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Outubro a Dezembro de 1940

O Fatídico Outono de 1940


Tópicos do capítulo:

86 noites de bombardeios sobre Londres em três meses


Os submarinos alemães atacam
Na África, revés italiano em Sidi-Barrani
O Japão firma pé na Indochina
Dificuldades e encargos do governo de Vichy
Churchill espera a entrada dos EUA na guerra
As adesões à França Livre - O erro de Dacar
Promessas de Abetz e Laval
A missão do professor Rougier
24 de outubro: Hitler e Pétain em Montoire
28 de outubro: Mussolini ataca a Grécia
Reveses italianos na África
13 de dezembro: Laval preso e alijado do poder
18 de dezembro: assinatura do Plano Barbarossa

Lances teatrais

Chega o outono. O nevoeiro e as tempestades reforçam a defesa das Ilhas Britânicas. A Seelowe já não é
possível antes de 1941. Em compensação, aumenta a violência do castigo que Hitler derrama sobre os
ingleses.

As incursões diurnas tornam-se raras, mas as noturnas intensificam-se. De setembro de 1940 a janeiro de
1941, Londres é bombardeada 86 noites seguidas, com exceção da noite de 3 de novembro, durante a qual o
silêncio da sirena produziu nos londrinos uma sensação de surpresa, quase de angústia. A média dos
aparelhos que vem todas as noites eleva-se a 160 e o peso das bombas que lançam atinge 6.500 toneladas
mensais. Todos os bairros são atingidos. Todas as estações alcançadas. Os 900 incêndios, dos quais nove
imensos, devastam a cidade. Em torno das docas incendiadas, estendem-se quilômetros de casas demolidas e
a cúpula da Catedral de São Paulo sobressai de um mar de ruínas. Todas as noites, enquanto os filósofos
dormem em seus leitos, sob a proteção do cálculo das probabilidades, multidões instalam-se nos metrôs, com
sua cobertas, colchões e bens mais preciosos. Toda manhã, alguns desses trogloditas encontram apenas
escombros em lugar de seus lares.

O estoicismo inglês respondeu à obstinação alemã. Londres pode agüentar a situação e os negócios
continuam normalmente, são os slogans da Blitzkrieg. A repetição dos ataques, as fotografias das
tempestades de chamas, a celebridade dos locais atingidos, desde o Palácio de Buckingham ao Museu de
Madame Tussaud, produzem profunda impressão ao mundo inteiro, muito embora quem quer que tivesse
uma visão global dos fatos soubesse que os esforços da Luftwaffe já não levam a mais nada. Seriam
necessárias meios 20 vezes mais poderosos para destruir Londres e meios ainda mais importantes para curvar
a determinação britânica. Adolf Hitler ainda está longe de possuir uma aviação capaz de concretizar as
profecias de Douhet sobre o caráter irresistível dos bombardeiros de terror.

Sem deixar de manter a dose de demolição sobre Londres, os bombardeiros consagram-se periodicamente a
objetivos mais específicos. As fábricas de aviões de Woolston, Weybridge, Farnborough, etc, sofrem
inicialmente ataques sistemáticos, mas os resultados não são julgados satisfatórios e o furor da guerra aérea
volta-se para as grandes cidades industriais, para os arsenais dos Midlands. Na noite de 14 e 15 de novembro,
somente 21 bombardeiros atacam Londres, enquanto 509 outros dirigem-se para Coventry. O novo sistema
alemão de orientação, o X-Gerät, é utilizado contra a cidade como um presságio de morte, e todas as
tentativas feitas para confundi-los não impedem que 449 aparelhos compareçam ao encontro. Uma hora
depois, Coventry é um braseiro visível num raio de 150 Kms. O Centro, precioso testemunho do passado
inglês, é pulverizado, inclusive a maciça catedral do século XIV, da qual restam apenas pedaços de muro. As
línguas inglesas e alemã enriqueceram-se com uma nova palavra, conventrizar, para significar o
aniquilamento de uma cidade com um só bombardeio. Na realidade, porém, o número de mortos não
ultrapassa 350 e, ainda que 21 fábricas tenha, sido destruídas, a capacidade de produção de Coventry, centro
industrial automobilístico inglês, não foi gravemente afetada. Superestimando os danos, em razão de seu
caráter espetacular, a Luftwaffe abstêm-se de reincidir no ataque a Coventry, transferindo seu esforço contra
Birminham, Leeds, Sheffield, etc, e lança-se, em seguida, contra os portos: Southampton, Bristol e,
sobretudo, Liverpool. Essa atividade dispersa não impede que o rearmamento britânico obtenha progressos
quotidianos e que a RAF receba mais aviões do que perde.

No mar, a guerra se agrava. Em seu QG parisiense, no Boulevard Suchet, o Contra-Almirante Doenitz


prepara nova tática para o emprego dos submarinos. Estes já não atacarão isoladamente, mas em grupos. O
primeiro que encontrar um comboio limitar-se-á a observá-lo, chamando para junto de si todos os
companheiros que passarem pelas mesmas paragens, e somente quando a alcatéia de lobos estiver reunida é
que passará ao ataque, à noite e na superfície. Antes do amanhecer, os lobos desaparecerão sob as águas,
afastar-se-ão, mas continuarão a seguir o comboio, para recomeçar na noite seguinte. A travessia torna-se,
assim, uma batalha contínua, extenuante e mortal.

Uma vez mais os ingleses são surpreendidos. A primeira aplicação da tática do lobo dá-se em 20 de
setembro, quando Prien reúne 5 submarinos contra 47 navios do comboio HX 72 e, em três noites, afunda
12. Felizmente, para os ingleses, Doenitz tem bem poucos submarinos para dar efeito completo à sua
inovação. Ele começara as investidas com 57 submarinos. De setembro de 1939 a setembro de 1940, recebeu
28, mas perdeu também 28. O efetivo permaneceu, pois, em 57. Seriam necessários 300 para pôr o tráfico
marítimo da Inglaterra em perigo mortal.

Este segundo inverno de guerra é para a Inglaterra um período nefasto. A angústia da solidão pesa sobre a
nação. Nenhuma nova aliança foi delineada depois da derrocada da França. Os Estados Unidos são
amigáveis, mas sempre distantes, e as relações com a URSS e a Alemanha permanecem excelentes. Londres
cobre-se de luto com a fuligem dos incêndios. Os danos causados nos esgotos e o amontoado noturno nos
abrigos difundem o temor das epidemias. Estas não vêm, mas a multidão londrina ganha um ar extenuado, de
tanto dormir em alerta e desconforto. No estrangeiro, as vítimas da propaganda nazista não são as únicas
pessoas a pensar que a Inglaterra está virtualmente perdida. Mas eles vêem os ferimentos superficiais, não
notam que o país está substancialmente intacto. O Lloyd continua a segurar os navios que atravessam o
Atlântico e paga toda vez que os sinos da Lutine repicam por uma nova vítima dos submarinos de Doenitz. O
reabastecimento das ilhas e o fornecimento de matérias-primas à indústria continuam a efetuar-se em
condições toleráveis. E a atividade inglesa não é toda dedicada às fabricações bélicas.

Parte dela continua a alimentar as exportações necessárias para que o tesouro de guerra não se escoe muito
depressa. Contudo, este diminui, e isso constitui a preocupação mais angustiante a pesar sobre o futuro. Mas
Pitt conheceu o mesmo problema em sua luta contra Napoleão. As imensas modificações advindas nas
formas da guerra, o fim parcial da insularidade, devido à aviação, não impedem que exista um paralelo entre
as duas situações. Um conquistador apoderou-se do continente, mas um estado de equilíbrio criou-se na
Mancha, enquanto em outras regiões do mundo evoluções fatídicas preparam o futuro.

No Leste da Europa, a consolidação russa progrediu rapidamente. Os três Estados Bálticos, que se agarravam
ao sonho de uma autonomia interna, tornaram-se repúblicas soviéticas. Na Romênia, tropas vermelhas
recuperaram a Bessarábia em decorrência do acordo Molotov-Ribbentrop e tomam de quebra a Bucóvina.
Hitler considera com irritação tais avanços e inquieta-se pelo petróleo da Romênia. “Sem este - diz ele - a
Alemanha não poderá prosseguir a guerra; devemos afastá-lo, portanto, da cobiça russa”. É preciso também
concluir o desmembramento da Romênia: os dois vencidos de 1918, a Hungria e a Bulgária, o exigiam.
Ciano e Ribbentrop reúnem-se em Belvedere, em Viena, a fim de arbitrar o litígio. Em 30 de agosto, quando
é revelado o mapa das novas fronteiras, o Ministro das Relações Exteriores da Romênia desmaia. A
Alemanha e a Itália tinham cedido à Hungria o Norte da Transilvânia, e à Bulgária o Sul da Dobrujda,
elevando assim a um terço a fração de população e territórios perdidos pela Romênia, em menos de um ano.
Violentos protestos populares explodem. O Rei Carol, soberano desprezado, abdica e foge com sua funesta
favorita, Magda Lupescu. Seu filho, o Rei Miguel, é um adolescente. Hitler instala no poder um Fuhrer, por
sinal enérgico e capaz, o Marechal Antonescu. Oferece-lhe contra a expansão russa a melhor das garantias: a
ocupação alemã. Antonescu apressa-se a aceitá-la.
No palco mediterrâneo, a guerra se arrasta. Malta teria sido dos italianos se estes tivessem estendido a mão
para tomá-la. Mas deixaram escapar a oportunidade. Partindo de Gibraltar, o porta-aviões Ark Royal envia à
ilha estratégica duas esquadrilhas de Hurricanes, das quais uma, vítima de ventos adversos, precipita-se,
toda, no mar. A bordo do Warspite, o Almirante Andrew Cunningham, veterano de Narvik e ex-combatente
na Jutlândia, prossegue em seus cruzeiros mediterrâneos, obrigando a esquadra italiana a refugiar-se em
Tarento. Na Líbia, Balbo desaparece, abatido por sua própria DCA. Se sucessor, o Marechal Graziani, recebe
de Mussolini a ordem de penetrar no Egito no mesmo dia em que a Alemanha puser o pé na Inglaterra. Como
tarde este acontecimento, o Duce decide antecipar-se à Wehrmacht, mas Graziani implora prazos. Ameaçado
de ser substituído por um general que “ainda não ganhou seu bastão de marechal”, desencadeia sua ofensiva
em 13 de setembro. Os ingleses recuam. Os italianos avançam sob um mormaço infernal, em meio do
turbilhão de poeira que desseca os homens como se fossem múmias. Graziani renuncia à manobra de ala que
concebera para o deserto e contenta-se em seguir à esquerda, ao longo do mar, até a aldeia de Sidi-Barrani.
Aí pára, ao descobrir que não pode prosseguir a marcha sem antes organizar o reabastecimento de água. A
conquista do Suez fracassa a 50 Km de seu ponto de partida.

Pacífico: Expande-se lentamente o poderio japonês

Esta Segunda Guerra Mundial, cujo início fixamos a 1° de setembro de 1939, começou de fato, dois anos
antes. O conflito entre a China e o Japão que se iniciou em 7 de julho de 1937, com o incidente da Ponte
Marco Polo, constituiu parte integrante dela. No momento em que a Europa se torna brasa, a China já é
chama há vários meses. Os japoneses ocupam todas as províncias orientais e já instalaram em Nanquim um
governo satélite, presidido por Wang Ching-wei, ex-condiscípulo de Chiang Kai-chek. Embora lhes repugne
toda medida de força, os americanos vêem com animosidade crescer a expansão japonesa e fazem o possível
para sustentar a resistência chinesa.

Tal resistência tem como capital Chunquim e, como alicerce, Setchuan e Iunan. A asfixia ameaça essas
províncias afastadas do mar. Somente por dois caminhos difíceis e lentos lhes é possível chegar meios para
alimentar a guerra: a vertiginosa estrada de Mandalay, traçada sobre as gigantescas dobras da alta Birmânia,
e a estrada de ferro que parte de Haifong e que penetra, em uma fileira de obras de arte, até Iunan-fu.

A queda da França pôs em evidência o problema dessas duas passagens. A Indochina é uma presa que não
pode ser defendida pela metrópole longínqua e vencida. Instalar-se aí significa para os japoneses fechar a
ferrovia e ameaçar a outra estrada. Uma missão militar, comandada pelo General Issaku Nishihara, chega a
Hanói, onde encontra uma situação confusa: dois governadores em disputa: o General Georges Catroux,
prestes a aliar-se a De Gaulle, e o Almirante Jean Decoux, nomeado por Pétain para substituir o primeiro.
Catroux renuncia em 20 de julho e a pressão que se inicia contra ele é transferida para Decoux. Nishihara
exige o direito de utilizar Haifong e a estrada de ferro para as operações militares contra a China. Em caso de
recusa, o desembarque e a invasão serão a resposta.

As complicações indochinesas tombam sobre um governo francês sobrecarregado de mil problemas


contundentes. Vindo de Bordéus, o Governo chegara a Vichy em 1° de julho, convencido que não se
demoraria na cidade balneária mais de algumas semanas, antes de retomar a direção de Paris. Afastado
durante alguns dias, Pierre Laval aparece no Gabinete com o título de Vice-Presidente do Conselho e com
idéias determinadas sobre o caminho que a França deve seguir para integrar-se no sistema totalitário
vitorioso. Ultrapassando as esperanças, mas indo ao encontro dos desejos secretos do Marechal, ele levou as
duas Câmaras reunidas a confiar-lhe os poderes do Governo da República e o mandato de promulgar nova
Constituição para o Estado francês. Está convencido de ter em mãos o instrumento de sua política e de que,
através do uniforme azul do velho soldado de Verdun, será ele quem conduzirá a França a seu novo destino.

O Governo de Vichy tem diante de si, sobretudo, tarefas imediatas e terríveis: encaminhar os refugiados a
suas casas; reanimar a vida econômica do país; dar de comer aos franceses; reorganizar a Administração e
fixar a linha de demarcação entre a zona ocupada e a não ocupada, obter a libertação dos prisioneiros,
estabelecer um modus vivendi com o vencedor... A essas tarefas, das quais muitas seriam efetuadas com
talento e coragem, acrescia-se a de conservar o império. Não será porque a Indochina se encontra a 15.000
km e porque os meios para socorrê-la faltam completamente que ela deverá ser abandonada.
Duas teses se opõem: o General Buher, chefe de estado-maior das tropas coloniais, procura incutir em
Weygand e Pétain a idéia de uma resistência armada, salientando que há na Indochina 110.000 homens e
munição para três meses. Baudouin objeta-lhe que a aviação indochinesa possui apenas 14 caças e 28
bombardeiros obsoletos e que seria quimérica uma resistência à força naval nipônica. As negociações
prosseguem, mas, em Hanói, Decoux debate-se sob ameaças impiedosas. A 3 de setembro, finalmente, ao
refutar o ultimato de Nishihara, decreta mobilização, fecha a porta de Haifong e telegrafa a Vichy dizendo:
“Mais vale perder a Indochina defendendo-a do que traindo-a”.

Os japoneses hesitam. Nishihara suaviza seu ultimato. Retomam-se as negociações. Um acordo político e
depois um acordo militar reconhecem a soberania da França sobre a Indochina e limitam a 25.000 homens o
efetivo das tropas japonesas que podem ser admitidas no Tonquim. Mas o exército de Kuantung ignora as
decisões de Tóquio e, em 22 de setembro, ataca Dong-Dang e Langson. Os atiradores anamitas dispersam-se.
Dois batalhões da Legião foram derrotados. Perto de 800 homens, entre os quais os coronéis Luvert e Louat
morreram. Uma ordem do Imperador detém os combates e permite a volta dos acordos. A Indochina retorna
ao regime bastardo, administração francesa - ocupação nipônica, que prevaleceria até 1945.

A situação da Inglaterra é especialmente delicada. Ela fora por muito tempo aliada do Japão e, tendo rompido
a aliança, sob pressão americana, tenta pelo menos manter relações amistosas com a grande potência
marítima do Extremo Oriente. Tudo lhe aconselha a paz no Pacífico, especialmente a dificuldade de chamar
em seu socorro os excelentes contingentes da Austrália e da Nova Zelândia, enquanto uma ameaça amarela
pese contra os dois países. Em junho, passando por cima do descontentamento americano, Churchill decide
fechar a estrada de Mandalay. Em setembro, torna a abri-la. Isto é aparentemente um gesto secundário,
efetuado no momento mais dramático da batalha de Londres, quando as docas estão em chamas, a cidade
arde e, diante do vitral quebrado de Westminster, Eduardo I já não ergue aos céus senão uma espada torcida.
Mas esta decisão secundária assinala uma evolução capital. Churchill optou por uma concordância
sistemática entre a política da Inglaterra e a dos Estados Unidos. Jogou seu destino na intervenção
americana: tudo deverá subordinar-se a este fim. Tal esperança pode parecer uma quimera. Os Estados
Unidos estão muito longe de intervir na guerra.

Abrindo mão de 8 bases nas Antilhas e na Terra Nova, Churchill obtém, finalmente, a doação de 50 velhos
contratorpedeiros que pedira. Mas as entregas das armas à Inglaterra sempre se faziam na base do cash and
carry, isto é, os ingleses deviam pagar à vista e responsabilizar-se pelo transporte, de vez que os Estados
Unidos se recusavam a expor seus navios na zona do bloqueio. Além disso, o que podiam fornecer era bem
pouco em relação às necessidades dos ingleses. Quando seu próprio exército se empenha em grandes
manobras, os tratores agrícolas representam os tanques, e os morteiros são de madeira.

A campanha eleitoral está aberta. Franklin Roosevelt, contrariando a tradição de Washington, pleiteia um
terceiro mandato. Os republicanos, em oposição, apresentam um estreante na política, Wendel Willkie,
personagem secundário sobre o qual concentram o fogo de uma publicidade artificial. Os dois concorrentes
concordavam num ponto: juraram manter a América fora da guerra. Mas Wilson fizera a mesma promessa
em 1916, o que desperta, com razão, a desconfiança dos isolacionistas. O próprio embaixador de Roosevelt
em Londres, Joseph Kennedy, aconselha aos Estados Unidos um acordo com Hitler, em vez de apoiar a
Inglaterra numa guerra absurda. Disso Roosevelt deveria recordar-se, apesar de seu poder eleitoral e sua
grande fortuna. Kennedy parte levando consigo uma sirena da defesa passiva, a qual, diz, será útil no cabo
Cod, pois com ela poderá chamar para o almoço os meninos Kennedy. As sirenas de Londres que anunciam o
perigo, o sofrimento, a morte, a defesa sublime dos valores da civilização cristã pela gente humilde de lares
assolados, são menosprezadas por esse político plurocrático, anglófobo, que mal esconde sua admiração por
Hitler!

O isolacionismo americano seria ainda mais poderoso se as grandes vitórias alemães não tivessem virado
cabeças em Tóquio. Embora presidido por um velho sábio, o Príncipe Kenoye, o novo governo é dominado
pelo partido militar, que resolve aproveitar a oportunidade que se apresenta com a guerra da Europa para
concretizar os propósitos nacionais do Japão. O executor diplomático Matsuoka, Ministro das Relações
Exteriores, negocia com a Alemanha e a Itália um pacto tripartido que seu embaixador em Berlim, Kurusu,
assina, em 27 de setembro, com Ribbentrop e Ciano. Refere-se este pacto, a uma divisão do mundo. O Japão
reconhece o papel diretor que cabe à Alemanha e à Itália na reorganização da Europa. A Alemanha e a Itália
reconhecem, por sua vez, caber ao Japão a mesma tarefa na Grande Ásia Oriental. A Inglaterra é vencida por
preterição. Ao eliminá-la, o pacto tripartido ameaça os Estados Unidos: se um dos signatários vier a ser
objeto de hostilidades da parte de alguma potência que no momento não está em guerra, os dois outros se
unirão imediatamente contra esta. Logo em seguida, Churchill escreve a Roosevelt, sugerindo-lhe que
responda a esse desafio com o envio de uma esquadra americana a Cingapura. Mas a reação americana é
miseravelmente débil. A campanha presidencial fervia. O circo eleitoral de Willkie perambula de Estado a
Estado, enquanto Roosevelt declara estar muito ocupado com a defesa da neutralidade para permitir-se as
mesmas digressões de propaganda. Churchill fundamente toda a política britânica no ingresso dos Estados
Unidos na guerra: essa esperança ainda se delineia como uma minúscula estrela no fundo do céu.

Revés anglo-degaullista em Dacar

Em Londres, Charles De Gaulle instala-se inicialmente num imóvel comercial, Stephen’s House, no
Embankment. A capital da França Livre compõe-se de três peças mobiliadas, de algumas mesas e de caixotes
revirados. Os primeiros esforços de recrutamento do jovem general rebelde foram contrariados pelos
próprios ingleses, que, tanto em Haydock como em Aintree, lhe recusam acesso aos campos dos franceses,
sob pena de repatriamento, ou acompanham-lhe os passos, para informar a seus voluntários que as cláusulas
do armistício os consideram como franco-atiradores, sujeitos a serem justiçados nos postes de execução
alemães. Em 14 de julho, amargurada e triste festa nacional, De Gaulle passa em revista poeiras de homens...
enquanto na França hinos de veneração e de amor se elevavam ao velho Marechal.

A 8 de outubro, um acordo entre Churchill e De Gaulle regulamenta o estatuto e as condições de emprego


dos voluntário da França Livre. Um dos parágrafos estipula o seguinte: “Esta força não poderá jamais
levantar armas contra a França”. Todavia, uma carta secreta de Churchill, ratificada por uma resposta secreta
de De Gaulle, especifica que por isso se devia entender “uma França livre para escolher seu caminho, sem
submeter-se à coerção direta ou indireta da Alemanha”. A cláusula pública do armistício era, desse modo,
revogada por uma carta-resposta clandestina. Um elemento de confusão é introduzido no movimento
desalista desde o início.

Como o apelo aos voluntários, o apelo ao Império trouxe resultados decepcionantes. Somente grandes
procônsules, como Catroux, o atendem - mas sem seu proconsulado. Na África do Norte e na Síria, os
generais Nogués e Mittelhauser avançam até o seio da dissidência, depois recuam, principalmente porque
não encontram quem os siga. A primeira adesão vem de uma semipossessão insignificante, o condomínio
franco-britânico das Novas Hébridas, assim mesmo porque seus estatutos não lhes deixavam outra escolha.
Os Estabelecimentos da Índia, igualmente situados sob a direção dos ingleses, aliam-se pouco depois.
Algumas almas entusiastas, o governador das Colônias, Eboué, o General De Larmiant, o Comandante
Ornano, o capitão De Hauteclocque, cognominado Leclerc, estabelecem o poder de De Gaulle do Chade ao
Gabão, sobre os imensos território da África Equatorial Francesa. No início de agosto, dois milhões de Km²
desligaram-se da França de Vichy e reconhecem o Comitê da França Livre e o General De Gaulle como a
expressão da mãe-pátria.

Mas as dimensões do espaço sobre o mapa não devem criar ilusões. A imensidão equatorial é vazia de
recursos e quase vazia de homens. Três milhões de indígenas e menos de 6.000 brancos. O Império de De
Gaulle só chegaria a ganhar importância se se estendesse às colônias da África Ocidental, mais ricas e
melhores situadas. De Gaulle sonha com isso. Acredita poder apoderar-se da Guiné, como Leclerc se
apoderara dos Camarões, com um ataque de surpresa. De Conacri, uma estrada de rodagem e uma ferrovia se
dirigem para a cidade de Dacar. Esta é uma posição estratégica de importância mundial e, ao mesmo tempo,
o centro administrativo e econômico mais importante da África Ocidental Francesa. Dono de Dacar, De
Gaulle entrará na guerra como potência. Poderá recrutar um exército e provar que a importância de seu
movimento substitui a lealdade em relação a Vichy e que, portanto, o reconhecimento da soberania que
reivindica se funda em algo mais que a hipertrofia de seu eu...

De repente, Churchill intervém. Em 6 de agosto, no Gabinet Room de Downing Street, demonstra ao chefe
dos franceses livres que o plano deste, de avanço lento sobre Dacar, não é proporcional à importância da
empresa. Como tem, também ele, necessidade de Dacar, para aliviar sua luta dura no Atlântico, prontifica-se,
pela Inglaterra, a concorrer para a expedição com uma esquadra considerável. Impõe uma única condição: tal
força só deve ser mobilizada durante espaço de tempo determinado. Portanto, é sobre Dacar que o esforço
deverá ser diretamente aplicado. Churchill entusiasma-se. Enrola furiosamente o inglês e o francês. Com
mão eloqüente traça no mapa marítimo estendido diante dele um histórico antecipado da operação que as
Memórias do General De Gaulle descrevem da seguinte forma: “Dacar desperta em uma manhã triste e
incerta, e eis que, ao sol nascente, seus habitantes deparam o mar cheio de navios. Uma enorme armada. Cem
navios de combate e de carga... Dessa esquadra aliada, destaca-se um inofensivo barco desfraldando a
bandeira branca dos parlamentares. Dele desembarcam os enviados do General De Gaulle... o objetivo é
fazer o governador compreender que, se ele os deixa desembarcar, a esquadra aliada se retirará e, a partir daí,
só será preciso regulamentar as condições de cooperação... Ele talvez quererá, por questão de brio, dar alguns
tiros de canhão, mas não irá além disso, e à noite beberá com os que desembarcaram, comemorando a
vitória... Se, porém, resistir, nós o arrasaremos...”

De Gaulle hesita. A tarefa que concebera, puramente francesa, mudaria de caráter pela enorme
preponderância britânica nos meios de intimidação e no mecanismo de combate. A importância da jogada
exalta suas hesitações. Jamais cometera tão grande erro.

Desde o início, a expedição foi marcada pela má sorte. Erros de desorganização a retardaram. Foram
cometidas indiscrições. Sua natureza exata jamais foi estabelecida. No Ecu de France, em Germyn Street,
quando não no Coq Hardi, em Stratton Street, jovens oficiais degaullistas teriam feito um brinde: “A
Dacar!”... De Gaulle teria encomendado muito ostensivamente ternos tropicais no Simpson’s ou talvez falado
demais pelo telefone com seu representante em Nova Iorque, Jacques de Sieyès... À imprudência, uniu-se
talvez, a traição. Fundada ou não, a suspeição acompanha até o fim a França Livre, despertando rigorosas
reservas e humilhantes desconfianças.

Nada do que Churchill havia previsto em seu quadro histórico se realiza. A armada aliada não dispõe de 100
navios, mas apenas de 20, dos quais dois velhos couraçados, o Barham e o Resolution, e um porta-aviões, o
Ark Royal. Mesmo se fosse mais numerosa, os dacarenses jamais poderiam ter visto “ao sol, nascente, ao
longe, o mar cheio de navios”, pois densa bruma recobre tudo. Os parlamentares não são levados ao
governador; encontram, no cais, oficiais firmes em seu dever, que os intimam a reembarcar, o que eles fazem
sob uma rajada de metralhadora que fere o neto do Marechal Foch. Em seguida, os canhões do Richelieu
fazendo pagar a agressão de 10 de julho, abrem fogo e, apesar da péssima visibilidade, põem fora de combate
o cruzador Cumberland. “Por que vocês atiram contra mim?”- pergunta, aos de terra, o Almirante John
Cunningham. De terra, veio a resposta: “Afaste-se 20 milhas”. De Gaulle tenta ainda desembarcar seu
batalhão de Legião no porto de Rufisque, mas vigorosa resistência o repele.

No dia seguinte, 24 de agosto, e a 25, dois ultimatos são rechaçados pelo Governador-Geral Pierre Boisson.
A esquadra inglesa bombardeia a cidade. Esta defende-se. Os submarinos disponíveis deslizam para fora do
porto. Um desses afunda, mas outro, tendo saído com os porões vazios e pintado de mínio, o que lhes dava a
aparência dentro da água, de um peixe vermelho, torpedeia o Resolution. Meio afundado, entulhado com 600
mortos e feridos, o couraçado consegue ser rebocado até Freetown, mas o Almirante Cunningham decide
acabar com os gastos. A bruma dissipou-se e a armada afasta-se sob um magnífico poente.

Adolf Hitler entre o leste e o oeste

A aventura de Dacar poderia ter modificado o desenvolvimento da guerra. Hitler, tendo virtualmente
abandonado o Plano Seelowe, reorganizava sua estratégia. Embora decidido a declarar guerra à Rússia,
tencionava empreender como etapa intermediária a conquista do Mediterrâneo. O sucesso da expedição
anglo-degaulista teria sem dúvida feito pender a balança e determinado uma repercussão na África do Norte.

Depois de Jodl e seu memorando Invasion oder Nicht?, todas as influências que se exercem sobre Hitler o
levam a uma estratégia mediterrânea. A primeira é a do Grande-Almirante Raeder, que, devido a seu
uniforme, possui o raro privilégio de impressionar o Fuhrer, a quem um dólmã de general do exército
desperta um movimento reflexo de animosidade. Ele ousa interrogar Hitler sobre suas intenções e, no
decorrer de dois colóquios, consegue encetar discussão geral sobre a orientação que convém dar à guerra
depois do adiamento do Seelowe. Hitler repete que a chave de todas as dificuldades está na Rússia. Contudo,
admite que o Mediterrâneo oferece um teatro onde a força alemã pode atuar com proveito durante a trégua de
inverno.

Do lado do Suez, o papel da Alemanha pode apenas ser acessório. Mussolini considera o leste do
Mediterrâneo sua reserva de caça. Portanto, é no oeste do mar interior que se deve encontrar o ponto de
aplicação da força nacional-socialista. É lá que está o objetivo mais sedutor, a última garra com que a
Inglaterra se prende ao continente, Gibraltar.

Gibraltar faz vibrar em Hitler uma fibra de especialista. Depois da tomada de Eben-Emael, o Fuhrer se
considera o maior perito na derrubada de fortificações, e a idéia de empregar seu gênio contra a fortaleza
mais célebre do mundo o seduz. A ocupação ulterior dos Açores e das Canárias apresenta-se-lhe como o
estabelecimento de postos avançados europeus em face de uma ameaça americana longínqua, mas previsível.
Enfim, a porta do Mediterrâneo e o acesso ao Marrocos dar-lhe-ão um meio de pressão contra a França. É
bem verdade que esses não são os objetivos pelos quais a Providência pôs Hitler à frente do destino do povo
alemão! Mas trata-se de projetos importantes e honrosos, dignos de ocupar um inverno.

A preparação diplomática começa em setembro. Em 3 de outubro, Hitler promove um encontro com


Mussolini, no passo de Brenner. Como em março, os dois trens especiais param na estação fronteira, mas
desta vez são os rubores de outono e não as neves do inverno que cobrem as encostas da montanha. Hitler diz
a seu associado que está decidido a apoderar-se de Gibraltar, que se torna necessário, em conseqüência,
arrastar Franco à guerra e que já provocou, nesse sentido, uma viagem de Serrano Suner, cunhado do ditador
espanhol, a Berlim. Como as reticências do representante espanhol o haviam exasperado, julga necessária
uma conversa direta com Franco. Para isto, decidira ir até o limiar da Espanha, Hendaye, a fim de melhor
mostrar a importância que atribuía à entrevista. Desejava que o Duce fosse informado e contava com seu
apoio.

Mussolini aquiesce. Em compensação, mostra-se inquieto, quando Hitler lhe anuncia que deseja alistar a
França na coalizão continental e mal consegue esconder a cólera quando sabe das medidas militares que a
Alemanha tomou na Romênia, sem consultá-lo. A Romênia é, a seu olhos, uma cliente da Itália, e não é
admissível que os alemães se arroguem o direito de fazer dela um protetorado seu. “Ele me coloca - disse a
Ciano - diante dos fatos consumados. Vou pagar-lhe com a mesma moeda. Saberá de minha entrada na
Grécia pelos jornais...”

Em relação à França, a preparação assume uma forma cautelosa. O agente disso à Pierre Laval. O Marechal o
detesta e despreza, desaprova-lhe as origens políticas, a fortuna de fonte duvidosa, a grosseria, o desalinho, a
sujeira, os dentes escuros, a fumaça que lhe sopra no rosto, o cheiro de taverna e imoralidade que emana de
sua pessoa. Mas, em 10 de julho, Laval leva a Assembléia Nacional a votar triunfalmente (569 votos a favor,
contra 80) a resolução que faz de Philippe Pétain mais que um rei da França, e a política do velho é
muitíssima cautelosa para deixar levar seu navio para um só lado. O gabinete é um ninho antialemão no qual
o Ministro da Defesa Nacional, Maxime Weygand, deposita sua esperança de vingança. A antítese é Laval.
Decidiu que a vitória alemã é inapelável e que não há futuro para a França senão na colaboração total com o
vencedor.

Contudo, não é fácil encetar contato com o vencedor. As condições que ditou em Rothendes são terríveis e,
no entanto, arrepender-se de tê-las feito tão leves e trata de torná-las mais duras. Anexou os departamentos
do Norte e do Passo de Calais à administração francesa de Bruxelas, transportou para a Alemanha os
prisioneiros que ainda estavam na França, prescreveu para a população civil rações sistematicamente
inferiores àquelas da Alemanha de 1918, impôs a quantia de 400 milhões de francos por dia como custas de
ocupação, o que constitui na realidade uma indenização de guerra esmagadora, arbitrária e ilimitada. Em
troca do erro que cometera, desdenhando a África do Norte, exige sete bases aéreas no Marrocos e o uso da
Estrada de Ferro Casablanca-Túnis. Tendo respondido que tal exigência entra em contradição com a
convenção de armistício, Vichy esperava o pior. Não se sabe por que a Alemanha não mais insiste.

Mas Laval segue seu caminho. Quando realiza, em julho, uma primeira viagem a Paris, ainda não sabe que
partido tomar, mas conta com seu faro e sua sorte. O Marechal Von Brauchitsch, comandante-chefe do
Exército, e mesmo o General Streccius, Militarbefehlshaber na França, são ainda autoridades muito altas
para ele. Agarra-se a uma personagem de segundo plano, Otto Abetz, que, no sistema hitlerista de
propaganda e de corrupção, fora encarregado de subornar os intelectuais franceses, antes da guerra. Abetz
deixa o vice-presidente do Conselho Francês esperar várias horas. Mas o próprio Laval diria: “Eu o teria
esperado toda a noite, dentro de um nevoeiro”. Quando foi finalmente atendido, ouviu religiosamente o
estribilho de Abetz: “Nasci em Karlsruhe; era ainda uma criança quando vocês bombardearam minha cidade
natal, no dia de Corpo de Deus, em 1926; jurei consagrar minha vida à reconciliação franco-alemã, etc”. A
mudança que se efetuou em seguida leva os dois homens a concluir que uma luta contra a Inglaterra fornece
a melhor base de uma cooperação franco-alemã. Abetz não tem nem qualidade oficial nem mandato, mas
declara que partirá imediatamente para Berlim, onde espera fazer amadurecer as idéias que haviam ventilado
juntos. Laval volta a Paris cheio de importância e cercado de mistério. Determina imediatamente mandar
eliminar Waygand, Bouthillier, Ybarnegaray, Baudouin, Noel, François-Poncet. “Espero - diz ele ao
Marechal - a volta do Sr. Abetz. Confio em que fará à França a promessa de grandes concessões, mas é inútil
esperar que sejam concretizadas, se Vichy continua povoada de homens que desejam abertamente a derrota
alemã”.

A espera é longa, mas termina triunfalmente. O atarefado Abetz chega de Berlim, a 5 de agosto, com o
uniforme de embaixador alemão em Paris. Por maravilhoso lance de sorte, sua missão pessoal coincidira com
as veleidades hitleristas de obter a colaboração da França na luta contra a Albion. Abetz convencera seus
chefes de que o homem para essa política, devido a sua mulher francesa, aos laços que tinha na França e
sobretudo à comunhão de pensamento que havia encetado com o mais importante homem de Estado de
Vichy. Assim, Laval utiliza Abetz, mas Abetz utiliza Laval. Em Vichy, fazem-se restrições a essa personagem
desconhecida, que, voltando de Berlim, mantém as deliberações do Governo em suspense. Entretanto, sua
embaixada está ali para testemunhar que o Vice-Presidente do Conselho não se deixa enganar por um
ilusionista ou um aventureiro.

A partir de então a presunção de Laval não conhece restrições. Multiplica suas viagens a Paris. Em 28 de
agosto, é recebido por Brauchitsch. Oferece-lhe a entrada da França na guerra contra a Inglaterra e ouve esse
oficial “sem antenas” responder que a Alemanha não necessita da ajuda francesa, a qual, de resto, seria
nula...” Carregando fleumaticamente essa recusa, Laval volta a Vichy para prosseguir a depuração do
Gabinete. Em 4 de setembro, a mistura de fraqueza e tenacidade, de senilidade e astúcia, que era o Marechal
Pétain, convidou Weygand à sua varanda, no Hotel du Parc, para anunciar-lhe que já não tinha necessidade
de seus serviços ministeriais. Todavia, por uma reviravolta, enviou-o a Argel, para o posto de Delegado-
Geral na África.

Outra contradição ocorreria alguns dias depois. Em 20 de setembro, no Pavillon Sévigné, onde era menos
observado que no Hotel du Parc, o Marechal recebeu um universitário escritor, Louis Rougier, professor na
Faculdade de Letras de Besançon, o qual, utilizando suas relações anglo-saxônicas, se investira
espontaneamente de uma missão conciliatória entre Vichy e Londres. A este negociador, a quem não
conhecia, Pétain fez - segundo narrou Rougier - declarações audaciosas: “Diga aos ingleses que envio
Weygand para a África do Norte, afastado dos olhares dos alemães, com a missão de formar um exército que
nos servirá um dia... O Sr. Laval é o homem a quem mais desprezo neste mundo; mas ainda tenho
necessidade dele; depois, afastar-me-ei. Pode dizer aos ingleses...” Em seguida deu a Rougier um precioso
autógrafo: “O Marechal Pétain, Chefe do Estado, recomenda o Sr. Professor Rougier à benévola atenção de
nossos representantes diplomáticos e consulares. Ph. Pétain, 20-9-1940”. Desse modo, a política de Vichy
caminhava a passos de rendeira, levando dois pesados cestos e mancando, ora da perna direita, ora da
esquerda, para não deixar o centro da vereda.

Hendaye e Montoire

Adolf Hitler não possuía coragem pessoal. Era com apreensão que se afastava de seu abrigo seguro e exigia
que seu trem especial só parasse perto de um túnel. Foi a proximidade de um subterrâneo assim, na pequena
linha entre Vendôme e Pont-de-Braye, que daria um lugar na história à localidade de Montoire-sur-Loit.

Em 22 de outubro, Laval foi levado a esse local por Abetz. Acreditava ir avistar-se com Ribbentrop e ficou
tão transtornado quando soube que ia à presença do Fuhrer, que, segundo seu próprio relato, não encontrou
senão um palavrão para exprimir a violência de sua emoção. A entrevista foi encantadora. Laval exclamou
que era incapaz de traduzir “sua enternecida surpresa” e que, “como francês”, desejava de todo coração a
derrota da Inglaterra. Hitler aspirou o incenso, afirmou estar certo da vitória, declarou que não procurava
uma paz de vingança e que não pediria da Inglaterra mais do que o pagamento das indenizações de guerra.
Em seguida, exprimiu desejo de receber o Marechal Pétain, dois dias depois. Laval respondeu-lhe que o
chefe do Estado francês nem sonhava com felicidade tão grande.

O trem especial do Fuhrer - verdadeiro fortim rolante, eriçado de artilharia antiaérea - voltou a movimentar-
se rumo a Hendaye, lugar da entrevista com Franco.

Como sempre, Hitler falou longamente. Solicitou de Franco a entrada da Espanha na guerra, em 10 de
janeiro de 1941, prometendo-lhe que em alguns dias, com a aplicação dos métodos de que ele, Hitler, era
autor, suas tropas especializadas tomariam Gibraltar, para cedê-lo à nação espanhola. Imóvel, impassível,
mãos cruzadas, pés cruzados, fisionomia apática, franco ouviu a longa conversa de Hitler. Em seguida, falou.
Em verdade, a Espanha, unanimemente, desejava reconquistar Gibraltar. Mas o caráter ardente dessa
reivindicação nacional exigia precisamente que a fortaleza fosse retomada somente por espanhóis, e não
recebida, como presente, de uma potência estrangeira, embora amiga. Era, portanto, necessário que o
Exército espanhol fosse completamente reequipado, que as estradas de ferro, destruídas pela guerra civil,
fossem reconstruídas. Que uma população subnutrida retomasse forças com uma alimentação apropriada.
Contava com a Alemanha para ajudá-lo em todas essas providências, mas não podia esperar estar pronto no
prazo tão breve mencionado por Sua Excelência, o Fuhrer.

A exposição de Hitler fora copiosa. A de Franco ousa igualar-lhe em abundância. Mas Hitler não era homem
que soubesse controlar as emoções. Levantou-se bruscamente, dizendo que, se assim era, sua viagem fora
inútil e que só restava retornar. Franco esperou que ele se sentasse de novo e, com voz monótona, prosseguiu
sua explanação. Retomando a palavra, Hitler lançou-se às alusões ameaçadoras contra aqueles que não
compreendiam ser a situação da Inglaterra desesperada e, por se apresentar um pouco diferente, a vitória
alemã não seria menos total. Franco respondeu que a vitória alemã efetivamente se realizara, mas só no
continente. Era possível que a Inglaterra fosse invadida também, mas a Armada britânica partiria para o
Canadá e o Império continuaria a luta com o apoio americano. Ele, chefe do Estado espanhol, responsável
diante de seu povo e perante a História, devia encarar com cuidado uma guerra longa, medir os encargos e os
riscos de uma intervenção. Era preciso, em qualquer circunstâncias, que a Espanha recebesse vantagens
suficientes para animar o ardor bélico de um povo que só ansiava por tranqüilidade. Exigia a Mauritânia,
todo o Marrocos e a província de Orã... Em outros termos, a melhor parte da África do Norte francesa, no
momento em que a Alemanha sonhava atar a França a seu carro de combate!

A discussão durou mais de sete horas. Hitler interrompeu o debate propondo deixar para os ministros das
Relações Exteriores o cuidado de estabelecer um projeto de tratado. Ao sair do vagão de conferências, disse
ele a Keitel: “Preferia deixar que me arrancassem três dentes a recomeçar essa reunião...”

Depois de um morno jantar convencional, a discussão foi retomada, agora entre Serrano Suner e Ribbentrop.
Este ampliou o descontentamento do seu chefe e deixou-se exaltar com ameaças vulgares. Ao toque da meia-
noite, despediu Suner, convidando-o a apresentar-se no dia seguinte, antes das 8 horas, com um projeto de
tratado conveniente. Mas na hora combinada só viu voltar o subsecretário de Estado Epinoza de los
Monteros, portador de um texto insignificante. Não teve, em seguida, senão de tomar um avião para alcançar
Hitler, cujo trem avançava em direção a Montoire e a Pétain. “Durante todo o trajeto - contou o intérprete
Paul Schmidt - Ribbentrop não cessou de vociferar contra esse jesuíta, Suner, e esse covarde e ingrato
Franco, que nos deve tanto...”

A entrevista de Montoire fora precedida, em Vichy, por uma cena violenta. Laval exaltara-se quando Pétain
lhe exprimia sua intenção de levar consigo Baudouin. “Se um membro de seu governo, além de mim,
pretende assistir à entrevista, ela não se efetuará...” A ameaça era inútil, de vez que o encontro fora solicitado
pelo Fuhrer e a pretensão de Laval de ser representante de Hitler na França não era ainda fundamentada. Mas
Pétain frouxamente cedeu.

Como Hendaye, Montoire só nos é conhecida através de testemunhos fragmentários. Podemos descrever
rapidamente as cerimônias exteriores, os soldados da Leibstandarte prestando continência magnificamente
rígidos, Hitler esperando Pétain na plataforma da estação, o aperto de mãos, olhos nos olhos, todas as inúteis
imagens de prestígio que a propaganda de Vichy usaria até o excesso. A dignidade física do Marechal jamais
esteve em falta. Mas era um homem velho, que perdia de vez em quando a lucidez e que, em meio de uma
pompa militar humilhante, atendia a uma convocação do vencedor.

Mais tarde, quando se perguntava a Pétain o que se passara em Montoire, ele respondia, com falsa
ingenuidade: “Nada”. Deve ter ouvido, entretanto, um Sundenregister, uma enumeração de crimes franceses
depois de 1919, em seguida o monólogo padrão sobre a invencibilidade do exército alemão e a derrota
consumada da Inglaterra. Hitler perguntou, em seguida, se a França estava disposta a defender seu império
contra os ataques ingleses e a reconquistar os territórios que haviam passado para a dissidência. Pétain
respondeu que a França havia sofrido muitíssimo, material e moralmente, para se lançar em novo conflito.
Hitler retrucou que suas condições de paz dependeriam da medida da ajuda que a França lhe tivesse dado. À
palavra “paz” o velho marechal reagiu como um cavalo de trombeta a um toque familiar. Por que a
Alemanha não esclarecia a França sobre o destino dela? Por que não lhe demonstrava não estar animada pelo
desejo de vingança? Por que não lhe facilitava a recuperação? Redução das despesas de ocupação,
abrandamento da linha de demarcação, libertação dos prisioneiros... Laval, por sua vez, reconheceu que, no
momento, uma declaração de guerra à Inglaterra seria impossível, porque havia necessidade de preparar a
opinião pública, mas que seria desejável que se estabelecesse uma colaboração com a Alemanha em outros
domínios além do militar. No conjunto, o que emergeria de Montoire seria unicamente a palavra
“colaboração”. Mais tarde esta se tornaria um estigma e um crime. Mas, em outubro de 1940, era apenas uma
medalha sem valor.

Começa a guerra ítalo-grega

Um último acontecimento deveria fazer de outubro um dos meses fatídicos, um dos meses mais
contraditórios da guerra.

Depois de sua conversa com Pétain, Hitler demorou-se dois dias em Montoire. Suas decisões ainda não estão
definitivamente tomadas. Seelowe conserva uma oportunidade. O fracasso de Hendaye ainda não enterrou a
conquista de Gibraltar; não morreu a esperança de que Franco mudará de idéia por persuasão ou intimidade.
Contra os russos, um pequeno grupo de oficiais do OKH estuda um plano de campanha, mas em tão absoluto
segredo, que lhes é proibido escrever a menor coisa sobre o assunto. Por outro lado, Ribbentrop vela pela
conservação da aliança da qual se vangloria de ser o autor. Inquieta-se com a tensão que a entrada dos
alemães na Romênia provocou nas relações germano-soviéticas e propõe a Hitler uma entrevista com Stalin.
“Você está louco - responde Hitler -; bem sabe que Stalin jamais concordará em vir a Berlim, e pode
imaginar-me indo a Moscou!”. “Obtive somente - diz Ribbentrop - permissão de escrever a Stalin, pedindo-
lhe que nos enviasse Molotov”. Todos os caminhos ainda estavam abertos para Hitler.

Uma coisa o preocupa: recebera de Mussolini uma carta inquietante. O Duce queixa-se da Grécia. Refere-se
a provocações que não está com humor para tolerar. Ora, a Grécia tem como ditador o ultragermanófilo
Ioannis Metaxas, antigo aluno da Academia Militar de Postdam, preso pelos aliados em 1917, e que orienta
todas as suas simpatias para os regimes totalitários. Além disso, Hitler é adverso a toda complicação nos
Bálcãs. Quer, até nova ordem sua, evitar tudo o que possa dar à Rússia razões de alarme e pretexto para
intervenção. Já é demais que se visse obrigado a tomar medidas militares a fim de salvaguardar o
indispensável petróleo romeno! É preciso, sem revelar as intenções alemães, deter Mussolini.

De Montoire, Ribbentrop telefona a Ciano, avisando que Hitler deseja uma entrevista com o Duce, em uma
cidade do Norte da Itália. A aquiescência chega no dia seguinte. Se o Fuhrer está de acordo, o encontro será
em Florença, segunda-feira, 28.

O que Hitler não calcula é a intensidade da questão de honra que leva seu associado a pô-lo por sua vez
diante do fato consumado. Em 14 de outubro, Mussolini perguntou a seu chefe de Estado-Maior, o Marechal
Badoglio, quanto de tropas e tempo seria necessário para vencer a Grécia. O marechal respondeu-lhe que 20
divisões e três meses lhe pareciam suficientes. Em seguida, ousou perguntar o que os alemães pensavam do
projeto de uma campanha na Grécia. Mussolini exaltou-se. Hitler o consultou quando atacou a Polônia, a
Noruega, a França? Levou em consideração as suscetibilidades legítimas de seu aliado? Ele, Mussolini, acha
que a Grécia deve ser reunida, de maneira definitiva, à esfera estratégica italiana. Anexará o Epiro, Corfu, as
Ilhas Jônicas; instalar-se-á em Salonica, quer isto agrade ou não à Alemanha! As hostilidades deverão iniciar-
se no dia 28, o mais tardar. Que estejam prontos os generais. Durante 8 dias, Badoglio luta. Obtém dos
chefes da Marinha e da Força Aérea pareceres contrários à guerra; objeta que se deve ter em conta a estação
e as neves do Epiro; argumenta que na Albânia só há 8 divisões e que a insuficiência de portos aumenta
imensamente os prazos para a construção das 12 divisões de reforço necessárias. Todas estas objeções só
fazem provocar a irritação do Duce. Ele grita que prefere tornar-se grego a suportar a vergonha de ser chefe
de italianos que temem gregos. Diz a Ciano que aceitará a demissão de Badoglio se este a solicitar.
Devidamente prevenido, o Marechal cala-se.

A 27, Hitler deixa Montoire. Em Yvoir-sur-Meuse, onde tinha havido um dos furos da batalha de maio, seu
trem é parado para que lhe entreguem uma carta pessoal de Mussolini. Essa carta chegara, 48 horas antes, à
Embaixada da Itália em Berlim, mas as autoridades alemães não quiseram permitir que um membro da
embaixada a entregasse a Hitler. A carta anunciava que a decisão de Mussolini tinha sido tomada e que a
guerra contra a Grécia iria começar sem interrupções. O trem pára. A noite chega. Em Munique, o Fuhrer
recebe um telegrama. O Príncipe de Bismarck, encarregado de negócios em Roma, anuncia que foi
convocado por Ciano para ouvir a leitura do ultimato que será enviado, às 3 horas da manhã, ao Governo
grego. A Itália denuncia conspiração da Grécia com a Inglaterra e, para eliminá-la, exige a ocupação dos
territórios que designaria à sua vontade. O Governo grego tem 3 horas para decidir-se. Às 6 horas, se não
houver uma submissão incondicional, começarão as hostilidades.

“Já não estávamos especialmente alegres - conta o Dr. Schmidt - depois do nosso fracasso em Hendaye e de
nosso fiasco em Montoire. A notícia terminava de nos dar o mesmo calor das paisagens prematuramente
nevadas, através das quais viajávamos para a Itália. A polícia, precipitava-se para o local do crime, mas como
sempre, muito tarde”.

Em Florença, a estação está decorada de forma soberba. Mussolini espera eufórico e empertigado. “Fuhrer -
diz ele - deu certo; minhas tropas entraram vitoriosas na Grécia, às 6 horas da manhã”. Em seguida, como
nota descontentamento na fisionomia de seu aliado, acrescenta: “Não se preocupe, tudo terminará em 15
dias”...

Quinze dias depois, as tropas de Mussolini sofrem derrota completa.

Segundo o plano, o 9° Exército devia avançar contra Salonica, através de Florina e Edessa. Aproveitando o
terreno áspero e as tempestades de neve, os gregos contra-atacaram e chegaram à encruzilhada de Coritza, na
sua retaguarda. Uma retirada extremamente rápida salvou o exército de uma captura total.

Cabia ao 11° Exército conquistar o Epiro e, em seguida, contornando à esquerda, avançar sobre Atenas. Aí, a
resistência dos gregos, comandados pelo General Alexandre Papagos, foi tão hábil quanto feroz. Eles se
habituaram imediatamente à guerra de montanha, praticaram instintivamente a tática de infiltração e
enfrentaram com extraordinária rusticidade as intempéries que paralisaram os italianos. Estes não
conseguiram sequer aproximar-se de Janina. Em 11 de novembro, sua derrota consolidou-se. Suas forças
recuavam em desordem sobre uma cadeia de montanhas, entre o lago de Ócrida e o mar, tentando alcançar
Valona e Tirana.

Ainda em 11 de novembro, a esquadra italiana supunha-se em segurança em Tarento. Eram 11 horas da noite
e a lua entrava em seu último quadrante. Todos os couraçados estavam ancorados na enseada oriental da baía
exterior, Mar Grande, situada entre a ilha de São Pedro e a ponta de São Vito. Eram em número de sete, entre
os quais as duas mais recentes aquisições, Littorio e Vittorio Veneto, ambos de 35.000 toneladas. Uma
estacada, duas camadas de redes, três barragens de balões os protegiam. Vários cruzadores cobriam seus
flancos expostos. Nenhum ataque naval ou aéreo se dirigira até então contra essa base tão possantemente
defendida. O alerta soou. A DCA troou. A costa iluminou-se. O porto saiu da penumbra. Dois aviões
lançaram uma linha de foguetes incandescentes, cujo clarão brutal delineou os navios. Doze Swordfish -
velhos biplanos monomotores com rodas não escamoteáveis e cordas de piano bastantes para estender roupa
- chegavam rente à água, vindos do oeste. Cansados de procurar atacar a esquadra italiana em mar aberto, o
Almirante Andrew Cunningham decidira atingi-la em seu próprio domínio. A execução se efetuava.

O ataque partiu do porta-aviões Illustrious, que se unira ao pavilhão do Almirante Cunningham algumas
semanas antes. Outro porta-aviões, o Eagle, devia tomar parte na operação, mas era tão obsoleto, que as
bombas italianas que o cercaram ao largo da Calábria, em 9 de julho, foram suficientes para inutilizá-lo.
Além disso, três aviões foram destruídos numa colisão. Cunningham reuniu todos os que lhes restavam, 21
ao todo, no tombadilho do Illustrious, repartiu-os em duas levas, dirigidas pelos tenentes-comandantes
Williamson e Hale, e comboiou-os até 180 milhas de Tarento.

Às 8:40 horas, a primeira leva, de 12 aviões, levantou vôo.

Duas horas depois, os torpedos dos Swordfish atingiram os couraçados Cavour e Littorio. Os incêndios
orientaram a segunda leva, que, com apenas 9 aviões, partiu 50 minutos depois da primeira. Seus torpedos
erraram o Vittorio Veneto, mas penetraram o Duilio e fizeram no Littorio uma segunda brecha, que o obrigou
a encalhar na baía. A metade da frota italiana de couraçados foi destruída; somente dois Swordfish não
voltaram ao Illustrious.

Em 5 de novembro, Franklin Roosevelt fora eleito Presidente dos Estados unidos, por 27 milhões de votos,
contra 23 milhões para Willkie. Suas profissões de fé sempre haviam defendido a neutralidade, e, no entanto,
ninguém tinha dúvida de que sua manutenção no poder constituía uma ameaça para a Alemanha e uma
esperança para a Inglaterra. “Acolhi - diz Churchill - a notícia da reeleição com um alívio inexprimível”.
Goebbels ordena a sua imprensa que trate o acontecimento com o maior desprezo. Mas um diplomata
italiano anota em seu diário: “Os meios oficiais alemães vêem no novo acordo firmado na Casa Branca uma
advertência de que os Estados Unidos entrarão na guerra em prazo muito curto”.

Os fracassos da Itália trazem para a Alemanha novos problemas. O general dos Panzer, Von Thoma, volta da
África com um relatório desencorajador sobre o valor do Exército italiano e com queixas acerbas à
animosidade que os italianos lhe testemunharam. Hitler ordena a suspensão do equipamento da 4 a Panzer
para a guerra do deserto, mas em 5 de novembro convida o Estado-Maior do Exército para estudar as
medidas que poderiam ser necessárias para cobrir os reveses italianos na Albânia. Alguns dias depois, um
Badoglio muito abatido chega a Innsbruck a fim de ponderar o futuro da cooperação militar germano-
italiana. Chega em pleno clima de presunção. “A guerra - diz-lhe Keitel - está ganha; só falta concluí-la
obrigando a Inglaterra a reconhecer que a perdeu”. Em seguida, traça para Badoglio um quadro brilhante do
Exército alemão: 230 divisões, dentre as quais 185 de primeira linha, e destas últimas, 20 blindadas e 12
motorizadas. Em face dessa ostentação de poder, Badoglio tem que confessar que enviou à Líbia todos os
carros de combate que possui, 74, e pede, em nome do Duce, que lhe dêem de presente 700 tanques
capturados aos franceses. Mas Keitel recusa, dizendo que tais engenhos são necessários ao equipamento das
novas unidades blindadas alemães. Em compensação, volta atrás na decisão anterior e propõe enviar uma
Panzer à Líbia. É a sua vez de Badoglio recusar, conformando-se às instruções imperativas que recebeu. “Se
os deixo entrar em nosso campo - dissera-lhe Mussolini -, eles jamais sairão.”

12 de novembro é um dia de decisões capitais. Jodl promete ao Fuhrer em relatório em que assenta
definitivamente a impossibilidade de invadir a Inglaterra. Hitler aceita tal conclusão e redige sua Diretiva n°
18. Aparece todo um novo esquema da guerra.

O primeiro parágrafo diz respeito à França: “O objetivo de minha política em relação à França é de cooperar
com este país na continuação da guerra contra a Inglaterra... A tarefa urgente dos franceses é a proteção
ofensiva e defensiva de suas possessões coloniais contra a Inglaterra e o movimento degaulista. Partindo
dessa tarefa inicial, a participação da França na guerra contra a Inglaterra poderá desenvolver-se
plenamente...”.

Em seguida, Hitler passa à Espanha: “O objetivo da intervenção alemã na Península Ibérica (cujo nome
convencional é Felix) é expulsar a Inglaterra do Mediterrâneo ocidental. Isso porque Gibraltar será tomada e
o estreito fechado...”

A questão das ilhas do Atlântico vem em terceiro lugar: “Os comandantes-chefes da Marinha e da Força
Aérea examinarão como poderá ser reforçada a defesa espanhola das ilhas Canárias e como poderão ser
ocupadas as ilhas do Cabo Verde. Desejo igualmente que o problema da ocupação da madeira e dos Açores
seja examinado com relação a todas as suas vantagens e desvantagens...”

Diante desse documento, Jodl e todos aqueles que sustentam a estratégia mediterrânea podem acreditar que
ganharam a partida. Hitler se apaixona. Estuda a tomada de Gibraltar sobre uma grande maqueta da fortaleza
e fala sem cessar da conquista dos arquipélago, que seus aviadores e seus marinheiros acreditam poder
tomar, mas que têm dúvidas de que possam manter. A Mussolini, ele escreve uma carta muito longa, na qual
deplora ter chegado a Florença tarde demais. Considerando inúteis recriminações sobre o passado, acha que é
preciso eliminar o perigo inglês na Grécia. Deve, entretanto, inclinar-se diante do fato de que toda operação
de envergadura nos Bálcãs é impossível antes do mês de março. Em compensação, fechar o Mediterrâneo é
uma possibilidade imediata. “A questão do Mediterrâneo deve ser liquidada neste inverno, porque então o
emprego da força alemã aí é mais eficiente”.

Todavia, o obstáculo principal, a decisão da neutralidade de Franco, continua de pé. “A Espanha - diz o
Fuhrer ao Duce - deve ser persuadida a entrar na guerra imediatamente”. Contudo, o caminho de tal
persuasão não é encontrado, e uma nova viagem de Serrano Suner à Alemanha apenas reforça o
descontentamento, a irritação e a frustração de Hitler.

Brecha na aliança germano-russa

Na estação de Anhalt, flores, foices e martelos. O comissário do povo Vyascheslav Molotov chega a Berlim
para a visita solicitada por Ribbentrop. Este não foi eqüitativamente recompensado por sua iniciativa: no
decorrer das conversações, Molotov quase não abre a boca, enquanto Ribbentrop se esforça em repetir que
nenhuma força no mundo pode impedir a derrota inglesa. O olhar irônico e penetrante dos russos exaspera o
pretensioso alemão.

Com Hitler, ao contrário, o comissário do povo discute asperamente. Queixa-se das intrigas do Reich na
Finlândia e ameaça reabrir as hostilidades contra os finlandeses se estes continuarem a tolerar as infiltrações
das tropas alemães. Queixa-se da penetração de tropas alemães na Romênia e ameaça concluir com Sófia um
equivalente do tratado de protetorado que Berlim fez Bucareste assinar. Reivindica o controle dos estreitos
para instalação de bases navais e aéreas soviéticas na Turquia. Corta os efeitos oratórios de Hitler quando
este procura desviar sua atenção para o golfo Pérsico e a Índia, dizendo que são as questões européias que
lhe interessam. Hitler, que só faltou perder a fala, em Bad Godesberg, porque o falecido Chamberlain (acaba
de morrer) se permitira fazer-lhe uma pergunta, suporta com estranha paciência as réplicas desse
homenzinho de óculos e de olho de aço. O balanço da entrevista longe está de mostrar discordância entre a
Rússia soviética e a Alemanha hitlerista. O protocolo registra, ao contrário, um acordo sobre todos os pontos,
inclusive sobre as pretensões russas em relação aos estreitos. Se tomássemos o documento ao pé da letra, a
aliança germano-soviética não sofrera alteração.

Entretanto, isso nada mais é que aparência. Todos os testemunhos indicam que Hitler saiu das duas
entrevistas com Molotov em estado de extrema irritação. “Estou convencido - disse Paul Schmidt - de que
foi nessa ocasião que ele tomou a decisão de atacar a Rússia”. “O Fuhrer - disse Keitel - viu nos propósitos
de Molotov o engodo de uma grande manobra para envolvimento da Alemanha. Resolveu então antecipar-se
a ela”.

Novas razões levaram Hitler a cortar na Rússia o nó da guerra. Toda esperança de uma guerra curta
desaparecera, nas condições de então. A Inglaterra, doravante fortalecida em barricas interiores, torna-se
dificilmente atacável. As operações mediterrâneas não conduzem a nada de decisivo. Os Estados Unidos não
são militarmente temíveis, mas seu poder econômico forneceria à Inglaterra incessantes acréscimos de
recursos. Inversamente, a Alemanha dependeria, cada vez mais, da única fonte de matérias-primas aberta
para ela, a URSS. É a consciência desta situação - pensa Hitler - que explica a segurança de Molotov, em
contraste com sua atitude modesta de 1939. Se a Alemanha não toma cuidado, ver-se-á progressivamente
ligada à URSS - no momento em que a razão profunda da revolução nacional-socialista é a destruição do
bolchevismo. O pacto com os soviéticos fora um expediente político associado a uma fase da guerra; e
ameaça tornar-se um laço mortal, se sobreviver à razão que o ditou.

Os homens são complexos. Existem poucos cínicos puros.

Adolf Hitler não era um deles. Sua aproximação com Moscou nunca deixou de causar-lhe uma repulsa
íntima. Muitos generais e aristocratas alemães, criados na tradição bismarkiana, a aceitam muito mais
facilmente, e apreciam muito mais à altura do que o plebeu austríaco cujos primeiros combates foram
refregas selvagens com a frente vermelha. Hitler liberaria sua consciência se entrasse em luta contra o
inimigo ideológico, a quem sua política e estratégia se uniu momentaneamente. Com Mussolini, ao contrário,
a solidariedade ideológica associava-se à admiração e à amizade, criando no coração de Hitler tesouros de
indulgência. O sentimento mais humano desse coração estranho é a camaradagem, fraternidade dos sem-lar.
Havia três meses que todas as desventuras da Alemanha e todas as derrotas do Eixo vinham da Itália, em
relação à qual Hitler perdera todas as ilusões. Entretanto, nem uma queixa escapava de seus lábios contra o
fundador do fascismo, e os embaraços em que Mussolini se debatia o emocionavam até as lágrimas. “O
Fuhrer tinha - contou Ciano - duas grossas lágrimas nos olhos quando me recomendou que repetisse ao
Duce que estava a seu lado com todas as suas forças”. Ele deseja encontra-se com seu infeliz aliado, mas
Mussolini se esquiva ferozmente a uma entrevista. Os problemas desde então cessam de agravar-se. Muda,
seus generais, demite o comandante da frente albanesa, Soddu, que compunha música de filmes durante a
batalha de Janina; afasta-se do próprio Badoglio, substituindo-o pelo otimista e germanófilo Cavallero, que
acha que pode acumular as funções de chefe de estado-maior e a direção da guerra da Albânia. A situação
militar não melhora. Os gregos tomam Argirocastro e o porto de Santa Quaranta. O problema italiano já não
consiste em conquistar Salonica e Atenas; consiste em manter a Albânia invadida e insurreta.

Bruscamente, os reveses albaneses são eclipsados. O raio cai sobre a África. O problema de uma derrocada
da Itália ameaça surgir.

Depois de um tímido avanço até Sidi-Barrani, os italianos estabeleceram-se em uma dúzia de lugares, entre o
mar e o escarpamento de Sofafi. Fortificam-se mal, defendem-se mal, não ousam aventurar reconhecimentos
além do alcance de seus canhões. Seu armamento é insuficiente e os pequenos tanques Fiat, de 2 toneladas,
mais parecem caixões para enterrar seus homens. O moral está ao nível dos armamentos. Nem mesmo o
deserto rude conseguiu aproximar os oficiais dos subordinados, pois, em vez de compartilhar o mesmo
desconforto e a mesma sede, vivem em condições materiais bem diferentes. Eles resolvem não mais avançar
sobre Marsa-Matruh, cabeça da ferrovia de Alexandria. Tendo recusado a ajuda dos blindados alemães, o
Exército italiano enrola-se em sua modesta conquista e espera. Wavell se cansa de esperar. Preparara uma
batalha defensiva, mas, como o Almirante Cunningham, decide atacar o inimigo que não ataca. Graziani tem
7 divisões. Ele apenas duas: a 4a indiana e a 7a blindada.

A 9 de dezembro, numa madrugada glacial, os ingleses cercam o campo italiano de Nibeiwa, matam em
pijama o general que o comandava e apoderam-se de tudo em duas horas. Da mesma forma, tomam, em
quatro dias de combate, Tumar-oeste, Tumar-leste, Maktila, Sidi-Barrani, etc. Quatro divisões italianas são
destruídas. As perdas britânicas, em mortos, feridos e desaparecidos, elevam-se a 624 homens e o número de
prisioneiros capturados a 38.300.

Wavell não havia sequer sonhado com tal vitória. Estava tão pouco preparado para explorá-la que a 4 a
Divisão indiana atacou com a ordem de tomar o rumo do Sudão logo que a incursão contra Sidi-Barrani
fosse efetuada. Em 12 de dezembro, apesar dos protestos furiosos de O’Connor, comandante do exército, a
ordem de deslocamento da 4a indiana é confirmada. Enviada para um setor secundário, deve ser substituída
progressivamente pela 6a australiana, que devia ainda adaptar-se ao deserto. Esse é ainda o primeiro exemplo
dos incríveis erros que os ingleses cometeriam na condução da guerra em torno do Mediterrâneo...
Entrementes, Graziani manda sua mulher cobrir Mussolini de injúrias e decide recuar às presas para Trípoli a
fim, disse ele, de que “a bandeira italiana continue a flutuar pelo menos em uma cidadela da África do
Norte”.

Apoteose e queda de Laval

Decepcionado com a Itália, Hitler conhecerá maiores decepções com relação à França. A idéia da manobra
do Plano Felix é jogar o governo de Vichy na guerra, através do pretexto da reconquista das possessões
coloniais francesas. Em 29 de novembro, cinco meses após o armistício de Compiègne, um Conselho de
Guerra reúne-se na Embaixada da Alemanha, presentes Laval e Abetz, o General Huntziger, o Almirante
Darlan e o primeiro colaborador de Jodl, o jovem general Warlimont. O plano que eles discutem é o da
reconquista do Chade das mãos dos degaullistas, acompanhada da tomada da Nigéria britânica, como penhor.
Hitler consente em indenizar a França pela tomada da Tunísia, deixando-lhe esse imenso país. Em 10 de
dezembro, a conferência volta a reunir-se. Warlimont, satisfeito, compra 5.000 mapas da AEF (África
Equatorial Francesa). A Alemanha pode esperar que se efetuem operações ofensivas no Chade depois da
estação das chuvas.

Simultaneamente prepara-se uma operação simbólica. Em adesão a uma idéia do nazista francês Benoist-
Méchin, o Fuhrer decidira transferir para os Inválidos o corpo do Duque de Reichstadt. Tremendo de frio, em
início de um inverno rigoroso, os parisienses responderam a esse gesto magnânimo com uma pilhéria
ingrata: “Tomam-nos o carvão e nos devolvem as cinzas...” Mas o estado-maior colaboracionista planeja
grandes solenidades. O Marechal Pétain viria a Paris receber a preciosa relíquia e já se embala com a
esperança de não mais voltar à capital provisória. Fixa-se a data da cerimônia para 15 de dezembro, quando
se comemora o centenário do retorno dos despojos do próprio Napoleão. O pai e o filho estariam reunidos no
mesmo sono pela mão gloriosa do Fuhrer...

No dia 13, uma notícia revolucionária interrompe os preparativos. Laval, expulso do Governo, fora preso em
Vichy!

Os alemães o libertam. O Embaixador Abetz, cujo poder se acha em jogo, precipita-se com
autometralhadoras, solta o prisioneiro e o leva ao Hôtel du Parc à presença de Pétain. Laval rompe em
injúrias: “O senhor não é mais que um fantoche, um catavento, uma biruta”, e pronuncia a frase que,
justamente, o condenara à morte: “De hoje em diante, será entre os alemães que procurarei meus amigos”.
Sai, lívido de raiva, e volta a Paris, no mesmo carro que Otto Abetz.

Para Vichy, as conseqüências da eliminação de Laval poderiam ter sido trágicas. Mas são fracas. Com isso, a
França não perdeu nem mesmo as cinzas do nobre duque, que lhe foram enviadas no dia programado, mas
em cerimonial tão glacial quanto a temperatura e, naturalmente, sem a presença de Pétain. A libertação de
certa categoria de prisioneiros é suspensa. A linha de demarcação torna-se hermética. O acesso a Paris é
proibido a todos os Ministros. O sucessor de Pierre Laval à sucessão do Marechal, o Almirante Darlan, é
convocado por Hitler. Dirá mais tarde: “Levei uma descompostura como nunca na vida descompus alguém”.
Mas as represálias se limitam a isso. Bastaria uma só palavra de Hitler para suprimir o governo do Hôtel du
Parc ou para estabelecer em Paris um contra-governo nazista, governo que os devotos da vitória alemã,
Brinon, Déat, Doriot, Laval, estão prontos a constituir; mas não o faz. O Marechal continua.

Na época, ninguém compreende essa mansidão. Hoje, porém, a razão aparece clara. A colaboração com a
França já não interessa a Hitler. Este afasta-se bruscamente da estratégia mediterrânea, na qual encontrou
obstáculos e complicações em demasia. Renunciou, ou quase, a Gibraltar, diante a impossibilidade de
convencer Franco e da indisposição de passar-lhe por cima. Os Açores, o Chade e Dacar saíram de suas
cogitações. O Plano Felix morre antes de começar. Após quatro meses de flutuações, o curso do pensamento
de Hitler fixou-se em algo: é unicamente na planície russa que irá buscar a decisão.

A 17 de dezembro, assina sua Diretiva n° 20, chamada Marita. É uma simples medida de conservação. “vejo
bem - disse ele a seu íntimos - que a ajuda italiana é nula, mas a posição estratégica da Itália é por demais
importante para que possamos aceitar que saia da guerra numa derrocada”. Consequentemente, usando a
Romênia e a Bulgária como cúmplices, as tropas alemães intervirão na primavera para pôr a Grécia fora de
combate e concluir a guerra dos Bálcãs. No dia seguinte, 18 de dezembro, Hitler assina a Diretiva n° 21,
chamada Barbarossa. Registrada em Nuremberg com o número 446 PS, esse documento de 8 páginas é o
documento mais importante de toda a guerra. Nele foi traçado o plano geral das operações que deviam
destruir o Exército soviético numa curta campanha de verão. Fixa a nova fronteira alemã: a linha Astracã-
Arkhangelsh. Embrenha a Alemanha num turbilhão de desastres e numa engrenagem de sofrimentos.
Todavia, o último parágrafo contém a seguinte ressalva: “Deve ser compreendido que todas as ordens dadas
com base na presente instrução são medidas de precaução para o caso em que a Rússia modifique sua atitude
em relação a nós...” Seguindo seu hábito, Hitler não se compromete de maneira rígida. Todas as
possibilidades continuam abertas diante dele...

... Weihnacht, Natale, Noel, Christmas... Hitler, empaturrado de vitórias, falha no seu objetivo: a vitória em
1940. O inverno, como o precedente, é excessivamente rigoroso. Mussolini, cheio de amargura, observa a
neve cair em Roma ao dizer a Ciano que gostaria que fizesse ainda mais frio. Explica: “Para endurecer a
população de covardes, a raça inferior que me coube conduzir”. A França, mais vencida do que jamais esteve
em toda a sua História, encolhe-se em sua miséria e humilhação. A Luftwaffe quase poupa Londres no dia
25, mas a 29 lhe inflige o mais cruel bombardeio até então conhecido: 1.500 incêndios, o Guildhall reduzido
a cinzas, 8 igrejas destruídas. No mar, apesar das tempestades, os submarinos destruíram, durante o mês,
360.000 toneladas de navios mercantes.

Nos Estados Unidos, Roosevelt, em 24 de dezembro, na tradicional mensagem de Natal, refere-se com a
maior hostilidade em relação às potências do Eixo, cuja destruição profetiza. Mas somente alguns íntimos
conhecem o pensamento que ele deixa amadurecer sob o céu tropical, durante um cruzeiro de pesca pós-
eleitoral. “Um vizinho - disse Roosevelt - empresta seu extintor de incêndios a outro cuja casa está em
chamas...” Ele procura um meio de emprestar à Inglaterra as armas que seus recursos financeiros em declínio
bem cedo não mais lhe permitirão comprar.

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