a pacientes com comprometimento evolução do estado do paciente.
do sistema músculo-esquelético, é nosso A elaboração do plano de atendimento>
propósito nesta oportunidade abordar a de enfermagem, deve fundamentar-se
atuação da enfermeira na assistência do nos conhecimentos de enfermagem ge-­
paciente em tração. ral e também nos conhecimentos especí­
Em Traumatologia o atendimento de ficos de traumatologia .
enfermagem objetiva participar da pro­ A determinação dos objetivos de en­
moção, manutenção e recuperação da fermagem na assistência do paciente em
saúde do indivíduo traumatizado com a tração, depende dos propósitos a serem
finalidade de torná-lo independente, alcançados, entretanto existem alguns:
tanto quanto possível, da ação e ajuda obj etivos que podem ser constantes no<
de outros. Desta forma a enfermeira du­ atendimento de pacientes com afecções
rante o tratamento deve elaborar, par­ traumatológicas, tais como:
ticipar de execução e supervisionar o 1 . ajudar o paciente a satisfazer as
plano de assistência de enfermagem que necessidades condicionadas pela lesão e·
deve ter como obj etivo ajudar o paciente pelo tratamento a que é submetido.
a satisfazer suas necessidades e evitar 2 . evitar complicações secundárias con­
complicações secundárias. seqüentes da imobilização no leito, im-­
posta pelo próprio tratamento, tais como :
II . CÇ>NCEITUAÇAO
- diminuição da amplitude articular-
o início do programa de assistência - diminuição da força muscular

• Enfermeiras da Divisão de Reabilitação Profissional de Vergueiro - Hospital das Cli­


nicas da Faculade de Medicina da Universidade de São Paulo.
NEVES, T.A., CAMARGO, C.A. e COMARú M.N. - Alguns aspectos que fundamentam a
assistência de enfermagem a pacientes em tração. Rev. Bras. Enf.; DF, 29 : 56-63, 1976.

- instalação de deformidade A tração transesquelética é aplicada.


- problemas respiratórios diretamente sobre o osso, e se faz me­
- problemas circulatórios diante a passagem de um fio metá­
- distúrbios urológicos lico no seu segmento distal. Esta tra­
- distúrbios gastro-intestinais ção tem a vantagem de suportar uma for­
- formação de escaras. ça bastante elevada, sendo portanto fre­
Para alcançar estes objetivos, o pro­ qüentemente indicada no tratament;o.
grama de assistência de enfermagem de­ das fraturas dos membros superiores e
ve seguir par e passo o tratamento mé­ membros inferiores de pacientes adultos.
dico que no caso de imobilização por tra­ Outra vantagem da tração óssea trans­
ção, poderá ou não sofrer algumas alte­ esquelética é que esta forma de trata­
rações no decurso do tratamento. Para mento pode ser mais demorada.
assegurar o bom êxito do tratamento a Dadas as suas características, alguns
ser oferecido, acreditamos ser oportuno ortopedistas consideram a tração da pe­
lembrar alguns princípios que norteiam le como transitória e a tração óssea comI>
este tipo de tratamento. prolongada. Visto, embora de forma ge­
a) Imobilização por tração - o prin­ nérica, os princípios que fundamentam o
cipio da tração aplicada ao corpo huma­ tratamento por tração, vej amos suas im­
no pode ser entendida como uma força plicações na assistência de enfermagem.
externa e continua aplicada sobre um
segmento corporal, na tentativa de neu­ III . ASSISn:NCIA DE ENFERMAGEM
tralizar a contratibilidade muscular.
Dependendo do tipo de lesão e da re­ 1 . O paciente face ao traumatismo e­
giã o que sofreu o impacto, verificamos tratamento
no osso, desvio no seu eixo original e
conseqüente encurtamento do segmento. A maioria dos paCientes que necessi­
Isto se deve por contração de alguns gru­ tam de assistência em hospital trauma­
pos musculares que atuam isoladamente, tológico, são pessoas sadias que devido>
uma vez que se desfez o equilíbrio entre a um acidente suas atividades foram
o ponto de aplicação e o ponto de resis­ abruptamente interrompidas para dar
tência da força muscular. inicio ao tratamento que suas condições
b) Tipo de tração - para vencer a re­ físicas exigem no momento.
sistência muscular e proporcionar a imo­ Em que esta interrupção de atividade
bilização desejada, o médico ortopedista afeta o paciente? Estaria ele preparado>
muitas vezes recorre à tração. Os tipos para ausentar-se de seu lar e separar-se­
de tração mais comumente utilizados de sua família no momento? Como fica­
são: tração óssea e tração através da ram seus filhos? Seus familiares estão a
pele. par do acidente? Quem poderia assumir
A tração da pele atua indiretamente a responsabilidade de seus filhos e de sua..
sobre o osso, uma vez que é aplicada sobre casa? Quais as informações que o pa­
a pele; é conseguida mediante a aplica­ ciente já tem, se as tem, sobre fratura?'
ção de tiras adesivas sobre a pele do seg­ O que significa para ele ficar imobilizado
mento a ser tracionado. É indicada qua­ por determinado períOdo de tempo? A.
se sempre para a redução de fraturas em resposta a estas indagações devem fazer­
crianças, e para adultos, somente quan­ parte das informações que a enfermeira
do deve permanecer por curto espaço de vai utilizar-se para planej ar a assistên­
tempo. Este tipo de tração tem algumas cia de enfermagem ao paciente. Quando
desvantagens; não suporta quantidade a enfermeira conhece a reação do pacien­
elevada de peso, e é contra-indicada na te face ao problema do traumatismo e­
presença de lesões de pele e de alergias. do tratamento por tração, é mais pro-

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vável que ela consiga sua indispensável do; a fraca sensação de dor semelhante
cooperação e ajuda durante o tratamen­ à dor causada por introdução de uma
to. Utilizando-se de sua habilidade de agulha de injeção, não sendo portanto,
comunicação a enfermeira deve procurar indicado o uso de anestésico.
inteirar-se das preocupações do pacien­ Após proceder à assepsia, o médico ne­
te, suas angústias e ansiedade, a dor fí­ cessitará do seguinte material esterili­
sica e às vezes moral, e, na medida do zado: fio de tração e o aparelho próprio
possível, procurar atendê-lo nestas ne­ para seu uso ; rolha de cortiça ; gaze;
cessidades. Na verdade, muitas vezes ele algodão ortopédiCO e atadura de crepe.
necessita mais de apoio e compreensão O estribo deve adaptar-se não somente
do que de fortes sedativos. Assim atuan­ ao fio passado mas também à região cor­
do a enfermeira estará prestando uma poral submetida ao tratamento.
assistência de enfermagem ao cliente Quando se trata de tração de espara­
que segundo Horta (5) é definida como: drapo o material utilizado é esparadrapo
"a ciência e a arte de assistir o ser hu­ largo, algodão ortopédiCO, atadura de cre­
mano (indivíduo, família e comunidade) pe, um pedaço de madeira medindo apro­
no atendimento de suas necessidades bá­ ximadamente 10 cm x 10 cm com orifício
sicas, de torná-lo independente desta as­ central e cordão de nylon.
sistência quando possível, pelo ensino do Depois do precedimento médico o pa­
autocuidado; de recuperar, manter e ciente deve ser acamado.
promover sua saúde em colaboração com
outros profissionais. Assistir, em enfer­ 3 . Transferência do paciente para o
magem, é : fazer pelo ser humano tudo leito
aquilo que ele não pode fazer por si mes­
mo; ajudar ou auxiliar quando parcial­ A primeira preocupação quando se re­
mente impossibilitado de se autocuidar, rebe um paciente com tração, é a esco­
orientá-lo ou ensiná-lo, supervisioná-lo e lha da cama; esta deve ser ortopédica
encaminhá-lo a outros profissionais. " ou adaptada com quadro balcânico, con­
tendo barras transversais e longitudinais,
2 . Passagem do fio da tração roldanas e trapézio. O estrado deve ser
firme e o colchão macio, permitindo dis­
Um paciente que de um momento pa­ tribuição uniforme do peso do corpo do
ra o outro é transportado para o hos­ paciente.
pital, nem sempre está em condições hi­ A transferência do paciente da maca
giênicas adequadas para se submeter a para a cama deve ser feita com o máxi­
um tratamento médico, seja em razão dos mo cuidado, de forma a evitar a exacer­
seus hábitos higiênicos ou das sujidades bação da dor devido à mobilização da
resultantes do próprio acidente. parte afetada, podendo vir a ocasionar
Remover as sujidades, desde que as complicações de ordem circulatória.
condições do paciente o permitem, é um Nas trações de um dos membros infe­
dos primeirOS passos para a prevenção riores e/ou de membros superiores, sim­
ou diminuição de possível contaminação. plifica-se o trabalho quando se inicia a
O preparo da pele consta de limpeza com transferência pelo lado não traumati­
água e sabão e tricotomia, se necessário, zado. O paciente, quando pode, utiliza-se
da área onde vai ser introduzido o fio de do trapézio da cama, flete o j oelho do
tração ou aplicado o adesivo. membro, não lesado, apoiando parte do
Enquanto se procede ao preparo da pe­ peso do corpo sobre a perna e o pé e, com
le deve-se explicar ao paciente : no que movimentos coordenados com o servidor
consiste a passagem do fio ou aplicação de enfermagem, " eleva o corpo e movi­
do adesivo; como é feita; o material usa- menta-se em direção ao centro da cama.

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As pessoas que o atendem nesta oca­ a enfermeira , deve aplicar seus conheci­
sião, devem ter sua atenção voltada pa­ mentos de anatomia e fisiologia do siste­
ra o foco da fratura, mantendo leve tra­ ma músculo-esquelético e os princípios de
ção na articulação distal; desta forma fisica (lei do equilíbrio e de biomecâni­
previne-se a dor, que é decorrente da ca) nos quais se fundamentam o trata­
mobilização dos fragmentos ósseos em mento por tração.
contato com as partes moles. Ao se instalar a tração deve-se consi­
Caso o paciente não tenha condições derar o conforto do paciente, a liberda­
para ajudar, duas ou mais pessoas de­ de necessária para os cuidados higiêni­
verão transferi-lo para o leito, utilizan­ cos e a manutenção da tração, confor­
do para isto lençol da maca. Os movi­ me a prescrição médica.
mentos deverão ser seguros e coordena­ Quando se faz uso de goteiras, traves­
dos . seiros ou alças de suspensão deve-se ob­
Uma vez acamado, a mesa de cabe­ servar a angulação dos mesmos para que
ceira deverá ser colocada do lado que coincidam com as articulações do pacien­
ofereça melhores condições de uso por te. A extensão dos planos inclinado e
parte do paciente. horizontal do aparelho de Brown deve
ser proporcional à extensão do membro
4 . Instalação da tração que sobre eles se apÓia.
Enquanto a tração está sendo instala­
Para um atendimento rápidO e eficien­ da, a enfermeira deve aproveitar este
te é necessário que o material a ser uti­ momento para conversar com o paciente.
lizado na instalação da tração estej a em Ele está passando por uma adaptação da
condição de uso imediato e em local de imagem corporal primitiva substituída
fácil acesso. pela imagem atual; acrescido de esta.r
num ambiente estranho, afastado de seus
Esse material varia de acordo com a
familiares, sujeito a dor e a incerteza
tração :
quanto à evolução do tratamento e ao
prognóstico. Tudo isto pode levar a al­
a) Tração de esparadrapo - material :
terações de comportamento ; portanto ne­
- lençol para apoio
cessário se faz estabelecer um meio de
- suporte de peso
comunicação que ofereça segurança ao
- peso.
paciente dando-lhe oportunidade para fa ­
b) Tração transesquelética - mate­ lar de si, do acidente, dos problemas,
rial: olvidar e portanto aliviar a preocupa­
- cordões de nylon ção.
- pesos e suporte de peso Existe um relato de experiência (4) ,
- goteiras de Brown ou Thomas cuj a autoria é de um paciente, no qual
- faixas de algodãozinho ele finaliza dizendo : "esta foi minha ex­
- esparadrapo periênCia e faço um apelo às Marias Isa­
- tesoura béis, aos Josés, aos Carlos e às Cristinas,
- algodão ortopédiCO a os "anj os brancos" que passam alguns

dias por nossa vida. Nós precisamos de


Selecionado o material a ser usado na muito calor humano, nós precisamos ser
instalação da tração a mesma deve se­ orientados, nós precisamos mais do que
. guir a prescrição médica quanto à quan­ nunca de uma verdadeira afeição e não
tidade de peso, angulação, alinhamento de um quase "mecânico." Como passou
e tipo. a noite "seu" Gilberto?
Para atuar com segurança e precisão "Precisamos sentir que há desejo imen-

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so de nos ajudar a vencer o pavor da­ fratura de membros inferiores, proclive


queles penosos momentos." como contra-tração em tração craniana,
Há vários fatore s de interação que irão ação do peso do corpo como contra-tra­
afetar a dinâmica da situação e há vá­ ção quando se usa balancim . . .
rias técnicas a serem usadas, sendo pri­ Além de mantermos o paciente em po­
mordial atingir o resultado final qual se­ sição anatômica, outras medidas devem
j a : a interação futura da enfermeira x ser tomadas para evitar modificações que
paciente oferecendo a este um ambiente podem interferir no tratamento. As prin­
de cordialidade onde o medo sej a redu­ cipais interferências são representadas
zido e a confiança aumentada . por alteração de peso e desvios de posi­
Após instalar a tração e revistos os pon­ ção. As alterações mais comumente en­
tos chaves da mesma, tais como: angu­ contradas com relação ao peso são re­
lação, trajeto do cordão, posição do mem­ presentados por: apoio do suporte sobre
bro, apoio, segurança dos pesos, a enfer­ alguma barra da cama, diminuição da
meira fará a apresentação do paciente quantidade de peso (falta de peso) , fric­
aos demais companheiros de enfermaria
ção do cordão pela presença de nós ou
e funcionários. Um ambiente assim tra­
emendas, roupas sobre o cordão de tra­
balhado oferece ao paCiente condições
ção, mal funcionamento das roldanas. Os
de acalmar a ansiedade, relaxar e con­
desvios de posição são evitados pela es­
fiar.
colha adequada da cama, colchão, loca­
lização da mesa de cabeceira e ação das
5 . Manutenção da tração
forças tracionadoras e de contra-tração.
A tração é considerada parte do trata­
mento quando atua diretamente no foco 6 . Cuidados higiênicos
de fratura e isto é conseguido manten­
do o paciente em posição anatômica. Es­ Os cuidados pessoais dispensados ao pa­
ta posição, além de interferir no trata­ ciente em tração exigem certas parti­
mento da fratura, também é causa de cularidades, para que o tratamento não
deformação ou implicação de processos sej a alterado devido à mudança de po­
invalidantes que o paCiente pode adqui­ sição.
rir por comodidade ou por informação Normalmente o paciente em tração
insuficiente sobre sua importância. tem condições de efetuar a sua higiene
Para que o paciente fique em posição e esta atuação deve ser estimulada. O
anatômica, estando ele em tração, ne­ material para higiene pode ser colocado
cessário se faz a aplicação de uma força ao seu alcance para que inicie o banho
de contra-tração que neutralize a força lavando e secando: a face, parte ante­
tracionadora. Estas forças, tracionadora rior do tórax, braços e axilas; os ante­
e de contra-tração devem ser constantes braços e as mãos devem ser emergidas
em quantidade e direção até que se efetue na bacia com água para oferecer me­
o calo ósseo. lhores condições de limpeza e conforto.
O tratamento postural deve ser aplica­ Para lavar a face posterior do tórax, o
do individual e espeCificamente a cada paCiente deve elevar-se do leito, não se
paciente, segundo seu diagnóstico, em­ deve permitir que se movimente para o
bora existam alguns procedimentos que lado, pOis estariam sendo deslocadas as
podem ser aplicados como regra geral a forças tracionadoras, o que prejudicaria
manutenção da posição anatômica do o tratamento. Para elevar-se, deve usar
corpo, exemplo: uso de coxim para a cor­ o trapéziO . Quando isto não for possivel,
teção de rotação de membro, posição de duas ou mais pessoas deverão elevá-lo,
trendélemburg como contra-tração em enquanto outra pessoa lava suas costas.
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A higiene intima deve ser feita com o A lavagem da cabeça segue a técnica
paciente sobre a comadre; esta é coloca­ utillzada para paciente acamados.
da com o auxíllo do paciente, que eleva
a bacia através da utilização do trapézio. b ) Ellminações
Teremos assim oportunidade de propor­
cionar ao paciente cuidado higiênico mais A colocação da comadre deve seguir o
satisfatório dando-lhe maior . segurança e esquema da elevação da bacia. Utillzan­
conforto, ao mesmo tempo que evitamos do-se um travesseiro como apoio na re­
que se molhe a cama, o que é muito pre­ gião dorso-lombar oferece-se mais con­
judicial para a sua pele. forto ao paciente.
Perna e pé do membro não tracio­ Quando o membro tracionado está.
nado serão emergidos na bacia com água. com goteira de Brown deve-se estar
Este aspecto do cuidado é parcialmente atento para as condições higiênicas dlilo
feito pelo paciente, pois dificilmente ele atadura de morim que reveste o apare­
conseguirá alcançar suas extremidades; lho, . pois em consequência da proximi­
caso não possa realizar esta parte do seu dade com a região genital pOde haver
cuidado deve participar, secando-se. contaminação por urina e fezes.

a) Troca de roupa da cama 7 . Aspectos preventivos

A troca de roupa da cama é feita em A função da enfermeira não se limita


3 etapas : aos cuidados anteriormente descritos,
- o paCiente eleva a parte superior do mas além destes, também tem como fun­
tronco com o auxíllo do trapézio ou ele ção a prevenção de complicação e o pa­
é elevado pelos servidores de enferma­ ciente imobilizado está. predisposto a
gem - com o lençol limpo forra-se a tê-las.
parte do colchão correspondente à cabe­ Uma das principais complicações oriun­
ceira da cama até a altura da bacia, ao das da imobilização é o aparecimento de
mesmo tempo em que se remove o len­ escaras; rápidas para aparecerem e de­
çol sujo. Enquanto se prende as bordas moradas para desaparecerem .
do lençol, o paciente descansa; O estado nutricional e a idade avança­
- a seguir eleva o quadril, com o au- . da são fatores que aceleram seu apare­
xílio do trapézio e se possível do seu cimento sendo estas mais comuns nas
membro inferior não comprometido (_ regiões de saliências ósseas. Tentando evi­
conforme técnica de transporte anterior­ tá-las, a enfermeira deve proporcionar
mente descrita) , sendo o lençol passado apOio a estas áreas através do uso de
até a altura do aparelho de tração; coxins ou discreta elevação da região.
- continuando a substituição dos len­ A região sacra, por exemplo, pode
çóis, com um dos antebraços o servidor ser protegida utilizando-se coxim de es­
eleva o aparelho de Brown e com a mão puma, não muito alto, de aproximada­
livre forra o 1/3 inferior do colchão. O mente 5 cm, para que não interfira no
lençol sujo é removido e o limpo preso equilibrio da tração. A compressão do cal­
sob o colchão . câneo sobre o colchão ou sobre a atadura
O lençol que cobre o paCiente não deve de amorim do aparelho de Brown, pode
interferir na tração, e a extremidade do ser evitada colocando-se um pequeno co­
membro tracionado mantida descoberta xim de espuma sob a região do Tendão
para melhor observação. de Aquiles. A enfermeira deve estar vi­
Em caso de clima frio, o membro tra­ gilante para que a área de compressão
cionado deve ser coberto em separado. seja mudada com freqüência. Sua aten-

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ção deve estar voltada também para a no leito pode ocasionar distúrbios diges­
posição do outro membro a fim de evi­ tivos, intestinais e respiratórios. Os dis­
tar escaras de calcâneo e deformidade túrbios digestivos e intestinais podem ser
em flexão. evitados oferecendo ao paciente alimen­
Outro procedimento preventivo é a tação de fácU digestão, rica em celulose
massagem após o banho, com creme hi­ e oferecendo-lhe a comadre nos seus ho­
dratante nas regiões vulneráveis quais rários habituais de evacuação.
sejam : região do omoplata, cristas llia­ Problemas respiratórios podem ser pre­
cas; região sacra, região do trocanter, venidos através da utilização de frascos
calcâneo . . . para exercícios respiratórios (sifonagem)
Outra complicação conseqüente ao pró­ ou encher bolas de ar e luvas ou respirar
prio tratamento são as limitações arti­ profunda e lentamente. A elevação do tó­
culares e contraturas musculares que po­ rax que ajudaria bastante na dinâmica
dem afetar não somente o membro em respiratória só poderá ser feita após per­
tração como as demais partes do corpo. missão médica, pois interfere na tração.
Uma das medidas preventivas em tais Outro problema que o paciente em tra­
casos é a estimulação do paciente para ção está sujeito é o desenvolvimento de
o autocuidado, pois ao desenvolver estas infecção ao redor do orificio de entrada
atividades estará colocando em movimen­ e saída do pino de tração. Para prevenir
to os músculos e as articulações. esta infecção deve-se manter cobertos
O controle permanente da posição do estes orifícios tendo o cuidado de remo­
paciente n o leito pode evitar deformida­ vê-lo periodicamente para verificação do
des tais como : pé equino e rotação do local.
membro. O equinismo pode ser evitado
oferecendo apoio plantar fixo ou arti­ 8 . Preparo para alta
culado abrangendo toda a extensão dos
pés. A permanência do paCiente em repou­
Quando o membro está em tração, po­ so exige menor gasto energético dando
de-se usar malha tubular vestindo pé ao organismo oportunidade de "dimi­
(como meia) , fixa a uma das hastes da nuir" suas atividades. Ao lado disto, há
cama. Para movimentar a articulação tí­ também diminuição das atividades mus­
bio-tarsica devemos utilizar um cordão culares e articulares. O paciente estando
com uma das extremidades amarrada a hã algum tempo nestas condições ao le­
malha tubular e a outra após passar por vantar-se do leito poderá sofrer lipotí­
roldanas deve ficar ao alcance do pacien­ mia ou dificuldade em manter posição
te. Como os artelhos podem sofrer maior ereta por diminuição de força muscular.
tensão da malha tubular, deve-se acol­ Para evitar que isto ocorra o paciente
choá-los para evitar os prejuízos que es­ deve ser levantado lentamente, utilizan­
ta tensão pode causar. A rotação do do quando possível a prancha ortostáti­
membro, quando inferior, segundo Ca­ ca, caso não haja prancha, pode-se ini­
margo (1) pode ser prevenido com au­ ciar com travesseiros, aumentando gra­
xilio de rolo de lençol. Este lençol deve dativamente a flexão do tórax. Para es­
ser dobrado no sentido da extensão e a tar em condições de alta é necessário que
largura da dobra deve corresponder à. o mesmo desempenhe seus cuidados pes­
distância entre a crista iliaca e a região soais independentemente.
do planalto tibial de forma que depois A familia deve ser informada sobre as
de enrolado possa impedir a rotação ex­ limitações de mobllidade do paciente, as­
terna da região coxo-femural. sim como das suas 'possibilidades de
Além destes problemas, a imobllidade cuidar-se. Quando é possivel fazer uma

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programação para alta o membro da fa­ bllldade no leito ou atuação deficiente


milia mais relacionado com o paciente daqueles que o assistem.
deve ser convidado a vir vê-lo cuidar-se Através de planejamento da assistên­
no leito. Se forem apresentados proble­ cia de enfermagem a enfermeira terá re­
mas que interfiram nas ativ1dades do pa­ cursos para verlflcar se os obj etivos es­
ciente no lar, estes devem ser discutidos tão sendo alcançados; avaliar o trabalho
e procurada uma solução antes que o . que está sendo realizado com o paciente ;
mesmo deixe o hospital. avaliar e reformular o programa quando
necessário e proceder a supervisão do
IV . CONCLUSAO pessoal de enfermagem com base na as­
sistência que desej a oferecer ao paciente.
o planejamento e execução de técnicas Desempenhando o papel de enfermeira
apropriadas de enfermagem, proporcio­ clínica ou de educadora, a enfermeira que
nam aos pacientes submetidos ao trata­ utlllza-se dos recursos aqui expostos, es­
mento por tração, condições para um res­ tará contribuindo para que o paciente
tabelecimento mais rápido e livre de se­ reassuma, o quanto antes, seu papel jun­
quelas invalidantes ocasionadas pela imo- to à família e à sociedade.

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