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HISTÓRIA DO MARANHÃO

FICHAMENTO - De caboclos a bem-te-vis, Matthias Röhrig Assunção (capítulo 4)

4. Economia e Sociedade
“A grande lavoura representa o nervo da agricultura colonial; a produção dos gêneros de consumo interno – a mandioca, o
milho, o feijão, que são os principais – foram um apêndice dela, de expressão puramente subsidiária. Este papel subsidiário se
verifica, aliás, quase sempre, na própria estrutura da produção agrícola.” (Caio Prado Júnior, 1942)

Caio Prado Júnior desenvolve uma correspondência entre o nível macro e microeconômico, entre a economia e as formas de
produção. A agricultura de subsistência ou era “apêndice” da própria fazenda, existindo “unicamente em função dela”, ou era
praticada em unidades menores, onde dominavam outras relações de trabalho.”

Jacob Gorender no intuito de construir um modo de produção escravista colonial, analisou a produção de alimentos no interior
da plantation. Distinguiu dois segmentos (mercantil/natural), e atribuiu caráter absolutamente marginal à produção camponesa
independente.

Francisco Carlos Teixeira da Silva na sua crítica contundente à “bissegmentação” da plantation e ao conceito de “economia
natural” tem apontado para a importância da produção mercantil não-capitalista, cuja existência foi comprovada em muitas
formações sociais. Concluiu que esses mercados não-capitalistas eram caracterizados por escassez permanente, baixas de taxas
de lucro e acumulação, monetarização imperfeita, rigidez da oferta e concorrência limitada.

Economia do Brasil-Colônia ou Império havia um substancial setor da economia colonial orientado para o mercado interno,
constituído, às vésperas da Independência, de verdadeiro “mosaico de formas não capitalistas de produção”. Era formado por
fazendas escravistas, unidades camponesas e estâncias utilizado trabalho livre não-assalariado. Cada unidade de produção
colonial podia inserir-se de várias maneiras na economia, produzindo ora para a auto-subsistência, ora para o mercado interno
ou para a exportação.

Tomando como pano de fundo esses debates, as indagações iniciais de Matthias Röhrig neste capítulo são:
1. Quais eram as típicas unidades de produção no Maranhão?
2. Como se articulava a pequena produção camponesa com a fazenda escravista?
3. Quais eram as relações de trabalho mais relevantes na província?
4. Quais eram as particularidades da economia e estrutura social maranhense?
5. Que tipos de crise afetavam a economia e que importância tiveram para a formulação de antagonismos sociais?
6. De que forma intervinha o Estado na economia e qual era o impacto de sua intervenção?

1. As unidades de produção
A análise das unidades produtivas, ou seja, a articulação concreta entre os fatores de produção terra, trabalho e técnicas é
fundamental para compreender processos econômicos mais amplos, tanto no nível regional, quanto no nível nacional ou mesmo
atlântico.

A designação hispanoamericana hacienda corresponde, em termos etimológicos, ao conceito brasileiro fazenda. Fazenda, no
entanto, designa qualquer grande unidade agrária, enquanto a hacienda é uma categoria mais específica. Em artigo clássico
sobre o tema, Mitz e Wolf definiram hacienda e plantation como os dois tipos ideais opostos das grandes unidades de produção
agrária latino-americana.

Hacienda: geralmente situada nos altiplanos ou nas regiões de clima mais mdoerado, é caracterizada pelo uso de trabalho não
escravo e a sua orientação para o mercado interno

Plantation: situada nas terras baixas tropicais, usava o trabalho escravo e vendia sua produção no mercado mundial.

No caso do Maranhão, no entanto, a plantation de algodão não era a única unidade de produção que combinava latifúndio e
trabalho escravo. Podemos distinguir três tipos ideais de fazenda na região durante a primeira metade do século XIX:
 A fazenda de algodão dos vales úmidos dos rios Itapecuru e Mearim e de Alcântara. Ou seja, a plantation propriamente
dita.
 A fazenda de gado do sul da província, do vale do rio Parnaíba e da baixada maranhense.
 A fazenda de mandioca, importante nas microrregiões, Guimarães e Icatu
A Fazenda de Algodão
O algodão constituía, via de regra, a renda monetária principal das plantations, alcançando ao redor de 70% a 80% do valor das
exportações da província até meados do século XIX. (...) a plantation maranhense, pelo menos até a década de 1840, era antes
de tudo, uma fazenda de algodão.

Pode-se partir da hipótese que a fazenda algodoeira maranhense das primeiras quatro décadas do século XIX teve, em média,
menos escravos que o engenho açucareiro do Nordeste, mesmo considerando que aqui também os números têm sido revistos
pra baixo por pesquisas nos últimos vinte anos e que muitos escravos labutavam para lavradores de cana com planteis menores.

Em anos de conjunturas excelente os lucros dos fazendeiros de algodão podiam ser altos (...) os lucros dos fazendeiros de
algodão podiam se equiparar aos obtidos por lavradores em outras regiões brasileiras.

É provável que as unidades menores não conseguissem trabalhar com lucros tão altos, sobretudo quando deviam roçar terras
cansadas nas áreas antigas. (...) o parcelamento das terras e a subdivisão dos planteis escravos constituía o principal problema
da economia algodoeira no Maranhão na década de 1830.

Havia, no entanto, dois outros fatores que ameaçavam os lucros dos fazendeiro, mesmo dos remediados:
a. A adversidade do clima equatorial
Secas, chuvas excessivas ou fora de época e os parasitas podiam diminuir ou mesmo destruir uma safra inteira.

b. A dependência do capital comercial


O endividamento junto aos comerciantes de São Luís reduzia as possibilidades de lucro alto para os fazendeiros
que não dispuseram de capital suficiente na hora de estabelecerem suas lavouras ou que tinham que recorrer
a empréstimos para enfrentar um ano ruim.

Devido a todas essas imponderáveis, o lucro dos lavradores variava muito de um ano para o outro: dependia do preço do
algodão, do preço do escravo e do clima. É necessário também distinguir os vários tipos de lavradores. Fazendeiros abastados
com várias plantations conseguiam manter a sua independência frente ao capital comercia, mesmo se uma delas estivesse
dando prejuízo. Fazendeiros eu dependiam do crédito dos comerciantes para comprar seus escravos corriam o risco de
permanecer endividados por muitos anos, o que reduzia consideravelmente o seu poder de barganha junto aos comerciantes.
Essas situações diferentes podem explicar porque fazendeiros se engajaram em lados opostos durante a Guerra da
Independência ou em partidos contrários durante o Império.

A Fazenda de Mandioca
O desenvolvimento da economia algodoeira e, por conseguinte, do porto de São Luís, contribuíram para o crescimento de um
mercado interno de alimentos. (...) Em microrregiões de terras arenosas como Guimarães, alguns grandes fazendeiros
produziam anualmente 5mil arrobas de farinha. Vendidas a um preço médio de 600 reis por alqueire, resultavam num benefício
de 1382 mil reis. Como os fazendeiros tinham poucos outros fastos a não ser pagar o dízimo de 5% sobre a farinha, podiam
destarte obter um lucro perto de 1300 mil reis anuais. Lucro menor, no entanto, que o dos fazendeiros de algodão em tempos
de conjuntura favorável, e por essa razão o cultivo de algodão, quando possível, sempre tendia a desalojar o da mandioca.

A Fazenda de Gado
Fazendas de gado dominavam em várias áreas da província: na Baixada Maranhense ao redor do golfo, no Baixo Parnaíba e em
todo o Sul, no chamado Sertão de Pastos Bons.

Os trabalhadores de cada fazenda de gado cultivavam os alimentos necessários para a sua subsistência.

Paula Ribeiro estimava que cada fazenda de gado poderia render no mínimo 500 mil reis por ano. Se tomamos, no entanto,
como base de cálculo uma produção anual de 300 bezerros a 5:000 reis, uma fazenda de gado média podia render até 1,5
contos.

As distinções que estabelecemos entre os tipos ideais de grandes propriedades não devem levar, contudo, a conceber as
grandes unidades produtivas como estritamente compartimentadas nas três especialidades. Em todas elas os fazendeiros
destinavam uma parte das terras e da força de trabalho dos seus trabalhadores ao cultivo de alimentos. Além do mais, podiam
exercer várias atividades conforme a qualidade das terras que possuíam. Poderíamos, mesmo, afirmar que fazendeiro bem
sucedido era aquele que sabia combinar várias atividades.
A unidade de produção camponesa
A unidade de produção camponesa se desenvolveu no Maranhão, como em muitas outras regiões do Brasil, à margem das
plantations. Em alguns casos, formou-se mesmo de maneira bastante desvinculada das fazendas. A produção camponesa era
organizada ao redor das unidades domésticas, às vezes – mas nem sempre! – integradas em unidades maiores, os povoados.

A característica comum à toda produção camponesa era o uso predominante do trabalho livre e familiar, e a orientação
primordial da produção para auto-subsistência. Quando se vendia uma parte da produção tratava-se, geralmente, de excedente.

Podemos diferenciar os camponeses maranhenses do oitocentos conforme vários critérios, como:


1. o tipo de atividade econômica predominante;
2. a sua inserção ou não em outras relações de trabalho;
3. seu vínculo com o mercado e a organização da produção;
a. formas de acesso à terra,
b. formas de trabalho coletivos ou não).

1. no que toca as atividades produtivas, os camponeses maranhenses do século XIX eram bastante parecidos com os indígenas,
dos quais muitos eram descendentes diretos. Combinavam coleta, caça, pesca e agricultura, e até a pecuária em pequena
escala. De maneira geral, havia pouca especialização em uma só atividade. Os caboclos maranhenses, neste sentido, eram mais
que simples camponeses, no sentido europeu estrito do termo, porque também eram coletores, caçadores e pescadores.

A importância de cada atividade também variava conforme a microrregião e a época.

A “pluriatividade” camponesa permitia dezenas de combinações diferentes. Alguns autores a consideraram, já no século XX,
“símbolo de uma economia incipiente e primitiva”. Mas a combinação de diferentes culturas pode ser vista também como
estratégia economia, sutil adaptação ao contexto mais amplo da produção camponesa, variando confirme a disponibilidade e o
acesso aos recursos naturais, e as características ecológicas da área.

2. nas áreas de pecuária antigos vaqueiros, dispondo de pequeno cabedal, e outros pequenos produtores tentavam estabelecer-
se entre duas fazendas, nas sobras de terra entre duas concessões de sesmaria ou em outras terras de propriedade mal definida.
Os foreiros e agregados, pelo contrário, deviam uma renda monetária ou serviços pessoais para poder trabalhar a terra. Assim, a
inserção em outras relações de trabalho constitui um critério de diferenciação fundamental da condição camponesa.

3. se era mais fácil comercializar excedentes para os caboclos estabelecidos perto dos povoados ou centros urbanos do que os
que viviam nos “centros” na mata, é também surpreendente até que ponto camponeses afastados conseguiam negociar seus
produtos.

No entanto, parece que nenhuma unidade camponesa vendia produtos de exportação.

O adensamento da povoamento e a construção

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