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Milliet chegou a afirmar que Mario em seu amor por São Paulo viveu a
sublimação do amor sexual. Sensual, Mario celebrava a vida: “Eu danço
manso a dança do ombro/ Eu danço...Não sei mais chorar!...” Como
Rimbaud, que proclamava “un long, immense et raisonné dérèglement de
tous les sens”, Mario buscava o excesso: “Tarde, recreio do meu dia, é
certo, / Que só no teu parar se normaliza / A onda de todos os
transbordamentos/ De minha vida inquieta e desregrada”. Jamais
choramingava: “A vida é para mim está se vendo/ Uma felicidade sem
repouso. / Eu nem sei mais se gozo, pois o gozo/ Só pode ser sentido em se
sofrendo”. Esta sensualidade faculta-lhe dizer: “A própria dor é uma
felicidade!”. Seus sentidos estão atentos ao ambiente, de modo que um
simples perfume de rosa provoca-lhe um estado psicológico especial:
“Deve haver aqui perto uma roseira florindo/ Não sei... sinto por mim uma
harmonia/ um pouco da imparcialidade que a fadiga traz consigo”.
Se Eliot, em “The Waste Land”, censura abril por ser o mais cruel dos
meses, “the cruellest month”, por misturar memória e desejo e compelir
raízes preguiçosas com chuvas de primavera, Mario, ao contrário, pelo
mesmo motivo, celebra o mês de abril, a que associa lembrança e volúpia:
(“Eu encontro em mim mesmo uma espécie de abril” (I – Girassol da
madrugada) ou ainda “Oh espelhos, Pireneus, caiçaras insolentes, por que
não sereis sempre assim?/ Abril...”(Lira Paulistana). Em muitas destas
tardes ele se embevecia diante dos revérberos mortiços dos úmidos
crepúsculos do abril paulistano. Como neste
“Poema da amiga
Quem viu São Paulo das tardes de abril e maio, sabe do que Mário está
falando. Aliás, outros poetas paulistas também cantaram tais poentes.
Guilherme de Almeida o diga. Sérgio Milliet afirmava: “Crepúsculos de
abril, ó tão suave/ descanso que precede outro descanso. / São Paulo de
abris e maios/ Sabendo a marzipã”. São tardes intimistas, em que os casais
se tornam mais carinhosos. Aqui, Mario se reporta a estas tardes outonais,
matizadas pelas cores violáceas e desmaiadas da estação de baixas
temperaturas, o outono paulistano, de frio moderado. Tardes de raios
solares mortiços, filtrados pelas nuvens plúmbeas, pela bruma e pela névoa.
Tudo convida à intimidade e ao carinho. Daí o poeta afirmar, num verso de
beleza admirável - “A tarde se deitava nos meus olhos”, traduzindo a
sensualidade da tarde, felina, voluptuosa.