Você está na página 1de 10

A Batalha da Inglaterra

A Luftwaffe ao ataque

A 25 de junho de 1940, cessou a luta no território francês. Quatro dias antes, em Compiègne, no histórico
vagão em que os alemães tinham assinado a capitulação no fim da Primeira Guerra Mundial, o general
francês Huntziger recebeu das mãos do próprio Hitler as condições do armistício que encerrou as
hostilidades.

A Inglaterra, isolada e entregue aos seus próprio recursos, encontrava-se nesse momento praticamente
indefesa. Por causa das graves perdas na evacuação de Dunquerque, os ingleses contavam apenas com um
punhado de divisões adequadamente armadas e com menos de 500 aviões de caça, para enfrentar as 160
divisões do Exército alemão e os 3.000 aviões da Luftwaffe. Hitler, em conseqüência, estava absolutamente
convencido de que em poucas semanas os ingleses se convenceriam da inutilidade de prosseguir com a
resistência e solicitariam a paz aos alemães.

Contudo, a debilidade dos ingleses era mais aparente do que real. Entrincheirados em suas ilhas e protegidos
por sua poderosa esquadra, que superava de forma esmagadora a esquadra alemã, os britânicos poderiam, se
conseguissem ganhar o tempo necessário, reconstruir em curto prazo o seu poderio militar. Iludido por suas
repetidas e fulminantes vitórias, Hitler não se apercebeu de inicio dessa possibilidade ameaçadora, e,
esperando obter um acordo, concedeu aos ingleses a trégua vital de que necessitavam.

Alguns chefes militares alemães compreenderam, desde logo, o grave risco contido na atitude passiva do
ditador. Para derrotar a Inglaterra e eliminar assim o último inimigo que restava, era necessário atuar de
imediato e com o máximo de decisão.

A 18 de junho, quando a luta na França ainda não estava concluída, o general Milch, ministro da aeronáutica
e inspetor geral da Luftwaffe, propôs a Goering realizar sem demora um ataque de surpresa, com pára-
quedistas, no sul da Inglaterra, para tirar vantagem do estado de desorganização em que se encontravam as
defesas do país. Os pára-quedistas se apossariam dos principais aeroportos e seriam rapidamente apoiados
por tropas aerotransportadas. Simultaneamente, as numerosas divisões que não intervinham na luta contra os
franceses seriam transportadas através do Canal da Mancha (de navio) e desembarcariam nas desprotegidas
praias britânicas, com a cobertura do grosso das esquadrilhas da Luftwaffe.

Era um plano improvisado e temerário, mas, devido à extrema debilidade das defesas britânicas, tinha grande
possibilidade de êxito. Goering, entretanto, rechaçou-o de imediato. Assim como Hitler, ele estava
plenamente convencido de que a Inglaterra solicitaria paz, logo que a França tivesse capitulado.

Por sua vez, os chefes da Wehrmacht consideravam necessário realizar uma invasão em grande escala para
submeter a Inglaterra. A 30 de junho, o marechal Jodl entrevistou-se com Hitler em seu QG de Freudenstadt,
na Floresta Negra, e, depois de entregar-lhe um extenso informe sobre a situação militar, comunicou-lhe que,
em sua opinião, bastaria a ação da Luftwaffe e dos submarinos para forçar os ingleses a capitular, caso se
obstinassem em prosseguir a luta.

Em conseqüência, ao terminar a campanha da França, Hitler e seus generais desentenderam-se por completo
quanto à continuação da guerra contra a Inglaterra. Numerosas unidades do Exército e da Luftwaffe foram
enviadas de regresso para a Alemanha e tomaram-se as primeiras medidas, para desmobilizar 20 divisões. A
guerra, para o caudilho nazista, estava praticamente terminada.

Nasce o “Leão Marinho”

Os dias se passavam, entretanto, sem que os ingleses dessem mostras de que abandonariam a sua disposição
belicosa. Hitler, surpreendido e encolerizado, determinou, a 2 de julho, que se iniciassem os preparativos
para a invasão. Em sua primeira ordem, ele já assinalava que esta operação dependeria da prévia obtenção da
supremacia aérea. Acertadamente, o ditador havia compreendido que só aniquilando a RAF seria possível
realizar o desembarque.
Mas já era tarde demais para que os alemães obtivessem com facilidade uma vitória nos ares. Trabalhando
dia e noite, as fábricas inglesas haviam conseguido cobrir as baixas sofridas pela RAF na França e, em
princípios do mês de julho, o Comando de Caça já contava com uma força de operação de 700 modernos
Hurricanes e Spitfires.

A 11 de julho, o ditador reuniu-se em Berchtesgaden com o almirante Raeder, chefe da Kriegsmarine, que se
declarou em aberta oposição ao projeto de invasão da Inglaterra. Com cifras e dados detalhados, o veterano
marinheiro demonstrou a Hitler que a Marinha alemã enfrentava dificuldades praticamente insuperáveis para
levar a cabo essa operação.

Dois dias depois, Hitler reuniu-se em conferência com os chefes da Wehrmacht e comunicou-lhes sua
surpresa diante da atitude obstinada dos ingleses. A seu ver, essa atitude “irracional” só tinha uma
explicação: os britânicos esperavam que a Rússia entrasse brevemente na guerra contra a Alemanha. Em
conseqüência, era preciso atacar quanto antes a Inglaterra, para obrigá-la a solicitar o armistício.

A 16 de julho, Hitler deu o passo decisivo, através da Diretiva de Guerra n° 16, a qual punha em marcha o
plano “Leão Marinho”, o nome chave designado para a invasão da Inglaterra. O ditador, entretanto,
assinalava na mesma ordem que o plano só seria levado a efeito em caso de necessidade. Confiava em que
obteria por outros meios a capitulação dos ingleses.

Três dias depois, pronunciou no Reichstag um discurso, destinado a convencer o povo britânico e às nações
neutras de que sua intenção era pôr fim o mais rapidamente possível à guerra, através de um acordo pacífico.

A resposta britânica não se fez esperar. Na mesma noite, a BBC de Londres transmitiu a rejeição categórica
da inconsistente oferta do ditador. Três dias depois, Lord Halifax, ministro das Relações Exteriores britânico,
deu a conhecer a negativa do seu Governo de entrar em entendimento com a Alemanha. Só restava a Hitler o
caminho da luta.

Por esses dias, o ditador anunciou a seus generais, pela primeira vez, a sua decisão de atacar a Rússia. A
atitude de desafio dos ingleses deixara-o convencido de que estes não deporiam as armas, enquanto não
perdessem definitivamente a esperança de receber o apoio soviético. A 21 de julho, mandou chamar o
marechal Brauchitsch, comandante em chefe do Exército, e ordenou-lhe que iniciasse imediatamente o
estudo de uma campanha contra a URSS. Brauchitsch comunicou a Hitler que a Wehrmacht poderia levar a
cabo a conquista da Rússia ocidental em 4 a 6 semanas, empregando no ataque de 50 a 75 divisões de
primeira linha. Satisfeito com o informe, o ditador incitou-o a que acelerasse o plano de invasão.

Hitler decide atacar

A 31 de julho de 1940, os chefes da Wehrmacht reuniram-se em Berchtesgaden, a fim de receber do Fuhrer a


ordem de ataque à Inglaterra. Estavam presentes o almirante Raeder, os marechais Keitel, Jodl e Brauchitsch,
e o general Halder, chefe do estado-maior do Exército.

Raeder tomou a palavra e voltou a expor a Hitler as dificuldades que a Marinha enfrentava para realizar o
desembarque, previsto no plano “Leão Marinho”. Expôs também as condições climáticas desfavoráveis em
que estaria o Canal da Mancha durante o mês de setembro, data prevista para o ataque.

Acertadamente, Hitler ponderou ao cauteloso almirante que até essa data os ingleses já teriam reconstruído
seu poderio militar e contariam com mais de 30 divisões perfeitamente armadas. Ordenou então aos chefes
do Exército que acelerassem os preparativos, a fim de que o desembarque fosse realizado em meados de
setembro. Acrescentou, entretanto, que a decisão final sobre o momento de iniciar-se o ataque só seria
tomada depois que a Luftwaffe tivesse levado a cabo uma ofensiva maciça contra a Inglaterra, durante toda
uma semana.

Se a Luftwaffe conseguisse, tal como assegurava Goering, aniquilar a RAF dentro daquele prazo, a invasão
teria lugar em setembro; caso contrário, seria adiada para maio do ano seguinte.

Hitler referiu-se então ao problema da Rússia. Já estava decidido a entrar em guerra com os soviéticos, a fim
de anular as esperanças que os ingleses depositavam em seu apoio. Deu ordens formais aos seus generais que
iniciassem o planejamento da campanha contra os russos, e advertiu-os que o ataque teria de começar no
mais tardar, na primavera de 1941. A Wehrmacht concentraria 120 divisões na frente oriental e manteria
outras 60, no ocidente da Europa.

A resolução estava tomada. Sem o saber, Hitler selou nesse dia o destino da Alemanha.

Começa a luta sobre o Canal

Nos primeiros dias do mês de julho de 1940, Goering ordenou às esquadrilhas da Luftwaffe que
conquistassem a supremacia aérea sobre o Canal da Mancha. Essa operação teria por fim eliminar o tráfego
marítimo britânico nesse braço de mar, e, ao mesmo tempo, atrair à luta os caças da RAF. Os ataques foram
crescendo progressivamente em intensidade e estenderam-se aos portos da costa sul da Inglaterra. De inicio,
os aviões ingleses ofereceram batalha; mas, logo, por ordem do marechal sir Hugh Dowding, chefe do
Comando de caça, abandonaram a luta, guardando-se para enfrentar o ataque decisivo.

A 1° de agosto Hitler ordenou a Goering que iniciasse a ofensiva aérea contra a Inglaterra. Sem demora,
Goering ordenou aos marechais Kesselring, Sperrle e Srumpff, chefes das Luftflotte (frotas aéreas) II, III e
IV, que completassem os planos para levar a cabo o ataque. Surgiram, entretanto, divergências entre esses
chefes. Kesselring opôs-se à realização da ofensiva, pois, considerava, acertadamente, que a Luftwaffe
sofreria grandes baixas e não obteria resultados definitivos. Propôs, em conseqüência, o ataque às
desguarnecidas possessões britânicas do Mediterrâneo, a fim de obter por via indireta a derrota da Inglaterra.
Goering, apoiado por Sperrle, rechaçou os seus argumentos e declarou que a RAF seria aniquilada em
poucos dias de luta.

O problema seguinte foi a fixação do objetivo principal dos ataques. Sperrle declarou-se partidário da
ofensiva cerrada contra Londres, a fim de atrair a totalidade dos caças britânicos a uma batalha decisiva.
Hitler, entretanto, opôs-se ao bombardeio da Capital e Goering ordenou então que a ofensiva se limitasse a
destruir a RAF e às suas instalações terrestres, no sul da Inglaterra. Em uma segunda etapa, seriam
bombardeados os centros de abastecimento, portos e indústrias, a fim de paralisar a vida econômica do país.

Ficou, assim, determinado o plano de ataque. Nos aeródromos localizados sobre as costas do Canal, na
Holanda, Bélgica e França, as esquadrilhas da Luftwaffe receberam as diretivas finais e completaram os seus
preparativos. Na ofensiva, batizada com o nome chave de “Adlerangriff”(Ataque das Águias), interviriam
três frotas aéreas, em um total de 2.550 aviões.

O primeiro fracasso

Na manhã de 12 de agosto, os aviões alemães realizaram um ataque preliminar, a fim de destruir as


instalações de radar instaladas sobre a costa sul da Inglaterra. Seus estações foram violentamente
bombardeadas, mas, só uma, situada na ilha de Wight, em frente ao porto de Southampton, ficou inutilizada.

No dia seguinte, desencadeou-se o “Ataque das Águias”. A partir das 3 da tarde, as formações de Stukas e
bombardeiros Heinkel 111, Dornier 17 e Junkers 88 cruzaram o canal, escoltados por centenas de caças
Messerschmitt 109 e 110. Em ondas sucessivas, bombardearam os aeródromos da RAF situados sobre a
costa e os portos de Southampton e Portland. Os caças britânicos, entretanto, ofereceram uma resistência
encarniçada e conseguiram abater 45 aviões da Luftwaffe.

A violenta reação da aviação britânica demonstrou aos pilotos alemães que a luta não ia ser tão fácil como
prognosticara Goering. Os Spitfires e Hurricanes mostraram-se claramente superiores aos caças bimotores
Me 110 e conseguiram abater, facilmente, aos lentos bombardeiros e aos Stukas. Só o Me 109, veloz caça
monomotor, conseguiu enfrentar com êxito os aviões ingleses, mas, a Luftwaffe só contava com 800 aviões
desse tipo, cifra totalmente insuficiente para a obtenção da supremacia aérea. Além disso, esse avião tinha
um raio de ação muito limitado e só podia manter-se em vôo sobre a Inglaterra durante 20 minutos,
circunstancia que o impedia de prestar uma escolta adequada aos bombardeiros.

No transcurso de seus ataques, os aviadores alemães tinham escutado com surpresa, através do rádio, como
os caças britânicos eram guiados da terra ao encontro das formações de bombardeiros. Esse sistema de
controle, que utilizava os dados fornecidos pelas estações de radar, permitiu à RAF evitar a dispersão da sua
reduzida força de 700 caças e foi elemento decisivo da vitória alcançada pelos britânicos sobre a Luftwaffe.
A 15 de agosto, teve lugar um dos principais episódios da batalha aérea. As Luftflotte II e III atacaram pelo
sul e a Luftflotte V lançou um “raid” de surpresa a costa leste, vinda das suas bases na Noruega e na
Dinamarca. Os quatro grupos de caça da RAF, de número 10, 11, 12 e 13, viram-se, assim, empenhados
simultaneamente na luta.

As esquadrilhas do grupo 13, localizadas na Escócia, conseguiram rechaçar o ataque da Luftflotte V e lhe
infligiram grandes perdas. No sul, os outros grupos conseguiram também desbaratar as incursões alemães,
em uma série de violentos combates. No fim do dia, a Luftwaffe perdera 75 aviões, contra 34 ingleses
abatidos.

A derrota sofrida em 15 de agosto teve decisiva influência no desenrolar da batalha. A Luftflotte V já não
voltou a intervir em ataques diurnos e transferiu a maioria dos seus aparelhos para a costa francesa. Ficou
definitivamente demonstrada a impotência dos “Stuka” diante dos caças ingleses e, 4 dias depois, Goering
resolveu retirá-los da batalha. Dessa maneira, os efetivos da Luftwaffe reduziram-se em mais de 300 aviões.
Por sua vez, os caças bimotores Me 110 tiveram, daí em diante, de ser escoltados por Me 109. Sobre esses
últimos aviões recaiu, portanto, todo o peso da luta contra os caças ingleses.

Apesar de seus repetidos fracassos, a Luftwaffe não cessou de atacar. A 18 de agosto, voltou a realizar
incursões maciças sobre o sul da Inglaterra e, novamente, sofreu graves perdas, com 71 aviões derrubados
contra 37 ingleses. No dia seguinte, Goering conferenciou com os chefes da Luftwaffe e comunicou-lhes que
havia chegado o momento crítico da ofensiva. Era preciso redobrar os esforços, até aniquilar por completo a
RAF. Em conseqüência, a quase totalidade dos caças Me 109 foi entregue a Luftflotte II, comandada pelo
marechal Kesselring, que tinha a seu cargo a realização do ataque decisivo.

Enquanto isso, os serviços de escuta da Luftwaffe, instalados sobre a costa do Canal da Mancha, tinham
conseguido finalmente localizar a posição das estações de rádio que, da terra, controlavam a ação das
esquadrilhas da RAF. Essas estações estavam situadas nos aeródromos da periferia de Londres.
Converteram-se, portanto, no objetivo principal da ofensiva.

O momento decisivo

De 19 a 24 de agosto, reinou o mau tempo. Os ingleses, aproveitando a breve pausa, trabalharam febrilmente
e conseguiram consertar os aeródromos danificados e as linhas vitais de comunicação, que ligavam as
estações de radar e os postos de controle das esquadrilhas de caça.

A RAF, entretanto, se achava em uma situação crítica. De um total indispensável de 1.588 pilotos, o
Comando de Caça contava, a 24 de agosto, com 1.377 aviadores. Por sua vez, as perdas sofridas no
transcurso da luta - 90 pilotos mortos e 60 feridos, desde o dia 8 de agosto - não eram cobertas
adequadamente pelos centros de treinamento. Existia, portanto, a possibilidade ameaçadora de que a força de
pilotos britânicos fosse dizimada a curto prazo, caso os alemães prosseguissem seus ataques com idêntica
violência.

Às 9 da manha de 24 de agosto, a Luftwaffe lançou-se novamente ao ataque. Escoltados por enxames de


caças, as formações de bombardeiros abriram caminho através da encarniçada resistência das esquadrilhas
britânicas e destruíram por completo o aeródromo de Manston, sobre a costa do canal. Ao norte de Londres,
50 bombardeiros Dornier 17 e Heinkel 111 atacaram a base de North Weald e causaram graves danos a suas
instalações. Aproveitando a confusão causada por essas incursões, 50 aviões da Luftflotte III realizaram um
“raid” de surpresa sobre o Porto de Portsmouth e, sem encontrar oposição bombardearam a cidade, matando
100 civis e destruindo numerosos edifícios.

Começou a fase decisiva da batalha. Durante duas semanas, os alemães realizaram 33 ataques maciços no sul
da Inglaterra e na periferia de Londres, conseguindo infligir terríveis danos ao sistema defensivo da RAF.
Debaixo da chuva ininterrupta de bombas, a maior parte dos aeródromos e dos postos de controle ficou,
várias vezes, reduzida a escombros. Só mediante o titânico esforço dos serviços de auxílio e reparação, foi
possível reconstruir e manter em funcionamento as bases e estações de comando das esquadrilhas de caça.

Um fato inesperado, entretanto, salvou os ingleses da derrota iminente. Na noite de 24 de agosto, 170
bombardeiros alemães cruzaram o canal, a fim de completar a destruição causada pelos ataques diurnos. Um
grupo de aviões se desviou de seu rumo por causa de um erro de navegação e lançou suas bombas em pleno
coração de Londres. Os ingleses consideraram que o ataque havia sido intencional e resolveram devolver o
golpe. Na noite seguinte, 81 bombardeiros da RAF se internaram na Alemanha e, de surpresa, bombardearam
Berlim. O ataque inglês provocou em Hitler uma reação colérica. A 2 de setembro, depois que a RAF tinha
realizado novas incursões sobre Berlim, o ditador ordenou a Goering que desfechasse sobre Londres uma
ofensiva de represália. Dois dias depois, pronunciou um violento discurso e anunciou que varreria as cidades
ingleses da superfície da Terra.

A 3 de setembro, seguindo as instruções de Hitler, Goering reuniu seus assessores em Haia e comunicou-lhes
a sua intenção de atacar Londres. O marechal Kesselring apoiou o plano com entusiasmo, pois, considerava
que a RAF já estava praticamente liquidada. Sperrle, ao contrário, rebateu os argumentos e declarou que os
britânicos ainda dispunham de cerca de 1.000 caças. Interveio, a seguir, o major Schmid, chefe do serviço de
Inteligência da Luftwaffe, o qual, embora reconhecendo que a RAF sofrera grandes perdas, considerou
necessário prosseguir no ataque aos aeródromos, postos de controle e fábricas de aviação, até alcançar o
completo aniquilamento da força aérea britânica.

Depois de uma agitada polêmica, decidiu-se levar adiante a ofensiva contra Londres. Sem o saber, Goering
salvou, assim, a RAF da destruição. Assim como Hitler, acreditou erradamente que bastaria desencadear uma
série de ataques maciços contra a velha capital, para obter a derrocada da vontade de resistência da nação
britânica e forçar o Rei a solicitar a paz.

Graças a essa decisão de Goering, a RAF obteve a pausa providencial que lhe permitiu cobrir os grandes
claros abertos em suas fileiras. Durante o mês de agosto, os ingleses tinham perdido mais de 300 pilotos
veteranos e os centros de treinamento só tinham produzido 260 novos aviadores, desprovidos de toda
experiência de combate. No mesmo período, os alemães tinham conseguido derrubar 486 aviões britânicos,
enquanto as fábricas só tinham entregue, em substituição, 269 “Spitfires” e “Hurricanes”.

Além disso - e o que era mais grave - seis dos sete postos de controle que dirigiam a defesa de Londres
tinham sofrido enormes danos, bem como numerosos aeródromos. Como declarou posteriormente o vice-
marechal Keith Park, chefe do Grupo 11, encarregado da defesa do sudeste inglês, se os alemães tivessem
prosseguido em seus violentos ataques contra as instalações terrestres do Grupo de Caça, teriam conseguido
em breve prazo desarticular por completo o sistema defensivo que rodeava a Capital e Londres estaria
indefesa, face aos bombardeios. Nunca, como nesse momento, a Inglaterra esteve tão perto da derrota.

Londres sob as bombas

Na tarde de 7 de setembro de 1940, a Luftwaffe iniciou a batalha de Londres. Hitler e Goering tinham plena
confiança em que a vitória já estava ao alcance de suas mãos. Entretanto, a força aérea alemã não tardaria a
sofrer nova e decisiva derrota. A RAF ainda estava de pé e seus caças, uma vez mais, iriam infligir perdas
ruinosas às esquadrilhas atacantes.

A luta começou com um surpreendente “raid” realizado por 300 bombardeiros, escoltados por 600 caças. Em
duas ondas sucessivas, os aviões alemães sobrevoaram o estuário do Tâmisa e conseguiram abrir caminho
até o centro de Londres. Em poucos minutos, arrojaram uma verdadeira chuva de bombas sobre a Capital,
provocando grandes incêndios e a destruição de muitos edifícios. Ao cair da noite, os alemães reiniciaram
seus ataques e continuaram, sem interrupção, até ao amanhecer. Às 5 horas da manhã, as sirenes anunciaram
finalmente a conclusão do bombardeio. Enormes nuvens de fumaça obscureciam o céu da Capital e, à beira
do Tâmisa, ardiam grandes incêndios. No total, a Luftwaffe lançou sobre Londres, nesse trágico dia, 330
toneladas de bombas explosivas e 440 recipientes de bombas incendiárias. Mais de 300 civis tinham morrido
e 1.337 ficaram feridos.

Enquanto a aviação alemã descarregava os seus golpes devastadores sobre Londres, o Exército e a Marinha
encerravam os preparativos para realizar o plano “Leão Marinho”. A 14 de setembro, Hitler reuniu os chefes
da Wehrmacht, a fim de considerar as possibilidades de êxito do desembarque, à luz dos resultados obtidos
pela ofensiva aérea.

O ditador, depois de formular uma série de argumentos contraditórios, declarou categoricamente que os pré-
requisitos para a realização da invasão não tinham sido alcançados. A RAF não tinha sido eliminada e
recobrava-se, incessantemente, das suas perdas. Era necessário, em conseqüência, destruí-la por completo,
antes de realizar o desembarque. O mau tempo que reinava, segundo ele, havia impedido que a Luftwaffe
conquistasse a supremacia aérea e, portanto, a ordem final para o inicio da invasão estava adiada até 17 de
setembro. A aviação alemã, desse modo, contava com três dias para alcançar uma decisão na luta aérea.

O general Jeschonnek, chefe do estado-maior da Luftwaffe, e o almirante Raeder propuseram então a Hitler
que se concentrassem os bombardeios sobre os bairros residenciais de Londres, a fim de desatar o “pânico
maciço” entre a população. O ditador, entretanto, rechaçou essa sugestão, assinalando que era mais
importante a destruição dos objetivos militares da cidade. Emitiu, em conseqüência, a ordem de reservar os
ataques de terror como “último recurso de pressão”.

Seguindo as diretivas de Hitler, Goering ordenou que as suas forças realizassem, sem demora, um ataque
concentrado contra Londres.

Às 11 da manhã de 15 de setembro de 1940, domingo, as primeiras formações de bombardeiros alemães


começaram a reunir-se sobre seus aeródromos na costa francesa e foram detectados pelos radares ingleses.

No posto de comando subterrâneo do Grupo de Caça 11, encarregado da defesa da Capital, Winston
Churchill presenciou junto ao vice-marechal Keith Park o desenrolar dramático da batalha aérea. Minuto a
minuto, os informes transmitidos pelas estações de radar e postos de observação registraram a aparição e o
avanço de novas formações atacantes. Finalmente, chegou um momento em que todos os aviões do Grupo 11
estavam no ar, empenhados na luta. Churchill, alarmado, compreendeu que as reservas se haviam esgotado.
Os minutos se passaram velozmente. Três esquadrilhas do Grupo 12 incorporaram-se à batalha e os alemães
rechaçados, empreenderam a retirada para a costa. Uma vez mais, a RAF tinha triunfado.

A vitória inglesa de 15 de setembro teve decisivas conseqüências. Hitler compreendeu, finalmente, que a
Luftwaffe não poderia conquistar a supremacia aérea indispensável para o desembarque e ordenou que fosse
dispersada a frota, reunida para a invasão das Ilhas Britânicas. Os bombardeiros britânicos, por sua vez,
contribuíram em grande parte para frustrar o projetado desembarque, pois, em repetidas incursões,
destruíram 12 grandes barcos de transporte e mais de 200 barcaças ancoradas nos portos do norte da França,
Bélgica e Holanda. O plano “Leão Marinho” estava liquidado.

Goering, entretanto, não se resignou com a derrota e continuou com os bombardeios noturnos contra Londres
e outras cidades inglesas. Mas, a batalha já estava perdida. Em três meses de luta cruenta, a Luftwaffe não
conseguira cumprir nenhuma das missões que lhe haviam atribuído. Hitler, diante disso, decidiu procurar a
decisão da guerra em outras frentes e, a 12 de outubro, começou a dispersão das tropas que se haviam
concentrado nos portos do canal. A RAF, com a sua resistência indomável, tinha salvo a Inglaterra.

O último esforço

No dia 20 de outubro de 1940, a Luftwaffe terminou seus ataques diurnos sobre o território inglês. O
Marechal Goering, apesar do fracasso evidente da ofensiva aérea, decidiu realizar um último esforço,
lançando um maciço ataque noturno, contra cidades e portos da Inglaterra. Já no dia 15 de outubro 480
bombardeiros alemães, aproveitando a lua cheia, tinham realizado um devastador reide contra Londres, em
uma incursão que alcançou uma escala infernal, causando centenas de incêndios, a destruição de inúmeros
edifícios, a interrupção dos serviços ferroviários e mais de 1.200 mortos e feridos entre a população civil. O
último e mais terrível ataque foi realizado contra Londres no dia 10 de maio de 1941. 3.000 pessoas ficaram
mortas ou feridas. Uma chuva de bombas incendiárias arrasou dezenas de fábricas, os serviços ferroviários,
os cais, os encanamentos de água, luz e gás e ocasionou mais de 2.000 incêndios. Sob a chuva de bombas, a
Câmara dos Comuns ficou inteiramente destruída.

Assim terminou a ofensiva aérea alemã contra a Inglaterra. Por ordem de Hitler, os efetivos aéreos foram
transferidos para o Leste, para serem utilizados na iminente ofensiva contra URSS.

Anexo
O sistema defensivo britânico
Em julho de 1940, o Comando de caça da RAF contava com uma força de 700 modernos aviões de caça monomotores
(Hurricane e Spitfire). O Comando, cujo QG, instalado na antiga mansão de Bentley Priory, poucos quilômetros ao
norte de Londres, estava integrado por 4 Grupos de Caça que tinham a seu cargo a defesa das diversas zonas do país.
O Grupo 10 defendia o sudoeste, o 11 o sudeste, o 12 o centro e o 13 os território do Norte e a Escócia. Os grupos, por
sua vez, se dividiam em setores. Cada setor tinha uma base principal, ou estação de setor, que constituía a célula básica
de todo o sistema defensivo. Nas estações de setor estavam instalados os equipamentos radiotelefônicos, por meio dos
quais era controlado de terra o movimento das esquadrilhas de caça, com base nos dados obtidos pelas cadeias de radar
e pelos postos de observadores. Os informes das 51 estações de radar, distribuídas ao largo da costa, eram transmitidos
diretamente para o QG de Bentley Priory, onde, num grande mapa, registravam-se, minuto a minuto, a localização e o
deslocamento das formações alemães e das esquadrilhas britânicas enviadas para interceptá-las. O chefe do Comando
de Caça, marechal Sir Hugh Dowding, tinha assim um panorama completo da luta aérea sobre o território britânico. De
Bentley Priory, eram transmitidos os informes e as ordens relativas aos comandos dos distintos Grupos. Em cada
estação de setor, um oficial de controle, utilizando esses dados, guiava pelo rádio o deslocamento das esquadrilhas, até
colocá-las no ponto mais favorável para a interceptação. Uma vez avistados os aviões alemães, o chefe da esquadrilha
tomava a seu cargo a direção dos caças, guiando-os e dirigindo-os até terminar o combate com os aviões inimigos.

Douglas Bader
Londres, 15 de setembro de 1945. Uma multidão jubilosa aglomera-se nas ruas da Capital inglesa. A guerra que
ensangüentou o mundo está terminada. A luta, o sofrimento e o medo ficaram para trás.
Nesse dia, 15 de setembro, a RAF realizará seu último vôo em formação de combate. Será o desfile da vitória. 300
aviadores veteranos de muitas lutas, sulcarão os ares, atroando o espaço com o rugido dos seus motores. Tripulando-os,
centenas de pilotos saudarão a velha cidade que defenderam. Na cabeça do desfile aéreo, 12 sobreviventes das históricas
jornadas de 1940. Na frente deles, como prêmio ao seu valor, um homem, um piloto sem pernas: Douglas Bader.
Nasceu em 21 de fevereiro de 1910. Em sua infância, foi um menino agressivo, de caráter indomável. Desde muito
pequeno, dedicou grande parte do seu tempo aos esportes. Em 1922, faleceu o seu pai, devido a feridas que sofreu na
Primeira Guerra. Pouco depois, aos 13 anos, passa suas férias no campo de aviação de Cranwell, sede da Escola da Real
Força Aérea. Fica impressionado com os aviões, os cadetes, a vida militar. Sente, principalmente o impacto do perigo,
de que nunca se afastará. Quando, pouco mais tarde, abandona a escola para voltar a sua casa, dirá: “Voltarei como
cadete”.
Anos depois, em 1928, consegue concretizar seus propósitos. Ingressa em Cranwell e torna-se cadete de aviação.
Quatro anos depois, a 14 de dezembro de 1932, sofre um grave acidente, em conseqüência do qual perde as pernas. Mas
a desgraça, irreparável para alguns, não abala o seu espírito. Devolvido à vida civil, consegue trabalho e refaz a sua
vida. Uma só coisa lhe falta, para devolver-lhe a felicidade completa: os aviões, o ar, o perigo.
Lenta e pacientemente, aprende a andar com as suas pernas mecânicas. Conduz automóvel e dedica grande parte do
tempo ao golfe. E pensa nos aviões, sua grande paixão...
Chega, assim, o 1° de setembro de 1939. Estala a guerra e Bader sente a inquietude dos velhos tempos. Seu país precisa
dele, o ar lança-lhe o grande desafio. E Bader responde imediatamente. Sem vacilar, apresenta-se às autoridades de
aviação e solicita incorporação ao serviço ativo. Talvez com surpresa de sua parte é aceito. São muitos os que não vêem
com bons olhos o piloto sem pernas. Mas são muitos, também, os que acreditam nele. E Bader corresponde à confiança.
A 13 de fevereiro de 1940, voa pela primeira vez em um Spitfire. Desde esse momento, máquina e homem integrarão
uma unidade.
Seus méritos conduzem-no, lenta mas firmemente, através dos diversos graus hierárquicos. É promovido a chefe de
esquadrilha. Intervêm na evacuação de Dunquerque, através de várias noites de vôos ininterruptos. E chega assim o 9 de
agosto de 1940. Voa esse dia sobre a França, quando seu avião é derrubado. Depois do primeiro momento de
perplexidade, reage e salta do avião. Mas uma de suas pernas artificial, a direita, engancha-se no interior da carlinga.
Desprende-a e arroja-se no vazio. Pouco mais tarde, é aprisionado pelos alemães. Conduzido a um hospital, é tratado
pelos germânicos com a maior deferência. São muitos os que se interessam pelo seu estado e Galland, ás da Luftwaffe,
intervém pessoalmente, propondo que se solicite à RAF o envio de uma nova perna artificial. A Luftwaffe dará ampla
garantia ao avião que a conduza. Pouco depois, a perna é lançada de pára-quedas. Galland convida então Bader para que
visite um de seus aeródromos e permite que ele examine um Me 109. Depois de uma fracassada tentativa de fuga, Bader
continua prisioneiro até o fim da guerra. Recupera, finalmente a liberdade, com a chegada das tropas aliadas.

Adolf Galland
Dia 12 de maio de 1940. Poucas milhas a leste da cidade belga de Liege, dois Messerschmitt voam lado a lado, em
perseguição aos aviões aliados. Repentinamente, o piloto de uma das máquinas, o jovem Adolf Galland, avista 600
metros abaixo do seu avião, uma formação de 8 Hurricanes ingleses. Sem titubear, empurra o manche e lança-se sobre
os caças ingleses. Mais atrás, o seu companheiro acompanha-o na manobra. Galland, invadido por uma estranha calma,
aponta cuidadosamente para um dos Hurricanes e o enquadra em sua mira. Seu polegar aperta o gatilho e um feixe de
traçadoras converge inexorável sobre a frágil fuselagem do Hurricane. O piloto britânico tenta uma manobra evasiva
mas, cai sob o fogo das metralhadoras do outro Messerschmitt. Galland, com uma manobra impecável, volta a colocar o
Hurricane em seu campo de tiro e derruba-o com uma rajada prolongada. Nesta tarde, na base, Galland festeja com seus
camaradas a sua primeira vitória.
Adolf Galland nasceu em 1911. Em 1928 com 17 anos, concretiza a sua vocação aeronáutica e realiza o seu primeiro
vôo com um planador. Pouco depois, em 1932, ingressa em um aeroclube e obtém seu brevê de piloto. O ano de 1934
surpreende-o como segundo-tenente aviador da Luftwaffe. Em 1935 incorpora-se em Berlim, ao grupo de caça
Richtoffen. Em 1937, combate na Espanha como membro da Legião Condor. Em 1940, atua como chefe de ala no 26°
Grupo de Caça. A 1° de agosto de 1940, ao obter o seu 17° triunfo, recebe do marechal Kesselring a cruz de cavaleiro. É
designado comodoro e chefe do 26° Grupo de Caça. Goering rompe assim a tradição, designando um oficial jovem para
cargo tão alto. A 24 de setembro de 1940, alcança sobre o Tâmisa, a sua 40ª vitória e recebe, como prêmio, as folhas de
honra para a cruz de cavaleiro. Molders, outro ás célebre, com quem mantinha uma verdadeira competição, recebera-as
dois dias antes.
Concluída a batalha da Inglaterra, continua combatendo sobre o canal e sobre a costa da França. Seu grupo derruba mais
de 500 aviões inimigos. A 21 de junho de 1941, junto com o 70° triunfo, recebe as espadas de diamante para a sua cruz
de cavaleiro. Em dezembro de 1941, é designado general comandante da força aérea de caça, cargo que ocupa até
janeiro de 1945. Mantém constantes disputas com Goering, defendendo o incremento da força de caças, para defender a
Alemanha dos bombardeiros aliados, e briga ardentemente pela fabricação de caça de retropropulsão Messerschmitt
262. Nesse ponto, entretanto, choca-se com a oposição de Hitler, que decide converter esse avião em caça bombardeiro.
Finalmente, é destituído e assume, então, o comando de uma esquadrilha de caças Me 262, com a qual combate até o
fim da guerra.
A 25 de abril de 1945 diz a seus pilotos: “A guerra está perdida... Embora nossa ação nada possa alterar, continuarei
combatendo... Estou orgulhoso por estar entre os últimos pilotos de caça da Luftwaffe... Só os que sintam o mesmo
continuarão voando comigo...
A 26 de abril, cumpre a sua última missão de guerra. Conduz seis caças Me 262 contra uma formação de bombardeiros
Marauders americanos. Ferido pelo fogo de um Mustang, aterrissa com o seu avião avariado. Pouco depois é
aprisionado.
Levado para a Inglaterra, em 1945, voltou a encontrar-se com Douglas Bader no aeródromo de Tangmere. O ás inglês,
nessa oportunidade, retribuiu as gentilezas de que tinha sido objeto por parte de Galland durante o seu cativeiro na
Alemanha.

A batalha aérea
Relato dos jornais sobre ações aéreas desenroladas no céu da Inglaterra detalhando os ataques de aviões alemães e o
trabalho das esquadrilhas de Hurricanes e Spitfires, encarregados da defesa.
Londres 11 de agosto
“Pela segunda vez em quatro dias, 60 aviões alemães de caça e de bombardeio foram derrubados ao largo das nossas
costas. Desde as 7.30 hs de hoje, nossos Hurricanes e Spitfires e nossas baterias antiaéreas repeliram os ataques de 400
aviões inimigos aos portos e aos barcos das costas sul e leste. Foram perdidos 24 de nossos pilotos de caça”.
“Entre 50 e 60 aviões inimigos apareceram sobre Dover. Os primeiros aparelhos britânicos que saíram em sua
perseguição foram os de uma esquadrilha de Spitfires que entrou 4 vezes em ação durante o dia. O ataque terminou com
a destruição de 10 Me 110”.
“Pouco depois das 10, grande quantidade de bombardeiros e caças voaram sobre Portland. Cerca de 150 alcançaram a
costa. Nessa ação, 40 caíram no mar, ou em terra, quando as esquadrilhas de Spitfires e Hurricanes lançaram-se sobre
eles, rompendo suas formações e atacando-os em lutas encarniçadas”.
“Mal haviam terminado os combates sobre Portland quando começou outra batalha aérea ao norte de Dover, até chegar-
se a Northfereland. A esquadrilha de Spitfires que tinha começado o dia lutando entrou pela quarta vez em combate”.
“O chefe da esquadrilha foi condecorado com a cruz de vôo com uma barra. O oficial de administração que voava com
ele, de 40 anos de idade, derrubou um avião inimigo e avariou outro”.

O bom humor não abandonou o povo britânico, mesmo nos piores momentos da ofensiva aérea contra a Inglaterra.
Estas duas notícias o provam:
Resultado: “68 a 13”
Londres, 14 de agosto
Apesar da intensidade dos bombardeios, o moral do povo inglês é elevadíssimo. Todos - mulheres, homens e crianças -
estão seguros de que a Alemanha será derrotada. São exemplos disso os vendedores de jornais, cujos pregões tem frases
desse tipo: “Só 38 derrubados. Joga-se agora o tempo complementar”. E mais embaixo, com a hora de 3 da madrugada:
“61 depois do tempo complementar”. Outro vendedor havia escrito em seu cartaz: “68 a 13. Por causa da chuva,
suspendeu-se o jogo”.
Cotação 35-40
As autoridades da Bolsa de Valores de Londres evidenciaram seu desagrado ao conhecer uma estranha cotação que
apareceu no quadro negro: Messerschmitt: 35-40. Investigado o episódio, soube-se que os corretores praticam já há
vários dias um novo jogo na Bolsa. A cotação anterior significava que o corretor que a subscrevera comprava títulos de
Messerschmitt a 35 e vendia a 40. Mas o que tivesse vendido a este corretor por 35, devia pagar hoje 78 (cotação de
hoje), pois, esse é o numero de aviões alemães derrubados. O que comprou a 40, ganhou 38 unidades, que podem ser
pênis ou libras.
O velho humor britânico não abandona os ingleses.

Bombas
Londres, 21 de agosto - A película, um musical sem importância, tinha uma assistência de 300 ou 400 pessoas. De
súbito, inesperadamente, a luzes da sala se acendem e o filme foi interrompido. Houve murmúrios na platéia. Em
seguida, saindo de trás da tela, um funcionário do cinema, anunciou com absoluta indiferença: - Há um alarme. Quem
desejar abandonar a sala pode fazê-lo. Continuaremos projetando o filme dentro de dois minutos...
Algumas pessoas se levantaram e saíram em direção à rua
Instantes depois, as luzes se apagam e o filme continuou
Fora dali, meia hora depois de se haverem encerado os espetáculos teatrais e de cinema, muita gente ainda esperava,
sem conseguir nem taxis nem ônibus que os transportassem. A maioria esperava sentada no meio-fio. Mas, em geral,
são poucos os que abandonam suas casas à noite. Nessas horas, em que os alarmes alcançam a sua maior intensidade, as
pessoas preferem não se separar do resto da família. E assim, transcorrem horas e horas no interior dos refúgios de
madeira, construídos nos jardins ou pátios internos. Dentro, a comodidade é pouca, mas, são muitos os que estenderam
conexões elétricas da casa até o refúgio e que passam as horas lendo ou jogando xadrez. Há muita gente que já não
abandona o leito, à chegada dos aviões inimigos. A esse respeito, o Sunday Pictorial insiste na necessidade de dormir e
aconselha a seus leitores que durmam em colchões, nos andares inferiores, junto às paredes do centro da casa.
Aconselha também que escolham para dormir os lugares sob as escadas, a menos que os refúgios disponíveis possam
ser convertidos em dormitórios.

Campanha Aérea da Inglaterra


Poderio aéreo inglês
Unidades de caça:
Hurricanes: 22 esquadrões
Spitfires: 20 esquadrões
Blenheims: 8 esquadrões
Material antiaéreo:
Canhões pesados: 1.200
Canhões leves: 549
Refletores: 5.932
Balões cativos: 1,741
Estações de radar: 51
Postos de observação: 1.400
Observadores: 30.000
Poderio aéreo alemão
2ª Frota Aérea - Kesselring
II Corpo Aéreo - Loerzer
X Corpo Aéreo - Grayert-Coeler
3ª Frota Aérea - Sperrle
VIII Corpo Aéreo - Richthofen
IX Corpo Aéreo - Frolich
XI Corpo Aéreo - Aerotransportado - não atuou
Força total:
Bombardeiros - 998
Caças, 805 Me 109 e 224 Me 110
Stukas - 261
Perdas de aviões
Alemães - 1.733
Ingleses - 915
Perdas de tripulantes
Alemães - 6.000
Ingleses - 733

Aviões alemães derrubados pela artilharia


Artilharia pesada - 169
Artilharia leve - 56
Média de disparos por avião
Artilharia pesada - 427
Artilharia leve - 152
Aviões derrubados de dia: 207; à noite: 22

Bombas lançadas pela Luftwaffe (Agosto-Outubro de 1940)


Objetivo Explosivas (em ton) Incendiárias (rec *)
Londres 13.755 14,421
Liverpool 1.000 2.116
Birmingham 447 1.075
Coventry 271 831
Bristol 135 126
Southampton 123 77
Plymouth 63 74
Outros alvos 1.519 499
Barcos, ferrovias, fábricas, etc 3.193 3.682
Total 20.506 22.901
* rec = recipiente: Cada um levava 36 bombas de 1 kg

Você também pode gostar