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GRUPO DE ESTUDOS EM HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
Estudante responsável pelo fichamento: Maurício Pereira Gomes

1.Análise da obra.

1.1 Do autor do texto, identificação e trajetória acadêmica.

Eric Hobsbawm nasceu em 1917 no Egito, época em que este integrava o império britânico. É
judeu, viveu na Áustria e na Alemanha (na época de ascenção de Hitler), tendo se transferido
para a Inglaterra onde se formou e obteve doutorado em história, aproximou-se dos teóricos
marxistas e ingressou no partido comunista britânico. Especialista no estudo dos séculos XIX e
XX, defende a atualidade do método materialista histórico dialético, sendo considerado por
muitos como o maior historiador vivo na atualidade. Com 95 anos vive entre Londres e Nova
York.

Lecionou, recebeu prêmios e é doutor honoris causa em universidades espalhadas pelo


mundo. Tem dezenas de livros publicados, dentre eles: A Era das Revoluções (1962), Era do
Capital (1975), Era dos Impérios (1987), Era dos Extremos (1994), além do recente How change
the world: Tales of Marx and Marxism (1911).

1.2. Qual a questão discutida no livro? Qual a problemática?


O livro é uma coletânea de aulas, palestras e textos produzidos pelo autor principalmente
durante as décadas de 80 e 90 do século passado. As problemáticas são muitas, todas com
relação direta ou indireta com a questão da história, seus princípios e desafios, em temas
distribuídos em 22 capítulos, como relação entre história e economia, história e antropologia,
a “historia de baixo para cima”, a história do tempo presente, etc. Em comum muitos deles
contemplam a defesa da atualidade e produtividade do método materialista histórico
dialético nas ciências sociais em geral e na história em particular.

1.3 De que lugar o está falando?


Ainda que no curso da obra ataque as perspectivas eurocentricas e colonialistas de se fazer e
conceber a história, ele fala da dos principais universidades auropéias e americanas onde
lecionou.

1.4. Como faz a relação entre passado e presente.


Com erudição, fluência e respaldo teórico (ainda que às vezes criticado por não citar as suas
fontes), Robsbawm articula passado e presente, muitas vezes acumulando a condição de
testemunha privilegiada do “breve” século XX.

1.5. Qual o público alvo da obra?


Principalmente historiadores, estudantes, jornalistas. Cientistas sociais e economistas se
imaginassem seu conteúdo.

1.6. Qual a definição do tempo da obra? Sobre quais personagens escreve?


O “personagem” do livro é a história e seus desafios no presente e no futuro.

1.7 Quais as fontes que utiliza?


Robsbawm articula seus textos citando autores e obras mil, isso sem falar de seus diferentes
testemunhos.
1.8 Quais os autores mais referenciados?
O autor mais referenciado é Karl Marx e as demais referências surgem articuladas de modo
fluído no texto. Enciclopédico.

Fichamento.

Levando em conta os fatores tempo e bibliografia a ser estudada, considero mais oportuno um
fichamento que, após a leitura completa da obra, permita ter uma idéia geral de seus
principais pontos, perspectiva que dialoga a quantidade de capítulos temáticos (22) reunidos
no livro. Fica justitificada, assim, a opção por citações entre aspas. Por outro lado, as desde já
reconhecidas lacunas – e não são poucas – vêm a confirmar que nenhum fichamento ou
resenha substitui a tarefa da leitura.

Capítulo 1. Dentro e fora da história.


“Ora, a história é a matéria-prima para as ideologias nacionalistas ou étnicas ou
fundamentalistas, tal como as papoulas são a matéria-prima para o vício da heroína. O
passado é um elemento essencial, talvez o elemento essencial nessas ideologias. Se não há
nenhum passado satisfatório, sempre é possível inventá-lo.” (17)
Abordando os riscos do uso político-ideológico da história trata das responsabilidades de todo
historiador, ataca os romances históricos que confundem as fronteiras entre história e ficção,
além das modas ‘pós-modernas’, no seu dizer em voga nos departamentos de literatura e
antropologia, “as quais implicam que todos os ‘fatos’ com existência pretensamente objetiva
não passam de construções intelectuais – em resumo, que não existe nenhuma diferença clara
entre fato e ficção. Mas existe, e para nós, historiadores, inclusive para os antipositivistas mais
intransigentes, a capacidade de distinguir entre ambos é absolutamente fundamental.” 18

Capítulo 2 O sentido do passado.


Capítulo 3 O que a história tem a dizer-nos sobre a sociedade contemporânea?
Depois de discorrer sobre o uso da história para fins de legitimação dos Estados nacionais,
atribui aos historiadores contemporâneos a tarefa de re-escrever essas histórias, não com base
em ideologias. Deve-se recorrer, pois, à metodologia científica que para Robsbawm tem no
marxismo marco fundamental ainda não superado: “..não é possível nenhuma discussão séria
da história que não se reporte a Marx ou, mais precisamente, que não parta de onde ele
partiu. E isso significa, basicamente – como admite Gellner -, um concepção materialista de
história.” 43
Capítulo 4 A História e a previsão do futuro.
Capítulo 5 A História progrediu?
“Em essência, o que assistimos durante o século XX é justamente o que os historiadores
hortodoxos da década de 1890 reijeitavam por completo: uma aproximação entre a história e
as ciências sociais. É claro que a história não pode ser mais que parcialmente subordinada sob
o título de uma ou talvez outra ciência social. Não que isso impeça alguns historiadores de se
concentrarem em que problemas que poderiam ser e também são abordados por, digamos,
demógrafos ou economistas de orientação historicista. De qualquer modo, não impede. Claro
que a aproximação não se dá apenas por um dos lados. Se os historiadores progressivamente
recorreram a várias ciências sociais em busca de métodos e modelos explicativos, as ciências
sociais progressivamente tentaram se historicizar e com isso recorreram aos historiadores.”75
Vale a pena aqui prosseguir na leitura da passagem onde Hobsbawm destila sua reticência com
os métodos das outras ciências sociais e observa que “a história se afastou da descrição e da
narrativa e se voltou para a análise e a explicação”.
“Sim, houve progresso na história pelo menos no curso das três últimas gerações *trata-se de
uma aula inaugural dada em 1979], principalmente pela convergência da história e das ciências
sociais, mas foi modesto e pode ser que, no momento, esse processo esteja obstado. Em
primeiro lugar, seus avanços principais certamente foram obtidos por uma simplificação
necessária, a qual, agora que o avanço foi obtido, revela certos inconvenientes. É por isso que
atualmente há um movimento nítido no sentido de reenfatizar aquela história política que por
tanto tempo foi detratada pelos historiadores revolucionários.” 77/78

Capítulo 6 Da História Social à História da Sociedade.


Ainda no preâmbulo Hobsbawm faz um famoso “mea culpa” sobre a “embaraçosa surpresa”
que constituiu a constatação de que o ensaio, não obstante o título e objetivo declarados, não
tenha contemplado uma única linha sobre a história das mulheres. 83

Capítulo 7 Historiadores e economistas: I


“Se a economia não pretende permanecer vítima da história, constantemente tentando aplicar
seu estojo de ferramentas, geralmente com atrasos, a desenvolvimentos de ontem que se
tornaram suficientemente visíveis para dominarem a cena hoje, ela precisa desenvolver ou
redescobrir essa perspectiva histórica.” 120

Capítulo 8 Historiadores e economistas: II


O autor ataca historiadores e cientistas sociais que sucumbem à tentação de enfatizar os
mecanismos de transformação econômica em detrimento da consideração da historicidade de
seus contextos: “Sabemos que o desenvolvimento da economia mundial, para não falar de
uma parte dela, não é apenas uma reunião das precondições para o ‘crescimento’ e, em
seguida, a investida flutuante para a frente, a corrida de maratona rostoviana na qual todos
seguem a mesa trilha rumo ao mesmo ponto de chegada, embora partindo em diferentes
momentos e correndo em velocidades distintas. Tampouco depende meramente de ‘corrigir a
política econômica’, ou seja, da correta aplicação de uma teoria econômica atemporal
‘correta’, matéria sobre a qual, como sempre acontece, não há nenhum acordo entre os
economistas.” 136

Capítulo 9 Engajamento.
“Em resumo, para todos os envolvidos no discurso científico, as proposições devem estar
sujeitas a validação por métodos e critérios que não estejam, em princípio, sujeitos ao
engajamento, independente de suas consequências ideológicas e de sua motivação. As
proposições não sujeitas a tal validação podem ser, entretanto, importantes e valiosas, mas
pertencem a um discurso de ordem diferente.” 142
“Os imperativos da política, por mais que esta possa se basear na análise científica, não são
idênticos às proposições científicas, embora possam ser idealmente derivados desta com
maior ou menor distanciamento. A autonomia relativa da política (que inclui considerações de
conveniência, de ação, vontade e decisão) não só impede a identidade, mas até a simples
analogia entre as duas esferas.” 143.
“..embora um componente de advocacia seja inseparável de todo o debate, é preciso ter bem
clara a diferença entre advocacia e discussão científica (conquanto engajada).” 145
“As ciências sociais são essencialmente ‘ciências aplicadas’ destinadas, para usar a frase de
Marx, a transformar o mundo e não somente interpretá-lo (ou, então, explicar por que ele não
precisa ser transformado).” 149
“O fato de que, no passado, as ciências, e especialmente as ciências sociais, eram inseparáveis
do engajamento não prova que o engajamento seja vantajoso para elas, mas apenas que é
inevitável.” *....+ “Não obstante, nas ciências sociais, e provavelmente em todas as ciências nas
quais se vislumbram implicações para a sociedade humana (que talvez não sejam meramente
tecnológicas), ‘externas’ são, em grande parte, e de fato primordialmente, a experiência, as
idéias e a atividade do cientista como pessoa e como cidadão, como filho do seu tempo. E os
cientistas engajados são aqueles que mais tendem a usar sua experiência ‘externa’ no trabalho
acadêmico.” 150
Capítulo 10 O que os historiadores devem a Karl Marx?
Referindo-se ao séc. XIX diz que a história do período era extremamente retrógrada e suas
contribuições insignicantes e ocasionais. (156/157)
“Em 1910, já se notava que, a partir da metade do século XIX, havia se tentado
sistematicamente introduzir um referencial materialista no lugar de seu referencial idealista,
levando assim a um declínio da história política e à ascenção da história ‘econômica’ ou
‘sociológica’, sem dúvida, sob o estímulo, cada vez mais premente do ‘problema social’ que
‘dominava’ a historiografia da segunda metade daquele século.” 157
Hobsbawm credita essa influência a teoria marxista, que ao lado do escola dos Annales,
deixaram suas marcas na história produzida no século.
“A imensa força de Marx sempre residiu em sua insistência tanto na existência da estrutura
social quanto na sua historicidade, ou, em outras palavras, em sua dinâmica interna de
mudança. Hoje , quando a existência de sistemas sociais é geralmente aceita, mas a custa de
sua análise a-histórica, quando não anti-histórica, a ênfase de Marx na história como dimensão
necessária talvez seja mais essencial que nunca.” (162/163)
Para esse leitor a parte final dessa última transcrição constitiu o ponto alto da obra em estudo.
Hobsbawm marxista fervoroso, educador engajado e historiador!

Capítulo 11 Marx e a História.


“A influência de Marx sobre os historiadores, e não só historiadores marxistas, baseia-se,
contudo, tanto em sua teoria geral (a concepção materialista da história), com seus esboços,
ou pistas, sobre a compleição geral do desenvolvimento histórico humano a partir do
comunalismo primitivo até o capitalismo, quanto em suas observações concretas relativas a
aspectos, períodos e problemas específicos do passado.”173/174
“Quanto ao futuro previsível, teremos que defender Marx e o marxismo dentro e fora da
história, contra aqueles que os atacam no terreno político e ideológico. Ao fazer isso, também
estaremos defendendo a história e a capacidade do homem de compreender como o mundo
veio a ser o que é hoje, e como a humanidade pode avançar para um futuro melhor.” 184

Capítulo 12 Todo povo tem história.


Capítulo 13 A História britânica e os “annales”: um comentário.
“Da mesma forma, o marxismo insistia sobre a questão levantata por Peter Burke, a saber, a
importância crucial da estrutura de classes, da autoridade, dos múltiplos interesses dos
governantes e governados e as relações entre eles também no campo das idéias. Além desse
elemento marxista, acho que há a influência dupla à qual Peter Burke se referiu. Em primeiro
lugar, temos uma tradição, cultivada em casa, no estudo da cultura em um sentido quase
antropológico, conforme representadas por pessoas como Raymond Willians ou mesmo
Edward Thompson, em seus textos sobre a cultura do século XIX, tanto a alta cultura quanto a
média. Eles generalizaram essa cultura em uma história das mentalidades. Porém, mais
especificamente, há a importância da antropologia social.” 198 Hobsbawm reconhece a é
encarar a influência que a disciplina exerceu sobre ele, sobre a historiografia inglesa, cujos
modelos são instigadores.
“O que eu gostaria de fazer e o que acho que devemos fazer é encarar a mentalidade como um
problema não de empatia histórica ou de arqueologia, ou, se preferirem, de psicologia social,
mas da descoberta da coesão interna de sistemas de pensamento e comportamento que se
adequam ao modo pelo qual as pessoas vivem em sociedade, em sua classe particular e em
sua situação particular da luta de classes, contra aqueles de cima, ou, se preferirem, de baixo.”
200

Capítulo 14 A volta da narrativa.


Capítulo 15 Pós-modernismo na floresta.
Capítulo 16 A História de baixo para cima.
“Em muitos casos, o historiador dos movimentos populares descobre apenas o que está
procurando, não o que já está esperando por ele. Muitas fontes para a história dos
movimentos populares apenas foram reconhecidas como tais porque alguém fez uma
pergunta e depois sondou desesperadamente em busca de uma maneira – qualquer maneira –
de respondê-la. Não podemos ser positivistas, acreditando que as perguntas e as respostas
surgem naturalmente do estudo do material.” (220)

Capítulo 17 A curiosa história da Europa.


“Podem os continentes ter uma história enquanto continentes? Convém não confundir
política, história e geografia, principalmente no caso dos contornos nas páginas dos atlas, que
não são unidades geográficas naturais, mas apenas nomes humanos para partes de massa
terrestre global. Além disso, desde o início, ou seja, já na Antiguidade, quando os continentes
do Velho Mundo foram pela primeira vez batizados, estava claro que esses nomes pretendiam
mais do que um mero significado geográfico.” 232

Capítulo 18 O presente como História.


“A questão sobre a qual desejo me concentrar é a de que até o passado registrado muda à luz
da história subsequente.” 250
“Cito minha experiência não porque deseje persuadir vocês a verem o século também nessa
perspectiva, mas apenas para demonstrar a diferença que viver dois ou três anos dramáticos
pode fazer ao modo como um historiador considera o passado. Será que um historiador,
escrevendo num período de cinquenta anos, verá nosso século sob essa luz? Quem sabe? Não
importa se eu me preocupo. Mas é quase certo que ele estará menos à mercê de movimentos
de prazo relativamente curto do clima histórico, conforme experimentados por aqueles que os
vivem. É essa a dificuldade do historiador de seu próprio tempo.” 252
“Se hoje é possível pelo menos abandonar o padrão dos opostos binários mutuamente
exclusivos, ainda não se tem nenhuma clareza sobre qual das alternativas concebíveis pode ser
substituída de modo mais proveitoso. Mais uma vez, devemos deixar que o século XXI tome
suas próprias decisões.” 253

Capítulo 19 Podemos escrever uma História da Revolução Russa?


No texto o autor enfrenta a questão do problema da história contrafactual (e se...)256

Capítulo 20 Barbárie: manual do usuário.


Para Hobsbawm nossas sociedades se acostumaram com um padrão de convivência que pode
ser considerado desprovido de civilização, onde muitos vivem em condições desumanas. O
século XX foi marcado pelo crescimento da barbárie e a diminuição da capacidade de se chocar
com ela, tendência que para ele persiste. E indica uma ruptura e o colapso “dos sistemas de
regras e comportamento moral pelos quais todas as sociedades controlam as relações entre
seus membros e, em menor extensão, entre seus membros e os de outras sociedades. Em
segundo lugar, ou seja, mais especificamente, a reversão do que poderíamos chamar de
projeto do Iluminismo do século XVIII, a saber, o estabelecimento de um sistema universal de
tais regras e normas de comportamento moral, corporificado nas instituições dos Estados e
dedicado ao progresso reacional da humanidade: à Vida, Liberdade e Busca da Felicidade, à
Igualdade, Liberdade e Fraternidade, ou seja lá o que for. As duas coisas estão agora
acontecendo e reforçam seus respectivos efeitos negativos em nossas vidas. A relação entre
meu tema e a questão dos direitos humanos deve, portanto, ser óbvia.” 269
O autor dá exemplos e discorre sobre a crescente barbarização no mundo, tendência que para
ele teve início com a I Guerra Mundial, extrapolou todos os parâmetros na II Guerra Mundial e
se acirra com a chegada do final do séc. XX. Dá o exemplo da tortura, praticada
indistintamente sob as mais diferentes ideologias, os horrores das guerras civis
contemporâneas. “Guerra total e Guerra Fria fizeram em nós uma lavagem cerebral para
aceitarmos a barbaridade. Pior ainda: fizeram a barbaridade parecer insignificante,
comparadas a questões mais importantes como ganhar dinheiro.” 279

Capítulo 21 Não basta a história de identidade.


“Que a história esteja indissoluvelmente ligada à política contemporânea – como continua a
demonstrar a historiografia da Revolução Francesa – provavelmente não é hoje uma
dificuldade importante, pois os debates dos historiadores, pelo menos em países de liberdade
intelectual, são conduzidos dentro das normas da disciplina. Além disso, muitos dos debates
mais carregados de conteúdo ideológico entre historiadores profissionais referem-se a
questões sobre as quais os não-historiadores menos sabem e se importam. No entanto, todos
os seres humanos, coletividades e instituições necessitam de um passado, mas apenas
ocasionalmente o passado é revelado pela pesquisa histórica. O exemplo-padrão de uma
cultura de identidade, que se ancora no passado por meio de mitos disfarçados de história, é o
nacionalismo. Ernest Renan observou há mais de um século, ‘Esquecer, ou mesmo interpretar
mal a história, é um fator essencial na formação de uma ação, motivo pelo qual o progresso
dos estudos históricos muitas vezes é um risco para a nacionalidade.’ As nações são entidades
historicamente novas fingindo terem existido durante muito tempo. É inevitável que a versão
nacionalista de sua história consista num anacronismo, omissão, descontextualização e, em
casos extremos, mentiras. Em um grau menor, isto é verdade para todas as formas de
identidade, antigas ou recentes.” 285
Mais uma vez Robsbawm contrapõe história e ficção, vinculando a última a tendêndias ‘pós
mdernistas’, que para ele fomentam um relativismo extremado, uma espécie de convívio de
diferentes verdades, todas válidas.
“Sem entrar no debate teórico sobre essas questões, é essencial que os historiadores
defendam o fundamento de sua disciplina: a supremacia da evidência. Se os seus textos são
ficções, como o são em certo sentido, constituindo-se de composições literárias, a matéria-
prima de tais ficções são fatos verificáveis. O fato de que os fornos nazistas tenham existido ou
não pode ser estabelecido por meio de evidências.” (267/287)
“Insistir na supremacia da evidência e na importância central da distinção entre fato histórico
verificável e ficção é apenas uma das maneiras de exercer a responsabilidades do historiador
e, como a atual fabricação histórica não é o que era antigamente, talvez não seja mais
importante. Ler os desejos do presente no passado ou, em termos técnicos, anacronismo, é a
técnica mais comum e conveniente de criar uma história que satisfaça as necessidades do que
Benedict Anderson chamou ‘comunidades imaginadas’ ou coletivos, que não são, de modo
algum, apenas nacionais.” 288
Aos historiadores cabe a tarefa de desconstruir mitos. “Infelizmente, como demonstra a
situação em áreas enormes do mundo no final de nosso milênio, a história ruim não é história
inofensiva. Ela é perigosa. As frases digitadas em teclados aparentemente inócuos podem ser
sentenças de morte.” 292

Capítulo 22 Manual Introdução ao Manifesto Comunista.


O autor conta a história do Manifesto, o contexto histórico de sua elaboração e sua
impressionante difusão pelo mundo. Depois de frisar que se trata de um clássico, questiona o
que ele ainda teria a nos dizer. Realça a importância da ação política, de uma práxis social
mediante ações coletivas. E questiona qual a escolha que o século XXI fará entre o socialismo e
a barbárie. 308

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