Quando me lembro da época em que dependíamos do orelhão, do telefone fixo,
das cartas, fico espantada ao constatar como o mundo mudou! Como a facilidade em nos comunicar cresceu e nos ajuda. Favorece tanto os encontros como a possibilidade de desfrutar da solitude. Tenho acesso rápido a todas as pessoas que conheço, que fazem parte dos meus contatos, e também posso dialogar com as que não conheço. Outro dia, entrei numa transmissão ao vivo de uma mulher que eu não fazia a menor ideia de quem era. Conversamos até! E, ao final da transmissão, nada ficou registrado a não ser na memória de quem também esteve na live. Quando iniciei a minha carreira na TV, fazer transmissão ao vivo dependia de caminhões superequipados, chamados de unidades de link. Era coisa cara, para poucas emissoras. Hoje fazemos via celular! Quero me acostumar, mas ainda fico admirada... Gosto bastante de toda a comodidade que a era digital proporciona. E constato que as relações entre as pessoas foram alteradas, obviamente, mas a base dos comportamentos se mantém. Por exemplo, as teorias conspiratórias que são propagadas pelas redes sociais também existiam na era pré-digital. Como os boatos se alastravam? Não sei dizer. Mas um bom exemplo aconteceu em 21 de abril de 1985: de uma hora para a outra, o país todo começou a se perguntar se Tancredo Neves não teria sido assassinado com um tiro durante uma missa! Por conta de uma lenda que se alastrou muito rápido. Hoje, vasculhar a vida dos outros, perseguir – stalkear, como dizem no meio digital – é a versão atualizada de uma prática que também já existia antes dos tempos modernos. Querer saber da vida alheia e colher informações era possível por meio da fofoca. A diferença que observo é que atualmente posso ter informações a respeito de quem não conheço: de um cantor, uma atriz, por exemplo. Minha maior dificuldade é dosar a minha exposição na internet. Empresas esperam que eu tenha um perfil nas redes sociais. Vivi muito tempo sem conta no Facebook, no Twitter etc. Porém, chegou um momento em que isso foi necessário. Era como se eu não existisse sem as informações que aparecem nessas plataformas. Pessoas começaram a dizer que estavam com dificuldade para entrar em contato comigo. Então percebi que era inevitável entrar na teia. Não acho ruim, mas no início senti desconforto, sim. Tento usar o bom senso e fazer um mix de vida pessoal e profissional. Sou cautelosa com a exposição de outras pessoas nas minhas redes. Não quero causar constrangimentos ao mostrar uma amiga, por exemplo, em situação que ela não gostaria. Tenho o cuidado de pedir permissão antes de publicar uma foto ou um vídeo. Nem todo mundo age da mesma maneira. E acho extremamente chato quando me vejo nas redes de outra pessoa sem ao menos ter sido consultada. Apesar da ideia da superexposição, creio que não perdemos o direto à solitude, como mencionei anteriormente. Pelo contrário. Por exemplo, se desejo ficar só e preciso finalizar um trabalho, tenho a opção de me comunicar e resolver qualquer assunto sem emitir som algum. Mensagem ou e-mail resolvem. Permito-me, sempre que sinto a necessidade, de ficar off de tudo. Seleciono as pessoas que podem me acessar. Retiro- me. E se quiser nessa reclusão visitar um museu de Paris, por exemplo, o faço pelo site. Adquiro cultura. Faço meditação. Converso em outros idiomas com nativos. Sem sair da minha casa. Sobrevivo à era digital com facilidade. Incorporei à minha rotina novos hábitos que, para quem é resistente às mudanças, podem ser mais complicados, porém creio serem essenciais. E tornam a vida melhor. Me preocupo com informações que são veiculadas. São muitas fontes. E a manipulação dos fatos, algumas vezes, é evidente. O que, outra vez, não é novidade. Nem consequência da tecnologia. De verdade, o que me incomoda nessa era em que vivemos é o fato de saber que todos os meus dados, meus costumes, as pessoas com as quais estabeleço contato, os locais que visito, as ruas por onde ando, os sites que acesso... tudo, absolutamente tudo, está documentado e pode ser consultado. Não há segredo nem sigilo. Posso ser cautelosa, discreta, reservada no jeito de me mostrar. Mas, se acharem conveniente, minha vida pode ser devassada a qualquer momento. Já que não tenho como me esquivar desse ônus, procuro focar nas facilidades que ficam à minha disposição e usar a tecnologia a meu favor. Me recuso a vasculhar a vida dos outros. Não entro em discussões nem bate-bocas pelas redes sociais. Sou cautelosa e atenciosa ao responder fãs e seguidores do meu canal. Cuido para resolver mal-entendidos. Não gosto de demorar para responder mensagens, e-mails etc. Desconfio de informações compartilhadas sem as fontes. Questiono as fontes. Não dou crédito às fontes duvidosas. Não repasso correntes. Não compartilho minhas conversas pessoais com quem não fez parte do bate-papo. Nunca mandei nudes. Mesmo quem não quer está inserido na era digital. Tenho a sensação de que é uma fase em desenvolvimento. Ainda há muito para acontecer, as atualizações são rápidas e constantes. Lembro que, no início, lá pelos anos 2000, eu me irritava cada vez que surgia uma ferramenta ou uma plataforma nova. Porque, quando eu me rendia e conseguia me adaptar, aparecia outra, desconhecida, que desafiava minha inteligência. Me desarmei, cedi. Precisei rever meus valores para entender que vivia uma fase distinta. Identifiquei que era necessário me reinventar como pessoa e como profissional. Sobrevivo melhor quanto mais me abro ao novo. Incorporar o aprendizado e aprender a usá-lo de maneira espontânea é me manter ativa, criativa, com a alma arejada e a cabeça fresca. Saber me ajustar às situações é sempre muito útil em todos os aspectos. Sobreviver é mais que suportar. É viver com sabedoria, com a habilidade para valorizar o que é bom e minimizar o que traz incômodo.