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Motor de Inducao Parte Teorica PDF
Motor de Inducao Parte Teorica PDF
1. Objetivos
Mostrar os aspectos construtivos essenciais das máquinas de indução bem como suas
variantes quanto ao rotor.
Mostrar as características externas e sua obtenção qualitativa a partir dos conceitos básicos
bem como sua variação em função de alterações de parâmetros e das condições de
alimentação.
2. Motivação
O motor de indução, também chamado motor assíncrono, é utilizado em mais de 99% dos
acionamentos industriais. De toda a energia elétrica produzida, mais da metade é consumida
por motores elétricos. Denota-se aí a importância do estudo e conhecimento desse tipo de
máquina, mesmo para os alunos que não pretendem se dedicar a sistemas de potência. Seu
entendimento faz parte dos conhecimentos básicos de engenharia, especialmente aos da
área eletro-eletrônica.
3. Parte Teórica
Conteúdo da PARTE 1:
3.1 Descrição e construção da máquina assíncrona
3.2 Funcionamento – Formação do campo magnético rotativo no entreferro.
3.3 Interações básicas entre campo e condutores do rotor. Tensões, freqüências e
correntes induzidas.
3.4 Manifestação do conjugado no eixo do motor.
2
Conteúdo da PARTE 2:
3.5 O rotor em movimento – Conceituação do escorregamento.
3.6 Variação da natureza do circuito elétrico rotórico com o escorregamento.
3.7 Características externas do motor de indução.
3.8 Influência dos parâmetros e da condição de alimentação sobre as características.
O rotor do motor de indução tem duas variantes construtivas possíveis. Uma primeira é o
chamado rotor bobinado, ou também rotor de anéis, mostrado na fig.2.
CARCAÇA MANCAL
NÚCLEO DO ESTATOR
ENROLAMENTO ESTATÓRICO
VISTA EXPLODIDA DE
NÚCLEO DO ROTOR MOTOR DE GAIOLA DE
GAIOLA ROTÓRICA GRANDE PORTE
Figura 4. Visão geral da construção típica de um motor de indução com rotor em gaiola.
Tem-se então o estator configurado com um enrolamento trifásico usual, similar ao dos
geradores já vistos, alimentado por uma rede trifásica comum. Na fig. 5 está representado de
forma esquemática esse enrolamento, e a distribuição de campo no entreferro.
O eixo da fase A, normal ao plano da bobina, está orientado segundo a referência de ângulos
do estator, em θ = 0º. A bobina da fase A está alimentada com corrente IA entrando pelo
ponto indicativo de polaridade, sendo dessa forma considerada corrente positiva. A força
magnetomotriz que resulta é FA = N.IA, onde N é o número de espiras efetivas da bobina
equivalente da fase A. Sob a ação dessa excitação estabelece-se um fluxo ao longo da
relutância total do circuito magnético, sendo a parcela de relutância do entreferro
predominante, já que o núcleo ferromagnético tem permeabilidade muito elevada. A fig. 6a.
ilustra a distribuição das linhas de densidade de fluxo ou indução magnética ao longo da
estrutura do motor. Devido à grande diferença de permeabilidade magnética entre o
entreferro e os núcleos, as linhas de campo cruzam o entreferro radialmente, formando na
8
superfície do rotor, um pólo magnético norte no hemisfério superior e um pólo magnético sul
no hemisfério inferior. A distribuição espacial das linhas de campo no entreferro não é
uniforme, mas aproxima-se de uma distribuição co-senoidal centrada no eixo da fase A. Essa
conformação do campo é promovida, na máquina real, por uma adequada configuração das
bobinas da fase espalhadas ao longo da superfície do estator, as quais produzem a força
magnetomotriz já distribuída espacialmente segundo uma co-senóide. A distribuição de
campo da fase A pode ser representada por um vetor orientado segundo o seu eixo.
Admitindo a relutância definida apenas pelo entreferro, a força magnetomotriz FA, a
intensidade de campo magnético HA e a densidade de fluxo BA são relacionadas por
constantes. Assim a distribuição de campo pode ser representada pelo vetor de força
magnetomotriz da fase A, dado por:
FA = FA .e j.0º (1)
Na eq.1, o vetor de força magnetomotriz da fase A tem módulo FA = N.IA e sua direção no
espaço está dada pelo vetor unitário e j.0º. Deve-se observar que a distribuição de campo da
fase A, bem como seu vetor representativo, têm direção fixa no espaço (sempre orientado
segundo a direção do eixo da fase A) e magnitude variável de acordo com a corrente que
percorre a bobina dessa fase.
Para a fase B, tudo que foi acima descrito se aplica de forma idêntica, apenas a direção da
ação dessa fase está deslocada no espaço, como mostra a fig. 6b.
FB = FB .e j.120º (2)
O módulo dessa força magnetomotriz é FB = N.IB , sendo N o número de espiras efetivas da
bobina equivalente da fase B, que é idêntico ao da fase A por construção, e IB é a corrente
j.120º
que excita essa fase. A direção no espaço é dada agora pelo vetor unitário e .
Da mesma forma, para a fase C tem-se a distribuição de campo mostrada na fig. 6c.
Também para a fase C, a distribuição de campo pode ser representada pelo seu vetor de
força magnetomotriz, dado por:
FC = FC .e j.240º (3)
Sendo seu módulo FC = N.IC , e IC a corrente que excita a fase C. A direção no espaço é
j.240º
dada pelo vetor unitário e .
I A (t ) = I M . cos ω.t
I B (t ) = I M . cos(ω.t − 120º ) (4)
I C (t ) = I M . cos(ω.t − 240º )
Essas correntes aplicadas às três bobinas equivalentes das fases irão produzir a cada
instante um vetor de campo resultante, composto pelas componentes instantâneas dos
vetores individuais de cada fase. Na fig. 7 são mostradas algumas situações desses vetores
em diferentes instantes de tempo.
No lado esquerdo da fig. 7a. é mostrada a evolução no tempo das três correntes injetadas
nas fases, bem como o diagrama fasorial correspondente. No instante particular focalizado,
ω.t = 0º, as correntes têm os seguintes valores relativos: IA = IM e IB = IC = - 0,5.IM. Esses
valores podem ser obtidos pela substituição direta do instante considerado na eq. (4), ou pela
projeção dos fasores das correntes do diagrama fasorial num eixo de referência como o eixo
vertical no gráfico. No lado direito da fig. 7a. está mostrada a composição dos vetores
estacionários de cada fase e o campo resultante. Levando em conta os valores relativos das
correntes, tem-se o campo resultante dado por:
Observa-se assim que o vetor de campo resultante tem amplitude 1,5 vez maior que a
amplitude máxima do vetor de fase individual. A distribuição de induções também está
mostrada na figura, onde o pólo norte formado está na direção do eixo da fase A no instante
considerado.
11
Com o passar do tempo, as correntes evoluem segundo a eq. (4), e muda, portanto, a
composição dos vetores individuais de cada fase, bem como o campo resultante.
Na fig.7b. está focalizado o instante ω.t = 30º, e as correntes têm os seguintes valores
relativos: IA =0,866.IM , IB = 0 e IC = - 0,866.IM . Como conseqüência, o campo resultante fica:
Nesse instante a fase B não contribui para a formação do campo resultante, o qual tem o
mesmo módulo do instante anterior, mas deslocou-se no espaço de 30º.
Continuando a evolução das correntes no tempo, na fig.7c. mostra-se o instante ω.t = 60º.
Nesse instante é a fase A que não contribui para a formação do campo resultante.
Como se observa no conjunto da fig.7, embora os campos individuais das fases mantenham
a direção fixa, alterando seu módulo e sentido em função das correntes aplicadas em cada
bobina a cada instante, o vetor de campo resultante preservou em todos os instantes a sua
magnitude, alterando porém sua direção no espaço. Para todos os efeitos, a distribuição de
campo no entreferro se deslocou angularmente ao longo do tempo, constituíndo assim um
campo rotativo.
As conclusões acima descritas, e ilustradas pela fig.7, foram baseadas em uma análise das
composições dos campos de cada fase em instantes de tempo particulares. No entanto as
conclusões são gerais e a conservação da amplitude do campo magnético resultante e o seu
deslocamento no espaço ocorrem para quaisquer instantes de tempo observados.
Considerando que as amplitudes individuais das forças magnetomotrizes de cada fase
dependem da intensidade das correntes que as percorrem, as eq. (1), (2) e (3), devem ser
reescritas incorporando a eq.(4), resultando em:
3 3 3
F RES = FM .( . cos ω.t + j. . sen ω.t ) = .FM .e j .ω .t (12)
2 2 2
A eq. (12) pode ser interpretada como um vetor de amplitude constante igual a 1,5.FM cuja
direção no espaço varia continuamente no tempo com velocidade angular ω, dado que o
argumento do vetor unitário, ω.t, é função do tempo. Esse vetor representa então uma
distribuição de campo magnético móvel no espaço, girando no entreferro. A eq.(12) é a
expressão geral da onda de campo rotativo.
ω 2.π . f1
ωS = = [rd / s]
p p
f
nS = 1 [rps]
p (13)
f
N S = 1 .60[ RPM ]
p
Na eq.(13), f1 é a freqüência das correntes de alimentação em Hz, e p é o número de pares
de pólos da execução do enrolamento.
de = (V × Bg ).dL (14)
15
Onde de é a f.e.m. induzida num comprimento elementar do condutor dL, animado de uma
velocidade V relativamente a uma densidade de fluxo no entreferro Bg . Para as bobinas do
estator, com número de espiras por fase efetivas N, resulta uma f.e.m. total por fase:
Sem considerar por enquanto qualquer efeito do rotor, é essa f.e.m. induzida no estator que
equilibra a tensão aplicada pela fonte de alimentação da máquina, resultando daí a absorção
das correntes de excitação das fases. O efeito é similar a um indutor alimentado em tensão
alternada, ou a um transformador operando em vazio. O importante por enquanto é perceber-
se que o fluxo magnético criado pelo enrolamento, alimentado com freqüência constante,
depende somente da tensão aplicada às fases, conforme a eq.(15). Em outras palavras, a
magnitude do campo rotativo, ou o valor da indução magnética no entreferro depende
diretamente da tensão de alimentação U, do motor, através de uma constante k.
B g = k .U (16)
Passando-se agora ao estudo da interação do campo girante com o rotor, vale mencionar
que os fenômenos que aí ocorrem são exatamente iguais tanto para o rotor de anéis como
para o rotor de gaiola. Como esse último é mais comum, é com ele que será feita essa
discussão. A fig.8 representa, numa vista planificada, a situação presente no entreferro do
motor de indução de gaiola, onde a distribuição de induções magnéticas se desloca
relativamente aos condutores que formam a gaiola do rotor.
ω D
V = π .DR .n = π .DR . = R .ω (17)
2.π 2
Onde DR é o diâmetro do rotor e n e ω são respectivamente a freqüência de rotação e a
velocidade angular relativas. Cabe lembrar que para a tensão induzida mocional é irrelevante
quem se movimenta, bastando que exista deslocamento relativo entre campo e condutor. Na
eq.(14), no entanto, é considerado que o condutor se desloca imerso num campo
estacionário. Dessa forma, na fig.8 a velocidade relativa do condutor está com o sentido
contrário ao do deslocamento do campo.
No rotor do motor de indução, como já citado, o campo magnético é radial, as barras são
longitudinais, e o movimento das mesmas é tangencial à superfície do rotor. Logo, os três
vetores da eq.(14) são ortogonais entre si, de modo que aquela equação pode ser agora
reescrita, para o comprimento total da barra, L, como:
e = Bg .L.V (18)
DR
V0 = .ω S (19)
2
E a tensão induzida por condutor, para o rotor em repouso, é dada por:
e0 = Bg .L.V0 (20)
A distribuição de densidade de fluxo está focalizada num instante particular onde o vetor de
campo resultante coincide com o eixo da fase A, correspondente ao mostrado na fig.7a.
Sendo a conformação espacial dessa distribuição co-senoidal, pode-se escrever:
B g (θ ) = BM . cos θ (21)
Como conseqüência disso, a intensidade de campo que age sobre cada barra do rotor é
diferente, o que produz tensões induzidas em cada condutor também diferentes. Aplicando a
eq. (20), resulta então:
Como a gaiola do rotor é um circuito elétrico fechado por construção, as tensões induzidas
em cada barra imprimem correntes nas mesmas, de acordo com a sua magnitude e
polaridade, e limitadas pelas impedâncias de cada condutor. Por ora, será considerado que a
impedância das barras é puramente resistiva. Mais adiante, no item 3.6, essa simplificação
será levantada e será considerada a impedância complexa dos condutores rotóricos. A
corrente em cada condutor será dada então por:
e0 (θ ) E0 M
I b (θ ) = = . cos θ = I 0 M . cos θ (23)
r r
Observa-se na eq.(23) que as correntes seguem o mesmo perfil espacial das tensões
induzidas, constituindo também uma distribuição rotativa de correntes, em fase no tempo com
a distribuição das tensões. O observador, posicionado na gaiola, enxerga correntes induzidas
alternadas de freqüência idêntica à de alimentação, para o rotor em repouso.
Tem-se agora uma nova situação no rotor, que é a existência de condutores imersos em
campo magnético, conduzindo correntes elétricas. Ocorre, portanto, uma segunda interação
eletromagnética que é a manifestação de forças mecânicas nesses condutores, dadas por:
Na eq.(24), dFMEC é a força que age no elemento de comprimento de barra dL, imersa no
campo Bg e afetada da corrente Ib. Novamente, a ortogonalidade dos vetores permite a
determinação da força ao longo de todo o comprimento do condutor, L, pelo produto
algébrico dado por:
As correntes induzidas nas barras completam seu circuito elétrico pelos anéis de curto nas
extremidades da gaiola, como ilustra a vista em planta da fig.10. Como no caso a impedância
dos condutores do rotor é admitida puramente resistiva, o sentido das correntes é o mesmo
para todas as barras sob o pólo norte da distribuição de campo, invertendo-se em todas as
barras sob o pólo sul. Isso produz uma manifestação de força mecânica nas barras, com
sentido constante ao longo de toda a gaiola. Pelo produto vetorial da eq.(24), nota-se que o
sentido das forças é o mesmo do deslocamento do campo girante no entreferro.
Assim sendo, toda barra “i” que conduz corrente, contribui para a produção de uma parcela
do conjugado Ci , resultante do produto da força mecânica da barra, FMEC i, pelo braço de
alavanca da mesma em relação ao eixo, no caso, o raio R do rotor.
C i = FMEC i .R (26)
20
Como as barras conduzem correntes diferentes, e estão sob a ação de valores diferentes
de indução magnética, o conjugado total do rotor é dado por:
i =Qb i =Qb
C0 = ∑ FMEC i .R = ∑ Bg (θ i ).L.I b (θ i ).R (27)
i =1 i =1
Onde Qb é o número total de barras do rotor. A fig.11 mostra a ação das forças de cada barra
compondo o conjugado total no eixo, no instante considerado.
ωs
Figura 11. – Contribuição das barras da gaiola para o conjugado total no eixo, com rotor em repouso.
Como o rotor está em repouso, esse conjugado total que se manifesta, C0, é chamado
conjugado de partida do motor de indução, e atua no mesmo sentido de deslocamento do
campo rotativo no entreferro.
Para um rotor com um número elevado de barras por pólo, pode-se entender a gaiola como
uma distribuição contínua de condutores, dada por:
Qb
qb =
2.π
(28)
2.π
Qb
C0 = ∫B
0
M . cos(θ ).L.I 0 M . cos(θ ).
2.π
.R.dθ (30)
2.π
Qb .R.L 1
C0 = .BM .I 0 M . ∫ cos 2 (θ ).dθ = .BM .I 0 M .L.R.Qb
2.π 0
2 (31)
Deve-se lembrar que esse resultado vale para a consideração de barras do rotor puramente
resistivas. A densidade de fluxo e a corrente na eq.(31), são os valores máximos das
respectivas distribuições espaciais. Essa corrente é a que existe na condição de rotor em
repouso.
DR
VS = .(ω S − ω R ) (32)
2
Essa velocidade é inferior à original que existia em repouso, dada pela eq.(19), de modo que
também resultam inferiores as tensões induzidas por efeito mocional, promovidas pelo
deslocamento do campo rotativo sobre as barras da gaiola.
DR
eS Bg .L.VS .(ω R − ω S ) (ω − ω R )
= = 2 ⇒ eS = S .e0
e0 Bg .L.V0 DR .ω ωS (33)
2 S
22
Na eq.(33), a razão das velocidades relativas recebe o nome de escorregamento da
máquina assíncrona simbolizado por “s”.
(ω S − ω R )
s=
ωS (34)
O escorregamento é talvez o conceito mais notável do motor de indução, e será uma variável
importante em todas as suas características. É uma medida da velocidade dos condutores
em relação ao campo rotativo, tomando como referência este último. É então uma medida
dessa velocidade em “valor por unidade”, ou valor p.u., sendo o valor de base a velocidade
síncrona do campo girante. O conceito de valor p.u. é fundamental em engenharia elétrica.
Comparando-se com a fig.9, nota-se que o fenômenos são exatamente os mesmos, apenas
agora a tensão e a freqüência induzidas estão atenuadas, dadas por:
eS = s.e0
f 2 = s. f1 (35)
23
Quanto às correntes, também continuam circulando da mesma forma anterior, indicada na
fig.10, dado que o circuito elétrico da gaiola permanece fechado. Ainda admitindo circuito
rotórico puramente resistivo, as correntes agora resultam atenuadas para um determinado
escorregamento, dadas por:
s.e0 (θ )
I bS (θ ) = = s.I b (θ ) (36)
r
A sua interação com a distribuição de campo, que está preservada, continua a produzir forças
mecânicas sobre a barras e portanto continua a manifestação de conjugado no eixo,
conforme ilustrado na fig.13. O conjugado é agora dado por:
i =Qb
1
C S = ∑ FMECSi .R ou C S = s. .BM .I 0 M .L.R.Qb (37)
i =1 2
Figura 13. – Correntes induzidas na gaiola e produção de conjugado para o rotor em movimento.
Observa-se ainda que, com o rotor em movimento, a produção de conjugado no rotor, CS,
continua existindo no mesmo sentido de rotação do campo girante. O rotor está dessa forma
desenvolvendo potência mecânica no eixo, dada por:
PMEC = C S .ω R (38)
24
A situação ilustrada na fig.13 se mantém em equilíbrio estável quando o conjugado
produzido pelo rotor é equilibrado por um conjugado resistente da carga acoplada ao eixo. No
entanto, se o conjugado da carga é menor que o produzido pelo motor de indução, o rotor
continua acelerando no sentido do campo rotativo, tendendo para um limite quando o rotor
alcança uma velocidade idêntica à do campo girante.
No entanto, mesmo que o seu eixo permaneça desacoplado, sem nenhuma carga, o próprio
atrito interno dos mancais e o efeito de ventilação do rotor em movimento (as chamadas
perdas mecânicas) têm de ser supridos pelo motor. Isso obriga o rotor a manifestar uma
pequena parcela de conjugado, que só é possível pela circulação de pequenas correntes nas
barras, o que por sua vez exige uma pequena tensão induzida nas mesmas. Como essa
tensão é originada pelo movimento relativo entre condutores e campo, significa que o rotor
jamais conseguirá atingir, por meios próprios, a velocidade síncrona do campo girante. Em
outras palavras, o motor de indução só manifesta essa ação motriz se o rotor estiver fora de
sincronismo com o campo rotativo – daí o nome de máquina assíncrona.
0 1 e0 f1 C0
ωR = (1-s).ωS s eS = s. e0 f2 = s. f1 CS
ωS 0 0 0 0
Como também já foi discutido, no circuito rotórico as tensões e correntes são alternadas,
sendo que a freqüência das mesmas é variável conforme o escorregamento do rotor. Logo, a
indutância das barras da gaiola, Lb , se traduz numa reatância indutiva, dada por:
Conclui-se assim que a natureza do circuito elétrico rotórico é variável com a velocidade,
sendo preponderantemente reativa para escorregamentos elevados, e praticamente resistiva
apenas para escorregamentos muito pequenos. O maior valor da reatância indutiva do rotor
se manifesta com o mesmo em repouso, x = 2.π.f1.Lb. Tomando-se então essa condição
como uma referência para efeito de especificação dos parâmetros elétricos de seu circuito,
resulta:
Desse modo, as correntes induzidas nas barras rotóricas, para um escorregamento qualquer,
dada pela eq.(36) devem ser substituídas por:
s.e0 (θ )
I bS (θ ) =
r + j.s.x (42)
26
Da mesma forma que descrito ao final da seção 3.2. a eq.(42) representa uma distribuição
espacial de correntes nas barras da gaiola, só que agora não mais em fase com a
distribuição de tensões, nem tampouco com a distribuição das densidades de fluxo magnético
no entreferro. Como a impedância rotórica é complexa, existe um atraso nas correntes em
relação às tensões induzidas, dado pelo ângulo de fase da impedância, φ, sendo:
r r
ϕ = ar cos( ) = ar cos( )
zb r + s .x
2 2 2 (43)
Esse atraso introduzido nas correntes do rotor tem como efeito a não coincidência dos
valores máximos na sua interação com as densidades de fluxo que agem sobre cada barra.
Esse feito está ilustrado na fig.14, numa vista esquemática planificada do motor de indução.
Assim, no instante em que uma barra do rotor está sob a ação do valor máximo da densidade
de fluxo, ela tem também o valor máximo da f.e.m. induzida, já que o efeito mocional
depende do valor dessa indução magnética. Contudo, devido à impedância complexa do
condutor, o máximo de corrente nessa barra em questão só vai ocorrer mais tarde, atrasado
do ângulo φ. Dessa forma é perdida a condição de maximização da interação que produz a
força mecânica na barra, e portanto do conjugado. O conjugado elementar produzido pela
distribuição de barras, dado na eq.(29) deve ser alterado para incorporar o atraso da
corrente, resultando em:
2.π
Qb
CS = ∫B
0
M . cos(θ ).L.I M . cos(θ − ϕ ).
2.π
.R.dθ (45)
1
CS = .BM .I M . cos ϕ.L.R.Qb (46)
2
A corrente total complexa nas barras rotóricas é dada pela eq.(42). Seu módulo, em função
do escorregamento, é então:
s.e0
I bS = (47)
r 2 + s 2 .x 2
28
Objetivando-se uma maior generalidade, pode-se estudar, ao invés da característica
absoluta da corrente, seu comportamento relativo, por exemplo, a um valor de referência que
seja representativo do motor. Aqui será usada como referência a corrente com o rotor
bloqueado, também chamada corrente de partida ou corrente de curto-circuito, que se
manifesta para escorregamento unitário.
e0
I bS ( s = 1) = (48)
r 2 + x2
1
Dividindo-se a eq.(47) pela (48), e multiplicando-se numerador e denominador por , resulta:
r
2
⎛x⎞
s. 1 + ⎜ ⎟
⎝r⎠
I (s) =
2 (49)
⎛x⎞
1 + s .⎜ ⎟
2
⎝r⎠
A eq.(49) representa a corrente total expressa em relação à corrente de partida. Desse modo,
pode ainda representar indistintamente tanto a corrente do rotor como a do estator.
r 1
cos ϕ ( s ) = =
r 2 + s 2 .x 2 ⎛ x⎞
2 (50)
1 + s .⎜ ⎟
2
⎝r⎠
A componente ativa da corrente do rotor é dada pelo produto das eq.(49) e (50):
2
⎛x⎞
s. 1 + ⎜ ⎟
⎝r⎠
I at ( s ) = I ( s ). cos ϕ ( s ) = 2
2 ⎛ x⎞
(51)
1 + s .⎜ ⎟
⎝r⎠
Num motor de indução normal a razão (x/r) é maior que a unidade dada a predominância da
natureza indutiva de seu circuito rotórico. Isso posto, analisando-se as eq.(49), (50 e (52),
algumas conclusões interessantes podem ser obtidas, como por exemplo:
escorregamento ( r)
- I at ( s ) ≅ s. 1 + x
2
= k .s - C ( s ) = k .s
- Essas conclusões coincidem com a análise anterior feita onde se admitiu rotor
puramente resistivo. Isso confirma que aquela hipótese só vale para
escorregamentos muito pequenos, como já citado.
2
⎛ x⎞
1+ ⎜ ⎟
⎝r⎠
I atMAX =
⎛ x⎞ (53)
2.⎜ ⎟
⎝r⎠
Como o valor da corrente ativa dada pela eq. (53) é máximo (relativamente à corrente de
referência total de partida), significa que valores maiores de escorregamento conduzirão
30
agora a uma redução do valor da componente ativa, e, portanto do conjugado. Existe
assim um ponto de inflexão na curva de conjugado, que define o seu valor máximo.
A fig.15 ilustra o diagrama fasorial da corrente total e sua componente ativa para diversos
escorregamentos. O conjugado máximo ocorre para o escorregamento que produz a máxima
componente ativa da corrente no rotor.
S.e0 S =0,2
S =0,3
S =0,1
Ib(s) S =0,5
φ Iat(s)
S =0,05 S =1,0
S =0
Figura 15 – Diagrama fasorial das correntes no circuito elétrico do rotor do motor de indução (x/r = 5).
Como se nota na fig. 15, com o aumento do escorregamento a corrente total é sempre
crescente, enquanto o fator de potência decresce progressivamente (o ângulo φ aumenta
sempre). Com isso a componente ativa da corrente cresce inicialmente até um valor máximo,
decrescendo daí em diante até o escorregamento unitário. O mesmo comportamento tem o
conjugado. Na fig.15 esse máximo ocorre para s = 0,2 , quando a razão x/r é igual a 5.
As curvas características são então apresentadas na fig.16, por solução ponto a ponto das
eq.(49) e (52), onde a razão x/r = 5 foi adotada (valor típico para motores de gaiola normais).
1,0 1,0
C onjugado relativo
C orrente relativa
0,8 0,8
0,6 0,6
0,4 0,4
0,2 0,2
0,0 0,0
1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0
Escorregamento (p.u.) Escorregamento (p.u.)
Na fig. 16, a curva de corrente é relativa, referida ao valor da corrente de partida. A curva de
conjugado também é relativa, referida ao valor do conjugado máximo. Os escorregamentos
31
nominais, ou de plena carga, dos motores de indução são tipicamente da ordem de 0,01 a
0,05 (1 a 5 %). Portanto, notam-se das curvas características os seguintes fatos:
Esses aspectos são característicos dos motores de indução de gaiola, ou seja, conjugado de
partida limitado, às vezes inferior ao de plena carga, e corrente de partida muito superior à
nominal. O resultado disso é que, tipicamente, o motor de gaiola tem dificuldade de partida e
aceleração, e provoca sempre um forte impacto na linha de alimentação, durante a partida.
Dessa forma faz-se necessário buscar formas de alterar as curvas características dos
motores de indução, objetivando principalmente melhor adequá-los à condição de partida.
Nos motores de gaiola essas ações são mais limitadas, já que a característica fica
praticamente definida na construção do rotor, particularmente pela relação x/r. Nesse caso,
usualmente emprega-se a redução de tensão durante a partida, na tentativa de ao menos
limitar o impacto de corrente sobre a rede. No motor com rotor de anéis, a possibilidade de
conectar ao circuito rotórico elementos externos de circuito, principalmente resistores, permite
a alteração da razão x/r, otimizando significativamente a condição de partida, tanto do ponto
de vista de redução de corrente, como de aumento do conjugado.
32
A influência da tensão de alimentação, U, sobre o comportamento do motor de indução
pode ser avaliada pela sua ação sobre a magnitude do campo magnético rotativo produzido
pelo enrolamento. As eq.(16), (18) e (42) permitem estabelecer as seguintes relações:
Da mesma forma, influência da tensão sobre o conjugado produzido pelo motor pode ser
avaliada pela sua ação sobre o campo no entreferro. As eq.(16), (18), (42) e (46) permitem
estabelecer agora as seguintes relações:
A influência dos parâmetros no comportamento do motor de indução pode ser avaliada pelo
estudo da sensibilidade das eq.(49), (51) e (52) à relação x/r. Para um motor de gaiola, essa
proporção é definida pelo adequado projeto do rotor, onde a resistência é ajustada pelo
material da barra e sua secção, enquanto a reatância é ajustada pela geometria da ranhura
rotórica. No motor de gaiola, então, não é mais possível o ajuste de parâmetros após a
construção, de modo que suas características são fixas.
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Nota: Os condutores do rotor formam um enrolamento polifásico, mesmo no rotor de gaiola, onde o
número de fases é igual ao número de barras por par de pólos. As correntes aí induzidas estão
defasadas no tempo de um ângulo correspondente à distância entre barras (fig.10). Logo, o rotor da
máquina assíncrona também forma um campo magnético rotativo próprio, que trafega no entreferro em
sincronismo com o campo original criado pelo estator. Estabelece-se assim um confronto de forças
magnetomotrizes similar ao que ocorre entre secundário e primário de um transformador. Para
garantir esse confronto, o estator absorve da rede correntes suficientes para conservar no entreferro o
fluxo original, de modo que existe uma relação direta entre correntes do estator e do rotor, dada pela
relação de espiras equivalentes de ambos.
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grandes benefícios para a produção de conjugado e limitação das correntes no rotor. Com
isso é possível melhorar de forma muito significativa a condição de partida do motor, e
adicionalmente, durante a aceleração esses elementos podem ser gradativamente
eliminados, de modo a restabelecer na situação de regime as condições originais do motor.
A fig.(17) ilustra o efeito da variação da relação x/r sobre o comportamento das curvas
características.
1,0 1,0
Conjugado Relativo
Corrente relativa
0,8 0,8
0,6 0,6
0,4 0,4
0,2 0,2
0,0 0,0
1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0
Escorregamento (p.u.) Escorregamento (p.u.)
Figura 17 – Influência da resistência rotórica no comportamento do motor de indução. Nas curvas, tem-
se respectivamente, da direita para a esquerda: x/r = 5, x/r = 2 e x/r = 1.
Sua aplicação, assim, se dá principalmente naquelas cargas que operam dessa forma, ou
seja, em rotação praticamente constante. Essas cargas constituem a grande maioria de todos
os acionamentos industriais. Podem-se citar como tais todas as máquinas de fluxo, como
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bombas, ventiladores, compressores, largamente utilizados na indústria química e
petroquímica, bem como em estações de tratamento de águas. Além disso, esses tipos de
cargas invariavelmente operam por períodos prolongados de tempo sem interrupção, de
modo que as situações de partida são raras. Isso atenua um dos aspectos negativos do
motor de indução que é a sua natural dificuldade de partida, com forte impacto na rede.
BIBLIOGRAFIA
Eletromecânica – A. G. Falcone
Alternating Current Machines – M.G. Say
Máquinas Elétricas – Fitzgerald
Electric Machines Fundamentals – S. Chapman
São Paulo, outubro de 2006