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CHRISTIANITATES:
TÓPICOS DE LITERATURA CRISTÃ PRIMITIVA
VITÓRIA - ES
2017
GAMITO, José Aristides da Silva. Christianitates: Tópicos de
Literatura Cristã Primitiva. Vitória: Edição digital, 2017.
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Além dos textos do Novo Testamento, uma vasta literatura foi desenvolvida no
cristianismo primitivo. Orígenes, Ireneu e Clemente de Alexandria falam de muitos
evangelhos que foram escritos. Muitos textos concorreram com aqueles do NT até a
fixação do cânone do século IV. Estes textos que são considerados apócrifos
neotestamentários somam por volta de 200.[4]
Porém, muitos textos estão além dessa classificação de apócrifos como
apologias, homilias, tratados, cartas, hinos. Há uma variedade gênero que nos informa
as doutrinas, ideias e modo de vida dos primeiros cristãos. A descoberta de bibliotecas
em Qumram e em Nag Hammadi ampliou consideravelmente nossa noção da
diversidade e quantidade de textos cristãos.
O que chamaremos de literatura do cristianismo primitivo será aquela produção
literária cristã do século I ao século IV. E estamos falando de textos além do
NT.[5]Phillip Vielhauer classifica os textos da literatura cristã em apócrifos e padres
apostólicos. São de autoria dos padres apostólicos os textos das Cartas de Barnabé,
Pastor de Hermas e Didaquê. Dentro os textos apócrifos estão os textos de Nag
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Referências
DAVIES, Stevan. The Gospel of Thomas and Christian Wisdom. New York: The
Seabury Press, 1983.
HATCH, William Harry Paine. The Primitive Christian Message. Journal of Biblical
Literature, Vol. 58, No.1, mar., 1939.
[1] HATCH, William Harry Paine. The Primitive Christian Message. Journal of Biblical Literature, Vol.
58, No. 1 (Mar., 1939), pp. 1-3.
[2] HATCH, 1939, pp. 12-13.
[3]VIELHAUER, Phillip. Introducción al Nuevo Testamento y los padres apostólicos. Salamanca:
Sígueme, 1991.
[4] SEN, Felipe. Apócrifos del Nuevo Testamento y La Literatura Cristiana Primitiva. Asociación
Española de Orientalistas, XXXIX (2003), p. 206-207.
[5] SEN, p. 209.
[6] VIELHAUER,1991.
[7] SEN, 2003, p. 209.
[8] SEN, 2003, p. 212.
[9] SEN, 2003, p. 213.
[10] MORESCHINI, Claudio e NORELLI, Enrico. Manual de Letteratura Antica Greca e Latina.
Brescia: Editrice Morcelliana, 1999, pp. 234-235.
[11] EPIPHANIUS, Saint. The Panarion of Epiphanius of Salamina. Book I. Translated by Frank
Williams. Boston: Brill, 2009, p. 26.
[12] DAVIES, Stevan. The Gospel of Thomas and Christian Wisdom. New York: The Seabury Press,
1983, p.4.
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Introdução
Afinal, quantos são esses evangelhos e quais são? Foram muitos e não sabemos
quantos, só sabemos que sobreviveram dezenas deles. Estes evangelhos são gêneros de
narrativos, de sentenças, de homilias. Os evangelhos mais estudados são: Evangelhos
dos Nazarenos, dos Ebionitas, dos Hebreus, Evangelho Desconhecido de Egerton, dos
Egípcios, de Tomé, de Pedro, de Maria, de Filipe, da Verdade, do Salvador, da Infância
de Tomé e Proto-Evangelho de Tiago e muitos outros textos na íntegra ou em
fragmentos que são também evangelhos.
De que tratam esses evangelhos? O Evangelho dos Nazarenos contava aspectos
sobre o ensinamento e a vida pública de Jesus e foi utilizado por judeus-cristãos de
língua aramaica. O Evangelho dos Ebionitas foi utilizado por um grupo de cristãos
chamados de ebionitas que viveram em vários pontos da região mediterrânea. O
Evangelho dos Hebreus foi escrito e provavelmente utilizado no Egito.
O Evangelho Desconhecido de Egerton é um texto fragmentário vindo do Egito
e datado de 157 d. C. Ele possui quatro histórias presentes nos evangelhos canônicos. O
Evangelho dos Egípcios era conhecido do escritor Clemente de Alexandria no século II.
Destacam-se neste texto umas conversas entre Jesus e Salomé. Foi um evangelho
também utilizado no Egito.
O Evangelho de Tomé é o evangelho mais próximo dos evangelhos canônicos.
Muitos o chamam de quinto evangelho. Trata-se de um texto de 114 ditos de Jesus a
seus discípulos. Ele era conhecido dos escritores cristãos antigos, mas foi descoberta na
íntegra apenas no século passado. É uma obra escrita na Síria entre 40 e 140 d. C.
O Evangelho de Pedro trata exclusivamente da história da paixão e da
ressurreição de Jesus. Segundo Bart Ehrman, ele foi utilizado como escrituras em
algumas igrejas no século II. O Evangelho de Maria apresenta Jesus conversando com
seus discípulos e Maria Madalena tem um papel de liderança entre eles. Os fragmentos
gregos deste evangelho são do século II.
O Evangelho de Filipe é uma coleção de homilias utilizadas como instrução para
batismo. O manuscrito copta deste texto é do século IV. O autor se concentra no sentido
dos sacramentos. O Evangelho da Verdade é um tratado da biblioteca de Nag Hammadi
e tem este título porque fala da boa nova da revelação de Deus através do conhecimento
que salva através de Jesus Cristo. Ele deve ter sido escrito antes de 180 d. C.
O Evangelho do Salvador é uma narrativa sobre as últimas horas de Jesus, ou
seja, sobre sua paixão. Ele foi escrito provavelmente no século II utilizando antigos
escritos cristãos. O Evangelho da Infância de Tomé procura preencher as lacunas
deixadas pelos canônicos sobre a infância de Jesus. Ele conta vários episódios da
infância de Jesus, inclusive, travessuras. O texto circulou na primeira metade do século
II. E por fim, o Proto-Evangelho de Tiago se concentra na vida de Maria até o
nascimento de Jesus. Ele traz informações sobre os nomes dos avós de Jesus e o nome
de seus irmãos. Esse texto circulou por volta de 150 d. C.
Considerações finais
Referências
EHRMAN, Bart D. Lost Scriptures: Books that Did not in to the New Testament.
Oxford/New York: Oxford University Press, 2003.
VAN OS, Lubbertus Klaas. Baptism in Bridal Chamber: the Gospel of Philip as a
Valentinian Baptismal Instruction. University of Groningen, 2007.
Introdução
Considerações finais
Referências
CHAVES, Julio César Dias. The Nag Hammadi Apocalyptic Corpus: Delimitation and
Analysis. Québec: Université Laval, 2007.
EHRMAN, Bart D. Lost Scriptures: Books that Did not in to the New Testament.
Oxford/New York: Oxford University Press, 2003.
Introdução
Além dos Atos dos Apóstolos do Novo Testamento, existem muitos outros
textos antigos com o título de “atos”. Eles contam a história dos apóstolos. São vários e
alguns não recebem necessariamente o título de atos. Os atos são texto narrativo de
gênero literário similar ao romance.
A lista que apresentamos neste pequeno artigo contém apenas partes desses atos,
muitos outros são encontrados.
A seguir elencamos alguns atos apostólicos: Atos de João, Atos de André, Atos
de Paulo, Atos de Pedro, Atos de Tecla e Atos de Tomé. Comentaremos um pouco
sobre cada um deles.
Os Atos de João descrevem as viagens de João na Ásia Menor e seus milagres. É
um texto atribuído a Leukoios Karinos e foi escrito provavelmente no século II. Os Atos
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Considerações finais
Referências
ADRIANO FILHO, José. Atos Apócrifos dos Apóstolos: Subversão para com o Império.
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. 217.
FARIAS, Jacir de Freitas. A Vida e Atos dos Apóstolos: segundo Atos Apostólicos
Apócrifos. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-
ims/index.php/Ribla/article/.../5556 Acesso em 06 dez. 2017.
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1. Introdução
Na mesma seção, aparece uma segunda citação anônima que pode ser atribuída
ao Evangelho de Eva:
“Eu vi uma árvore que produz frutos doze vezes por ano, e ele
me disse: “Essa é a Árvore da Vida”” tradução nossa. (Panarion
26. 5,1).
Referências
Didaquê, capítulo 1:
Os dois textos usam a metáfora dos dois caminhos para introduzir orientação
moral e em seguida lista vícios e virtudes.
REFERÊNCIAS
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1. Introdução
1. ] Minha mã[e
2. ] Tr[ês
3. ]...[
4. ] Adiante
5. ] intraduzível [
Testes revelaram que o papiro é antigo. Uma das datas sugeridas foi 741 d. C. A
língua do texto é o copta saídico. O gênero é o diálogo entre Jesus e seus discípulos.
O texto pode tratar de uma discussão sobre o lugar da mulher na Igreja Primitiva
como ocorre no logion 114 do Evangelho de Tomé. Neste evangelho, Pedro repreende
Maria por estar no meio dos discípulos. Mas Jesus diz que vai torná-la macho para que
possa entrar no Reino do Céu. A discussão que parece ser a mesma do GJW Papyrus é
sobre a dignidade da mulher e seu lugar na comunidade cristã.
A afirmação da primeira linha é sobre a maternidade. A palavra (“minha
mãe”) aparece duas vezes. Em seguida, assim como no logion 114 alguém questiona
sobre se Maria é digna de algo. A afirmação da linha 5 vem esclarecer o assunto “ser
discípulo”. A declaração de que Maria pode ser discípula é uma afirmação de Jesus.
Porém, a expressão mais provocadora é “Jesus lhes disse: ‘Minha esposa’” (linha
4).t quer dizer “minha esposa”. s significa “mulher, fêmea, esposa”. A
conversa parece acontecer sobre ou dentro de um contexto familiar porque se fala de
“minha mãe” e “minha esposa”. Além deste evangelho, o Evangelho de Filipe identifica
Maria Madalena como a “companheira” de Jesus. O conflito de aceitação
de Maria repete também no Evangelho de Maria. Levi aconselha Pedro a aceitar Maria
como discípula porque o Salvador a tornou digna e a amou mais do que os outros
discípulos.
Portanto, a discussão sobre a dignidade da mulher no discipulado é um conflito que
ocorre em três evangelhos: do GJW Papyrus, de Maria e de Tomé. O pivô da disputa é
Pedro (Evangelho de Tomé, Evangelho de Maria). No Evangelho de Tomé, o
argumento de Pedro é a dignidade da mulher em pertencer ao discipulado e herdar o
Reino dos Céus. A palavra dignidade aparece também no GJW Papyrus. Mesmo com a
rejeição dos discípulos, Jesus reconhece a dignidade da mulher.
Referências
[1] O tradutor deduziu a palavra “vida” da sílaba inicial que aparece no manuscrito &&&
[2] A possível negação na frase deduz-se da vogal que aparece no manuscrito que pode ser início
da palavra “não”, em copta &
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Introdução
1
O outro dos dois ricos perguntou a Jesus: Bom mestre, o que
devo fazer de bom para viver? Jesus respondeu-lhe: “Homem
bom, cumpre a Lei e os Profetas!” O rico respondeu-lhe: “É isso
que pratiquei”. Então Jesus o desafiou: “Vai, vende tudo o que
possuis, distribui-o aos pobres e depois vem e me segue!” Mas o
rico coçou a cabeça, pois o desafio não lhe agradava. O Senhor
perguntou-o: “Como podes dizer que praticaste a Lei e os
Profetas? Na Lei está escrito: Amarás o próximo como a ti
mesmo. E muitos dos teus irmãos, filhos de Abraão como tu,
estão cobertos de andrajos e morrem de fome, enquanto tua
está repleta de bens; nada sai dela para eles! E, dirigindo-se a
seu discípulo Simão, que estava sentado a seu lado, Jesus
prosseguiu: “Simão, filho de João, é mais fácil um camelo
passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino
dos céus”.[2]
São exemplos de que o EvN tem uma redação própria, tratando-se de uma obra
original. Mas não temos como saber até que ponto é dependente ou não do Evangelho
de Mateus.
Considerações finais
Referências
EHRMAN, Bart D. Lost Scriptures: Books that Did not in to the New Testament.
Oxford/New York: Oxford University Press, 2003, p. 9.
[1] EHRMAN, Bart D. Lost Scriptures: Books that Did not in to the New Testament. Oxford/New York:
Oxford University Press, 2003, p. 9.
[2] ZILLES, Urbano. Evangelhos Apócrifos. Porto Alegre: EDIPUCRS, p. 243.
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“E o presbítero dizia isto: Marcos, que foi intérprete de Pedro, pôs por
escrito, ainda que não com ordem, o quanto recordava do que o Senhor havia
dito e feito. Porque ele não tinha ouvido o Senhor nem o havia seguido, mas,
como disse, a Pedro mais tarde, o qual transmitia seus ensinamentos segundo
as necessidades e não como quem faz uma composição das palavras do
Senhor, mas de tal forma que Marcos em nada se enganou ao escrever
algumas coisas tal como as recordava. E pôs toda sua preocupação em uma
só coisa: não descuidar nada de quanto havia ouvido nem enganar-se nisto o
mínimo.”[1]
A autenticidade da obra de Marcos é garantida por ele ter ouvido Pedro e através
das recordações do apóstolo, o evangelista não se enganou e nem descuidou de nada que
Jesus fez e ensinou.
Os escritos de Pápias são importantes para história da transmissão das memórias
de Jesus e os evangelhos. Bauckham sugere que Pápias escreveu um texto similar aos
evangelhos, alguma coleção de ditos de Jesus, a partir de outros evangelhos ou a partir
de fontes orais. Ou poderia ser somente um comentário sobre as tradições sobre
Jesus.[2] Se existiu um “Evangelho segundo Pápias”, ele ficou perdido.
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Referências
BAUCKHAM, Richard. Papias and the Gospels. Disponível
em:http://austingrad.edu/images/SBL/Papias%20and%20the%20gospels.pdf . Acesso
em 08 dez. 2017.
CESAREIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 2002, p. 74-
75.
[1] CESAREIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 2002, p. 74-75.