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ADMINISTRAÇÃO DO
SETOR PÚBLICO
ADMINISTRAÇÃO
DO SETOR PÚBLICO
A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é dos autores. O conteúdo desta obra foi licenciado
temporária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através
da UFPI. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a
reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos
acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização
expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no
Código Penal.
O texto que ora apresentamos aos alunos do curso de
Administração do Programa de Educação a Distância da Universidade
Aberta do Piauí (UAPI) versa exclusivamente sobre a concepção da
atividade administrativa circunscrita ao setor público, ou seja, ao setor
de atividades administrativas cuja dinâmica é orientada pelo interesse de
toda uma coletividade, em conformidade com os princípios que regem a
forma de governo republicana.
O tema administração do setor público aponta para a importância
do conhecimento acerca da gestão pública na compreensão global da
evolução das sociedades locais, regionais, nacionais e internacionais,
enfim, do mundo em transformação em que vivemos; e cada vez mais
interligado. A disciplina administração do setor público, portanto, foi
concebida para tratar de assuntos que desde o início busca identificar
as suas caracterizações mais evidentes em comparação com a
administração do setor privado. Contudo, não se pretende diferenciar
esses dois setores de forma dicotômica, mas compreender as formas
de interação em que eles são submetidos no curso real das relações
comerciais, industriais e financeiras, por um lado, e das relações sociais
e políticas, por outro, que se verificam entre as civilizações, nações,
uniões monetárias e aduaneiras, coletividades, grupos e indivíduos.
Daí a importância em se compreender o papel que a administração
pública desempenha no controle social, na distribuição de renda, na
prestação de serviços, atos administrativos e legais e na oferta de bens
coletivos. Esse papel, no entanto, carece de maiores explanações,
uma vez que é necessário situar a administração pública no âmbito
sociopolítico do Estado e do Governo. Significa dizer que qualquer
tentativa de compreender a administração pública de forma isolada
resultará em fracasso de compreensão de sua dinâmica interdependente
em relação ao instituto do Estado e ao instituto do Governo.
Além do mais, a conjuntura sociopolítica e econômica atual do país,
em plena fase de expansão de sua economia, assim como a sua posição
como player global no mercado transnacionalizado, tem compelido
o governo federal a abrir concursos para o preenchimento de cargos
vagos e/ou especialmente criados para dar conta das novas exigências
administrativas ditadas pelo Estado, em resposta às demandas internas
e externas da nação brasileira.
Assim sendo, procuraremos retratar o quadro estrutural e
funcional da gestão pública no país, sem perder de vista, no entanto, o
momento de transição nos fundamentos do próprio sistema capitalista
e as condições gerais das nações em vista da grande crise financeira e
econômica mundial e seus subsequentes desdobramentos históricos. O
alcance desses objetivos explanatórios, obrigatoriamente, passa por uma
abordagem eclética, transdisciplinar, que contemple a articulação entre
distintas áreas do conhecimento: a Economia (Geral e do Setor Público),
a História, a Sociologia, a Ciência Política, a Ciência Administrativa e o
Direito Público Interno (Constitucional e Administrativo).
A título de indicações gerais sobre o assunto em tela, seguem-se
as temáticas gerais que a disciplina em apreço exige, distribuídas em
três unidades, a saber:
Unidade 1 – Fundamentos Históricos-Conceituais da Administração;
Unidade 2 – Fundamentos Técnico-Operacionais do Setor Público;
Unidade 3 – Setor Público: gestão pública, políticas públicas e os
desafios da construção da nova ordem social mundial.
UNIDADE 1
09 Fundamentos Históricos e Conceituais da
Administração
Conceito de Administração 11
Falhas do Sistema de Mercado e o Setor Público 14
Componentes do Setor Público: Estado, União,
Governo, Administração Pública 23
Princípios e Poderes da Administração Pública 57
Modelos de gestão administrativa 63
UNIDADE 2
77 Fundamentos Operacionais do Setor Público
Gestão Pública 77
Financiamento do Setor Público 79
Gestão Orçamentária 82
A Nova Administração Pública 90
Perfil do Gestor Público 93
UNIDADE 3
105 Setor Público: gestão pública, políticas
públicas e os desafios da construção da
nova ordem social mundial
Gestão Pública e Gestão Privada 105
As Políticas Públicas 111
Estado e Capitalismo Global 120
UNIDADE 01
Fundamentos
históricos e Conceituais
da Administração
objetivos
• Definir a administração;
• Conceituar os aspectos básicos da Política associados ao Setor Público;
• Apresentar as justificativas econômicas para a intervenção do Estado no Mercado;
• Explicar acerca do funcionamento do Poder Público na Sociedade: a relação dialética
entre a Administração Pública e os institutos do Estado e do governo;
• Expor os princípios, poderes e modelos da Administração Pública Brasileira.
10 UNIDADE 01
Fundamentos
históricos e conceituais
da administração
Conceito de Administração
12 UNIDADE 01
funcional e capacidade de gestão, independentemente de sua área de
atuação ou nível hierárquico. Trata-se do corpo dirigente ou governante
(superiores hierárquicos) que, por sua vez, implica na oposição de corpo
dirigido ou corpo de governados (subordinados).
Tomando como exemplo uma família operária, formada por pai,
mãe e um casal de filhos, nós podemos identificar os pais como o corpo
dirigente e os filhos como corpo dirigido. Porém, no interior de cada uma
dessas classificações, é possível identificar distinção de autoridade,
logo, de posição ou status. Uma variedade de formas de relação de
subordinação existe entre pai e mãe, irmão (homem) e irmã (mulher),
irmão mais velho e Irmã mais nova, com base no poder econômico, no
magnetismo pessoal de cada um e na tradição e costume.
Observa-se uma singela divisão social do trabalho, expresso
por uma acanhada divisão de tarefas, responsável pela manutenção
e estabilidade da organização familiar, em que cada um dos membros
exerce o seu papel conforme a expectativa gerada pelo próprio grupo a
que pertence. Assim, cabe aos pais prover as condições que garantam o
bem estar dos filhos, assim como a educação e formação cívica, de modo
a ampliar o seu círculo de relações sociais.
Aos filhos, por sua vez, cobra-se o respeito à autoridade dos pais.
Ocorre que, no exercício da autoridade familiar, os pais se convertem em
responsáveis pela coordenação dos papéis de cada um dos membros da
família em torno de um objetivo comum: a estabilidade socioafetiva e a
harmonia organizacional, expresso pelo bem estar de todos. A família,
enquanto organização, para subsistir necessita interagir com outras
organizações na sociedade. Pelo menos um dos pais precisa arranjar
meios de obter o sustento da família. Em troca deste último, vende sua
capacidade de trabalho, uma vez que é destituído dos meios de produção,
ou seja, não é proprietário de fábrica, estabelecimento comercial ou
instituição financeira, vivendo exclusivamente de seu salário.
Em termos administrativos, os pais, ao tomarem decisões,
cumprem as funções de planejamento, organização, direção e controle
dos recursos disponíveis de modo a atingir finalidades específicas que
assegurem a satisfação das necessidades familiares – fisiológicas (fome
e sede), de segurança (procriação e proteção contra a carestia), sociais
(amor/sentimento de pertencer a grupos variados, participação social e
política), de autoestima (posição social, reconhecimento e credibilidade)
e de autorrealização (maximização de potencial próprio, enfrentamento
de desafios) (MASLOW apud SANTOS, 2003; SILVA, 2006).
14 UNIDADE 01
realização de poupança doméstica e realização de pagamentos de
tributos (Sociedade/famílias).
Na Inglaterra do século XVIII, Adam Smith (1723-1790), principal
representante e criador da escola clássica e da própria Economia,
contribuiu para divulgar as ideias liberais do laisser-faire, laisser-passer
(deixar fazer, deixar passar). Em seu repúdio à interferência do setor público
sobre as atividades empresariais, fazia apenas algumas concessões
à intromissão do poder público no mercado quanto: à administração,
à justiça, aos serviços públicos, à defesa nacional, à manutenção da
soberania do país, assim como a toda empreitada que não fosse lucrativa
para os donos de empresas privadas, mas que deveriam se constituir
em empreendimento do setor público devido a sua importância para a
sociedade em geral.
Tinham por objeto a crença na capacidade de autorregulação do
mercado, fundado na defesa da liberdade e na crença no individualismo,
em que, motivados por um egoísmo natural, os empresários tendem a
buscar vantagens ou benefícios pessoais. Assim fazendo, eles concorrem
para a estabilidade e manutenção da sociedade via mercado. O que
os motivam é o desejo de auferir lucro. Ao persegui-lo, promovem a
harmonia social. Esta forma de pensar expressa a base teórica da escola
econômica clássica, e que se escora nos pressupostos da “harmonia
de interesses” e da ordem natural e providencial – a “mão invisível” do
mercado.
Concepções e intenções que a vida moderna dos grandes
centros urbanos e os desafios trazidos por ela trata de desmoralizar,
demonstrando a importância do setor público para o exercício das funções
de alocação de recursos (nas situações em que o mecanismo de ação
privada (sistema de mercado) mostra-se ineficiente: investimentos
em infraestrutura econômica e provisão de bens públicos (rodovia,
iluminação, segurança nacional), bens meritóricos ou semipúblicos
(educação, saúde e desenvolvimento), de distribuição da renda e da
riqueza (redistribuição de renda cujo processamento se verifica mediante
transferências, impostos e subsídios governamentais; o orçamento
público constitui o mais importante instrumento para a concretização
das políticas públicas de distribuição de renda), e de estabilização
econômica (emprego de instrumentos de política econômica (juros, taxas
de câmbio, impostos e gastos públicos em geral) visando à promoção e
manutenção de elevado nível de emprego, da estabilização dos níveis
de preços, do equilíbrio da balança de pagamentos e de expressiva taxa
16 UNIDADE 01
do que as expectativas de lucro).
Como a sociedade necessita de tais bens e serviços, e o setor
privado não tem interesse em produzi-los e ofertá-los, caberá tal
responsabilidade ao setor público. Quando este último se encarrega de
produzi-los e ofertá-los para todos os indivíduos, independentemente
daqueles que têm condições de pagar, os bens e serviços são
denominados bens públicos puros (bens sociais, coletivos ou indivisíveis),
assim chamados porque seus preços não são formados através do
sistema de mercado. Logo, a eles não se aplica o direito de propriedade
nem o princípio da exclusão, e por essa razão são caracterizados como
bens não-exclusivos, isto é, o seu consumo por vários indivíduos não
implica na diminuição da quantidade de consumo para os demais, em
que nenhum dos consumidores pode ser impedido de consumi-los, seja
rico ou pobre.
Além do mais, os bens públicos também são caracterizados
como bens não-rivais – o aumento de consumo pelos indivíduos não
tem influência no aumento dos custos de produção. É o caso da defesa
nacional. Somente o Estado tem condições de arcar com o custeio
das operações de segurança nacional, e o crescimento vegetativo da
população não se traduz necessariamente em aumento de despesa para
o erário público. Os indivíduos, por sua vez, não têm renda suficiente
para arcar com tal serviço, ou mesmo não estaria disposto a pagar pára
obtê-lo.
18 UNIDADE 01
contaminação de mananciais e de rios, tornando-os inadequados para o
consumo humano, e mesmo industriais, é um exemplo bem simples do
que é externalidade negativa.
É produto, esperado ou não, da operação de uma cadeia (ou
rede) de atividades produtivas que extrapolam os mecanismos de
controle de segurança, gerando consequências ambientais nefastas que
atingem o nível de bem-estar da população. Como o acidente tende a
provocar prejuízos ecológicos, econômicos, de saúde pública, etc., e a
responsabilidade pelo prejuízo é imputada à empresa poluidora, esta
pode fraquejar diante da perda de patrimônio e preferir furtar-se às suas
responsabilidades. É neste contexto que intervém o Governo, em nome
do Estado (União, Estados, Distrito Federal ou Municípios). E para isso
lança mão do poder de polícia, ou seja, da prerrogativa constitucional
de ação coercitiva, fiscalizadora e investigativa, baseado no princípio da
legalidade.
A pré-condição para a ação incisiva e legal do Estado no sentido
de coibir práticas e condutas de risco é a vigência de legislação ambiental
que tipifique e discipline os casos de transgressão às suas cláusulas.
A economia de escala determina a redução dos custos de
produção dos bens e serviços, resultando na aplicação da alta tecnologia
articulada à especialização e à divisibilidade (produção de bens privados
puros que são rivais e exclusivos, pois a ela se aplicam tanto os direito
de propriedade quanto o princípio de exclusão: o consumo simultâneo
de vários indivíduos implica na redução da quantidade disponível de
consumo para terceiros e na majoração dos custos dos bens e serviços
consumidos).
Assim, as empresas que obtém ganhos de produtividade em
função da adoção de novas tecnologias conseguem decréscimos nos
custos de produção dos bens e serviços demandados pela sociedade,
levando à concentração do mercado. A concentração do mercado, por
sua vez - seja enquanto monopólio/monopsônio (um único vendedor/um
único comprador) ou oligopólio/oligopsônio (poucos vendedores /poucos
compradores) -, leva à exclusão das empresas que não conseguiram
manter-se no mercado, ou seja, à sua falência. Mas como o mercado
é imperfeito, a falta de gerência do poder público no sentido da sua
regulação é inteiramente justificável, pois busca impedir, através de
mecanismos legais associados ao direito econômico que haja uma
competição selvagem entre os agentes econômicos e financeiros. No
Brasil, é o caso do Conselho Administrativo de Defesa Econômica,
20 UNIDADE 01
As áreas de jurisdição entre o setor público e o setor privado
nem sempre são bem demarcadas. O sistema econômico cada vez
mais globalizado em que vivemos é descrito como sistema capitalista
global – ou modo de produção capitalista, ou mesmo formação
socioeconômica capitalista –, que, por sua vez, é fundado nos direitos
de propriedade e no livre mercado.
Assim sendo, numa economia de livre mercado, o grosso da oferta
por bens e serviços aos consumidores no mercado de consumo é realizado
pelas empresas do setor privado. No entanto, dada a complexidade da
produção econômica, o setor público logo é convocado para influir no
jogo livre do mercado, devido a uma série de distorções operacionais,
concorrenciais e distributivas que se manifestam na sociedade. E quando
busca influir na atividade econômica, de modo a impulsioná-la, o faz a
partir das seguintes funções governamentais: produção de bens e serviços
públicos; promoção do desenvolvimento socioeconômico; redistribuição
da renda e da riqueza nacional; estabilização da atividade econômica;
regulamentação e controle da atividade econômica.
A economia do século XX tem como uma de suas características
mais destacadas o crescente aumento das despesas públicas. Várias
correntes do pensamento econômico dedicaram-se ao tema das
despesas públicas e, por extensão, ao tema do aumento da participação
do Estado na economia. Adolf Wagner, economista alemão, por ocasião
da década de 1880, elaborou a Lei do Crescimento Incessante das
Atividades Estatais, cujo enunciado básico expõe que, na medida
em que o nível de renda dos países industrializados cresce, o setor
público cresce a taxas incomparavelmente mais altas, de sorte que a
participação relativa do Governo no sistema de mercado cresce com o
ritmo de crescimento da economia nacional. A supracitada Lei, também
conhecida como Lei de Wagner, foi comprovada por Richard Bird, que
distingue três causas determinantes da tese postulada por Wagner com
relação ao crescimento das despesas públicas, a saber: o crescimento
das funções de administração e de segurança; as crescentes demandas
por um maior nível de bem-estar social, com destaque para a educação
e para a saúde; e maior intervenção, direta e indireta, do Governo, no
âmbito do processo produtivo.
O crescimento das despesas do setor público é resultante do
aumento das intervenções governamentais no sistema de mercado,
concebidas de modo a prevenir eventuais excessos de monopolização
de algumas parcelas do setor privado. Assim, a amplitude da ação do
22 UNIDADE 01
Governo é altamente estratégica. Mais adiante (2ª Unidade) trataremos
do tema tributação.
O setor público é estranho às motivações e à lógica das relações
comerciais, porém é visceralmente ligado ao poder político e seus
princípios de base: legitimidade política e legalidade jurídica. Assim,
o Estado é a instância do poder soberano; o Governo, a instância de
planejamento e decisão estratégica; e a Administração Pública, a
instância de execução e planejamento tático e operacional das diretrizes
governamentais, sejam elas políticas de Estado ou políticas de Governo.
É o que veremos a seguir.
Conceitos preliminares
24 UNIDADE 01
manipulação das pessoas, como se estas
fossem marionetes (fantoches), que são
animadas e por cordões (visíveis e invisíveis)
se prendem às pessoas (através de influência,
chantagem, opressão, etc.) de modo a induzir
a adoção de certos comportamentos dirigidos
(condutas ou atitudes impostas uns aos outros,
institucionalmente ou não).
A dupla consenso/conflito equivale a
dupla acordo/desacordo. Elas representam
Fonte:fotosearch.com.br dois momentos sociais distintos: o da
convergência de pontos de vista e interesses,
fundamento de estabilidade da vida em grupo (coesão grupal), e seu
oposto, o da divergência, fundamento de mudança da vida coletiva
(desagregação de institutos, costumes, valores). O consenso se baseia
em processos sociais associativos, tais como a cooperação (condutas
de auxílio-mútuo), a acomodação (predisposição a seguir regras) e a
assimilação (conscientização de valores e concepções morais típicos da
cultura de uma dada sociedade). O conflito, por seu turno, baseia-se em
processos sociais dissociáveis, tais como a oposição (cisão de interesses)
e a competição (concorrência pelos bens escassos na sociedade), que
levada às últimas consequências pode resultar num fenômeno de ruptura
de tecido social e subseqüentes desdobramentos em cadeia.
No geral, o que se observa é a combinação e/ou alternância desses
momentos no próprio seio da sociedade – momentos de consenso são
combinados e alternados com momentos de conflito, como num pêndulo.
Mas existem os consensos de base, tais como o consenso explícito de uma
nação em torno do direito de governar segundo os limites constitucionais.
É nessa busca de equilíbrio da relação dialética consenso/conflito
que somos confrontados com o fenômeno do poder e seus subprodutos
(a construção da ordem social, econômica e política; regulação de
conflitos entre os grupos de interesse, regime de circulação das elites,
etc.). O poder, enquanto fenômeno político típico da ação humana,
somente existe e se mantém no curso das relações sociais gerais que
se estabelecem entre os indivíduos, e que vão se ampliando a ponto de
constituir uma rede de relações sociais ou rede social. Em cada uma
dessas relações é possível de se constatar manifestações do poder. São
as chamadas relações de poder entre marido e mulher, entre pai e filho,
entre dois adversários, entre professor e aluno, entre sindicatos patronais
26 UNIDADE 01
algo que se exerce e que funciona. Por isso dizemos que o poder é
um fenômeno sociopolítico que somente existe num meio social de
desigualdade em termos de capital político.
Em termos espaciais, o poder situa-se no centro (instituições
políticas) e na periferia (relações de poder vigente em quase todas as
relações sociais), no âmbito macro (as grandes organizações do Estado,
as relações Estado/Sociedade Civil, as relações internacionais, o mercado
mundial, etc.) e no âmbito micro (as pressões sociais pela realização
de políticas públicas em conformidade com suas reivindicações por
recompensa; as relações de trabalho no chão da fábrica ou no interior
de um organismo governamental, por exemplo). Mas aqui o que nos
interessa é o poder associado ao Estado, ao Governo e à Administração
Pública, logo, considerar o poder a partir do centro e no curso de uma
análise estrutural (macro perspectiva).
É nesse ponto que os fenômenos associados ao poder desembocam
nos conceitos de autoridade e de dominação. A autoridade é um atributo
institucional que supõe a dominação, posto que o subalterno, sob o
comando daquele que se situa em posição hierárquica superior, vê-se
obrigado ao exercício de suas funções administrativas. É a essa relação
administrativa entre chefia e subalternidade no cumprimento de seus
deveres legais que nomeamos por atividades puramente administrativas.
Porém, qualquer ato praticado por um agente público no curso de suas
atividades administrativas regulares é classificado como ato de autoridade
– uso do poder institucional para fins exclusivamente administrativos ou
associados a cargos, serviços e atividades públicas e privadas praticado
por pessoa investida de parcela do poder do Estado.
O conceito de dominação se confunde com o de poder e o
de autoridade exatamente porque o tema de que tratam (relações
políticas) é, por definição, polissêmico e limítrofe. O próprio Max Weber
(1999) chega a utilizar em alguns contextos explicativos o conceito de
dominação como sinônimo do conceito de poder, isto é, a dominação
enquanto “sentido muito geral de poder” ou “um caso especial de poder”.
O mesmo se aplica a uma diversidade de estudiosos (LEBRUN, 1983;
STOPPINO, 2000). De resto, a dominação (herr = dominus = senhor) é
definida como “a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem
de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis”
(WEBER, 1999, p. 33).
Weber concebe dois tipos radicalmente antagônicos de dominação
– a dominação em virtude de uma constelação de interesses
28 UNIDADE 01
de competência especializado ou órgão administrativo, formalmente
instituído e mantido.
Quanto às parecenças da noção de autoridade com a noção de
poder, somente nos resta dizer que a autoridade é uma prerrogativa
de domínio formal na administração pública, enquanto que o poder é
um atributo de domínio informal que se estabelece no jogo do contato
entre os indivíduos no curso de suas atividades administrativas. Não
se esquecendo, no entanto, que esse jogo de contato ou de interesse,
não é apenas regulado pela estrutura de normas dos regimentos,
estatutos e textos constitucionais (racionalidade formal), mas também
pelo magnetismo da atração e da simpatia mútuas e pela identidade de
sentimentos de pertença ao grupo (racionalidade substantiva).
Em geral, a legitimidade é derivada do consenso manifesto
representado pelo apoio das massas eleitorais. Por essa razão a
legitimidade constitui um atributo do Estado que se baseia na construção
política de um consenso, fator indispensável à garantia da obediência
(momento do consenso), independentemente do uso da força (momento
da coerção). Desse modo, “a crença na Legitimidade é, pois, o elemento
integrador na relação de poder que se verifica no âmbito do Estado” (LEVI,
2000, p. 675). Ela supõe necessariamente a noção de governabilidade.
A soberania, por sua vez, é uma condição política que supõe a
autodeterminação dos estados nacionais. Sob o ponto de vista jurídico-
político, o conceito de soberania é de exclusividade dos Estados nacionais,
sejam eles unitários ou federais (a União). E em contraponto, temos o
conceito de autonomia. Logo, à União cabe a soberania indispensável
para representar o Estado Federal na celebração de tratados ou acordos
internacionais; aos estados federativos ou subnacionais, resta apenas
a prerrogativa da autonomia, dentro dos limites legais inscritos na
Constituição Federal.
Concluindo essa tarefa didático-pedagógica relativa a conceitos
por demais úteis na apresentação do conteúdo da disciplina em apreço,
convém precisar que todos esses pares de conceitos oscilam ou orbitam
em torno do par principal: força e poder. Logo, é com referência à noção
de poder que Max Weber classifica os tipos puros de dominação e/ou de
autoridade. E os designam como tipos puros devido ao fato de que em
nenhuma sociedade histórica e empírica se verifica com exclusividade
um desses tipos. É mais provável que haja o predomínio de um sobre
os outros, sobretudo nas sociedades contemporâneas, que adotam o
modelo racional-legal. Assim, a estrutura de poder se fundamenta nas
30 UNIDADE 01
de mando sejam detidos por um ou mais agentes. Logo, fica patente
que o tipo de dominação legítima que caracteriza as organizações
governamentais na modernidade, segundo a nomenclatura Weberiana,
é a dominação racional-legal ou burocrática. Ou seja, a burocracia é o
aparelho administrativo do Poder legal.
A dominação do homem pelo homem ainda é uma constante nas
interrelações sociais. A própria dominação em si constitui um exemplo
cabal de desigualdade social, pois quem domina postula privilégios,
cuja valorização e manutenção são responsáveis pela continuidade
de determinada situação sócio-histórica – o status quo vigente. E para
dirimir os excessos dessa relação de dominação que é tão comum à
espécie humana quanto à própria Natureza criam-se instituições ou
organizações que terminam por convergir e se converter em várias
formas de soberanias até aportar no modelo de organização política que
modernamente chamamos de Estado.
32 UNIDADE 01
Assim, o núcleo do conceito de Estado Federal é a existência
da subdivisão regional de coletividades políticas autônomas e a própria
União que os representam, configurando uma federação ou Estados
federados. Logo, o Estado Federal possui soberania nacional e
internacional, isto é, não se subordina a nenhum outro poder temporal ou
espiritual, enquanto o Estado como unidade da federação possui apenas
autonomia, a qual somente é reconhecida a partir do cumprimento dos
pressupostos da autonomia federativa constante nos artigos 18 e 42 da
Constituição Federal, a saber: a existência de órgãos governamentais
próprios (órgãos independentes de seus correlatos a nível federal no
tocante à seleção e investidura de cargo administrativo); e a posse de
competências exclusivas.
Assim, o Estado brasileiro é concebido como República Federativa
do Brasil. Daí provém o próprio sentido que exprime a forma de governo,
ou seja, a Forma de Governo Republicana. No item que disserta sobre
o instituto do Governo, explanaremos com mais vagar o tema.
Como já vimos, o poder estatal é, ao mesmo tempo, uno,
indivisível e indelegável. Porém, este poder estatal é extensível ao
exercício simultâneo de três ordens de poderes (órgãos) com suas
respectivas funções administrativas, a saber: Executivo, Legislativo
e Judiciário. A diferenciação destas três funções constitucionais do
Estado é determinante na compreensão daquilo que permite distinguir
Administração Pública (stricto sensu) em relação ao Governo. Tais
funções podem ser classificadas em funções próprias ou típicas e
funções atípicas.
Assim, a função típica do Executivo é administrar, o que inclui,
por um lado, a função de governo (atribuições políticas e decisão
estratégica), e, por outro, a função exclusivamente administrativa
(procedimentos de intervenção, fomento e serviço público). Já as funções
atípicas do Executivo são a legislativa (uso de medidas provisórias) e de
julgamento (contencioso administrativo). A função típica ou predominante
do Legislativo é legislar (elaborar normas jurídicas gerais e abstratas) e
fiscalizar os atos do Poder Executivo (fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial). As funções atípicas do Poder
Legislativo estão associadas aos processos de administração (quando
se pronuncia acerca de sua estrutura interna: criação de cargos
públicos próprios, etc.) e julgamento (ação do Senado da República
em julgar determinadas autoridades administrativas quanto aos crimes
de responsabilidade). A função típica do Poder Judiciário (função
34 UNIDADE 01
política de tipo historicamente delineado e criado na Europa ocidental,
que reivindica e logra com sucesso o direito ao monopólio legítimo de
uso do constrangimento físico, e se traduz pela forma politicamente
mais organizada e racional de gestão da vida social dos indivíduos em
determinada circunscrição territorial. Weber nos adverte que somente
podemos definir sociologicamente o Estado moderno em função dos
meios particulares que lhe são inerentes, o que de resto pode ser
aplicado a toda e qualquer associação política, como é o caso do uso
do constrangimento físico (meio específico), e não em função do que
faz ou deixa de fazer. Afinal, argumenta Weber, quase não existe tarefa
que uma associação política não tenha executado, assim como não
existe tarefa cuja execução tenha sido permanentemente de domínio
exclusivo a tais associações de caráter político, e que atualmente são
designadas por Estados, consistindo em formas históricas de dominação
não-institucional anteriores ao Estado moderno.
Logo, apoiando-se na afirmação textual de Trotski - “‘Todo Estado
fundamenta-se na coação’” -, Weber sentencia: a única fonte “jurídica” de
exercício da coação é o Estado, somente a ele cabe conceder, ou não, a
terceiros o direito de empregá-la. Além do mais, se todas as instituições
até aqui existentes nunca tivessem experimentado qualquer tipo de
violência ou coação inexistiria o conceito de “Estado”, e em seu lugar
apareceria o conceito de “anarquia”, no exato significado que o vocábulo
semanticamente sugere e encerra.
Nessa linha de análise, portanto, o Estado não pode ser definido
com base nos resultados que manifesta através de sua organização
institucional, ou seja, o Governo e a Administração Pública, mas com
base nos meios de que se instrumentaliza, onde o constrangimento físico
é apenas um meio, embora específico, dentre outros. Em outros termos,
definir o Estado em função do que realiza é perigoso por conta de duas
questões de ordem lógica – defini-lo pelo que faz significa dizer também
que ao deixar de fazer o que normalmente faz implica em vê-lo deixar de
ser o que é, ou seja, o Estado deixa de existir; e que qualquer entidade
que execute funções típicas de Estado deve ser identificada enquanto tal
(RUNCIMAN, 1966)
Runciman, admitindo, porém, que definir o Estado com base em
eventuais “finalidades” é temerário por demais, não concorda totalmente
com as consequências lógicas da proposição teórico-metodológica
Weberiana acerca da definição do Estado, mas reconhece que “(...) na
definição de Weber – que se baseiam antes nos meios – se um Estado
36 UNIDADE 01
são componentes integrantes que o Estado vai agregando em função
das circunstâncias históricas, onde as condições gerais de reprodução
das unidades produtivas, assim como seu grau de desenvolvimento e
diversificação, a estratégia de inserção no mercado global, os sistemas
de intermediação de interesses associados às correlações de forças
políticas dominantes e o vigor - ou a debilidade - dos sistemas de
representação e participação política que nele imprimem os sinais
de outra modalidade estatal: o Estado intervencionista (ou Estado-
onipresente). Portanto, essas três funções mínimas aludem ao Estado
conforme sua feição primeva, ou seja, alude ao Estado-protetor (Estado
liberal), enquanto que as justaposições de outras funções o identificam
como Estado-providência (Estado social); logo, o Estado pode abdicar de
funções típicas de mercado, deixando de intervir no meio econômico, e
mesmo no social, sem, no entanto, deixar de ser um Estado enquanto tal,
como advoga Bobbio (1999). O difícil é imaginar como isso poderia ser
efetivado radicalmente dado a irreversibilidade do Estado de bem-estar
social.
Retornando a Weber (1999), é evidente que sua conceituação por
si só nada elucida sobre as transformações do aparato estatal frente
às transformações históricas que ele próprio anteviu com lucidez ao
empreender a analogia entre a racionalidade que inere ao Estado - aquela
que consiste na rigidez das regras ritualísticas do processo burocrático
- e a racionalidade que se instaura no cerne do desenvolvimento
capitalista com respectivas, porém equivalentes, expropriações de
meios estrutural-funcionais internos; da mesma forma que nas unidades
produtivas capitalistas as forças produtivas (ou proletários) são privadas
da propriedade dos meios de produção, os funcionários que compõem a
estrutura burocrática também são privados da propriedade dos cargos que
ocupam e exercem dos meios materiais da organização administrativa e
para isso percebem remuneração sob a forma de salários.
Na construção da ordem moderna, dois movimentos paralelos
terminam por confluírem simbioticamente: o progresso rumo ao capitalismo
é fator de modernização da economia tanto quanto o progresso rumo
ao funcionalismo burocrático constitui fator de modernização do Estado
(WEBER, 1999). Ou seja, modernização econômica supõe modernização
estatal e vice-versa - “[...] historicamente o ‘progresso’ em direção ao
Estado burocrático [...] encontra-se em conexão muito íntima com o
desenvolvimento capitalista moderno” (WEBER, 1999, p. 530). Além de
que Estado nacional e capitalismo implicam-se mutuamente - um fertiliza
o outro.
38 UNIDADE 01
capitalista. Assim, o Estado capitalista procura manter permanentemente
as condições institucionais e estruturais favoráveis às relações de classe
típicas de uma sociedade que se apóia na valorização privada do capital
e no trabalho assalariado livre; e assim fazendo, protege os interesses
gerais da totalidade da sociedade. Uma vez feita essa observação, eis a
definição operacional de Offe (1994, p. 123-124; grifos originais), acerca
do Estado capitalista, concebido como uma forma institucional de poder
público em sua relação com a produção material. O conceito de Estado
capitalista, então, é compreendido mediante a articulação do que o autor
supracitado chama de as quatro determinações funcionais:
40 UNIDADE 01
por Joachim Hirsch (apud Carnoy, 1976), essa análises adquirem uma
tonalidade teórica consistente. Existem semelhanças e diferenças entre
as análises desses formuladores da teoria do Estado e da compreensão
do processo de reprodução/acumulação ampliada do capital. Malgrado
as diferenças de ênfases ou abordagens entre tais autores, importa-
nos tão-somente mostrar, através de suas contribuições teóricas, os
tipos de relações/interações verificadas entre o Estado e o sistema de
produção historicamente existente e hegemônico, cuja pujança reside
nas contradições do próprio processo de exploração sistemática que o
caracteriza no curso de seu desenvolvimento.
Offe centra a sua compreensão do Estado em função do seu
papel ao nível da esfera econômica, mais especificamente no processo
contínuo de acumulação de capital, ou seja, de extração de excedente e
da reprodução das relações de produção, assim como nas contradições
que se originam no âmbito do Estado, a partir do momento em que este
intervém no mercado, a fim de evitar as crises de acumulação – condição
de sua existência enquanto tal – que se refletem no próprio aparato
institucional estatal, conduzindo, por sua vez, a crises de legitimação.
Apesar de, por um lado, nos propiciar uma compreensão um tanto
quanto vaga, em termos comparativos, da teoria das transmutações com
relação à forma e às funções do aparelho do Estado, Offe, por outro lado,
nos propicia uma compreensão consistente e pormenorizada das “leis
de movimento do aparelho do Estado” em sua interação com a arena
econômica.
Se Offe, em suas análises, privilegia a intelecção das leis de
movimento do aparelho do Estado em suas vinculações com as relações
econômicas, Hirsch (apud CARNOY, 1976), por seu turno, privilegia
a intelecção das leis de movimento da acumulação de capital e as
respectivas influências diretas delas advindas sobre as formas e funções
do Estado, e naturalmente de seu caráter intervencionista que tende a
transformar-se paralelamente à transformação do caráter de acumulação
do capital, ou seja, o modo de funcionamento do Estado está diretamente
associado às crises no decurso do desenvolvimento capitalista – a
natureza das intervenções estatais depende das leis de movimento do
desenvolvimento capitalista.
Para Hirsch, as intervenções do Estado sempre ocorrem no
sentido de produzir contratendências à queda da taxa de lucros, ou seja,
na extração do excedente. Na medida em que a taxa de lucros tende
a decair, o Estado é acionado para reorganizar as condições gerais
42 UNIDADE 01
todos autônomos nos termos desta constituição.”
Embora a União exerça as prerrogativas da soberania do Estado
brasileiro, ao representar a República Federativa do Brasil no concerto
das nações, não se pode confundi-la com Estado Federal. A União é
apenas um dos componentes da República Federativa do Brasil, constitui
apenas uma dentre as quatro entidades federativas integrantes de uma
totalidade política que é o Estado federal - Estados, Distrito Federal e
Municípios.
O comportamento da União varia na medida em que se trate de
questões internas ou externas. Em relação ao ambiente nacional interno,
a União, enquanto entidade do Direito Constitucional, atua em seu próprio
nome e possui autonomia em relação aos demais estados-membros ou
federados. Em relação ao ambiente externo, que configura o campo das
relações internacionais, a União se apresenta como representante do
Estado Federal na chancela de atos de Direito Internacional. No entanto,
não cabe à União praticar atos inerentes ao Direito Internacional, pois
essa incumbência constitucional é atribuída ao Estado Federal, a única e
verdadeira pessoa jurídica de direito público internacional.
Assim, a República Federativa do Brasil é juridicamente
representada por um órgão da União, a Presidência da República, na
celebração de tratados ou acordos internacionais, conforme expressa
o artigo 21 da Constituição Federal, no que concerne à competência
da União, nas alíneas I (“manter relações com estados estrangeiros
e participar de organizações internacionais”) e II (“declarar a guerra e
celebrar a paz”).
Pode-se dizer que os conceitos de Estado Federal e República
Federativa do Brasil são sinônimos, o que não ocorre com o conceito
de União. E é a própria Constituição Federal que esclarece que esta
última é apenas um dos quatro componentes – porém o mais poderoso –
que caracterizam os conceitos acima, ao lado dos Estados subnacionais,
Distrito Federal e Municípios.
Em suma, União e Estado Federal não são uma coisa só, pois este
último constitui um organismo político que rege a federação mediante
estatuto político que veda o direito de secessão (o direito de separar-se
da União Federativa) e garante a supremacia dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário em relação aos poderes das demais entidades
da Federação, sobretudo em relação à cartilha de regras que apóiam
a soberania do Estado – a Constituição Federal. A assinatura de um
tratado internacional, por exemplo, levada a efeito pelo Ministério das
Governo
44 UNIDADE 01
200/1967, artigo 21), a saber: os Órgãos Centrais de Planejamento,
Coordenação e Controle Financeiro; e os Órgãos Centrais de Direção
Superior (Decreto-lei nº 200/1967, artigo 22).
Compete aos Órgãos Centrais de Planejamento (estabelecimento
das diretrizes e metas que nortearão a ação governamental), a
Coordenação (convergência das atividades administrativas no intuito
de conformá-las às diretrizes e metas de planejamento, de modo a
suprimir a duplicidade de atuação, a dispersão de recursos, assim como
a divergência de soluções) e ao Controle Financeiro (verificação do
cumprimento das finalidades, qualidade e rendimento na execução das
atribuições, assim como a observância das normas pertinentes; controle
da aplicação dos recursos públicos financeiros, bem como da guarda
dos bens da União) o assessoramento direto ao Ministro de Estado;
e, em função de suas competências específicas, sob representação e
direção do titular do Ministério, permita efetivar estudos que propiciem
a elaboração de diretrizes programáticas, assim como o exercício de
funções de planejamento, orçamento, orientação, coordenação, inspeção
e controle financeiro, por sua vez a cargo de uma Secretaria Geral e uma
Inspetoria Geral de Finanças (artigo 23).
O artigo 10, § 2º, do Decreto-Lei nº 200/67 é bastante explícito
quanto à natureza das atividades exercidas no cerne da estrutura central
de direção dos negócios do Estado, com se depreende a seguir:
46 UNIDADE 01
I. Assegurar a observância da legislação federal.
II. Promover a execução dos programas do Governo.
III. Fazer observar os princípios fundamentais enunciados no
Título II.
IV. Coordenar as atividades dos órgãos supervisionados e
harmonizar sua atuação com a dos demais Ministérios.
V. Avaliar o comportamento administrativo dos órgãos
supervisionados e diligenciar no sentido de que estejam
confiados a dirigentes capacitados.
VI. Proteger a administração dos órgãos supervisionados
contra interferências e pressões ilegítimas.
VII. Fortalecer o sistema do mérito.
VIII. Fiscalizar a aplicação e utilização de dinheiros, valores e
bens públicos.
IX. Acompanhar os custos globais dos programas setoriais
do Governo, a fim de alcançar uma prestação econômica de
serviços.
X. Fornecer ao órgão próprio do Ministério da Fazenda os
elementos necessários à prestação de contas do exercício
financeiro.
XI. Transmitir ao Tribunal de Contas, sem prejuízo da
fiscalização deste, informes relativos à administração financeira
e patrimonial dos órgãos do Ministério.
48 UNIDADE 01
diretivos e são dotados de ampla autonomia administrativa, financeira e
técnica (Ministérios, Secretarias de Estado, Advocacia Geral da União,
etc.).
Apesar de os órgãos superiores desempenharem atividades de
direção, controle e decisão, eles se subordinam ao controle hierárquico do
nível imediatamente superior (procuradorias, coordenadorias, gabinetes,
etc.).
Os órgãos subalternos incluem todos aqueles que desempenham
atribuições meramente executórias, que subordinam-se a diversos níveis
hierárquicos superiores e que dispõem de débil poder de decisão (seções
de expediente, pessoal, material, portaria, etc.).
Como vimos, os órgãos são centros de competência
despersonalizados criados especialmente para cumprir determinadas
funções do Estado por meio de um conjunto de agentes, os chamados
agentes públicos, que podem ser classificados, segundo Hely Lopes
Meirelles (apud ALEXANDRINO & PAULO, 2002) em agentes políticos,
administrativos, honoríficos, delegados e credenciados.
Os agentes públicos constituem o aparato técnico-intelectual dos
órgãos que integram a Administração Pública. A sua atuação social nos
organismos estatais, aos quais se perfila como representante, é decisiva
na realização dos planos e das diretrizes de ações governamentais.
Os agentes políticos são aqueles componentes que se posicionam
nos primeiros escalões do Governo cujas atribuições e responsabilidades
estão associadas às funções de direção, orientação e execução das
diretrizes de ação a serem estrategicamente seguidas. De modo geral,
os agentes políticos extraem a sua competência do texto constitucional;
subordinam-se a regras e foros especiais; são investidos em seus cargos
através de eleições, nomeações ou designações; e não são hierarquizados
(exceto o corpo de auxiliares imediatos dos titulares do Poder Executivo),
uma vez que sua atuação é disciplinada exclusivamente pela Constituição
Federal. Assim, são exemplos de agentes políticos os titulares do Poder
Executivo nas várias esferas da Federação (Presidência da República,
Governadores e Prefeitos), com seus respectivos auxiliares imediatos
(Ministros, Secretários Estaduais e Municipais), bem como os membros
constituintes do Poder Legislativo (Senadores, Deputados e Vereadores).
Em virtude de sua posição na cúpula governamental, os agentes políticos
integram a totalidade dos órgãos supremos e são regidos por princípios,
valores e normas emanados do Texto Constitucional (objeto do Direito
Constitucional).
50 UNIDADE 01
eles a responsabilidade por eventuais danos provocados a terceiros, a
chamada responsabilidade civil objetiva (art. 37, § 6º), e os submete ao
instituto jurídico do mandato de segurança como medida de proteção
do direito líquido e certo, quando impetrado em resposta ao abuso de
poder ou de autoridade cometido por “[...] autoridade pública ou agente
de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público” (art. 37,
LXIX; grifo nosso); além de ser responsabilizado nas práticas de crimes
contra a Administração Pública (Código Penal, art. 327). Na realidade,
os agentes delegados são apenas colaboradores do Poder Público,
na condição de concessionários, permissionários ou quem autoriza os
serviços públicos (empresas de comunicação e eletricidade; águas,
esgoto e saneamento, etc.), assim como tradutores públicos, leiloeiros
etc.
Os agentes credenciados são os agentes incumbidos da
Administração visando representar atos e desempenhar atividades
específicas com a devida retribuição pecuniária (pagamento por serviços)
realizada pelo Poder Público Credenciador.
Verificaremos agora, de forma comparativa, algumas das
características institucionais que distinguem Governo de Administração
Pública e vice-versa.
52 UNIDADE 01
O conceito de administração pública, além da classificação acima,
também pode ser classificado em: sentido material, objetivo ou funcional
e sentido formal, subjetivo ou orgânico.
O sentido material, objetivo ou funcional compõe o conceito de
administração pública (com iniciais minúsculas) enquanto conjunto
de atividades administrativas realizadas pelo Estado através de seus
órgãos e entidades. Logo, no sentido material, o destaque fica por
conta exclusivamente da natureza da atividade desenvolvida e o regime
jurídico que a rege. Essas atividades administrativas são classificadas
pela doutrina do Direito Administrativo em quatro modalidades: o fomento
(estímulo à iniciativa privada de interesse público, tal como a concessão
de benefícios e incentivos fiscais e o financiamento em condições
especiais); a polícia administrativa (poder de polícia capaz de limitar
o exercício dos direitos individuais em prol do interesse coletivo, tais
como a fiscalização fitossanitária e a concessão de licença); o serviço
público (atividade administrativa realizada direta e/ou indiretamente e
voltada para a satisfação das necessidades públicas) e a intervenção
administrativa (regulamentação e fiscalização da atividade econômica do
setor privado através de agências reguladoras, por exemplo).
O sentido formal, subjetivo ou orgânico, por seu turno, refere-
se à totalidade dos agentes (pessoas físicas titulares de cargos e
funções), órgãos (centros de decisão e de competência) e entidades
(pessoas jurídicas) criados para atingir os objetivos e metas do Governo
(Poder político). No sentido formal, Governo e Administração Pública se
justapõem – pelo menos parte desta, a cargo dos órgãos governamentais
ou supremos –, e se manifestam concretamente como resultante de
criações abstratas do Texto Constitucional e do imperium das leis. E
ambos os sentidos acima discriminados e descritos acerca da locução
Administração Pública são contemplados pela Constituição Federal em
seu artigo 37: no sentido formal, quando se refere à Administração Pública
direta e indireta dos Poderes da União, dos Estados e dos Municípios
como uma totalidade orgânica; e no sentido material, como exclusiva
atividade administrativa, quando expressamente se refere ao imperativo
da submissão desta aos princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência.
A Administração Pública, pois, se subordina ao Poder político,
constitui um meio operacional e se revela sob um duplo aspecto: como
complexo de órgãos sob orientação do Poder político (Administração
Pública enquanto sinônimo de Estado; sentido formal) e como sistema
Organização administrativa
54 UNIDADE 01
Administração através da desconcentração, da delegação de execução
do serviço público e da execução indireta das obras e serviços).
A Administração direta, centralizada, é constituída pelos
serviços que compõem a estrutura administrativa da Presidência da
República e dos Ministérios. Logo, inclui a pessoa política e os órgãos
administrativos que integram a administração Pública em seus vários
níveis. A Administração indireta, por seu turno, é descentralizada e
abrange 04 (quatro) categorias de entidades, cada uma delas dotada de
personalidade jurídica própria, a saber:
• Autarquias – entidades administrativas autônomas criadas
mediante lei específica, dotadas de personalidade jurídica
de direito público interno e de patrimônio e receitas próprios,
cujo propósito institucional-legal é a realização de atividades
típicas de Estado, cuja dinâmica, que visa a otimização de seu
funcionamento, exige o emprego de uma gestão administrativa
e financeira descentralizada (art. 5º, inciso I, Decreto-Lei nº
200/1967); são tuteladas e controladas pelos Ministérios a
que estão vinculadas e seus objetivos são os mesmos do
Estado, só que seu exercício ocorre sob a égide da autonomia
financeira, administrativa e disciplinar. Em suma, desenvolvem
atividades meramente administrativas ou de natureza social e
não atividades voltadas para o mercado, nas áreas de atuação
das sociedades de economia mista e empresas públicas
(entidades públicas de direito privado). Exemplos: Banco
Central do Brasil (BACEN); Comissão de Valores Mobiliários
(CVM); Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA), etc.;
• Fundações públicas – a exemplo das autarquias, possuem
personalidade jurídica de Direito Público interno. A instituição
de qualquer fundação é viabilizada graças à destinação de
um patrimônio privado a um fim específico, de caráter não
mercantil, o qual é orientado para a prestação de serviços
de cunho social: assistência social, assistência médico-
hospitalar, educação e ensino, pesquisa, etc. Existem algumas
similaridades entre as fundações públicas e privadas: ambas
possuem finalidades sociais e são organizações sem fins
lucrativos. As diferenças entre elas ficam por conta dos
seguintes critérios: quanto à figura do instituidor (as fundações
56 UNIDADE 01
administrativa (ou independência), condição fundamental para a garantia
do equilíbrio entre os direitos (ou interesses) do Estado, do consumidor e
do setor privado. São autarquias dotadas de regime jurídico especial que
desempenham atividades típicas de Estado – regulação e fiscalização.
Elas são classificadas em dois tipos: aquelas que exercem o poder de
polícia e aquelas que exercem o controle da atividade econômica
associada à concessão, permissão e autorização de prestação de
serviços públicos.
As entidades paraestatais são pessoas jurídicas de direito privado
que desenvolvem atividades similares às executadas pelas entidades
estatais, ou seja, atividades que são realizadas “paralelamente ao Estado”,
ou ao “lado do Estado”. As entidades paraestatais consistem em pessoas
jurídicas de direito privado que integram o Terceiro Setor (Primeiro
Setor: Estado; Segundo Setor: Mercado) e que agem paralelamente
ao Estado ao desempenhar ações sem fins lucrativos, podendo, pois,
serem classificadas em três tipos: serviços sociais autônomos
(prestação serviços de utilidade pública em prol de determinado grupo
social e/ou profissional: Sistema S: SESI, SESC, SENAI, SEBRAE, etc.);
organizações sociais (OSs, Lei 9.637/1998: prestação de serviços
sociais não exclusivos do Estado, sob incentivo e supervisão deste último,
cujo vínculo jurídico é chancelado através de um contrato de gestão
(ou acordo-programa) para a execução de atividades voltadas para o
ensino, pesquisa científica, proteção e preservação do meio ambiente,
cultura, saúde e para o desenvolvimento tecnológico, mediante certificado
de qualificação expedido por seu Ministério ou Órgão Supervisor); e
organizações da sociedade civil de interesse coletivo (OSCIPs ou
OSCs, Lei 9.790/1999: prestação de serviços sociais não exclusivos do
Estado, sob incentivo e supervisão deste último, cujo vínculo jurídico é
chancelado através de um termo de parceria, mediante certificado de
qualificação expedido pelo Ministério da Justiça).
58 UNIDADE 01
vontade da lei, que se constitui em um instrumento normativo elaborado
em conformidade com a vontade geral formalizada pelo Poder Legislativo
A função essencial do princípio da legalidade é assegurar que
a materialização dessa vontade geral seja efetivamente realizada pelo
Poder Executivo. O administrado, por sua vez, é amparado no Estado
Democrático de Direito, o que lhe garante o exercício de certos direitos e
deveres individuais e coletivos: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (Título II, Capítulo I, art.
5º, inciso II, CF/88). O conteúdo normativo insculpido no já referido artigo
da Constituição Federal foi inspirado numa máxima jurídica proferida
pelo barão de Montesquieu (Charles-Louis de Secondat), segundo a qual
“a liberdade é o direito de fazer tudo aquilo que as leis permitem” (apud
FERREIRA, 1995, p. 15).
Em suma, o fundamento jurídico da ação/atuação administrativa
é o sistema legal vigente. Portanto, o princípio da legalidade evoca o
princípio da finalidade e o princípio da irretroatividade da lei, sendo
que deste último são extraídos dois pressupostos básicos ou princípios
derivados: o princípio da segurança jurídica e o princípio da confiança do
cidadão.
O princípio da impessoalidade é confirmado pela Lei de
Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92) e visa garantir uma conduta
imparcial por parte do agente público no exercício de suas funções (ou
finalidades) administrativas, voltadas, sobretudo, ao atendimento dos
administrados ou cidadãos (interesse público). Este princípio é totalmente
dedicado à atuação dos agentes públicos, que são os genuínos executores
da vontade estatal e para tanto, precisam comportar-se com isenção,
evitando os favorecimentos e demais tratamentos que se desviam do
fim público previsto pela lei. Esse princípio possui dois significados
jurídicos no âmbito do sistema legal vigente, por sua vez lastreado na
Constituição Federal: 1) a identidade entre o princípio da impessoalidade
e o princípio da finalidade da atuação administrativa, na medida em
que ele focaliza a defesa do interesse público e o exercício do princípio
da isonomia, ou oportunidades iguais para todos; e 2) a proibição de
associar as atividades administrativas à pessoa física dos servidores
públicos, de modo a impedir a sua promoção pessoal à custa do Estado.
O princípio da moralidade deriva do princípio da impessoalidade
e expressa um significado semântico equivalente ao da noção de
probidade administrativa, que se traduz pela conduta ética e honesta
na execução das atividades administrativas sob a responsabilidade dos
60 UNIDADE 01
& PAULO, 2002, p. 110) define o princípio da eficiência como o princípio
que
62 UNIDADE 01
(conjunto de leis), da moral institucional (probidade administrativa), da
finalidade do ato (deriva do princípio da legalidade e visa ao interesse
público qualificado, sendo vedada à autoridade administrativa a troca do
fim previsto na lei por outro fim público ou privado, seja legal ou ilegal) e
das exigências do interesse público (políticas públicas como reposta às
reivindicações por recompensa; moralidade, transparência e eficiência
no funcionamento da Administração Pública; prestação de contas da
gestão do administrador sobre os recursos e patrimônios públicos sob
sua responsabilidade institucional e legal).
A doutrina do Direito Administrativo enumera 04 (quatro) deveres
do administrador público: 1) poder-dever de agir (para o Direito
Administrativo, o poder de agir constitui uma imposição ao exercício das
funções públicas, não se admitindo omissão de conduta de qualquer
agente público); 2) dever de eficiência (melhoria da produtividade
e qualidade dos serviços públicos associado ao aperfeiçoamento da
própria administração pública como um todo); 3) dever de probidade
(observância por parte do administrador público dos princípios da
moralidade e da honestidade administrativas); e 4) dever de prestar contas
(a administração de patrimônio e valores públicos supõe a prestação de
contas aos órgãos encarregados da fiscalização).
Os princípios fundamentais (explícitos e implícitos) da
Administração Pública constituem as ideias nucleares de um sistema
que servem para determinar a amplitude e o significado normativo da
ordem jurídica vigente, preservando, assim, a lógica, a racionalidade e
a harmonia perante o sistema jurídico como um todo. Enquanto normas
jurídicas de obediência obrigatória, os princípios em apreço presidem o
exercício tanto dos poderes quanto dos deveres do administrador público
perante a sociedade. Dessa maneira, os poderes e deveres que são
atribuídos ao servidor público consistem em prerrogativas indispensáveis
à otimização da satisfação dos interesses públicos.
64 UNIDADE 01
o conjunto do sistema de decisão. Não é por acaso
que Max Weber é contemporâneo de Taylor: ambos
acalentam a ideia segundo a qual a perfomance industrial
ou administrativa se orienta por uma vontade de suprimir
a incerteza associada à conduta humana. É o caráter
impessoal, desumanizado e rotinizado da burocracia
que justifica sua eficácia social, tanto em benefício do
governante quanto do empresário.
66 UNIDADE 01
econômica de natureza industrial.
As exigências de produtividade do capitalismo de modelo fordista
(produção em série que otimiza a capacidade instalada das empresas
baseado na divisão e repetição das tarefas) vigente à época, no
início do século XX, põem à prova a eficiência do próprio modelo de
gestão burocrático. Isso ocorre em função da complexidade crescente
das sociedades industrializadas, do avanço do sistema de produção
capitalista, da crescente intervenção do Estado na economia em virtude
das imperfeições do mercado e da tendência à democratização do poder.
Na medida mesmo em que as funções econômicas e sociais do Estado -
antes restritas à manutenção da ordem pública, à aplicação da justiça e
à garantia dos contratos e dos direitos de propriedade - se multiplicam, a
administração pública burocrática revela suas imperfeições: a ineficiência,
a autorreferência (quando os servidores públicos trabalham em função de
seus interesses pessoais), a orientação para a conformação normativa
(princípio da legalidade) e a ausência de foco na demanda dos cidadãos,
ao mesmo tempo contribuintes de impostos e clientes dos serviços
públicos.
O contexto em que se verificam as condições de surgimento do
modelo de gestão gerencial é aquele assinalado pela crise de legitimidade
que se abateu sobre o setor público dos países ocidentais, na década
de 1950-60, paralelamente à alta competitividade das empresas
capitalistas no mercado internacional. Trata-se de um momento de
expansão econômica pós-guerra cujo arrefecimento somente ocorrerá a
partir da década de 1970 com o advento da crise fiscal, em decorrência
da crise do petróleo, assim como da curta hegemonia neoliberal, que,
confrontada com a realidade econômico-financeira da crise mundial de
2007, e, sobretudo, a de 2008, a chamada crise do subprime (operações
de derivativos associados à farra de contratos de hipotecas de alto
risco, ou seja, sem a devida contrapartida em termos de garantia real de
pagamento) nos Estados Unidos da América, vê solapar sua doutrina,
sua capacidade de explicação econômica e de convencimento público
e, por fim, a autoproclamada capacidade de autorregulação do mercado
e seus fundamentos de alocação, de redistribuição e de estabilização
macroeconômica.
Desse modo, o bom desempenho das empresas capitalistas no
período serve de estímulo à reflexão sobre a eficiência da administração
pública e do próprio Estado. Logo, foi graças à alta competitividade
entre as empresas no mercado internacional que levou os governos
68 UNIDADE 01
e a lógica jurídica – “[...] racionalizar eficácia das ações e regulação dos
procedimentos, resultados e respeito às regras [...] tal é a especificidade
do gerenciamento administrativo público de nossos dias” (ALECIAN &
FOUCHER, 2001, p. 34).
A administração gerencial comporta, sucessivamente, a partir de
sua adoção no âmbito das organizações governamentais, três leituras ou
linguagens distintas e complementares (HUSSENOT, 1983): instrumental,
institucional e semiológica.
Sob o ponto de vista instrumental, a administração gerencial
é concebida como um conjunto de métodos e/ou técnicas racionais
de auxílio à decisão pública oriundos do setor privado: contabilidade
analítica, controle de gestão, administração por objetivos e os sistemas
de informação, responsáveis pela articulação entre os primeiros
(métodos de gestão transportados a partir do setor privado); os métodos
custo-benefício, custo-eficácia, métodos DELPHI e multicritério, a
análise morfológica, as técnicas de grupo e, notadamente, a análise de
sistema (técnicas e/ou métodos adaptados ao setor público) (LAUFER &
BURLAUD, 1980; NIOCHE, 1982; HUSSENOT, 1983).
O domínio desses métodos e técnicas por parte dos servidores
públicos da alta administração, contudo, proporcionam os riscos de uma
nova tecnocracia. Assim, o gerenciamento público ou administração
pública gerencial consiste em um conjunto de “métodos racionais a serviço
dos decisores públicos”, e, neste sentido, [...] trata-se da execução de
métodos modernos de gestão no setor público [...]. Logo, o processo de
70 UNIDADE 01
uma vez que se baseia em muitos dos princípios desta última, tais como
a admissão no serviço público segundo um rígido sistema de mérito, a
manutenção de um sistema estruturado e universal de remuneração,
a formação de carreiras, a avaliação de desempenho e treinamento
sistemático.
Em suma, a administração gerencial se caracteriza através
dos seguintes traços distintivos: gestão por objetivos ou resultados
(predomínio dos resultados sobre os processos e da eficiência sobre a
efetividade); legitimidade fundada na eficácia das ações implementadas
(superávit de racionalidade); transgressão ao princípio da hierarquia
(administração transversal); raciocínio sintético, sistemático e teleológico
(visão holista); foco na demanda (os bens e serviços são produzidos
em função das características dos administrados); avaliação a posteriori
(mensuração dos padrões de eficácia, eficiência e efetividade de um
programa governamental implementado); descentralização e flexibilização
administrativa (emergência das agências executivas ou autônomas e das
organizações sociais; redução da diferenciação vertical e de quadros).
Glossário
72 UNIDADE 01
• Decisores: responsáveis pela tomadas de decisão (decision makings)
relativas ao desenho, à formulação e à implementação das políticas
públicas.
• Efetividade: realização efetiva, concreta, de um programa de ação
governamental. Para alguns autores, trata-se da conjugação da noção
de eficácia com a noção de eficiência.
• Estamento: comunidade dividida em ordens sociais (estratificação)
conforme códigos de honra específicos e caracterização jurídica
própria.
• Flexibilização: simplificação burocrática (desburocratização) e
autonomia administrativa e financeira (descentralização).
• Forças produtivas: abrangem o grau tecnológico alcançado nessa
etapa de desenvolvimento pelo conjunto da classe trabalhadora
em dado momento histórico. Envolvem vários fatores de produção:
terra, matéria prima, combustível, qualificação da força de trabalho,
maquinaria e empresas industriais chamados meios de produção.
• Meios de produção: arsenal de máquinas, equipamentos e
ferramentas (bens de capital) utilizado pelos trabalhadores (forças
produtivas) na produção de bens e serviços destinados ao consumo
da população (bens de consumo ou produtos acabados).
• Modo de produção: modo particular de organização social da
produção material de bens e serviços: escravista, feudal e capitalista.
Inclui as noções de forças produtivas e de relações de produção.
• Publicização: processo através do qual ocorre a transferência de
responsabilidade pela execução de atividades não-exclusivas do
Estado em favor das organizações sociais, por meio de contratos de
gestão.
• Relações de produção: rede de relações sociais a partir da qual
se materializa a produção de mercadorias. Abarca tanto as relações
individuais quanto às relações dos indivíduos com as forças produtivas.
• Semiologia: ciência dos significados que as coisas ou situações
sociais evocam no cérebro das pessoas.
• Soberania popular: supremacia do poder do povo proveniente das
urnas. “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e
pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e nos termos da
lei, mediante: I. plebiscito; II. referendo; III. iniciativa popular” (título
II, art. 14, cap. IV; CF/1988). Ou, nos termos de Abrahan Lincoln: “o
poder emana do povo para o povo e pelo povo”.
• Transformações sócio-históricas: mudanças estruturais e/
74 UNIDADE 01
UNIDADE 02
Fundamentos Técnico-
Operacionais da gestão
Pública
objetivos
• Conceituar a gestão pública;
• Apresentar os mecanismos de financiamentos do Setor Público;
• Explanar sobre o processo orçamentário;
• Descrever o perfil do gestor público da alta administração;
• Caracterizar a Nova Administração Pública.
76 UNIDADE 02
Fundamentos técnico-
operacionais da gestão
pública
Gestão Pública
78 UNIDADE 02
Financiamento dos Gastos Públicos
80 UNIDADE 02
existência da lei como pré-requisito para a criação de tributos; exceção
feita às alíquotas de impostos de importação, exportação, IPI e IOF), da
neutralidade (ingerência reduzida da tributação na gestão da política
econômica de modo a evitar distorções na alocação de recursos da
economia), da anterioridade (a cobrança do tributo somente pode ser
efetivada a partir do início do próximo exercício financeiro criado ou
majorada no exercício anterior mediante lei específica), etc. Os princípios
supracitados são os lastros (ou suportes) éticos e técnicos de qualquer
sistema tributário.
A natureza das fontes de tributos é o critério que conduz à
classificação dos tributos em diretos e indiretos. Logo, o elemento
básico que serve para diferenciá-los entre si é o modo através do qual
os tributos atingem os indivíduos ou contribuintes. Os primeiros recaem
sobre os seus rendimentos (rendas sobre a propriedade e salários),
ganhos em contrapartida de seu trabalho (imposto de renda); os últimos
recaem sobre os gastos dos indivíduos no momento de suas aquisições
de consumo (imposto de consumo). Todos eles, no entanto, tanto podem
ser progressivos quanto regressivos. Os impostos diretos normalmente
são progressivos, uma vez que o peso de incidência do tributo varia
em função do nível de renda dos contribuintes. Os impostos indiretos
recaem sobre os indivíduos de menor poder aquisitivo; geralmente são
proporcionais ou seletivos, ou seja, a incidência do imposto ocorre em
função da essencialidade dos bens ou serviços adquiridos para consumo.
Uma vez feitos os esclarecimentos necessários, convém, agora,
definir os tipos básicos de tributos no Brasil, que compreendem:
• Impostos – tributo que tem como fator gerador qualquer
atividade econômica, desde que seja desvinculado ao serviço
governamental; destina-se de forma irrestrita ao financiamento
dos gastos governamentais (custeio do aparelho administrativo
de Estado e financiamento das políticas públicas).
• Taxas – tributos que tem como fator gerador o exercício
governamental do poder de polícia e de fiscalização, ou
mesmo de os custeios de certos serviços postos à disposição
do público em geral (taxa rodoviária única, taxa de Iluminação
pública);
• Contribuições – tributos que se destinam a financiar atividades
públicas que beneficiam os contribuintes (construção de rede
sanitária, pavimentações, por exemplo).
Gestão Orçamentária
82 UNIDADE 02
despontam os seguintes princípios, segundo Giacomoni (2007):
• O princípio do orçamento bruto – “todas as receitas e
despesas constarão da Lei de Orçamento pelos seus totais,
vedadas quaisquer deduções”, conforme a Lei nº 4.320/64,
art. 6º;
• O princípio da não afetação (ou não vinculação) das receitas
– exigência de que as receitas não sofram vinculações a
despesas específicas;
• Discriminação ou especialização – as despesas e receitas
devem ser apresentadas de forma discriminada de maneira a
definir as fontes de recursos e sua correspondente aplicação;
• Princípio da exclusividade – o conteúdo orçamentário deve
se restringir à previsão de receitas, ao estabelecimento das
despesas, a abertura de créditos suplementares e contratos
de operações creditícias;
• Princípio do equilíbrio – busca do equilíbrio orçamentário a
partir da equivalência entre despesas e receitas;
• Clareza – uso de linguagem clara e compreensível de modo a
facultar a participação dos indivíduos na discussão e controle
do orçamento;
• Publicidade – o orçamento público deve ser divulgado, no
mínimo, nos diários oficiais;
• Exatidão – evitam-se falhas técnicas e éticas na confecção do
orçamento, assim como o superdimensionamento na previsão
de receitas destinadas a programas de ocasião;
• Princípio moderno da programação - o orçamento enquanto
elemento auxiliar da administração pública, sobretudo como
técnica de articulação entre as funções de planejamento,
gerenciais e as funções de controle.
Sistema orçamentário
84 UNIDADE 02
• Planos anuais operativos – os planos anuais fixam metas de
curto prazo para o setor público e prescrevem regulamentações
ao setor privado como salários, preços, tributações, etc.;
Neles, acham-se discriminados as necessidades humanas,
materiais e financeiras relativas a várias metas constantes do
cronograma de execução. Exemplos: orçamento econômico,
monetário e do balanço de pagamentos; balanços projetados,
programas de execução, orçamento do setor público.
86 UNIDADE 02
orçamentária. A Lei de Responsabilidade Fiscal, através do artigo 8º,
estabelece que o Poder Executivo fixe a programação financeira, assim
como o cronograma de execução mensal de desembolso de recursos ou
créditos orçamentários, até trinta dias após a publicação dos orçamentos
no Diário Oficial da União, conforme disciplina a Lei de Diretrizes
Orçamentárias. A execução orçamentária e financeira será realizada
entre 1º de janeiro e 31 de dezembro (ano civil), segundo estabelece a
Lei 4.320, de 17 de março de 1964, em seu artigo 34.
O Controle e Avaliação da execução orçamentária, fase
concluinte do ciclo de gestão anual, inicia-se ainda no curso do próprio
processo de execução da despesa. Dois tipos de controle são previstos
pela Constituição Federal vigente, em seu artigo 70, o interno e o externo.
O controle interno é efetivado através do sistema de controle de cada
instância de Poder. O controle externo, por seu turno, é realizado pelo
Congresso Nacional mediante a colaboração do Tribunal de Contas da
União (TCU) e consiste na fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial tanto da União quanto das entidades da
Administração Pública direta e indireta. Uma vez completado o ciclo
orçamentário, culmina-se na fase de revisão, de modo a apreciar as
eventuais distorções operacionais, financeiras, jurídicas e programáticas
na execução do orçamento.
Convém destacar, agora, o ciclo de gestão ampliado. Ele se
compõe de três instrumentos de planificação que não criam direitos
subjetivos e que faz parte do ciclo de planejamento e orçamento público
do Brasil:
88 UNIDADE 02
e consolidada por três tipos de orçamentos, conforme
disposições constitucionais (Constituição Federal, art. 165),
quais sejam: 1) orçamento fiscal (constitui o mais importante
dos três orçamentos, graças a sua amplitude e magnitude:
abrange os Poderes da União, seus fundos, seus órgãos e
as entidades da Administração Pública direta e indireta, assim
como as fundações públicas criadas e custeadas pelo Poder
Público); 2) orçamento de investimento das empresas estatais
(uma vez excluídas do orçamento as receitas e despesas
operacionais, seu foco recai no investimento efetivado pelas
empresas estatais, ou seja, pelas empresas em que a União,
direta ou indiretamente, disponha da maioria do capital social
com direito de participação através do exercício do voto); 3)
orçamento da seguridade social (compreende as entidades,
com seus respectivos órgãos, que atuam na área da saúde,
da previdência social e da assistência social, da Administração
Pública direta e indireta, assim como os fundos e fundações
criadas e custeadas pelo Poder Público). A LOA, além de ser
a consumação final do processo orçamentário, mediante a
articulação destes três orçamentos, apresenta-se com uma
roupagem jurídica que a define como lei ordinária formal, uma
vez tendo cumpridos todos os trâmites rituais constitutivos do
processo legislativo. O Poder Executivo submete a proposta
orçamentária consolidada à discussão, votação e aprovação
do Legislativo até 31 de agosto de cada ano, com expectativa
de vigência a partir do início do exercício fiscal subsequente;
e tal proposta também apresenta um diagnóstico sucinto da
situação da economia brasileira.
90 UNIDADE 02
organizações quanto às atividades de compra e de prestação
de serviços;
• Em busca da excelência – ênfase no desenvolvimento
organizacional e da aprendizagem (“organizações que
aprendem”), assim como tanto os processos quanto os
produtos organizacionais;
• Orientação para o serviço público – expressa a combinação
entre as gestões da iniciativa privada e o setor público, com
ênfase na preservação da responsabilidade dos serviços
prestados aos usuários locais e cidadãos em geral.
92 UNIDADE 02
com base no predomínio da cultura do compromisso no
processo de transformação dos serviços públicos;
• Gerenciamento de risco – grande ênfase sobre as técnicas
de gestão de risco nas organizações do setor público.
94 UNIDADE 02
a Secretaria de Orçamento Federal – SOF e para a Secretaria de
Planejamento e Investimentos Estratégicos - SPI. Posteriormente, de
acordo com as conveniências administrativas do MPOG, são distribuídos
para vários ministérios, a exemplo do que também ocorrem com os
Gestores Governamentais. Porém, diferentemente desses últimos, que
possuem uma característica funcional um tanto quanto nômade, os
Analistas, na expressão deles mesmos, possuem um nicho próprio.
Os Analistas lotados na SOF estão direcionados a tarefas
exclusivamente de caráter orçamentário, tais como a coordenação e
supervisão da elaboração do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias,
assim como da Proposta Orçamentária da União; a prescrição das regras
indispensáveis à formulação e execução dos orçamentos federais; o
desenvolvimento de modelos orçamentários que sirvam para melhorar
o processo orçamentário federal, enfim, aperfeiçoar o próprio Sistema
de Planejamento e de Orçamento da Administração Pública Federal; a
realização do monitoramento gerencial, físico e financeiro da execução
do orçamento relativo a outros órgãos da administração Pública Federal,
salvaguardando a competência administrativa inerente a essas instâncias
administrativas; a supervisão técnica de órgãos setoriais do Governo,
etc. (SOUSA JÚNIOR, 2000).
Na SPI, os Analistas desenvolvem atividades associadas à
formulação e ao monitoramento do Plano Plurianual e aos projetos
especiais de desenvolvimento; à avaliação dos investimentos do Governo
e respectivas fontes de financiamento, das parcerias com o setor privado
no que concerne às inversões de recursos, assim como ao apoio
gerencial e institucional na execução destes projetos de investimentos;
à coordenação e à orientação das atividades de avaliação das despesas
públicas, do próprio Plano Plurianual e dos projetos especiais de
desenvolvimento (SOUSA JÚNIOR, 2000).
Enquanto os Analistas lotados na SOF desenvolvem atividades
direta e indiretamente vinculadas à matéria orçamentária, os Analistas
que trabalham na SPI desempenham funções diretamente voltadas para
o gerenciamento e monitoramento dos programas contidos no Plano
Plurianual. De modo que a definição do papel de Analista encontra-se
amalgamado ao desdobramento gerencial do PPA.
Assim sendo, falar do ofício de APO é se reportar a questões centrais
do processo de mudança administrativa em curso no cerne do Estado.
Embora o modelo de gestão gerencial ainda não tenha se disseminado por
toda a ossatura estatal, verificando-se resistências vigorosas em alguns
96 UNIDADE 02
das tensões sociais em decorrência do fracasso dos planos econômicos
subsequentes).
O Projeto de lei nº. 243/87 inicialmente designava os Gestores
Governamentais como Técnicos em Políticas Públicas e Gestão
Governamental; e graças ao substitutivo de junho de 1988, os gestores
passam a ser finalmente reconhecidos por sua designação atual. Porém,
foi através da Lei nº. 7.834, de 06 de outubro de 1989 que a carreira
de Gestor Governamental ganha existência real, e um ano depois a
administração pública absorve os primeiros gestores governamentais
formados pela ENAP.
A continuidade da carreira, entretanto, tem suportado alguns
solavancos, entre eles, a total negligência com que foi tratada no
decurso do Governo Collor. A sua retomada, no entanto, veio com o
advento do Governo FHC, onde o então Ministro do antigo MARE, Luis
Carlos Bresser Pereira, primou pela institucionalização do provimento
anual de concursos para a administração pública, favorecendo, assim, o
desenvolvimento da carreira. Recurso este sistematicamente utilizado no
Governo Luís Inácio Lula da Silva
Cardoso & Santos (1997) explicam que as atribuições dos Gestores
Governamentais concernem às funções de elaboração, implementação e
avaliação das políticas públicas, assim como às funções de direção e
assessoramento nos altos escalões da Administração Pública Federal
direta – ou central, segundo o jargão do antigo DASP -, autárquico e
fundacional. Cheibub & Mesquita (2001), contudo, chamam a atenção
para um fato que parece acenar para uma direção um tanto quanto
inversa.
Os autores se referem ao decreto que regulamenta a Lei nº.
7.834/89, mais precisamente ao seu artigo 1o, onde é definido que as
atividades dos Gestores Governamentais orientam-se prioritariamente
para o desempenho de atividades-meio (gestão de políticas), logo, de
funções coadjuvantes ao desenvolvimento de atividades finalísticas
associadas à elaboração, execução e avaliação das políticas públicas.
Quer dizer, apenas em última instância estarão os gestores
voltados para funções diretas de envolvimento no processo específico
de concepção, desenho, execução e avaliação de programas de ação
governamental. O preenchimento dos cargos da carreira dos EPPGGs
tem se acelerado no Governo atual, apesar do aumento de cargos
instituídos e atrelados à categoria, que saltou de 960 para 1560 cargos,
demonstrando que a velocidade de seu preenchimento é sinônima de
98 UNIDADE 02
perceber a sua indispensabilidade.
É patente e bem demarcado o terreno administrativo em que a
supracitada categoria funcional tende a uma vivência administrativa
nômade. A rede de atividades em que ela se movimenta é fortemente
marcada por uma ação de constante elasticidade, na medida em que o
Gestor exercita o seu ofício e o coloca no centro das decisões públicas, o
que de resto pressupõe uma postura comportamental maleável, uma vez
que ele não é objeto apenas de pressões exclusivamente externas, mas
também constitui alvo de pressões do próprio Governo.
É interessante verificar que o Gestor possui uma inequívoca
consciência de que não é um funcionário do Governo, e sim do Estado.
No entanto, também percebe com clareza que sua função operacional no
cerne do Estado lhe impõe atribuições que o tornam momentaneamente um
instrumento governamental. Nesse sentido, a tomada de decisão importa
em combinar a dosagem entre o componente técnico e o componente
político, além da capacidade de vislumbrar a conjuntura sociopolítica e
econômica, o que supõe o retardamento ou adiamento estratégico das
ações do Estado. Portanto, é exatamente nesse instante que o Gestor é
exigido como parceiro interno dos propósitos governamentais, ou seja,
o Gestor é chamado a contribuir para a ação sociopolítica da facção ou
coalizão no poder, na direção dos negócios do Estado.
Glossário
100 UNIDADE 02
• Gerenciamento de riscos: planejamento, organização, direção e
controle dos eventos ou condições imprevisíveis que podem ou não
interferir de forma positiva ou negativa nos projetos governamentais.
• Mãos visíveis: uma metáfora que serve para significar o controle
do mercado por gestores profissionais, em oposição ao conceito
personalizado de mãos invisíveis do mercado, ou seja, a perda da
confiança na suposta capacidade do mercado em regular o sistema
econômico a partir das funções básicas da regulação, da alocação,
da redistribuição e da estabilização macroeconômica.
• Parâmetro: padrão, modelo.
• Projeto de nação: programa político de construção de uma agenda
de desenvolvimento nacional em que os interesses gerais da pátria
suplantam os interesses particulares dos indivíduos isolados.
• Projeto de poder: programa político que visa à adoção do arrivismo
(uso indiscriminado e inescrupuloso dos meios em função dos fins; o
vale tudo) como estratégia de vida.
• Sociedade de auditoria: proliferação de modalidades de auditagem
(balanço das operações contábeis) das contas públicas com base na
transparência e na accountability – auditoria ambiental, auditoria de
gestão, auditoria do “fazer mais com menos”, auditoria da propriedade
intelectual, auditoria tecnológica, etc
objetivos
• Descrever e explicar as diferenças fundamentais entre o setor público e o setor
privado;
• Definir e classificar as políticas públicas;
• Explanar a especificidade da política social;
• Identificar os pré-requisitos à inscrição de um problema social na agenda
governamental;
• Situar o Estado brasileiro no atual debate da construção não apenas de uma nova
ordem internacional, mas do advento de uma sociedade verdadeiramente global.
104 UNIDADE 03
Setor público: gestão pública,
políticas públicas e os desafios
da construção da nova ordem
social mundial
106 UNIDADE 03
administração no setor público suplanta em muito a complexidade da
administração no setor privado. No entanto, observa-se uma maior
integração entre elas na medida da proliferação das organizações não
governamentais. Pelo lado do setor público, temos a publicização; pelo
lado do setor privado, temos a responsabilidade social corporativa,
e entre elas, como um divisor de águas cada vez mais constante e à
jusante, o setor social, ou 3º setor.
Um critério básico para a classificação desses setores é o critério
do tipo de propriedade. Portanto, quando nos referimos ao setor público,
queremos explicitar que se trata de uma forma de propriedade pública de
caráter estatal; ao passo que as referências ao setor privado remetem à
propriedade privada. Mas existem propriedades públicas de caráter não
estatal: é o caso das Organizações Sociais e das Organizações Sociais
de Interesse Público (vide 1ª Unidade).
Conforme já discutimos, no decurso da 1ª Unidade, existem tanto
características comuns quanto incomuns entre os modelos de gestão
pública e os modelos de gestão privada. Entre as características comuns
destacam-se aqueles elementos e relações que definem o conceito de
administração num duplo sentido: o sentido estrutural (infraestrutura,
capital intelectual, meios operacionais e cultura organizacional) e o sentido
funcional ou operacional (processos de planejamento, organização,
direção e controle).
À parte a totalidade dos elementos de convergência entre o setor
público e privado, convém esclarecer que o setor público é distinguido
por seu vínculo indissolúvel ao Poder Político e por seu caráter
de natureza não mercantil ou destituído de finalidades lucrativas;
exceção feita às empresas públicas e às sociedades de economia mista,
e que se enquadram na técnica jurídica da descentralização associada
à produção de bens e serviços ao mercado. Com base em seu vínculo
indissolúvel ao Poder Político, o Setor Público é obrigado a submeter-
se às regras constitucionalizadas do Direito Administrativo, ou seja, aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e da
eficiência, conforme Título III, Capítulo VII, artigo 37 da Constituição
Federal.
A construção política e jurídica do Estado moderno foi gestada como
consequência do fenômeno da querela das investiduras, que antepunham
poder espiritual (sagrado) e poder temporal (secular), até propender em
definitivo a favor do poder político secular, personalizado na figura do
monarca absolutista. Desde a sua forma de expressão enquanto Estado-
108 UNIDADE 03
públicas ou governamentais, tal como o Programa Bolsa Família, como
um gesto de bondade do Poder Público graças à benevolência do
dirigente máximo de plantão.
Assim, o Programa Bolsa Família é compreendido solenemente
por grande parte de seus beneficiários ou administrados como um favor
pessoal, bem ao estilo do modelo de administração patrimonialista
(clientelismo, corporativismo e fisiologismo). Ao invés de encará-lo como
um dever do Estado em obediência ao artigo 6º, título II, capítulo II, da
Constituição Federal, que assim reza:
110 UNIDADE 03
acordo sobre cooperação cultural e militar entre dois países. Trata-
se de formulação de tratativas internacionais submetidas ao crivo do
parlamento para fins de ratificação e regulamentação jurídica. Em outros
termos, o parlamento chancela um tratado para sacramentar a eficácia
do poder do Estado através de órgãos administrativos diretos da União,
a cargo da Presidência da República.
O Estado é uma condição de ser jurídica que é forjada no processo
de entendimento político entre as principais forças em disputa pelo
Poder Político. Esse entendimento precisa ser preservado, pois o próprio
Estado depende dele para subsistir. Em função dessa necessidade de
sobrevivência política - do Estado e do próprio entendimento político
que o cria -, providências devem ser tomadas. Mas quais providências
deverão ser tomadas? E por quem? É nesse contexto social de decisão
política que nos desembocamos no Governo. Este, por sua vez, precisa
transformar decisões estratégicas em ações concretas, pois a sua
legitimidade política depende da eficácia, da eficiência e da efetividade
de tais ações. Para isso, no entanto, o Governo necessita de meios
operacionais de alcance de seus objetivos e metas, quer dizer, o Governo,
como instância de poder e procurador legal do Estado, necessita de
recursos de toda ordem (servidores, infraestrutura, equipamentos, etc.)
para poder governar. Mas para fazê-lo, o Governo precisa contar com
uma eficiente estrutura administrativa que é o suporte tanto do Estado
quanto do Governo, e por isso a chamamos de Administração Pública.
A necessidade de manter em mente a ideia da coarticulação
entre Estado, Governo e Administração Pública resultam da mera
observação empírica dos fatos do dia-a-dia que envolve a ação do
poder público na sociedade, o que inclui o mercado e as organizações
não-governamentais. Sejam quais forem as atividades executadas por
uma dessas três instituições, elas acionam uma cadeia de transmissão
na qual elas se encontram simultaneamente em movimento, emitindo
seus efeitos jurídicos (legal-normativo), políticos (controle legítimo) e
burocráticos (execução de serviços e políticas públicos). Toda e qualquer
ação praticada pela administração pública, através de seus órgãos
supremos e administrativos, carregam a marca da autoridade política do
Estado e de seu representante legal, o Governo.
As Políticas Públicas
112 UNIDADE 03
A estrutura organizacional das sociedades tradicionais apresenta
uma débil divisão social do trabalho e uma lenta mobilidade social;
talvez por isso mesmo as sociedades tradicionais sejam constantemente
ameaçadas de explosão (riscos de secessão). O princípio essencial
que rege tais sociedades é a dialética centro/periferia. Mas devido ao
crescimento das populações, à intensificação das relações de trocas
mercantis e ao advento da revolução industrial, esse princípio aos
poucos vai sendo absorvido pela lógica da setorialidade, que, por sua
vez, contrapõe o global e o setorial.
A explosão da divisão social do trabalho resulta do confinamento
da célula familiar à exclusiva esfera da reprodução e do descanso
(separação do ambiente familiar em relação ao ambiente produtivo
da empresa, que se desenvolve graças à proliferação diversificada de
funções profissionais); da formação de papéis profissionais cada vez
mais numerosos e especializados, cujo exercício requer uma formação
específica; e da emergência de novos reagrupamentos de papéis
profissionais cuja base de apoio consiste em hostes exclusivamente
voltadas para o exercício dos mais variados ofícios e/ou perícias.
Assiste-se, assim, a passagem de uma lógica horizontal (territorial)
a uma lógica vertical (setorial), da mesma forma que podemos dizer
que se passa da predominância da dialética centro/periferia para uma
dominação da lógica global/setorial. É o que ocorre, por exemplo, quando
a esfera da produção (empresa) se aparta da esfera da reprodução
(família) e quando se verifica uma dissociação entre o setor agrícola
e o mundo rural. Igualmente se passa com o setor social, em que se
observa a transição da assistência, inerente à ordem territorial, para a
técnica de seguro social associada à setorialidade. Como ensina Didier
Renard (apud Muller, 1990, p. 15; tradução própria), “os seguros sociais
assinalam a transição de uma proteção social organizada sobre uma
base territorial rumo a uma proteção social organizada sobre uma base
profissional”.
O setor nos apresenta enquanto estruturação vertical
(hierarquização) de papéis sociais que forjam as regras de sua própria
dinâmica organizacional; pode ser traduzido por corporação, de acordo
com a terminologia sociológica. Mas, diferentemente dos territórios,
os setores não são autorreproduzíveis, já que são dependentes da
reprodução dos demais setores de que a sociedade contemporânea se
compõe.
Logo, toda sociedade setorial sofre de um grave problema de
114 UNIDADE 03
portuária e aeroportuária, para o setor exportador e de apoio logístico,
etc.).
Como se vê, não existe espaço para secessão entre os setores
de que se compõe a sociedade moderna, cujo princípio regente de
solidariedade é aquele concebido por Émile Durkheim, a que chamou
de solidariedade orgânica, um tipo de solidariedade assinalado pela
dessemelhança entre as funções ou papéis sociais e profissionais dos
indivíduos nas sociedades industrializadas. De forma equivalente ao
que ocorre com o organismo humano, em que o conjunto dos órgãos é
interdependente entre si – o sistema cardiovascular somente subsiste
graças às especialidades funcionais dos demais órgãos do corpo humano
como os rins, o pulmão e a pele –, a sociedade moderna se caracteriza
pela total dependência entre os seus setores constitutivos.
A política pública, portanto, é um processo de mediação social.
Logo, conclui-se que política pública existe apenas quando o Poder
Público local ou nacional procura modificar as condições de vida social,
cultural ou econômico de atores sociais, desde que sejam submetidos à
lógica setorial e que se expresse num programa de ação coordenado. E
a título de simplificação, podemos dizer que qualquer política pública é
capaz de ser decomposta em três processos: 1) a definição do lugar, do
papel e a da função do setor envolvido em relação à sociedade global ou
em relação aos demais setores; 2) a construção de uma representação,
de uma imagem da realidade sobre a qual se quer intervir (“referencial de
uma política pública”); e 3) a determinação do ator (ou grupo de atores)
a ser encarregado da operação de construção ou de transformação do
referencial de uma política (mediador).
A política social
116 UNIDADE 03
Logo, a política social se instaura no cerne do processo de produção
material e de consumo, onde se observam diferentes “proporções
e interdependências”. Em termos macroeconômicos, significa dizer
que em uma determinada sociedade há a necessidade de se estimar
algumas proporções na articulação entre produção, consumo, renda,
por exemplo, e o modo a partir do qual tais proporções são distribuídas
numa dada população, sendo que tal distribuição é induzida a descrever
uma trajetória que pode torná-la progressiva ou regressiva, uma vez
correlacionada a distintas proporções entre produção e consumo, entre
renda e consumo e entre consumo e acumulação, ou seja, ao conteúdo
das políticas econômicas (fiscais ou monetárias; políticas industriais e de
exportação, etc.).
Assim, a definição dessas proporções que constitui a essência
da política social, predispõe esta a assumir características cuja
implementação a identificam como um ou outro dos seguintes modelos
básicos de política social: política social “residual” ou “assistencial” (o
mercado é que espontaneamente se encarrega de definir as proporções
constitutivas dessa modalidade de política social, onde o planejamento
somente se justifica em casos de situação-limite), política social
tecnocrática (coexistência do princípio do mercado com processos de
planificação) e política social distributiva (tendência à maximização
da distribuição da riqueza e da renda, o locus em que o planejamento
encontra sua verdadeira especificidade).
Em suma, a definição de política social subentendida nas
concepções de Bustello está associada ao caráter pragmático do
planejamento social, portanto, do desenvolvimento social, que por sua
vez é de natureza progressiva, já que visa à ideia de justiça social.
Porém, de todo modo, fica para a reflexão sobre as múltiplas
dimensões cognitivas da política social a definição certeira de Claus Offe
(1994, p. 15; grifo original) acerca dos fundamentos sociais da produção/
reprodução econômica, justificando a interdependência férrea entre as
dimensões social e econômica da política pública às quais designamos por
política social e por política econômica, respectivamente: “A política social
é a forma em que o Estado tenta resolver o problema da transformação
duradoura de trabalho não assalariado em trabalho assalariado”.
118 UNIDADE 03
A gestão da agenda política
120 UNIDADE 03
globalizado.
A queda do Muro de Berlim e a dissolução da União das Repúblicas
Soviéticas Socialistas abriram alas para que o regime ontológico do capital
adquirisse a hegemonia necessária ao espurgo das práticas planejadas
de conduta estatal que mantinham o mercado sob controle férreo. Na
medida em que o reino do capital, na condição de reino da necessidade
(ou da quantidade), não encontra resistência ao seu modo particular, em
meio à ditadura do ter, seus domínios se expandem assustadoramente,
impondo suas leis, normas, valores e práxis como marco referencial tanto
àqueles que o cultuam bem como àqueles que o repudiam.
De todo modo, a revolução tecnológica dos meios telemáticos
de comunicação, fator crucial para a globalização moderna (ou pós-
moderna, como pretendem alguns), tem possibilitado, exponencialmente,
a catequização das derradeiras fronteiras geopolíticas e econômico-
financeiras, segundo os ditames confessionais profanos do capitalismo,
que, por sua vez, aspira à sacralidade absoluta e plena, fenômeno
normalmente atribuído às divindades das religiões reveladas –
Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.
A crise global atual fornece os fundamentos éticos valorativos de
uma nova ordem mundial cujo propósito é estabelecer, de um lado, novas
condições de controle e regulação das atividades econômico-financeiras
mundiais, e de outro, novas modalidades de redistribuição da renda e da
riqueza mediante políticas públicas de oneração tributária progressiva
(quanto maior o nível de renda, maior a incidência do percentual
do imposto a ser pago pelos indivíduos) e de desoneração tributária.
Consequentemente, a conjuntura econômico-financeira mundial atual
tende a facultar ao Estado o papel inconteste de árbitro do sistema
social e seu subsistema econômico, político e cultural.
Dois fenômenos de nossa história recente demonstram como o
setor público se torna a última trincheira que se antepõe entre a decretação
de falência (aniquilamento) e a competitividade (sobrevivência) das
empresas privadas no Mercado. O primeiro é o marco da tragédia tardo-
moderna de 11 de setembro de 2001, como não poderia deixar de ser,
pela perplexidade, pelo assombro e pela ousadia, por um lado, e pela
mensagem política, militar e financeira, por outro. O segundo, a erupção
do vulcão localizado sob a geleira Eyjafjallajoekull (sic), na Islândia, que
expeliu cinzas a mais de 16 mil metros de altura, e por mais de quarenta
horas ininterruptas, em meados de abril de 2010, provocando a maior
paralização do trafego aéreo desde o setembro negro americano.
122 UNIDADE 03
O significado didático-pedagógico e epistêmico da disciplina
“Administração no Setor Público” é revelado através de suas três
unidades constitutivas. Na primeira, focalizamos os conteúdos conceituais
básicos referentes a processos, relações e estruturas que integram e
dinamizam a interação entre o Setor Público e o Setor Privado, com
destaque para o papel aglutinador do Poder Político na organização
do Estado, na garantia das condições de funcionamento da Economia
real, na construção democrática da nação brasileira, etc. Na segunda,
buscaram-se identificar os processos, relações e estruturas associadas
ao funcionamento rotineiro da Administração Pública quanto ao seu
financiamento, rito orçamentário, caracterização atual do modelo de
gestão pública e ao perfil funcional de agentes público do alto escalão.
E na subsequente e última unidade, enfatizamos, graças aos subsídios
teóricos e técnicos de conhecimento possibilitado pelas duas primeiras
unidades, alguma questão sutil relativa ao contraponto gestão pública
e gestão privada, bem como as funções de estabilidade e coesão
sociais, econômicas e políticas desempenhadas pelas políticas públicas,
entendidas estas como processo de mediação social. E para completar,
explanamos os vínculos do capitalismo globalizado com os Estados-
nação e as perspectivas da construção de uma nova ordem multipolar,
assim como da fundação da sociedade global.
Glossário
124 UNIDADE 03
normas que orientem uma política genuinamente de Estado, de modo
a assegurar a sua continuidade e eficácia no tempo e no espaço.
• Secessão: direito facultado a uma unidade confederada de se separar
da unidade originária.
• SINE: Serviço de Intermediação de Emprego.
• Sistema ‘S’: sistema de proteção e qualificação profissional
social paraestatal que compreende o SENAI (Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial), o SESI (Serviço Social da Indústria),
o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio), o
SENAT (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), o
SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), o SEST (Serviço
Social de Transporte), o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas), o SESCOOP (Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo), etc.
126 UNIDADE 03
COSTIN, Claudia. Administração Pública. Rio de Janeiro: Elsevier,
2010.
128 UNIDADE 03
PALUDO, Augustinho Vicente. Administração Pública. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010.
130 UNIDADE 03
ADMINISTRAÇÃO DO SETOR PÚBLICO 131