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AMÉRICA DO SUL
Yuri Yung
Em outro trabalho seu, “Llamas and Alpacas: Pre-conquest Breeds and Post-conquest
Hybrids” (1995), Jane C. Wheeler e outros pesquisadores, contextualizam a domesticação da lhama
e da alpaca a partir do Guanaco, e o parentesco deste último com a Vicunha, cuja separação se deu a
aproximadamente dois milhões de anos. A lhama possuí uma função especializada em transporte de
“coisas”(não acho certo falar em mercadorias para um modo de produção que não se baseava no
comércio, e bens também não seria a palavra apropriada), enquanto que a alpaca tem a função
principal de produzir fibra, ou lã. A partir disto, os pesquisadores concluem que haviam muitos
outros tipos de animais domesticados destas espécies, com diferentes funções e intermediações
entre estas raças, antes do contato com o mundo europeu que teria interrompido a criação destes
outros tipos.
O artigo traz dados interessantes sobre o uso de rebanhos de lhamas e alpacas pelo Estado
Inca, para transportar mantimentos e produzir lã para o exército e, também, para finalidades
ritualísticas, tudo isto ajudando na ligação deste expansivo Império. Não obstante, haviam também
rebanhos comunitários de lhamas e alpacas.
Os estudos apresentados levam a conclusão de que nos primeiros rebanhos, onde houve
seleção artificial, inclusive com hibridização entre raças, o objetivo principal era obter fibras
melhores em ambas as raças, e não por cores, como teria acontecido mais tarde com os Incas e
Ayamaras. Com o Império Inca, houve seleção visando criar animais com cores específicas, para
sacrificar a determinados deuses, bem como uma especialização do uso da lhama para transporte. E
foi por essas especializações que estas duas raças (lhama e Alpaca) se mantiveram após a conquista
espanhola.
Mas a origem destas duas raças são anteriores ao império Inca, e os estudos nas múmias de
camelídeos de Yamaral, apresentados no artigo, sugerem que havia mais raças pelas diferenças na
pelagem. Por exemplo, a existência de uma raça de lhama com fibra fina, o que não existe hoje em
dia. Pelas pesquisas realizadas, identificou-se quatro tipos de camelídeos com pelagem diferente nas
múmias. Existem evidências de que haviam diversas raças antes de uma padronização Inca, sob a
forma de duas, a Lhama e a Alpaca, surgidas a partir da domesticação do Guanaco. Muito embora
alguns justifiquem, que essa diferença observada na pelagem de múmias do animal possa se dar por
questões de estresse animal, isto ainda precisaria ser demonstrado. Os pesquisadores, por sua vez,
defendem que haviam diversas raças de animais oriundos do Guanaco.
No Texto: “La domesticación de los camélidos andinos como proceso de interacción humana
y animal” (2012), Hugo D. Yacobaccio e Bibiana Vilá, é demonstrado que tanto a domesticação
animal como a agricultura foram fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, e sua relação
com a natureza, e que isto é amplamente reconhecido na comunidade arqueológica, o que se
chamou durante muito tempo de revolução neolítica. Porém, estes processos de domesticação não
são apenas sociais e econômicas, mas também de relações com a natureza. Não se trata, porém, de
dominação da natureza, e sim de uma relação dialética com a mesma.
Eles classificam as abordagens sobre a domesticação, no que se refere a explicação de seus
motivos, em três grupos:
“1. enfoques ambientales: se apela a alguna respuesta a un cambio climático o a
una modificación particular de la relación interespecífica entre los grupos humanos y la fauna
(e.g., Rindos 1984; Harris 1996).
2. enfoques sociales: se apela a una creciente diversificación en la sociedad
humana (aumento de jerarquización, desigualdades), que posibilita acceso y control diferencial de
recursos (e.g., Hayden 1995).
3. enfoques simbólicos: sostienen que los animales quedaron bajo control humano
en contextos rituales como precondición para su manejo económico (e.g., Hodder1990, 2010;
Cauvin 2000).”(p.228)
Porem os autores propõe estudar, não os porquês, mas, a maneira que estes processos se
desenvolveram. Eles citam o modelo de domesticação em quatro etapas, no qual o primeiro seria o
de caça generalizada, depois a caça intensiva, depois o aprisionamento, como pré-domesticação e,
por fim, a domesticação concretizada. Embora este modelo seja um importante antecedente para o
trabalho deles, este diferirá tanto teoricamente como na articulação das etapas.
DISCUSIÓN SOBRE EL ESTADO DOMÉSTICO DE LAS LLAMAS
Nesta parte, os pesquisadores trataram das falácias sobre a domesticação das lhamas, e demais
camelídeos.
“Primera falacia: la llama no es un animal doméstico”: Eles demonstram que sim, a lhama é
um animal doméstico;
“Segunda falacia: los camélidos silvestres se cruzan regularmente con los domesticados
yproducen descendencia fértil”: Usa-se o argumento de que estas espécies possuem a capacidade de
cruzarem entre si, e gerar descendência fértil. Porém, embora isso seja verdade, em nada muda a
hipótese de que algumas delas sejam domésticas, uma vez que na natureza elas não se cruzam, e por
outro lado, este não é um critério para atestar a domesticação ou não de uma espécie, posto que
cachorros também se cruzam com lobos, seus ancestrais, gerando descendência doméstica, e até
mesmo com coyotes que nem são seus ancestrais.
“Tercera falacia: es difícil distinguir domesticados de silvestres ya que el proceso de
domesticación es reciente y hay mínimas transformaciones, lo que se relaciona con la primera
falacia”: existe o senso comum de que estas espécies teriam sido domesticadas pelos Incas, e como
este foi um estado recente, estariam portanto semidomesticadas. Isso foi difundido pelos
arqueólogos do século passado, porém hoje sabemos não ser verdade.
TIPOS DE SELECCIÓN EN LA DOMESTICACIÓN
Consideram, a partir da ideia de Darwin sobre domesticação, que há dois tipos de
domesticação: a indireta, de natureza inconsciente, que se dá eliminando indivíduos mais fracos,
velhos e doentes, e a direta que seria a feita conscientemente de seleção artificial e escolha dos que
possuem melhores características.
“Por lo tanto, el concepto de domesticación, que siempre ha sido tomado como un proceso
único, puede ser descompuesto en varias etapas o partes. La primera de ellas, a la que en este
trabajo denominaremos protección de manada, está caracterizada por la actuación de la
selección artificial débil (inconsciente) y la selección natural; y una segunda etapa de
domesticación propiamente dicha, que se caracteriza por una presión selectiva artificial fuerte.
Aunque puede ser un continuo, una etapa no implica la otra, y la dominancia en el tipo de
selección es una cuestión de grado. En la sección siguiente se especificarán los tipos de selección
actuantes en las diferentes etapas de domesticación de los camélidos.” (p.231)
EL MODELO
O modelo, por eles defendido, possuí três etapas. A primeira das quais trata da caça: o
processo de caça começa a primeira forma de seleção artificial como reação das próprias espécies
caçadas, ainda que seja um impacto menor. A segunda etapa seria a de “proteção da manada”. Esta
etapa se caracteriza pela proteção de um
rebanho, feita pelos seres humanos,
contra seus predadores e facilitando o
acesso a alimentação. Nesta etapa os
animais começam a ficar mais
familiarizados e menos estressados com
os humanos.
Para provar que isto se deu entre
os guanacos, e até em vicunhas, os
pesquisadores citam que é comum a
aproximação destes aos seres humanos
em lugares onde não são caçados. A partir desta primeira domesticação, com o animal mais
apassivado ao convívio humano, surgiriam as condições para a terceira etapa com maior
planificação.
CONSIDERACIONES SOBRE LA EVIDENCIA ARQUEOLÓGICA
“Por lo que sabemos hasta la actualidad, las primeras evidencias de lo que generalmente se ha llamado
“domesticación” se produce durante el Holoceno medio ii , entre los 6200 y 3500 años AP, y tienen su origen en la
puna, por encima de los 3200 m.”(p.234)
Os pesquisadores explicam as condições climáticas, especialmente áridas, a que estiveram
estes povos quando começou a domesticação, e o contexto de domesticação de plantas que permitiu
um aumento populacional, que consequentemente permitiu maior complexificação populacional.
Falam sobre os registros arqueológicos faunísticos, ou seja, os ossos das lhamas, que foram
aumentando de tamanho conforme o processo de domesticação avançava, até chegar no tamanho
atual. Também falam das pinturas rupestres que demonstram estas técnicas de domesticação, desde
a caça, proteção do rebanho, e finalmente, a domesticação.
DISCUSIÓN Y CONCLUSIONES
Os pesquisadores reforçam, que a domesticação não se deu de forma unilateral, no controle
dos animais, já que estes animais em partes também determinam as formas e processos de
domesticação, devido aos seus comportamentos. Portanto, a domesticação é uma relação dialética,
do ser humano com a natureza.
No Texto: “Pastoralism and the Emergence of Tiwanaku Civilization in the South-Central
Andes” (1983), Thomas F. Lynch trabalha com o entorno do lago Titicaca, que constituí o coração
dos andes centro-sul. O recorte temporal é o do império Tiwanaku, sua extensão territorial e
fronteiras. Apesar de muitos arqueólogos terem visto esta região como marginal dos Andes centrais,
ou então como parte do andes sul, e uma região muito alta e muito seca para o desenvolvimento da
agricultura, o pesquisador é um dos que vê esta região como capaz de desenvolvimento próprio, não
periférico, de cultura, economia e política. Também discorda dos arqueólogos que analisam as
semelhanças entre a cultura Tiwanaku e Wari, como se a primeira fosse uma difusora da religião e
cultura desenvolvidas pelos segundos, oque ele considera um chauvinismo centro-andino.
Por diversos motivos, suspeita-se que a região da bacia do lago Titicaca seja o local inicial da
domesticação de camelídeos. Um destes motivos, é a enorme quantidade destes animais, em suas
quatro variações, que é encontrada nesta região, o que, por sua vez, já era observado na época dos
primeiros cronistas europeus. Também é verdade que, as formas selvagens destes animais, são
encontradas mais lá do que em qualquer outro lugar.
Os pastos desta região, também seriam os melhores para a criação de camelídeos. E nela
haveria condições que estimularam a inventividade destes povos, que nela viviam, para se proteger
do frio e do clima árido. O próprio cultivo da batata, nestes solos inférteis, demandaria o uso de
esterco para o adubo, o que por sua vez, nos traz novamente à necessidade de domesticação destes
animais. Também o estrume era utilizado como combustível. Assim sendo, o pesquisador defende
uma coevolução simultânea entre a agricultura e a pecuária nesta região.
Lynch argumenta que não se sabe ainda, ao certo, quando aconteceu a domesticação de
camelídeos. Contudo, ninguém nega a possibilidade de isso ter acontecido muito cedo na história
destes povos, e muitos consideram isso bem provável. Cita que, para isto, a tendência gregária dos
camelídeos pode ter contribuído. Além disto, ele nos fala sobre a existência de ossos de camelídeos
novos, e recém nascidos, em contextos arqueológicos datados do quinto milênio a.c., e como se
sabe, os camelídeos domésticos possuem uma tendência muito maior de morrer sedo, devido a
bactérias e doenças que contraíram com o processo de domesticação.
Outros arqueólogos estudaram os ossos de camelídeos domésticos e selvagens, e
considerando que estes últimos vivem em situação de maior estresse registradas em seus ossos,
devido a luta por sobrevivência, haviam microscópicas diferenças em ossos de camelídeos
domésticos e selvagens. Isto, por sua vez, foi notado existir entre ossos dos anos 200 a 400 a.c.. As
Alpacas domésticas, por sua vez, podem ser diferenciadas dos Guanacos e das Vicunhas por sútil
diferença no dente incisor, e estas diferenças aparecem entre os anos 4000 e 3500 a.c..
O autor apresenta uma breve analise sobre alguns povos que habitavam esta região, e a analise
politica e econômica feita por alguns arqueólogos. Enquanto ele ainda acha possível questionar a
existência de organização estatal, nestes povos do entorno do lago Titicaca durante o período pré-
incaico, por outro lado, não haveria dúvidas de que estes povos mantinha constante contatos e
trocas, e estas se davam com a ajuda dos camelídeos, baseadas em caravanas de lhamas.
Para concluir:
“Finally, I would simply note that there is a substantial area of agreement among all these hypotheses: the
Tiwanaku civilization of the South-Central Andes-one of America's greatest and most distinctive-would not have been
possible without a rich tradition of camelid pastoralism, transportation by llama caravans, and agriculture in
complementary zones.” (p.11)
Conclusão:
BIBLIOGRAFIA:
F. LYNCH, Thomas. Pastoralism and the Emergence of Tiwanaku Civilization in the South-Central
Andes. World Archaeology, Vol. 15, No. 1, Transhumance and Pastoralism (Jun., 1983), pp. 1-
14. Published by: Taylor & Francis, Ltd.
MCGUIRE, Randall H. A Marxist Archaeology. 2ª edition. New York: Percheron Press, 2002.
WHEELER, Jane C.; RUSSEL, A. J. F.; REDDEN, Hilary. Llamas and Alpacas: Pre-conquest
Breeds and Post-conquest Hybrids. Journal of Archaeological Science, 1995.