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UNICAMP

CANÇÕES ESCOLHIDAS

CARTOLA

@pro%enriquelandim
“o mundo é um
moinho
Vai triturar teus
sonhos, tão
mesquinho
Vai reduzir as
ilusões a pó”
(Cartola)
CANÇÕES ESCOLHIDAS
AUTOR MOVIMENTO LITERÁRIO
Cartola (Angenor de Oliveira) Modernismo

A ESCRITA GÊNERO LITERÁRIO


Entre 1930 a 70 Gênero lírico: obra possui 10
canções
AS CANÇÕES
1. “Alvorada”
2. “As rosas não falam”
3. “Cordas de aço”
4. “Disfarça e chora”
5. “O inverno do meu tempo”
6. “O mundo é um moinho”
7. “Que é feito de você?”
8. “Sala de recepção”
9. “Silêncio de um cipreste”
10.“Sim”.
AS MARCAS DAS CANÇÕES
§ POESIA E LIRISMO: Cartola era um poeta talentoso, e suas letras são
marcadas por uma linguagem poética e sensível. Suas músicas frequentemente
exploram temas como o amor, a saudade, a melancolia e a vida nas favelas do RJ.
§ MELODIAS ENVOLVENTES: As melodias de suas músicas são cativantes e
emotivas. Cartola era um exímio compositor melódico e suas canções possuem
uma riqueza melódica que se destaca.
§ HARMONIAS SOFISTICADAS: As harmonias em suas músicas são muitas
vezes complexas e repletas de acordes ricos, criando uma sonoridade única.
§ INFLUÊNCIAS DO SAMBA TRADICIONAL: Cartola foi um dos
principais expoentes do samba tradicional carioca. Suas músicas incorporam
elementos clássicos do samba, como a batida característica do violão, a cadência
rítmica e a influência das rodas de samba.
AS MARCAS DAS CANÇÕES
§ TEMAS AUTOBIOGRÁFICOS E COTIDIANOS: Suas letras
frequentemente refletem experiências pessoais, bem como retratam cenas
do coJdiano da vida nas favelas e dos subúrbios cariocas.
§ USO POÉTICO DE IMAGENS E METÁFORAS: Cartola Jnha
uma habilidade única para uJlizar imagens e metáforas poéJcas em suas
letras, enriquecendo suas composições com um simbolismo e uma
profundidade emocional.
§ CONTRIBUIÇÃO PARA O RESGATE DO SAMBA: Cartola foi
um dos compositores e intérpretes fundamentais no resgate e valorização
do samba tradicional no Brasil, tornando-o um dos pilares da música
popular brasileira.
SAMBA-CANÇÃO
Tipo de samba mais lento, melódico e romântico, que
surgiu no final da década de 1920 e se popularizou na
década de 1950. O samba-canção se caracteriza pela sua
beleza poética e pela sua riqueza harmônica. As letras
expressam sentimentos variados como a alegria, a
tristeza, o amor, a saudade e a crítica social. As melodias
são influenciadas por gêneros musicais estrangeiros,
como a balada estadunidense e o bolero cubano. Alguns
exemplos de sambas-canções de Cartola são “As Rosas
não Falam”, “O Mundo É um Moinho” e “Preciso me
Encontrar”.
SAMBA DE PARTIDO ALTO
Modelo de samba mais rápido, improvisado e
animado, que surgiu na década de 1920 e se
desenvolveu nas rodas de samba das escolas e dos
morros. O samba de partido alto se caracteriza pela
sua espontaneidade, humor, ironia e pela sua crítica
social. As letras são feitas na hora, em forma de desafio
entre dois ou mais cantores, que se alternam entre um
refrão fixo e versos soltos. O ritmo é marcado pelo uso
de instrumentos tradicionais do samba, como o
cavaquinho, o violão, o pandeiro, o surdo e o
tamborim. Alguns exemplos de sambas de partido alto
de Cartola são “Acontece”, “Alvorada” e “Autonomia”.
ANÁLISE DAS CANÇÕES

@pro%enriquelandim
UNICAMP
ALVORADA
O eu lírico se apresenta Nessa estrofe, o eu lírico
como um cantor do morro, Lá no morro, quanto mais eu canto descreve a alvorada no
que tem o reconhecimento e Mais o povo quer me ouvir morro como um momento
o carinho do seu público. Ele O sol que desponta no céu da cidade de beleza e alegria, sem
também associa o seu canto Vem abençoar o dia que vem surgir espaço para o sofrimento
ao sol que nasce, como se ou o ressentimento. Ele usa
fosse uma forma de saudar e repetições e rimas para
agradecer pelo novo dia. Ele
Alvorada lá no morro que beleza enfatizar a admiração pela
usa a palavra “abençoar” Ninguém chora, não há tristeza paisagem e pela harmonia
para mostrar a sua fé e a sua Ninguém sente dissabor entre o sol e a natureza. Ele
gratidão pela vida. Ele O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo também personifica a
também contrasta o morro E a natureza sorrindo tingindo a alvorada natureza, dizendo que ela
com a cidade, mostrando sorri e tinge a alvorada,
que há uma diferença entre Eu também vou madrugar como se fosse uma artista
os dois espaços, mas que Vou pra porta do terreiro ver o dia clarear que pinta o céu com cores.
ambos são iluminados pelo
Eu também vou madrugar
sol.
Vou pra porta do terreiro ver o dia clarear.

Nessa estrofe, o eu lírico revela a sua intenção de acordar cedo para ir ao terreiro, o lugar sagrado do candomblé. Ele
mostra a sua devoção pela religião e pelo seu espaço de pertencimento. Ele também usa repetições para expressar a sua
determinação e o seu entusiasmo. Ele quer ver o dia clarear, ou seja, ele quer testemunhar o nascer do sol e sentir a sua
energia. Ele também usa a palavra “porta” para indicar que ele está na entrada do terreiro, como se fosse um convite para
entrar ou um limite entre o sagrado e o profano.
AS ROSAS NÃO FALAM
O eu lírico expressa a Aqui o eu lírico volta ao
sensação de esperança jardim, que pode ser o
misturada com tristeza. O
Bate outra vez
lugar onde ele costumava
verbo "bate" sugere a batida Com esperanças o meu coração se encontrar com o seu
do coração, que é Pois já vai terminando o verão amor, ou também um
comparada às esperanças Enfim símbolo da natureza e da
que o eu lírico ainda
vida. Ele sabe que vai
mantém, apesar das
circunstâncias difíceis. A Volto ao jardim chorar, pois tem a
menção ao término do verão Com a certeza que devo chorar certeza de que o seu
pode simbolizar a Pois bem sei que não queres voltar amor não quer mais
possibilidade de um Para mim voltar para ele. Ele
recomeço feliz. O “enfim” reconhece a sua situação
pode indicar um suspiro, de abandono e
uma resignação ou uma Queixo-me às rosas, mas que bobagem
sofrimento.
expectativa. As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Nessa estrofe, o eu lírico se queixa às rosas, que são as únicas testemunhas do seu drama. Ele diz que isso é uma bobagem, pois as
rosas não podem falar nem consolá-lo. Ele também diz que as rosas exalam o perfume que roubam da pessoa amada, ou seja, elas
têm algo dela que ele não tem mais. O “ai” pode expressar um lamento, uma dor ou uma saudade.
Nessa estrofe, o eu lírico
faz um apelo para que o Devias vir
seu amor volte para ele.
Para ver os meus olhos tristonhos
Ele quer que ela veja os
seus olhos tristes, que
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
mostram o quanto ele Por fim
sofre sem ela. Ele também
quer que ela sonhe os Queixo-me às rosas, mas que bobagem
seus sonhos, ou seja, que As rosas não falam
ela compartilhe dos seus Simplesmente as rosas exalam
desejos e projetos. O “por O perfume que roubam de ti, ai
fim” pode indicar um
último pedido, uma Devias vir
última chance ou uma
Para ver os meus olhos tristonhos
última esperança.
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim...
CORDAS DE AÇO
O texto é uma declaração de amor ao violão, o instrumento que
Ah, essas cordas de aço acompanha o compositor em sua vida artística e pessoal. Ele
descreve as cordas de aço, o braço, o bojo e os dedos que acariciam o
Este minúsculo braço
violão com uma linguagem poética e carinhosa. Ele também revela
Do violão que os dedos meus acariciam
que só o violão compreende a sua tristeza, sugerindo que ele passou
Ah, este bojo perfeito por algum sofrimento amoroso ou existencial. O texto é uma
Que trago junto ao meu peito conversa entre o compositor e o violão, como se fossem amigos
Só você violão íntimos.
Compreende porque perdi toda alegria
E no entanto meu pinho
Pode crer, eu adivinho Ele diz que o violão pode adivinhar que
Aquela mulher aquela mulher, provavelmente a causa
Até hoje está nos esperando da sua tristeza, ainda está esperando
Na madrugada iremos pra casa por eles. Ele então propõe que eles
Solte o teu som da madeira
Cantando soltem o som da madeira, ou seja, que
Eu você e a companheira
Ah, essas cordas de aço toquem juntos, e que depois voltem
Este minúsculo braço para casa com a companheira, que
Do violão que os dedos meus acariciam pode ser tanto a mulher quanto a
Ah, este bojo perfeito música. Ele mostra uma esperança de
Que trago junto ao meu peito superar a dor e de reencontrar a
Só você violão alegria.
Compreende porque perdi toda alegria.
A primeira estrofe tem oito
A segunda estrofe tem seis DISFARÇA E CHORA versos, e começa com o
versos, e continua com o
imperativo “Chora”, que é
imperativo “Chora”, que é Chora, disfarça e chora uma forma de expressar a
uma forma de reforçar a
Aproveita a voz do lamento dor da mulher. O eu diz para
dor da mulher. Ele diz para
ela disfarçar e chorar, ou Que já vem a aurora ela aproveitar a voz do
seja, para esconder os seus A pessoa que tanto queria lamento, que é o seu canto,
sentimentos e não Antes mesmo de raiar o dia antes que venha a aurora,
demonstrar fraqueza. Ele Deixou o ensaio por outra que é o símbolo do fim da
também diz que todo o Ó triste senhora noite e do início de um novo
pranto tem hora, ou seja, dia. Ele também revela que a
Disfarça e chora
que há um limite para o pessoa que ela tanto queria,
sofrimento e que ele não que é o seu amado, deixou o
pode durar para sempre. O Todo o pranto tem hora ensaio por outra, ou seja, ele
eu também diz que vê o E eu vejo seu pranto cair trocou a mulher pela sua
pranto da mulher cair no No momento mais certo rival. O ensaio pode ser
momento mais certo, ou Olhar, gostar só de longe tanto o ensaio da escola de
seja, que ele sabe que a Não faz ninguém chegar perto samba quanto o ensaio do
mulher está sofrendo na relacionamento.
E o seu pranto, ó triste senhora
hora certa.
Vai molhar o deserto
O eu ironiza a dor da mulher. Chora, disfarça e chora Os mesmos versos da
Ele volta a dizer para ela primeira estrofe estão aqui
disfarçar e chorar, e que todo
Aproveita a voz do lamento
Que já vem a aurora dispostos, isso cria um efeito
o pranto tem hora. Ele
A pessoa que tanto queria de circularidade e de
também volta a dizer que vê
o seu pranto cair no insistência da dor feminina.
Antes mesmo de raiar o dia
momento mais certo, mas Ele volta a dizer para ela
Deixou a Escola por outra chorar, aproveitar a voz do
agora ele acrescenta uma
explicação para isso. Ele diz Ó triste senhora lamento, antes que venha a
que olhar, gostar só de longe Disfarça e chora aurora. Ela também volta a
não faz ninguém chegar dizer que a pessoa que ela
perto, ou seja, que a mulher Todo o pranto tem hora tanto queria deixou a escola
não soube conquistar o seu por outra, mas agora ela usa
E eu vejo seu pranto cair
amado e só ficou admirando-
No momento mais certo o termo “escola” em vez de
o à distância. O eu também
diz que o seu pranto vai Olhar, gostar só de longe “ensaio”, criando uma
molhar o deserto, ou seja, Não faz ninguém chegar perto ambiguidade entre a escola
que as suas lágrimas são de samba e a escola da vida.
E o seu pranto, ó triste senhora
inúteis e não vão mudar
nada. Vai molhar o deserto
Vai molhar o deserto.
O INVERNO DE MEU TEMPO
O eu fala sobre os sonhos do
passado, que estão O eu usa a metáfora das folhas a voar,
Surge a alvorada
presentes no seu presente. que podem representar tanto a beleza
Folhas a voar
Ela também fala sobre o da natureza quanto a fragilidade da
amor que não envelhece E o inverno do meu tempo começa vida. Ele então diz que o inverno do
jamais, ou seja, que ele A brotar, a minar seu tempo começa a brotar, a minar,
mantém vivo o sentimento ou seja, que ele sente os efeitos da
pela sua companheira, Zica, E os sonhos do passado idade e do tempo em seu corpo e em
que foi a sua segunda esposa No passado estão presentes sua alma.
e grande amor. Ele tem paz e No amor...
ela tem paz, ou seja, que eles E não envelhece jamais
vivem em harmonia e
Eu tenho paz
tranquilidade.
E ela tem paz O eu já não sente saudade de nada
que viu, ou seja, que ele não se
O eu lírico se refere às vidas Nossas vidas arrepende nem se lamenta pelo seu
muito sofridas, que tiveram Muito sofridas caminhos tortuosos passado. Essa estrofe termina com a
caminhos tortuosos entre flores Entre flores e espinhos demais afirmação de que no inverno do
e espinhos demais. Ele usa uma tempo da vida, ele se sente feliz. Ele
antítese para mostrar o Já não sinto saudade usa uma interjeição para expressar a
contraste entre as alegrias e as sua gratidão a Deus por ter chegado
Saudades de nada que vi
tristezas que eles enfrentaram. até aqui com saúde e amor.
O inverno do tempo da vida
Oh Deus e eu me sinto feliz
Surge a alvorada
Folhas a voar
E o inverno do meu tempo começa
A brotar, a minar

REPETIÇÃO DA ESTRUTURA ANTERIOR


E os sonhos do passado
No passado estão presentes
No amor...
E não envelhece jamais
Eu tenho paz
E ela tem paz

Nossas vidas
Muito sofridas caminhos tortuosos
Entre flores e espinhos demais

Já não sinto saudade


Saudades de nada que vi
O inverno do tempo da vida
Oh Deus e eu me sinto feliz.
O MUNDO É UM MOINHO O eu lírico adverte à
pessoa amada de que
Ainda é cedo, amor ainda é cedo para
A segunda estrofe sugere
Mal começaste a conhecer a vida conhecer plenamente a
que o ser amado está
Já anuncias a hora de partida vida, mas que ela, a
resolvido a seguir em pessoa amada, já anuncia
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
frente, mas o eu lírico a hora de parRr. Essa
observa que, em cada ideia de que a vida é
Preste atenção, querida,
esquina, um pouco de sua passageira e que o tempo
Embora eu saiba que estás resolvida
vida cai, indicando a avança rapidamente
Em cada esquina cai um pouco tua vida (efemeridade existencial)
inevitável transformação
Em pouco tempo não serás mais o que és é central na música e
que acontece ao longo da
vida. A ideia é que, em serve como um alerta
para aproveitar o
pouco tempo, a pessoa
presente e tomar
não será mais a mesma decisões com sabedoria.
devido às experiências e
desafios enfrentados.
Ouça-me bem, amor Essa estrofe é um
Preste atenção, o mundo é um moinho refrão que enfatiza a
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos metáfora do mundo
Vai reduzir as ilusões a pó como um moinho, que
tritura os sonhos e
Te peço, por favor reduz as ilusões a pó.
Preste atenção, querida Essa metáfora
De cada amor tu herdarás só o cinismo transmite a ideia de
Quando notares estás à beira do abismo que a vida pode ser
Abismo que cavaste com teus pés. dura e implacável, e
que nossos sonhos e
ilusões nem sempre se
Aqui temos o cinismo como herança dos amores passados. A última estrofe concretizam da forma
reforça a ideia de que, de cada amor, herdarás apenas o cinismo, sugerindo como imaginamos.
que as experiências amorosas podem nos deixar mais descrentes e céticos
em relação ao amor. O eu lírico alerta que, ao perceber isso, a pessoa estará
à beira de um abismo que cavou com seus próprios pés, ou seja, as escolhas
e atitudes tomadas ao longo da vida podem levar a consequências negativas.
O eu lírico descreve a reação
das pessoas (a gurizada) ao QUE É FEITO DE VOCÊ? Nessa estrofe, o eu lírico
vê-lo passar. Ele se sente começa quesRonando o
como um fantasma, um O que é feito de você, ó minha mocidade? que aconteceu com sua
esqueleto humano Ó minha força, a minha vivacidade? juventude (mocidade) e
cambaleante, ou seja, uma sua vitalidade (força e
O que é feito dos meus versos e do meu violão?
figura que carrega a vivacidade). Ele reflete
fragilidade do corpo e da Troquei-os sem sentir por um simples bastão sobre as mudanças que
alma. A passagem do tempo e ocorreram ao longo do
as escolhas feitas trouxeram E hoje quando passo a gurizada pasma tempo e expressa saudade
um estado de declínio físico e Horrorizada como quem vê um fantasma de um passado em que se
emocional, o que contrasta E um esqueleto humano assim vai senRa mais vigoroso e
fortemente com a juventude cheio de vida. Além disso,
Cambaleando quase cai, não cai
e vitalidade da época lamenta a troca dos seus
anteriormente mencionada. A
versos e do seu violão, que
expressão "cambaleando
representam sua expressão
quase cai, não cai" pode ser
arVsRca e sua paixão pela
uma metáfora para a luta do
eu lírico para se manter de música e pela poesia, por
pé, tanto literalmente quanto algo tão banal como um
simbolicamente, diante das simples bastão. Essa troca
adversidades e do peso das simboliza uma perda da
escolhas feitas. essência criaRva e arVsRca
do eu lírico.
Pés inchados, passos em falso A descrição do estado físico do eu
O olhar embaçado lírico se aprofunda, revelando pés
Nenhum amigo ao meu lado inchados e passos em falso,
Não há por mim compaixão indicando dificuldades na
A tudo vou assistindo locomoção e no enfrentamento dos
A ingratidão resistindo desafios da vida. O olhar embaçado
Só sinto falta dos meus versos pode representar a dificuldade em
Da mocidade e do meu violão enxergar com clareza ou pode
simbolizar uma visão embaçada
O que é feito de você, ó minha mocidade?
sobre a própria trajetória e as
Ó minha força, a minha vivacidade?
escolhas feitas. A solidão do eu
O que é feito dos meus versos e do meu violão? lírico é ressaltada pela menção de
que não há amigos ao seu lado e
que não recebe compaixão de
Troquei-os sem sentir por um simples bastão ninguém. Ele se sente
E hoje quando passo a gurizada pasma desamparado diante das
Horrorizada como quem vê um fantasma adversidades e da ingratidão que
E um esqueleto humano assim vai enfrenta. O sentimento de saudade
Cambaleando quase cai, não cai dos versos, da mocidade e do
Essa passagem é um
Cambaleando quase cai, não cai violão é reforçado mais uma vez,
refrão da música. Cambaleando quase cai, não cai... enfatizando a importância que
esses elementos tinham em sua
vida e a falta que eles fazem agora.
Aqui, o eu lírico expressa SALA DE RECEPÇÃO
com firmeza que a felicidade O eu lírico descreve a Mangueira como uma
(Cartola) comunidade habitada por pessoas simples e
mora na Mangueira,
pobres, que têm pouco em termos
contrastando com a
Habitada por gente simples e tão pobre materiais, mas são abençoadas pelo sol, que
afirmação de que as outras a todos cobre. O ques=onamento "Como
escolas de samba até Que só tem o sol que a todos cobre
podes, Mangueira, cantar?" sugere uma
choram de inveja de sua Como podes, mangueira, cantar? reflexão sobre como a comunidade pode
posição. Essa afirmação Pois então saiba que não desejamos mais nada encontrar força e alegria mesmo diante das
ressalta a importância e o A noite, a lua prateada dificuldades. A resposta vem logo em
seguida, enfa=zando que eles não desejam
presDgio da Mangueira, que Silenciosa, ouve as nossas canções mais nada, pois têm a noite e a lua prateada
é admirada e invejada por Tem lá no alto um cruzeiro como testemunhas silenciosas de suas
outras escolas. A imagem da Onde fazemos nossas orações canções. Essa passagem revela que a música
"sala de recepção" sugere e a cultura são elementos fundamentais
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
um espaço acolhedor e para a comunidade se expressar, encontrar
fesFvo, onde a Mangueira felicidade e resis=r às adversidades. A
recebe a todos de braços referência ao cruzeiro no alto pode
Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora representar um símbolo religioso ou
abertos, mesmo os inimigos,
espiritual para a comunidade da Mangueira.
tratando-os como se fossem E as outras escolas até choram Eles fazem suas orações nesse espaço,
irmãos. Essa mensagem de Invejando a tua posição demonstrando uma conexão com o sagrado
união, fraternidade e Minha mangueira essa sala de recepção e uma busca por força e esperança. A
acolhimento reforça o valor Aqui se abraça inimigo música destaca o orgulho da Mangueira por
da cultura e da música como ser considerada a primeira entre as escolas
Como se fosse irmão de samba, chamando-se de "os primeiros
elementos de
confraternização e harmonia. Habitada por gente simples e tão pobre campeões". Isso reforça a importância
Que só tem o sol que a todos cobre histórica e cultural da escola na tradição do
Carnaval carioca.
Como podes, mangueira, cantar?
Pois então saiba que não desejamos mais nada
Essa estrofe é uma repetição da
A noite, a lua prateada
primeira estrofe, o que é uma
Silenciosa, ouve as nossas canções
característica comum na estrutura de
Tem lá no alto um cruzeiro
muitas músicas populares brasileiras,
Onde fazemos nossas orações
em que a repetição reforça as ideias e
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
os sentimentos expressos
Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora
anteriormente. Dessa forma, a
E as outras escolas até choram
reiteração da descrição da Mangueira
Invejando a tua posição
como uma comunidade habitada por
gente simples e pobre, destacando a
Minha mangueira essa sala de recepção
importância do sol como símbolo de
Aqui se abraça inimigo
abrigo e calor humano, reforça a
Como se fosse irmão
identidade e a força dessa
Habitada por gente simples e tão pobre
comunidade. O questionamento
Que só tem o sol que a todos cobre
"Como podes, Mangueira, cantar?"
Como podes, mangueira, cantar?
também é repetido, enfatizando a
Pois então saiba que não desejamos mais nada
reflexão sobre como a comunidade
A noite, a lua prateada
encontra alegria e expressão por meio
Silenciosa, ouve as nossas canções
da música e da cultura, mesmo diante
Tem lá no alto um cruzeiro
das adversidades.
Onde fazemos nossas orações
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
SILÊNCIO DE UM CIPRESTE
O eu lírico utiliza metáforas
poéticas para descrever o Todo mundo tem o direito
pensamento. Ele o compara a
De viver cantando Nessa estrofe, o eu lírico reconhece
uma folha desprendida do galho
O meu único defeito que todos têm o direito de viver
de nossas vidas, simbolizando a
É viver pensando cantando, ou seja, de buscar a
natureza efêmera e volátil dos
Em que não realizei alegria e a plenitude na vida. No
pensamentos, que são levados e
entanto, o eu lírico aponta que seu
conduzidos pelo vento, ou seja, E é di[cil realizar
único defeito é viver pensando
pelas incertezas e mudanças da Se eu pudesse dar um jeito demais, refletindo sobre o que não
vida. O pensamento é descrito Mudaria o meu pensar realizou e sobre as dificuldades para
também como uma luz vacilante
alcançar seus desejos. Essa reflexão
e cega, representando sua O pensamento é uma folha revela a tendência à introspecção e
natureza frágil e limitada. A
[desprendida à busca por um sentido mais
referência ao silêncio do cipreste,
Do galho de nossas vidas profundo da existência. O desejo de
árvore associada à morte e ao
Que o vento leva e conduz mudar o pensamento sugere uma
luto, escoltado pela cruz, sugere
É uma luz vacilante e cega consciência do peso que o
que o pensamento muitas vezes
pensamento pode ter na realização
se relaciona com questões É o silêncio do cipreste
dos sonhos.
existenciais e espirituais, como a Escoltado pela cruz
busca por sentido e a aceitação
da finitude humana.
Em que não realizei
E é di[cil realizar
Se eu pudesse dar um jeito
Mudaria o meu pensar

O pensamento é uma folha


desprendida
Do galho de nossas vidas
Que o vento leva e conduz
É uma luz vacilante e cega
É o silêncio do cipreste
Escoltado pela cruz

Todo mundo tem o direito


De viver cantando
O meu único defeito
É viver pensando
Em que não realizei
E é di[cil realizar
Se eu pudesse dar um jeito
Mudaria o meu pensar
Todo mundo tem o direito
De viver cantando
O meu único defeito
É viver pensando
Em que não realizei
E é difícil realizar
Se eu pudesse dar um jeito
Mudaria o meu pensar

O pensamento é uma folha


desprendida
Do galho de nossas vidas
Que o vento leva e conduz
É uma luz vacilante e cega
É o silêncio do cipreste
Escoltado pela cruz
SIM
O eu lírico começa a música
Nessa estrofe, o eu lírico Sim reforçando a importância do perdão
fala sobre seus
Deve haver o perdão em sua vida. Ele reconhece que
relacionamentos passados,
em especial com uma Para mim precisa do perdão para si mesmo,
Senão nem sei qual será caso contrário, não sabe o que será
companheira para quem fez
de seu destino. Essa reflexão inicial
promessas de amor. Apesar O meu fim já revela uma sensação de culpa ou
de ter conquistado um
arrependimento por suas ações
grande amor, ele não se
sentiu feliz e, em momentos
Para ter uma companheira passadas e a necessidade de
Até promessas fiz encontrar redenção e reconciliação.
de raiva e frustração,
chegou a blasfemar e Consegui um grande amor
questionar os céus. Essa Mas eu não fui feliz
passagem demonstra um E com raiva para os céus
conflito interno entre as
ações e as emoções do eu Os braços levantei
lírico, que agora se sente Blasfemei
isolado e enfrenta a rejeição Hoje todos são contra mim
das pessoas ao seu redor.
Sim
Deve haver o perdão
Para mim
Senão nem sei qual será
O meu fim

Para ter uma companheira


Até promessas fiz
Consegui um grande amor
Mas eu não fui feliz
E com raiva para os céus
Os braços levantei
Blasfemei
Hoje todos são contra mim
Todos erram neste mundo
Não há exceção
Quando voltam à realidade Nesta estrofe, o eu lírico reflete
sobre a natureza humana e o fato
Conseguem perdão de que todos cometem erros. Ele
Porque é que eu, Senhor, questiona por que, apesar de tantas
Que errei pela vez primeira pessoas serem perdoadas e
Passo tantos dissabores encontrarem redenção quando
voltam à realidade, ele enfrenta
E luto contra a
tantos dissabores e parece lutar
[humanidade inteira? contra a humanidade inteira. Essa
passagem revela um sentimento de
Sim incompreensão e isolamento, uma
Deve haver o perdão busca por entender sua própria
trajetória e a maneira como suas
Para mim ações afetaram sua vida e seus
Senão nem sei qual será relacionamentos.
O meu fim
Para ter uma companheira
Até promessas fiz
Consegui um grande amor
Mas eu não fui feliz
E com raiva para os céus
Os braços levantei
Blasfemei
Hoje todos são contra mim

Sim
Deve haver o perdão

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