Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apostila Concurso Professor Parte 1 PDF
Apostila Concurso Professor Parte 1 PDF
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
História da Educação Brasileira e as relações entre escola, estado e sociedade. .......................................................................................... 01
Políticas públicas da Educação no Brasil ......................................................................................................................................................... 08
Fundamentos e concepções de gestão e diferentes formas de estruturação na organização da escola ........................................................ 08
Gestão e instâncias colegiadas na unidade escolar; estrutura, funcionamento e organização. ...................................................................... 36
Formação do Pedagogo no Brasil .................................................................................................................................................................... 45
O financiamento da educação .......................................................................................................................................................................... 47
Educação e Pedagogia: bases filosóficas, sociológicas, psicológicas, antropológicas e políticas de educação............................................. 49
A Pedagogia: seu objeto, campo de conhecimento e de trabalho; as correntes pedagógicas ........................................................................ 73
A relação entre educação/cultura/ética e cidadania. ...................................................................................................................................... 118
Concepções e teorias curriculares ................................................................................................................................................................... 82
O Projeto Político Pedagógico - Papel e função da escola: concepções e diferentes formas de organização do conhecimento e
do tempo nos currículos escolares ................................................................................................................................................................... 97
A didática e as diferentes formas de organizar o ensino. ............................................................................................................................... 109
Formação continuada do professor ................................................................................................................................................................ 116
Escola, violência e cidadania.......................................................................................................................................................................... 118
Organização do trabalho pedagógico na escola: o pedagogo como educador e mediador no ambiente de trabalho. .................................. 109
mundo capitalista subdesenvolvido, entretanto, a coisa ia de mal a pior.
Reduzido a poucas e em geral inoperantes iniciativas socio-econômicas
recheadas de muito, muito discurso eleitoreiro e uma boa dose de
regimes ditatoriais para conter a insatisfação, o liberalismo
subdesenvolvido, ao invés de criar prosperidade social e econômica
para todos aprofundou o fosso das diferenças sociais. Ricos ficaram
mais ricos e cada vez em melhor número; pobres se multiplicavam e
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E AS RELA-
viravam miseráveis.
ÇÕES ENTRE ESCOLA, ESTADO E SOCIEDADE.
Já na década de 80, este modelo liberal de Estado dava mostras
A divisão do trabalho social vai ter como consequência a de esgotamento. Na verdade, a própria fórmula capitalista mostra-se
cristalização destas posições. Não a partir do ponto de vista de um ou esgotada simplesmente porque não sobrevive sem mecanismos
outro cidadão, mas a partir do ponto de vista de classe. Com efeito, as intensos e seguros de exploração. Estes mecanismos, que, antes do
classes sociais vão balizar o estabelecimento do público e do privado. Welfare State situavam-se em nível interno dos países desenvolvidos e,
Mas, também, vão iniciar um relacionamento tenso, em busca da após este, deslocaram-se para a exploração inter-nacional, também
hegemonia - a luta para definir e estabelecer o que é público (seu não se encontram seguros no modelo atual. A velocidade com que o
espaço) e para controlá-lo. Entretanto, uma das classes sociais capital financeiro gira pelo mundo, passando por países em “bolhas de
básicas, a que detém os meios de produção, passa a estabelecer desenvolvimento” fabricadas para facilitar a exploração (vide o sudeste
ditatorialmente este espaço do público, uma vez que possui os asiático), torna as criaturas um perigo para seus criadores.
elementos materiais necessários e indispensáveis à produção. Com
É preciso, então dar uma sobrevida ao capitalismo, enquanto se
isto, esta classe torna-se dominante.
pensa em coisa mais duradoura e segura (e que não afete os
Não obstante este controle do espaço público, a classe interesses dos países poderosos). Surge então o tal de
dominante sabe que precisa mantê-lo, e, para isto, utiliza-se de Neoliberalismo. O Estado Neoliberal, em essência, é o mesmo Estado
mecanismos de controle que vão desde a força bruta até o Liberal, mas agora sob nova embalagem. Esta embalagem estabelece
convencimento sutil via Ideologia. Em consequência desta necessidade o aprofundamento, em função dos interesses dos países centrais, de
do controle sutil da sociedade, surge, então uma entidade denominada uma característica básica do capitalismo: a economia de mercado. O
Estado. “mercado” passa a ditar quase todas as normas das transações
O papel do Estado seria como que um mediador entre as pessoais, e institucionais, constituindo o próprio limite (?) ético vigente.
classes, procurando evitar conflitos maiores e garantir direitos a todos. Ao enfatizar novamente, agora com mais vigor, a economia de mercado
Observe que, embora os interesses para a criação do Estado fossem como base da vida econômica dos países, o capitalismo vai mexer
os mais excusos, ele acaba por revelar-se - inicialmente, pelo menos - também na questão do Estado. Se quase tudo agora é regido pelos
interessante ao dominado. O primeiro Estado pré-capitalista contratos econômicos, então os serviços básicos do velho Estado do
caracterizava bem esta concepção de coisa arranjada. Era bem-estar social também serão vertidos à iniciativa privada. O Estado
personificado, na França, pelo Rei, que bradava aos quatro ventos: “O diminui de tamanho, passando a controlar apenas alguns poucos
Estado sou eu”. No Brasil, D. Pedro I inaugura seu “Poder Moderador”, setores da sociedade, geralmente burocráticos e/ou militares. É o
que na verdade era um Estado de fato dentro de um Estado que se Estado Mínimo, característica do Neoliberalismo.
dizia de Direito. Novamente, encontramo-nos às voltas com a questão público x
Com a evolução do capitalismo, este conceito de Estado também privado. Ao privatizar descontroladamente o público, o Estado
evolui e se aperfeiçoa. Surge o chamado “Estado democrático”, Neoliberal aprofunda mais ainda (e a gente que pensava que pior não
característica do Liberalismo Econômico, que se fortalece a partir o podia ficar...) nos países periféricos as diferenças sociais, com um
“New Deal”, o pacto de Estado estabelecido pelos Estados Unidos após agravante: de tanto se “purificar” o capitalismo vira autofágico. Por isto
a grande crise da década de 30. Este Estado Liberal vai inaugurar no o Neoliberalismo tem perna curta. Ótimo momento econômico para se
mundo o “Welfare State”, ou Estado do bem-estar social. Neste modelo, começar a questioná-lo (desemprego altíssimo, espasmos financeiros),
cabe ao Estado proporcionar a todos os cidadãos condições básicas bem como ao capitalismo como um todo, mas péssimo momento
para uma vida digna, como Educação, Saúde, Habitação, Saneamento, político. Os poderosos são espertos, e, ao verem a coisa preta tratam
Transportes, etc, tudo de boa qualidade. Os direitos básicos do cidadão de limpar as mais improváveis ameaças político-ideológicas que
seriam preservados, contanto que não se questionasse a forma como a possam surgir no futuro. Não existe mais o chamado “mundo
classe dominante obtinha seu poder. Esta forma se manifestou logo, comunista”; até um pequeno e desajeitado Sadam Hussein é tido pelos
logo, através de mecanismos imperialistas de dominação de países, EUA como “ameaça à humanidade”. Entretanto existem focos
tornando outros países, geralmente com mão-de-obra barata e vastos importantes de descontentamento e o poder não é monolítico,
recursos naturais a serem explorados, países dependentes. O Estado apontando para um futuro imprevisível.
Liberal vicejou no pós-guerra em todos os países desenvolvidos. No
1
Que tipo de Educação viceja em um Estado Neoliberal? b) a econômica, visando a um Estado regulador, indutor,
coordenador e mobilizador dos agentes econômicos e sociais;
Para responder a esta pergunta, e’ importante retornarmos aos
princípios do Estado capitalista. Observe que a questão público x c) a social, com a crise do Estado de Bem-Estar Social;
privado está na base da questão do Estado capitalista. Não é por outro
d) a política, questionando-se a incapacidade de institucionalizar
motivo que a Escola Pública vai surgir justamente com o capitalismo:
a democracia e prover uma cidadania adequada; e
uma tentativa do Estado (ou da classe que controla o Estado) de
estender seus domínios a todos os setores da sociedade civil. No e) a crise do modelo burocrático de gestão pública, tendo em
entanto é justamente aí, na contraditória escola pública, que vão surgir vista os elevados custos e a baixa qualidade dos serviços prestados
os mais eficientes focos de resistência a esta concepção de Estado. A pelo Estado.
palavra chave para compreendermos este caráter contraditório da Cada perspectiva da crise do Estado vem impregnada de um
escola é “Cultura”. Ou, se desejarmos ir mais fundo, “Trabalho”. entendimento específico sobre quais são os principais problemas e
Observe nossa primeira aula destes resumos e veja o porquê. A sobre o que fazer para que ocorra uma redefinição do papel ideal do
Cultura, forjada no Trabalho, é a base da educação. Sendo um Estado, suficiente para superar os problemas indicados. O possível
processo e um produto social, a cultura é múltipla, dinâmica e consenso seria quanto ao que se deveria esperar de uma reforma
contraditória. É impossível controlar a cultura, embora os apocalípticos estatal: que ela permitisse ao Estado desenvolver a capacidade
livros de “Admirável Mundo Novo” (Huxley) e “1984” (Orwell) tentem por administrativa, no sentido de melhorar o desempenho público e a
vezes nos convencer do contrário. qualidade dos serviços dirigidos às necessidades públicas.
A Educação capitalista, portanto, vai gerar um tipo de escola que Bresser Pereira (2001), analisando as concepções e
possui características contraditórias: reproduz a ideologia dominante, perspectivas teóricas da reforma do Estado, presentes na literatura,
mas também é importante foco propagador de contra-ideologia. A luta destaca a heterogeneidade de respostas à questão de como reconstruir
de classes (sem trocadilho...) se dá dentro da escola, da mesma forma o Estado no sentido de melhor capacitá-lo a intervir e implementar as
que fora dela. A escola não é melhor nem pior que outras instâncias políticas econômicas, manter a ordem pública e oferecer serviços
sociais, é mais uma delas. O pensamento privatista existente na escola sociais com boa qualidade, e indica quatro principais abordagens
pública não a transforma em bem privado, mas acentua a dominação. teóricas da reforma do Estado: a neoliberal, a sociologia institucional, a
Isto é ruim. escolha racional e o modelo principal-agente, caracterizando-as.
Com o Neoliberalismo, a escola tende a ser cada vez mais Especificamente quanto ao caso brasileiro, Barreto (1999), a
“privatizada” em seus princípios e metas. A educação tende a partir de análise do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado,
direcionar-se para o mercado, não para a realização “do homem todo e indica a conjugação de quatro processos interdependentes, a saber: a
de todos os homens”. Tende a estabelecer para as pessoas, desde redefinição das funções do Estado, a redução de seu grau de
cedo, que devem sufocar seus sonhos em função dos ditames do interferência, o aumento da governança e da governabilidade.
mercado. Com o acirramento da competição, o aumento do
desemprego e a desvalorização das profissões desinteressantes ao O aparelho de Estado é entendido como compreendendo quatro
Capital, a escola tende a fechar-se em possibilidades e regras que setores de atuação:
muitas vezes violentam os quereres humanos. 1) o núcleo estratégico,
Tendência é direção, não é destino. A escola, portanto, não vai 2) as atividades exclusivas do Estado,
morrer em seu caráter público e democrático, simplesmente porque é
3) os serviços não-exclusivos do Estado e
humana. E porque a Cultura é ato humano. Isto não quer dizer que o
Estado Neoliberal não faça um enorme estrago na consciência das 4) a produção de bens para o mercado.
próximas gerações.
A atuação direta do governo fica restrita aos dois primeiros. Nos
Nas últimas três décadas do século XX ocorreram profundas dois últimos setores - entre os quais está a Educação-, o Estado tem
transformações no mundo, nos planos econômico, político, cultural e uma atuação indireta na sua promoção e financiamento, parcial ou
social. Uma das principais mudanças refere-se ao papel do Estado- totalmente.
Nação, que, na sociedade global, não só é redefinido, mas perde
Pode-se inferir, pelas características que Pereira indica e pelas
algumas de suas prerrogativas econômicas, políticas, culturais e
que Barreto descreve, que o processo de reforma do Estado que vem
sociais, debilitando-se. No Brasil, em especial a partir da década de 80,
sendo desenvolvido no Brasil volta-se para as características do
ocorre uma situação comumente designada como “crise do Estado”.
modelo neoliberal. Devido à prioridade que este modelo imprime à
Esta expressão é utilizada muitas vezes sob um falso consenso, questão econômica, as principais críticas que lhe são feitas referem-se
por reunir sob o mesmo título diversas crises simultâneas: às suas consequências no campo social. Mais especificamente, as
críticas voltam-se aos seus efeitos negativos sobre o Estado de Bem-
a) a fiscal, entendida como o excesso de gasto público social;
Estar Social.
2
No Brasil, aquelas áreas tradicionalmente atendidas e Por meio desta breve caracterização do período abordado, da
consideradas como parte do Estado de Bem-Estar Social, entre as crise do Estado e seu processo de reforma, é possível identificar
quais a Educação, são diretamente afetadas pela crise. Segundo algumas de suas relações com a Educação, a partir de diretrizes
Azevedo (2000:17), a Educação no Brasil “se constitui como um setor estabelecidas e políticas implementadas. Todo esse processo e
que se tornou alvo das políticas públicas, em estreita articulação com relações são fomentadores de questionamentos diversos, por parte da
as características que moldaram o seu processo de modernização e comunidade acadêmica, gerando farto material sobre o tema. Porém,
desenvolvimento”. conforme o prisma sob o qual ele estiver sendo observado, a
perspectiva adotada para analisá-lo é diferente. Abre-se aqui a
Na década de 80 a ênfase passa a ser a eficiência do
possibilidade de análise sobre quais são e como se relacionam (se isso
funcionamento das instituições escolares e a qualidade de seus
ocorre) estas perspectivas.
resultados. É importante ressaltar a influência de organizações
internacionais no estabelecimento destas diretrizes, estabelecidas para
o aparelho de Estado como um todo, em seu processo de reforma.
EDUCAÇAO/SOCIEDADE E PRATICA ESCOLAR
Esta tendência permanece na década de 90, em que “... o
A crescente preocupação com educação corporativa exige que
Estado procurará imprimir maior racionalidade à gestão da educação
cada vez mais os responsáveis pela concepção, desenho e
pública, buscando cumprir seus objetivos, equacionar seus problemas e
implementação das ações e dos programas educacionais aprofundem
otimizar seus recursos, adotando em muitos casos o planejamento por
seus conhecimentos sobre educação e pedagogia. Sempre é oportuno
objetivos e metas”.
relembrar que:
A Educação passa por reformas em sua estrutura e orientações,
• Educação diz respeito à influência intencional e sistemática
destacando-se as seguintes:
sobre o ser humano, com o propósito de formá-lo e desen-
• redistribuição de recursos; volvê-lo em uma sociedade.
3
seus condicionantes econômicos, sociais e políticos. Esta segunda, vos colaboradores da empresa, novos parceiros, novos for-
além de ser crítica, é reprodutivista. Através da aprendizagem de necedores e público-externo em geral; adequada e neces-
alguns saberes, envolvidos na ideologia dominante, é que são sárias para todos aqueles (novos ou antigos) que apresen-
reproduzidas as relações do trabalho, as relações de poder e as tem baixo grau de alinhamento cultural.
relações sociais vigentes.
• Estratégia de Reprodução - fundamental nas ações e pro-
gramas educacionais dirigidos para os líderes e gestores
empresariais, e formadores de opinião, sejam membros in-
3. TRANSFORMADORA
ternos ou externos; deve enfatizar os traços culturais vigen-
Tem por perspectiva compreender a educação como mediação tes que são alavancadores do sucesso empresarial.
de um projeto social. Ela nem redime, nem reproduz a sociedade, mas
• Estratégia de Transformação - inicialmente deve ser utiliza-
serve de meio para realizar um projeto de sociedade. Propõe-se
da nas ações e programas educacionais para alta direção e
compreender a educação dentro de seus condicionantes e agir
lideranças empresariais, estimulando-os a identificar as
estrategicamente para sua transformação. Propõe-se desvendar e
discrepâncias de percepção entre cultura atual declarada e
utilizar-se das próprias contradições da sociedade, para trabalhar
a praticada na empresa (por exemplo: novos traços a se-
realística e criticamente pela sua transformação.
rem incorporados, atuais traços que deveriam ser abando-
Tenho enfatizado que a educação corporativa é um dos principais nados, barreiras que impedem a prática qualificada da cul-
veículos de consolidação e disseminação da cultura empresarial. Por tura empresarial desejada), para que seja possível formular
isso, a transposição das ideias apresentadas acima, para um Sistema um projeto de mudança e transformação rumo a uma nova
de Educação Corporativa, parece extremamente útil para aqueles cultura empresarial, que por sua vez fundamentará futuro
responsáveis pela concepção do programas educacionais, na medida processo de reeducação.
que permitem identificar com clareza como deverão ser trabalhados os
Paulo Freire foi um dos poucos pensadores da educação e da
aspectos relativos à cultura empresarial. Ou seja, será que através da
pedagogia que deu prioridade à área político-pedagógica, pensada no
educação corporativa pretende-se adaptar e integrar os indivíduos aos
âmbito das relações entre a História e a educação. Ele destacou a
valores e princípios da cultura vigente?
importância do papel interferente da subjetividade na História que, por
Ou pretende-se reproduzi-los e disseminá-los? Ou não, os si, já implica a requalificação do papel da educação. Assim ele via a
programas devem estimular uma leitura crítica da cultura e realidade educação:
empresarial, e favorecer a formação de uma nova mentalidade e modo
“(...) Como processo de conhecimento, formação, política,
de pensar, que estimule a mudança organizacional? Ou todas as
manifestação ética, procura da boniteza, capacitação científica e
anteriores, dependendo da situação e do público-alvo dos programas?
técnica... É prática indispensável aos seres humanos e deles específica
É inquestionável que alguns dos principais objetivos esperados na História como movimento, como luta. A História como possibilidade
com um Sistema de Educação Corporativa são: não prescinde da controvérsia, dos conflitos que, em si mesmos, já
• Conscientizar gestores e suas equipes sobre a importância engendrariam a necessidade da educação.” (Política e Educação: 1993,
de vivenciar e praticar a cultura empresarial, buscando p.14).
sempre o equilíbrio construtivo entre a necessidade de ga- As diversas teorias que explicam as origens da humanidade
rantir a prática dos princípios filosóficos corporativos bási- mostram vários caminhos pelos quais o homem chegou a elaborar sua
cos e as especificidades da realidade dos diferentes públi- capacidade de comunicação verbal.
cos envolvidos.
Durante o 1º ano de vida, o cérebro triplica de tamanho, com o
• Ser um instrumento de alinhamento entre a cultura empre- passar do tempo aumenta o número de sinapses e o desafio dos pais é
sarial e os colaboradores em todos os níveis, disseminan- manter essa rede de sinapses formadas. Sabemos que quando uma
do-a em toda a cadeia produtiva onde a empresa opera. habilidade não é utilizada a sinapse correspondente deixa de acontecer.
• Constituir-se em instrumento para promover e consolidar a Estimular é apresentar à criança situações novas com os quais ela
integração cultural. possa se relacionar ludicamente .
É fácil perceber que para cada um dos objetivos apontados É possível fazer novas conexões (sinapses) para o resto de
acima existem estratégias educacionais mais adequadas no que se nossas vidas, só que de uma forma mais difícil do que durante os
refere à dimensão cultural, embora não sejam necessariamente primeiros anos de formação.
excludentes. Mas de modo geral poderíamos classificá-las da seguinte Na verdade, todas as descobertas da ciência devem ser
forma: encaradas como instrumentos que ajudem a formar indivíduos
• Estratégia de Integração - deve ser aplicada principalmente equilibrados, com espírito crítico e aptos a lidar consigo e com o mundo
nas ações e programas educacionais voltados para os no-
4
que os rodeia. Deve colaborar na construção da inteligência das A memória do indivíduo é estruturada em memória de curta
crianças. duração ou memória de trabalho e memória de longa duração.
Um ambiente rico e diverso, que estimula os cinco sentidos e o A aquisição de esquemas e a automação são os fatores
aspecto emocional, é fundamental na tarefa de estimulação. principais no desempenho de habilidades e na aprendizagem, porém o
ensino raramente é estruturado tendo isto em mente.
A teoria construtiva de Jean Piaget baseia-se na premissa de que
a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem Segundo Gardner em sua teoria de inteligências múltiplas, o
com o meio. cerne da teoria é a valorização das diferenças individuais. Gardner
chama de inteligência muitas outras competências além da lógica,
Existem dentro de teorias de aprendizagem os aprioristas que
matemática e a linguística, medidas pelos testes de QI. Para ele há
acreditavam que a origem do conhecimento está no próprio sujeito e os
pelo menos mais cinco: musical, espacial, corporal, sinestésica,
empiristas que acreditavam que as bases do conhecimento estão nos
interpessoal e intrapessoal.
objetos.
O conhecimento é a representação mental da experiência
As teorias de Piaget fundem esses 2 paradigmas e têm 3
adquirida, normalmente registrado na memória através das impressões
conceitos fundamentais: interação/assimilação e acomodação.
emitidas pelo corpo associados ao processo cognitivo ocorrido no
O construtivismo é um novo modo de ver o universo, a vida e o cérebro. São imagens mentais ligadas intrinsecamente à sensações,
mundo das relações sociais. emoções e sentimentos, que, quando revividos ativam todo complexo
A busca de novos meios é parte do processo de tomada de relativo aquela experiência.
consciência. A Noção de “rede” gerada pelo emaranhado de neurônios é
A inteligência no seu conjunto é que estrutura as formas de semelhante à rede virtual da Internet.
representação (Piaget). A 4ª geração da Educação está baseada no computador e
A linguagem e a função semiótica permitem a comunicação. fundamentada nas teorias construtivistas da aprendizagem.
Segundo Piaget as interações sociais se desenvolvem em torno A aprendizagem cooperativa envolve problemas, para
e partir das relações entre 3 aspectos: as normas, a estrutura de vida desenvolver novos hábitos de cooperação e de comunicação,
social, os valores e os sinais. As interações podem ocorrer na forma de mudanças culturais e novas estratégias cognitivas.
coação, autonomia ou anomia. A cognição é anterior ao conjunto de formas simbólicas. A
As relações cooperativas implicam em 3 condições inerentes nos atividade cognitiva representa sons especificamente humanos de
processos operatórios: inteligência como a inteligência pré-verbal e a interiorização da imitação
em representações.
1º) Os interlocutores estejam de posse de uma escala comum de
valores. Com o desenvolvimento da tecnologia foram criados novos
ambientes de aprendizagem nas escolas.
2º) Igualdade geral dos valores.
É também nas escolas que as crianças aprimoram sua
3º) Possibilidade de retornar às validades reconhecidas desenvoltura, social e intelectual.
anteriormente.
Os cenários educacionais baseados em hipertecnologias
Segundo Morgan C. T. a aprendizagem apresenta 2 tipos representam experiências cooperativas.
básicos: o condicionamento clássico e o condicionamento operante.
O construtivismo foi um movimento determinante na história da
A capacidade para aprender depende do aprendiz, do método de cultura, cujo legado se faz sentir até hoje.
aprendizagem e do tipo de material utilizado para a aprendizagem.
O construtivismo refletia as alterações provocadas pela
O aprendiz depende do nível de inteligência, de idade, do Revolução Industrial na vida cotidiana e artística. Hoje sentimos e
estímulo e ansiedade e de transferência de aprendizagem anterior. falamos em construtivismo, assunto em voga na vida cultural porque
As estratégias de aprendizagem envolvem o dilema: prática assistimos a transformação profunda da sociedade por efeito da
maciça x espaçada; feedbacks, aprendizagem de todo ou interferência das novas tecnologias em nosso modo de viver: a
aprendizagem de partes e os programas de aprendizagem. revolução eletrônica que se opera sobre a era industrial nessa
passagem para o terceiro milênio.
O material de aprendizagem tem que apresentar: distinção
perceptiva, significado associativo, semelhanças conceituais, hierarquia Os processos de assimilação da realidade são adaptados ao
conceitual, hierarquia associativa. ambiente com o qual o indivíduo interage.
O primeiro plano de interação pelo ambiente hipertextual é o Fundamentalmente, Durkheim parte do ponto de vista que o
relativo às relações sujeito-objeto que se expressam no uso de homem é egoísta, que necessita ser preparado para sua vida na
ferramentas individuais e cooperativas de editoração. sociedade. Este processo é mediatizado pela família e também pelas
escolas e universidades:
Os mapas conceituais são representações gráficas semelhantes
a diagramas, que indicam relações entre conceitos ligados por A ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não
palavras. Os mapas conceituais podem ser descritos sob diversas estãomaduras para a vida social, tem por objetivo suscitar e
formas: perspectiva abstrata, perspectiva de visualização, perspectiva desenvolver na criança determinados números de estados físicos,
de conversação. intelectuais e morais que dele reclamam, por um lado, a sociedade
política em seu conjunto, e por outro, o meio especifico ao qual está
Os mapas conceituais podem ser úteis para a elaboração do
destinado. (DURKHEIM, 1973:44)
material didático em hipermídia. Os mapas conceituais se destinam a
hierarquização e a organização. Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social, e a
educação é considerada como o fato social, isto é, se impõe,
A educação do século XXI deverá preparar os alunos para se
coercitivamente, como uma norma jurídica ou como uma lei. Desta
integrarem em uma economia globalizada, baseada em conhecimento,
maneira a ação educativa permitirá uma maior integração do indivíduo
no qual o conhecimento será o recurso mais crítico para o
e também permitirá uma forte identificação com o sistema social.
desenvolvimento social e econômico.
Durkheim rejeita a posição psicologista. Para ele, os conteúdos
O aluno deverá “aprender a aprender”.
da educação são independentes das vontades individuais, são as
Existem três elementos fundamentais para o sucesso do ensino normas e os valores desenvolvidos por uma sociedade o grupo social
à distância: projeto, tecnologia e suporte. em determinados momentos históricos, que adquirem certa
A primeira forma de ensino à distância foram os cursos por generalidade e com isso uma natureza própria, tornando-se assim
correspondência. Atualmente vídeo e tecnologias computacionais são “coisas exteriores aos indivíduos”:
os meios mais empregados. A criança só pode conhecer o dever através de seus pais e
Existe o Netmeeting que são ambientes de aprendizagem que mestres. É preciso que estes sejam para ela a encarnação e a
proporcionam encontros virtuais entre usuários o sistema. personificação do dever. Isto é, que a autoridade moral seja a qualidade
fundamental do educador. A autoridade não é violenta, ela consiste em
Em um processo de educação construtivista a avaliação é um certa ascendência moral. Liberdade e autoridade não são termos
elemento indispensável para a reorientação dos desvios ocorridos excludentes, eles se implicam. A liberdade é filha da autoridade
durante o processo e para gerar novos desafios ao aprendiz. bem compreendida. Pois, ser livre não consiste em fazer
Segundo Rodrigues avaliar é verificar como o conhecimento está aquilo que se tem vontade, e sim em se ser dono de si próprio, em
se incorporando no educando, e como modificar a sua compreensão de saber agir segundo a razão e cumprir com o dever. E justamente a
mundo e elevar sua capacidade de participar onde está vivendo. autoridade de mestre deve ser empregada em dotar a criança desse
domínio sobre si mesma (DURKHEIM, 1973:47).
Nos ambientes construtivistas destacam-se a observação, a
testagem e a auto-avaliação como as principais técnicas de avaliação. Talcott Parsons (1964), sociólogo americano, divulgador da obra
de Durkheim, observa que a educação, entendida como socialização, é
Nos ambientes construtivistas virtuais, as técnicas de avaliação
o mecanismo básico de constituição dos sistemas sociais e de
são as mesmas.
manutenção e perpetuação dos mesmos, em formas de sociedades, e
Nos últimos anos houve uma mudança significativa na pirâmide destaca que sem a socialização, o sistema social é ineficaz de manter-
populacional brasileira. O Brasil deixou de ser um país apenas de se integrado, de preservar sua ordem, seu equilíbrio e conservar seus
jovens. O envelhecimento da população brasileira é um fato. limites.
Pretendo viver bastante e com qualidade; o que será que vou O equilíbrio é o fator fundamental do sistema social e para que
encontrar daqui a alguns anos? este sobreviva é necessário que os indivíduos que nele ingressam
assimilem e internalizem os valores e as normas que regem seu
A sala de aula tradicional behavionista?
funcionamento.
A sala de aula construtivista.?
6
Aqui encontramos uma primeira diferença com o pensamento de Segundo Dewey, educação e democracia formam parte de uma
Durkheim, que destaca sempre o aspecto coercitivo da sociedade totalidade, definem a democracia com palavras liberais, onde os
frente ao indivíduo. Parsons afirma que é necessário uma indivíduos deveriam ter chances iguais. Em outras palavras, igualdade
complementação do sistema social e do sistema de personalidade, de oportunidades dentro dum universo social de diferenças individuais.
ambos sistemas tem necessidades básicas que podem ser resolvidas
Para Mannheim, a educação é uma técnica social, que tem como
de forma complementar.
finalidade controlar a natureza e a historia do homem e a sociedade,
O sistema social para Parsons funciona harmonicamente a partir desde uma perspectiva democrática. Define a educação como:
do equilíbrio do sistema de personalidade. A criança aceita o marco
O processo de socialização dos indivíduos para uma
normativo do sistema social em troca do amor e carinho maternos.
sociedade harmoniosa, democrática porem controlada,
Este processo se desenvolve através de mediações primarias: planejada, mantida pelos próprios indivíduos que a compõe. A pesquisa
os próprios pais através da internalização de normas, inicia o processo é uma das técnicas sociais necessárias para que se conheçam as
de socialização primaria. A criança não percebe que as necessidades constelações históricas especificas. O planejamento é a intervenção
do sistema social estão se tornando suas próprias necessidades. Desta racional, controlada nessas constelações para corrigir suas distorções e
maneira, para Parsons, o indivíduo é funcional para o sistema social. seus defeitos. O instrumento que por excelência põe em pratica os
Tanto para Durkheim como para Parsons, os princípios básicos que planos desenvolvidos é a Educação. (MANNHEIM, 1971:34)
fundamentam e regem ao sistema social são:
A prática da socialização percorre diversos espaços, como
- continuidade família e outros grupos primários, a escola, clubes, sindicatos, etc.
A educação não é preparação nem conformidade. Educação é Se o atributo escolaridade passa a fazer diferença, qual
vida, é viver, é desenvolver, é crescer. (DEWEY, 1971:29). escolaridade faz mais diferença, se tomarmos como parâmetro as
mudanças na organização do trabalho, em função dos avanços
Para Dewey, a escola é definida como uma micro-
tecnológicos? Como organizar a aprendizagem para que os alunos
comunidade democrática. Seria o esboço da “socialização
ganhem melhores condições de inserção na sociedade e no trabalho?
democrática”, ponto de partida para reforçar a democratização da
Esta é a nossa questão.
sociedade.
7
Há um outro dado importante a considerar: o país e, em especial, POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL.
o estado de São Paulo, entram no século XXI “com a maior população FUNDAMENTOS E CONCEPÇÕES DE GESTÃO E DIFERENTES
juvenil de sua história demográfica.” Este contingente jovem é o mais FORMAS DE ESTRUTURAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA.
sensível e vulnerável às mudanças e se vê frequentemente excluído,
A educação nunca deixou de ser a via e o caminho da marcha e
inclusive na esfera educacional, tendo em vista a insuficiência e a
crescimento da espécie humana. Afinal, a evolução do homem, se em
inadequação do que lhe é oferecido face às exigências sociais.
parte foi biológica, somente se efetivou com o imenso esforço histórico-
“ A dificuldade de acesso ao trabalho dos jovens se agrava nos social que o trouxe até as alturas do presente desenvolvimento
grupos de menos escolaridade e agrava a exclusão , dado que sem científico e cultural. E todo aquele processo histórico pode, em rigor, ser
emprego não se tem rendimento próprio nem condições de vivenciar a considerado resultado do intercurso entre a condição humana e a
própria juventude, o que impede que se desenvolva a necessária educação.
motivação para elaborar projetos de futuro”. (Madeira,Felicia/20 anos
Mas uma coisa é tal processo espontâneo e mais ou menos
no ano 2000, p.9).
inconsciente do desenvolvimento do homem, e outra o projeto
consciente de conquista do saber e de sua aplicação à vista.
Os depoimentos não surpreendem; as análises sobre os Este projeto nunca foi geral nem abrangeu toda a espécie.
problemas da juventude no mundo, talvez. Subordinado à estrutura hierárquica da sociedade, foi, desde seu início
Diz Castells: “ a rebeldia dos jovens de antigamente era uma na remota. Antiguidade, projeto especial para a educação dos poucos
atitude dinâmica sem a qual não haveria mudança social possível, mas privilegiados, que realmente dominavam a espécie e detinham o poder.
o que se observa, atualmente, é uma dissonância cognitiva entre o que Daí a relação, inerente e intrínseca, entre educação e política.
os jovens sentem e os valores e as mensagens que a sociedade lhes
A criação de políticas educacionais nacionais deve ser prioridade
transmite. É importante definir o conteúdo e o sentimento dessa cultura
de qualquer governo comprometido com o desenvolvimento da
juvenil, particularmente dos jovens das camadas populares mais
sociedade brasileira, pois, com certeza, programas e ações isoladas
pobres.”
não poderão produzir resultados na escala demandada pelo país.
O desafio é, sem dúvida, muito grande. A definição desse Nesse sentido uma política interessante seria a análise e replicação das
conteúdo e da cultura juvenil é mais uma questão que nos diz respeito ações que já apresentam sucesso em seus objetivos.
e deve se fazer por meio das observações em cada unidade escolar,
A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE TODOS
das relações entre professores e alunos, das relações entre os alunos.
Isso significa dizer que não há uma perspectiva pronta, que deva Afinal, contudo, nas alturas do século XVIII, amadureceu a
explicar como são os jovens que estão em cada escola e como abordá- possibilidade, e com ela a ideia e disposição, de oferecer a educação a
los. todos. Algumas nações, então, generalizaram a escola para todos,
esforço em que agora se debatem as nações subdesenvolvidas.
Os estudos realizados sobre a juventude permitem uma reflexão
inicial, mas é preciso verificar de que ponto de vista estão falando, que O problema crítico desse período de generalização da escola foi
recortes fazem ao abordar a questão. Muitos desses estudos o da quantidade e número das escolas, sendo relativamente secundário
preocupam-se com a violência ou com o uso de drogas: são o problema do processo de ensino e de sua qualidade. Atingida que foi
reveladores de uma situação cotidiana, valiosos conhecimentos, mas a expansão da escola para todos, a preocupação pelo processo do
não dão conta de todas as demais questões e nem se propuseram a ensino tomou vulto e podemos considerá-lo dominante a partir da 2ª
tal. Precisamos de uma escola que possa responder, também, a outras metade do século passado.
perguntas.É possível “reinventar” a escola e transformá-la em um
No começo deste século, ocorreu mudança significativa: o puro e
espaço de jovens e para jovens? É possível construir essa escola,
simples processo de transmissão do conhecimento e da herança
garantindo uma qualidade diferenciada de aprendizagem? Que
cultural às crianças e aos jovens, com atenção apenas ao corpo de
características apresenta essa escola?
conhecimentos, hábitos e atitudes do passado, a serem inculcados pela
Certamente é possível, por mais que já tenhamos inventado. Que endoutrinação - foi considerado insuficiente e inadequado, e o problema
ninguém nos negue o esforço e a vontade de mudar. Mas, como? da criança, do aluno, surgiu, vindo a se fazer central em nosso século.
Já não era só a quantidade de escolas, já não era só o problema de
A nova proposta, expressa nas Diretrizes e Parâmetros
organizar e melhorar o conteúdo do ensino fundado no passado; já
Curriculares para o Ensino Médio, aponta direções. Não deve ser
agora, o importante é o estudo da criança e de seus problemas e a
tomada como uma proposta fechada, mas como uma orientação para a
descoberta do melhor método de acompanhar-lhe o crescimento e a
elaboração da política de escola, consideradas a história, a experiência
aquisição da cultura de seu tempo e de seu presente e futuro.
e as peculiaridades.
POLÍTICAS EDUCACIONAIS
8
A conjuntura das políticas educacionais no Brasil ainda conclusão, do ponto de vista marxista, de que a estrutura social
demonstra sua centralidade na hegemonia das ideias liberais sobre a dominante constitui “aparelhos ideológicos” em forma de
sociedade, como reflexo do forte avanço do capital sobre a organização superestrutura, mantendo a opressão. Segundo Louís Althusser a
dos trabalhadores na década de 90. A intervenção de mecanismos escola é o principal aparelho ideológico da sociedade e, em seu
internacionais como o FMI e o Banco Mundial, aliada à subserviência entendimento, como a estrutura determina a superestrutura, não é
do governo brasileiro à economia mundial, repercute de maneira possível qualquer mudança social a partir da educação. Moacir Gadotti
decisiva sobre a educação. considera a posição de Althusser bastante equivocada do ponto de
vista da emancipação humana, pois gera uma situação de passividade
Em contrapartida, a crise do capitalismo em nível mundial, em
e impotência, o que revela um caráter ideológico de sua própria teoria,
especial do pensamento neoliberal, revela, cada vez mais, as
já que “a subserviência da omissão interessa mais à dominação do que
contradições e limites da estrutura dominante. A estratégia liberal
o combate a favor dela”. Para Gadotti, “se aceitarmos a análise de
continua a mesma: colocar a educação como prioridade, apresentando-
Althusser, certamente a educação enquanto sistema ou subsistema é
a como alternativa de “ascensão social” e de “democratização das
um aparelho ideológico em qualquer sistema político. Mas se
oportunidades”. Por outro lado, a escola continua sendo um espaço
aceitarmos que ela é também ato, práxis, então as coisas se
com grande potencial de reflexão crítica da realidade, com incidência
complicam. Não podemos reduzir a educação, a complexidade do
sobre a cultura das pessoas. O ato educativo contribui na acumulação
fenômeno educativo apenas às suas ligações com o sistema”.
subjetiva de forças contrárias à dominação, apesar da exclusão social,
característica do descaso com as políticas públicas na maioria dos De certa forma, Gramsci é que dá um novo rumo ao conceito de
governos. ideologia e, com isso, fornece valiosas contribuições para a construção
da educação voltada para a transformação social. Um dos conceitos
O propósito do presente texto é apresentar, em síntese, as
fundamentais adotados por Gramsci é o de hegemonia que, segundo
principais características da educação no contexto neoliberal do Brasil,
ele, se dá por consenso e/ou coerção. Na sociedade dividida em
numa tentativa de contribuir com o debate de conjuntura acerca das
classes, temos uma constante luta pela hegemonia política e a
políticas educacionais. Neste sentido, iniciamos a discussão com uma
ideologia assume o caráter de convencimento, o primeiro recurso
breve reflexão sobre a ideologia na educação, para, em seguida,
utilizado para a dominação. Do ponto de vista dos oprimidos, o embate
apresentar a dimensão da crise do capitalismo e do pensamento liberal,
ideológico contra a hegemonia burguesa se dá em todos os espaços
concluindo com as principais políticas oficiais que vêm sendo propostas
em que esta se reproduz, como por exemplo, a escola. Temos então,
para a educação.
uma luta de posição na escola, colocando a política, luta pelo poder,
1. A IDEOLOGIA E A EDUCAÇÃO como o centro da ação pedagógica.
A relação da ideologia com a educação foi bastante polêmica ao A educação, portanto, é um espaço social de disputa da
longo da história. Embora o termo tenha sido primeiramente utilizado hegemonia; é uma prática social construída a partir das relações sociais
em 1801, é com o advento do marxismo que a ideologia assume uma que vão sendo estabelecidas; é uma “contra-ideologia”. Nesta
maior importância para o pensamento humano. Conforme Marilena perspectiva, é importante situar a posição do educador na sociedade,
Chauí, o marxismo entende a ideologia como “um instrumento de contribuindo para manter a opressão ou se colocando em
dominação de classe e, como tal, sua origem é a existência da divisão contraposição à ela. Se o educador é um trabalhador em educação,
da sociedade em classes contraditórias e em luta”. Além disso, a parece coerente que este seja aliado das lutas dos trabalhadores
utilização do termo confunde-se com o significado de crenças e ilusões enquanto classe, visto que as suas conquistas sociais, aparentemente
que se incorporam no senso comum das pessoas. “A ideologia é ilusão, mais imediatas, também dependem de vitórias maiores no campo
isto é, abstração e inversão da realidade, ela permanece sempre no social. Nessa perspectiva, é coerente que a posição do educador seja
plano imediato do aparecer social. (...) A aparência social não é algo em favor dos oprimidos, não por uma questão de caridade, mas de
falso e errado, mas é o modo como o processo social aparece para a identidade de classe, já que a luta maior é a mesma. Qual é a função
consciência direta dos homens”. do educador como intelectual comprometido com a transformação
Diferente da maioria dos marxistas, para os quais a ideologia social?
consiste na expressão de interesses de uma classe social, para Karl Gramsci afirma que o povo sente, mas nem sempre compreende
Manheim o que define a ideologia é o seu poder de persuasão, sua e sabe; o intelectual sabe, mas nem sempre compreende e muito
“capacidade de controlar e dirigir o comportamento dos homens”. menos sente. Por isso, o trabalho intelectual é similar a um cimento, a
Nicola Abagnano, reforça a teoria de Manheim dizendo que “o que partir do qual as pessoas se unem em grupos e constroem alternativas
transforma uma crença em ideologia não é sua validade ou falta de de mudança. Mas isso não é nada fácil: assumir a condição de
validade, mas unicamente sua capacidade de controlar os intelectuais orgânicos dos trabalhadores significa lutar contra o contexto
comportamentos em determinada situação”. dominante que se apresenta e visualizar perspectivas de superação
A compreensão de ideologia como expressão de interesses e coletiva sem exclusão. Entender bem a realidade parece ser o primeiro
“falsificação da realidade” com vistas ao controle social, permite a
9
passo no desafio da construção de uma nova pesrpectiva social. Que Há uma clara incompatibilidade entre a ordem burguesa e a
realidade é essa que se apresenta para a educação? noção de progresso civilizatório.
2. A CRISE DO CAPITALISMO E DA IDEOLOGIA LIBERAL De maneira mais conjuntural as principais características são as
seguintes:
O atual contexto traz algumas novidades e um conjunto de
elementos já presentes há muito tempo no capitalismo, ambos tentando a) crise do trabalho assalariado, com acentuada precarização
se articular coerentemente, embora as contradições estejam cada vez nas relações de trabalho;
mais explícitas. Em termos de estrutura social, vigora a manutenção da
b) mito da irreversibilidade da globalização, com forte carga
sociedade burguesa, com suas características básicas:
de fatalismo;
a) trabalho como mercadoria;
c) mundo unitário sem identidade, trazendo à tona a fragmen-
b) propriedade privada; tação, também no que se refere ao conhecimento;
10
É evidente que a preocupação do capital não é gratuita. Existe a) diminuição da arrecadação (através de isenções, incentivos,
uma coerência do discurso liberal sobre a educação no sentido de sonegação...);
entendê-la como “definidora da competitividade entre as nações” e por
b) não aplicação dos recursos e descumprimento de leis;
se constituir numa condição de empregabilidade em períodos de crise
econômica. Como para os liberais está dado o fato de que todos não 2- Prioridade no Ensino Fundamental, como responsabilidade
conseguirão “vencer”, importa então impregnar a cultura do povo com a dos Estados e Municípios (a Educação Infantil é delegada aos
ideologia da competição e valorizar os poucos que conseguem se municípios);
adaptar à lógica excludente, o que é considerado um “incentivo à livre 3 - O rápido e barato é apresentado como critério de eficiência;
iniciativa e ao desenvolvimento da criatividade”. Mas, e o que fazer
com os “perdedores”? Conforme o Prof. Roberto Lehrer (UFRJ), o 4 - Formação menos abrangente e mais profissionalizante;
próprio Banco Mundial tem declarado explicitamente que “as pessoas 5 – A maior marca da subordinação profissionalizante é a reforma
pobres precisam ser ajudadas, senão ficarão zangadas” . Essa do ensino médio e profissionalizante;
interpretação é precisa com o que o próprio Banco têm apresentado
6- Privatização do ensino;
oficialmente como preocupação nos países pobres: “a pobreza urbana
será o problema mais importante e mais explosivo do próximo século 7- Municipalização e “escolarização” do ensino, com o Estado
do ponto de vista político”. repassando adiante sua responsabilidade (os custos são repassados às
prefeituras e às próprias escolas);
Os reflexos diretos esperados pelo grande capital a partir de sua
intervenção nas políticas educacionais dos países pobres, em linhas 8- Aceleração da aprovação para desocupar vagas, tendo o
gerais, são os seguintes: agravante da menor qualidade;
a) garantir governabilidade (condições para o desenvolvimen- 9- Aumento de matrículas, como jogo de marketing (são feitas
to dos negócios) e segurança países “perdedores”; apenas mais inscrições, pois não há estrutura efetiva para novas
vagas);
b) quebrar a inércia que mantém o atraso nos países do cha-
mado “Terceiro Mundo”; 10- A sociedade civil deve adotar os “órfãos” do Estado (por
exemplo, o programa “Amigos da Escola”). Se as pessoas não tiverem
c) construir um caráter internacionalista das políticas públicas
acesso à escola a culpa é colocada na sociedade que “não se
com a ação direta e o controle dos Estados Unidos;
organizou”, isentando, assim, o governo de sua responsabilidade com a
d) estabelecer um corte significativo na produção do conheci- educação;
mento nesses países;
11- O Ensino Médio dividido entre educação regular e
e) incentivar a exclusão de disciplinas científicas, priorizando profissionalizante, com a tendência de priorizar este último: “mais ‘mão-
o ensino elementar e profissionalizante. de-obra’ e menos consciência crítica”;.
Mas, é evidente que parte do resultado esperado por parte de 12- A autonomia é apenas administrativa. As avaliações, livros
quem encaminha as políticas educacionais de forma global fica didáticos, currículos, programas, conteúdos, cursos de formação,
frustrada por que sua eficácia depende muito da aceitação ou não de critérios de “controle” e fiscalização, continuam dirigidos e
lideranças políticas locais e, principalmente, dos educadores. A centralizados. Mas, no que se refere à parte financeira (como infra-
interferência de oposições locais ao projeto neoliberal na educação é o estrutura, merenda, transporte), passa a ser descentralizada;
que de mais decisivo se possui na atual conjuntura em termos de
13- Produtividade e eficiência empresarial (máximo resultado
resistência e, se a crítica for consistente, este será um passo
com o menor custo): não interessa o conhecimento crítico;
significativo em direção à construção de um outro rumo, apesar do
“massacre ideológico” a que os trabalhadores têm sido submetidos 14- Nova linguagem, com a utilização de termos neoliberais na
durante a última década. educação;
Em função dessa conjuntura política desfavorável, podemos 15 - Modismo da qualidade total (no estilo das empresas
afirmar que, em termos genéricos, as maiores alterações que privadas) na escola pública, a partir de 1980;
ultimamente tem sido previstas estão chegando às escolas e, muitas
16- Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) são ambíguos
vezes, tem sido aceitas sem maiores discussões a seu respeito,
(possuem 2 visões contraditórias), pois se, por um lado, aparece uma
impedindo uma efetiva contraposição. Por isso, vamos apresentar, em
preocupação com as questões sociais, com a presença dos temas
grandes eixos, o que mais claramente podemos apontar como
transversais como proposta pedagógica e a participação de intelectuais
consequências do neoliberalismo na educação:
progressistas, por outro, há todo um caráter de adequação ao sistema
1- Menos recursos, por dois motivos principais: de qualidade total e a retirada do Estado. É importante recordar que os
PCNs surgiram já no início do 1º. mandato de FHC, quando foi reunido
um grupo de intelectuais da Espanha, Chile, Argentina, Bolívia e outros
11
países que já tinham realizado suas reformas neoliberais, para iniciar da vida humana, debruçada sobre o futuro e embaraçada e aflita com
esse processo no Brasil. A parte considerada progressista não funciona, as perplexidades e prospectos do presente.
já que a proposta não vem acompanhada de políticas que assegurem
sua efetiva implantação, ficando na dependência das instâncias da
sociedade civil e dos próprios professores. A SITUAÇÃO NO BRASIL
17- Mudança do termo “igualdade social” para “equidade social”, Entre nós, estamos ainda na fase inicial. O problema
ou seja, não há mais a preocupação com a igualdade como direito de dominantemente quantitativo. Mais escolas, maior matrícula. Todavia,
todos, mas somente a “amenização” da desigualdade; os tempos são outros, e já não podemos limitar-nos ao tranquilo esforço
de ensinar a ler, escrever e contar, multiplicando rotineiramente as
18 - Privatização das Universidades;
escolas. Temos de realizar a tarefa que as demais nações realizaram
19 – Nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) nos relativos sossegos do passado, em pleno maelstrom moderno, tudo
determinando as competências da federação, transferindo criando de novo, em condições mais difíceis que as do passado, e
responsabilidades aos Estados e Municípios; obrigados a acompanhar métodos e técnicas para que faltam as
condições sociais adequadas e o próprio conhecimento e saber
20 - Parcerias com a sociedade civil (empresas privadas e
necessário para aplicá-las.
organizações sociais).
O problema fez-se tão difícil e atordoante, que não são de
Diante da análise anterior, a atuação coerente e socialmente
admirar a confusão, o desnorteamento e o extraordinário desperdício e
comprometida na educação parece cada vez mais difícil, tendo em vista
amontoado de erros com que vamos conduzindo nosso esforço
que a causa dos problemas está longe e, ao mesmo tempo, dispersa
educativo. Para nos equilibrarmos no turbilhão das forças e projetos
em ações locais. A tarefa de educar, em nosso tempo, implica em
desencadeados, apegamo-nos à simplificação da “educação para o
conseguir pensar e agir localmente e globalmente, o que carece da
desenvolvimento”, tentando limitar o problema ao treino generalizado
interação coletiva dos educadores e, segundo Philippe Perrenoud, da
para a vocação e o trabalho. Mas também este não é algo simples
Universidade de Genebra, “o professor que não se preparar para
como o rotineiro trabalho antigo, mas conjunto de técnicas e
intervir na discussão global, não é um ator coletivo”. Além disso, a
habilitações complexas, difíceis e especializadas, em permanente
produção teórica só tem sentido se for feita sobre a prática, com vistas
transformação e a exigir desenvolvimento mental muito maior do que o
a transformá-la. Portanto, para que haja condições efetivas de construir
do velho artesanato.
uma escola transformadora, numa sociedade transformadora, é
necessária a predisposição dos educadores também pela
transformação de sua ação educativa e “a prática reflexiva deve deixar
O GOVERNO BRASILEIRO E A POLÍTICA EDUCACIONAL
de ser um mero discurso ou tema de seminário, ela objetiva a tomada
de consciência e organização da prática”. Embora não administre diretamente a educação básica, o
governo federal tem tido papel importante neste nível pela redistribuição
de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional -
A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE FNDE. O FNDE foi criado como fonte adicional ao financiamento do
CADA UM E DA EDUCAÇÃO PARA O FUTURO ensino: é uma contribuição patronal (2,5% da folha de pagamento das
empresas) destinada ao financiamento do ensino de primeiro grau,
Presentemente, nos países desenvolvidos, entramos em nova
suplementando os recursos públicos orçamentários regulares. Esta
fase: a ênfase está agora na educação individualizada, em educar não
contribuição chama-se de salário-educação e constitui um fundo que
apenas todas as crianças, mas cada uma; e não para simples
tem recursos consideráveis: cerca de 1,5 bilhões de dólares por ano 1/3
adaptação ao passado, mas visando prepará-la para o futuro. Opera-
dos quais constitui a quota federal, (cerca de 500 milhões de dólares) e
se, por isso mesmo, verdadeira revolução nos métodos e técnicas do
é utilizado pelo Ministério da Educação, que pode repassá-lo a
ensino propriamente dito, e a atenção se volta para medir-se e apurar-
municípios, estados e até a entidades privadas, devidamente
se o que realmente se está conseguindo. O aluno continua a ser o
credenciadas. Nos estados mais pobres, a quota federal é muito
problema central, constituindo-se a educação processo individual e
superior à estadual, e portanto decisiva para a manutenção e melhoria
único de cada aluno, e o seu desenvolvimento e auto-realização, a
do ensino fundamental. O Ministério da Educação tem, assim, um
indagação maior e absorvente. A organização da escola fez-se
instrumento potencialmente poderoso para focalizar os recursos aonde
complexa e fluida, compreendendo o estudo individual da criança e de
eles são mais necessários.
seu desenvolvimento; o estudo da cultura em que está imersa e de sua
transformação constante; o estudo da herança histórica para incorporá- É com estes recursos, tanto da quota estadual quanto da
la a este presente em transição; e tudo isso, com as vistas voltadas Federal, que se constroem e reformam escolas, se compra
dominantemente para os prospectos do futuro. equipamento escolar e se treinam os professores. É com os recursos
do FNDE que se constroem por ano cerca de 10 mil salas de aula, o
Toda a velha tranquilidade da escola, como instituição devotada
que corresponde ao crescimento necessário para absorver o aumento
ao passado, desapareceu, e a escola é hoje uma perturbada fronteira
12
anual da população escolar brasileira (cerca de 2% ao ano) e corrigir as continuidade ao programa em outros termos, inclusive pela alteração de
distorções na distribuição das escolas e do número de salas de aula sua sigla (CAICS, Centros de Atenção Integral à Criança), com gastos
que decorrem da movimentação da população. O problema previstos de 3 bilhões de dólares para o período 1993-1995.
fundamental com a distribuição dos recursos do FNDE é que a
Em junho de 1993 o Ministério da Educação divulgou o Plano
demanda por recursos é muito superior (cerca de 2 a 3 vezes) à sua
Decenal de Educação Para Todos, elaborado em cumprimento das
disponibilidade. Além disto, a própria flexibilidade na aplicação dos
resoluções da Conferência de Educação Para Todos de Jomtien,
recursos do Fundo, assim como o seu volume, tornam-no alvo de
Tailândia, de 1990. e formalmente apresentado à V Reunião do Comitê
pressões clientelistas. Deputados e políticos em geral tentam direcionar
Regional Intergovernamental do Projeto Principal de Educação na
a aplicação dos recursos de acordo com os seus interesses, seja
Região da América Latina e do Caribe da UNESCO em Santiago de
obtendo do Ministro da Educação boa acolhida para suas propostas,
Chile no mesmo mês. A declaração foi precedida de um “compromisso
seja incluindo no orçamento da União emendas para beneficiar
nacional de educação para todos”, assinado por representantes do
determinados municípios. Muitas vezes os recursos são orientados
Ministério, das secretarias de educação estaduais e municipais e de
para municípios e estados de aliados do Governo, que não são
associações profissionais de vários tipos.
necessariamente os que apresentam maiores “déficits” de
escolarização. A racionalização no uso destes recursos buscada pela O plano incorpora os objetivos gerais da Declaração de Jomtien,
gestão Goldemberg visava, primeiro, atender aos municípios mais retomando e ampliando iniciativas anteriores. A lista das medidas
pobres; segundo, direcionar recursos para a formação de professores; propostas inclui: o programa nacional de atenção integral à criança e ao
terceiro, associar a liberação dos recursos do FNDE ao aumento dos adolescente, (os CAICS); o Projeto Nordeste de educação, realizado
salários dos professores por parte dos estados e municípios. com o apoio do Banco Mundial; a criação de um sistema nacional de
avaliação básica; um programa de capacitação de professores,
Os programas de merenda escolar e do livro didático são os
dirigentes e especialistas; um programa de apoio a inovações
outros dois instrumentos importantes utilizados pelo governo federal em
pedagógicas e educacionais; uma estratégia de equalização no
sua atuação em relação ao ensino básico. Nos dois casos, trata-se de
financiamento de educação; a descentralização dos programas de
distribuir um grande volume de produtos para todo o país, a partir de
assistência ao estudante; um programa de assistência e agilização do
estruturas centralizadas responsáveis pela compra das mercadorias e
sistema de financiamento; e participação no Pacto pela Infância, que
sua distribuição nacional. Estes programas têm sofrido grande
busca desenvolver o atendimento estudantil nas áreas de educação,
instabilidade, pela precariedade de sua fonte de recursos (o
saúde e combate à violência. Em seu conjunto, o plano marca a
FINSOCIAL teve seus recursos diminuídos no início da década de 90
aceitação formal, pelo governo federal brasileiro, das teses e
por uma série de questionamentos jurídicos), e sempre sofreram
estratégias que vêm sendo formuladas nos foros internacionais mais
problemas de ineficiência administrativa e de vulnerabilidade à política
significativos na área da melhoria da educação básica. Ainda que sua
de patronagem e corrupção associados a grandes programas
implementação efetiva dependa de recursos econômicos, institucionais,
distributivos. A tendência recente, em relação à merenda escolar, tem
técnicos e políticos ainda incertos, sua importância estratégica deve ser
sido a de descentralizar o programa, transferindo os recursos
enfatizada.
diretamente às escolas. Em relação ao livro didático, o programa sofre
de gigantismo (220 milhões de livros foram distribuídos entre 1986 e As reformas estaduais tiveram como principal resultado o
1991), excesso de títulos (3.500 em 1992), nenhum sistema de crescimento extraordinário de um novo setor educacional, o da
avaliação de qualidade, e do marketing agressivo de algumas editoras educação pré-escolar, enquanto que a educação de primeiro e segundo
interessadas em obter grandes contratos de distribuição. graus cresceu pouco ou até mesmo regrediu, como no caso de Minas
Gerais. Este padrão foi observado em todo o país, como mostra o
O governo Collor instituiu um programa de Centros Integrados de
quadro 2. Os dados disponíveis sugerem que a principal inovação
Atendimento à Criança (CIACS), que era muito semelhante, em
pedagógica, que foi a introdução do ciclo básico para os dois primeiros
intenção, ao do Estado do Rio de Janeiro, e estava sujeito às mesmas
anos do primeiro grau, falhou em seu principal objetivo, que era o de
críticas, inclusive a do potencial de corrupção e clientelismo político
reduzir as altas taxas de repetência no início da vida escolar; os alunos
implícito em um projeto de construir 5 mil escolas em todo o país a um
que eram reprovados antes ao final de um ano passaram a ser
custo de dois milhões de dólares por unidade, sem que o governo
reprovados ao final de dois.
federal dispusesse de meios financeiros e humanos para operá-las. Na
gestão Goldemberg no Ministério da Educação houve um esforço no Do ponto de vista administrativo e institucional, a principal meta
sentido de alterar o projeto inicial, reduzindo seus custos, buscando em alguns dos estados foi reduzir o poder centralizador e burocrático
associações com as secretarias de educação e outros setores da das secretarias de educação, e devolvê-lo à comunidade. Este projeto
comunidade, e abrindo a possibilidade de utilizar o programa como encontrou, naturalmente, resistência por parte das administrações, que
mecanismo para melhorar a infraestrutura das redes educacionais dos em muitos casos restabeleceram seu poder mais tarde. Mas elas servi-
estados. O fim do governo Collor não significou o fim do projeto dos ram também para mostrar que este processo de descentralização pode
CIACS. Para não perder os investimentos já realizados, da ordem de significar, simplesmente, a transferência de poderes para os municí-
um bilhão de dólares, o Ministro Maurílio Hingel decidiu dar pios, de uma parte, ou para as associações e sindicatos de professo-
13
res, por outra, e que de nenhum dos dois é possível esperar, necessa- entanto, que as mesmas características podem ser igualmente
riamente, um envolvimento com reformas que signifiquem uma trans- atribuídas a tais políticas.
formação mais profunda das práticas educacionais. Prefeituras podem
Contudo, a prescrição, a homogeneização e a centralização não
ser tão ou mais clientelísticas e burocráticas, quanto os governos esta-
têm sido um problema restrito ‘as fronteiras nacionais. Em consonância
duais; e professores, frequentemente frustrados por baixos salários e
com as políticas hegemônicas da década de 90, existe aí uma forte
pouco reconhecimento, tendem a resistir à implantação de sistemas de
relação com as políticas globais.
avaliação, assim como a projetos experimentais e inovadores que
introduzam diferenciações nos sistemas educacionais. A existência Antonio F. B. Moreira e Elizabeth Macedo (2000:108), em estudo
destes problemas nas tentativas de descentralização não significa, no revisionista sobre transferência educacional, somam seus esforços ao
entanto, que a educação possa ser conduzida de forma centralizada ou estudo de Barreto pois, além de relacionarem a insatisfação no que
burocrática, ou a partir de grandes projetos de impacto político e alta tange aos resultados da escolarização com o distanciamento entre
visibilidade, em busca de dividendos eleitorais de curto prazo. teoria e prática no campo do currículo, destacam com propriedade a
relação existente entre políticas educacionais nacionais e globais.
Em relação ao governo federal, a experiência confirma que a
Reconhecem que “(...) ainda que tenhamos avançado na produção de
legislação foi sábia ao restringir o papel do Ministério da Educação nas
conhecimento teórico, a prática pedagógica, na maioria das nossas
questões da educação básica. Todas as ações centralizadas do
escolas, ainda não sofreu modificações mais substantivas.” E,
governo federal padecem dos mesmos problemas de gigantismo,
oportunamente, situam essa problemática no contexto de globalização
patronagem política, ineficiência no uso de recursos, e possibilidades
das políticas educacionais, evidenciando a complexidade da questão e
de corrupção.
suas estreitas relações com o campo do currículo, o que pode ser
Parece claro que o governo federal deveria concentrar seus ilustrado com a seguinte afirmação: “(...) se no plano teórico talvez
esforços no desenvolvimento de sistemas adequados de avaliação e estejamos menos susceptíveis às importações instrumentais, no âmbito
acompanhamento do ensino básico no país, na redistribuição de das políticas educacionais sentimos com clareza a força do modelo
recursos por critérios estritamente técnicos, baseados em diferenciais neoliberal internacional, definindo os rumos do currículo e do processo
de renda e projetos pedagógicos de qualidade, e no apoio direto a de escolarização no Brasil.” (Ib:106).
regiões de carência extrema, que não tenham condições de gerar e
Força que, segundo os mesmos, pode ser visualizada pela
administrar minimamente seus próprios recursos.
presença do Banco Mundial na definição de políticas educativas,
fazendo prevalecer a lógica financeira sobre a social, subordinando
assim a educação `a racionalidade econômica, bem como por medidas
POLÍTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS E
que implantam os princípios neoliberais na educação, tornando-a mais
SUAS IMPLICAÇÕES CURRICULARES
competitiva.
Na última década do século XX, alguns (as) educadores (as)
Anteriormente, Moreira (1998:30), já havia sugerido uma forte
brasileiros (as) demonstraram suas preocupações com os resultados da
relação entre desafios educacionais, teoria curricular e política
escolarização da maioria da população brasileira e desenvolveram
curricular. Ao fazer um balanço da crise da teoria crítica de currículo,
estudos que vem nos mostrar os vínculos entre esses resultados
colocando como sintoma dessa crise o distanciamento entre avanços
insatisfatórios e as políticas educacionais implementadas no país.
teóricos e avanços práticos, ele recomenda que “(...) os curriculistas
Elba Siqueira de Sá Barreto (2000:15) faz uma análise de atuem nas diferentes instâncias da prática curricular, participando da
propostas curriculares implementadas por práticas políticas de elaboração de políticas públicas de currículo, acompanhando a
governos nas duas últimas décadas do século XX no Brasil. Em seu implementação das propostas e realizando estudos nas escolas que
estudo, ela admite que mesmo as propostas tendo assumido um avaliem essa implementação.” Dessa forma, esse autor coloca em
discurso democrático pauta a necessidade não só dos pesquisadores (as) em currículo
”(...) as características de insucesso escolar da maioria da atuarem em políticas públicas como, fundamentalmente, de
população pouco se alteraram, visto que as mudanças preconizadas e direcionarem seus esforços de pesquisa para as políticas curriculares.
implementadas no período não afetaram profundamente as questões Na mesma perspectiva desses autores, Corinta M. G. Geraldi
estruturais dos sistemas públicos de ensino, responsáveis, em (2000) traz contribuições significativas para avançarmos em relação à
proporção significativa, pelos seus altos índices de fracasso.” questão em pauta. Essa pesquisadora reforça a compreensão dos
A pesquisadora associa estes resultados às políticas vínculos entre política curricular e globalização, a necessidade de
educacionais públicas por serem prescritivas, homogeneizantes e articulação teoria/prática no campo do currículo e de se realizar
centralizadas no Estado, bem como por seus mecanismos de pesquisas em políticas curriculares, acrescentando porém que essas
divulgação (livros didáticos), implementação (capacitação de docentes pesquisas deem ênfase às resistências que ocorrem ao processo de
à distância) e controle (avaliação externa). Apesar da autora não fazer globalização.
uso da denominação políticas curriculares públicas, entendemos, no
14
No estudo ora focalizado, a pesquisadora parte da problemática global é fruto de uma geografia imaginativa. Cada vez que se pronuncia
de que nas três últimas décadas do século XX, as escolas, “mesmo que que o local é instituído pelo global, aumenta-se a fenda que separa os
de forma incompleta, não mecânica nem linear”, têm desencadeado dois e restringe o espaço do local definindo sua anatomia.
uma educação para a alienação ao trabalho. Ela defende a tese de que
Levando-se em conta essas pertinentes contribuições,
são os grandes grupos internacionais que estão planejando a educação
entendemos que avançar na compreensão e na implementação de
através da criação de uma rede de controle da educação; rede que
políticas curriculares com a perspectiva de enfrentamento dos
para realizar-se precisa da avaliação, e esta, por sua vez, necessita de
resultados insatisfatórios da escolarização, significa desenvolvermos
“uma referencia básica... [que] ... possa ser efetivada em nível nacional”
estudos que invertam a abordagem hegemônica até hoje presente
(Ib,200), daí a existência dos Parâmetros Curriculares Nacionais. É
nesses estudos, com o intuito de se retirar o foco do controle vertical e
nesse contexto, portanto, que situa os Parâmetros Curriculares para o
do sentido global/local para visualizarmos o movimento de hegemonia e
Ensino Fundamental, considerando-os um exemplo de gestão de
contra-hegemonia nas relações de poder estruturadoras dessas
políticas curriculares oficiais globais.
políticas curriculares.
Geraldi, destaca, no entanto, a existência de contradições. No
Entendemos, no entanto, que a inversão deva ocorrer somente
que diz respeito às políticas curriculares, salienta a existência de
no sentido da perspectiva, do ponto de partida, para não cairmos em
alternativas às propostas hegemônicas oficiais, entendendo que estas
semelhante equívoco, perdendo com isso os condicionantes globais.
se encontram presentes nas escolas, no “currículo em ação”.
Afinal “(...) as revoluções da cultura em nível global causam impacto
Estes estudos indicam, portanto, uma clara insatisfação para sobre os modos de viver, sobre os sentidos que as pessoas dão `a vida,
com os resultados da escolarização no ensino fundamental no Brasil, sobre suas aspirações para o futuro - sobre a cultura num sentido mais
sendo que estes resultados insatisfatórios estão relacionados com a local.” (Hall, 1997: 18). Isto não significa, no entanto, que esses
política curricular e esta, por sua vez, com as implicações da condicionantes sejam inexoráveis, mas que as implicações entre
globalização na política educacional. Essas contribuições significativas, global/local e vice-versa, constituem diferentes processos culturais, não
no entanto, não respondem mais às exigências do atual contexto social possuindo mais uma identidade nem com o global, nem com o local,
e aos avanços no campo do currículo. As abordagens de pesquisa resultando assim em culturas híbridas e, possivelmente, em diferentes
destes estudos, mesmo a de Geraldi que destacam as alternativas relações de poder. Significa também que, a partir dessas implicações,
produzidas localmente, são desenvolvidas no sentido global/local, não haverá mais um global ou um local legítimo, uma vez que os novos
mostrando, fundamentalmente, o poder das relações hegemônicas. processos culturais e as consequentes relações de poder nelas
Alertamos assim para a carência de centralidade dos processos de produzidas passam a interferir em ambas (Hall, 1997; Santos,2003).
contra-hegemonia em estudos de política curricular, sem, no entanto,
Construir essa inteligibilidade local/global e hegemonia/contra-
deixar de reconhecer as relações hegemônicas.
hegemonia requer, necessariamente, uma compreensão do que seja
Necessitamos de uma abordagem que dê visibilidade aos política curricular e de uma metodologia analítica para pesquisa em
processos contra-hegemônicos e, são as considerações de Santos política curricular. Afinal, o que é política curricular? Como ela ocorre?
(2002), que veem nos auxiliar. O referido autor entende a globalização Qual seu processo de construção? Quem são seus agentes? Como
como algo plural, contraditório, complexo, cheio de paradoxos, não investigá-la? É a partir dessas indagações que desenvolveremos o
monolítico e envolvendo conflitos. Destaca o movimento das relações próximo item.
de poder de hegemonia e contra-hegemonia concluindo que “o global
acontece localmente... [e coloca como pauta de luta que] ... é preciso
fazer com que o local contra-hegemônico também aconteça POLÍTICA CURRICULAR COMO POLÍTICA CULTURAL
globalmente.” (Ib:74). Essa compreensão não dicotomiza, não polariza O tema das políticas curriculares tem ficado subsumido ao das
e nem cria uma hierarquia nas relações global/local.. Em função disso, políticas educacionais. No Brasil, somente a partir da década de 90,
Santos considera interessante que, para fins analíticos, a definição de através dos estudos expostos anteriormente, é que esse assunto foi
tópicos de investigação ocorra em termos locais e não globais. ganhando visibilidade na literatura acadêmica. Em consequência, é fora
Essas relações entre local/global ficam ainda mais evidentes do país que encontramos pesquisadores que tem discutido com mais
quando encontramos em Santos (Op cit) e dentro dos chamados especificidade e profundidade essa temática. Dispomos assim dos
estudos pós-colonialistas, mais especificamente o estudo de Said estudos de Suárez (1995), Gimeno Sacristán (1998), Bowe & Ball
(1978), o entendimento de que as pesquisas que destacam o poder (1992) e Ball (1997, 1998), para obtermos elementos com o propósito
local, o fazem a partir da identificação de forças culturais em de definição e construção metodológica de pesquisa em política
configurações históricas particulares. Esse estudo de Said, ao tratar da curricular com uma abordagem que favoreça as necessidades
relação entre ocidente e oriente, nos leva ao entendimento de que não anteriormente enunciadas.
podemos fazer uma oposição binária da relação entre local e global Suárez (1995:110), ao tratar das relações entre políticas públicas
porque as fronteiras geográficas são um tipo de conhecimento e reforma educacional na Argentina, afirma que: “(...) a formulação e
imaginativo; a definição dessas fronteiras e oposições entre local e implementação de políticas curriculares não são neutras, nem muito
15
menos são um asséptico processo de elaboração e instrumentação níveis ou fases - currículo prescrito, currículo apresentado aos
técnicas. No fundamental, são o resultado sintético de um (muitas professores, currículo moldado pelos professores, currículo em ação e
vezes silenciado e oculto) processo de debate ou de luta entre currículo avaliado -, fragilizando ao nosso ver, o caráter processual e de
posicionamentos, interesses e projetos sociais, políticos, culturais e totalidade da política curricular. Além disso, ressalta o currículo prescrito
pedagógicos opostos e, sobretudo, antagônicos. O processo de como um instrumento da política curricular, perdendo novamente o
determinação dessas políticas não é, de forma alguma, unívoco, nem caráter processual desta, passando a compreendê-la como algo
tampouco está isento de contradições e de tensões.” externo ao que denomina de currículo prescrito e, do mesmo modo,
como algo externo às escolas.
A contribuição central desse autor consiste na caracterização da
política curricular enquanto síntese de um processo de luta entre Apesar destes autores fornecerem subsídios teóricos em relação
projetos sociais com interesses antagônicos implicando em à política curricular, entendemos que suas definições e direcionamentos
contradições. não atendem as exigências presentes na realidade educacional
contemporânea, a qual se encontra situada em um contexto onde a
Do mesmo modo, Gimeno Sacristán (1998:109), ao discutir a
centralidade da cultura, tanto em termos substantivos, quanto
reforma curricular ocorrida na Espanha, parte do pressuposto de que as
epistemológicos, se caracteriza por complexas imbricações entre
teorias curriculares são elaborações parciais, insuficientes para
global/local e entre fatores econômico, político e cultural (Santos, 2003).
compreender a complexidade das práticas escolares. Em função dessa
análise, propõe uma concepção processual de currículo e procura situar Essas complexas imbricações são visualizadas a partir da
a política curricular como elo entre interesses políticos, teorias ampliação do campo político, desencadeada por Williams (Apud Santos
curriculares e práticas escolares. Define política curricular como “(...) 2002:53). Este entende que a política envolve “(...) uma disputa sobre
um aspecto específico da política educativa, que estabelece a forma de um conjunto de significações culturais.” Através dessa ampliação,
selecionar, ordenar e mudar o currículo dentro do sistema educativo, temos o destaque da relevância da cultura para compreensão das
tornando claro o poder e a autonomia que diferentes agentes têm sobre relações de poder; relevância que, em tempos de globalizações, “(...)
ele (...)” reside no fato de ela ser (...) ‘o campo em que as contradições políticas
e econômicas são articuladas’ (Lowe e Lloyd, 1997a: 32, nota 37).”
Essa compreensão é importante no momento em que salienta,
(Santos, 2003: 34).
diferentemente de Suárez, a existência de instâncias distintas que
intervém no processo de construção das políticas curriculares. Isso Nessa perspectiva, tanto a política como a cultura perdem suas
ocorre na medida em que reconhece as relações entre Estado, política fronteiras na medida em que são desterritorializadas, configurando-se,
educativa, sistema educacional e práticas pedagógicas. Não obstante, assim, uma relação dialética entre ambas, o que pode ser ilustrado
é a transposição das características do que Sacristán (1998:101) define com a seguinte citação de Santos (Op cit: 34-35):
como processo curricular para política curricular que ajuda no
“(...) ‘a ‘cultura’ obtém uma força ‘política’ quando uma formação
entendimento desta última. Assim como no sistema curricular, na
cultural entra em contradição com lógicas políticas ou econômicas que
política curricular
tentam refuncionalizá-la para exploração ou dominação’ (Lowe e Lloyd,
(...) as decisões não se produzem linearmente concatenadas, 1997a). A cultura será, assim, encarada não como ‘uma esfera num
obedecendo a uma suposta diretriz, nem são frutos de uma coerência conjunto de esferas e práticas diferenciadas’, mas como ‘um terreno em
ou expressão de uma mesma racionalidade. Não são estratos de que a política, a cultura e o econômico formam uma dinâmica
decisões dependentes umas de outras, em estrita relação hierárquica inseparável’ (Lowe e Lloyd, 1997a).”
ou de determinação mecânica e com lúcida coerência para com
Essa ampliação do campo político alavancou avanços teóricos
determinados fins ... São instâncias que atuam convergentemente na
no que tange ao campo do currículo. Costa (1999: 37-38) sintetiza com
definição da prática pedagógica (...)”
propriedade parte desses avanços definindo currículo “como um campo
Dessa elucidação sobre política curricular podemos destacar as em que estão em jogo múltiplos elementos, implicados em relação de
possibilidades de ruptura nela existente, uma vez que o autor evidencia poder, ...[a escola e o currículo] ...como territórios de produção,
o caráter conflitivo e contraditório da mesma, destacando a existência circulação e consolidação de significados (...)”
de decisões independentes e insubordinação, bem como de práticas
Assim como essa autora, não pretendemos estabelecer aqui uma
convergentes.
relação entre currículo e cultura na perspectiva de que a escola
Apesar das contribuições fornecidas por Suarez e Gimeno trabalha com o conhecimento, este é cultura e, portanto, a escola
Sacristán, o primeiro não discute a política curricular em termos trabalha com cultura; mas, sim, quebrar as fronteiras estabelecidas
analíticos e o segundo, apesar de avançar ampliando a caracterização, entre ambos, entendendo o currículo como um terreno privilegiado da
defende uma compreensão de política curricular que ainda possui política cultural e a cultura como o conjunto de “(...) sistemas de
limites, especialmente no que diz respeito à definição de uma significado que os seres humanos utilizam para definir o que significam
metodologia de pesquisa em política curricular. Isto ocorre porque, ao as coisas e para codificar, organizar e regular sua conduta uns em
explorar o processo curricular, Gimeno Sacristán o divide em diferentes
16
relação aos outros ... [que]... dão sentido `as nossas ações.” (Hall, contextualizados e recontextualizados de modo subversivo no momento
1997: 16). da implementação. Em consequência, entendem também que as
políticas definidas em nível nacional são também significativamente
Entendemos que a cultura tornou-se, em seus aspectos
modificadas em nível local.
substantivos e epistemológicos, um elemento central na mudança
histórica deste milênio. Tanto o é que as relações de poder, cada vez Como implicação de seus estudos, definem o processo político
mais, são simbólica e discursivamente travadas. Em função disso, como aquele que emerge de uma contínua interação entre contextos
reconhecemos que existe uma conexão entre cultura e política, onde a inter-relacionados e entre textos e contextos. Dessa definição, propõem
própria política passa a ser vista como política cultural. (Hall, 1997) um modelo analítico para pesquisa em política curricular que seja
representativo do ciclo político, que dê uma representação holística ao
Torna-se oportuno, nesse momento, conceituar política curricular
processo político e que seja concebido como um processo dialético,
a partir da definição de política cultural baseada no entendimento de
conflituoso, ambíguo, plural, contraditório e histórico.
Álvarez et. al. (Apud Santos 2003: 39) sobre cultural politics: “(...) ‘o
processo acionado quando o conjunto de atores sociais formados por, e Para Bowe & Ball (1992), as análises em política curricular,
incorporando, diferentes significados e práticas culturais entram em para terem validade política e teórica, devem considerar os três
conflito entre si’.” contextos primários da política curricular: o contexto de influência, o
contexto de produção do texto político e o contexto da prática, todos
São, portanto, as concepções de política e de método de
vistos como inter-relacionados. O primeiro consiste no espaço-tempo
pesquisa em política curricular trabalhadas por Bowe & Ball (1992) e
onde os conceitos chaves são estabelecidos para gerar o discurso
Ball (1997,1998) que entram em consonância com as questões
político inicial; o segundo tomam a forma de textos legais, oficiais,
anteriormente estabelecidas uma vez que defendem os processos de
documentos e textos interpretativos que podem ser contraditórios tanto
construção das políticas curriculares como processos cíclicos.
internamente, quanto na intertextualidade, onde diferentes grupos
Esses autores, em estudo revisionista do campo da política competem para controlar a representação e o propósito da política e, o
curricular, denunciam as pesquisas desse campo por fragmentarem o terceiro, consiste nas possibilidades e limites materiais e simbólicos,
processo político ao focalizarem ora a produção, ora a implementação bem como na leitura daqueles que implementam a política; esse
das políticas. Para eles, as pesquisas que focalizam a produção da contexto é entendido como espaço de origem e de endereçamento da
política ficam restritas a dimensão macro da realidade social, política curricular.
silenciando as vozes daqueles envolvidos na prática pedagógica,
Temos, pois, a partir desses autores, um avanço significativo
deixando-os à margem da política curricular. Já as pesquisas que
na compreensão do que seja política curricular porque, primeiro, não só
focalizam a implementação, apesar de sua importância por dar
definem a política curricular como explicitam seu processo de
evidência às vozes silenciadas e por colocar seu caráter subversivo,
construção e, o que é mais importante, sem dicotomizá-lo. Segundo,
não trabalham os condicionantes históricos dessas vozes. As
porque dão voz a todos os agentes políticos sem criar hierarquias entre
consequências negativas é que ambas separam produção e
eles. Terceiro, e em consequência dos anteriores, reconhecem no
implementação, teoria e prática e, consequentemente, constroem uma
processo político, uma relação dialética entre global/local, destacando
visão linear do processo político: ora de cima para baixo, ora de baixo
não só o movimento do global para o local, mas o inverso também.
para cima.
Quarto, e o que é de fundamental importância para os objetivos
Estes autores também fazem críticas à teoria de controle estatal propostos em nosso estudo, ao destacar os conflitos políticos
na política curricular, ou seja, a teoria de que o Estado define existentes nos diferentes contextos de produção da política curricular,
linearmente essas políticas. Na crítica, desconstroem a visão de que a liberam não só a visualização de conflitos culturais no processo de
produção política seja separada e distante da implementação; de que a construção da política curricular como também de movimentos
política se realiza através de uma cadeia de implementadores hegemônicos e contra-hegemônicos no processo político.
legalmente definidos; de que ela seja imposta; e de que os definidores
da política educacional estão distantes da realidade educacional e por
isso não conseguem controlá-lo. Enfim, rejeitam a concepção linear e A FORMAÇÃO DOS
fragmentada do processo político. PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO E AS POLÍTICAS NACIONAIS
Em contraposição, desenvolvem estudos sobre política curricular Após cerca de 15 anos de silêncio na política educacional
e a partir de então mostram que a forma como o processo político brasileira para a formação docente, volta-se a viver um intenso debate
ocorre, resulta da combinação entre métodos administrativos, sobre a legislação que regulamentará a formação dos profissionais da
condicionantes históricos e manobras políticas implicando o Estado, a educação no país. Apesar da carência de novas leis para a preparação
burocracia estatal e os conflitos políticos contínuos ao acesso desse dos educadores nesse período, a formação de professores tornou-se
processo político. tema recorrente nas discussões acadêmicas dos últimos 30 anos. Com
a criação das faculdades ou centros de educação nas universidades
Desses estudos concluem, ainda, que a política curricular não é
brasileiras, em 1968, a formação docente constitui-se em objeto
imposta, uma vez que seus textos são constantemente
17
permanente de estudos nesses espaços. É evidente, também, o das más condições de trabalho, dos salários pouco atraentes, da
crescimento da investigação sobre a profissão docente nas jornada de trabalho excessiva e da inexistência de planos de carreira.
universidades e instituições de pesquisa no Brasil, principalmente a
Finalmente, o conjunto de leis que, há pouco tempo, vem sendo
partir da década de 1990, o que tem possibilitado um debate
formulado para regulamentar a formação docente no Brasil parece
fundamentado em análises empíricas e teóricas e, por conseguinte,
interessado em romper com o atual modelo de preparação dos
uma discussão mais qualificada sobre o tema. Todavia, as licenciaturas,
profissionais da educação. Por outro lado, a urgência em qualificar um
cursos que habilitam para o exercício dessa profissão no país,
grande número de educadores para uma população escolar crescente
permanecem, desde sua origem na década de 1930, sem alterações
sem o correspondente investimento financeiro por parte do governo
significativas em seu modelo.
poderá levar à repetição de erros cometidos em um passado próximo e,
Como se sabe, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação consequentemente, corre-se o risco de reviver cenários de
Nacional (LDB – lei no 9.394/96) foi, sem dúvida alguma, responsável improvisação, aligeiramento e desregulamentação na formação de
por uma nova onda de debates sobre a formação docente no Brasil. professores no país.
Antes mesmo da aprovação dessa lei, o seu longo trânsito no
Congresso Nacional suscitou discussões a respeito do novo modelo
educacional para o Brasil e, mais especificamente, sobre os novos OS ATUAIS MODELOS DE FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL
parâmetros para a formação de professores. Como consequência, No Brasil, como se sabe, as licenciaturas foram criadas nas
depois de acirrada oposição de interesses, prevaleceram, no texto da antigas faculdades de filosofia, nos anos 30, principalmente como
LBD, os elementos centrais do substitutivo Darcy Ribeiro, afinado com consequência da preocupação com a regulamentação do preparo de
a política educacional do governo Fernando Henrique Cardoso, porém, docentes para a escola secundária. Elas constituíram-se segundo a
com algumas modificações conseguidas em virtude do embate fórmula “3 + 1”, em que as disciplinas de natureza pedagógica, cuja
parlamentar. duração prevista era de um ano, justapunham-se às disciplinas de
Sendo assim, a versão final dessa lei foi construída mediante a conteúdo, com duração de três anos.
participação de diferentes sujeitos e atores sociais. Isso fez com que Essa maneira de conceber a formação docente revela-se
ela assumisse um caráter “polifônico” – segundo expressão usada por consoante com o que é denominado, na literatura educacional, de
Carlos Jamil Cury –, em que distintas vozes podem ser ouvidas a partir modelo da racionalidade técnica. Nesse modelo, o professor é visto
da leitura de seu texto. Na parte mais específica sobre formação como um técnico, um especialista que aplica com rigor, na sua prática
docente (Título VI – Dos profissionais da educação), por exemplo, essa cotidiana, as regras que derivam do conhecimento científico e do
característica é bastante evidente. Nela convivem termos e expressões conhecimento pedagógico.
que contêm ideias inconciliáveis, como, de um lado, “programas de
formação pedagógica para portadores de diplomas de educação Portanto, para formar esse profissional, é necessário um
superior”, “institutos superiores de educação”, “curso normal superior”, conjunto de disciplinas científicas e um outro de disciplinas
e, de outro, “profissionais da educação” e “base comum nacional”. pedagógicas, que vão fornecer as bases para sua ação. No estágio
supervisionado, o futuro professor aplica tais conhecimentos e
Para melhor compreender as atuais discussões a respeito da habilidades científicas e pedagógicas às situações práticas de aula.
formação de professores e as recentes políticas regulamentadoras
dessa atividade, é importante lembrar o contexto mais amplo em que a Esse modelo de formação docente pode ser descrito, também,
LDB foi aprovada. Na época, particularmente na América Latina, segundo a conhecida analogia com o “curso de preparação de
respirava-se uma atmosfera hegemônica de políticas neoliberais, de nadadores” criada por Jacques Busquet, em 1974:
interesse do capital financeiro, impostas por intermédio de agências Imagine uma escola de natação que se dedica um ano a ensinar
como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), que anatomia e fisiologia da natação, psicologia do nadador, química da
procuravam promover a reforma do Estado, minimizando o seu papel, e água e formação dos oceanos, custos unitários das piscinas por
favorecer o predomínio das regras do mercado em todos os setores da usuário, sociologia da natação (natação e classes sociais), antropologia
sociedade, incluindo as atividades educacionais. É importante também da natação (o homem e a água) e, ainda, a história mundial da natação,
não esquecer, quando se discute a questão da formação docente, as dos egípcios aos nossos dias. Tudo isso, evidentemente, à base de
atuais condições da educação brasileira. Isso porque são vários os cursos enciclopédicos, muitos livros, além de giz e quadro-negro,
fatores externos ao processo pedagógico que vêm prejudicando a porém sem água. Em uma segunda etapa, os alunos-nadadores seriam
formação inicial e continuada dos professores no país, destacando-se o levados a observar, durante outros vários meses, nadadores
aviltamento salarial e a precariedade do trabalho escolar. experientes; depois dessa sólida preparação, seriam lançados ao mar,
Sabe-se que o desestímulo dos jovens à escolha do magistério em águas bem profundas, em um dia de temporal.
como profissão futura e a desmotivação dos professores em exercício Parece consenso que os currículos de formação de professores,
para buscar aprimoramento profissional são consequência, sobretudo, baseados no modelo da racionalidade técnica, mostram-se
inadequados à realidade da prática profissional docente. As principais
18
críticas atribuídas a esse modelo são a separação entre teoria e prática teóricas. Os blocos de formação não se apresentam mais separados e
na preparação profissional, a prioridade dada à formação teórica em acoplados, como no modelo anterior, mas concomitantes e articulados.
detrimento da formação prática e a concepção da prática como mero
Contudo, em virtude da necessidade urgente de se habilitar
espaço de aplicação de conhecimentos teóricos, sem um estatuto
aqueles que, hoje, no país, estão em sala de aula, exercendo o
epistemológico próprio. Um outro equívoco desse modelo consiste em
magistério, corre-se o risco de as recentes políticas educacionais para
acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do
formação docente favorecerem a improvisação no preparo dos
conhecimento específico que se vai ensinar.
profissionais da educação. Em nome dessa urgência, a prática, que
Nas universidades brasileiras, esse modelo ainda não foi deve ocupar um espaço significativo nas grades curriculares dos cursos
totalmente superado, já que disciplinas de conteúdo específico, de de licenciatura, pode ser compreendida erroneamente como formação
responsabilidade dos institutos básicos, continuam precedendo as em serviço. As horas trabalhadas em sala de aula, sem,
disciplinas de conteúdo pedagógico e articulando-se pouco com elas, necessariamente, um planejamento e uma intencionalidade formativa,
as quais, geralmente, ficam a cargo apenas das faculdades ou centros podem, assim, ser contabilizadas nos novos cursos de licenciatura
de educação. pelos profissionais já em exercício na escola.
Além disso, o contato com a realidade escolar continua Como consequência, diminui significativamente a carga horária
acontecendo, com mais frequência, apenas nos momentos finais dos dos cursos de formação inicial de professores, o que, obviamente, não
cursos e de maneira pouco integrada com a formação teórica prévia é desejável e representa um imenso retrocesso em termos da
(Pereira 1998). preparação desses profissionais.
Nas demais instituições de Ensino Superior, em especial nas Do mesmo modo, o descuido com o embasamento teórico na
particulares e nas faculdades isoladas, é a racionalidade técnica que, formação de professores, indispensável no preparo desses
igualmente, predomina nos programas de preparação de professores, profissionais, é extremamente prejudicial aos cursos de licenciatura. O
apesar de essas instituições oferecerem, na maioria das vezes, apenas rompimento com o modelo que prioriza a teoria em detrimento da
a licenciatura e, consequentemente, de a formação docente ser prática não pode significar a adoção de esquemas que supervalorizem
realizada desde o primeiro ano. Trata-se de uma licenciatura inspirada a prática e minimizem o papel da formação teórica. Assim como não
em um curso de bacharelado, em que o ensino do conteúdo específico basta o domínio de conteúdos específicos ou pedagógicos para alguém
prevalece sobre o pedagógico e a formação prática assume, por sua se tornar um bom professor, também não é suficiente estar em contato
vez, um papel secundário. apenas com a prática para se garantir uma formação docente de
qualidade. Sabe-se que a prática pedagógica não é isenta de
Um modelo alternativo de formação de professores que vem
conhecimentos teóricos e que estes, por sua vez, ganham novos
conquistando um espaço cada vez maior na literatura especializada é o
significados quando diante da realidade escolar.
chamado modelo da racionalidade prática. Nesse modelo, o professor é
considerado um profissional autônomo, que reflete, toma decisões e Além disso, ainda de acordo com a lógica da improvisação,
cria durante sua ação pedagógica, a qual é entendida como um profissionais de diferentes áreas são transformados em professores
fenômeno complexo, singular, instável e carregado de incertezas e mediante uma complementação pedagógica de, no mínimo, 540 horas
conflitos de valores. (LDB, art. 63, inciso I; Parecer CNE no 04/97). Desse total, 300 horas
devem ser de prática de ensino (LDB, art. 65) e podem ser
De acordo com essa concepção, a prática não é apenas locus da
contabilizadas mediante capacitação em serviço (LDB, art. 61, inciso I).
aplicação de um conhecimento científico e pedagógico, mas espaço de
Ou seja, a legislação atual permite que profissionais egressos de outras
criação e reflexão, em que novos conhecimentos são, constantemente,
áreas, em exercício no magistério, tornem-se professores valendo-se
gerados e modificados.
de um curso de formação docente de 240 horas! O que parece
Com base na crítica ao modelo da racionalidade técnica e inconcebível em outros campos profissionais – como, por exemplo,
orientadas pelo modelo da racionalidade prática, definem-se outras direito, medicina e engenharia – é possível para o magistério,
maneiras de representar a formação docente. As atuais políticas para contrariando a própria denominação do Título VI da LDB, “Dos
preparo dos profissionais da educação, no país, parecem consoantes profissionais da educação”. Diante dessa situação preocupante,
com esse outro modo de conceber tal formação. As propostas perguntar-se-ia: A mesma urgência que justificou, na década de 1970,
curriculares elaboradas desde então rompem com o modelo anterior, no Brasil, a criação dos cursos de licenciatura de curta duração está
revelando um esquema em que a prática é entendida como eixo dessa presente nas atuais proposições sobre formação docente? São os
preparação. programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de
Por essa via, o contato com a prática docente deve aparecer educação superior uma reedição atualizada dos desastrosos cursos de
desde os primeiros momentos do curso de formação. Desse licenciatura curta?
envolvimento com a realidade prática originam-se problemas e Esse esquema é uma infeliz legitimação do “bico” na profissão
questões que devem ser levados para discussão nas disciplinas docente, uma vez que profissionais egressos de outras áreas, que não
optaram, de início, pela carreira de magistério, provavelmente, só estão
19
na profissão enquanto não conseguem algo melhor para fazer. É subsequentes (de 5ª a 8ª série). A realidade, porém, apresenta enormes
inquestionável, portanto, que as atuais mudanças na estrutura jurídico- dificuldades para a articulação desses dois momentos, tanto pela
legal da educação brasileira tornam manifesta a necessidade da estrutura diferenciada quanto pelo tipo de professor que atende a cada
criação de um projeto pedagógico para a formação e a uma dessas etapas do Ensino Fundamental. Essa diferenciação, ainda
profissionalização de professores nas universidades e demais carregada de características do antigo modelo do “primário” e do
instituições de Ensino Superior brasileiras. Esse novo projeto “ginásio”, cria uma fragmentação muito significativa nas práticas
pedagógico deve estar em consonância com as modificações escolares e nas vivências dos alunos.
pretendidas na educação básica. No entanto, uma leitura mais crítica
Em relação aos profissionais, por exemplo, lembre-se que as
do contexto permite afirmar que, nas recentes políticas educacionais, a
professoras das séries iniciais se caracterizam por um perfil mais
formação de professores corre sérios riscos de improvisação,
generalista e os professores do segundo segmento, por uma formação
aligeiramento e desregulamentação.
mais específica.
Se, por um lado, é possível admitir-se que a concepção de É interessante conceber um profissional que, ao assumir seu
educação básica se tornou mais avançada na legislação atual, por trabalho com alunos adolescentes, por exemplo, possa compreender
outro, quanto à obrigatoriedade desse nível da educação escolar, os questões da infância e da fase adulta, pois, apesar de agir em um
progressos ainda são pequenos, pois o Ensino Fundamental é o único momento específico da escolarização, essa etapa faz parte de um
assegurado pelo Estado (LDB, art. 32). A Educação Infantil e o Ensino conjunto maior: a educação básica.
Médio, ainda que desejáveis para o conjunto da população, continuam É importante, ainda, pensar a formação de um professor que
sendo facultativos para uma grande maioria. compreenda os fundamentos das ciências e revele uma visão ampla
Segundo o art. 32 da LDB, a educação fundamental passa a ter dos saberes.
duração mínima de oito anos e está voltada para a formação básica do Segundo um grupo de professores da Universidade de Brasília –
cidadão. UnB, em um documento sobre formação docente, as “licenciaturas
Esse nível de ensino escolar pode organizar-se de diferentes estão condenadas à interdisciplinaridade”. Para tanto, ao contrário do
modos e, com isso, superar a clássica separação entre as quatro que se pensa, o profissional deve realizar estudos aprofundados em
primeiras séries do Ensino Fundamental e seus quatro anos uma área específica do conhecimento e, paralelamente, contemplar as
20
reflexões sobre o ensino-aprendizagem dos conceitos mais atividades, ou seja, é necessário haver uma articulação – entendida,
fundamentais dessa área. Em termos da atuação profissional, significa aqui, como junção, fusão, união – da formação docente com a pesquisa
projetar alguém que trabalhe preferencialmente em uma determinada – compreendida como processo de produção do conhecimento.
área do conhecimento escolar, a que se dedique mais, mas que,
Concretamente, isso significa que as universidades devem
necessariamente, esteja em contato permanente com outros campos
assumir a formação do “professor investigador”, um profissional dotado
do saber.
de uma postura interrogativa e que se revele um pesquisador de sua
Além disso, é fundamental investir na formação de um professor própria ação docente.
que tenha vivenciado uma experiência de trabalho coletivo e não
A formação do “professor investigador”, para Magda Becker
individual, que se tenha formado na perspectiva de ser reflexivo em sua
Soares, deve resultar da vivência do licenciando, durante sua trajetória
prática, e que, finalmente, se oriente pelas demandas de sua escola e
na universidade, da pesquisa como processo, o que faz com que o
de seus alunos, e não pelas demandas de programas predeterminados
futuro professor não só aprenda mas também apreenda o processo de
e desconectados da realidade escolar. É fundamental criar, nos cursos
investigação e, o mais importante, incorpore a postura de investigador
de licenciatura, uma cultura de responsabilidade colaborativa quanto à
em seu trabalho cotidiano na escola e na sala de aula.
qualidade da formação docente.
Para que tal formação aconteça efetivamente, a mesma
Para isso, a familiaridade com os processos e os produtos da
professora ressalta a importância de os professores-pesquisadores das
pesquisa científica torna-se imprescindível na formação docente. A
universidades, formadores de educadores, assumirem, também, uma
imersão dos futuros educadores em ambientes de produção científica
postura investigativa no que diz respeito à sua própria ação docente.
do conhecimento possibilita-lhes o exame crítico de suas atividades
docentes, contribuindo para aumentar sua capacidade de inovação e Por desempenharem, nessas instituições, o papel de produtores
para fundamentar suas ações. É o mergulho em tal atividade que do conhecimento, eles têm condições de ultrapassar a função de
permite a mudança de olhar do futuro docente em relação aos simples mediadores entre a ciência, o conhecimento, os produtos da
processos pedagógicos em que se envolve na escola, à maneira de pesquisa e o licenciando.
perceber os educandos e suas aprendizagens, ao modo de conceber e Assim sendo, as instituições formadoras do professor da escola
desenvolver o seu trabalho em sala de aula. básica devem estar atualizadas nos resultados da pesquisa em sua
Pesquisa: Imperativo ou aperitivo na formação profissional área, para poderem trabalhar o conhecimento, em sala de aula, no
docente? estado em que ele se encontra e no momento em que ele está sendo
ensinado. Devem estar, também, atualizadas nos processos de
Em discussão recente sobre a formação docente4, realizada na
aprendizagem desse conhecimento específico. Quem forma o professor
UFMG, intelectuais brasileiros e estrangeiros, de reconhecida produção
– tanto a instituição quanto as pessoas – precisa estar diretamente
acadêmica no campo educacional, expuseram a necessidade de uma
envolvido com a atividade de pesquisa. Os formadores precisam ser,
articulação efetiva entre pesquisa, formação inicial e formação
também, pesquisadores, para poderem tratar o conteúdo como um
continuada dos profissionais da educação. Um dos consensos
momento no processo de construção do conhecimento, ou seja,
resultantes desse debate foi o reconhecimento de que as universidades
trabalhar o conhecimento como objeto de indagação e investigação.
e as demais instituições de ensino superior precisam repensar seu atual
Precisam ser, finalmente, investigadores de sua própria ação de
modelo de formação de professores e buscar, segundo definiu Carlos
formadores, dos processos de aprendizagem que ocorrem durante o
Jamil Cury, uma nova cultura institucional das licenciaturas.
processo de formação, investigadores de seu próprio processo de
Essa noção de nova cultura institucional dos cursos de formação ensino.
de professores deve ser entendida como a capacidade de as
A propósito, Fernando Hernández acrescenta que todo programa
universidades, especialmente as públicas, responderem, de maneira
de formação de educadores deve constituir-se em objeto de pesquisa
qualitativa, aos desafios propostos pela nova conjuntura política e
na instituição formadora. Projetos de investigação sobre a formação
socioeconômica brasileira. De acordo com o professor acima referido,
docente permitem não só refletir sobre a preparação que está sendo
cabe às universidades públicas assumir o desafio e o compromisso
realizada nessas instituições, mas, fundamentalmente, reconstruir a
social de formar, de maneira diferenciada, profissionais da educação
proposta de formação delas. O professor Hernández lembra ainda que
capazes de atuar como agentes de mudança na escola básica, no
a avaliação assume um papel essencial nesse tipo de pesquisa e
Brasil.
constitui um componente importante na reconstrução do próprio
Concordando com esse ponto de vista, Magda Becker Soares processo de formação de professores.
ressaltou que as universidades cumprem sua função pública ao
O princípio da pesquisa como um imperativo na formação
preparar um tipo diferenciado de professor, e não, necessariamente, ao
docente propõe questões importantes a respeito da definição do lócus
atender às demandas de mercado. Na opinião dessa professora, as
de preparação dos profissionais da educação no Brasil. Esse tem sido
universidades, na qualidade de instituições de ensino, pesquisa e
um tema polêmico nas atuais discussões sobre a formação de
extensão, devem formar professores, sem contudo dissociar essas
professores.
21
O LOCUS DA FORMAÇÃO DOCENTE são definidos como instituições de pesquisa, ensino e extensão, de que
modo os ISE contemplam o princípio da articulação entre investigação
A lei no 9.394/96, conforme estabelecido no art. 62, autoriza
científica, formação inicial e formação continuada dos profissionais da
apenas duas instituições para promover a formação dos profissionais
educação? Uma vez que a pesquisa não faz parte de seu cotidiano,
da educação básica no Brasil: as universidades e os Institutos
como esses institutos vão cumprir aquilo que os define como centros
Superiores de Educação. A novidade são esses institutos, recém-
“produtores do conhecimento referente ao processo de ensino e de
criados no cenário educacional brasileiro e inspirados em modelos de
aprendizagem e à educação escolar como um todo”?
formação docente de outros países. A essa nova instituição foi
destinado todo um artigo da LDB, o art. 63, com três incisos, no qual se Finalmente, os novos cursos de formação de professores no
estabelece que programas de formação inicial e continuada de Brasil deverão ser organizados com base em diretrizes curriculares
profissionais para a educação básica, em todos os níveis, também nacionais, de acordo com o estabelecido na LDB. Apesar de tais
devem ser mantidos por ela. Além disso, dois pareceres – CP no 53/99 referências para os cursos que preparam os profissionais da educação
e CP no 115/99 – foram aprovados pelo Conselho Nacional da ainda não estarem concluídas, são apresentados alguns comentários
Educação (CNE), e sugerem diretrizes gerais para os Institutos sobre o processo de construção dessas diretrizes e algumas tendências
Superiores de Educação (ISE). que já se observam.
22
uma comissão que se responsabilizasse por diretrizes curriculares resolvidos, na verdade, com a implantação de mudanças drásticas na
comuns a todas as licenciaturas. Como consequência, as versões finais atual condição do profissional da educação.
dos documentos dos cursos que, além do bacharelado, têm a
Ao mesmo tempo, fazem-se necessários estudos e pesquisas
licenciatura contemplaram distintas concepções da formação de
que respondam a questões essenciais, como “O que é formar
professores.
professores?” ou “Como formar professores?”. Além disso, as
Esses documentos usaram diferentes termos para se referir às universidades e demais instituições de ensino superior precisam
licenciaturas – entre outros, curso, modalidade, módulo e habilitação –, continuar trocando informações e buscando, em experiências mais
o que denota, na verdade, divergências epistemológicas em relação à significativas, a chave para as questões que dizem respeito aos cursos
formação dos profissionais da educação. No caso da matemática, por de formação docente no país.
exemplo, foram construídas duas diretrizes curriculares: uma para a
licenciatura, outra para o bacharelado. Já na química, apesar de os
especialistas escreverem um único documento, a licenciatura foi LEGISLAÇÃO
explicitamente considerada um curso com características próprias. Por DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS E DA LDB
outro lado, a maior parte dos documentos considerou a licenciatura
uma modalidade, um módulo ou uma habilitação. Nesse caso, a ênfase A educação é direito de todos e dever do Estado e da Família.
recaiu na formação do bacharel. Curiosamente, em alguns desses Deve ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade
mesmos documentos previa-se a preparação dos professores em (Art. 205 da Constituição Federal).
determinada área do conhecimento, porém, sem uma formação básica A educação abrange os processos formativos que se
em educação! desenvolvem;
Quando o processo de construção das diretrizes curriculares já • na vida familiar
estava bastante avançado na maioria das comissões de especialistas, a
• na convivência humana
SESu/MEC resolveu nomear um “grupo-tarefa”, composto por cinco
professores ligados à área de educação, com a finalidade de elaborar • no trabalho
um documento norteador para as diretrizes curriculares das
• nas instituições de ensino e pesquisa
licenciaturas.
• os movimentos sociais e organizações da sociedade civil
Nessa oportunidade, as instituições não foram solicitadas a
indicar nomes para esse grupo, nem a enviar propostas para serem • nas manifestações culturais (LDB art. 1º).
analisadas e sistematizadas. Na estratégia montada por essa A finalidade da educação escolar é:
secretaria, tal documento deveria ser encaminhado a um outro grupo de
professores, de áreas específicas, que se encarregaria de coordenar a • o desenvolvimento pleno do educando,
construção das diretrizes das licenciaturas em cada uma dessas áreas, • o preparo para o exercício da cidadania
responsabilizando-se por articular o texto produzido pelo “grupo-tarefa”
• a qualificação para o trabalho (LDB, art. 2º)
e as diretrizes das comissões de especialistas.
O ensino, na educação brasileira, é orientado por 7 princípios:
Espera-se que, apesar de muito tardio e de seguir um trajeto
diferente daquele realizado pelas comissões de especialistas, esse • igualdade de condições para o acesso e permanência na
processo de construção das diretrizes curriculares dos cursos de escola,
formação de professores consiga promover mudanças significativas nas
• liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen-
licenciaturas.
samento, a arte e o saber,
E que, enfim, essas alterações representem uma superação do
• pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coe-
atual modelo de preparação dos profissionais da educação e um salto
xistência de instituições públicas e privadas de ensino,
qualitativo para a formação docente no país.
• gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais,
Formar professores é uma tarefa bastante complexa. Justamente
por isso, não são medidas simplistas e banalizadoras, apresentadas • valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na for-
como uma fórmula mais eficiente e produtiva de preparar os ma da lei, planos de carreira para o magistério público, com
profissionais da educação, que irão resolver os problemas atuais das piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por
licenciaturas. Ademais, a não-valorização do profissional da educação, concurso público de provas e títulos,
os salários aviltantes, as precárias condições de trabalho e a falta de • gestão democrática do ensino público, na forma da lei,
um plano de carreira para a profissão continuam sendo questões
• garantia de padrão de qualidade (art. 206 da CF).
fulcrais sem solução, que afetam diretamente a formação docente no
Brasil. Os problemas centrais das licenciaturas apenas serão
23
O Estado tem o dever de garantir: Para garantir a equalização e o padrão de qualidade do ensino,
compete-lhe dar assistência técnica e financeira aos Estados, ao
• ensino fundamental inclusive para aqueles que não tiveram
Distrito Federal e aos Municípios (art. 211 da CF e art. 9º da LDB).
acesso a ele na idade própria,
Os Estados e o Distrito Federal têm como campo de atuação
• universalização progressiva do ensino médio gratuito,
prioritária o ensino fundamental e o ensino médio, devem dar
• atendimento educacional especializado aos portadores de assistência técnica e financeira aos Municípios quanto ao ensino
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, fundamental e à educação infantil (art. 30, VI da CF).
• atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a Os Municípios:
seis anos de idade,
• têm como campo de atuação prioritária o ensino fundamen-
• acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e tal e a educação infantil;
da criação artística, segundo a capacidade de cada um,
• devem manter, com a cooperação técnica e financeira da
• ensino regular noturno, adequado às condições do edu- União e dos Estados, programas de educação pré-escolar
cando, e ensino fundamental (art. 30, VI da CF);
• programas suplementares de material didático-escolar, • podem atuar em níveis ulteriores (médio e superior) quando
transporte, alimentação e assistência à saúde (art. 208 da o ensino fundamental e a educação infantil estiverem ple-
CF). O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito pú- namente atendidos e forem utilizados recursos que estejam
blico subjetivo além dos mínimos vinculados pela Constituição Federal à
• o não atendimento integral desse direito importa em res- manutenção e desenvolvimento do ensino (25% da receita
ponsabilidade da autoridade competente (crime de respon- de impostos, incluídos os de transferência) (LDB, art. 11,
sabilidade): da autoridade pública pela não oferta e atendi- V).
mento e dos pais por não matricular ou permitir aos filhos O ensino público na educação básica é gerido
frequentar a escola (art. 208, § 1º e 2º da CF); democraticamente, incluindo nas formas dessa gestão:
• qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comuni- • a participação dos profissionais da educação na elaboração
tária, organização sindical, entidade de classe ou outra legi- do projeto pedagógico da escola
timamente constituída e o Ministério Público acionar o Po-
• a participação da comunidade escolar e local nos conse-
der Público para exigi-lo (art. 5º da LDB).
lhos escolares ou equivalentes (art. 14 da LDB).
O poder público deve recensear os educandos no ensino
Os estabelecimentos públicos de educação básica possuem
fundamental, fazer a chamada deles e zelar para que frequentem a
graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira
escola, envolvendo nessa tarefa, os pais e responsáveis (art. 208, § 3º
progressivamente maiores, que lhes asseguram os sistemas de ensino
da CF).
(art. 15 da LDB).
Os sistemas de ensino devem ser organizados em regime de
As instituições de ensino se classificam em
colaboração. União, Estados, Distrito Federal e Municípios tem (ou
terão) sistemas de ensino. • públicas (as criadas, incorporadas, mantidas e administra-
das pelo Poder Público
• os sistemas de ensino têm liberdade de organização
• privadas (as mantidas e administradas por pessoa física ou
• os Municípios podem optar por se integrar aos sistema es-
jurídica de direito privado):
tadual ou compor, com ele, um sistema único de educação
básica (Art. 11, V, parágrafo único da LDB) • particulares em sentido estrito
24
nimo, 25% da receita de impostos, inclusive transferências • redução das desigualdades sociais e regionais no tocante
(art. 212 da CF). ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação
pública;
Os programas de alimentação e assistência à saúde do
educando são mantidos com recursos de contribuições sociais e outros • democratização da gestão do ensino público, nos estabele-
orçamentários, vedada a utilização nessas atividades de parcela dos cimentos oficiais.
percentuais mínimos de impostos destinados à manutenção e
Esses objetivos serão buscados, ao longo do tempo, atendendo
desenvolvimento do ensino (art. 212, § 4º da CF).
a prioridades em função da capacidade administrativa e financeira,
Os recursos públicos são aplicados nas escolas públicas, tendo em vista, sempre, a necessidade de atender a todos os objetivos
podendo ser dirigidos a esolas comunitárias, confessionais ou e metas estabelecidos em cada nível e modalidade de ensino e no
filantrópicas (obedecidas quatro condições estabelecidas no art. 77 da capítulo sobre o magistério da educação básica, da forma mais ampla
LDB) e a bolsas de estudo para a educação básica (segundo restrições possível. As prioridades definidas pelo PNE são:
legais, § 1º do art. 77, IV da LDB) .
• garantia de ensino fundamental obrigatório de oito anos a
II - Indicadores do cenário educacional brasileiro: todas as crianças de 7 a 14 anos, assegurando o seu in-
gresso e permanência na escola e a conclusão desse nível
• 18 milhões de pessoas com 15 anos e mais que não sa-
de ensino;
bem ler e escrever - 12% da população
• garantia de ensino fundamental a todos os que a ele não ti-
• 1 milhão e 140 mil crianças de 7 a 14 anos estão fora da
veram acesso na idade própria ou que não o concluíram;
escola - 4% da população nessa faixa etária
• ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino - a
• 8 milhões e 400 mil crianças são reprovadas a cada ano no
educação infantil, o ensino médio e a educação superior;
ensino fundamental obrigatório - 23,4% dos alunos
• valorização dos profissionais da educação;
• 4 milhões e 300 mil crianças matriculadas no ensino obriga-
tório abandonam a escola a cada ano, não voltando a ela • desenvolvimento de sistemas de informação e de avaliação
no ano seguinte -12% dos alunos em todos os níveis e modalidades de ensino.
25
III - atendimento educacional especializado aos portadores de não de assistência social. Entretanto, há um problema indiretamente
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; gerado por esse processo: ao se incorporar este nível de ensino ao
sistema educacional, as despesas decorrentes passam a ser
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a
consideradas como de “manutenção e desenvolvimento do ensino”,
seis anos de idade;
sem que, ao mesmo tempo, se aporte um percentual maior da receita
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da de impostos para a educação, tendência agravada pelo FUNDEF (Lei
criação artística, segundo a capacidade de cada um; 9424/96), que concentra recursos no ensino fundamental.
VI - oferta de ensino noturno regular, adequada às condições do O inciso VI, “oferta de ensino noturno regular, adequado às
educando; condições de cada um”, é o reconhecimento do dever do Estado para
VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através com o ensino noturno, dispositivo de grande relevância, pois garante,
de programas suplementares de material didático escolar, transporte, ao jovem e ao adulto trabalhador, a possibilidade de frequentar o ensino
alimentação e assistência à saúde.” regular, além de especificar a necessidade de adequação deste ensino
“às condições de cada um”.
A primeira novidade aparece no inciso I, ao precisar que o
dever do Estado para com o ensino estende-se mesmo aos que “a ele O inciso VII, trata do “atendimento ao educando, no ensino
não tiveram acesso na idade própria.” Este Texto aperfeiçoa o de fundamental, através de programas suplementares de material didático
1967/69, que especificava a gratuidade e obrigatoriedade dos 7 aos 14 escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. Nos Textos
anos, criando a possibilidade de se restringir o atendimento aos anteriores, esta prescrição era remetida para a parte de assistência ao
indivíduos fora desta faixa etária. Avança, também, ao especificar o estudante. Incorpora-se ao rol de deveres do Estado relativos à
atendimento dos que não mais se encontram na idade considerada garantia do Direito à Educação, pois, para parcelas significativas do
“ideal” para o ensino fundamental. alunado, tais serviços são pré-requisito para a frequência à escola.
Tem-se teorizado sobre a necessidade de uma efetiva concepção de
No inciso II, retoma-se um aspecto importante do Texto de 1934, gratuidade que comporte tais encargos. Melchior (1979:202) formulou a
que aponta a perspectiva de “progressiva extensão da gratuidade e noção de “gratuidade ativa”, como aquela em que, além da escola
obrigatoriedade do ensino médio.” gratuita, garantiria estes serviços, chegando-se mesmo à uma bolsa-
Este dispositivo (re)equacionou o debate sobre esse ensino para salário que remuneraria os “salários não recebidos” pelos estudantes.
além da polaridade ensino propedêutico x profissional. A ideia era A garantia constitucional destes serviços, ainda que sua
ampliar o período de gratuidade/obrigatoriedade, tornando-o parte do formulação no Texto Constitucional seja incipiente, possibilita ampliar a
Direito à Educação. É a tendência mundial, decorrente do aumento dos luta pela sua efetivação, podendo, futuramente, possibilitar sua
requisitos formais de escolarização para um processo produtivo extensão de forma a abarcar os salários não recebidos..
crescentemente automatizado. Praticamente todos os países
desenvolvidos universalizaram o ensino médio, ou estão em vias de Os principais mecanismos destinados a detalhar e reforçar a
fazê-lo. importância da declaração do Direito à Educação na Carta Magna são
os três parágrafos do artigo 208.
A mencionada alteração introduzida pela EC 14, torna menos
efetivo o compromisso do Estado na incorporação futura deste nível de “O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo”.
ensino à educação compulsória. Esta afirmação está contida no §1° do aludido artigo. Este
reconhecimento poupa longa discussão jurídica, presente nas obras de
A prescrição do inciso III, “atendimento especializado aos comentaristas da CF/1946, qual seja, se o Direito à Educação constituía
portadores de deficiência preferencialmente na rede regular de ensino”, direito público subjetivo, mesmo que isto não fosse explicitado como tal
especifica uma orientação mais geral em que se prioriza o atendimento na Lei Maior. Pontes de Miranda, nos seus comentários à CF/1946,
dos portadores de necessidades educativas especiais na rede regular afirma: “Quanto à estrutura do Direito à Educação, no estado de fins
de ensino. (Cf. Mazzotta, 1987:3, 5, 115 e 118) múltiplos, ou ele é um direito público subjetivo, ou é ilusório.”
No inciso IV, “atendimento em creche e pré-escola às crianças de (1953:151)
zero a seis anos de idade”, além da extensão do Direito à Educação a Quanto ao sentido da expressão “direito público subjetivo”,
essa faixa etária, abre-se a possibilidade de considerá-la como fazendo Cretella afirma que “O art. 208, §1º, da Constituição vigente não deixa a
parte da educação “básica”. Com isto, pode-se incorporar este nível de menor dúvida a respeito do acesso ao ensino obrigatório e gratuito que
ensino ao sistema regular, exigindo, portanto, sua regulamentação e o educando, em qualquer grau, cumprindo os requisitos legais, tem o
normatização na legislação educacional complementar, o que não direito público subjetivo, oponível ao Estado, não tendo este nenhuma
ocorria na vigência da Constituição anterior, pois este nível de ensino possibilidade de negar a solicitação, protegida por expressa norma
era “livre”. jurídica constitucional cogente.” (Cretella, 1993, V. 8:4418). No
Outra consequência é a mudança na concepção de creches e comentário à declaração do Direito à Educação enquanto o primeiro
pré-escolas, passando-se a entendê-las como instituições educativas e dos Direitos Sociais, afirma: “(..) todo cidadão brasileiro tem o subjetivo
26
público de exigir do Estado o cumprimento da prestação educacional, constitucional do país; enfim, não há como negar que somos uma
independentemente de vaga, sem seleção, porque a regra jurídica Federação e que temos um ordenamento jurídico que busca alcançar
constitucional o investiu nesse status, colocando o Estado, ao lado da todos os princípios do federalismo internacional.
família, no poder-dever de abrir a todos as portas das escolas públicas
6. Este Estado brasileiro, assim juridicamente construído,
e, se não houver vagas, nestas, das escolas privadas, pagando as
inviabiliza a existência de uma verdadeira Federação, que se efetiva
bolsas aos estudantes.” (Cretella, 1991, V. 2:881-2) Os dispositivos
por necessidades reais e práticas e não por simples proclamações
introduzidos permitem a exigência de cumprimento desse direito ao
jurídicas? E qual a repercussão desse modelo de Estado Federal para
Poder Público.
o setor educacional?
O §2º. do artigo 208 afirma que: “(...) o não oferecimento do
7. Comecemos pela primeira questão. A primeira consequência
ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa
que apontaríamos e a que nos interessa, em particular, é a de termos a
responsabilidade da autoridade competente.” A novidade é a
União (ou pelo menos aquela “união indissolúvel”) como um ente
possibilidade de responsabilizar, pessoal e diretamente, a autoridade
federativo e autônomo, que participa do Estado Federal e que se
incumbida da oferta deste direito, e não apenas o Poder Público em
confunde, na prática, por sua longa tradição de centralização política,
geral.
com o próprio Estado Federal.
O §3º do artigo 208 prescreve que: “compete ao Poder
8. A União e os Municípios, previstos na arquitetura federativa,
Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a
não têm, rigorosamente, federatividade, ou melhor, uma imanência de
chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
autonomia e de descentralização política plena. É uma questão de
escola.”.
ordem histórica. Nós não construímos nossa Federação a partir da
A responsabilização do Poder Público pela realização do Censo existência real dos entes federativos.
Escolar, pela chamada à matrícula e de “zelar, junto aos pais ou
9. Arquitetamos primeiro o Estado Federal para depois
responsáveis pela frequência” já constava da legislação ordinária.
prescrevermos as competências constitucionais (residuais e não
A realização de um levantamento consciencioso que procure reservadas) de seus entes. A União é descaracterizada, historicamente,
localizar o conjunto da população em idade escolar, e não apenas como ente federado por não resultar da soma de “soberanias parciais”,
aquela que já se encontra nos Sistemas de Ensino, permitirá avaliar, de isto é, da autonomia prévia e reservada dos Estados-membros. A União
fato, as necessidades de expansão da rede física, bem como soberana é que gera Estados autônomos.
dimensionar a exclusão e avaliar o perfil de escolarização da população
10. No caso dos municípios, a situação não é menos curiosa: a
de uma maneira mais acurada.
questão do poder local lembra historicamente autonomia, desde o
1. A Constituição de 1988 persegue um fim último para o Estado período colonial, mas é incompatível com o conceito doutrinário de
brasileiro, que é o de torná-lo, juridicamente, uma República Federativa. Federação. Nem teríamos, com os municípios, uma “federação de
A primeira providência jurídica nessa direção é a seguinte: a União, no municípios” nem com a União temos uma “federação de União”.
Brasil, é um componente do Estado Federal.
11. Agora, responderemos ao segundo questionamento, com
2. Não é demais afirmar que a federação brasileira não resultou, base na reflexão acima. O Estado Federal sempre tendeu à
como insistimos no presente trabalho, da união dos estados soberanos centralização política, mas a União, como ente deste Estado, por não
num Estado Federal como ocorreu com a federação norte-americana. ser, efetivamente, uma entidade federada, não centralizou, nas
Aqui, antes de proclamada a República, éramos províncias sem constituições brasileiras, notadamente a de constituição Federal de
nenhuma autonomia político-administrativa. 1988, a competência legislativa exclusiva da educação nacional.
3. A tradição republicana e constitucional consagrou a federação 12. Aliás, no caso brasileiro, a educação nacional nunca foi, a
brasileira, mas a questão central da Federação, isto é, a repartição das rigor, um monopólio do Estado Federal, pelo menos, estruturalmente, o
competências dos entes federativos e o estabelecimento de suas que não quer dizer, no entanto, que não tenha tido iniciativa de projeto
fronteiras legislativas sempre foram o nó górdio do nosso federalismo. de lei no campo educacional.
4. Assim, dizer que a organização político-administrativa da 13. Na estrutura de poder em que a educação fosse monopólio
República Federativa do Brasil compreende as quatro entidades do Estado, o caráter de abrangência repercutiria no conjunto de
federativas é uma espécie de sentença jurídica, mas seu dogma é, Ministérios, no Legislativo e no Judiciário. Destaquemos que o ensino
historicamente, destituído de sentido. Há, ainda, um processo de superior, em que pese ter sido, historicamente, priorizado pela União,
construção do modelo de Estado Federal efetivamente federativo e não caracterizou monopólio estatal posto que os Estados ofertaram, no
democrático. âmbito de sua autonomia, o ensino superior estadual.
5. Claro, no fundo, os constitucionalistas acabam por aceitar 14. Entre as constituições nacionais, a de 1988 foi a única a
todas as intenções e manifestações do modelo federativo tomar deliberadamente a Educação, enquanto dispositivo
historicamente imposto e, juridicamente posto, na evolução
27
constitucional, como um elemento tipificador da Federação, manifesta Lei nº. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.
no âmbito das competências legislativas das entidades federativas.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).Parecer
15. Ao nos depararmos com a norma jurídica na Constituição
Parecer CEB/CNE nº. 05/97, de 11 de março 1997.
Federal de 1988 que determina: “Compete privativamente à União
legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional” (Artigo 22, Proposta de regulamentação da LDB nº. 9.394/96. Parecer
XXIV) poderíamos fazer duas leituras: (a) uma leitura descentralista e CEB/CNE nº. 15/98, de 1 de junho de 1998.
(b) uma leitura centralista. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
16. Uma leitura federalista, como quer aparentemente o texto (DCNEM). Parecer CEB/CNE nº. 01/99, de 29 de janeiro de 1999.
constitucional, e outra leitura unitarista, esta, resultante da secular Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores
tradição constitucional do País.[5] Em outras palavras, a educação na modalidade normal em nível de Ensino Médio.Resolução
nacional como competência exclusiva ou particular da União produziria
um regime unitarista, unilateral e autocrático, ao contrário do regime Resolução CEB/CNE nº. 03/98, de 26 de junho de 1998.
federativo em que há, como princípio, a participação dos entes Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
federativos ou a intergovernabilidade. (DCNEM).
17. A educação enquanto matéria constitucional manifesta-se, no Resolução CEB/CNB nº. 02/99, de 19 de abril de 1999.
âmbito dos dispositivos constitucionais, sem exclusividade na matéria
Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de
por parte das entidades federativas, consequentemente, não há
docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino
monopólio do Estado Federal ou centralização política e, por outra
Fundamental, em nível médio, na modalidade normal. Educação a
consequência, não se fala em descentralização da educação no âmbito
DistânciaDecreto
das entidades federativas.
Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998.
18. A privatividade (normas privativas), a comunilidade (normas
comuns) e a concorrencialidade (normas concorrentes) são indicativos, Regulamenta o Art. 80 da LDB (Lei n.º 9.394/96):
no âmbito das competências constitucionais, de descentralização
Decreto n.º 2.561, de 27de abril de 1998.
política, uma vez que, nessa repartição de competências, há repartição
de poder, de autoridade, posto que “na teoria do federalismo costuma- Altera a redação dos artigos 11 e 12 do Decreto n.º 2.494:
se dizer que a repartição de poderes autônomos constitui o núcleo do Portaria
conceito do Estado federal” (SILVA: 1992, p. 433).
Portaria n.º 301, de 7 de abril de 1998.
28
Decreto n.º 2.306, de 19 de agosto de 1997. Definição dos procedimentos para o cumprimento do disposto no
art. 18, do Decreto nº. 2.306 (Informação da instituições de ensino
Regulamentação das instituições de ensino superior:Decreto
superior sobre condições de ensino-aprendizagem): Portaria 946, 15
2.026, de 10 de outubro de 1996:
de agosto de 1997
Estabelece procedimentos para o processo de avaliação dos
Fixa valores de recolhimento, para ressarcimento de despesas
cursos e instituições de ensino superior:
com a análise de processos de autorização de cursos de graduação e
Editais credenciamento de instituições de ensino superior:Portaria Ministerial nº
Edital SESu nº 02/97, de 8 de setembro de 1997 972 de 15 de agosto de 1997.
Credenciamento de faculdades integradas, faculdades, institutos Dispõe sobre a constituição de comissões e procedimentos de
superiores ou escolas superiores:Portaria n.º 641, de 13 de maio de avaliação e verificação de cursos superiores.Portaria nº 1679 de 02 de
1997. dezembro de 1999:
Autorização de novos cursos em faculdades integradas, Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras
faculdades, institutos superiores ou escolas superiores em de deficiências, para instruir os processos de autorização e de reco-
funcionamento:Portaria n.º 752, de 2 de julho de 1997. nhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições.
29
tem sido essa a prática das elites políticas e econômicas aprendendo a sentir-se responsáveis pelas decisões que os afetam
dominantes. num âmbito mais amplo da sociedade.
30
AUTONOMIA DAS ESCOLAS E DA COMUNIDADE EDUCATIVA procedimentos) do processo organizacional em que o diretor coordena,
mobiliza, motiva, lidera, delega as responsabilidades decorrentes das
A autonomia é o fundamento da concepção democrático-
decisões aos membros da equipe escolar conforme suas atribuições
participativa de gestão escolar, razão de ser do projeto pedagógico. Ela
específicas, presta contas e submete à avaliação da equipe o
é definida como faculdade das pessoas de autogovernar-se, de decidir
desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente.
sobre seu próprio destino. Autonomia de uma instituição significa ter
poder de decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, Nesse princípio está presente a exigência da participação de
manter-se relativamente independente do poder central, administrar professores, pais, alunos, funcionários e outros representantes da
livremente recursos financeiros. Sendo assim, as escolas podem traçar comunidade bem como a forma de viabilização dessa participação: a
seu próprio caminho envolvendo professores, alunos, funcionários, pais interação comunicativa, a busca do consenso em pautas básicas, o
e comunidade próxima que se tornam co-responsáveis pelo êxito da diálogo intersubjetivo. Por outro lado, a participação implica os
instituição. É assim que q organização da escola se transforma em processos de gestão, os modos de fazer, a coordenação e a cobrança
instância educadora, espaço de trabalho coletivo e aprendizagem. dos trabalhos e, decididamente, o cumprimento de responsabilidades
compartilhadas dentro de uma mínima divisão de tarefas e alto grau de
Certamente trata-se de uma autonomia relativa. As escolas
profissionalismo de todos. Conforme temos ressaltado, a organização
públicas não são organismos isolados, elas integram um sistema
escolar democrática implica não só a participação na gestão mas a
escolar e dependem das políticas públicas e da gestão pública. Os
gestão da participação.
recursos que asseguram os salários, as condições de trabalho, a
formação continuada não são originados na própria escola. Portanto, o Desse modo, a gestão democrática não pode ficar restrita ao
controle local e comunitário não pode prescindir das responsabilidades discurso da participação e às suas formas externas: as eleições, as
e da atuação dos órgãos centrais e intermediários do sistema escolar. assembleias e reuniões. Ela está a serviço dos objetivos do ensino,
Isso significa que a direção de uma escola deve ser exercida tendo em especialmente da qualidade cognitiva dos processos de ensino e
conta, de um lado, o planejamento, a organização, a orientação e o aprendizagem. Além disso, a adoção de práticas participativas não está
controle de suas atividades internas conforme suas características livre de servir à manipulação e ao controle do comportamento das
particulares e sua realidade; por outro, a adequação e aplicação pessoas. As pessoas podem ser induzidas a pensar que estão
criadora das diretrizes gerais que recebe dos níveis superiores da participando quando, na verdade, estão sendo manipuladas por
administração do ensino. interesses de grupos, facções partidárias etc.
31
atingir objetivos. Há necessidade de uma ação racional, estruturada e Esse princípio indica a importância do sistema de relações
coordenada de proposição de objetivos, estratégias de ação, interpessoais em função da qualidade do trabalho de cada educador, da
provimento e ordenação dos recursos disponíveis, cronogramas e valorização da experiência individual, do clima amistoso de trabalho. A
formas de controle e avaliação. O plano de ação da escola ou projeto equipe da escola precisa investir sistematicamente na mudança das
pedagógico, discutido e analisado publicamente pela equipe escolar, relações autoritárias para relações baseadas no diálogo e no consenso.
torna-se o instrumento unificador das atividades escolares, convergindo Nas relações mútuas entre direção e professores, entre professoras e
na sua execução o interesse e o esforço coletivo dos membros da alunos, entre direção e funcionários técnicos e administrativos, há que
escola. combinar exigência e respeito, severidade e tato humano.
32
dificuldades como o desconhecimento das discussões e questões diversos atores sociais envolvidos. As ações empreendidas passam a
colocadas frente à política de educação do município. É necessário um patamar de legitimidade mais elevado.
conseguir que pais, funcionários e outros atores envolvidos disponham
A criação de instâncias participativas na gestão da educação
de capacitação técnica mínima para participar do processo de
diminui os lobbies corporativistas, por aumentar a capacidade de
planejamento e avaliação. Momentos especiais de formação dos
fiscalização da sociedade civil sobre a execução da política
representantes populares devem fazer parte das atividades normais
educacional. Força um aumento da transparência das ações do
dos órgãos.
governo municipal, através da ampliação do acesso à informação.
A Conferência Municipal de Educação conta com representação A obtenção destes resultados, no entanto, depende da vontade
da prefeitura, Legislativo Municipal, grêmios estudantis, associações de política da administração de ampliar os espaços de participação da
pais, organizações não-governamentais, sindicatos e associações. sociedade na gestão municipal. Depende, também, da adoção de
Como tem caráter deliberativo, é responsável pela formulação das outras medidas visando a democratização do ensino. Um governo que
diretrizes para a política educacional e a avaliação dos resultados da não se preocupar com estes dois pontos dificilmente conseguirá
sua implementação. As diretrizes, formuladas a partir de propostas de implantar um verdadeiro sistema de gestão democrática da educação.
todos os atores envolvidos, são sistematizadas pelos técnicos da
prefeitura. A primeira Conferência, realizada em outubro de 1993,
empreendeu uma discussão estratégica sobre a melhoria da qualidade A AVALIAÇÃO DO PLANO DE GESTÃO ESCOLAR E
do ensino da rede pública municipal, aberta a todos os interessados. DO PROJETO PEDAGÓGICO
O Conselho Municipal de Educação é constituído por uma A avaliação do Plano de Gestão Escolar deve ser tarefa coletiva
representação paritária dos Poderes Públicos e da sociedade civil. É da direção, equipe técnica, professores, alunos e comunidade,
responsável pela aprovação, em primeira instância, do Plano Municipal representada, principalmente, pelos pais.
de Educação, elaborado pela Secretaria Municipal de Educação, a Para avaliar, é necessário elaborar indicadores, o que também
partir das conclusões da Conferência Municipal de Educação. pode ser feito coletivamente. Os resultados positivos e negativos
Responsabiliza-se também por estabelecer critérios para a destinação devem subsidiar a formulação de novas propostas.
de recursos e pela avaliação dos serviços prestados pelo Sistema
Municipal de Educação. A aprovação final do Plano Municipal de Como avaliar o Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico
Educação cabe à Câmara Municipal. em todas as suas etapas ?
A formulação do sistema de gestão democrática da educação de A avaliação do Plano de Gestão Escolar e do Projeto
Recife contou com a participação de entidades da sociedade civil. Este Pedagógico deve abranger três aspectos centrais:
procedimento confere maior representatividade às instâncias criadas. - a avaliação do processo de elaboração;
Para divulgar as modificações implantadas, a prefeitura lançou - a avaliação dos efeitos diretos na aprendizagem dos alu-
os “Cadernos de Educação”, esclarecendo a proposta junto à nos;
população.
- a avaliação dos efeitos indiretos na aprendizagem dos alu-
A democratização da gestão - especialmente quando se dá nos e no desenvolvimento da escola.
através de ações estruturadas - permite que os setores interessados
É importante avaliar:
participem da elaboração da política municipal de educação. São
gerados, assim, ganhos em qualidade das decisões, pois estas podem - a articulação entre o Plano de Gestão Escolar e o Projeto
refletir a pluralidade de interesses e visões que existem entre os Pedagógico;
33
- a articulação entre todos os componentes dos Planos; A avaliação do Projeto Pedagógico deve verificar:
- a adequação dos objetivos e das ações desenvolvidas. - se as competências, conhecimentos e os métodos corres-
pondem ao diagnóstico realizado;
Destacar:
- se os professores elaboram coletivamente as ações, pro-
- as ações, programas e projetos que apresentaram conse-
gramas e/ou projetos;
quências positivas;
- se os professores experimentam novos materiais e se inte-
- as ações, programas e projetos que apresentaram dificul-
ressam por experiências bem-sucedidas;
dades no desenvolvimento para alunos e professores;
- se os professores introduziram mudanças na prática peda-
- as consequências do Plano de Gestão Escolar na relação
gógica;
entre a escola e a comunidade; direção, professores e alu-
nos, e entre os alunos; - se a seleção de materiais e estratégias mostrou-se ade-
quada aos objetivos propostos.
- as consequências do Plano de Gestão Escolar na relação
entre a escola e demais parceiros. A avaliação da participação dos alunos deve verificar:
A avaliação dos efeitos do Plano de Gestão Escolar e do Projeto - se os alunos demonstram maior interesse pelas (e nas) au-
Pedagógico na aprendizagem dos alunos, implica verificar: las;
- a melhoria de aprendizagem dos alunos da escola e, em - se os alunos estão alcançando os objetivos propostos nos
particular, dos grupos que receberam tratamento diferenci- Planos Pedagógicos.
ado;
A avaliação da etapa final do Projeto Pedagógico deve:
- o nível de envolvimento dos professores, alunos e comuni-
- identificar as ações que tiveram efeito positivo;
dade com as propostas desenvolvidas;
- analisar os indicadores de desempenho dos alunos para
- o progresso de cada aluno e, particularmente, o dos alunos
verificar em que aspectos apresentam melhora;
que apresentavam dificuldades por meio de trabalhos e
produções individuais; dos exercícios, situações-problema’’, - analisar os indicadores de desempenho dos alunos para
tarefas realizadas; da observação da evolução do compor- verificar as dificuldades que persistem;
tamento no que se refere à participação de cada aluno nas - identificar os obstáculos que se colocaram durante o de-
atividades em classe e em outros ambientes. senvolvimento do Projeto Pedagógico.
A avaliação dos efeitos do Plano de Gestão Escolar e do Projeto Considerando que Gestão Escolar Democrática implica:
Pedagógico sobre a equipe escolar e os professores e analisa como
eles contribuíram para a formação continuada dos professores e como a) a utilização, racional e eficaz, dos recursos humanos, mate-
se pode aperfeiçoar ambos os processos de gestão, no que se refere: riais e financeiros destinados à realização da ação instituci-
onal;
- à disposição para utilizar plenamente o tempo, os espaços
educativos e os materiais; b) a necessidade de erradicar as práticas hierarquizadas, au-
toritárias e excessivamente burocráticas do sistema educa-
- à coordenação das atividades e à divisão de tarefas; cional;
- à qualidade e à compreensão das informações sobre o c) democratizar as práticas de gestão administrativa, financei-
Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico; ra e pedagógica da escola;
- ao aperfeiçoamento dos Conselhos de Classe e dos pro-
cedimentos de avaliação, usados pelos professores;
FICAM ESTABELECIDOS, ENTÃO OS SEGUINTES PRINCÍPIOS DE
- ao envolvimento da comunidade; GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA:
- ao envolvimento dos alunos; 1 A Democracia tem que ser um exercício de cidadania na prática
- à melhoria do relacionamento da equipe escolar, técnicos, da escola cidadã, e deverá ser revista periodicamente por meio de
professores e comunidade; avaliação do trabalho gestor e do Conselho Escolar, além de outras
atitudes e métodos democráticos.
- ao aperfeiçoamento da prática docente;
2 A autonomia em uma gestão escolar democrática deve ser
- à aquisição de conhecimentos teóricos e pedagógicos pe-
garantida a partir da eleição direta para diretor e vice-diretor,
los professores por meio de esforço pessoal, do trabalho
reconhecendo-se que a escola faz parte de um sistema educacional
em equipe ou da formação continuada.
34
formador de cidadãos críticos que implica, necessariamente, um 10.3 as decisões tomadas devem se tornar públicas e
processo de interdependência entre toda a rede escolar e a sociedade. conhecidas de todos, onde as discussões das prioridades devem levar
em consideração as intenções da comunidade escolar.
3 A gestão, para ser democrática, deve priorizar a busca da
igualdade de direitos e deveres, propiciando uma participação ativa nas 11 A gestão democrática, com liberdade de expressão, deve
decisões tomadas no Conselho Escolar, nas eleições diretas e em organizar as condições objetivas para desburocratizar os processos
outros espaços estabelecidos para essa finalidade. administrativos internos, lutando politicamente junto às instâncias
superiores na criação e/ou modificação de critérios, na busca da
4 Na Gestão Democrática os gestores da escola devem
autonomia (administrativa, pedagógica e financeira) da escola, sem
demonstrar competência administrativa e pedagógica, bom senso,
eximir o Estado2 de suas obrigações para com o ensino público.
coerência política com o P.P.P. da Escola e conquistar criticamente o
respeito da comunidade escolar de acordo com as prioridades da 12 A gestão democrática deve lutar pelo envolvimento da
escola cidadã e desta comunidade, definidas pelo Conselho Escolar e comunidade nas ações da instituição como um todo, de acordo com os
não tendo influência político-partidária. princípios de avaliação estabelecidos no presente documento; lutando
pela inclusão social, pelo acesso e a permanência do aluno na escola,
5 A gestão democrática escolar deve considerar todos os
com sucesso.
segmentos envolvidos na vida escolar importantes para a efetivação do
processo educativo, visto que, todos são sujeitos históricos, atores 13 A gestão democrática escolar deve buscar caminhos para a
sociais responsáveis pela efetivação do mesmo. realização do trabalho pedagógico, comprometidos com uma
convivência prazerosa entre profissionais, alunos e familiares, dentro
6 A gestão escolar democrática deve promover discussões e
dos princípios de justiça, cooperação, igualdade e compreensão.
ações coletivas, para garantir o desenvolvimento e a transformação das
pessoas e da instituição, uma vez que a escola é um espaço público de 14 A gestão democrática deve garantir a viabilização do PPP e
permanente construção e vivência da cidadania. da proposta pedagógica da escola, incentivando e contando,
efetivamente, com a participação dos profissionais da educação, dos
7 A gestão escolar democrática deve pautar-se no diálogo e na
alunos e de seus familiares, realizando periodicamente diagnósticos
busca constante da participação ativa de pais, alunos, corpo docente e
necessários para melhoria de seus projetos.
administrativo, pois além de proporcionar a oportunidade de conviver,
de planejar e de resolver problemas juntos, favorece a construção da 15 Os gestores da escola devem comprometer-se e fazer
solidariedade e compromisso entre a comunidade escolar de forma acontecer as metas estabelecidas, tanto no Projeto Político-Pedagógico
crítica e reflexiva. da escola, bem como na Proposta Pedagógica da mesma.
7.1 A escola cidadã precisa criar e programar estratégias para 16 A gestão deve incentivar e viabilizar a formação permanente
conscientizar aos pais sobre os problemas reais da escola e sobre a dos vários segmentos da comunidade escolar, articulando-se
atuação dos mesmos no Conselho Escolar. politicamente com a Secretaria Municipal de Educação, de modo a
possibilitar a realização de estudos e outros espaços coletivos para a
8 A gestão democrática da escola deve, além de valorizar,
reflexão e o debate político-pedagógico e científico, sempre que
incentivar e fazer acontecer o trabalho em equipe na escola, garantir a
possível.
abertura de espaços de integração da comunidade, que contribuam
para a construção da gestão democrática. 17 O Conselho Escolar deve participar nas decisões
administrativas, pedagógicas e financeiras que envolvem a vida da
9 A gestão deve valorizar os projetos condizentes com a
escola, contribuindo democraticamente para legitimação das mesmas.
realidade da escola, buscando consenso em torno das propostas que
sejam comuns e representem, em primeira instância, as necessidades 18 Na Gestão democrática a ética, tal como caracterizada nos
da maioria. princípios de convivência, é fundamental no sentido de estabelecer a
humanização, o respeito, a valorização profissional e o compromisso
10 A gestão escolar democrática deve ser transparente nas suas
com a educação.
ações administrativa, pedagógica e financeira, socializando as
informações. Neste sentido: 19 O gestor da escola, juntamente com os órgãos municipais
competentes, devem oferecer condições para que o processo de
10.1 A comunidade deve ser incentivada a conhecer as leis que
inclusão da criança portadora de necessidades especiais na escola
regem a administração pública escolar;
esteja alicerçado com recursos humanos especializados na área em
10.2 devem ser criadas estratégias no sentido de oferecer questão, assim como recursos materiais e físicos para um melhor
condições e horários adequados à comunidade escolar, dentro da carga atendimento.
horária do professor, para que possam participar dos processos de
20 A gestão democrática deve buscar a melhoria da qualidade do
tomadas de decisões, onde o diálogo e a busca de consenso devem
ensino onde o conhecimento seja instrumento para a compreensão e
nortear as discussões;
intervenção na realidade. Um espaço efetivo do crescimento humano,
35
do diálogo, das diferenças e da flexibilidade, formadora de cidadãos INSTÂNCIAS COLEGIADAS NA UNIDADE ESCOLAR
críticos e conscientes de seus direitos e deveres.
A escola é uma organização que, como muitas outras, lida com
21 A gestão democrática escolar deve trabalhar a diversidade pessoas. Sua peculiaridade está em ser a primeira instituição que os
humana, comprometendo-se em combater todas as formas de cidadãos, ainda crianças, conhecem. Mais ainda, uma instituição que
preconceito e discriminação. complementa as famílias por ter a missão de educar. A experiência na
escola pode desenvolver ou não, os sentimentos de confiança e de
22 Atendendo aos legítimos interesses de nossa categoria, os
satisfação em pertencer à sociedade maior, como cidadão.
princípios aqui contidos poderão ser acrescentados, suprimidos ou
modificados; desde que previamente propostos, votados e aprovados A escola toma uma parte importante do tempo de nossa infância
em congresso oficialmente convocado para tal. e deveria representar uma experiência rica, cheia de significados,
daquelas que gostamos de passar aos nossos filhos e que eles
gostarão de passar para a geração seguinte. A boa escola não resulta
GESTÃO E INSTÂNCIAS COLEGIADAS NA UNIDADE ESCOLAR; apenas da competência específica de suas diretoras, professoras e
ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E ORGANIZAÇÃO. funcionários, porque depende de como as famílias tratam da educação
dos filhos; de como elas ajudam seus filhos a gostar e valorizar os
O foco da escola de boa qualidade deve ser a possibilidade de
estudos, a perceber que têm futuro e que este já começa a ser
apropriação, pelos alunos, do conhecimento socialmente relevante, em
construído ali, na sua escola.
que o saber acadêmico, valores e tradições culturais sejam respeitados,
de modo que todos se sintam identificados, ao mesmo tempo que Se para a criança, a escola é um castigo ou é um mundo do qual
instrumentalizados para compreender o mundo contemporâneo, co- os pais não tomam muito conhecimento, a experiência escolar não será
participando da construção da ordem democrática. proveitosa.
O alcance desses objetivos não é tarefa apenas da escola, mas A equipe escolar depende dos pais de alunos para ter sucesso,
dos diferentes atores sociais diretamente conectados com ela: assim como os pais de alunos dependem da equipe escolar para que
educadores, pais, associações, empresas etc. Descentralizar as seus filhos tenham uma experiência satisfatória de convívio com
decisões de forma que a escola tenha maior autonomia implica, por um crianças e adultos fora do circulo familiar e para que desenvolvam a
lado, permitir a interpretação e operacionalização local das políticas curiosidade e a capacidade de aprender. O sucesso da escola depende
centrais e, por outro, levar em conta a multiplicidade dos atores e do clima institucional, da competência didático-pedagógica da escola e
interesses presentes. da resposta dos alunos. Mas a verdade é que todos esses três fatores
estão condicionados ao entrosamento entre escola e famílias.
Para lograr isso, o projeto da escola que visa uma efetiva gestão
participativa busca coerência entre as diferentes instâncias: A autonomia melhora muito as condições de integração dessas
duas metades da educação porque institui a gestão participativa, que
• no interior da própria escola, entre os diferentes atores,
submete os processos decisórios às diferentes perspectivas dos
respeitando identidades e valores, de modo a desenvolver
professores, dirigentes, funcionários e pais de alunos. Com isso, ela
o trabalho coletivo em torno de objetivos comuns;
não só aumenta a sintonia entre as varias partes, como melhora a
• entre a escola e a comunidade, incluindo pais, lideranças, qualidade das decisões.
políticos, empresas etc.; e
A gestão participativa abrange diferentes níveis e áreas da
• entre as demandas em nível local, regional e nacional. administração escolar. O nível mais alto tem estatura equivalente à da
Diretoria da escola e é o do Colegiado Escolar (também chamado de
O projeto de escola dá coerência às atividades em todos os
Conselho de Escola, Associação de Pais e Mestres, Círculo de Pais e
níveis e possibilita aos diferentes atores e grupos de trabalho agirem na
Professores, ou outras denominações). Este é o tema central deste
mesma direção. Ele implica um conjunto de consensos, a abertura
módulo. Outros dois colegiados são os Conselhos de Classe, que
para a comunidade e a agregação de diferentes parceiros, fornecendo
acompanham as atividades pedagógicas da escola, e os Conselhos
os meios para que estes conheçam o sentido da ação comum a ser
Fiscal e Deliberativo da Unidade Executora, responsável pela
conduzida. Na verdade, implica a gestão participativa.
administração dos recursos financeiros da escola. Além deles, há as
Para delinear tal projeto, é fundamental conhecer as expectativas Assembleias Gerais onde se definem as candidaturas aos postos
dessa comunidade, suas necessidades, formas de sobrevivência, eletivos e se aprovam regimentos e estatutos ou as revisões desses
valores, costumes, manifestações culturais e artísticas. documentos.
É através desse conhecimento que a escola pode atender a Nada impede que a escola crie outros órgãos coletivos para
comunidade e auxiliá-la a ampliar seu instrumental de compreensão e funções consultivas e/ou deliberativas, temporárias ou permanentes
transformação do mundo. (por exemplo, uma comissão para melhorar e supervisionar a qualidade
e valor nutritivo da merenda escolar, ou um colegiado que supervisione
36
e desenvolva o acervo e a utilização de materiais didáticos _ livros, AS COMPETÊNCIAS E FUNÇÕES DO COLEGIADO
vídeos, revistas e equipamentos de ensino, etc.).
As funções do Colegiado podem ser consultivas e deliberativas e
englobam as áreas financeira, administrativa e pedagógica da unidade
de ensino. Seu objetivo maior é ajudar a escola. Reproduzimos abaixo
Veja o conceito de alguns termos amplamente empregados nas
um exemplo de Colegiado, contendo funções deliberativas e consultivas
escolas:
adotadas pela rede estadual mineira.
Colegiado Escolar: O colegiado escolar é um órgão coletivo,
A relação de itens do quadro na página seguinte serve de
consultivo e fiscalizador, e atua nas questões técnicas, pedagógicas,
ilustração e não de demarcação fixa e definitiva das funções do
administrativas e financeiras da unidade escolar. Como órgão coletivo,
Colegiado. A legislação permite flexibilidade. As escolas podem decidir
adota a gestão participativa e democrática da escola, a tomada de
sobre outros assuntos, bastando prevê-los no estatuto do Colegiado.
decisão consensual visando à melhoria da qualidade do ensino..
Mas há um princípio fundamental que precisa orientar todas as
Conselho Escolar: órgão colegiado que tem como objetivo definições e ações do Colegiado e da Escola como um todo: o da
promover a participação da comunidade escolar nos processos de centralidade dos alunos.
administração e gestão da escola, visando assegurar a qualidade do
Como a educação do aluno é a razão de ser da escola, nada
trabalho escolar em termos administrativos, financeiros e pedagógicos.
mais lógico que as ações da escola busquem, direta ou indiretamente,
Associação de Pais e Mestres: instituição auxiliar às atividades o melhor atendimento possível de seus alunos. Para isso, deve-se ter
da escola, formada por pais, professores e funcionários. Tem como em mente que os alunos não estão na escola apenas para receber
objetivo auxiliar a direção escolar na promoção das atividades estímulos. Eles devem ter um papel ativo; de interpretar e aplicar os
administrativas, pedagógicas e sociais da escola, bem como arrecadar conteúdos adquiridos, construindo o seu próprio conhecimento e
recursos para complementar os gastos com o ensino, a educação e a desenvolvendo suas aspirações, valores e comportamentos. Os
cultura. “defeitos” que apresentem _ sejam de aprendizagem ou de conduta _
Caixa Escolar: A caixa escolar é uma instituição jurídica, de podem indicar falhas da escola e depor contra os que participam da
direito privado, sem fins lucrativos, que tem como função básica direção. Isto inclui tanto a equipe escolar quanto as famílias dos alunos.
administrar os recursos financeiros da escola, oriundos da União, Em vista disso, as funções administrativas e financeiras devem
estados e municípios, e aqueles arrecadados pelas unidades escolares. estar voltadas para aquela que é o objetivo principal de uma escola: a
função pedagógica, a que se ocupa diretamente com a aprendizagem
do aluno. A função pedagógica não se restringe à sala de aula, pois
Veja, a seguir, detalhes de cada uma dessas instâncias: inclui outras atividades, como visitas e passeios, e projetos
O COLEGIADO DA ESCOLA desenvolvidos por grupos de alunos que requerem materiais, como
jornais, revistas e vídeos.
O Colegiado Escolar corresponde a um Conselho de
Administração presidido pelo Diretor da Escola e composto por
representantes dos professores e funcionários, dos pais de alunos e AS REGRAS DE COMPOSIÇÃO DO COLEGIADO
dos alunos com 16 anos ou mais, além de representantes da
comunidade, se houver interesse. Normalmente, metade de seus O Colegiado é presidido pelo Diretor da Escola e reune
membros é composta por representantes dos professores e representantes de dois grandes segmentos: o dos funcionários e o dos
funcionários e a outra metade, por representantes dos pais de alunos, usuários da escola. No segmento dos funcionários estão três
alunos maiores de 16 anos e líderes da comunidade. O Colegiado tem subgrupos: o dos professores, o dos especialistas de educação e o da
funções consultivas (de assessoria à Diretoria da Escola) e equipe administrativa da escola. No outro segmento, estão os pais de
deliberativas (de decisão) sobre matérias financeiras, administrativas e alunos e o subgrupo de alunos maiores de 16 anos, e, eventualmente,
pedagógicas. representantes da comunidade.
37
• Para se lançar candidato, a pessoa deverá manifestar sua COMO FUNCIONA O COLEGIADO?
vontade de se candidatar durante a Assembleia. Caso você
O Colegiado é um fórum democrático e suas decisões devem ser
conheça alguém que julgue possuir as qualidades para o
aprovadas pela maioria dos membros. Ele deve ter uma programação
cargo, você pode indicá-la na Assembleia e pedir que ela
de reuniões ordinárias, quer dizer, reuniões regulares, previstas, e pode
se manifeste, aceitando ou não a candidatura.
também ter reuniões extraordinárias, especiais e convocadas por
• O mandato dos membros é de 1 ano _ de março a março _ motivos e segundo regras de convocação previstas no Estatuto do
e o Estatuto do Colegiado deve prever se poderá haver Colegiado. Por exemplo, se a escola é vítima de um ato de vandalismo
reeleição ou não. grave, por parte de um grupo significativamente numeroso de alunos,
cabe convocar uma reunião extraordinária para avaliar o fato e decidir
• A escolha dos membros obedece a quantidade de votos
qual seria a reação exemplar que prevenisse repetição de um evento
que cada candidato obteve na eleição de seu segmento.
dessa ordem (talvez punir os alunos com a responsabilidade de
Os mais votados tornam-se membros-titulares e cada um
recuperar o que estragaram, dedicando um certo número de horas
deles tem um suplente, também escolhido segundo o nú-
adicionais à escola).
mero de votos obtidos. Se o segmento de pais e alunos
tem 4 representantes; o suplente do titular mais votado é o Na rede estadual de Minas Gerais, as reuniões do Colegiado
candidato que chegou em 5o. lugar na contagem dos votos, devem ocorrer mensalmente. Se o Presidente (Diretor da Escola)
o suplente do titular que foi o segundo mais votado, será o insistir em não convocá-las, a maioria dos membros do Colegiado,
candidato que chegou em 6o. lugar na contagem dos votos representada pela metade mais um, poderá tomar a iniciativa de
e assim por diante. convocação.
• Os suplentes são portanto escolhidos dentro do mesmo Os membros-titulares e suplentes do Colegiado têm uma grande
segmento que elegeu os titulares. Eles podem estar pre- responsabilidade. São eleitos em uma Assembleia Geral e devem
sente nas reuniões do Colegiado e manifestar suas opini- representar, nas reuniões, o segmento que os elegeu, sem perder
ões, mas não têm direito de voto, quando o titular estiver nunca de vista o interesse maior da escola que é o de atender às
presente. necessidades de seus alunos. Para isso, devem se preparar para as
reuniões e consultar os seus “pares” (o segmento que os elegeu) antes
• O Vice-Diretor é o suplente do Diretor na Presidência do
e depois das reuniões. Além disso, é fundamental que conheçam
Colegiado e não pode representar nenhum segmento da
profundamente a escola e seus usuários - os alunos e suas famílias.
escola.
Devem consultar a legislação e outros textos que sirvam de orientação
• Quando o Colegiado perde definitivamente um membro titu- do que é exigido; devem estar informados sobre outras escolas e a
lar, o suplente assume o cargo de membro-titular em cará- Secretaria Municipal de Educação.
ter definitivo e o Colegiado preenche a vaga com o candi-
É muito importante que o Diretor entregue a pauta das reuniões
dato que obteve mais votos entre os que não chegaram a
com bastante antecedência para que haja tempo de os membros se
assumir nenhuma suplência ou, se não houver excedentes,
prepararem e convocarem uma reunião prévia com os seus respectivos
convoca eleição no segmento para eleger o suplente.
segmentos. A Direção da escola deve oferecer o espaço para essas
• Como medida preventiva, os resultados completos da elei- reuniões.
ção devem ser registrados na Ata da 1a Assembleia do ano.
Quais são os textos legais mais importantes?
Todos os candidatos devem estar listados com o número
de votos obtidos, de modo a que se possa recorrer a esta Todas as ações escolares devem ser condizentes com os
relação em caso de necessidade de substituição. seguintes textos legais:
• a Constituição Estadual,
Há algumas situações concretas que merecem comentário. Por • as normas do Conselho Nacional de Educação
exemplo, se a escola só possui um especialista, ele deve ser
• as normas do Conselho Estadual da Educação
automaticamente incorporado como membro do Colegiado. Se um
funcionário for também pai de aluno, ele deve buscar se eleger pelo • o Estatuto da Criança e do Adolescente
segmento dos funcionários para permitir que os representantes dos • a Constituição Federal;
pais tragam perspectivas de fora da escola.
• a política (resoluções, portarias, programas) da Secretaria
O Colegiado só existe quando está reunido. Ele não possui de Estado de Educação e/ou da Secretaria Municipal da
funções executivas ou administrativas permanentes. Por isso, todos os Educação
seus membros têm a mesma função e o mesmo direito de participação.
Todos esses textos devem estar arquivados para consulta do
Colegiado e outros membros da comunidade interna e externa da
38
escola. Em caso de dúvidas sobre a legislação, os membros do A Ata deve ter páginas numeradas e rubricadas pelo responsável
Colegiado devem consultar a Secretaria de Educação e buscar por sua elaboração _ em geral, o diretor ou vice-diretor ou um
especialistas habilitados a trazer mais informações e esclarecimentos. secretário indicado. Na abertura, o texto da Ata deve identificar quem
está elaborando e em que data. Registra também a relação nominal de
todos os presentes, a pauta ou objetivos da reunião e resume os
O ESTATUTO DO COLEGIADO principais resultados, tudo isso, sem deixar espaços livres que possam
O Estatuto do Colegiado é um documento de alcance mais permitir adulteração. Acréscimos posteriores devem ser precedidos da
restrito do que o Regimento da Escola. Ele reúne um conjunto de expressão “Em tempo,”. Se elaborada em computador, a Ata deve ser
normas e regras que regulamentam o funcionamento do Colegiado da arquivada como “documento de leitura”, bloqueado para edição ou
Escola baseado na vontade da comunidade escolar interna e externa e revisões, e deve ter cópia em papel com páginas rubricadas.
na legislação. Não existe um modelo único e geral de Estatuto. Cada
Estatuto é único porque aborda aspectos importantes para a realidade
ASSEMBLEIAS E REUNIÕES
de cada escola. Após analisar o texto proposto do Estatuto, ele deve
ser aprovado por toda a comunidade escolar em Assembleia Geral. Os Assembleia Geral é uma reunião aberta a toda comunidade
membros da Comunidade Escolar podem propor mudanças no Estatuto escolar, que precisa ocorrer pelo menos uma vez por ano, para eleger
e elas serão incorporadas se forem também aprovadas em Assembleia os membros do Colegiado Escolar. As convocações extraordinárias
Geral e não violarem a legislação. ocorrem quando a escola precisa aprovar alterações de seu Regimento
ou do Estatuto do Colegiado.
Muitos conflitos podem ser evitados ou ter solução facilitada se a
comunidade escolar for capaz de prever e tratar dessas situações no As Assembleias Gerais são soberanas nas suas decisões, por
Estatuto. Vejamos algumas das questões que podem estar isso é importante que haja bom senso nas decisões de convocação e
contempladas no Estatuto: que, enquanto participante, você se inteire daquilo que está sendo
objeto de discussão e aprovação. Troque ideias, certifique-se de que a
• de quantos membros será composto o Colegiado da Esco-
decisão não viole o Estatuto da Escola ou a legislação pertinente. Não
la? qual o número de representantes de cada segmento?
assine nada sem ter certeza do que se trata.
• se um membro titular não comparecer a um número X de
Na rede estadual de Minas Gerais as Assembleias Gerais têm a
reuniões, que providências devem ser tomadas?
seguinte programação:
• quais são os critérios de desempate nas eleições do Cole-
1a Assembleia Geral _ em março, tem o objetivo de esclarecer o
giado?
que é o Colegiado Escolar e de realizar a eleição por cada segmento de
• de que modo um membro da comunidade escolar que não seus representantes.
pertence ao Colegiado pode incluir um assunto na pauta da
2ª Assembleia Geral _ ainda no 1o semestre, para divulgar as
próxima reunião do Colegiado?
propostas de trabalho da escola.
• quem pode convocar reuniões do Colegiado além de seu
3ª Assembleia Geral _ no 2o semestre, para fazer um balanço
presidente (o diretor da escola)? Em que circunstâncias is-
das atividades desenvolvidas pela escola durante o ano.
so poderá ocorrer?
Caso haja necessidade de outras assembleias, o diretor ou a
maioria do Colegiado poderá convocá-las, em caráter extraordinário,
A IMPORTÂNCIA DAS ATAS durante o ano letivo, para resolver assuntos urgentes do interesse da
A implantação da gestão colegiada, pela qual o diretor divide escola.
responsabilidades e compartilha decisões, torna muito importante os O Colegiado Escolar reúne os representantes eleitos de todos os
Editais de Convocação das reuniões e o registro em Atas das segmentos da comunidade escolar e divide com a Diretoria a
discussões, sugestões e resoluções tomadas pelo Colegiado da Escola. responsabilidade maior pelos resultados da escola. Ele é o lugar de
O Edital de Convocação deve conter a data, o local e o horário da encontro e de desenvolvimento das aspirações e da inteligência
reunião, além do objetivo e assuntos a serem tratados. A Ata, por sua coletiva da escola.
vez, é o registro resumido, porém claro e fiel, das opiniões, votações e
A gestão colegiada é o regime de funcionamento mais adequado
resoluções de uma reunião convocada com antecedência de pelo
para a “escola que aprende”; aquela que não se contenta com a rotina,
menos 24 horas.
com reprodução do que sempre fez. A gestão colegiada estará
A importância das Atas é que elas permitem consultar fatos e funcionando bem se servir para aprofundar o auto-conhecimento da
decisões tomadas em reuniões, esclarecendo seu contexto e dúvidas escola e para mobilizar a capacidade de seus membros para pensar,
que podem surgir posteriormente. Ela é um registro formal e oficial das julgar, imaginar, propor e resolver o que for necessário. É assim que ela
reuniões do Colegiado. vai aprender a concretizar as vontades coletivas.
39
CONSELHO ESCOLAR Com relação a algumas condições de participação:
Todas as unidades escolares deverão encaminhar às Diretorias Quem escolhe os representantes dos alunos no Conselho de
de Ensino, a composição do Conselho de Escola até 31 de março de Escola são os próprios alunos, através de eleição entre os seus pares.
cada ano letivo. Para participar do Conselho de Escola não é necessário
O Conselho de Escola é presidido pelo Diretor da Escola e terá contribuir com a APM. Lembramos que a contribuição para a APM é
um total mínimo de 20 (vinte) e máximo de 40 (quarenta) componentes. sempre voluntária.
40
• os projetos de atendimento integral ao aluno no campo ma- • As reuniões serão realizadas em primeira convocação com
terial, psico-pedagógico, social e de saúde; a presença da maioria simples dos membros e em segunda
convocação (30 minutos depois) com qualquer número de
• os programas que visem a integração escola-família-
membros; e
comunidade;
• O conselheiro que faltar a duas reuniões em seguida, sem
• as soluções para os problemas administrativos e pedagógi-
justificativa, deverá ser substituído.
cos;
• a organização e funcionamento de escola, de acordo com A APM, instituição auxiliar da escola, é uma associação civil, com
as orientações da SME sobre: personalidade jurídica própria e, portanto, responsável pelos seus atos.
É representada pelo seu Diretor Executivo. Este responde pela
a. o atendimento e acomodação da demanda, turnos, distribuição de
Associação, até mesmo em Juízo.
séries e classes, utilização do espaço físico;
A APM não se confunde com o Diretor de Escola. Entretanto,
b. a fixação de critérios para ocupação do prédio e suas instalações,
este é o presidente nato do seu Conselho Deliberativo e, nessa
condições para sua preservação, cessão para outras atividades
qualidade, bem como na qualidade de diretor da escola, tem o dever de
que não de ensino e de interesse da comunidade; e
zelar pelo bom andamento dos trabalhos da associação, observando
c. a análise, aprovação e acompanhamento de projetos propostos seus funcionários, orientando seus membros e prestando colaboração,
pelos professores. sem, porém, assumir, sozinho, as funções de seus membros.
O Conselho de Escola dá parecer sobre: Portanto, nem pode alienar-se e nem pode, assumir, sozinho,
• a ampliação e reformas no prédio; funções que não lhe competem.
• os problemas entre o corpo docente, entre alunos, entre Se forem constatadas fraudes nas atividades da APM, o Diretor
funcionários que estejam prejudicando o projeto pedagógi- poderá pedir, aos órgãos competentes, a intervenção na APM. Esse
co da unidade; processo será desenvolvido pelo Grupo de Verificação e Controle das
Atividades Administrativas e Pedagógicas da Secretaria da Educação.
• as posturas individuais de qualquer segmento que colo-
quem em risco as diretrizes e metas deliberadas; e Quem determina a intervenção é o Secretário da Educação.
• as penalidades a que são sujeitos funcionários, alunos, A APM precisa ser registrada. Portanto, verificar se a Associação
sem prejuízo de recorrência a outras instâncias. e, também, a ata da eleição, foram registradas em cartório de títulos e
documentos.
O Conselho de Escola, ainda:
O documento que indica como cadastrar a APM no Programa de
• elabora, conjuntamente com a equipe de educadores, o ca- Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental é a Resolução
lendário escolar e projeto pedagógico da unidade, observa- 5 de 06/04/98 do Conselho Deliberativo da FNDE.
das as normas oficiais;
A APM é obrigada a expor seus balanços e balancetes, na
• aprecia os relatórios anuais da Unidade; e escola, em local de fácil acesso à comunidade.
• acompanha o desenvolvimento do projeto pedagógico. Esses balanços deverão estar devidamente verificados e
Como se organizam as reuniões do conselho de escola assinados pelos membros do Conselho Fiscal, pelo Diretor Executivo,
Diretor Financeiro, Diretor de Escola. Ao final do mandato da Diretoria
Com relação ao seu tipo: Há dois tipos de reunião de Conselho
Executiva, que é de um ano, a prestação de contas deverá ser feita
de Escola: ordinárias e extraordinárias:
diretamente em Assembleia Geral (após a apreciação do Conselho
As reuniões ordinárias ocorrem de dois em dois meses (com Fiscal).
datas marcadas no ato da posse); e
Manter funcionário sem registro em carteira é um
As reuniões extraordinárias ocorrem quando necessário, por descumprimento das leis trabalhistas, do que advirá, em algum
convocação da direção ou de 1/3 dos membros. momento, multas em eventuais fiscalizações. Por outro lado, a
dispensa de funcionários, sem registro em carteira, mesmo quando a
Com relação ao funcionamento das reuniões:
APM tenha pago todos os direitos, poderá gerar reclamações
• Em todas as reuniões deverá ter pauta, aprovada no início, trabalhistas, obrigando a instituição a pagar pesadas indenizações.
e redigida a ata que será afixada em lugar visível na unida-
de;
41
Se a APM possui recursos suficientes, é recomendável a e)- a execução de pequenas obras de construção em prédios
contratação de um escritório para executar os serviços de escolares, que deverá ser acompanhada e fiscalizada pela Fundação
contabilidade. para o Desenvolvimento da Educação - FDE.
Pais de ex-alunos, ex-alunos maiores de 18 anos, ex- IV - colaborar na programação do uso do prédio da escola pela
professores, demais membros da comunidade, podem ser sócios da comunidade, inclusive nos períodos ociosos, ampliando-se o conceito
APM na categoria de sócios admitidos. de escola como “Casa de Ensino” para “Centro de Atividades
Comunitárias”;
Um Conselheiro da APM poderá ser reconduzido por duas vezes,
além do primeiro mandato. Ou seja, ele poderá ser eleito conselheiro V - favorecer o entrosamento entre pais e professores
por três mandatos consecutivos. possibilitando:
Cada Diretor só poderá ser reconduzido uma vez, para o mesmo a)- aos pais, informações relativas tanto aos objetivos
cargo. educacionais, métodos e processos de ensino, quanto ao
aproveitamento escolar de seus filhos;
O membro da Diretoria perderá o mandato se faltar a 3 (três)
reuniões consecutivas, sem causa justificada (art. 33, § 1°). b)- aos professores, maior visão das condições ambientais dos
alunos e de sua vida no lar.
O CNPJ (ex-CGC) para a APM poderá ser obtido da seguinte
forma: leva-se ao órgão da Receita Federal a ata de eleição da 3 - RECURSOS
diretoria, com firma reconhecida e registrada em Cartório de Registro
Os meios e recursos para atender os objetivos da APM, serão
de Títulos e Documentos, anexando cópia do Estatuto Padrão da APM.
obtidos através de:
A APM pode cobrar mensalidade dos alunos?
I - contribuição dos associados (Contribuições facultativa de
Compulsoriamente, não. Pode solicitar, no entanto, a matriculas e sua renovação) - O caráter facultativo das contribuições
contribuição espontânea, desde que não a vincule à matrícula ou não isenta os associados do dever moral de, dentro de suas
frequência dos alunos. possibilidades, cooperar para a constituição do fundo financeiro da
Associação.
O cargo de Diretor Financeiro será sempre ocupado por pai de
aluno. II – convênios (com outras associações, por exemplo)
Resumo do Estatuto Padrão das Associações de Pais e Mestres III - subvenções diversas;
(APM)
IV – doações ( de instituições públicas e de pessoas físicas ou
1 - MISSÃO DA APM jurídicas);
42
A APM, instituição auxiliar da escola, terá por finalidade colaborar V - promoções diversas ( festas etc);
no aprimoramento do processo educacional, na assistência ao escolar
4 - DOS ASSOCIADOS
e na integração família-escola-comunidade. Como entidade com
objetivos sociais e educativos, não terá caráter político, racial ou O quadro social da APM, constituído por número ilimitado de
religioso e nem finalidades lucrativas. associados, será composto de:
96
Concurso Professor - 1268 Questões
Todos os oitos produtos abaixo por apenas R$ 50,00
Você economizará R$ 14,00.
Clique nesse link para mais informações: http://bit.ly/1SZzsru
96
Valor R$ 15,00 Valor R$ 6,00 Valor R$ 6,00
Clique no link: Clique no link: Clique no link:
http://bit.ly/232jQZ2 http://bit.ly/1rBoTUW http://bit.ly/24DKH3J
97
Três materiais no valor R$ 30,00
Clique no link:
http://bit.ly/26q9KFV
R$ 10,00
Clique no link:
http://bit.ly/1U6V7T9
98
Valor R$ 8,00 Valor R$ 10,00
Clique no link: Clique no link:
http://bit.ly/1VeSdwA http://bit.ly/1qCCB9h
Valor R$ 35,00
Clique no link:
http://bit.ly/1Sbytrq
99