Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Boa tarde a todos, hoje vamos explorar um dos mais belos poemas da literatura
portuguesa do século XIX: Deslumbramentos de Cesário Verde.
Vamos começar, em primeiro lugar, por vos contar uma curiosidade sobre Cesário
Verde. O poeta inspirou-se na sua experiência como funcionário dos Caminhos de Ferro
de Portugal, utilizando a vida urbana e industrial de Lisboa como pano de fundo para a
sua poesia inovadora.
Passando agora para o poema. O título ….
ANÁLISE INTERNA
………………..………………….. (1ª parte)
O poema começa com uma apóstrofe - Milady. Não conhecemos esta mulher, mas
sabemos desde logo que todo o poema é dirigido a uma mulher de um estatuto social
superior, uma vez que o sujeito lírico se dirige a ela com a expressão de cortesia
geralmente destinada às classes sociais mais elevadas.
Esta forma de tratamento também aponta para uma relação de criado-senhora entre o
sujeito poético e a mulher amada, encontrando-se ela num plano superior, aristocrático,
e ele num plano inferior, subserviente.
No entanto, "é perigoso contemplá-la, / Quando passa aromática e normal". Porquê?
Fisicamente, Milady é uma mulher bela, fascinante, sensual: "Em si tudo me atrai como
um tesouro"; "Ah! Como me estonteia e me fascina...". O sujeito poético fica
deslumbrado e em êxtase quando ela passa.
Interpretação:
Em Deslumbramentos podemos observar o olhar fascinado de um homem por uma
mulher estrangeira, uma inglesa, olhar que se humilha diante do esplendor e snobismo e
que poderia também ser interpretado como uma alegoria da relação tensa entre Portugal
e a Europa Civilizada.
Neste poema são apresentados três temas principais:
• Representação/caracterização da mulher citadina
- O sujeito poético do poema deambula pela cidade, observando e confessando seguir
uma mulher que o atrai – Milady.
Esta é uma mulher fatal, poderosa, que humilha o sujeito poético. Ao mesmo tempo,
Milady extravasa o domínio do sentimento amoroso puramente pessoal, uma vez que
representa a poderosa soberania que humilha o povo.
Ela corresponde ao tipo citadino artificial, retratando os valores decadentes e a violência
social. Surge na poesia de Cesário Verde incorporando um valor erótico que
simultaneamente desperta o desejo e arrasta para a morte.
• Dicotomia entre campo-cidade
- Neste poema estabelece-se assim uma dicotomia entre cidade-campo, sendo a cidade
um espaço de morte e o campo um espaço de vida – valorização do natural em
detrimento do artificial. O campo é visto como um espaço de liberdade, do não
isolamento; e a cidade como um espaço castrador, opressor, símbolo da morte, da
humilhação, da doença. A esta oposição associam-se as oposições belo/feio,
claro/escuro, força/fragilidade. A questão da inviabilidade do Amor na cidade.
• Crítica social
- No final do poema, Cesário Verde faz uma crítica social da burguesia em relação ao
proletariado, revelando a sua vontade em ver as condições sociais alterarem-se, para que
aqueles que trabalham diariamente pudessem ver recompensados os seus esforços, e
aqueles que vivem às custas do trabalho alheio fossem castigados pelo seu parasitismo.
Opinião:
Este poema convidou-nos a contemplar a vida urbana com um olhar atento e crítico e
fez-nos desfrutar da beleza da personagem apresentada.
Ao longo do poema, apercebemo-nos da sensibilidade de Cesário Verde para com as
pequenas nuances da vida quotidiana, como os contrastes entre a riqueza e a pobreza, a
beleza e a decadência.
Achámos interessante o facto de o poeta conseguir passar a mensagem de revolta com a
opressão sofrida do povo a partir de uma mulher que retrata a cidade, sendo esta
rodeada de privilégios e regalias ao contrário do campo.
Consideramos este poema cativante pela sua abundância de recursos expressivos e
extensa caracterização da mulher, permitindo sempre compará-la com temas centrais da
sociedade.
Sentimo-nos felizes pois as suas inquietações vividas transformaram-se numa obra-
prima que até aos dias de hoje permanece emblemática.