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Agrupamento de Escolas de Vendas Novas

Nome_________________________ Nº______ Turma: 10ºD

Questão de Aula – Educação Literária - Correção


29 de novembro

Cantiga de amigo
Lê a cantiga de João Airas de Santiago. Caso seja necessário, consulta as notas.

Alguém vos diss', amig', e sei-o eu


Alguém vos diss’, amig’, e sei-o eu,
por mi miscrar1 convosco, que falei
com outr’homem, mais nunca o cuidei,
e, meu amig’, e direi-vo-l[o] eu:
5 de mentira nom me poss’eu guardar,
mais guardar-m’-ei de vos fazer pesar 2.

Alguém sabe que mi queredes bem


e pesa-lh’end'3 e nom pod’al4 fazer
senom que mi quer mentira põer;
10 [e] meu amig’e meu lum’5 e meu bem
de mentira nom me poss’eu guardar,
mais guardar-m’-ei de vos fazer pesar.

E bem sei de quem tam gram sabor há6


de mentir e nom teme Deus nem al,
15 que mi assaca7 tal mentira e al8,
[e], meu amig’, e vedes quant’i há9:
de mentira nom me poss’eu guardar,
mais guardar-m’-ei de vos fazer pesar.

De fazer mentira sei-m’eu guardar,


20 mais nom de quem me mal quer assacar.
https://cantigas.fcsh.unl.pt/
(consultado em 21.12.2020).

1
miscrar: introduzir a discórdia (por intrigas); 6
tam gram sabor há: tem tanta vontade, gosto;
2 7
fazer pesar: desagradar, causar sofrimento; assaca: imputa caluniosamente alguma coisa a alguém, atribui
3
pesa-lh'end': isso custa-lhe; injustamente ou sem fundamento;
4 8
al: (frases negativas) mais nada; al: tudo o resto;
5
lum': luz; 9
quant'i há: o que se passa.

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1. Tendo em conta a primeira cobla, indica de que foi a donzela acusada.
Uma figura que não é identificada falou com o amigo da donzela, acusando-a de ter conversado com outro homem. _

2. Transcreve da primeira cobla a expressão através da qual o eu demonstra a sua inocência.


A expressão é «mais nunca o cuidei» (v. 3) – através dela se mostra que a donzela nunca pensou em falar com outro
homem.

3. Com base na globalidade da cantiga, enuncia as razões que, na perspetiva do sujeito poético,
estão na base da denúncia que foi feita. Ilustra a resposta através de transcrições textuais.
Na perspetiva do sujeito poético, esta denúncia foi feita por alguém que queria fragilizar a sua relação com o amigo: «por
mi miscrar convosco» (v. 2). Com efeito, a donzela acusa esta figura de sofrer pelo facto de esta ser amada pelo seu amigo
e de não encontrar alternativa a não ser contar mentiras sobre ela: «Alguém sabe que mi queredes bem / e pesa-lh'end' e
nom pod'al fazer / senom que mi quer mentira põer» (vv. 7-9).

4. Tendo em conta a terceira cobla, aponta as características que a donzela atribui à figura que a
caluniou. Fundamenta a resposta através de uma transcrição textual.
Na terceira cobla, a donzela afirma saber exatamente quem a caluniou, descrevendo essa figura como alguém que
tem prazer em mentir e que não não teme Deus: «E bem sei de quem tam gram sabor há / de mentir e nom teme
Deus nem al» (vv. 13-14).

5. Explicita o significado do refrão, relacionando-o com o dístico final (versos 19-20).


No refrão, a donzela afirma que não lhe é possível impedir que contem mentiras sobre o seu comportamento, mas que lhe
é possível impedir-se a si própria de fazer o seu amigo sofrer. No dístico final (vv. 19-20), retoma o primeiro verso do
refrão, alterando-lhe o sentido: ela sabe proteger-se de mentir (isto é, não mente), mas não lhe é possível proteger-se de
quem a calunia.

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