Você está na página 1de 3

FICHA FORMATIVA DE PORTUGUÊS

GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A
Leia o poema e consulte as notas.

– Amiga, faço-me maravilhada1
como pode meu amigo viver
u2 os meus olhos nom pode veer
ou como pod'alá3 fazer tardada4;
5 ca5 nunca tam gram maravilha vi6:
poder meu amigo viver sem mi;
e, par Deus, é cousa mui desguisada7.

– Amiga, estad[e] ora calada


Notas:
um pouco, e leixad'a8 mim dizer:
1
10 per quant'eu sei cert'e9 poss'entender, maravilhada: surpreendida,
espantada;
nunca no mundo foi molher amada 2
u: onde;
come10 vós de voss'amig'; e assi, 3
alá: lá, ali;
4
fazer tardada: demorar-se;
se el tarda, sol nom11 é culpad'i12; 5
ca: pois, porque;
se nom, eu quer'en ficar por culpada 13. 6
maravilha: coisa extraordinária;
7
desguisada: despropositada,
disparatada;
15 – Ai amiga, eu ando tam coitada14 8
leixar: deixar;
9
que sol nom poss'em mi tomar prazer, certo: certamente;
10
come: como;
cuidand'em como se pode fazer 11
sol nom: nem mesmo;
que nom é já comigo de tornada15; 12
i: disso, nisso, em relação a isso;
13
e, par Deus, porque o nom vej'aqui, [trad. v. 13] e se não é assim,
assumirei eu a culpa pelo que digo;
20 que é morto gram sospeita tom'i, 14
coitada: infeliz, triste;
15
e, se mort'é, mal dia eu fui nada16. tornada: regresso;
16
nada: nascida;
17
mesurada: comedida, cortês;
– Amiga fremosa e mesurada17, 18
[trad. vv. 23-24] não vos digo que,
como homem que é, o vosso amigo
nom vos dig'eu que nom pode seer
não pode morrer;
voss'amigo, pois hom'é, de morrer;18 19
mais: mas;
20
25 mais19, por Deus, nom sejades sospeitada20 sospeitada: desconfiada;
21
des quando: desde que, desde o
doutro mal del, ca des quand'21 eu naci, momento em que;
nunca doutr'home tam leal oí22 22
oir: ouvir;
23
end’ al: outra coisa.
falar, e quem end'al23 diz, nom diz nada.

D. Dinis, B 573, V 177


In http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=598&pv=sim
1. Identifique os dois intervenientes e o tema do diálogo que estabelecem.

2. Indique o principal motivo da preocupação da primeira interlocutora.

3. Justifique as respostas dadas pelo segundo interlocutor.

4. Evidencie a função da amiga nesta composição poética.

PARTE B

5. Na poesia trovadoresca e, em particular, nas cantigas de amigo, o trovador revela a


capacidade de se projetar numa figura feminina.

Escreva uma breve exposição sobre as cantigas de amigo, referindo-se ao enunciador, aos
temas abordados e à estrutura formal.

A sua exposição deve incluir:


− uma introdução onde apresente o tema e se refira à poesia trovadoresca em geral;
− um desenvolvimento no qual refira os aspetos específicos das cantigas de amigo;
− uma conclusão que realce a importância da poesia trovadoresca e deste subgénero em
particular.
PROPOSTA DE CORREÇÃO

GRUPO I

PARTE A

1. Os intervenientes no diálogo são duas jovens, presumivelmente duas amigas. O tema do diálogo
relaciona-se com o muito tardar do amigo da primeira interlocutora.
2. A primeira interlocutora manifesta a sua grande preocupação pelo facto de o amigo muito tardar; diz
admirar-se por este conseguir viver tanto tempo sem a ver, pondo mesmo a hipótese de ter morrido.
Tal facto poderá levá-la também à morte.
3. A segunda interlocutora, face ao primeiro desabafo da sua “amiga”, tenta acalmá-la, dizendo-lhe que
o amigo a ama profundamente e que se não vem a culpa não será dele. Depois de a primeira donzela
levantar a possibilidade de o amigo ter morrido, a segunda diz-lhe que deve deixar-se desses
presságios infundados e que deve confiar no amigo e no seu amor que, como garante, é o mais leal
que alguma vez conheceu.
4. Ao mesmo tempo que a amiga tem o papel de confidente, procura servir de ombro amigo de forma a
tranquilizar a donzela que sofre com a demora/ausência do amigo, tentando incutir-lhe alguma
racionalidade e confiança.

PARTE B

5. A poesia trovadoresca, sendo das primeiras manifestações literárias, cumpre um papel


determinante na literatura e as cantigas de amigo são o subgénero que melhor retrata a vida dos
povos peninsulares nos primórdios da nacionalidade.
Efetivamente, a especificidade das cantigas de amigo resulta, em primeiro lugar, do facto de o
trovador assumir uma identidade feminina e de projetar-se no seu interior para dar conta das suas
preocupações, geralmente provocadas pela ausência do amigo. Além disso, o cenário escolhido é
predominantemente rural, simples e mais próximo das figuras que assumem protagonismo, opondo-se,
por isso, ao ambiente palaciano e característico das cantigas de amor. Formalmente, apresentam
paralelismo e refrão, o que as aproxima de uma vertente mais popular, conferindo unidade
semântica e rítmica ao texto.
Em conclusão, pode confirmar-se a importância das cantigas de amigo no panorama literário
peninsular dado que estas são autóctones e, como tal, permitem aceder a uma realidade mais
autêntica, com hábitos e costumes que se aproximam daquilo que se conhece da sociedade
medieval da época.

Você também pode gostar